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Uma guerra pelas mulheres afegãs ?

Christine Delphy
tradução: tania navarro swain
Resumo:
Christine Delphy discute, neste artigo, as motivações que levaram
os Estados Unidos a declarar a guerra ao Afganistão e analisa as
alegações que a justificavam, entre as quais a liberação das
mulheres do jugo dos talibãs. A autora mostra que, ao contrário,
os Estados Unidos aliaram-se aos precursores da opressão
das mulheres afegãs .

Palavras-chave : mulheres, guerra, norte-americanos, afegãs.


Desde a tomada de Kabul, tem-se a impressão de que a coalizão
contra o terrorismo declarou guerra ao Afeganistão para liberar as
mulheres afegãs. G. W. Bush declarou, em seu discurso, no dia 29
de janeiro de 2002: “A bandeira americana flutua novamente sobre
nossa embaixada em Kabul [...] Hoje, as mulheres estão livres.”
Porém, Se lembrarmos bem a sucessão dos acontecimentos, esta é
a quarta mudança (americana) de objetivo desde o início da guerra.
Esta foi declarada por Bush, no dia 11 de setembro de 2001, contra
ninguém em particular e contra o mundo em geral. Ainda que
realidade, era esta uma inovação grande demais, para ser mantida
perante a imprensa e o público. Já no dia seguinte, porém, um
inimigo preciso foi escolhido: Ben Laden, que deveria ser
imediatamente entregue pelos talibãs. Entregue a eles, aos
americanos. Diante da resposta dos talibãs, clássica nos casos de
extradição, pedindo provas da culpabilidade de Ben Laden, os EUA
repetem seu ultimatum. Quinze dias mais tarde, os norte-
americanos rejeitam uma nova proposta dos talibãs de entregar Ben
Laden a um país neutro, e consideram isto como uma oferta de
“negociações” e só -deus- sabe como os EUA negociam ! [1]
" Um sorriso de Kabul”

Rumsfield, secretário de defesa, declara então que Ben Laden não


seria, talvez, jamais encontrado; um outro objetivo surge assim: a
partir deste momento, é o regime Talibã o inimigo. Argumentos
contra este regime não faltam. E diria mais: há seis anos que
existem e neste lapso de tempo não justificaram uma guerra. De
súbito, porém, tornam-se suficientes para tal. Além de serem
odiosos, os talibãs abrigaram Ben Laden, suspeito de ser o autor
dos atentados do 11 de setembro.
Depois de um mês de bombardeios, as tropas da Aliança entram
em Kabul e os ocidentais gritam “ vitória” , com o sentimento do
dever cumprido: tarefa cumprida e a baixos custos. Os jornais
publicam fotos dos sorrisos das mulheres – não, perdão, do sorriso
de uma mulher- e a guerra encontra sua quarta razão: a liberação
das mulheres. Quarta, mas talvez não a última. Para isto, teria que
ser realmente a melhor.
Ora, não é ainda o caso, pois aqueles que os “Aliados contra o
terrorismo”[2] trouxeram ao poder não são melhores que os talibãs.
Não se pode mais esconder a verdade sobre a Aliança do Norte.
Tendo em vista o número de repórteres presentes no local, não se
pode ocultar por mais tempo a desconfiança dos cidadãos de Kabul
e de Jalalabad (Claude, 2001) em relação a ela; uma desconfiança
fundada em sua experiência: entre 1992 e 1996, as tropas da
Aliança do Norte (ou Frente Unida) realizaram massacres e
chacinas gratuitas de prisioneiros e de feridos, aterrorizaram e
espoliaram os civis. Não se pode encobrir que o ocorrido naquele
momento estava se reproduzindo, de forma quase idêntica, em um
Afeganistão novamente recortado em feudos cujos os chefes de
guerra estão sempre de prontidão para declarar guerras civis e
múltiplas, que devastaram o país entre a partida dos soviéticos e a
chegada dos talibãs.
Talibãs e Mudjahidins: eles por eles

Porém, a libertação das mulheres não é ainda a melhor razão


para justificar a guerra, pois os EUA não são amigos das
mulheres afegãs. Os direitos das mulheres nunca foram sua
preocupação, nem no Afeganistão, nem no Kuwait, na Arábia
Saudita ou alhures. Pode-se mesmo dizer o contrário: os EUA
sacrificaram, voluntária e conscientemente, as mulheres afegãs
à seus interesses. Em que época aparecem os mudjahidins,
cujo agrupamento pontual foi chamado de Aliança do Norte?
Mesmo antes que o exército soviético invadisse o país, em 1979,
para trocar um presidente marxista (Hafizullah Amin) por outro
(Babrak Karmal), os chefes de tribos e as autoridades religiosas
declararam guerra santa contra a liderança marxista de Nur
Mohammed Taraki (Rashid, 2001:12/13).
Fato anterior à luta contra a invasão estrangeira, desde 1978, os
Kãs e os Mulás tomam as armas contra um governo que obriga
as meninas a irem à escola, interdita o levirato[3] e a venda das
mulheres. Eis o que os choca, escandaliza, repugna. Os direitos
das mulheres: eles valem uma guerra a seus olhos, valem uma
luta, sim, contra eles. Tornam-se então mudjahidins: combatentes
de Deus, contra o marxismo ímpio. A invasão soviética propicia
uma dimensão patriótica a este combate. Os EUA auxiliam os
mudjahidins, pois os inimigos de seus inimigos são seus amigos.
Que importa o que façam, o que queiram? Os EUA sabem que o
desejo deles é retomar o domínio sobre as mulheres. Mas opõem-
se à Moscou e isto é tudo o que conta para os americanos. É isto
também, infelizmente, o que contará aos olhos de nossos
romanescos pioneiros franceses, os “Doutores franceses”[4]; anti-
soviético, para eles, seria sinônimo de “pela liberdade”. Mas,
liberdade de quem? Esta questão não se coloca: consideram que
os trajes são atraentes e a aventura excitante. Fazer o bem em
paisagens magníficas, contribuindo ao mesmo tempo na luta contra
o totalitarismo, o que motivaria mais um jovem ocidental desta
época? Quanto aos direitos das mulheres? Bem, trata-se de
costumes, e os costumes são sagrados, sobretudo quando não
temos que sofre-los pessoalmente.[5]
Mídias inocentam os mercenários da Coalizão ocidental
Em 1988, o exército soviético abandona o Afeganistão. Os
mudjahidins agora tem como único inimigo o governo de Najibullah,
o último primeiro-ministro marxista. Combatem em nome do Islã,
por um estado islâmico e pela aplicação da Charia – de onde
vem seu nome. Em Pashto, Urdu (e em todas as outras línguas
locais) são denominados “Jihadi”, o que é claramente derivado de
Jihad[6] (ou Djihad). Nunca esconderam ser fundamentalistas.
Os franceses, desde a guerra contra os soviéticos, fingiam,
entretanto, crer que este nome significava “combatente da
liberdade”. A desinformação grassa ainda mais na televisão
francesa, desde “os acontecimentos”. Em setembro de 2001, é
difundido um filme hagiográfico, “Massoud, o afegão”, e um
documentário feito por mulheres afegãs não nomeadas, que
filmaram com uma câmera escondida as execuções perpetradas
pelos talibãs , no estádio de Kabul. Depois da tomada desta cidade,
algumas informações sobre a conduta das tropas “aliadas”,
começaram a surgir. É evidente, porém, que os mídias franceses
realizaram uma auto-censura e interditaram ao público informações
objetivas e equilibradas. Dispunham de informações, pois mesmo
que seu conhecimento sobre a região fosse lamentável, insuficiente
ou reduzido – nenhum jornal francês tinha correspondente
permanente no Paquistão – as agências de notícias, a imprensa, a
televisão estrangeira e os sites da Internet estavam à sua
disposição.
Deliberadamente, omitiram estas informações e recusaram os
artigos que lhes foram enviados. Será preciso esperar até o dia 23
de janeiro de 2002 para que o filme sobre as execuções no estádio
de Kabul seja difundido em sua totalidade (em ARTE) em
“ Saídas das trevas?”, feito por Saira Shah; soube-se, então,
que suas autoras eram mulheres da RAWA (Associação
Revolucionária das Mulheres Afegãs)[7]; somente à partir
desse momento, um outro documentário aparece mostrando a
vida das mulheres, “Mulheres de Cabul”, feito por Antonia
Rados, igualmente realizado graças à RAWA, , depois da
pretensa “liberação” e permite , enfim, que as afegãs
expliquem o que os jornalistas ocultaram durante quatro
meses: que a repressão das mulheres começou com os
mudjahidins e não com os talibãs.

Recentemente, “Télérama”[8] rompeu com o discurso “politicamente


correto” a ponto de entrevistar um músico afegão que dizia:
“Quando os comunistas chegaram ao poder em 1979, as
possibilidades de concertos multiplicaram-se e cheguei até a fazer
demonstrações em classes de música nas escolas para meninas...
As dificuldades começaram quando os mudjahidins chegaram em
1992”. (Khushnawaz, 2002: 50)
A retenção de informações pode parecer anódina; entretanto, é um
dos dispositivos mais aguçados para a formação da opinião. Por um
lado, as potências ocidentais não podiam admitir que se aliavam a
tropas assim tão duvidosas, pois os mudjahidins eram aliados da
Coalizão ocidental: “idealizamos estes guerrilheiros... a ponto de
esquecer seu passado” ( Fisk, 2001:14.11.01). Por outro ,
entretanto, para justificar a guerra aos olhos da opinião pública, era
preciso prometer que se visava uma “ melhoria” no destino dos
afegão/ãs e não somente a vingança americana ou a consolidação
do poder ocidental. Ora, a opinião pública não teria acreditado
nestas promessas se houvesse conhecido a atuação anterior da
sobre a Aliança do Norte. Era preciso opor, pela ação – as mentiras
desavergonhadas pronunciadas pelos propagandistas habituais,
tais como Bernard-Henri Lévy – mas, sobretudo, pela omissão, os
“maus” talibãs aos “bons” mudjahidins, ao menos enquanto estes
ainda não haviam vencido.

Taliban executando uma mulher

Razões da tomada do poder pelos talibãs em 1996


As mídias colocaram, assim, “um véu sobre o passado glorioso” e
bem conhecido dos Mudjahidins: com a partida dos soviéticos em
1989, os pontos comuns entre eles não foram suficientes para calar
suas rivalidades. A cupidez e o apetite de poder de todos estes
chefes de guerra leva-os a batalhar uns contra os outros, criando e
desfazendo alianças, sem cessar . No fim de quatro anos, em 1992,
tomam Kabul e depõem Najibullah; mas a guerra civil e, sobretudo,
a guerra contra os civis não termina aí. Os soldados da Aliança do
Norte pilham as casas e violentam as mulheres. Os chefes locais
roubam os caminhões a cada 50 km, os transportes são
impossíveis, a corrupção e a desordem impedem a aplicação da
Charia.
Alguns dos mudjahidins e principalmente os mais jovens, que
levaram os ideais islâmicos muito a sério, estão desgostosos.
Partem para estudar no Paquistão. Os talibãs são estudantes, os
filhos espirituais e, algumas vezes, naturais dos mudjahidins. Tão
anticomunistas quanto seus pais, porém mais disciplinados, mais
sérios e ainda mais fundamentalistas: enfim, bons candidatos à
ajuda dos EUA, que derramam dólares às madrasas (escolas
corânicas) paquistanesas pelo intermédio da Arábia Saudita. E, em
um ano, os talibãs, formidavelmente armados, conquistaram uma
grande parte do país, entrando em Kabul. Quando os mudjahidins
fogem em 1996, deixam 50.000 mortos somente em Kabul e a
cidade em ruínas. O que seis anos de guerra anti-soviética não
haviam conseguido fazer, quatro anos de luta entre facções
realizaram.
E as mulheres, nesta história?
Os EUA teriam, então, sempre lutado pelos direitos das
mulheres? Não. Teriam em algum momento lutado pelos
direitos das mulheres? Não. Teriam, ao contrário, espezinhado
os direitos das mulheres? Sim. Pois estes direitos foram
promovidos e defendidos no Afeganistão entre 1978 e 1992: mas
pelos governos marxistas ou pró-soviéticos. Desta época, de Amim,
Karmak, Taraki e Najibullah, vêm estatísticas surpreendentes
sobre o grande número de mulheres advogadas, médicas,
professoras. E infelizmente para as mulheres do Afeganistão: já que
eram protegidas pelos governos aliados a um inimigo dos EUA, foi
preciso sacrifica-las. Não se pode deixar os direitos das
pessoas, sobretudo quando se trata de mulheres, interferir na
caminhada para a hegemonia mundial. Os direitos das
mulheres são como as crianças iraquianas: sua morte é o
preço do poderio americano e este é pago de bom grado, pois
finalmente não são os americanos a pagá-lo
Os pais dos talibãs, os mudjahidins, armados desta vez pelos
russos, que haviam expulsado 12 anos antes, voltaram à sombra
das bombas americanas; sem grandes mudanças, se julgarmos
pela sua maneira de guerrear (Fisk, 2001:14.11.01)[9]. Por que
modificariam sua maneira de tratar as mulheres, por que se
tornariam de súbito feministas? Estes homens que antes de lutar
contra os soviéticos,lutavam entre si mesmos, lutariam agora pelos
direitos das mulheres?
Como todas as feministas do mundo, que há mais de 2 anos
denunciam internacionalmente o destino dado às mulheres afegãs
pelos talibãs, espero que o governo agora organizado no
Afeganistão garanta os direitos humanos das mulheres e faça
respeitar, ao menos, alguns destes direitos.
Uma melhoria do status social das mulheres poderia ser um dos
resultados não previsíveis de uma guerra: um benefício colateral,
enfim. Pode-se espera-lo. No entanto, sem sonhar. O partido tadjik
de Rabbani, o presidente do governo legal e reconhecido pela
comunidade internacional até os acordos de Bonn, instaurou a
Charia em Kabul, em 1992. É o partido de Massoud, seu
comandante militar, cujas tropas se lançaram a uma orgia de
estupros e mortes, quando ocuparam o distrito Hazara de Kabul,
durante as lutas que os opunham às outras facções em 1995.
Por outro lado, em fevereiro de 2002, a guerra norte-americana não
havia acabado e a Aliança do Norte se desfazia, à medida que os
chefes de guerra que a compunham reconquistaram seus feudos.
Jamiat-i-Islami de Rabbani, primeiro a entrar em Kabul, afirma cada
dia seu poder no local; apoiado pelos russos, que voltaram a esta
cidade, tomou a maior parte dos bens do governo provisório para si,
apesar da presença americana. Os EUA conseguiram que fosse
nomeado Karzai, um Pathan, como chefe do governo provisório, em
lugar de Rabbani, apoiado pelos russos. Contudo, Karzai não
possuía nenhum real poder (Human Rights Watch, 2000). Duas
mulheres entraram para o governo provisório, duas exiladas: uma
do partido de Hezb-i-Wahdat e outra do partido Parchami, ambas
contestadas – como os outros componentes da Aliança do Norte,
pela RAWA.[10]
Jamiat-i-Islami, levado pelas instâncias internacionais das quais as
facções afegãs ainda necessitam, fez algumas concessões, no que
concerne às mulheres. Julguemos. Um porta-voz de Rabbani
declara, uma semana depois da tomada de Kabul, na BBC WORLd:
“As ‘restrições’ dos talibãs serão abolidas – sem mais detalhes- e a
burqa[11] não mais será obrigatória; o hidjab será suficiente”[12]. O
hidjab será suficiente: esta frase dá asas à imaginação.
Porém,, se fosse mais do que isto justificaria a guerra? E se a
defesa dos direitos das mulheres fosse a verdadeira razão dos
bombardeamentos norte- americanos, isto justificaria os
bombardeamentos?
Um conto moralista e uma questão: tem-se o direito
de bombardear as pessoas para seu próprio bem?
Era uma vez um país onde as mulheres ainda não tinham o direito
de voto, apesar de trinta anos de lutas feministas, anos e décadas
depois que, em outras nações vizinhas da Europa, elas já o haviam
obtido. Como estas nações trataram este país? Fizeram-lhe a
guerra? Impuseram-lhe um embargo? Retiraram-lhe sua confiança
e sua aliança? Ao contrário, defenderam este país quando foi
atacado e no dia seguinte da vitória (da II Guerra mundial), em
1945, ajudaram-no financeiramente a se reconstruir e pediram-lhe
para rever suas posições, concedendo a cidadania às mulheres, o
que foi feito.
O direito de voto, isto é fundamental. Entretanto, sentiria eu pesar
pelo fato dos EUA, da Inglaterra e da URSS não terem
bombardeado a França? Não. Pois, por mais precioso que seja este
direito, se fosse conseguido ao preço de uma guerra, pergunto-me
se seu valor igualaria este custo. E lamento ainda menos, já que
este exemplo prova que existem outros meios de pressão pacíficos
e eficazes sobre os Estados.
Quando se trata dos direitos das mulheres, ou seja, de direitos
humanos, a questão que se coloca a respeito de uma guerra é
sempre, finalmente, a mesma: o que pode ser pior que uma guerra
para uma população? Em que momento a guerra torna-se
preferível? Dizer que a guerra é benéfica para as mulheres afegãs é
decidir por elas que é melhor morrer sob as bombas, morrer de
fome, de frio, que viver sob os talibãs. A morte preferível à servidão:
foi o que decidiu a opinião ocidental para as mulheres afegãs. Uma
decisão quase tornada heróica. E o que faltou para que o fosse?
Pois bem, que Rumsfeld, por exemplo, diga: “ Eu prefiro morrer do
que ver as mulheres afegãs mais um minuto sob o poder dos
talibãs”; que os ocidentais coloquem suas vidas na balança, e não
as vidas das afegãs.
Uma decisão que seria heróica, no primeiro caso, é, no segundo,
uma maneira de brincar com a vida de outrem, o que é moralmente
repugnante. Aqui estamos no segundo caso. A maneira
irresponsável pela qual se trata, no ocidente, o álibi da “liberação
das mulheres afegãs” é uma ilustração do fato de que as vidas
ocidentais valem mais, infinitamente mais, que as outras; e também
do fato que o Ocidente, não contente de estimar a baixo preço estas
outras vidas, decide que tem o direito de delas dispor a seu bel
prazer. Até recentemente, não se podia senão reter, da soma dos
discursos e atos, a decisão tomada em lugar das mulheres afegãs.
Os pressupostos do álibi da liberação das mulheres ou o paradoxo
do missionário
Alguns dias depois que redigi a primeira versão deste texto, esta
decisão e seus pressupostos colonialistas foram formulados
explicitamente em uma tribuna livre do jornal “Le Monde”
(Schneider, 2001:5 dezembro): Franz Xaver Kroetz não concebe
que as mulheres afegãs “sejam os soldados americanos (sic)[13]
como libertadores e não como raptores? A idéia de que a liberdade
possa ter um preço elevado, que possa mesmo valer o risco da
própria vida, parece incompreensível a mais de um dos amigos da
paz”. Contrariamente às aparências, a “ própria vida”, da qual fala o
autor deste artigo, não é a sua própria. No momento mesmo em
que afirma a liberdade para as afegãs, como valendo o sacrifício de
suas vidas, nega-lhes esta liberdade: é ele que faz esta “escolha”
por elas. Esta contradição não lhe é específica; impregna toda a
atitude ocidental em relação às afegãs, pois é, mais geralmente, o
princípio organizador da atitude dos dominantes quanto aos/às
dominados/as.
Gostaria de propor uma regra simples de ética internacional, que
pode valer também entre as pessoas: não se tem o direito de tomar
decisões, sobretudo heróicas, quando são outros que vão suportar
as conseqüências. A única população que pode decidir se uma
guerra vale a pena é aquela que sofre seu custo. Ora, aqui, quem
decide pela guerra não sofre sua realidade e a população que sofre
a guerra não foi chamada a tomar esta decisão.
No momento, a guerra humanitária não cumpriu suas promessas.
As mulheres afegãs estão nas estradas, sob as tendas, nos
campos, aos milhares. Antes da guerra, quatro milhões e meio de
afegãs/ãos viviam nos campos de refugiadas/os no Paquistão e no
Irã. Depois disto, outras/os ainda fugiram dos bombardeios
americanos. Seu número exato não é conhecido, pois muitas
pessoas escondem-se por medo de serem encaminhadas à
fronteira; estima-se, entretanto, que o Paquistão e o Irã contem,
respectivamente, com um acréscimo de 700.000 e 300.000
pessoas.
Porém, as mais ameaçadas e as mais difíceis de serem
contabilizadas são as “pessoas que se movem no interior”, que
tentando simplesmente escapar às bombas seguiram a linha de
frente no país e estão hoje em campos improvisados, sem comida e
sem proteção contra os homens armados. Atualmente, em razão da
divisão do território em feudos, controlados por tropas mal
alimentadas dos chefes de guerra, “soldados de dia e bandidos à
noite”, a ajuda internacional não atinge estas pessoas. Quando as
organizações não renunciam a enviá-la, o auxílio é desviado pelos
bandos armados.
Muitas pessoas refugiadas – sobretudo entre as “migrantes do
interior” e as populações das terras altas, privadas desde setembro
da ajuda alimentar por causa da guerra e agora isoladas pela neve
– estão mortas ou vão morrer.[14] Como em todas as guerras e
todas as penúrias alimentares, estas mortes compreenderão um
número desproporcional de mulheres. E sem nenhuma garantia que
este “sacrifício” lhes assegure alguns direitos. Devemos, aliás,
falar de sacrifício, quando elas não quando elas não optaram pela
situação que vivenciam? Não. É preciso falar aqui de maus tratos
impostos a outrem, ou, ainda, de tortura.
Isto é temporário, dirão alguns; com a volta da paz, a ajuda
alimentar vai ser retomada, o país vai ser reconstruído. Estamos,
porém, longe disto, pois a reconstrução do país exigirá a paz e esta,
justamente, não voltou ainda.
Os EUA serviram-se dos chefes de guerra que haviam semeado a
ruína no Afeganistão antes de 1966; 700.000 homens armados em
um país mais arruinado que antes. As clivagens étnicas, já
acentuadas durante a primeira guerra civil (1992/96), foram
reforçadas pelo talibãs, que desprezam todos os não-Pathans. Com
sua derrota, à rivalidade clássica dos chefes de guerra somou-se o
desejo de vingança dos Hazaras, dos Tadjiks e dos Uzbeks. A
RAWA pediu vigorosamente, em 10 de janeiro [15], que uma força
internacional “proteja o povo afegão contra os criminosos da
Aliança do Norte” (carta da RAWA). Alguns dias mais tarde, Karzai
começa a denunciar as represálias contra os Pathans, nas regiões
onde são minoritários; aproveita também sua visita à Nova York
para pedir à ONU uma força internacional de polícia, enquanto
anteriormente havia solicitado apenas ajuda financeira (BBC World,
2002: 30/01).
A retomada da guerra civil, cujas premissas podiam ser percebidas
durante os combates contra os talibãs, por exemplo, durante a
tomada de Kabul, declara-se então de maneira inequívoca. O
Pathan Shirzai, governador de Kandahar, disputa com 20.000
homens o controle de Herat ao Tadjik Ismail Khan (Globe and Mail,
2002:22 / 01). Os combates explodem ao norte, na região de
Kunduz, e ao sul, na de Khost. Afrontamentos acontecem em
Mazar-i-Charif, entre as tropas do Uzbek Dostum e as do Tadjik Atta
Mohammed, enquanto que, em Gardez, no sudeste, o governador
nomeado por Karzai, Pacha Khan Zadran, lutava com o chefe local,
Haji Saifullah, deixando 60 mortos. (AP et Time Magazine
Newsletter, 2002: 1 a 7/02). Mesmo a mais protegida das cidades,
Kabul, é presa da insegurança. Um diplomata, no local, declara que
os habitantes não vão mais a certas partes da cidade: “a cultura da
kalashinikov reina” (Hindustan Times, AFP, 2002: 25 /01)
Mas os Estados Unidos ocupam-se em arrasar as montanhas de
Tora-Bora e reafirmam muitas vezes que não pretendem “construir
nações”: em outras palavras, destroem , mas não reparam os
danos. Esta força internacional, suficiente para proteger a totalidade
do país, não existirá nunca: compreenderá apenas 4.500 homens
em torno de Kabul e durante seis meses.[16] (Hindustan Times,
2002: 20 janeiro)
Os EUA não pretendem nem comprometer um número suficiente de
soldados para controlar os 700.000 homens armados no território
do Afeganistão, nem deixar outros países, entres os quais,
evidentemente, a Rússia fazê-lo. Os talibãs, convertidos em
homens comuns (é preciso, unicamente, amarrar seu turbante de
forma diferente, como mostrou um afegão à um repórter ocidental),
vão retomar seu serviço junto aos senhores Pathans, aos quais
transmitem seu gosto pela guerra – conhecem apenas isto - e seu
ódio pelos Tadjiks e Uzbeks.
O Ocidente não levou a paz e a prosperidade: destruiu o que
restava a destruir, fez que ainda mais pessoas desertassem um
país já exangue, agravou a penúria de comida para um povo que já
morria de fome e (re)armou os chefes de tribos, que não desejavam
senão ganhos e lucros, conquistas e massacres. Não se podia
imaginar, antes da guerra, que o Afeganistão pudesse cair em um
estado pior que o já existente: era possível, nós o fizemos.
Novo “dever de intervenção” e velha “missão colonizadora”
Um mínimo senso de conveniência levaria a cessar a alegação de
que as mulheres ( e os homens deveriam sofrer este estado de
guerra pelo seu próprio bem. E, sobretudo, abster-se de alardear
uma libertação que, de fato, lhes retirava o direito de escolher seu
destino e mesmo seu direito de viver. Pode-se temer, ao contrário,
que este estribilho se torne um sucesso; a lista é longa, dos países
aos quais a Coalizão dos Aliados contra o mal prometeu levar o
bem a ferro e a fogo.[17] E claro, toda semelhança com os
acontecimentos históricos passados, tão recuados que sua
evocação é deslocada, toda semelhança com as guerras coloniais é
uma coincidência.
A guerra não faz avançar os direitos humanos. Pois, além das
afegãs e dos afegãos, esta guerra, em nome da civilização, em dois
meses, mandou boa parte desta mesma civilização ao
esquecimento. Tantos fatos são disto testemunho: as Convenções
de Genebra, declaradas inválidas pelos Aliados, primeiramente
cúmplices do açougueiro Mazar-i-Charif (o “general” Dostum, vice-
ministro da defesa do governo Karzai) e de outros [18]; os Aliados
ainda, cúmplices, também, das manobras americanas que
inventam novas categorias pseudo-jurídicas; os “combatentes
ilegais” de Guantanamo, que nenhum direito, nacional ou
internacional, nem comum, nem de guerra, poderia cobrir![19] As
liberdades públicas, orgulhos de nossas democracias, anuladas. O
direito internacional, ferido de morte – o grande corpo agonizante da
ONU é disto igualmente testemunho.
Apenas uma cooperação real e pacífica entre as nações fará
progredir os direitos humanos. Ora, ela não está na ordem do dia.
Não somente os verdadeiros alvos da guerra não são os
argumentos com os quais ela é “vendida” à opinião pública, mas
estes mesmos argumentos, “humanitários” ou “humanistas”, contêm
um vício de forma. Aqueles do autor da tribuna livre, citado acima,
por exemplo, são tipicamente argumentos dos monges espanhóis
em relação aos índios do Novo Mundo: postulavam que nós (os
ocidentais), sabemos o que é bom para todos e que temos o direito
– e talvez o dever – de propô-lo ou de impô-lo aos outros. Estes
outros, que nos são intelectualmente e moralmente inferiores, não
tem o mesmo valor que nós: suas vidas também não têm, em
conseqüência, o mesmo valor que as nossas.
As populações civis dos países da Aliança não têm interesse direto
nas guerras imperialistas. As razões explicitadas por seus
governantes não os “motivam”: assim que pretextos econômicos
são invocados, a legitimidade das guerras diminui aos olhos do
público. Os governos fornecem sempre motivos desinteressados às
guerras, senão nobres, como sua única razão, ou ao menos como
complemento ou como excipiente. A guerra do Golfo foi bem
percebida, pela opinião pública, como uma guerra “pelo petróleo”,
mas igualmente como “a guerra do direito” – um justificando o outro.
A guerra da Sérvia, a mais popular, é famosa por ter evitado um
genocídio. É possível que haja duplicidade nas opiniões públicas, e
que, de fato, estejam de acordo com os motivos, interesseiros e
egoístas, das guerras. Mas com certeza não é o que colocam como
fachada: deixam o cinismo a seus governantes.
Na guerra afegã, a opinião pública francesa aceitou um amontoado
de razões, algumas pouco defensáveis como a vingança. Mas esta
motivação vergonhosa deve ser “equilibrada” por outra ; não se
pode dar como único objetivo desta guerra martirizar ainda mais
uma das populações mais pobres e mais sofridas do mundo; é
preciso que a guerra carregue uma promessa de bem, ou de
melhorias, para o povo afegão, de alguma forma assim
“recompensado” por seus sofrimentos.
E é por isto que o motivo das mulheres afegãs, que apareceu já
tardiamente, foi crucial, pois conferia ao conflito sua dimensão
necessária de “altruísmo” e “moral”. Mas, como vimos, este motivo
guarda, com efeito, a negação do livre arbítrio e mesmo da vida das
pessoas que visa. A que estrutura ética pertence este motivo
moralista e em que medida é “altruísta”?
O motivo moral – a “liberação” das mulheres afegãs – faz apelo a
valores aparentemente progressistas: mas em aparência somente.
Examinados de perto, consistem na crença, mais ou menos
consciente, da “missão” do ocidente; ora, não acreditamos ter uma
tal missão, senão por possuir a “civilização”; nenhum jornalista,
nenhum homem político, nenhum intelectual criticou a equação feita
por G.W. Bush e seus aliados entre ocidente e civilização, depois
dos atentados ao World Trade Center – ao contrário, um consenso
total surgiu para nisto ver um “ataque contra a civilização” .
A ação das potências ocidentais no mundo não-ocidental apoia-se
sobre opiniões públicas, cuja visão de mundo não mudou em
profundidade, desde o fim da colonização. A crença na
superioridade do ocidente resta intacta. Este racismo, mais ou
menos afirmado, alia-se hoje à uma compaixão do tipo paternalista;
tal combinação produz uma ideologia potencialmente muito
perigosa para os não-ocidentais, mais ampla ainda para os povos e
grupos dominados, pois justifica tanto a intervenção militar quanto a
ação humanitária e, às vezes, as duas ao mesmo tempo, como se
verificou quando a opinião americana aprovou o lançamento de
bombas e de pacotes (com alimentos, em território afegão) .
Alimentar e punir, isto define o papel dos/das genitores/as em
relação às crianças; o vocabulário, utilizado por G.W.Bush, é muito
revelador. Seja para seus aliados ou para seus inimigos, fala a
linguagem de um pai severo mas justo, que de acordo com a
conduta das crianças, distribui os bons e os maus pontos, os
castigos e as recompensas. Igualmente revelador o fato que as
opiniões ocidentais não parecem ter ficado chocadas com esta
condescendência, o que indicaria sua identificação à posição
assumida por G.W.Bush.
Sem tentar, pelo momento, ligar estas atitudes à ação real dos
governos ocidentais há mais de cinqüenta anos, deve-se constatar
que as mudanças ideológicas anunciadas pela descolonização, a
Carta da ONU, o direito dos povos de dispor de si mesmos e todas
as outras convenções internacionais, não parecem influenciar ou
refletir, por pouco que seja, o sentimento comum. As palavras
mudaram, mas não é difícil reconhecer, sob o novo vocábulo
“dever de ingerência”, a velha missão colonizadora, sempre
mortífera, pois incorpora o paradoxo do missionário:
“salvaremos suas almas (sua liberdade) mesmo que para isto
seja preciso matá-los” .
Referências:
CLAUDE, Patricia. 2001 « Le pouvoir désordonné des
Moudjahidins s’installe sur Jalalabad en proie à toutes les terreurs »,
Le Monde, 25-26 novembre.
FISK, Robert . 2000. “ What will the Northern Alliance do in our
name now ? ”, The Independent, 14. 11.01
FISK, Robert .2001. “ We are the War Criminals Now ”, The
Independent, 29.11.01.
HUMAN RIGHTS WATCH, “ Military assistance to the Afghan
Opposition ”, octobre
KHUSHNAWAZ , Rahim, 2002. Télérama, N°2714, 16 janvier
LESBIA, 2001, décembre, 208, p.33
RASHID, Ahmed .2001. Taliban. London: Pan
SCHNEIDER, Peter .2001. Le Monde, 5 décembre
www.RAWA.org
, www.hrw.org . Human Rights Watch, 01.12.01; cicg.free.fr,
29.11.01.
www.hrw.org, 22.01/2002 ; cicg.free.fr, lettre de la CICG,
23.0120.02 ; www.amnesty.org, lettre à M. Bush, 21.01.200202.
Nota biográfica :
Christine Delphy é um nome incontornável do feminismo
contemporâneo. O « modo de proução doméstico », o “patriarcado”
concebido como sistema, as relações de sexo vistas como “
relações de classe” foram importantes pontos de inflexão para o
pensamento feminista..Francesa, phd em Sociologia pela
Université du Québec à Montréal , é pesquisadora do CNRS-
Centre National de Recherche Scientifique, em Paris, desde 1966.
Participou, em 1968, à construção de um dos grupos fundadores
do Movimento de Liberação das Mulheres e foi co- fuindadora , com
Simone de Beauvoir, das revistas Questions féministes et
Nouvelles Questions féministes (que dirige ainda atualmente.
Publicou , pelas edições Syllepse, en 1998, o primeiro volume do
livro'Ennemi principal, Économie politique du patriarcat e pela
mesma editora, em 2002,em colaboração com Sylvie Chaperon,
Cinquentenaire du deuxième sexe- colloque international Simone
de Beauvoir, além de inumeráveis artigos em revistas e jornais.

[1] No dia 22 de setembro os Talibãs oferecem-se para entregar


Bem Laden se os EUA puderem produzir provas contra ele, o que
se recusam a fazer. Mas, em primeiro de outubro, Mollah Omar
propõe a extradição de Ben Laden para o Paquistão, onde ficaria
em prisão domiciliar em Peshawar, antes de comparecer diante de
um tribunal internacional e desta vez, sem o pedido de provas. Os
EUA rejeitam esta oferta, com desprezo, reiterando o que Ari
Fleischer, porta-voz da Casa Branca repetiu várias vêzes : « não
haverá nem discussões nem negociações com os Talibãs. » Se não
houvesse senão a guerra como solução, é então porque os EUA
assim quiseram que fosse pois cortaram e recusaram a via
alternativa, a diplomacia mesmo quando seus adversários o
solicitavam. ( ver site na internet Women living under Muslim Laws.
www.wluml.org).
[2] Todos os Estados que se uniram verbalmente aos Estados
Unidos, ainda que estes últimos tenham, sós, levado a guerra em
frente.
[3] Levirato. Obrigação que a lei de Moisés impunha ao irmão de um
defunto de se casar com a viúva sem filhos. NT
[4] Nome genérico dado às associações humanitárias francesas,
“Médicos sem fronteiras”, “Médicos do mundo”, etc.
[5] ver o filme de Christophe de Pontiflly « Massoud”, que idealiza
este assunto de modo irresponsável, a menos que tenha realizado
voluntariamente uma obra de desinformação.
[6] Djihad, guerra santa para defender e propagar o Islã. NT
[7] As militantes da RAWA trabalham há anos com as
refugiadas afegãs no Paquistão, na clandestinidade; ocupam-
se particularmente da escolarização das meninas. Entram
assim no Afeganistão, correndo risco de vida, para realizar
filmes sobre a condição do país sob os talibãs. Ameaçadas de
morte por todos os fundamentalistas, elas denunciam os
Mudjahidins assim como os talibãs. E protestaram com sua
maior energia contra o bombardeamento de seu país pelos
EUA.
[8] Revista semanal a respeito da televisão francesa. NT
[9] “A Aliança do Norte avança com sua bagagem de mortes,
estupros e pilhagens » Fisk, The Independent, 14.11
[10] Ao contrário de RAWA, uma associação de “ apoio às mulheres
afegãs” baseada na França, a Negar, mostrava-se favorável à
Aliança do Norte e aos bombardeios. Segundo esta associação,
uma “ Declaração dos direitos fundamentais da mulher afegã” teria
sido assinada por Massoud e mais recentemente por Karzai ( ver o
site internet da Coalizão Internacional contra a guerra, cicg.free.fr
:Afeganistão, direito das mulheres, entrevista com Shoukria Haidar
por C. Delphy). Esta associação atribui o horror da situação das
mulheres afegãs apenas aos talibãs e não menciona nunca os
mudjahidins (Lesbia, 208, décembre 2001, p.33) Uma explicação
possível para esta cumplicidade – no caso de Negar, pro Aliança do
Norte – reside talvez no fato de que , segundo Sippi Azerbaijani-
Moghadam, conselheira técnica da Comissão da ONU para as
mulheres e crianças refugiadas e especialista da região, “ as
organizações de mulheres formaram-se a partir dos grupos étnicos
Pathan, Tadjik e Hazara” (Sharon Groves (2001). “ Report from
Afghanistan ”, Feminist Studies, 27/3).
[11] Roupa que encobria totalmente as mulheres, com uma grade
de tecido para os olhos.
[12] O hidjab, na acepção afegã é o tchador iraniano: uma capa
encobrindo todo o corpo , a cabeça e o rosto e não um simples
lenço na cabeça.
[13] O uso pela imprensa da palavra « liberação” provavelmente
evocou em Schneider a imagem das francesas ,beijando os
soldados americanos, por ocasião da liberação de Paris. Mas a
ação não se passa em França em 1944. Em 2001 e no
Afeganistão, os soldados americanos não se mostram; são as
tropas da Aliança do Norte, cuja reputação não é exatamente a de
“libertadores”, que entraram em Cabul.
[14] Não há uma estimativa destas mortes, bem como das vítimas
diretas das bombas americanas, ainda que, desde dezembro,
certas organizações humanitárias norte-americanas calculem-nas
em mais de 3.700.
[15] www.RAWA.org, carta de RAWA.
[16] Hindustan Times, 20 janvier 2002.
[17] Em 31 de janeiro, G.W.Bush reiterou pela quinta vez desde 11
de setembro, a certeza de que os EUA vão iniciar uma guerra em
escala mundial e colocou em questão outros países: o Irã e a
Coréia do Norte, bem como o Hamas, o Hezbollah e o Djihad
islâmicos, três grupos de resistência à ocupação israelense. Dois
dias antes, os primeiros soldados americanos chegaram às
Filipinas. A mídia e a opinião ocidental descartam estas
declarações, escalonadas em três meses, como excessos de
linguagem. Será preciso, sem dúvida, que um outro país seja o alvo
de uma campanha de bombardeios, o que não tardará, e estas
declarações aparecem em sua verdadeira luz: o anúncio de um
programa e não um efeito de retórica.
[18] Robert Fisk. “ We are the War Criminals Now ”, The
Independent, 29.11.01; Human Rights Watch, www.hrw.org,
01.12.01; cicg.free.fr, 29.11.01.
[19] www.hrw.org, 22.01.02 ; cicg.free.fr, lettre de la CICG,
23.01.02 ; www.amnesty.org, lettre à M. Bush, 21.01.02.
http://www.unb.br/ih/his/gefem/labrys1_2/delphy1.htm

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