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Termo criado por Sigmund FREUD*, em 1896, para nomear um método particular de
psicoterapia* (ou tratamento pela fala) proveniente do processo catártico (catarse*) de Josef
BREUER* e pautado na exploração do inconsciente*, com a ajuda da associação livre*, por
parte do paciente*, e da interpretação*, por parte do psicanalista.
“Já havendo o método catártico renunciado à sugestão*, Freud deu um passo a mais,
rejeitando igualmente a hipnose. Ele trata com igualdade seus enfermos, do seguinte modo: sem
procurar influenciá-los de maneira alguma, faz com que se estendam comodamente em um divã,
enquanto ele próprio, retirado do olhar dos pacientes, senta-se atrás deles. Não lhes pede para
fecharem os olhos e evita tocá-los, bem como empregar qualquer outro procedimento passível de
lembrar a hipnose. Esse tipo de sessão se passa à maneira de uma conversa entre duas pessoas
em estado de vigília, uma das quais é poupada de qualquer esforço muscular e de qualquer
impressão sensorial capaz de desviar sua atenção de sua própria atividade psíquica.” (Freud, S.,
em um texto coletivo)
“Não se podia imaginar um indivíduo de espírito mais intrépido. Freud ousava a cada instante
expressar o que pensava, mesmo quando sabia que inquietava e perturbava com suas declarações
claras e inexoráveis; nunca procurava tornar sua posição menos difícil através da menor
concessão, mesmo de pura forma.
“Estou convencido de que Freud poderia ter exposto, sem encontrar resistência por parte da
universidade, quatro quintos de suas teorias, se estivesse disposto a vesti-las prudentemente, a
dizer ‘erótico’ em vez de ‘sexualidade’, Eros em vez de ‘libido’ e a não ir sempre até o fundo das
coisas, mas limitar-se a sugeri-las. Mas desde que se tratasse de seu ensino e da verdade, ficava
intransigente; quanto mais firme era a resistência, tanto mais ele se afirmava em sua resolução.
“Quando procuro um símbolo da coragem moral – o único heroísmo no mundo que não exige
vítimas – vejo sempre diante de mim o belo rosto de Freud, com sua clareza viril, com seus olhos
sombrios de olhar reto e viril.”
[1] Stefan Zweig, (1881-1942), escritor austríaco, publicou em 1931 o ensaio A cura pelo espírito, uma história das
psicoterapias desde Franz Anton Mesmer.
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ORIGENS da PSICANÁLISE:
MESMERISMO
HIPNOTISMO
CATARSE
MESMERISMO
Franz Anton MESMER (1734-1815):
Mesmer declarou que Gassner era um homem honesto, mas que curava os seus doentes, sem
saber, graças ao magnetismo: “Foi assim” – escreveu Henri F. Ellenberger* – “que Franz Anton
Mesmer operou em 1775 a guinada decisiva do exorcismo para a psicoterapia dinâmica.”
Em Viena, Mesmer tratou, pelo magnetismo, de Maria-Theresia Paradis, uma jovem musicista
de 18 anos. Em um primeiro tempo, ela recobrou a visão, mas a sua cura foi contestada e ela
voltou à cegueira. Abalado com esse fracasso, Mesmer mergulhou na depressão e depois deixou
a Áustria, para instalar-se em Paris.
Graças à sua famosa “tina”, ele tratava coletivamente dos numerosos doentes que acorriam à
sua suntuosa mansão. Em uma tina cheia d’água eram depositados pedaços de vidro, pedras e
hastes metálicas, cujas pontas tocavam os pacientes, ligados entre si por uma corda, que permitia
a circulação do fluido.
Em 1931, quando Sigmund Freud leu a obra que Stefan Zweig acabava de dedicar a Mesmer e
à história da “cura pelo espírito”, atribuiu o devido lugar a esse médico das Luzes na história da
invenção da sugestão: “Penso, como você, que a verdadeira natureza da sua descoberta, isto é, a
sugestão, ainda não está identificada”. Isso se faria pelos trabalhos da historiografia* erudita.
HIPNOTISMO
HIPNOSE: Termo derivado do grego hypnos (sono) e sistematizado, entre 1870 e 1878, para
designar um estado alterado de consciência (sonambulismo ou estado hipnóide) provocado pela
sugestão* de uma pessoa em outra.
Hipnotismo foi um termo cunhado em 1843 pelo médico escocês James Braid (1795-1860),
para definir o conjunto das técnicas que permitiam provocar um estado de hipnose num sujeito,
com finalidades terapêuticas. A sugestão se dava, nesse caso, entre um médico hipnotizador e um
paciente hipnotizado. As duas palavras, hipnose e hipnotismo, são freqüentemente utilizadas na
mesma acepção.
Em especial, ele observou que Victor Race (seu “paciente”), longe de cumprir suas ordens,
antecipava-se a elas e chegava até a impor sua vontade a seu magnetizador pelas palavras, pela
verbalização de seus sintomas, sem experimentar nenhuma crise convulsiva.
Foi assim que, às vésperas da Revolução de 1789, nasceu a idéia de que um mestre (um
cientista, um médico ou um nobre) podia ser cerceado no exercício de seu poder por um sujeito*
capaz de falar, mesmo que este lhe fosse inferior (um criado, um doente, um camponês, etc.).
Em 1813, o abade José Custódio de Faria (1756-1819) retomou a mesma idéia, depois de
haver participado do movimento revolucionário. Criticando todas as teorias do “fluido”,
inaugurou em Paris um curso público sobre o “sono lúcido” e demonstrou que era possível fazer
os sujeitos adormecerem, concentrando a atenção deles num objeto ou num olhar.
Em 1845, Alexandre Dumas (1802-1970) fez do abade Faria um personagem lendário em seu
romance O conde de Montecristo.
Antes que essa bela idéia da liberdade da fala, própria da filosofia do Iluminismo, percorresse
seu caminho e fosse retomada por Sigmund Freud, foi preciso que se instalasse sobre as ruínas
do magnetismo a longa aventura da hipnose.
A partir de 1840, espalhou-se pela Europa e Estados Unidos uma grande onda de
espiritismo*. Entre as mulheres que se transformavam em videntes, dotadas de personalidades
múltiplas, e os médicos que hesitavam em acreditar numa possível relação com o além, o
hipnotismo permitiu conferir um estatuto racional à relação terapêutica.
James Braid, que introduziu a palavra ‘hipnotismo’, refutou definitivamente a teoria fluídica
em prol de uma explicação de tipo fisiológico, e substituiu a técnica mesmeriana dos “passes”
pela fixação num objeto brilhante, na qual Faria já havia pensado.
Foi Auguste Liébeault* quem retomou os ensinamentos de Braid, seguindo-se a ele Hippolyte
Bernheim*. Em 1884, os dois fundaram a Escola de Nancy, que se tornou a grande rival da
Escola da Salpetrière, dominada pelo ensino de Jean Martin Charcot*.
A querela entre essas duas escolas, que teve por pivô fundamental a questão da histeria*,
durou uns bons dez anos. Enquanto Charcot assimilava a hipnose a um estado patológico, a uma
crise convulsiva, e utilizava o hipnotismo para retirar a histeria da simulação e lhe conferir o
estatuto de neurose*, Bernheim a considerava um processo normal.
Assim, via no hipnotismo uma técnica de sugestão que permitia tratar dos pacientes. Reatando
com o projeto de instituir uma terapia fundamentada numa pura relação psicológica, ele abriu
caminho para a expansão das diversas psicoterapias da segunda psiquiatria dinâmica. Foi por isso
que acusou Charcot de “fabricar” histéricas através da sugestão.
Essa disputa, que opôs as duas escolas e mobilizou todos os especialistas europeus nas
doenças da alma, indicou o quanto a hipnose era portadora de uma nova esperança de cura, muito
embora a nosografia psiquiátrica do fim do século XIX se esgotasse no niilismo terapêutico, de
tanto preconizar tratamentos inúteis – camisas-de-força, banhos, eletricidade etc. – e construir
classificações rígidas, das quais o sofrimento do sujeito era banido.
Simultaneamente marcado pelo ensino de Charcot e pelo de Bernheim, Freud logo abandonou
a hipnose em favor da catarse*, como mostram seus Estudos sobre a histeria*. As razões desse
abandono e desse desinteresse foram objetos de múltiplos comentários contraditórios. No
entanto, são bastante simples.
Se Freud não gostava da hipnose e se considerava o hipnotismo uma técnica bárbara, que só
podia ser aplicada a um número restrito de doentes, era porque a adoção da psicanálise, como
técnica de verbalização dos sintomas pela fala, enfim permitia ao doente falar com liberdade e
com plena consciência, sem necessidade de se entregar a um sono artificial.
Afastando-se das duas escolas, Freud foi o único estudioso de sua época a inventar um
tratamento que, libertando o enfermo dos últimos resquícios de um magnetismo transformado em
hipnotismo e sugestão, propunha uma filosofia da liberdade, baseada no reconhecimento do
inconsciente e de sua via real: o sonho*.
CATARSE
Catarse: Palavra grega utilizada por Aristóteles para designar o processo de purgação ou
eliminação das paixões que se produz no espectador quando, no teatro, ele assiste à
representação de uma tragédia. O termo foi retomado por Sigmund Freud e Josef Breuer*, que,
nos Estudos sobre a histeria, chamam de método catártico o procedimento terapêutico pelo qual
um sujeito consegue eliminar seus afetos patogênicos e então ab-reagi-los, revivendo os
acontecimentos traumáticos a que eles estão ligados.
Fazia séculos que a noção de catarse era objeto de uma discussão interminável, tanto no
campo da estética quanto no da filosofia. Em 1857, Jacob Bernays (1824 -1881), tio de Martha
Bernays, futura mulher de Sigmund Freud, publicou um livro de medicina sobre o assunto.
Opondo-se a Lessing (1729 -1781), que dera ao termo uma interpretação moral, fazendo da
catarse um “expurgo” ou uma “purificação”, Bernays sublinhou que Aristóteles, filho de médico,
havia-se inspirado no corpus hipocrático.
Daí a idéia de que o tratamento devia fazer surgir o elemento opressivo, para provocar um
alívio, em vez de fazê-lo regredir através de uma transformação ética do sujeito. Tratava-se de
fazer com que saísse do sujeito, através da fala, um segredo patogênico, consciente ou
inconsciente, que o deixava em um estado de alienação.
Entre 1857 e 1880, foi publicado sobre essa idéia um número considerável de trabalhos em
língua alemã, inspirados no de Bernays. Em Viena, onde grassava o niilismo terapêutico, as teses
de Bernays foram submetidas a diversos exames críticos, e foi na esteira dessa grande onda da
catarse que Josef Breuer e Sigmund Freud, ambos marcados pelo ensino aristotélico de Franz
Brentano*, recorreram a essa idéia.
Esta surgiu em sua pena pela primeira vez em 1893, juntamente com a de ab-reação*, na
“Comunicação preliminar” que, dois anos depois, serviria de capítulo inaugural para os Estudos
sobre a histeria: “A reação do sujeito que sofre algum prejuízo só tem um efeito realmente
‘catártico’ quando é de fato adequada, como na vingança. Mas o ser humano encontra na
linguagem um equivalente do ato, equivalente graças ao qual o afeto pode ser ‘ab-reagido’ mais
ou menos da mesma maneira.”
Como sublinhou Albert Hirschmüller em 1978, fazia muito tempo que os dois autores
empregavam esse termo. No entanto, foi a Breuer que coube a invenção do método. Freud o
utilizou, por sua vez, no tratamento de Emmy von N. (Fanny Moser*).
Na França, também Pierre Janet* tinha inventado, mais ou menos na mesma época, um
método muito próximo desse – recordação de uma lembrança e ab-reação –, ao qual dera o nome
de dissociação verbal ou desinfecção moral. Assim, ele reivindicou uma prioridade para sua
invenção.
Foi por isso que, para evitar uma disputa pela prioridade entre Paris e Viena, Breuer, instigado
por Freud, apresentou o caso Anna O. (Bertha Pappenheim*) como sendo o protótipo de um
tratamento catártico. Os trabalhos da historiografia* acadêmica, inaugurados por Henri F.
Ellenberger* e prosseguidos por Hirschmüller, permitiram que se restabelecesse a verdade a
respeito desse caso princeps.
Além dessa querela de prioridade, existe uma diferença radical entre o procedimento de Janet
e o de Breuer. Ainda que, em ambos os casos, o médico interrogue o paciente sob hipnose para
ganhar acesso às representações inconscientes, Janet procede por sugestão*, sem investigar o
evento inicial que responde pelo efeito patogênico, ao passo que Breuer, ao contrário, procura o
elemento original para ligá-lo aos afetos e provocar a ab-reação. Do ponto de vista teórico,
portanto, são poucas as semelhanças existentes entre os dois métodos.
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PILARES TEÓRICOS:
Inconsciente
Complexo de Édipo
Resistência
Recalque
Sexualidade
INCONSCIENTE:
Conceitualmente empregado em língua inglesa pela primeira vez em 1751 (com a significação
de inconsciência), pelo jurista escocês Henry Home Kames (1696-1782), o termo inconsciente
foi depois vulgarizado na Alemanha, no período romântico, e definido como um reservatório de
imagens mentais e uma fonte de paixões cujo conteúdo escapa à consciência.
Introduzido na língua francesa por volta de 1860 (com a significação de vida inconsciente)
pelo escritor suíço Henri Amiel (1821-1881), foi incluído no Dictionnaire de l’Académie
Française em 1878.
COMPLEXO de ÉDIPO:
Correlato do complexo de castração* e da existência da diferença sexual* e das gerações*, o
complexo de Édipo é uma noção tão central em Psicanálise quanto a universalidade da interdição
do incesto* a que está ligado. Sua invenção deve-se a Sigmund Freud, que pensou, através do
vocábulo Öedipuskomplex, num complexo ligado ao personagem de Édipo, criado por Sófocles.
O complexo de Édipo aparece entre os 3 e os 5 anos de idade. Seu declínio marca a entrada
num período de latência, e sua resolução após a puberdade concretiza-se num novo tipo de
escolha de objeto.
Em psicanálise, a questão do Édipo pode ser abordada de duas maneiras diferentes, conforme
nos coloquemos no ponto de vista do complexo (e portanto, da clínica) ou no ponto de vista da
interpretação do mito.
Segundo a tese canônica, o complexo de Édipo está ligado à fase (estádio*) fálica da
sexualidade infantil. Aparece quando o menino (por volta dos 2 ou 3 anos) começa a sentir
sensações voluptuosas. Apaixonado pela mãe, ele quer possuí-la, colocando-se como rival do
pai, outrora admirado. Mas adota igualmente a posição inversa: ternura em relação ao pai e
hostilidade para com a mãe. Há então, ao mesmo tempo que um Édipo, um “Édipo invertido”.
E essas duas posições – positiva e negativa – perante cada genitor são complementares e
constituem o Édipo completo, exposto por Freud em seu livo O eu e o isso* (O Ego e o Id).
Ao Édipo, Freud acrescenta a tese da libido* única, de essência masculina, que cria uma
dissimetria entre as organizações edipianas feminina e masculina. Se o menino sai do Édipo
através da angústia de castração, a menina ingressa nele pela descoberta da castração e pela
inveja do pênis. Nela, o complexo se manifesta pelo desejo de ter um filho do pai.
Ao contrário do menino, a menina desliga-se de um objeto do mesmo sexo (a mãe) por outro
de sexo diferente (o pai). Não há, portanto, um paralelismo exato entre o Édipo masculino e seu
homólogo feminino. Não obstante, existe uma simetria, uma vez que nos dois sexos o apego à
mãe é o elemento comum e o primeiro.
RESISTÊNCIA:
A passagem para o método psicanalítico certamente não pôs fim às resistências, mas elas
mudaram de estatuto. Tornaram-se passíveis de interpretação* e, portanto, passíveis de ser
superadas.
A princípio Freud julgou ser possível transpor o obstáculo da resistência que se manifestava
na forma do desrespeito à regra fundamental*, explicando seu conteúdo ao paciente com
insistência e convicção.
Num segundo tempo, ele passou a considerar a resistência como um dado clínico, sintoma do
que está recalcado. Assim, ela passou a participar do processo de recalque* e a depender tanto da
interpretação quanto a transferência, sob cuja forma freqüentemente se manifesta.
No contexto de sua segunda tópica, Freud identificou cinco formas de resistência: três delas
têm sua sede no eu* (Ego), uma no isso* (Id), e a última, no supereu* (Superego). As
resistências ligadas ao Ego podem manifestar-se sob a forma do recalque como tal, sob a da
resistência da transferência, ou ainda como um lucro secundário ligado à persistência da neurose,
sendo a cura vivida como um perigo para o Ego.
A resistência cuja sede encontra-se no Id leva à compulsão à repetição. Pode ser superada
quando o sujeito integra uma interpretação (elaboração*). A resistência do Superego exprime-se
em termos de culpa inconsciente e necessidade de punição.
RECALQUE:
Na linguagem comum, a palavra recalque designa o ato de fazer recuar ou de rechaçar alguém
ou alguma coisa. Assim é empregada com respeito a pessoas a quem se quer recusar o acesso a
um país ou a um recinto específico.
Para Sigmund Freud, o recalque designa o processo que visa manter no inconsciente todas as
idéias e representações ligadas às pulsões e cuja realização, produtora de prazer, afetaria o
equilíbrio do funcionamento psicológico do indivíduo, transformando-se em fonte de desprazer.
Em outras palavras, todos os impulsos inconscientes que poderiam perturbar o consciente, são
por este censurados e recalcados para o interior do inconsciente, evitando-se assim o desconforto
que causariam ao indivíduo.
O recalque não lida com as pulsões em si, mas com seus representantes, imagens ou idéias, os
quais, apesar de recalcados, continuam ainda no inconsciente, sob a forma de derivados ainda
mais prontos a retornar para o consciente, na medida em que se localizam na periferia do
inconsciente. O recalque de um representante da pulsão nunca é definitivo, portanto. Continua
sempre ativo, daí um grande dispêndio energético.
O recalque constitui, para a pulsão e seus representantes, um meio termo entre a fuga
(resposta apropriada às excitações externas) e a condenação (que seria o apanágio do Superego).
SEXUALIDADE:
Impregnado das mesmas interrogações que seus contemporâneos, Freud, no entanto, foi o
único dentre eles a inventar não a prova do fenômeno sexual, mas uma nova conceituação, capaz
de traduzir, nomear ou até construir essa prova. Por isso, ele efetuou uma verdadeira ruptura
teórica (ou epistemológica) com a sexologia, estendendo a noção de sexualidade a uma
disposição psíquica universal e extirpando-a de seu fundamento biológico, anatômico e genital,
para fazer dela a própria essência da atividade humana.
A elaboração dessa nova constituição foi iniciada a partir de uma experiência clínica pautada
na escuta do sujeito.
Freud não inventou uma terminologia particular para distinguir os dois grandes campos da
sexualidade: a determinação anatômica, por um lado, e a representação social ou subjetiva, por
outro. Não obstante, por sua nova concepção, ele mostrou que a sexualidade tanto era uma
representação ou uma construção mental quanto o lugar de uma diferença anatômica.
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INSTRUMENTOS ANALÍTICOS:
Associação Livre
Sonhos
ASSOCIAÇÃO LIVRE:
O método das associações livres (das idéias), ou da livre associação, permite atingir com
maior facilidade, segundo Freud, os elementos que estão em condições de liberar os afetos, as
lembranças e as representações. Para tanto, é preciso convidar os pacientes a se deixarem levar e
“exigir” deles que não deixem de revelar um só pensamento ou idéia, a pretexto de o acharem
vergonhoso ou doloroso.
Ato pelo qual o sujeito, a despeito de si mesmo, substitui um projeto ao qual visa
deliberadamente por uma ação ou uma conduta imprevistas.
Tal como em relação ao lapso, Sigmund Freud foi o primeiro, a partir de A interpretação dos
sonhos*, a atribuir uma verdadeira significação ao ato falho, mostrando que é preciso relacioná-
lo aos motivos inconscientes de quem o comete. O ato falho ou acidental torna-se equivalente a
um sintoma, na medida em que é um compromisso entre a intenção consciente do sujeito e seu
desejo inconsciente.
SONHOS:
Sigmund Freud foi o primeiro a conceber um método de interpretação dos sonhos baseado
não em referências estranhas ao sonhador, mas nas livres associações que este pode fazer, uma
vez desperto, a partir do relato de seu sonho.
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A auto-avaliação não deve ser uma atividade esporádica, sasonal ou incidental, muito menos
deve ser considerada por poucos critérios arbitrários.
Deve ser um estado mental constante, não somente no ambiente de trabalho, mas em todos os
aspectos da vida racional, desperta e atuante.
Continua sendo o método mais eficaz, de longo prazo, para o tratamento de todas as afecções
psíquicas.
BIBLIOGRAFIA:
ROUDINESCO, E. e PLON, M. DICIONÁRIO DE PSICANÁLISE, 1ª edição, Jorge Zahar
Editor, Rio de Janeiro, 1998.
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Sigmund Freud
Introdução
Sigmund Freud, foi um médico austríaco conhecido por ser o fundador da psicanálise - um
método de investigação da mente humana, um conjunto de teorias sobre o funcionamento
da vida mental. O método psicanalítico de Freud, enfatizava a importância do inconsciente
para a compreensão de comportamentos anormais e a importância da primeira infância
(sexualidade infantil), na formação da personalidade. Esses elementos novos, e
controversos, introduzidos por Freud na psicologia, causaram e causam ainda hoje, críticas
e rejeições por parte de psicólogos e psiquiatras que advogam uma abordagem da "ciência
pura" (cientistas de laboratório). Todavia, os que defendem a importância da psicologia
prática (aplicada ao comportamento), apoiam as idéias de Freud. De qualquer modo, a
influência da psicanálise se faz sentir, hoje, nas obras de muitos escritores, nas ciências
humanas, no próprio estilo de vida e nos costumes do século XX, inclusive na liberdade
com que se discute os problemas sexuais. E, ainda, ao tornar possível uma compreensão
maior da infância, a psicanálise permitiu que pais e professores buscassem práticas mais
adequadas na educação das crianças, melhorando a interação entre elas e os adultos que
lhes são significativos.Vamos, então, percorrer, neste texto, o caminho de Freud para a
realização da Psicanálise: um caminho intimamente ligado com sua própria vida. Freud é
chamado "Pai da Psicanálise".
O início da vida em Viena - onde Freud se instala e fica- é um período negro para
Sigismund pois tem que enfrentar a pobreza, o nascimento dos irmãos, as mudanças
freqüentes de residências, e a perda de sua vida livre e feliz no campo. Seu pai não era uma
pessoa que facilitasse as coisas. Ele era um pequeno comerciante de lãs sem recursos
suficientes para enfrentar o mundo industrializado à sua volta. Era, no entanto, amável,
generoso e convicto dos dotes excepcionais do filho Sigismund. Essa expectativa em torno
de Freud desenvolveria sua autoconfiança, mas por ser considerado um privilegiado eram-
lhe exigidas responsabilidades, "À sua inteligência, foi dada uma tarefa da qual nunca
recuou, até que, 40 anos mais tarde, encontrou a solução de uma forma, que tornou seu
nome imortal". (Kupfer 1989, 17). Os sentimentos de Freud em relação a seu pai, no
entanto, eram intrincados. Duas passagens se fazem importantes: A primeira, por volta de
1864, quando Sigismund urina voluntariamente no quarto dos pais e diante deles. Ao
repreendê-lo, seu pai diz: "Não se fará nada deste menino". Esta maldição freqüentará por
muito tempo os sonhos de Freud, estimulando assim sua ambição. A segunda é quando,
durante um passeio seu pai lhe conta que, quando rapaz, dando uma volta pelas ruas de
Freiberg, um cristão lhe havia arrancando o gorro da cabeça, atirou no estrume e gritou:
"Judeu, fora da calçada" e ele saíra da calçada e apanhara o gorro. Contou isso para
mostrar ao filho que a vida havia melhorado para os judeus na Áustria. Sigismund, porém,
decepcionou-se com o pai, pois deste esperava atitudes heróicas e o considerava um
"homem grande e forte". Freud recebe as primeiras lições de sua mãe, e depois de seu pai.
Cabe dizer aqui que sua mãe foi provavelmente entre todas as mulheres com que Freud
conviveu, a mais importante; A influência que exerceu sobre sua vida interior foi sólida e
decisiva. Ela exercia mesmo um poder sobre Freud. "Durante toda a sua vida de analista,
ele reconheceu a importância crucial da mãe para o desenvolvimento da criança" (Gay 1997,
458), porém afirma, sempre, que para ele, a mulher era um continente inexplorado –
Mulher, O Continente Negro (Gay 1997, 454). Aos 9 anos (1865), ingressa no liceu
municipal, onde recebe um ensino, cujos os fundamentos eram as Humanidades (latim,
grego, literatura alemã, línguas, matemática e ciências naturais).
Em agosto de 1895, escreve a Fliess dizendo ter conseguido entender a defesa patológica e,
com isso, muitos processos psicológicos.(GAY 1997, 90) No ano seguinte, morre seu pai
Jacob. Sigmund é profundamente afetado. Nesse ano fala pela primeira vez de noções do
aparelho psíquico, de pré consciente, zonas erógenas e possui quase definitivamente a
psicologia do sonho. Em 1897, abandona a teoria da sedução e fornece o conceito de
"libido". Começa sua auto- análise sistemática, buscando suas recordações de infância.
Anuncia a descoberta do complexo de Édipo. Em 1898 fala pela primeira vez da existência
de uma sexualidade infantil autônoma, e troca a técnica da concentração pela das
associações livres. Em 1899 decide publicar sua auto- análise e, portanto, seu livro sobre os
sonhos. Em 1900 trabalha uma teoria da sexualidade e da libido. Analisa seus lapsos,
esquecimentos, atos falhos, escolha de números e pseudônimos. Neste ano, publica o livro
que lançaria publicamente a Psicanálise- A Interpretação dos Sonhos- (auto análise). Um
dos benefícios de sua auto - análise foi desvendar a necessidade que tinha de um "mestre".
E foi pela interpretação de um sonho que Freud pode superar de modo definitivo a falta de
um mestre. "Não preciso de professores. Cabe ao meu verdadeiro pai me ajudar. Na
verdade, não quero ninguém acima de mim. Salvo aquele que me fez" (Kupfer 1989, 28). O
ultimo encontro de Freud com Fliess foi em 1900. Os dois brigaram violentamente. Fliess
acusa Freud de Ter-lhe "roubado" a idéia da bissexualidade psíquica fundamental de
todos os seres humanos. Continuaram a se corresponder, mas cada vez menos. "Fliess
havia desempenhado um papel de destaque na pré- história da Psicanálise, mas quando a
história da Psicanálise se desenvolveu, após 1900, sua participação foi ínfima" (Gay 1997,
108). Freud em 1901, torna-se professor e organizador de uma instituição voltada à
divulgação da Psicanálise e à formação de analistas. Em 1908 esta instituição se
transformará na Sociedade Psicanalítica de Viena.
Somente sua morte interrompeu esta fulgurante e trabalhosa trajetória. Somente a morte
fez cessar aquilo que se tornou a marca desta trajetória, inclusive em referência ao objetivo
nuclear do trabalho clínico psicanalítico: o movimento psíquico. Em maio de 1939, alguns
meses antes da sua morte, Freud escreveu uma carta ao amigo Charles Berg, na qual
admitia que "a Psicanálise talvez nunca chegasse a se tornar popular, que um homem do
povo não poderia compreendê-la nem ao menos aceitá-la" (Kupfer, 1989). Enganou-se.
Neste mesmo ano de 1939, em 23 de Setembro, Freud morre, em Londres, aos 83 anos.
A Psicanálise
A gestação da Psicanálise
As teorias cientificas surgem influenciadas pelas condições de vida social, nos seus aspectos
econômicos, políticos, culturais, etc. São produtos históricos criados por homens concretos,
que vivem o seu tempo e contribuem ou alteram radicalmente o desenvolvimento da
Ciência. Sigmund Freud foi um médico que alterou radicalmente o modo de pensar a vida
psíquica. Freud ousou colocar os "processos misteriosos" do psiquismo, sua regiões
obscuras, isto é, as fantasias os sonhos, os esquecimentos, a interioridade do homem, como
problemas científicos. A investigação sistemática desses problemas levou Freud à criação
da Psicanálise. Freud após terminar o curso de medicina em 1881 especializou-se, em Paris,
em Neurologia (parte da medicina que estuda doenças do sistema nervoso); clinicava nesta
área. Tornou-se aluno do Dr.Charcot, que acreditava que as doenças mentais eram
originadas de certos fatos passados na infância, e para a cura dos pacientes ele usava a
hipnose (estado de sono profundo, no qual o paciente age por sugestão externa). Charcot
teria influência decisiva sobre Freud. De volta à Viena Freud se associa com Josef Breuer,
médico e cientista, que também foi importante para a continuidade das investigações.
Freud e Breuer hipnotizavam seus pacientes de modo que contassem fatos de sua infância.
Esse relato provocava dois efeitos: fornecia dados que auxiliavam os médicos no
diagnóstico da doença e na libertavam o paciente de suas angústias, agitações e ansiedades.
Os doutores chamaram essa libertação de Catarse. Notaram, porém, que essa cura era
transitória. Logo apareciam outros sintomas de perturbação. Freud e Breuer trabalharam
juntos em alguns casos sem empregar a hipnose. Após terem captado totalmente a
confiança do paciente, levavam no a relatar seu passado em estado normal. Dentre muitas
observações, pode-se notar o fenômeno da transferência afetiva, ou seja, quase sempre o
paciente transferia ao médico suas emoções, ora afeiçoando-se a ele, ora aborrecendo-se
com ele. Durante algum tempo, os dois colegas trabalharam juntos mas logo suas idéias
começaram a divergir muito e foi preciso que se separassem. Freud foi modificando a
técnica de Breuer; abandonou a hipnose, porque nem todos os pacientes se prestavam a ser
hipnotizados, desenvolveu a técnica da concentração, na qual a rememoração sistemática
era feita por meio da conversação normal, e por fim abandonou as perguntas para se
confiar por completo à fala desordenada do paciente. E com isto foi nascendo o Método
Psicanalítico, que é composto por três técnicas: associação livre, análise dos sonhos, análise
dos atos falhos.
O Método Psicanalítico
Nos primeiros contatos com o paciente, Freud procurava ganhar confiança. Depois de
algum tempo, este era submetido à associação livre, que consistia em fazer com que o
paciente ficasse em uma situação de completo repouso. Geralmente, o doente deitava-se em
um divã, que ficava em uma sala silenciosa, na penumbra, tendo o médico por de trás de
sua cabeceira, portanto, sem encará-lo. Freud pedia ao paciente que fosse relatando em voz
alta todos os fatos de sua vida dos quais podia se lembrar, sem ter que seguir uma ordem
lógica ou cronológica. Esta técnica chamou-se de associação, pois Freud pedia aos seus
pacientes que mencionassem os fatos conforme lhes ocorressem, conforme fossem se
associando uns aos outros em suas mentes. Chama-se associação livre porque o psicanalista
não sugere o assunto a ser abordado, deixa o paciente falar à vontade, livremente. Freud,
ao submeter os pacientes a esta técnica, notou que estes faziam pausas no decorrer de seus
relatos. A essas pausas, em que o doente parecia ter dificuldade de se lembrar dos fatos,
Freud chamou de resistência e explicou resultarem do desejo do paciente de ocultar algo ao
psicanalista ou a si mesmo. O estudo das resistências foi importante para a descoberta da
causa de sintomas que afligiam o paciente, ou seja, para fazer um melhor diagnóstico de
sua doença mental. Após submeter-se a técnica da associação livre, o doente podia sentir-se
aliviado ou, ao contrário, passar por fortes crises emocionais ao reviver fatos passados de
sua vida. O emprego da associação livre, portanto, oferece dois resultado: faz a catarse de
alguns sintomas e auxilia o psicanalista a descobrir as causas da perturbação mental
(diagnóstico).
Freud achou de grande importância a análise do sonho, pois poderia melhor compreender
a mente de uma pessoa. Sendo assim pedia sempre a seus pacientes que lhe relatassem seus
sonhos. Certos aspectos da mente das pessoas ficavam mais conhecidos pela interpretação
que Freud fazia de seus sonhos. Em 1900, foi publicado o mais famoso dos livros de Freud:
A Interpretação dos Sonhos. Deve-se a esta obra a introdução do método da associação, que
tornou possível o estudo interpretativo do sonho, definido por Freud como a estrada real
para o inconsciente. "O sonho é a realização de um desejo", Essa é a fórmula fundamental
de Freud. Essa é a função do sonho.
Propriedades do sonho:
a) A facilidade com que ele é esquecido, tão logo ocorre o retorno à vigília.
b) O predomínio das imagens e, em particular das imagens visuais sobre os elementos de
natureza conceitual, caracterizando-se, assim, o sonho como expressão do processo
regressivo.
Níveis do sonho: Freud distinguiu, no sonho, o conteúdo manifesto e o conteúdo latente, isto
é, as idéias oníricas encobertas. O conteúdo manifesto é o sonho tal como relatado. O
conteúdo latente é o seu sentido oculto, sentido que justifica o processamento da análise
interpretativa.
Técnica da análise dos atos falhos: Freud e outro psicólogos denominam de atos falhos os
esquecimentos, os lapsos de linguagem, enfim, certos atos que praticamos sem que
tivéssemos a intenção de praticá-los. Estes atos são atribuídos simplesmente ao acaso, mas
neles percebe-se um significado, negando-lhes a condição de acidentais. Foi proposto por
Freud a classificação dos atos falhos em três grupos: (a) atos sintomático; (b) atos
perturbados; (c) atos inibidos. Por ato sintomático entende o ato que se cumpre sem
recalque. O ato perturbado caracteriza-se como aquele que só se cumpriu parcialmente, em
face de um recalque incompleto. Finalmente, o ato inibido é o que resulta de uma situação
de conflito, na qual ocorre recalcamento total ou completo.
A Doutrina Psicanalítica
Durante o período de doze anos Freud foi o único que usou, para tratamento de distúrbio
nervosos, este método especial de que é autor. Tal método exige muito tato, penetração de
julgamento, calma e paciência. Trabalhando com dedicação e persistência, cuidando de
seus doentes e observando pessoas sãs, Freud tornou-se um grande conhecedor da mente
humana, sobre a qual reuniu uma vasta documentação. Julgou-se, pois, capacitado para
publicar uma doutrina psicológica completamente nova, explicando o funcionamento da
mente humana e o desenvolvimento da personalidade. Atualmente, a palavra Psicanálise é
mais empregada neste sentido- como a doutrina freudiana que explica o funcionamento da
mente humana. A doutrina psicanalítica deriva todos os processos mentais (exceto os que
dependem da recepção de estímulos externos) de um jogo de forças psíquicas instintivas
representadas por imagens ou idéias e suas respectivas cargas emocionais, além de
enfatizar os aspectos psicossexuais. A princípio sua doutrina foi mal recebida, e suas obras
passaram despercebidas. Porém, aos poucos o número de pessoas interessadas em suas
descobertas foi aumentando até ser fundada a Associação Psicanalítica Internacional,
chefiada por Jung. Sua doutrina difundiu-se por todo o mundo, mesmo antes de seu
falecimento em 1939, em Londres onde Freud se refugiara quando perseguido pelos
nazistas, por ser judeu. Atualmente notamos que a Psicanálise influência vários campos da
atividade humana, principalmente a Psiquiatria (ramo da medicina que trata das doenças
mentais). É grande também o número de psicanalistas dedicados a aplicação da Psicanálise
á educação da infância. É comum imaginarmos a Psicanálise acontecendo num consultório
com um paciente deitado num divã, até porque esta tem sido tradicionalmente, a sua
prática. Porém, coexistindo com isto, é possível observar o esforço de estudiosos no sentido
de ampliar o raio de contribuição da psicanálise aos fenômenos de grupos, às práticas
institucionais e à compreensão de fenômenos sociais, como a violência e a delinqüência, por
exemplo. Portanto, além das contribuições para a revisão de práticas profissionais,
buscando, por exemplo, um atendimento ao doente mental que supere o isolamento dos
manicômios, a maior contribuição da Psicanálise é indicar que o mais importante na
sociedade não é a representação que ela faz de si, ou suas manifestações mais elevadas, mas
aquilo que está além dessas aparências. Isto é, a angústia difusa, o aumento do racismo, a
vitimização das crianças, o terrorismo. Em sua, a Psicanálise nos faz ver aquilo que mais
nos incomoda: a possibilidade constante de dissociação dos vínculos sociais. Muitos adeptos
da teoria psicanalítica, deram continuidade aos seus trabalhos sem modificar os
ensinamentos de Freud. Estes são chamados de psicanalistas ortodoxos como: Ana Freud,
Ernest Jones, Karl Abraham etc. A maioria, porém, mantém-se fiel em alguns pontos,
alterando outros. Estes são chamados revisionistas ou neofreudianos como: Erich Fromm,
Harry S.Sullvan, Karen Horney, etc.
A Libido
Observando seus pacientes, Freud pode constatar que a causa da doença mental neles
apresentada era sempre provinda de um problema sexual. Observou, também, as
personalidades normais, podendo assim concluir que "o comportamento humano é
orientado pelo impulso sexual". A esse impulso Freud dá o nome de libido (palavra
feminina que significa prazer). A libido constitui uma força de grande alcance na
personalidade humana; é um impulso fundamental ou fonte de energia.
Em 1900, no livro A interpretação dos sonhos, Freud apresenta a primeira concepção sobre
a estrutura e funcionamento da personalidade. Essa teoria refere-se à existência de três
sistemas ou instâncias psíquicas: inconsciente, pré - consciente e consciente.
Entre 1920 e 1923, Freud remodela a teoria do aparelho psíquico e introduz os conceitos de
id, ego e superego para referir-se aos três sistemas da personalidade. É importante
considerar que estes sistemas não existem enquanto uma estrutura em si, mas são sempre
habitados pelo conjunto de experiência pessoais e particulares de cada um, que se constitui
como sujeito em sua relação com o outro e em determinadas circunstâncias sociais.
Id: Há na nossa personalidade, uma parte irracional ou animal. Essa parte biológica,
hereditária, irracional, que existe em todas as pessoas procura sempre satisfazer nossa
libido, os nossos impulsos sexuais. Freud chamou-a de Id. Esse impulsos do Id, na sua
maioria, são inconscientes, passam despercebidos, são por nós ignorados.
Superego: Desde que nascemos, vivemos em um grupo social do qual vamos recebendo
influências constantes. Desse grupo vamos absorvendo, aos poucos, idéias morais,
religiosas, regras de conduta, etc.; que vão constituir uma força em nossa personalidade. E
essa força adquirida lentamente por influência de nossa vida em sociedade, é que Freud
chama de Superego. O Id e o Superego são forças opostas, em constante conflito. O
Superego, quase é contrário à satisfação da natureza animal, enquanto o Id procura
satisfazê-la. Essa luta entre Id e Superego, não é percebida por nós, na maioria das vezes.
Ego: É quem procura manter o equilíbrio entre as forças opostas, Id e Superego, é a nossa
razão, a nossa inteligência, à qual Freud chama de Ego. O Ego tenta resolver o constante
conflito entre Id e o Superego. Numa pessoa normal, o conflito é resolvido com êxito.
Quando o nosso Ego consegue o equilíbrio entre as duas forças, nossa saúde mental é
considerada normal. Mas, no momento em que o Ego não consegue mais manter essa
harmonia, aparecem os distúrbios mentais.
Desenvolvimento da Personalidade
Freud explica nosso desenvolvimento emocional, dizendo que o ser humano passa por
diferentes períodos desde que nasce, até alcançar a adolescência. Em cada um desses
períodos, a libido toma uma direção característica. As fases da libido, ou as mudanças de
uma fase para outra, ocorre tão gradativamente que uma fase se confunde com a seguinte e
as duas se superpõem.
Período narcisista - no início da vida, a criança dirige sua libido para seu próprio corpo.
Ela ama a si mesma. Suas reações emocionais, dependem principalmente de seu bem-estar
ou de seu mal-estar físico. É egocêntrica. Esta fase é chamada auto-erótica: nela, a criança
busca prazer em seu próprio corpo, chupa o dedo, suga os próprios lábios, etc.. Este
período recebe o nome de narcisista devido à lenda grega de um jovem muito formoso
-Narciso- que se apaixona pela própria imagem refletida nas águas.
Período edipiano - nesta fase, a criança dirige a sua libido para o progenitor do sexo oposto,
manifestando hostilidade para o progenitor do mesmo sexo. Ainda, a criança se identifica
com o genitor do mesmo sexo. A menina, portanto, ama seu pai e hostiliza a sua mãe. Da
mesma forma, o menino ama sua mãe e manifesta hostilidade para com o pai. Os
psicanalistas explicam os fatos do período edipiano da seguinte maneira: o menino, por
exemplo, ama a mãe e, percebendo que ela tem uma afeição especial pelo pai, vai procurar
tornar-se igual a ele para merecer também o amor da mãe. É neste período que cada qual
adota o papel sexual para toda a vida. Seguidores de Freud afirmam que essa preferência
baseada no sexo, que existe dentro do lar, não se dá somente em relação a criança para com
os progenitores, mas também destes para com a criança do sexo oposto. Este período é
chamado edipiano por causa da lenda grega em que Édipo, jovem príncipe, assassina seu
pai para casar-se com a mãe.
Período de latência sexual - Depois das dificuldades da fase edipiana, a criança passa para
um período mais calmo. Esse período corresponde aos anos da escola primária, em que a
criança se ocupará em adquirir habilidades, valores e papéis culturalmente aceitos. Ele é
denominado de latência, porque os impulsos são impedidos de se manifestar. Neste período,
a energia dos impulsos é desviada de seu uso sexual e dirigida para outras finalidades,
processo esse chamado de sublimação. A sublimação tem importante papel no
desenvolvimento do homem civilizado e nas realizações culturais.
Adolescência - nesta fase, a libido do jovem se dirige a um adolescente do sexo oposto. Essa
ligação emocional heterossexual, fora da família, vais exigir a emancipação do adolescente
de seus pais. A separação emocional ocasiona, pelo menos por algum tempo, rejeição,
ressentimentos e hostilidades contra os pais e outras autoridades. Esta é uma fase difícil
não só para o adolescente mas, também, para os pais que querem retardar essa libertação.
Há casos em que o desenvolvimento emocional não se processa normalmente, não
apresenta essa seqüência de fases devido a fatores biológicos ou condições ambientais.
Mecanismos de Defesa
Atos falhos são aqueles que praticamos aparentemente sem querer e de modo inexplicável.
É comum cometermos enganos, trocarmos palavras, esquecer objetos, etc. Os atos falhos
são causados pelos impulsos reprimidos que procuram se descarregar de qualquer modo,
mesmo interferindo em nossas ações não submetidas a repressão. De acordo com Freud, os
atos falhos devem ser atentamente observados pelo psicanalista, pois são sintomáticos,
possuem um valor revelador de alguma coisa que o paciente procura ocultar. Podemos
citar como exemplo de ato falho, o seguinte caso: Um presidente da Câmara austríaca, ao
abrir a sessão, numa noite em que todos temiam um escândalo, disse: "Senhores
deputados, está encerrada a sessão" em vez de "está aberta a sessão". È freqüente
perdemos objetos que nos foram dados por pessoas de quem não gostamos, enganarmos
com o itinerário ou perdemos a condução quando vamos aborrecidos a algum lugar.
Conversão: Freud explicou que, muitas vezes, não conseguimos harmonizar os impulsos do
Id, com o nosso superego através de outros mecanismos. Sendo assim , a luta, o conflito
entre essas duas forças se converterá em um sintoma físico; paralisia, dores de cabeça,
perturbações digestivas, etc. No século XX, a medicina mudou seu modo de encarar certos
problemas: os médicos atualmente, não consideram o corpo como algo isolado da mente.
Aceitam que o estado da mente influi no corpo e vice-versa; existindo uma inter-relação
entre corpo e mente. Este conceito difere do conceito de antigamente, quando os estudiosos
consideravam separadamente esses dois componentes do indivíduo. A medicina atual é,
então, psicossomática, ou seja, corpo e mente estão muito ligados; não podemos, então,
considerar nosso corpo saudável, quando há problemas emocionais. Assim como, quando
há uma doença física, nos tornamos indivíduos pessimistas, deprimidos, etc. Corpo e mente
são dois elementos que se interinfluenciam. Conversão é, portanto, a transformação de
conflitos emocionais em sintomas físicos e vice - versa. Dr. Arthur Ramos, diz no livro "A
criança problema", que muitos de seus problemas emocionais, podem se converter em
tiques.
Tiques são contrações que o indivíduo realiza automaticamente, sem nenhuma finalidade e
sem perceber. É comun nas escolas, crianças apresentando tiques, os quais são causados
por conversões de conflitos emocionais.
B - Mudança de reação - Neste caso, a ação desejada é substituída por outra que se dirige
ao mesmo objeto. Exemplo: 1) Um empregado satisfaz seu desejo de dar um soco em seu
patrão, agredindo-o somente com palavras. 2)Um cavalheiro satisfaz seu desejo de
acariciar uma jovem dama oferecendo-lhe um ramo de flores, etc.
Formação reativa: o ego procura afastar o desejo que vai em determinada direção, e, para
isto, o indivíduo adota uma atitude oposta a este desejo. Um bom exemplo são as atitudes
exageradas, ternura excessiva, super – proteção, que escondem o seu oposto, no caso, um
desejo agressivo intenso. Aquilo que aparece (a atitude0 visa esconder do próprio indivíduo
suas verdadeiras motivações (o desejo), para preservá-lo de uma descoberta acerca de si
mesmo que poderia ser bastante dolorosa. É o caso da mãe que superprotege o filho, do
qual tem muita raiva porque atribui a ele muitas de suas dificuldades pessoais. Para muitas
destas mães, pode ser aterrador admitir essa agressividade em relação ao filho.
Freud e a Educação
A educação é tema que perpassa toda obra de Freud, e sempre foi para ele motivo de
análise e reflexão. Não se encontra uma obra específica dedicada ao tema educação, mas
pode-se encontrar, em textos que abordam outras questões, uma conexão entre a educação
e idéias de Freud que foram produzidas para compor sua teoria psicanalítica: ao construir
um determinado conceito psicanalítico, Freud refletia as conseqüências dessa conceituação
sobre o seu modo de pensar a cultura, a sociedade e a educação, encaminhando o que era
particularidade do funcionamento psíquico e o que era fruto das influências educativas
recebidas pelo indivíduo. Desta forma, torna-se necessário conhecer a teoria freudiana
para estabelecer uma conexão dela com a educação. O que precisa ficar claro é que não
existe uma pedagogia analítica ou uma psicanálise aplicada à educação, ou seja, uma
construção de métodos e de instrumentos de trabalho de inspiração psicanalítica que se
apliquem à situação de ensino propriamente dita. O que se espera, é que o professor,
através do conhecimento da teoria freudiana, possa refletir , apropriar-se das idéias e delas
tirar proveito para seu fazer diário em sala de aula. Mas não se pretende criar uma nova
disciplina, a Pedagogia Psicanalítica e nem transformar professores em analistas.
As idéias freudianas sobre a educação, inspiradas pela psicanálise, eram de certa forma
"desditas" por ele, ou seja, eram sempre questionadas: O educador deve promover a
sublimação, mas como se a sublimação é inconsciente? Deve esclarecer as crianças sobre a
sexualidade, mesmo que estas não dêem ouvidos por tecerem suas próprias explicações de
acordo com o momento sexual que se encontram? O educador tem que se reconciliar com a
criança que há dentro dele, pois como afirma em "Múltiplos interesses da Psicanálise",
mais particularmente na seção intitulada "Interesse Pedagógico": "Só pode ser pedagogo
aquele que se encontrar capacitado para penetrar na alma infantil. Nós, os adultos, não
compreendemos nossa própria infância" (Kupfer 1989, 12). Os adultos esquecem de como
foi ser criança. Freud disse em uma de suas últimas obras: "educar, ao lado de governar e
psicanalisar é uma profissão impossível." (Kupfer 1989, 12). Esse pensamento mostra uma
desilusão de Freud à educação. Impossível, não é, no entanto, sinônimo de irrealizável, mas
indica principalmente a idéia de algo que não pode ser jamais integralmente alcançado: o
domínio, a direção e o controle estão na base de qualquer sistema pedagógico.
O que se pode concluir, então, é que a Psicanálise não serve como fundamento pedagógico,
não serve como princípio organizador de um sistema ou de uma metodologia educacional.
Apesar de todas tentativas de pós freudianos tentarem aplicar a psicanálise à educação, o
que tudo indica é que não obtiveram sucesso, e que até hoje "a psicanálise é convocada
apenas para selecionar crianças para classes especiais, ou seja, para estigmatizá-las e
segregá-las do convívio com os demais" (Kupfer1989, 71). É preciso buscar um ponto de
equilíbrio em que o educador possa beneficiar-se do saber psicanalítico sem, contudo,
abandonar a especificidade de seu papel, ou mesmo propor-se a uma sistematização desse
saber em uma pedagogia analítica. Objetivo de transmitir a psicanálise ao educador é para
que esta possa produzir efeito de natureza diversa na postura do professor, e não para que
este aplique o conhecimento no trato com os alunos.
Freud enfatiza que, na relação professor – aluno, não são os conteúdos cognitivos, mas as
relações afetivas, ou o campo, que se estabelecem entre o aluno e o professor e que
estabelecem as condições para o aprender, sejam quais forem os conteúdos. O educador
inspirado por idéias psicanalíticas renuncia a uma atividade excessivamente programada,
instituída, controlada com rigor obsessivo. Aprende que pode organizar seu saber, mas não
tem controle sobre os efeitos que produz sobre o seus alunos, sobre as repercussões
inconscientes de sua presença e de seus ensinamentos. Pode-se dizer, por isso, que a
Psicanálise pode transmitir ao educador, uma ética, um modo de ver e entender sua prática
educativa. É um saber que pode gerar, dependendo, naturalmente, das possibilidades
subjetivas de cada educador, uma posição, uma filosofia d trabalho, uma maneira de
formar seu pensamento. De fato, o que se conclui, é que o encontro da psicanálise com a
educação continua sendo um desafio.
Apesar de Freud afirmar, em carta a um amigo , que a Psicanálise talvez nunca se tornasse
popular, vemos hoje que, de alguma forma, ela, está implícita ou explicitamente em várias
áreas de ciências humanas - sociologia, literatura, artes, estudo das religiões, etc. - e no
próprio estilo de vida e nos costumes do século XX, inclusive e, talvez, mais claramente, no
que diz respeito à liberdade e à preocupação em relação aos problemas sexuais. As
discussões acerca desta temática tem se intensificado por ser considerada importante na
formação global do indivíduo. Por isso, desde a década de 80 é que vem aumentando os
trabalhos na área da sexualidade nas escolas. Esses trabalhos culminaram com a inclusão
da sexualidade como tema transversal proposto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais,
em 1997, pelo MEC, com o nome "Orientação sexual". A sexualidade tem grande
importância no desenvolvimento e na vida psíquica das pessoas, pois independentemente
da potencialidade reprodutiva, relaciona-se com a busca do prazer, necessidade
fundamental dos seres humanos. Neste sentido, se manifesta desde o nascimento até a
morte, de formas diferentes a cada etapa, sendo construída ao longo da vida e marcada
pela história, cultura, ciência, assim como pelos afetos e sentimentos. A proposta de
Orientação Sexual considera a sexualidade nas dimensões biológica, psíquica e
sociocultural. As formulações conceituais sobre a sexualidade infantil feitas por Freud, no
começo deste século, ainda não são conhecidas ou aceitas por parte dos profissionais que se
ocupam de crianças, inclusive educadores, mas as questões que envolvem a sexualidade são
bastante atuais e presentes no cotidiano destes profissionais. Por isso faz-se necessária a
adoção, por esses profissionais, de uma postura, dentro das escolas, em face as
manifestações da sexualidade dos alunos. Daí, a proposta de trabalho, que legitima o papel
e delimita a atuação do educador neste campo, com a finalidade de contribuir para o bem
estar das crianças e dos jovens na vivência de sua sexualidade atual e futura. Este encontro
da "Teoria da sexualidade" freudiana com a atuação do educador se constitui, sem dúvida,
num desafio. Que cada interessado tome como seu esse desafio!
Teoria da sexualidade
Os principais aspectos destas descobertas são: A função sexual existe desde o princípio da
vida, logo após o nascimento, e não só a partir da puberdade como afirmavam as idéias
dominantes. O período de desenvolvimento da sexualidade é longo e complexo até chegar à
sexualidade adulta. A libido, nas palavras de Freud, é "a energia dos instintos sexuais e só
deles." No processo de desenvolvimento psicossexual, o indivíduo tem, nos primeiros anos
de vida, a função sexual ligada a sobrevivência, e portanto o prazer é encontrado no
próprio corpo. O corpo é erotizado, e há um desenvolvimento progressivo que levou Freud
a postular as fases do desenvolvimento sexual
Fase oral (de 0 a 18 meses). Durante o primeiro ano e meio de vida, aproximadamente, os
lábios, a boca e a língua são os principais órgãos de prazer e satisfação da criança: seus
desejos e satisfações são orais. Essa afirmação baseia-se na análise clínica de crianças de
mais idade e de adultos; é possível também observar no dia - a - dia a importância, para a
criança dessa idade e mesmo mais velhas, de atos como sugar, pôr coisas na boca e morder,
como fonte de prazer. Se as necessidades forem satisfeitas, a pessoa crescerá de maneira
psicologicamente saudável; se não o forem, seu ego será imperfeito. Por exemplo, se as
necessidades orais forem frustradas durante esse período, por desmame prematuro, do
afastamento rigoroso de todos os objetos para sugar (incluindo o polegar), o ego poderá ser
incapaz de superar os desejos orais frustrados. Alguns psicanalistas atribuem o alcoolismo,
por exemplo, a frustrações na fase oral.
Fase anal (de 18 meses a 3 anos). No ano e meio seguinte, época em que a criança está sendo
ensinada a controlar as fezes e a urina, sua atenção se focaliza no funcionamento anal. Por
isso, a região anal torna-se o centro de experiências frustradoras e compensadoras. Os pais
aprovam e recompensam a criança por uma defecação no local e momento adequados, e
procuram desestimular a mesma atividade em circunstâncias inadequadas. Sensações de
prazer e desprazer associam-se tanto com a expulsão como com a retenção das fezes, e esses
processos fisiológicos, bem como as fezes em si, são objetos do mais intenso interesse da
criança. Se, durante este segundo estágio, sobrevierem muitas frustrações, devidas a um
treino excessivamente severo do controle dos esfíncteres, o ego poderá ser prejudicado em
seu desenvolvimento. Psicanalistas atribuem a avareza, a exagerada preocupação com a
limpeza e a meticulosidade (no adulto) a frustrações ocorridas na fase anal. Esses traços
constituem a chamada personalidade anal. A avareza ou sovinice, isto é, o prazer no
acúmulo e guarda de bens, poderia ter-se originado do prazer que a criança experimentou
ao reter as fezes. A exagerada preocupação com a limpeza e a ordem (tanto no plano
material quanto mental) tem sido relacionada com exigências excessivas de limpeza que os
pais fazem às crianças nessa idade.
Fase fálica (de 3 a 7 anos). Por volta do final do terceiro ano de vida, o papel sexual
principal começa a ser assumido pelos órgão genitais e, em regra, é por eles mantido até a
vida adulta. Essa fase do desenvolvimento sexual recebeu o nome de fálica (falo = pênis),
pois o pênis é o principal objeto de interesse para a criança de ambos os sexos. Nesta fase,
merecem menção algumas manifestações do impulso sexual. Uma delas é o interesse pelas
diferenças anatômicas entre os sexos. A criança deseja ver os genitais da outra, bem como
mostrar os seus. Sua curiosidade é exibicionismo, naturalmente, incluem outras parte do
corpo, bem como outras funções orgânicas. Durante esse período, a criança se interessa
também pelo papel que o pai desempenha na procriação, pelas atividades sexuais dos pais,
pela origem dos bebês-- temas freqüentes de suas fantasias. Nesse sentido, admoestações
excessivas e punitivas sobre os interesses e atividades sexuais teriam efeitos negativos na
posterior identificação sexual. De acordo com a concepção freudiana, impotência sexual,
frigidez, exibicionismo e homossexualidade são consideradas deficiência do ego derivadas
do período fálico. É ainda nessa fase que aparecem o Complexo de Édipo e de castração. Os
psicanalistas chamam de complexo de Édipo a atração da criança pelo progenitor do sexo
oposto, que ocorre aproximadamente dos 3 aos 5 anos. Nesse período configura-se o
fenômeno da identificação com o progenitor do mesmo sexo. Os psicanalistas explicam os
fatos do período fálico da seguinte maneira: a criança ama o progenitor do sexo oposto;
percebendo, porém, que este tem uma afeição especial pelo progenitor do mesmo sexo que
ela, procura assemelhar-se a este último, identificar-se com ele, para também merecer o
amor do progenitor do sexo oposto. Uma menina, portanto, gosta muito de seu pai e
percebe que este tem especial afeição para com sua mãe. Então, para merecer o amor do
pai, procura identificar-se com a mãe, imitando-a (usando sapato de salto, batom,
ocupando-se das tarefas maternas etc.). Esta menina, vivendo num lar harmonioso, tornar-
se-á bem feminina Transpondo, porém, a mesma situação para um lar em que o marido
deprecie a esposa, a filha deste casal - que ama o pai e quer sua afeição - não procurará
identificar-se com a mãe, a quem não julga bom modelo. Para evitar parecer-se com ela,
poderá tornar-se uma personalidade com características masculinas. A mesma situação
repetir-se á, analogamente, com o menino. É neste período que cada um assumirá sua
identidade sexual para toda a vida. Segundo Freud, o complexo de Édipo é reprimido no
menino e convertido em angústia de castração. Na imaginação infantil, o pai, inicialmente
amado, passa a ser temido, pois o menino receia que, por ciúme, seu progenitor queira
realmente tirar-lhe os órgãos sexuais. No final desta fase, sobrevêm a repressão da
hostilidade para com o pai e do amor pela mãe. Freud, porém, não explicou o
desenvolvimento das meninas tão explicitamente quanto o dos meninos. Todos nós
comumente esquecemos os interesses sexuais de nossa infância, quando adultos. As
lembranças desses interesses são reprimidas, não aflorando ao nível da consciência. Tanto
nos meninos quanto nas meninas, outra conseqüência do desenvolvimento edipiano é o
desenvolvimento da consciência moral ou do superego. Ao identificar-se com os pais, a
criança adquire seus padrões, seus valores. Ela aceita, como regras de ação, fazer o que os
pais aprovem a evitar o que eles condenam. Quando a criança transgride essas normas,
uma "voz interior" condena-a e a faz sentir-se culpada. A obediência aos padrões morais
dos pais alivia seu medo de perder o amor deles, a mais séria das ameaças. A fase fálica
apresenta grande tensão e dificuldades para a criança. "Sua solução é importante para o
desenvolvimento normal, e os desvios em sua resolução estão atrás de quase todas as
dificuldades neuróticas dos adultos de nossa cultura". Para Freud e seus adeptos, aspectos
extremamente significativos de nosso desenvolvimento pessoal e emocional são
determinados durante os primeiros sete anos de nossa vida. Práticas inadequadas de
educação das crianças resultarão em prejuízo para o seu ajustamento quando adultos. A
personalidade adulta é grandemente afetada pelas experiências emocionais da infância ou,
em outras palavras, pela qualidade da interação entre a criança e os adultos significativos
para ela. (A esse respeito, Fruem afirmou: "a criança é pai do homem".)
Fase de latência (de 7 a 12 anos). Após as fases oral, anal e fálica, segue-se a de latência,
aproximadamente entre 7 e 12 anos. Esse período corresponde aos anos de escola de
primeiro grau, quando a criança estará voltada para a aquisição de habilidades, valores e
papéis culturalmente aceitos. Em relação á fálica, esta fase parece ser bem mais calma; e é
chamada de latência porque os impulsos são impedidos de se manifestar. Nesta fase
aparecem na criança barreiras mentais, impedindo as manifestações da libido, barreiras
essas que Freud identificou como repugnância, vergonha e moralidade. O impulso dirige-se
para finalidades culturais: domínio da leitura, da escrita e de muitas outras habilidades.
Nesta fase é nítida a separação entre meninos e meninas e a rivalidade entre os dois grupos.
Depois da puberdade (que ocorre aproximadamente dos 12 aos 14 anos para as meninas e
dos 14 aos 16 anos para os meninos), começa a fase adulta, que é conhecida como genital.
Fase genital (idade adulta). Segundo Freud, nesta fase, a libido, através da atividade sexual
normal, é descarregada em um ser humano do sexo oposto. É a fase dos interesses
heterossexuais.
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Os mecanismos de defesa
Importantes para nosso desenvolvimento emocional, uma vez que são ações que cuidam da
integridade do Ego quando não conseguimos lidar com situações que consideramos
ameaçadoras. Atuam num nível subconsciente ou inconsciente e são a solução que encontramos
ao nível da consciência para resolver as angústias. Os mecanismos de defesa mais importante
são:
Negação: O paciente não percebe o que acontece ou percebe e foge da realidade. Por
exemplo, ao receber um diagnósico de doença séria.
Racionalização: Aqui a inteligência é usada para avalizar a "desculpa" que encontramos para
lidar com a angústia.
Intelectualização: O paciente tudo sabe, leu tudo a respeito de suas neuras, sempre acompanha
uma novidade surgida sobre o assunto.
Projeção: Que coloca nos outros o cerne de seus conflitos (como os homofóbicos, que
possuem características homossexuais, as percebem, mas não as aceitam).
Sublimação: Desvio de ideias perturbadoras em direção a uma "via" aceitável para mascarar o
que causa a repressão.
Introjeção: Procedimento um tanto oposto à projeção, porque tudo que agrada é introjetado.
Isolamento: Interrupção de contato, e para usar uma definição técnica, "ruptura das conexões
associativas de um pensamento ou de uma ação".
Anulação: Ação que desfaz o dano que o paciente imagina que pode ser causado pelos seus
mais profundos desejos.
Idealização: Atribuir a uma pessoa qualidades nem sempre existentes que a tornariam um ser
especial.
Fantasia: Situação mental que substitui um desejo que não pode se satifeito no real.Exemplo
clássico a fantasia durante o ato sexual,usando outros parceiros imaginários.
Expiação: É um processo psíquico em que o paciente precisa "expiar o erro" e quer "pagar
pelo seu erro" imediatamente.
Resistência: Resistência ao trabalho terapêutico, onde o paciente não permite que venham à
tona angústias esquecidas.
Recalque: Aparente corte de sentimentos e desejos que continuam presentes na vida psíquica
do paciente.
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Agradeço ao Dr. David Rajz, psiquiatra radicado aqui no Rio e amigo de muitos anos, que
acompanhou a elaboração desse parágrafo e me ajudou a repassar o seu conteúdo.
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Vale lembrar que os mecanismos de defesa quando expostos ou percebidos devem ser
acolhidos como coadjuvantes do tratamento, não olhados de forma negativa. São eles que
"temperam" nossa sanidade. Sem um recalquezinho aqui, uma transferênciazinha ali, uma
racionalizaçãozinha acolá, seríamos todos e, em especial as crianças, irremediavelmente
neurotizados.
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Para os estímulos internos, a criança não tem escapatória, somente poderá operar uma tentativa
de resolução através do outro ser humano tutelar. È por isso que o objeto humano é constituído
pelo outro. O que define para esse objeto seu campo de alteridade e, portanto a alienação do
sujeito a respeito dele. Este objeto, no imaginário constitui-se como idealizado e no real, como
impossível. (Jerusalinsky, p. 22. 1988).
Freud constata, segundo Jerusalinsky (1989), que no homem existe algo que, não se trata da
pulsão, mas sim as fantasias originárias. Relacionando a relação entre fantasia e desejo. Segundo
Laplanche (1990) a fantasia nada mais é que a “... transcrição imaginária do desígnio primordial
de toda e qualquer pulsão, desígnio que implica de imediato um objeto específico, a investida
instintual é necessariamente sentida como uma fantasia que, seja qual for seu conteúdo”. Deste
modo podemos interpretar que tudo que é consciente no sujeito em algum momento foi
inconsciente, para Isaac (1990) somos frutos de nossas fantasias. Para cada operação mental
existe uma fantasia subjacente. O sujeito biológico está em ligado ao sujeito da fantasia. O bebê
irá experimentar através de sua relação de completude com sua mãe, a experiência da satisfação
original. Deste modo, na ausência dessa satisfação o bebê sob uma forma alucinada, buscará de
forma incessante seu objeto de desejo. Estaria então, neste ponto, o surgimento das fantasias
mais fundamentais? Segundo Issac:
As fantasias mais fundamentais seriam aquelas que tendem a reencontrar os objetos alucinatórios
vinculados às primeiras experiências do fluxo e da resolução do desejo... A fantasia encontraria
sua origem na satisfação alucinaria do desejo, reproduzindo o bebê sob a forma alucinada, na
ausência do objeto real, a experiência de satisfação original. (Isaac, p. 77,78. 1990).
Para Freud o papel da mãe é sedutor, quando ela se põe a cuidar de seu bebê ela: lava, coloca
fraldas e faz muitas carícias em sua criança, neste momento as zonas erógenas acabam por serem
privilegiadas, a pele, o ânus as genitais. Essas regiões biologicamente quando acariciadas
provocam prazer, assim serão pontos para atraírem o desejo do sujeito, e também a fantasia
materna. Segundo Laplanche (1990) essa seria uma modalidade da fantasia originária. Este acaba
por situar a origem da fantasia e sua ligação com o desejo.
Para a psicanálise a fantasia ocupa um lugar de grande importância dentro dos processos de
análise do sujeito, segundo Freud a fantasia é um fio condutor para a história do sujeito uma
porta para inconsciente. Para Freud2 a fantasia é definida em termos de estrutura de linguagem;
onde o papel do outro é central.
Há primeira vista pode parecer que para a psicanálise a análise de uma criança é um
complicador. Portanto, diante dos Sintomas Infantis qual a posição da psicanálise? Veremos que
os caminhos percorridos por Freud em sua primeira análise de uma criança no Caso do Pequeno
Hans3 a compreensão das fantasias são um fio condutor que funciona de maneira que conduz as
verdadeiras lembranças infantis. Para Freud (1987) as fantasias são descritas como fachadas
psíquicas, obstruindo o caminho para as lembranças infantis. Ainda Freud:
Os Sintomas Infantis a princípio podem parecer um grande enigma, mas com uma função muito
distinta endereço certo surge com um papel definido dentro do contexto familiar. Para Freud e
para Lacan o Sintoma nada mais é que uma forma de apelo ao pai. E a fantasia é uma leitura que
a criança faz da falta do Outro, nessa história o medo de não corresponder ao que o Outro
demanda dele, traz à ameaça de devoração4, e como recurso o apelo ao nome do pai. A criança
espera que o pai interfira nessa relação para que ela consiga “criar” uma identidade, mas o pai
falha e com isso ela fantasia uma saída. Ela então faz Sintoma. Deste modo, terá seu desejo
reconhecido e o reconhecimento do desejo. A criança vive a angústia do enigma do desejo do
Outro, o Sintoma é uma resposta pessoal a esse enigma. Ao elaborar o Sintoma ela se vê fora do
risco de ser devorada, acaba por elaborar uma explicação para a falta do Outro, somente deste
modo ela poderá se situar enquanto um sujeito de desejo, diferente do grande Outro, esse ficará
no campo da fantasia. Para que todo esse processo de transformação ocorra é preciso que o
terceiro se apresente e garanta o afastamento da mãe e para que o desejo dessa mãe possa ser
desviado do filho.
O esperado é que a função paterna venha a falhar assim, pois segundo Bernardino (p.59) na falha
paterna a organização sintomática virá em defesa de um mínimo de subjetividade, e ficará
oscilando entre fazer objeto imaginário de gozo do Outro e destituir-se deste lugar através dos
fracassos do Outro. Ainda em Jerusalinsky, citado por Bernardino (p.59) “O Sintoma é a
tentativa elementar, mas desesperada, de sustentar um mínimo de subjetividade diante do
imperativo do Outro”. No Sintoma a criança, segundo Bernardino (p.60), “coloca do dedo na
ferida, no ponto cego da posição de seus pais, principalmente da mãe face ao desejo”. A criança
na construção do Sintoma se apropria do discurso dos pais ou principalmente da mãe, e delata o
insuportável desta relação, mostrando qual o lugar da criança em sua “fantasmática5”.
Como poderia então o psicanalista intervir na construção do Sintoma da criança, se a criança é
portadora da questão do Outro? Seria possível desvincular essas questões da relação triangular
mãe_filho_pai entrar na singularidade em uma análise? Para Bernardino (p.61) é uma condição
de a infância ser dependente absoluto da fantasia do Outro, para que somente assim pode ter um
lugar para os seus significantes. Ele só irá se construir a partir destas referências. Na psicanálise
o papel do analista é através de uma neurose de transferência produzir uma neurose para o
analista, dando lugar a esse Sintoma. Nesse caminho a criança montará uma saída edípica mais
criativa, não podemos simplesmente arrancá-lo do sujeito o sintoma tem a função de
primeiramente diminuir a angústia do sujeito.