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O fa(r)do da Vaca Leiteira

- Questões Éticas sobre a Bovinicultura Intensiva -


Manuel Magalhães-Sant’Ana
Médico Veterinário, Docente Universitário, EUVG, Coimbra (mdsantana@euvg.net)

INTRODUÇÃO:
A visão que o público em geral possui de uma vaca
leiteira pode ser enganadora. Ela não se encontra a
pastar em prados verdejantes ao mesmo tempo que o
vitelo a persegue despreocupado. A imagem anexa não
corresponde de certo a essa visão, mas é o verdadeiro
retrato da bovinicultura no nosso país. O bovino de
leite “moderno” é uma fábrica biológica de elevada
eficiência e produtividade, capaz de produzir mais de
50 (!) litros de leite diários. O preço a pagar pela vaca
para alcançar este desiderato é, no entanto, elevado.
Cabe aos profissionais de saúde animal o papel de pro-
mover práticas mais sustentáveis para o animal e para
o ambiente.
Vaca Holstein-Frísia mal estabulada e com má condição
OS FACTOS: corporal (fotografia do autor).

1) Para dar leite, uma vaca tem de estar prenha. 4) A tecnologia genética e reprodutiva é, provavel-
Mas para dar leite todos os anos, ela tem de ser mente, mais avançada nas espécies bovinas do que
inseminada anualmente. Esta é a regra do mercado e em qualquer outra espécie animal, o homem incluído.
não o ritmo biológico do animal. E se há 15 anos a Durante décadas temos vindo a seleccionar
média de vida produtiva de uma vaca leiteira era de 6 características consideradas valiosas (como úberes
anos, ela hoje é inferior a três, o que significa que maiores, capazes de produzir mais leite) em
uma vaca só é economicamente rentável durante dois detrimento de outras não quantificáveis (como a
anos, sofrendo um refugo cada vez mais precoce. imunidade). Com o advento da inseminação artificial,
milhões de bovinos do mundo inteiro tornaram-se
2) Durante o seu curto ciclo de vida, a vaca leiteira é filhos, irmãos e primos uns dos outros e, quase sem
sujeita a um stress produtivo que ultrapassa em nos apercebermos, provocámos uma endogamia à
muito a sua capacidade física. Esta sobrecarga pode escala planetária.
ter consequências devastadoras e são diversos os
problemas associados ao mau maneio: patologias 5) De início, na euforia do mecanicismo da vaca
podais, doenças metabólicas, problemas anatómicos, leiteira, as consequências da supremacia da dinastia
patologias obstétricas e reprodutivas, para só falar Holstein e da extinção de raças autóctones pareciam
dos principais. A incidência de todas estas patologias um pormenor despiciendo. Mas hoje sabemos que
pode ser diminuída se se respeitar a fisiologia natural muitas das patologias atrás referidas podiam ter sido
da vaca, mas para isso é necessária uma mudança de evitadas se recorrêssemos ao valor inestimável do
mentalidade nos produtores do sector leiteiro: menor património genético das raças vernáculas, adaptadas
pressão produtiva com diminuição da sobrecarga durante milhares de anos a um ambiente particular,
energética para mais anos produtivos por vaca. com maior resistências imunitárias e estratégias mais
equilibradas de sobrevivência.
3) A competitividade crescente no mundo da
produção animal levou a que o campeonato do leite CONCLUSÃO:
seja uma competição mono-marca: para um leigo, Esta reflexão serve para cunhar argumentos que
uma vaca leiteira é branca com manchas pretas; isto permitam colocar em questão comportamentos
porque a raça de origem holandesa Holstein-Frisia é adquiridos. Ao Médico Veterinário cabe a obrigação de
uma das que apresenta melhor performance leiteira, actuar no melhor interesse dos animais e desse modo
relegando outras vacas para nichos de mercado contribuir para uma mais racional utilização dos
marginais e levando raças autóctones ao limiar da recursos, que se vão reflectir na obtenção de um
extinção. melhor produto final.

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