Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
ARTIGO ARTICLE
os planos de saúde odontológicos no Brasil
Abstract This article analyzes the organizational Resumo O artigo analisa o modelo organizacio-
model of the dental health industry. The main or- nal das empresas de planos de saúde odontológicos
ganizational leaders in this industry are the pro- das modalidades de cooperativas de profissionais e
fessional cooperatives and group dental insurance a odontologia de grupo para compreender a dinâ-
companies. The theoretical basis of the article is mica da oferta de serviços odontológicos no país.
the organizational theory developed by Di Maggio Adotou-se como referência a formulação institu-
and Powell. The dental health industry consists of cionalista de Di Maggio e Powell. O mercado de
a great number of small and very dynamic compa- planos de saúde odontológico é pulverizado, com o
nies, however an expressive part of clients and prof- predomínio de empresas de pequeno porte, e apre-
it are concentrated in a few large companies. The senta um grande dinamismo, que favorece as em-
results show that the industry has expanded the presas de pequeno, médio e alto porte. As modali-
number of clients after the creation of the Nation- dades analisadas concentram a maior proporção
al Health Insurance Agency. The regulation re- de beneficiários e receitas. A análise geral do de-
gime has forced institutional changes in the firms sempenho do setor revela impressionante dinamis-
with regard to the market entry, permanence or mo na captação de clientes, mesmo após a criação
exit patterns. There was no evidence that the reg- da ANS. O regime de regulação tem imposto um
ulatory rules have interfered with the develop- novo padrão institucional à entrada, permanên-
ment and financial conditions of the industry. The cia e saída das empresas no mercado, que não afeta
average profitability of the sector, especially among o desempenho setorial. Os dados analisados evi-
the group dental insurance companies, is extreme- denciam que o setor de planos de saúde odontoló-
ly high. gicos é altamente rentável, apresentando uma gran-
Key words Private health insurance, Dentistry de capacidade na geração de receitas que explica o
service, Professionalism, Regulatory regime, Ac- crescimento e a permanência destas modalidades
cess no mercado. Os padrões de rentabilidade média,
1
Escola Nacional de Saúde principalmente das empresas de odontologia de gru-
Pública, Fiocruz. Rua
po, são extremamente elevados, ficando muito aci-
Leopoldo Bulhões 1480,
Manguinhos. 21041-210 ma de qualquer atividade empresarial do Brasil.
Rio de Janeiro RJ. Palavras-chave Planos privados de saúde, Servi-
cristine.vieira@ensp.fiocruz.br
2
ços odontológicos, Profissionalismo, Regime regu-
Escola de Odontologia,
Universidade do Grande latório, Acesso
Rio.
1580
Vieira, C. & Costa, N. R.
Observa-se uma alta concorrência no merca- rativas são formalmente definidas como socie-
do de serviços profissionais de dentistas em algu- dades que se constituem para prestar serviços a
mas regiões do país. Os profissionais procuram a seus associados, com vistas ao interesse comum
solução no credenciamento a operadoras de pla- e sem o objetivo de lucro”.
nos odontológicos, como uma estratégia indivi- Entre as cooperativas odontológicas, desta-
dual pela relação de trabalho assalariada (no caso cam-se as Uniodontos, que respondem pela qua-
de operadoras com estrutura empresarial) ou se totalidade das cooperativas que oferecem pla-
corporativa por meio da vinculação a uma coo- nos privados de assistência à saúde odontológica
perativa. O dentista pode ser remunerado via pro- no Brasil. O sistema Uniodonto é formado por
cedimento, via salário fixo por um período de uma rede de empresas individuais que abrange
trabalho ou via pacotes de procedimentos. todo o país.
Existem algumas opções para o profissional As Uniodontos surgiram no Brasil, em 1972,
que decide ofertar seus serviços por meio de uma em Santos (SP). Em março de 1993, o Sistema
operadora de planos odontológicos. Ele pode Uniodonto passou a se chamar Uniodonto do
optar entre a odontologia de grupo, cooperativa Brasil - Confederação Nacional das Cooperati-
odontológica, autogestão, administradora de vas Odontológicas. Atualmente, a Uniodonto do
serviços, operadora de plano médico que tam- Brasil conta com cerca de 170 Uniodontos singu-
bém oferte o produto odontológico, bem como lares, que se organizam em nove Federações, sen-
uma seguradora. Além de poder fazer a opção de do estas as Federações do Rio Grande do Sul,
se tornar parte da rede própria de uma operado- Paranaense, Paulista, da Região Norte, da Re-
ra. Cabe ressaltar que existem critérios rígidos gião Nordeste, do Rio de Janeiro e Espírito San-
para o credenciamento ou a cooperação de um to, de Santa Catarina, de Minas Gerais e de Goiás
cirurgião-dentista a um plano de saúde19. e Tocantins. O Sistema Uniodonto possui atual-
De acordo com dados de pesquisa do Conse- mente cerca de vinte mil cirurgiões-dentistas cre-
lho Federal de Odontologia (2003), o total de pro- denciados em todo o Brasil22.
fissionais dentistas inscritos no conselho era de Cada Uniodonto singular é uma cooperativa
203.713. Esta pesquisa mostrou que 47,6% traba- independente. Existe um sistema de repasse entre
lhavam com convênios e credenciamentos. Deste as cooperativas singulares que permite que um
universo, 14,7% participavam de algum tipo de beneficiário possa ser atendido fora da cidade na
cooperativa odontológica. Deste subconjunto, qual adquiriu o plano odontológico. Cada coo-
65,6% estavam credenciados à Uniodonto9. perativa possui uma tabela própria para a re-
Observa-se, em resumo, que quase a metade muneração de seus cooperados e o sistema Uni-
dos profissionais dentistas está credenciada a al- odonto como um todo conta com uma tabela
gum tipo de plano de saúde odontológico, res- única de repasse para remunerar esses casos19.
saltando-se que dentre as cooperativas odonto- Diferentemente das cooperativas odontoló-
lógicas, a Uniodonto é a que apresenta maior gicas, as empresas de odontologia de grupo po-
número de profissionais credenciados. dem fazer parte de grupo que opera plano médi-
Silva20 afirma que as cooperativas odontoló- co-hospitalar ou pertencerem a um grupo em-
gicas se diferenciam das empresas de odontolo- presarial específico para o setor odontológico,
gia de grupo e das seguradoras especializadas em embora façam aliança comercial com operado-
saúde na medida em que não se constituem como ras de planos médico-hospitalares para expan-
empresas que são movidas apenas pela lucrativi- direm posição no mercado.
dade e sim como entidades cuja propriedade é A odontologia de grupo opera predominan-
do conjunto dos trabalhadores cooperados. Des- temente em pré-pagamento, ou seja, as empre-
sa forma, a relação capital/trabalho dentro de sas recebem mensalidades regularmente, em va-
uma cooperativa tende a ser oposta àquela que lores fixos pré-estabelecidos, independente do
ocorre em uma empresa capitalista. Na empresa valor dos tratamentos que o beneficiário venha a
capitalista, o poder é exercido pelos detentores realizar. Quanto à comercialização, as operado-
do capital (cada ação, um voto), que também se ras trabalham tanto com corretores próprios,
apropriam do excedente gerado; nas cooperati- quanto com corretores terceirizados19.
vas, ao contrário, o processo decisório é exercido Essas duas modalidades se consolidaram ao
pelos próprios trabalhadores (cada trabalhador, longo da década de 1990. A consolidação destas
um voto), responsáveis pela apropriação do ex- organizações é explicada pelos seguintes proces-
cedente gerado. sos: a busca de rendas adicionais pela profissão
Duarte21 destaca, reforçando esta tese, que, odontológica associada ao baixo poder aquisiti-
no segmento de saúde suplementar, “as coope- vo da população em custear tais serviços; com-
1583
zadas pela ANS, de modo a garantir a consecu- para a autorização de aumento das mensalida-
ção dos objetivos básicos definidos pela nova le- des dos planos individuais24.
gislação de regulamentação do setor: Determinadas características, como a moda-
. Assegurar aos consumidores de planos pri- lidade da contratação, a data da assinatura, a
vados de assistência à saúde cobertura assisten- cobertura assistencial e a abrangência geográfi-
cial integral e regular as condições de acesso; ca, submetem os contratos de forma diferencia-
. Definir e controlar as condições de ingresso, da à legislação.
operação e saída das empresas e entidades que O cadastro de operadoras disponibilizado pela
operam no setor; ANS constitui um banco de dados de informa-
. Definir e implantar mecanismos de garanti- ções da saúde suplementar, que discrimina as
as assistenciais e financeiras, das operadoras e demonstrações contábeis das operadoras em
do sistema, que assegurem a continuidade da pequeno (até 4.999 beneficiários), médio (de 5.000
prestação de serviços à saúde contratados pelos à 19.999 beneficiários) e grande porte (acima de
consumidores; 20.000 beneficiários). A partir deste cadastro, têm-
. Dar transparência e garantir tanto a inte- se os dados econômicos financeiros das opera-
gração do setor de saúde suplementar ao SUS doras de planos de saúde.
como que o sistema seja ressarcido quanto aos O estudo transversal é o estudo no qual uma
gastos gerados pelos consumidores de planos ou mais variáveis são coletadas em um mesmo
privados de assistência à saúde; período, como, por exemplo, o censo populacio-
. Estabelecer uma política de regulação de pre- nal conduzido a cada dez anos25.
ços, definindo mecanismos de controle capazes O estudo transversal considerou todas as
de coibir possíveis abusos de preço; e operadoras das categorias Cooperativa Odon-
. Definir o sistema de regulamentação, nor- tológica e Odontologia de Grupo inseridas no
matização e fiscalização do setor saúde suple- banco de dados da ANS.
mentar, buscando o funcionamento equilibrado As variáveis dependentes extraídas do cadas-
do sistema e do próprio modelo de regulação e tro contábil da ANS foram: a receita total 2002,
de fiscalização24. receita total 2004, despesas 2004, despesas de co-
De acordo com o Artigo 3º da Lei no 9.961/00, mercialização 2004, despesas administrativas
a finalidade institucional da ANS é promover a 2004, receita financeira líquida 2004, patrimônio
defesa do interesse público na assistência suplemen- líquido 2004 e resultado líquido 2004. Para in-
tar à saúde, regulando as operadoras setoriais, in- vestigar a eficiência financeira das operadoras,
clusive quanto às suas relações com prestadores e foram utilizados indicadores econômicos finan-
consumidores, contribuindo para o desenvolvi- ceiros, tais como rentabilidade e índice de despe-
mento das ações de saúde no país. Desta maneira, a sa assistencial. A utilização destes indicadores
ANS foi instituída para unificar todas as funções proporcionou a análise do padrão econômico
de regulação do setor de saúde suplementar, tan- financeiro das empresas, bem como a compara-
to em seu aspecto assistencial quanto em sua di- ção dos desempenhos operacionais das duas mo-
mensão econômico financeira24. dalidades de operadoras estudadas.
Um exemplo importante das mudanças in- Rodrigues26 define rentabilidade como o gan-
troduzidas pela lei foi a instituição da obrigatori- ho que a empresa obtém do seu esforço produti-
edade de informações. Isso permite à ANS pro- vo, essencial para que ela possa remunerar os
mover diversas análises e, em especial, acompa- fatores de produção e continuar seu ciclo de ope-
nhar a evolução dos custos, condição essencial rações. Colocando nestes termos, podemos di-
1585
Referências
1. Costa NR, Castro AJW. O regime regulatório e a 16. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pes-
estrutura do mercado de planos de assistência a quisa Orçamentária Familiar: IBGE; 1996. [acessa-
saúde no Brasil. In: Montone J, Castro AJW, orga- do 2006 mai 17]. Disponível em: http://www.sidra.
nizadores. Documentos técnicos de apoio ao fórum de igbe.gov.br
saúde suplementar de 2003. Vol.3. Tomo1. Rio de 17. Favaret Filho P, Oliveira PJ. A universalização exclu-
Janeiro: ANS; 2004. p. 49-64. dente: reflexões sobre as tendências do sistema de
2. Montone J. A regulamentação do setor de saúde saúde. Dados Rev Ciências Sociais 1990; 33(2):257-283.
suplementar. In: Agência Nacional de Saúde Suple- 18. Agência Nacional de Saúde Suplementar. Caderno
mentar. O impacto da regulamentação no setor de saú- de Informação da Saúde Suplementar: beneficiári-
de suplementar. Rio de Janeiro: ANS; 2000. p. 7-37. os, operadoras e planos: ANS; 2005. [acessado 2005
3. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pes- Mai 13]. Disponível em: http://www.ans.gov.br
quisa Nacional por Amostra de Domicílios. Acesso 19. Agência Nacional de Saúde Suplementar. Regula-
e utilização de serviços de saúde: IBGE; 2003. [aces- ção e saúde: Planos Odontológicos: uma aborda-
sado 2005 Mai 15]. Disponível em: http://www. gem econômica no contexto regulatório. Rio de
ibge.gov.br Janeiro: ANS; 2002.
4. Cienc Saude Colet [periódico na internet]. 2006 [aces- 20. Silva HP. Regulação econômica do mercado de saúde
sado 2006 Jul 12]; 11(1). Disponível em: http://www. suplementar no Brasil [dissertação]. Campinas (SP):
scielo.br/scielo.php?script=sci_issuetoc&pid=1413 UNICAMP; 2003.
-812320060001&lng=pt&nrm=iso 21. Duarte C. A assistência médica suplementar no Bra-
5. Silveira JLGC, Oliveira V. Experiência e expectati- sil: história e características da cooperativa de tra-
vas dos cirurgiões-dentistas com os planos de saúde. balho médico Unimed. In: Braga JCS, Silva PLB.
Rev Pesq Bras Odontoped Clin Integr 2002; 2(1):30-36. Brasil: radiografia da saúde. Campinas: UNICAMP;
6. Pinto VG. Saúde bucal no Brasil. Rev. Saúde Pública 2001. p. 363-393.
1983; 17:316-327. 22. Uniodonto. [acessado 2005 Set 20]. Disponível em:
7. Mendes HJ. A relação entre cirurgiões-dentistas e as http://www.uniodonto.com.br
operadoras de planos de saúde no município de Bauru 23. Di Maggio PJ, Powell WW. The iron cage revisited:
– SP [dissertação]. Bauru (SP): Faculdade de Odon- Institutional isomorphism and collective rationali-
tologia de Bauru; 2005. ty in organization fields. In: Di Maggio PJ, Powell
8. Moysés SJ. Políticas de saúde e formação de recur- WW, editors. The New Institutionalism in Organiza-
sos humanos em Odontologia. Rev ABENO 2004; tional Analysis. Chicago: The University of Chica-
4(1):30-37. go Press; 1991. p. 63-82.
9. Conselho Federal de Odontologia. Perfil do Cirur- 24. Agência Nacional de Saúde Suplementar. Lei no 9.961
gião dentista: CFO, 2003. [acessado 2005 Jan 10]. de 28 de janeiro de 2000. ANS; 2000. [acessado 2005
Disponível em: http://www.cfo.org.br mai 15]. Disponível em: http://www.ans.gov.br
10. Barros AJD, Bertoldi AD. Desigualdades na utiliza- 25. Gujarati DN. Basic Econometrics. New York:
ção e no acesso a serviços odontológicos: uma ava- McGraw-Hill; 2003.
liação em nível nacional. Cien Saude Colet 2002; 26. Rodrigues IPF. Tecnologia, organização e rentabi-
7(4):709-717. lidade: um modelo para investigação empírica. Rev
11. Matos DL, Giatti L, Lima-Costa MF. Fatores sócio- Administração de Empresas 1984; 24(4):63-60.
demográficos associados ao uso de serviços odon- 27. Agência Nacional de Saúde Suplementar. IDSS –
tológicos entre idosos brasileiros: um estudo basea- Qualificação da saúde suplementar: Indicadores
do na Pesquisa Nacional por Amostras de Domicí- Econômico-Financeiros. ANS; 2006. [acessado 2006
lios. Cad Saúde Pública 2004; 20(5):1290-1297. Mai 08]. Disponível em: http://www.ans.gov.br/
12. Brasil. Datasus. Informações Financeiras. [acessa- portal/site/informacoesss/informacoesss.asp
do 2006 Jul 24]. Disponível em: http://portal. 28. Agência Nacional de Saúde Suplementar. Caderno
saude.gov.br/portal/aplicacoes/transferencias/ de Informação da Saúde Suplementar. ANS; 2005.
regiao.cfm?regiao=9 [acessado 2006 Jun 10]. Disponível em: http://
13. Brasil. Sistema de Informações sobre Orçamento Pú- www.ans.gov.br
blico em Saúde (SIOPS). Datasus: 2006. [acessado
2006 Jul 24]. Disponível em: http://siops.datasus.gov.br
14. Silveira FG, Osório RG, Piola SF. Os gastos das famí-
lias com saúde. Cien Saude Colet 2002; 7(4):719-731.
15. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pes-
quisa Orçamentária Familiar: IBGE; 2003. [acessa- Artigo apresentado em 04/10/2006
do 2006 Mai 17]. Disponível em: http://www.sidra. Aprovado em 02/04//2007
ibge.gov.br Versão final apresentada em 30/04/2007