Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
ARTIGO ARTICLE
indicadores de saúde da criança em municípios
de grande porte da região Nordeste do Brasil
Abstract The present study carried out in the Resumo O objetivo deste estudo dentro dos Es-
context of the Baseline Studies of the PROESF tudos de Linha de Base do Proesf foi avaliar o im-
was aimed at evaluating the impact of the Family pacto do Programa Saúde da Família sobre indi-
Health Program (PSF) on indicators for child cadores relacionados à saúde da criança em mu-
health in cities with more than 100,000 inhabi- nicípios com mais de 100 mil habitantes. Foram
tants in the Brazilian Northeast. Four cities were pesquisados quatro municípios na região Nordes-
investigated. In each one, twenty censual sectors te, e em cada um deles foram sorteados 20 setores
were selected randomly from areas covered by the censitários em áreas cobertas pelo PSF e empare-
PSF and compared with twenty sectors selected lhados a outros 20 setores em áreas não cobertas
from areas not covered by the PSF on the basis of pelo PSF, a partir de critérios socioeconômicos. Os
socioeconomic criteria. In most cases, no signifi- resultados mostraram que, na maior parte dos in-
cant differences were found between the areas dicadores, não se observam diferenças significati-
covered and not covered by the PSF. The only dif- vas entre os resultados de áreas cobertas e não co-
ference found was a significantly lower rate of bertas pelo PSF, destacando-se apenas a redução
hospital admissions due to diarrhea but this was na taxa de internação por diarréia. Em relação a
on account of the Program of Community Health esta, a redução significativa se deu às expensas do
Agents. The PSF exerted no additional effect on Programa de Agentes Comunitários de Saúde, não
the reduction of this indicator. It was also ob- trazendo o PSF efeito adicional sobre a redução do
served that the way by which the program is im- indicador. Pôde-se observar, também, que o modo
plemented in each city interferes directly in the como o programa é implementado em cada muni-
results. Thus, there is no basis for considering the cípio influencia diretamente nos resultados, de
PSF per se ineffective or not differing from other modo que não há subsídios claros para decretar o
programs with regard to its health care patterns. PSF “per si” pouco resolutivo e sem diferencial em
An evaluation of the PSF would necessarily have seus padrões de assistência à saúde. Torna-se, por-
to include an analysis of the way the program is tanto, necessário levar em conta a análise do con-
implemented and conducted in each case, besides texto da implantação e condução do PSF, além de
1 Universidade Federal considering its general socioeconomical and polit- suas características mais gerais relativas ao campo
do Rio Grande do Norte. ical characteristics. socioeconômico e de políticas públicas.
Av. Sen. Salgado Filho Key words Primary health care, Family Health Palavras-chave Atenção básica, Programa Saú-
1787, Lagoa Nova,
59056-000, Natal RN. Program, Family Health Program’s evaluation, de da Família, Avaliação do Programa Saúde da
roncalli@terra.com.br Children’s health Família, Saúde da criança
714
Roncalli, A. G. & Lima, K. C.
Quadro 1
Descrição das variáveis utilizadas para a construção do indicador agregado.
Variável Natureza Descrição
Escolaridade Educacional Média de anos de estudo do chefe da família contados a partir do 1o ano
do ensino fundamental
Analfabetismo em adultos Educacional % de responsáveis por domicílios particulares permanentes não-alfabetizados
Analfabetismo infantil Educacional % de indivíduos de 5 anos analfabetos
Renda média Econômica Rendimento nominal mensal médio do setor (em reais) relativo aos chefes
de domicílios particulares permanentes
Desemprego Econômica % de responsáveis por domicílios particulares permanentes sem rendimento
Pobreza Econômica % de responsáveis por domicílios particulares permanentes com renda
até meio salário mínimo
Acesso à água tratada Sanitária % de domicílios com água fornecida por rede geral
Instalações sanitárias Sanitária % de domicílios sem banheiro
Lixo Sanitária % de domicílios com lixo coletado
716
Roncalli, A. G. & Lima, K. C.
Cada variável passou, portanto, a ter um va- fiável, uma vez que dados de renda apresentam
lor entre 0 e 1, tornando-se mais estável. A so- alto viés de informação, optou-se por utilizar a
ma de todos os valores das nove variáveis com- escolaridade da mãe como proxy de situação
pôs, então, o índice geral de condição socioe- socioeconômica em nível domiciliar.
conômica do setor. Considerando-se que algu-
mas variáveis apresentam melhores condições Tamanho da amostra
para maiores valores, e outras o contrário, to-
das foram ajustadas para que, ao final, o índice Para o cálculo do tamanho da amostra des-
representasse as melhores situações a partir dos te estudo, tomou-se como base a taxa de inter-
maiores valores. Desse modo, os valores das va- nação por Infecção Respiratória Aguda (IRA)
riáveis relativas ao analfabetismo, desemprego, em menores de 5 anos. Este indicador foi ado-
pobreza e instalações sanitárias foram inverti- tado para o cálculo do tamanho da amostra, em
dos. O índice geral de condição socioeconômi- virtude de o mesmo ser o mais discriminatório
ca possui, portanto, a seguinte expressão: da intervenção PSF, entre aqueles propostos
Índice Geral = Escolaridade + (1/(1-Anal- para avaliação do impacto.
fabetismo em adultos)) + (1/(1-Analfabetismo O tamanho da amostra para estudos de in-
infantil)) + Renda média + (1/(1-Desemprego)) tervenção é calculado a partir do efeito presu-
+ (1/(1-Pobreza)) + Acesso à água + (1/(1-Ins- mido da intervenção (em nosso caso, a implan-
talações sanitárias)) + Lixo tação do PSF) associado a determinados valo-
Com o Índice Geral obtido para cada um res de α (confiança) e 1-β (poder)9. Assumiu-
dos setores, o mesmo foi categorizado, a partir se que uma eventual diferença no citado indi-
da distribuição percentil, em quatro faixas: cador entre 2000 e 2004 pode, em parte, ser
Muito Baixo, Baixo, Médio e Alto. Uma vez es- creditada à intervenção. Para efeito de cálculo
tabelecida a classificação, este critério foi utili- da amostra, foram utilizados os indicadores re-
zado para o emparelhamento dos setores co- ferentes a 2000 e 2004 do estado a qual perten-
bertos e não cobertos (experimentais e contro- ce o município, para que a diferença percentual
les). Para cada setor sorteado do grupo experi- pudesse ser obtida. Esse percentual de redução
mental, foi escolhido um setor não coberto de foi, então, aplicado ao indicador para o ano
mesmo escore, que serviu de controle. Desse 2000 do município em estudo, para que fosse
modo, ficou garantido o controle dos vieses re- obtida a diferença padronizada.
lativos às variáveis socioeconômicas.
Instrumentos e estratégias
Variáveis de coleta de dados
A variável de interesse explanatória é a pre- Foi desenvolvida uma ficha a ser aplicada
sença do PSF na área. Entre as variáveis de res- pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS)
posta (dependentes) estão aquelas relativas à nos domicílios. Este questionário-entrevista foi
situação de saúde e que possuem a capacidade aplicado junto ao informante mais qualificado,
de serem fortemente influenciadas pela presen- sendo, portanto, um instrumento que agrega
ça do PSF. Estas variáveis estão descritas no informações relativas a todos os residentes no
quadro 2. domicílio.
As variáveis independentes de confusão es- Os ACS foram treinados em oficinas de tra-
tão relacionadas aos distintos níveis de análise, balho de 12 horas de duração (três turnos), as-
considerando que foram obtidas em nível da sociando a familiarização com os instrumentos
família (domicílio), do setor censitário e do a um treinamento em campo.
município. O quadro 3 ilustra a descrição das
variáveis que foram utilizadas na análise. Análise dos dados
Outras variáveis socioeconômicas relativas
ao nível domiciliar foram também investiga- O banco de dados da pesquisa foi construí-
das, entre elas a renda familiar mensal e a den- do na plataforma SPSS versão 10.0, com poste-
sidade domiciliar (número de pessoas por cô- rior verificação de consistência da digitação.
modo). Estas duas variáveis não foram incluí- Considerando o modelo teórico do estudo,
das no plano de análise pelo fato de apresenta- as variáveis independentes e os desfechos fo-
rem forte colinearidade com a escolaridade da ram devidamente trabalhados no sentido de
mãe. Considerando ser esta última mais con- comporem um modelo de análise estratificada.
717
Quadro 3
Descrição das variáveis independentes de confusão para o estudo de impacto.
Variáveis Descrição
Obtidas em nível da família
Escolaridade da mãe Anos de estudo da mãe, dicotomizados a partir da mediana, formando as categorias
“baixa” e “alta”.
Tempo de cobertura do programa Número de anos em que o programa (PACS ou PSF) atua na área em que se situa
o domicílio. Posteriormente categorizado a partir da mediana em “baixo” e “alto”,
considerando cada programa especificamente (PACS e PSF).
Neste sentido, os efeitos da intervenção, ajusta- de 95% dos casos. Essas perdas também ocor-
dos para todas as variáveis de confusão, foram reram de modo uniforme entre as distintas
observados nos principais desfechos a partir do áreas. Com relação à amostra de interesse, a par-
cálculo da razão de prevalência ajustada para tir da qual foi calculado o tamanho, foram en-
cada estrato e seus respectivos intervalos de contradas 2.144 crianças menores de 5 anos.
confiança. Considerou-se como nível de signi- Este total correspondeu a 8,9% dos indivíduos
ficância para este estudo o limite de α=0,05. pesquisados, um percentual um pouco abaixo
do esperado (11,41%). Também corresponde a
52,2% da amostra exigida de 4.104 indivíduos,
Resultados e discussão situando-se abaixo da margem mínima de 80%
(uma vez que foi estimada uma perda de 20%).
Os dados, originalmente obtidos por domicí- Importante destacar que o agravo escolhi-
lio, foram transformados em dados por indiví- do como base para o cálculo da amostra pos-
duo, totalizando 24.695 pessoas. sui, entre os vários indicadores, uma prevalên-
A taxa de perda por recusa foi baixa, tendo cia situada entre as mais altas, de modo que o
os dados sido coletados com sucesso em cerca tamanho amostral obtido para este indicador
718
Roncalli, A. G. & Lima, K. C.
não necessariamente cumpre a mesma tarefa programa), e assim o fato de estar coberto ou
de significância para outros indicadores de me- não pelo PSF, PACS ou ambos se apresentar
nor prevalência. O tamanho da amostra calcu- “contaminado” pela condição socioeconômica
lado considerou tanto a relevância do indica- das famílias.
dor, como sendo representativo das ações de saú- Sendo assim, realizou-se uma análise estra-
de em nível de PSF, quanto a factibilidade do tificada, tomando-se como base a cobertura do
estudo. programa para famílias cujas mães tiveram bai-
xa e alta escolaridade, assim como no todo. Os
Cobertura de vacinação para DPT dados podem ser observados na tabela 1.
em crianças menores de 1 ano A despeito de a condição socioeconômica ter
influenciado na proporção de crianças menores
Das variáveis independentes analisadas, de um ano sem cobertura vacinal, esta influên-
apenas a classificação socioeconômica, avaliada cia não foi verificada sobre a variável cobertura
a partir da escolaridade da mãe, apresentou as- do programa (Tabela 1). Logo, independen-
sociação com a proporção de crianças menores temente da condição socioeconômica, nenhum
de um ano sem cobertura vacinal para DPT, dos programas – PACS, PSF e ambos associa-
embora tal associação tenha se situado no li- dos – exerceu impacto sobre a cobertura vaci-
miar da significância estatística. Nesse sentido, nal para DPT em crianças menores de um ano.
famílias cujas mães tinham baixa escolaridade Provavelmente, por ser a cobertura vacinal
apresentaram uma maior proporção de crian- para DPT um atributo dos programas de imu-
ças menores de um ano sem cobertura vacinal nização em nível nacional e, portanto, adota-
para DPT, na ordem de 1,7 vez. Portanto, essa dos de modo semelhante em áreas sem cober-
variável pode ter influenciado o efeito da variá- tura de PACS e PSF, estes não tenham tido im-
vel independente de interesse (cobertura do pacto, além do que já é habitual em áreas co-
Tabela 1
Comparação da proporção de crianças menores de um ano sem cobertura vacinal para DPT entre
as categorias das variáveis independentes de interesse estratificadas por condição socioeconômica.
Variável independente Crianças menores de um ano sem cobertura vacinal para DPT
Proporção RP IC (95%) p
Condição socioeconômica
desfavorável
Tipo de cobertura
Sem cobertura 8,9% (4/45) 1
Cobertura PACS 13,1% (8/61) 0,72 0,23-2,25 0,758
Cobertura PSF 12,2% (28/230) 0,73 0,23-2,11 0,708
Cobertura PACS e PSF 12,4% (36/291) 0,72 0,27-1,92 0,672
Condição socioeconômica
favorável
Tipo de cobertura
Sem cobertura 8,0% (4/50) 1
Cobertura PACS 10,4% (8/77) 0,77 0,24-2,42 0,763
Cobertura PSF 6,2% (12/193) 1,29 0,43-3,82 0,894
Cobertura PACS e PSF 7,4% (20/270) 1,08 0,39-3,03 0,883
Total
Tipo de cobertura
Sem cobertura 8,4% (8/95) 1
Cobertura PACS 11,6% (16/138) 0,75 0,33-1,67 0,619
Cobertura PSF 9,5% (40/423) 0,93 0,45-1,92 0,906
Cobertura PACS e PSF 10,0% (56/561) 0,86 0,42-1,75 0,774
Legenda: DPT = Difteria, Coqueluche, Tétano; RP = Razão de Prevalência; IC = Intervalo de Confiança;
PACS = Programa Agentes Comunitários de Saúde; PSF = Programa Saúde da Família.
719
Tabela 2
Comparação da proporção de óbitos em crianças menores de um ano entre as categorias das variáveis
independentes de interesse.
Variável independente Óbitos em crianças menores de um ano
Proporção RP IC (95%) p
Tipo de cobertura
Sem cobertura 6,1% (6/99) 1
Cobertura PACS 6,8% (13/191) 0,89 0,35-2,27 1,000
Cobertura PSF 4,6% (27/582) 1,31 0,55-3,08 0,722
Cobertura PACS e PSF 5,2% (40/773) 1,17 0,51-2,69 0,895
Legenda: RP = Razão de Prevalência; IC = Intervalo de Confiança; PACS = Programa Agentes Comunitários de Saúde;
PSF = Programa Saúde da Família.
Uma das justificativas para as possíveis di- xa, nem com alta escolaridade, isoladamente
ferenças entre os estudos, além das já discuti- ou associado ao PACS.
das para a cobertura vacinal para DPT, foi que No entanto, destaca-se que em áreas cober-
a proporção de óbitos em todas as situações tas unicamente pelo PACS, a taxa de interna-
deste estudo foi baixa, necessitando de uma ção por IRA foi significativamente menor que
amostra significativamente maior para que pu- em áreas sem cobertura por programa algum, e
déssemos verificar qualquer efeito dos progra- que este efeito foi perdido quando se incorpo-
mas em questão. rou o PSF para realização da análise. Tal efeito,
Quando se considera o “efeito município”, como visto na tabela 3, foi influenciado pela
observa-se que este indicador é também in- condição socioeconômica das famílias, sendo
fluenciado pelo modo como o modelo é im- significativo apenas naquelas famílias com con-
plantado. Municípios classificados como “des- dição socioeconômica favorável. Nestas, a taxa
favorável” em relação a este indicador apresen- de internação por IRA foi de 13,3%, em detri-
tam taxas significativamente maiores que os mento de 22,9% de áreas não cobertas. Nesse
classificados favoravelmente (p=0,040), deno- sentido, crianças menores de 5 anos de famílias
tando que as características de implantação po- com condição socioeconômica favorável, resi-
dem influenciar no impacto sobre indicadores. dentes em áreas não cobertas pelo PACS, têm
chance 1,9 vez maior de serem internadas por
Taxa de internação por IRA em crianças IRA.
menores de 5 anos É importante considerar que a taxa de in-
ternação por IRA reflete uma falta de atenção
Do mesmo modo que para a cobertura va- preventiva e curativa aos pacientes com tal agra-
cinal para DPT, a única variável que apresentou vo e, conseqüentemente, um estrangulamento
associação com a taxa de internação de crian- da atenção básica, que deixa a desejar em rela-
ças menores de 5 anos por IRA foi a condição ção à sua resolutividade. Sendo assim, os pa-
socioeconômica da família a que tal criança cientes acabam nos hospitais para que a infec-
pertence. Famílias cujas mães possuíam baixa ção seja debelada.
escolaridade apresentaram significativamente Este fato pode ser ilustrado no estudo de
uma maior taxa de internação por IRA. Tais Cruz10 no estado de São Paulo, que concluiu
crianças apresentaram uma chance 1,3 vez maior que a implantação do PSF nos municípios ana-
de terem sido internadas por IRA do que crian- lisados não contribuiu para a queda nas taxas
ças cujas mães apresentaram escolaridade alta. de hospitalização, do mesmo modo que neste
Sendo assim, a possível influência dessa va- estudo em relação especificamente à IRA. Ao
riável no efeito da cobertura do programa em contrário, o estudo de Silva11, em Sobral (CE),
relação à taxa de internação por IRA encontra- afirma que a partir de 2001 não houve nenhum
se expressa na tabela 3. registro de óbito por infecção respiratória agu-
De acordo com a tabela 3, pode-se observar da, fato este creditado à organização da aten-
que o PSF não exerceu impacto sobre a taxa de ção à saúde, em especial ao Programa Saúde da
internação por IRA nem em famílias com bai- Família.
721
Condição socioeconômica
favorável
Tipo de cobertura
Sem cobertura 22,9% (27/118) 1
Cobertura PACS 13,3% (33/248) 1,72 1,09-2,72 0,031
Cobertura PSF 17,9% (115/642) 1,28 0,88-1,85 0,253
Cobertura PACS e PSF 16,6% (148/890) 1,38 0,96-1,98 0,120
Total
Tipo de cobertura
Sem cobertura 22,7% (49/216) 1
Cobertura PACS 15,8% (76/481) 1,44 1,05-2,00 0,037
Cobertura PSF 19,5% (273/1.397) 1,17 0,90-1,54 0,325
Cobertura PACS e PSF 18,6% (349/1.878) 1,24 0,95-1,61 0,173
Legenda: RP = Razão de Prevalência; IC = Intervalo de Confiança; PACS = Programa Agentes Comunitários de Saúde;
PSF = Programa Saúde da Família.
A influência do modelo de implantação tam- tas por nenhum programa. Nestas, as crianças
bém esteve presente neste indicador, uma vez menores de 5 anos teriam quase duas vezes mais
que as taxas de internação por IRA em meno- chances de serem internadas por diarréia do que
res de 5 anos são significativamente maiores aquelas residentes nas demais áreas não cober-
em municípios classificados como “desfavorá- tas. Para esse indicador, ambos os programas
vel” (p=0,001). exerceram impacto sobre este agravo; entretan-
to não há diferenças no impacto entre eles.
Taxa de internação por diarréia A taxa de internação por diarréia é um in-
em crianças menores de 5 anos dicador sensível a qualquer ação preventiva e
curativa básica. Diarréia é um agravo de fácil
Nenhuma das variáveis de confusão testa- diagnóstico e muitas vezes resolvido em nível
das apresentou associação significativa com o domiciliar, quer seja por cuidados próprios das
desfecho taxa de internação por diarréia em famílias ou, mais especificamente, de assistên-
crianças menores de 5 anos. Sendo assim, qual- cia curativa básica em nível de família ou de
quer efeito observado neste indicador seria de- unidade de saúde. O acompanhamento das fa-
vido à cobertura ou não do PSF isoladamente, mílias através de visitas domiciliares pelos ACS
em conjunto com o PACS, ou mesmo só do parece ser suficiente para que se evite uma in-
PACS. Tal efeito pode ser observado na tabela 4. ternação por esse agravo. Sendo assim, em áreas
De acordo com os dados apresentados, a ta- cobertas por ACS, e onde os mesmos sejam
xa de internação por diarréia em crianças me- atuantes, imagina-se que haja um efetivo im-
nores de 5 anos foi significativamente menor pacto sobre sua taxa de internação, o que foi ob-
nos municípios estudados em áreas com cober- servado nesse estudo em relação aos dois pro-
tura de algum programa, situando-se em 11,0%, gramas, PACS e PSF. Não foram observadas di-
em detrimento aos 19,4% em áreas não cober- ferenças significativas quando foram compara-
722
Roncalli, A. G. & Lima, K. C.
dos os grupos de municípios com condição fa- que a maior parcela de responsabilidade para a
vorável e desfavorável com relação ao indica- prevenção do nascimento de crianças de baixo
dor (p=0,505). peso se deve a um pré-natal bem conduzido.
Conforme outros resultados obtidos por esta
Baixo peso ao nascer pesquisa, a cobertura pelo PSF não exerceu im-
pacto sobre o aumento de cobertura do pré-
Nenhuma das variáveis confundidoras ana- natal nos municípios analisados em conjunto.
lisadas apresentou associação significativa com Logo, não seria surpresa que o PSF também
a prevalência de nascimentos de crianças com não tenha exercido impacto sobre a proporção
baixo peso. Nesse sentido, o efeito líquido da de nascimentos de crianças com baixo peso.
cobertura do programa pode ser visto e anali- Tais dados se contrapõem aos estudos até
sado na tabela 5. então publicados sobre a influência da implan-
Nenhum efeito significativo pôde ser obser- tação do PSF no pré-natal e, conseqüentemen-
vado em relação a esse agravo em áreas cober- te, na proporção de nascimento de crianças de
tas pelo PSF isoladamente, nem associado ao baixo peso. Em geral, os estudos avaliam como
PACS, quando comparadas a áreas não cober- de impacto positivo a implantação do PSF so-
tas por nenhum programa. Há que se ressaltar bre o número de consultas 11, 12 e a qualidade
que o PACS isoladamente também não exerceu do pré-natal13, 14.
impacto sobre esse agravo, provavelmente pela Tendo como base o efeito do município nes-
baixa prevalência de crianças de baixo peso te indicador, observou-se uma ausência de sig-
mesmo entre aquelas nascidas em áreas desco- nificância estatística na diferença entre as pro-
bertas, denotando a universalização dos pro- porções observadas nos municípios classifica-
gramas de pré-natal desenvolvidos nessas áreas dos como “favorável” e “desfavorável” (p=0,342).
nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), uma vez
Tabela 4
Comparação da taxa de internação por diarréia em menores de 5 anos entre as categorias das variáveis
independentes de interesse.
Variável independente Internação por diarréia em menores de 5 anos
Proporção RP IC (95%) p
Tipo de cobertura
Sem cobertura 19,4% (42/216) 1
Cobertura PACS 11,0% (53/481) 1,76 1,22-2,56 0,004
Cobertura PSF 11,0% (154/1.400) 1,77 1,30-2,41 0,001
Cobertura PACS e PSF 11,0% (207/1.881) 1,77 1,31-2,39 <0,001
Legenda: RP = Razão de Prevalência; IC = Intervalo de Confiança; PACS = Programa Agentes Comunitários de Saúde;
PSF = Programa Saúde da Família.
Tabela 5
Comparação da proporção de nascimentos com baixo peso entre as categorias das variáveis
independentes de interesse.
Variável independente Nascimentos com baixo peso
Proporção OR IC (95%) p
Tipo de cobertura
Sem cobertura 12,1% (12/99) 1
Cobertura PACS 11,1% (21/190) 1,10 0,56-2,14 0,939
Cobertura PSF 10,0% (58/579) 1,21 0,67-2,17 0,648
Cobertura PACS e PSF 10,3% (79/769) 1,18 0,67-2,09 0,696
Legenda: RP = Razão de Prevalência; IC = Intervalo de Confiança; PACS = Programa Agentes Comunitários de Saúde;
PSF = Programa Saúde da Família.
723
Colaboradores
Referências
1. Brasil. Ministério da Saúde. Saúde da Família [acessa- 9. Altman DG. Practical statistics for medical research.
do 2005 Sep 12]. Disponível em: http:// www.saude. New York: Chapman & Hall, CRC; 1990.
gov.br/psf 10. Cruz MGB. PSF – Programa de Saúde da Família:
2. Draibe SM. Avaliação de implementação: esboço de comparando a mortalidade infantil, cobertura vaci-
uma metodologia de trabalho em políticas públicas. nal e hospitalizações, entre municípios com e sem o
In: Barreira MCR, Carvalho MCB, organizadores. programa no Estado de São Paulo [dissertação]. São
Tendências e perspectivas na avaliação de políticas e Paulo (SP): Faculdade de Saúde Pública da USP;
programas sociais. São Paulo: IEE/PUC; 2004. p. 15-42. 2002.
3. Senna MCM. Eqüidade e política de saúde: algumas 11. Silva AC. O impacto do Programa de Saúde da Fa-
reflexões sobre o Programa Saúde da Família. Cad mília no município de Sobral-Ceará: uma análise da
Saúde Pública 2002; 18(1):203-11. evolução de saúde das crianças menores de cinco
4. Silva Jr. AG. Modelos tecnoassistenciais em saúde: o anos de idade no período de 1995-2002 [tese]. São
debate no campo da saúde coletiva. São Paulo: Huci- Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade de
tec; 1998. São Paulo; 2003.
5. Merhy E, Franco TB. Programa Saúde da Família: so- 12. Moura ERF, Holanda Jr. F, Rodrigues MSP. Avaliação
mos contra ou a favor? Saúde em Debate 2002; 26: da assistência pré-natal oferecida em uma microrre-
118-22. gião de saúde do Ceará, Brasil. Cad Saúde Pública
6. Silva Jr. AG, Mascarenhas MTM. Avaliação da aten- 2003; 19(6):1791-9.
ção básica em saúde sob a ótica da integralidade: as- 13. Marquetti JL. Mortalidade infantil X Programa de
pectos conceituais e metodológicos. In: Alves DS, Saúde da Família, no município de Curitiba [mono-
Guljor AG. Cuidado: as fronteiras da integralidade. grafia]. Curitiba: Universidade Federal do Paraná;
São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Abrasco; 2004. p. 1999.
241-55. 14. Moura ERF, Rodrigues MSP, Silva RM. Programa
7. Baker J. Avaliando o impacto de projetos em desen- Saúde da Família: impacto na assistência pré-natal.
volvimento voltados à pobreza. In: Barreira MCR, Rev Chil Salud Publica 2003; 7(1):25-32.
Carvalho MCB, organizadores. Tendências e perspec-
tivas na avaliação de políticas e programas sociais.
São Paulo: IEE-PUC; 2001. p. 59-76. Artigo apresentado em 27/02/2006
8. Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Ges- Aprovado em 31/03/2006
tão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Versão final apresentada em 17/04/2006
Base de dados por setor censitário [CD-ROM]. Rio
de Janeiro: IBGE; 2005.