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RELATÓRIO TÉCNICO DE AVALIAÇÃO

DA SUSTENTABILIDADE
DO PROJETO PROCICLA IMPLEMENTADO
PELA ONG ALTERVIDA / PARAGUAI

Produto elaborado para a Fundação AVINA

REALIZAÇÃO:

CENTRO DE REFERÊNCIA DO CATADOR DE


MATERIAL RECICLÁVEL

NOVEMBRO, 2007
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
FUNDAÇÃO AVINA

EQUIPE EXECUTORA

Este relatório foi elaborado pela equipe que integra o


Centro de Referência em Estudos sobre os Catadores, projeto
sediado e coordenado pelo PANGEA Centro de Estudos
Socioambientais. A equipe que participou da elaboração
deste relatório foi:

João Damásio de Oliveira Filho – Pesquisador Chefe

Antônio Bunchaft – Coordenação Geral


Adherbal de Almeida Régis – Coordenação Geral

Luís Gustavo Delmont – Coordenador de Pesquisa e


Informações

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RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
FUNDAÇÃO AVINA

INDICE DE FIGURAS

FIGURA 2.1 - ORGANOGRAMA DO PROCICLA/ALTERVIDA: CAS CENTRAL,


FORNECEDORES E SISTEMA CAS ......................................... 11
FIGURA 4.1 - COMPARATIVO DE PREÇOS DE COMPRA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS
DE CATADORES E VENDAS À INDÚSTRIA – Agosto/2007 .................... 14
FIGURA 4.2 - MATERIAL ADQUIRIDO PELO CAS CENTRAL E LUCROS NA
COMERCIALIZAÇÃO – Agosto/2007 ...................................... 16
FIGURA 4.3 - COMPARATIVO DE VALORES PAGOS NA COMPRA DE MATERIAIS
RECICLÁVEIS DE CATADORES E RECEITAS LÍQUIDAS – CAS CENTRAL – AGOSTO DE
2007 ............................................................... 24
FIGURA 4.4 - COMPARATIVO PERCENTUAL DA GRAVIMETRIA DA PRODUÇÃO FÍSICA
DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL –
KG/MÊS – AGOSTO DE 2007 ............................................ 25
FIGURA 4.5 - COMPARATIVO PERCENTUAL DAS RECEITAS BRUTAS DOS CATADORES
QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – KG/MÊS –
AGOSTO DE 2007 ..................................................... 25
FIGURA 4.6 - LUCRO BRUTO DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA DE
MATERIAIS(%)- Agosto de 2007 ....................................... 27
FIGURA 4.7 - LUCROS BRUTOS DO CAS CENTRAL POR GRUPOS DE MATERIAIS
RECICLÁVEIS(%)- AGOSTO DE 2007 ..................................... 28
FIGURA 4.8 - PROCEDÊNCIA DOS MATERIAIS RECICLÁVEIS DO CAS CENTRAL - %
DA GRAVIMETRIA – AGOSTO DE 2007 .................................... 30
FIGURA 4.9 - RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA DE
MATERIAIS - CARRINHEIROS(%)- AGOSTO DE 2007 ........................ 32
FIGURA 4.10 - RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA DE
MATERIAIS – GRANDES GERADORES(%)- AGOSTO DE 2007 ................... 32
FIGURA 4.11 - RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA DE
MATERIAIS – CATADORES DO VERTEDORO E OUTROS CATADORES(%) ........... 33
FIGURA 4.12 - RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA DE
MATERIAIS – MÉDIA PONDERADA (%) .................................... 34
FIGURA 4.13 - ORIGENS DAS RECEITAS LÍQUIDAS DO CAS CENTRAL(%)- AGOSTO
DE 2007 ............................................................ 36
FIGURA 4.14 - ESTIMATIVA PERCENTUAL DA COMPOSIÇÃO DA PRODUÇÃO FÍSICA
DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL –
CARRINHEIROS (%)- Agosto de 2007 ................................... 41
FIGURA 4.15 - COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE
FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – CARRINHEIROS (%)-
Agosto de 2007 ..................................................... 41
FIGURA 4.16 - ESTIMATIVA PERCENTUAL DA COMPOSIÇÃO DA PRODUÇÃO FÍSICA
DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL –
GRANDES GERADORES (%)- AGOSTO DE 2007 .............................. 42
FIGURA 4.17 - COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE
FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – CATADORES NOS
GRANDES GERADORES (%)- AGOSTO DE 2007 .............................. 43
FIGURA 4.18 - ESTIMATIVA PERCENTUAL DA COMPOSIÇÃO DA PRODUÇÃO FÍSICA
DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL –
CATADORES DO VERTEDERO E OUTROS CATADORES (%) ...................... 45
FIGURA 4.19 - COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE
FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – CATADORES DO
VERTEDERO E OUTROS CATADORES (%) ................................... 45
FIGURA 4.20 - COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE
FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – MÉDIA PONDERADA
DOS TRÊS GRUPOS DE CATADORES (%) ................................... 46
FIGURA 4.21 - EFICIÊNCIAS FÍSICAS DAS SECÇÕES DO SISTEMA
CAS(KG/CATADOR)-AGOSTO/2007 ........................................ 53
FIGURA 4.22 - EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS DAS SECÇÕES DO SISTEMA
CAS(R$/CATADOR)-AGOSTO/2007 ........................................ 54

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RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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INDICE DE TABELAS

TABELA 4.1 - COMPARATIVO DE PREÇOS DE COMPRA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS


DE CATADORES E VENDAS À INDÚSTRIA – Agosto/2007 .................... 13
TABELA 4.2 - MATERIAL ADQUIRIDO PELO CAS CENTRAL E LUCROS NA
COMERCIALIZAÇÃO – Agosto/2007 ...................................... 15
TABELA 4.3 - PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS SEGUNDO ORIGEM –
DADOS PARA 4 SEMANAS – JUL/AGO 2007 - KG ........................... 17
TABELA 4.4 - PERCENTUAIS DA PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS
SEGUNDO ORIGEM – DADOS PARA 4 SEMANAS – JUL/AGO 2007 - % ........... 18
TABELA 4.5 - ESTIMATIVA DA PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS
SEGUNDO ORIGEM – AGO 2007 – KG/Mes ................................. 19
TABELA 4.6 - ESTIMATIVA DOS PREÇOS MÉDIOS E PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS
RECICLÁVEIS – AGO 2007 – KG/Mês e Gs ............................... 19
TABELA 4.7 - ESTIMATIVA MENSAL DE VALORES PAGOS A FORNECEDORES Gs –
Agosto de 2007 ..................................................... 20
TABELA 4.8 - ESTIMATIVA MENSAL DE VALORES PAGOS A FORNECEDORES R$ -
Agosto de 2007 ..................................................... 20
TABELA 4.9 - Receita Bruta do CAS Central – Estimativa Mensal Gs –
Agosto de 2007 ..................................................... 21
TABELA 4.10 - Receita Bruta do CAS Central – Estimativa Mensal R$ –
Agosto de 2007 ..................................................... 21
TABELA 4.11 - Receita Líquida do CAS Central – Estimativa Mensal – Gs
– Agosto de 2007 ................................................... 22
TABELA 4.12 - Receita Líquida do CAS Central – Estimativa Mensal – R$-
Agosto de 2007 ..................................................... 22
TABELA 4.13 - Sumário do CAS Central – Estimativa Mensal (Gs)
Agosto/2007 ........................................................ 23
TABELA 4.14 - Sumário do CAS Central – Estimativa Mensal (R$)
Agosto/2007 ........................................................ 23
TABELA 4.15 - Lucro Bruto do CAS CENTRAL - % - Estimativa Mensal por
Material e Fornecedor – Agosto/2007 ................................ 26
TABELA 4.16 - Lucro Bruto do CAS CENTRAL - % - Estimativa Mensal por
Tipo de Material Reciclável – Agosto de 2007 ....................... 28
TABELA 4.17 - Estimativa da Procedência dos Materiais Recicláveis do
CAS CENTRAL - % da Gravimetria – Ago/2007 ......................... 29
TABELA 4.18 - Receita Líquida do CAS CENTRAL - % - Estimativa Mensal
por Tipo de Fornecedor – Agosto de 2007 ............................ 31
TABELA 4.19 - Origens das Receitas Líquidas do CAS CENTRAL -
Estimativa por Tipo de Fornecedor e Grupo de Material Reciclável - % -
Agosto de 2007 ..................................................... 35
TABELA 4.20 - EFICIÊNCIAS FÍSICA E ECONÔMICA DO CAS CENTRAL – VALORES
BRUTOS E LÍQUIDOS DAS RECEITAS - AGOSTO de 2007 .................... 38
TABELA 4.21 - RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS
RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – R$ - Agosto/2007 .................. 39
TABELA 4.22 - COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE
FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL –(%)- Agosto de 2007
................................................................... 40
TABELA 4.23 - EFICIÊNCIAS FÍSICA E ECONÔMICA DOS TRÊS GRUPOS DE
CATADORES – CARRINHEIROS, GRANDES GERADORES E VERTEDERO - AGOSTO de
2007 ............................................................... 47
TABELA 4.24 - EFICIÊNCIAS FÍSICAS E EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS DO SISTEMA
CAS – AGOSTO DE 2007 ............................................... 51
TABELA 4.25 - EFICIÊNCIAS FÍSICAS E EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS DOS
DIVERSOS SEGMENTOS DO SISTEMA CAS – AGOSTO DE 2007 ................. 52
TABELA 4.26 - EFICIÊNCIA COMPARATIVA DAS SECÇÕES DO SISTEMA CAS EM
RELAÇÃO À AMOSTRA BRASIL(*) – ORDENAÇÃO – AGO/2007 .................. 56
TABELA 4.27 - EFICIÊNCIA COMPARATIVA DAS SECÇÕES DO SISTEMA CAS EM
RELAÇÃO À REDE CATA SAMPA(*) – ORDENAÇÃO – AGO/2007 ................. 58

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RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
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ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO ...................................................... 5

2 DADOS GERAIS DO PROJETO PROCICLA ................................ 6


2.1 VISITA A ASSUNÇÃO E A COLETA DE INFORMAÇÕES ................. 6
2.2 ANÁLISE ORGANIZACIONAL DO CAS ............................... 8

3 ANÁLISE SOCIOECONOMICA DOS BENEFICIÁRIOS E MODELOS DE DISTRIBUIÇÃO


DE RENDA ....................................................... 12

4 ANÁLISE DA PRODUÇÃO, COMERCIALIAZAÇÂO E EFICIENCIAS DO CAS ..... 13


4.1 A ÓTICA DO CAS CENTRAL ..................................... 13
4.1.1 Preços de compras e preços de vendas de materiais
recicláveis..................................................................................................................13
4.1.2 Procedência dos materiais recicláveis adquiridos pelo cas
central ...........................................................................................................................17
4.1.3 As receitas líquidas e os lucros brutos do cas central ...........24
4.1.4 Eficiência física e eficiência econômica do CAS CENTRAL .........37
4.2 A ÓTICA DOS CATADORES ...................................... 39
4.2.1 As receitas dos catadores de materiais recicláveis.....................39
4.2.2 Eficiência física e eficiência econômica dos três grupos de
catadores.......................................................................................................................46
4.3 A ÓTICA DO SISTEMA CAS. .................................... 48
4.3.1 A natureza do “sistema cas”............................................................................48
4.3.2 Eficiência física e eficiência econômica do sistema CAS .........49
4.3.3 Análise comparativa das eficiências dos segmentos do sistema
CAS.....................................................................................................................................55

5 SUSTENTABILIDADE ECONOMICA, SOCIAL, AMBIENTAL E INSTITUCIONAL .. 60


5.1 SUSTENTABILIDADE INSTITUCIONAL ............................. 60
5.2 SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL ................................. 61
5.3 SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA E SOCIAL ........................ 61

6 PRINCIPAIS CONCLUSÕES .......................................... 62

7 RISCOS E OPORTUNIDADES: PROPOSTAS E SUGESTÕES DE APERFEIÇOAMENTO


................................................................66
7.1 DIMENSÃO ORGANIZACIONAL E INSTITUCIONAL .................... 66
7.1.1 Construção de um novo sujeito social: o beneficiário ................66
7.1.2 Redefinição dos processos de apropriação do excedente..............66
7.1.3 Redefinição do Arranjo Institucional com o BID ..............................66
7.1.4 Reforço institucional da nova organização a ser criada ...........66
7.1.5 Construção de um sistema de informações ...............................................67
7.2 DIMENSÃO ECONOMICA, LOGÍSTICA E DE MERCADO ................. 67
7.2.1 Aspectos Econômicos...............................................................................................67
7.2.2 Aspectos da Logística da Coleta ..................................................................67

iv
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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1 INTRODUÇÃO

O presente relatório foi desenvolvido pelo PANGEA Centro de


Estudos Socioambientais, através de seu Centro de
Referencia em Estudos sobre os Catadores, tendo como
objetivo principal avaliar a atual situação e sugerir
recomendações para garantir a sustentabilidade do projeto
Procicla realizado e desenvolvido pela ONG AlterVida na
cidade de Assunção, Paraguai.

Este trabalho está constituído de sete partes incluindo


esta, cujas descrições seguem abaixo:

O segundo capítulo apresenta uma breve descrição do Projeto


PROCICLA, especificando como foi efetuada a coleta de dados
e uma análise organizacional do mesmo.

Já no terceiro capítulo são apresentadas as análises dos


beneficiários, seguida de uma explicação da forma de
distribuição da renda obtida com a coleta e comercialização
dos materiais recicláveis.

O quarto capítulo é destinado a analisar a produção e a


comercialização do CAS através de três óticas distintas:
ótica do CAS enquanto uma CENTRAL, ótica dos CATADORES
sobre o projeto e por fim, a ótica do SISTEMA CAS como um
todo. Nesse mesmo capítulo são apresentadas as eficiências
física, econômica e de mercado.

Enquanto o capítulo que segue – o quinto – destina-se


avaliar a sustentabilidade institucional, ambiental,
econômica e social do projeto

Por fim, os três últimos referem-se ao fechamento do


trabalho, onde estão descritas a sustentabilidade
econômica, social, ambiental e institucional do projeto.
São apresentados também os riscos e as oportunidades,
juntamente com propostas e sugestões de aperfeiçoamento

5
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
FUNDAÇÃO AVINA

2 DADOS GERAIS DO PROJETO PROCICLA

Para que possamos avaliar a situação atual em que se


encontra algum grupo de catadores e/ou de qualquer
cooperativa, sejam eles formalizados ou não, o ponto
inicial de partida para a elaboração dos relatórios sempre
foi o de coleta de dados primários, efetuada diretamente in
loco, pois permite conhecer de perto a real estrutura do
projeto. Não muito diferente, o presente relatório segue o
mesmo raciocínio ora apresentado, onde as informações aqui
descritas foram obtidas com a aplicação de um questionário
para avaliar, principalmente, a infra-estrutura e assim
poder medir e analisar as características produtivas da
unidade.

Portanto, como o objetivo desse capítulo é apresentar as


informações obtidas, os próximos tópicos serão destinados a
explicar como foi efetuada a coleta de dados e os problemas
ocorridos para tal obtenção, inclusive uma breve análise
organizacional do CAS.

2.1 VISITA A ASSUNÇÃO E A COLETA DE INFORMAÇÕES

A visita a Assunção foi extremamente intensa e produtiva.


Houve um planejamento hábil por parte da ALTERVIDA, que foi
iniciado por uma apresentação do projeto PROCICLA, feita
pessoalmente pelo Diretor Jorge Abatte. Ele e sua gerente
Cármen Moreira responderam gentilmente às questões e
perguntas propostas com educação, rapidez e eficiência. Na
tarde do primeiro dia, o questionário já previamente
preenchido foi projetado e discutido ponto-a-ponto. Ao
final de um dia, já possuíamos os principais dados do CAS,
como Central.

Quando da nossa ida, havia previamente informações sobre 5


associações de catadores no aterro sanitário, entretanto
quando chegamos para a primeira reunião na ALTERVIDA fomos
informados por eles de que de fato não eram organizações
estruturadas, mas sim grupos que se uniam para reinvidicar
apoios ou interesses pontuais na Prefeitura e para garantir
a possibilidade de continuarem a coletar materiais no
aterro. Pretendíamos visitar estas associações, no entanto,
foi veiculado pela ALTERVIDA de que haveria uma pretensa
dificuldade em entrar no aterro para conversar com os
catadores que lá trabalham, por parte da Administração
deste.

6
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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Durante a visita ao CAS, a pronta participação de dois


funcionários da ALTERVIDA, Victor e Alberto, tornou
possível o entendimento de detalhes de funcionamento do
projeto. Ademais, foi permitido o acesso a informações que
viabilizaram a estimativa das proporções de materiais
recicláveis originados nos três tipos de “fornecedores”:
carrinheiros; grandes geradores; e catadores do Vertedero.

Ao final do segundo dia, novamente com a presença do


Diretor Jorge Abatte, duas questões ficaram bastante
claras: a) que existem tensões internas legítimas sobre a
atual e eventual situação jurídica do CAS; b) que – nas
palavras do mesmo Diretor – o CAS “nunca será uma
cooperativa”.

Embora dois “grandes geradores” tenham sido visitados, não


foi possível efetuar uma visita ao Vertedero – sob o
argumento que a entrada era controlada pela Prefeitura de
Assunção.

Após o retorno ao Brasil, Cármen, Victor e Alberto


prontamente responderam a solicitações de dados adicionais
e esclarecimentos.

Segundo informações da ALTERVIDA/GEAM, o projeto tem sido


realizado através de apoio do BID, apoio este que se divide
em duas linhas de empréstimo, a saber: a primeira, no
montante de US$ 300,000.00 à titulo de colaboração para
apoio técnico não reembolsável, recurso responsável pelo
pagamento da equipe de acompanhamento do projeto. A segunda
linha é no valor de US$ 238,000.00 e trata-se de empréstimo
reembolsável ao BID com prazo de pagamento em 15 anos. Além
disto, informaram ter um apoio da USAID, entretanto não
declararam o valor. Ainda informaram o apoio do Município
de Assuncion, através da cessão de uso, por 15 anos, de
terreno onde está construído o CAS (Centro de Segregação e
Armazenamento).

Deve ficar claro que questões relativas à destinação dos


recursos apropriados por doação ou empréstimos à ALTERVIDA
em nome do projeto CAS/PROCICLA pelo BID, USAID e
Prefeitura – embora mencionados – jamais puderam ser
devidamente equacionadas. Não havia mandato para proceder à
auditoria da ALTERVIDA – nem isso seria possível. Por ser
impossível, esta avaliação financeira deixou de ser parte
dos objetivos deste diagnóstico. Em outras palavras:
recursos do BID a fundo-perdido parecem ser assuntos
internos da ALTERVIDA. Por outro lado, recursos tomados
simultaneamente por empréstimos ao BID, são atribuídos

7
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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formalmente ao CAS – que assume internamente o papel de


prover os recursos para a amortização da dívida.1

2.2 ANÁLISE ORGANIZACIONAL DO CAS

O CAS (Centro de Acopio y Segregación) surgiu do Projeto


PROCICLA, como iniciativa da ALTERVIDA2. Desde a sua
concepção -- como pode ser observado pela leitura dos
materiais relativos ao projeto – tomou como ponto de
partida a compra de materiais recicláveis de catadores não-
empregados pelo CAS. Nesse sentido – embora a discussão
sobre atividade cooperada seja recorrente, mesmo entre
funcionários da ALTERVIDA/CAS – é importante ressaltar
desde logo que os quarenta catadores que hoje têm função
operacional no CAS não são cooperados nem há qualquer
proposta de transformar o CAS em uma cooperativa em futuro
previsível.

Isto dito, é bom lembrar que no Plano de Negócios é


explicitamente frisado que:

“ A forma jurídica que o CAS adotará é a de uma


Sociedade Anônima, já que deve gerar lucros e alcançar a
rentabilidade necessária para fazer frente aos
compromissos financeiros.”3

Uma Sociedade Anônima NÃO é uma cooperativa e não há porque


insistir em confundir o que hoje ocorre com os processos
operados no CAS com uma atividade de trabalho cooperativo.
Assim, desde a sua criação, NÃO houve a intenção de
transformar o CAS em unidade cooperada. Dessa forma, não se
pode criticar a forma jurídica adotada pelo CAS por NÃO ser
cooperada: o móvel de sua criação sempre foi o lucro
privado, como qualquer outra empresa competitiva do mercado
capitalista. Uma análise imparcial e não-viesada necessita
então estar voltada para a viabilidade econômica da
atividade de reciclagem desenvolvida pelo CAS, explicitando
a sua inserção no mercado e avaliando as implicações de sua
entrada em operação.

O surpreendente, entretanto, é que o CAS sequer foi


constituído como uma Sociedade Anônima – ao contrário do
explicitamente afirmado no citado Plano de Negócios! De
acordo com o que pode ser levantado pela equipe de
pesquisadores que visitou o projeto em Assunção, o CAS é
uma ficção jurídica, sem figura legal própria, apenas um

1
“Hay que pagar la deuda!” foi repetido inúmeras vezes como um mantra ….
2
Consultar “CAS Plan de Negocios” – Procicla – Altervida – Novembro de 2006
3
Op.cit p.3 – Nossa tradução.

8
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
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nome-de-fantasia utilizado pela própria ALTERVIDA. Embora


apresente uma contabilidade em separado, a sua movimentação
financeira é legalmente interna à ALTERVIDA e não pode dela
ser juridicamente separada.

Assim, a tarefa de entender e avaliar a viabilidade


econômica do CAS termina por se confundir com o manejo de
recursos da ALTERVIDA – legítima figura jurídica
proprietária do CAS. Como este diagnóstico não se propõe –
e nem pode se propor – a fazer uma auditoria das contas da
ALTERVIDA, torna-se impossível discernir as aplicações
financeiras efetivamente destinadas ao CAS daquelas que são
operacionalmente voltadas para as demais atividades da
ALTERVIDA. Em outras palavras, não existe uma contabilidade
legalmente independente do CAS, porque NÃO existe um CAS
como pessoa jurídica. Tampouco existe um processo ou
planejamento que permita entender quando e como o CAS irá
se transformar um uma pessoa jurídica independente da
ALTERVIDA.

Assim, nessas linhas iniciais buscou-se dirimir dúvidas em


relação a duas questões que deverão nortear o restante das
análises que se seguirão:

a) O cooperativismo está fora de questão: o objetivo do


projeto PROCICLA é o lucro privado;
b) O CAS não existe juridicamente, senão como apêndice
operacional da ALTERVIDA. Isso significa que –
embora sejam apresentadas contas específicas como
representativas do CAS – não existe contabilidade
legal individualizada e independente. O princípio e
o fim dos procedimentos legais e financeiros estão
na ALTERVIDA e não no CAS.

Diante desse aparente paradoxo – uma vez que o Procicla é


apresentado como “criador de riqueza de sensível impacto na
sociedade na qual se desenvolve”4, cabe perguntar para quem
será criada essa riqueza, e de que forma ela será alocada.

Para superar este impasse – cuja motivação parece evidente


– neste diagnóstico apenas trataremos o CAS como unidade
produtiva, procurando entender a sua inserção na atividade
de catação e reciclagem de materiais. Ademais, serão
genericamente chamados de “catadores” todos as pessoas
dedicadas a atividades de catação, separação, prensagem,
compra e venda de materiais recicláveis que não sejam
profissionalmente ocupadas em tarefas administrativas e de
direção. Esta observação se faz necessária, pois no CAS

4
Op Cit p. 4

9
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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nenhum catador tem qualquer função no processo decisório e


administrativo. São apenas empregados, pagos por trabalho
semanal dispendido, sem relação funcional estável e sem
qualquer participação nos resultados da produção.

Com o objetivo de nortear esta análise, optou-se por


destacar três óticas distintas:

I) A Ótica do CAS CENTRAL. Nessa ótica, o CAS será


analisado como Central de aquisições, processamento e
revenda de materiais recicláveis procedentes de três
tipos de fornecedores: os carrinheiros que recolhem o
que foi possível obter até hoje na forma de “coleta
seletiva” em ruas e bairros escolhidos de Assunção; os
catadores ligados à coletas de Grandes Geradores; e os
catadores que recolhem o material que chega ao
“Vertedero” – onde caminhões despejam o lixo urbano
recolhido e destinado ao aterro sanitário municipal.
Nessa ótica, o CAS será temporariamente entendido como
entidade autônoma (o que, já foi dito, não é) atuando
como interface entre grupos de catadores e a indústria.
A intermediação será analisada de forma a explicitar as
fontes de valorização e lucros obtidos a partir da
centralização de materiais recicláveis. Esta ótica
permite entender a origem e dimensão dos excedentes
apropriados na Central;

II) A Ótica dos Catadores. Nessa ótica avaliaremos cada um


dos “fornecedores” como unidades autônomas de catação --
submetidos a uma lógica de subordinação que os mantém
presos a um círculo vicioso -- sem perspectivas de
vantagens financeiras, ou progressão social. Esta ótica
permite avaliar a situação específica de cada tipo de
“fornecedor”;

III) A Ótica do SISTEMA CAS. Nessa ótica todo o processo de


catação ligado direta ou indiretamente ao CAS será
analisado em conjunto, como um sistema interligado. É
também a ótica que permitirá visualizar a canalização
dos recursos financeiros obtidos a partir da catação
de materiais recicláveis e sua destinação à ALTERVIDA
sob título de “amortização da dívida”. Aqui, novamente
será necessário retornar à realidade, na qual o CAS
não é pessoa jurídica independente da ALTERVIDA,
havendo sobreposição de contabilidade.

A FIGURA 2.1 na página seguinte será sequencialmente


utilizada como referência e sumariza essas três óticas.

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RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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FIGURA 2.1 - ORGANOGRAMA DO PROCICLA/ALTERVIDA: CAS CENTRAL, FORNECEDORES E SISTEMA CAS

11
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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3 ANÁLISE SOCIOECONOMICA DOS BENEFICIÁRIOS E MODELOS DE


DISTRIBUIÇÃO DE RENDA

Um dos objetivos gerais que deram origem ao surgimento dos


modelos cooperativados é o de possibilitar o aumento e a
melhora na forma de distribuição da renda obtida com a
catação e comercialização de resíduos entre os cooperados
de forma mais justa. Mas, como exposto acima, o Projeto
PROCICLA não possui beneficiários, pois os que ali
trabalham o fazem por serem meros empregados do CAS. Na
verdade, do ponto de vista da operação, a estrutura
organizacional hoje posta é de uma administração
centralizada do CAS, exercida pela ALTERVIDA/GEAM, onde
todos os resultados são remetidos a ALTERVIDA para
pagamento da divida como BID. O CAS, assim, age como um
intermediário clássico de material reciclável.

Não há qualquer ingerência dos catadores no processo. No


caso dos catadores das carroças das ruas e dos que
trabalham no CAS, são contratados da organização, isto é,
são empregados. Já no caso dos catadores do aterro, estes
são fornecedores do projeto, que inclusive tem margens
muito pequenas quando dessas vendas, como já explicitado
anteriormente.

Por tudo que foi exposto, não há que se falar em modelos de


distribuição de renda, na medida em que não existem
beneficiários no projeto, não havendo qualquer critério de
distribuição de renda, na medida em que os catadores ou são
fornecedores ou são empregados.

Não houve informações sobre qualquer intenção ou plano de


se formar uma organização auto-gestionaria dos catadores,
seja ela cooperativa, associação ou ainda empresa social
conforme descrito no projeto. O que existe é apenas o CAS
(que não tem personalidade jurídica) sendo um mero braço da
organização ALTERVIDA.

12
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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4 ANÁLISE DA PRODUÇÃO, COMERCIALIAZAÇÂO E EFICIENCIAS DO


CAS

As análises abaixo descritas foram norteadas pelas três


óticas – do CAS como uma CENTRAL, dos CATADORES e por fim
do SISTEMA CAS - apresentadas e explicadas conforme exposto
no capítulo dois desse relatório.

4.1 A ÓTICA DO CAS CENTRAL

4.1.1 Preços de compras e preços de vendas de materiais


recicláveis

Como afirmado anteriormente, esta ótica permite entender o


CAS como uma Central, comprando de catadores e vendendo a
indústrias. No processo, é apropriada a valorização
referente à diferença de preços entre compra e venda.

Na tabela 4.1 são apresentados esses valores. Os níveis de


agregação são os resultantes dos dados apresentados pela
ALTERVIDA como resposta ao instrumento de pesquisa direta.

Comparando os valores em Guaranis, observa-se que o lucro


bruto médio ponderado é de 90%, variando de um mínimo de
61% na compra, processamento e comercialização do PET Óleo
até 287% na reciclagem de garrafas.

TABELA 4.1 - COMPARATIVO DE PREÇOS DE COMPRA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS


DE CATADORES E VENDAS À INDÚSTRIA – AGOSTO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

A FIGURA 4.1 expressa esses diferenciais de preços em um


gráfico de percentuais, onde é possível avaliar essas
disparidades em base comum:

13
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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FIGURA 4.1 - COMPARATIVO DE PREÇOS DE COMPRA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS


DE CATADORES E VENDAS À INDÚSTRIA – AGOSTO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

Entretanto, os montantes absolutos só podem ser avaliados


quando somos apresentados aos dados constantes da tabela
4.2, que explicita os valores de custos de materiais
recicláveis adquiridos de catadores; as receitas brutas e
líquidas do CAS CENTRAL; e as mesmas taxas de lucros brutos
obtidas anteriormente. Os dados monetários expressos em
Guaranis foram também convertidos para Reais pelo câmbio
dos dias da visita: R$1,00 = Gs 2.550,00.

A FIGURA 4.2, apresenta esses mesmos dados na forma de


gráfico de barras.

14
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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TABELA 4.2 - MATERIAL ADQUIRIDO PELO CAS CENTRAL E LUCROS NA COMERCIALIZAÇÃO – AGOSTO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

15
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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FIGURA 4.2 - MATERIAL ADQUIRIDO PELO CAS CENTRAL E LUCROS NA COMERCIALIZAÇÃO – AGOSTO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

16
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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4.1.2 PROCEDÊNCIA DOS MATERIAIS RECICLÁVEIS ADQUIRIDOS PELO


CAS CENTRAL

Após haver sido tornado claro que o CAS era antes de mais
nada uma central de aquisição, processamento e venda de
materiais recicláveis, tornou-se indispensável obter
informações quanto à procedência desses materiais. Não apenas
essas informações não constavam dos questionários
(organizados para servirem de instrumentos de pesquisa
diretas sobre cooperativas de catadores que coletam eles
mesmos os materiais...) como logo ficou claro que o próprio
pessoal técnico do CAS não dispunha de informações que fossem
perfeitamente compatíveis com os dados anteriormente
fornecidos no questionário.

A alternativa metodológica adotada foi efetuar o levantamento


das procedências de materiais recicláveis nas quatro semanas
imediatamente prévias às datas da visita a Assunção (de
meados de Julho a meados de Agosto de 2007), utilizando os
percentuais relativos como ponderadores para aplicação sobre
os dados dos questionários. Dessa forma foram obtidas as
estimativas sobre as procedências dos materiais recicláveis
do CAS, como central de aquisição.

TABELA 4.3 - PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS SEGUNDO ORIGEM – DADOS


PARA 4 SEMANAS – JUL/AGO 2007 - KG

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

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RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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As tabelas 4.3 e 4.4 reúnem os dados agregados referentes às


procedências dos materiais recicláveis nas quatro semanas a
que nos referimos, e seus respectivos percentuais.

TABELA 4.4 - PERCENTUAIS DA PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS SEGUNDO


ORIGEM – DADOS PARA 4 SEMANAS – JUL/AGO 2007 - %

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

A partir desses dados foi possível obter as estimativas


descritas na tabela 4.5, com as totalizações originárias dos
questionários. Notar que – a partir dos dados sobre as
procedências dos materiais recicláveis – tornou-se possível
passar a tratar de 12 grupos de materiais, ao invés dos 8
grupos anteriormente apresentados.

Adicionalmente, a disparidade encontrada entre as tabelas 4.3


e 4.5 é de cerca de 4% para menos, plenamente justificada
pela comparação de totais de 28 dias com totais de 30 dias.
Assim, os percentuais foram considerados robustos o
suficiente para gerar estimativas com alto nível de
confiabilidade estatística.

A tabela 4.6 sumariza os dados estimados para os 12 grupos de


materiais recicláveis, além de seus preços de compra e venda
por parte do CAS CENTRAL.

18
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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TABELA 4.5 - ESTIMATIVA DA PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS SEGUNDO


ORIGEM – AGO 2007 – KG/MES

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

TABELA 4.6 - ESTIMATIVA DOS PREÇOS MÉDIOS E PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS


RECICLÁVEIS – AGO 2007 – KG/MÊS E GS

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

As tabelas 4.7 e 4.8 apresentam os valores agregados pagos a


fornecedores pelo CAS Central, em Guaranis e em Reais:

19
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
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TABELA 4.7 - ESTIMATIVA MENSAL DE VALORES PAGOS A FORNECEDORES GS –


AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

TABELA 4.8 - ESTIMATIVA MENSAL DE VALORES PAGOS A FORNECEDORES R$ -


AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

20
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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As tabelas 4.9 e 4.10 apresentam as receitas brutas do CAS


Central após as vendas dos materiais recicláveis processados,
em Guaranis e Reais, respectivamente:

TABELA 4.9 - RECEITA BRUTA DO CAS CENTRAL – ESTIMATIVA MENSAL GS – AGOSTO


DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe – PANGEA

TABELA 4.10 - RECEITA BRUTA DO CAS CENTRAL – ESTIMATIVA MENSAL R$ –


AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

21
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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São apresentadas as estimativas das receitas líquidas do CAS


Central nas tabelas 4.11 e 4.12, em Guaranis e Reais,
respectivamente:

TABELA 4.11 - RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL – ESTIMATIVA MENSAL – GS –


AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

TABELA 4.12 - RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL – ESTIMATIVA MENSAL – R$-


AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

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RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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Com o objetivo de calcular os rendimentos gerados por cada


grupo de materiais procedentes de cada fornecedor, são
apresentados os resultados sumarizados para o CAS Central nas
tabelas 4.13 e 4.14, em Guaranis e Reais, respectivamente:

TABELA 4.13 - SUMÁRIO DO CAS CENTRAL – ESTIMATIVA MENSAL (GS) AGOSTO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

TABELA 4.14 - SUMÁRIO DO CAS CENTRAL – ESTIMATIVA MENSAL (R$) AGOSTO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

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RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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4.1.3 As receitas líquidas e os lucros brutos do cas


central

A figura 4.3 permite a expressão visual da valorização de


materiais no CAS Central, a partir dos recicláveis
provenientes de cada tipo de fornecedor. Observa-se que –
longe de ser marginal, o CAS Central age como intermediário
entre os catadores e a indústria, concentrando materiais e
recursos e apropriando os excedentes de forma privada. Não há
efeito redistributivo dos valores assim amealhados.

Nesse sentido, não há diferenças significativas entre as


atividades do CAS Central e os atravessadores tipicamente
encontrados nesses mercados – senão pela organização e
capacitação de seus gerentes e dirigentes.

FIGURA 4.3 - COMPARATIVO DE VALORES PAGOS NA COMPRA DE MATERIAIS


RECICLÁVEIS DE CATADORES E RECEITAS LÍQUIDAS – CAS CENTRAL – AGOSTO DE
2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

As figuras 4.4 e 4.5 apresentam os comparativos por


gravimetria e das receitas dos catadores que fornecem os

24
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
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materiais recicláveis ao CAS Central, através de suas vendas


a preços aviltados. Notar que os catadores ocupados junto aos
grandes geradores e os carrinheiros que operam os resultados
da coleta seletiva são responsáveis por cerca de 24% do
volume gravimétrico e recebem apenas 19% do que é gasto em
compra de materiais recicláveis pelo CAS Central.

FIGURA 4.4 - COMPARATIVO PERCENTUAL DA GRAVIMETRIA DA PRODUÇÃO FÍSICA DOS


CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – KG/MÊS
– AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

FIGURA 4.5 - COMPARATIVO PERCENTUAL DAS RECEITAS BRUTAS DOS CATADORES QUE
FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – KG/MÊS – AGOSTO DE
2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

25
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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É fácil depreender que o grosso do volume físico (76%) e do


valor pago pelo CAS Central (81%) provém, em sua maioria, dos
catadores do Vertedero, embora outros catadores eventualmente
também ofereçam materiais de forma menos sistemática. Para os
efeitos deste diagnóstico chamaremos de “Catadores do
Vertedero” ao conjunto de catadores de baixo nível de
organização que utilizam o Vertedero do Aterro Sanitário de
Assunção como fonte principal da catação de materiais
recicláveis. Como observado no Plano de Negócios do CAS,
esses catadores “são pessoas de alta necessidade (pobreza) e
vendem [os materiais] por qualquer dinheiro”5.

Assim, os altíssimos níveis de lucratividade do CAS –


entendido aqui como uma Central de intermediação e de
apropriação privada de excedentes – não devem surpreender. O
mesmo Plano de Negócios afirma que “o rendimento [...] do
mesmo é muito superior ao de qualquer outra oportunidade de
aplicação financeira”6.

A tabela 4.15 apresenta as estimativas de taxas de lucros

TABELA 4.15 - LUCRO BRUTO DO CAS CENTRAL - % - ESTIMATIVA MENSAL POR


MATERIAL E FORNECEDOR – AGOSTO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

5
Op.Cit. p.7. “Alta necesidad (pobreza) de su gente venden al que le da la plata” – Nossa tradução.
6
Op.Cit. p.3. Nossa tradução.

26
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
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brutos mensais por grupos de materiais recicláveis e por tipo


de catadores-fornecedores, além dos lucros brutos médios em
cada categoria.

Observa-se que, de longe, os catadores-carrinheiros são os


mais explorados (152% de lucros brutos médios), pois dependem
de forma mais intensa de seu único comprador – o CAS – também
proprietário dos carrinhos por eles utilizados.

Porém mesmo os demais grupos de catadores geram excedentes


consideráveis: 78% para os catadores que operam junto aos
grandes geradores; e cerca de 82% para os catadores do
Vertedero. A figura 3.6 destaca esses valores:

FIGURA 4.6 - LUCRO BRUTO DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS(%)-


AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

Com base nos doze grupos de materiais que estamos analisando,


pode-se agora estimar as médias ponderadas de lucratividades
brutas por tipo de materiais recicláveis, do ponto de vista
do CAS Central, como comprador e vendedor. A tabela 3.16
resume esses valores, e a figura 3.7 os representa em suas
grandezas percentuais respectivas:

27
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
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TABELA 4.16 - LUCRO BRUTO DO CAS CENTRAL - % - ESTIMATIVA MENSAL POR TIPO
DE MATERIAL RECICLÁVEL – AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

FIGURA 4.7 - LUCROS BRUTOS DO CAS CENTRAL POR GRUPOS DE MATERIAIS


RECICLÁVEIS(%)- AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

28
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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Torna-se, aqui, interessante analisar mais detalhadamente as


procedências e a natureza das receitas líquidas do CAS
Central, de forma a explicitar suas origens e proporções
relativas.

Retornemos, por um instante, à estimativa da procedência dos


materiais recicláveis do CAS Central, mas agora sob o ponto
de vista dos percentuais da gravimetria de cada tipo de
material e cada tipo de catador-fornecedor. Essas
porcentagens estão calculadas na tabela 4.17.

TABELA 4.17 - ESTIMATIVA DA PROCEDÊNCIA DOS MATERIAIS RECICLÁVEIS DO CAS


CENTRAL - % DA GRAVIMETRIA – AGO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

A figura 4.8 na página seguinte ilustra os valores desta


tabela de difícil visualização:

29
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
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FIGURA 4.8 - PROCEDÊNCIA DOS MATERIAIS RECICLÁVEIS DO CAS CENTRAL - % DA GRAVIMETRIA – AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

30
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
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A partir dos dados da tabela 4.17 torna-se possível analisar


as receitas líquidas do CAS Central do ponto de vista da
composição dos diversos grupos de materiais e de suas
procedências. Esses valores estão expressos na tabela 4.18:

TABELA 4.18 - RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL - % - ESTIMATIVA MENSAL POR


TIPO DE FORNECEDOR – AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

Nas páginas seguintes, as figuras 4.9, 4.10, e 4.11, exibem


os percentuais das receitas líquidas do CAS originadas de
cada fração de catadores.

Observa-se que os carrinheiros são os únicos a catar


quantidades significativas de garrafas de vidro e de bolsas
de ráfia – através da coleta seletiva. Como seria de se
esperar, a contribuição distintiva dos grandes geradores para
a receita líquida do CAS é proveniente do papelão e do vidro,
embora componham uma parte própria significativa de
PET/Plásticos. Este material, entretanto é o carro-chefe dos
catadores do Vertedero, e – como veremos a seguir – é o
principal elemento componente das receitas líquidas (e do
lucro bruto) do CAS Central.

31
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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FIGURA 4.9 - RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS


- CARRINHEIROS(%)- AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

FIGURA 4.10 - RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS


– GRANDES GERADORES(%)- AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

32
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
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FIGURA 4.11 - RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS


– CATADORES DO VERTEDORO E OUTROS CATADORES(%)

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

As percentagens das médias ponderadas das receitas líquidas


provenientes da intermediação executada pelo CAS em cada um
dos grupos de materiais recicláveis são apresentadas na
tabela 4.12. Mais de um terço da receita líquida – no
conjunto dos catadores-fornecedores – é proveniente da
comercialização de PET/Plásticos (35%). Mais de um quarto da
receita líquida provém da comercialização de metais (26%).
Polietileno e PET Óleo são responsáveis por outros 21% da
receita líquida, enquanto papéis e papelão respondem por
apenas 5% dessa receita. Garrafas e bolsas -- provenientes
principalmente da coleta seletiva – são responsáveis por 12%,
em boa parte pelo alto nível de exploração dos diferenciais
de preços sobre os carrinheiros.

33
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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FIGURA 4.12 - RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS


– MÉDIA PONDERADA (%)

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

Pode-se agora explicitar as origens das receitas líquidas do


CAS Central, por tipo de material reciclável e por catador-
fornecedor, de forma que sua totalização resulte em 100% da
receita líquida. Esses dados constam da tabela 4.19, a
seguir:

34
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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TABELA 4.19 - ORIGENS DAS RECEITAS LÍQUIDAS DO CAS CENTRAL - ESTIMATIVA


POR TIPO DE FORNECEDOR E GRUPO DE MATERIAL RECICLÁVEL - % - AGOSTO DE
2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

A figura 4.13, na página seguinte, mostra a segmentação das


receitas líquidas do CAS Central, por grupos de materiais e
por procedência, em termos percentuais aditivos a 100%. É
assim possível traçar o significado das parcelas de
excedentes extraídas do processo de intermediação e
subordinação exercido pelo CAS Central sobre os três
segmentos de catadores.

35
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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FIGURA 4.13 - ORIGENS DAS RECEITAS LÍQUIDAS DO CAS CENTRAL(%)- AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

36
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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4.1.4 Eficiência física e eficiência econômica do CAS


CENTRAL

Em particular, devido à sua posição centralizadora na compra,


processamento e revenda de materiais recicláveis – jogando o
efetivo papel de atravessador nesse mercado – o CAS Central,
à primeira vista, exibe impressionantes níveis de eficiências
físicas e econômicas.

Por um lado, a entrada em operação de uma unidade organizada


inserida entre os catadores e a indústria, colabora com a
petrificação dos diferenciais de preços entre os materiais
recolhidos pelos catadores e vendidos ao CAS, e os materiais
processados vendidos pelo CAS à indústria.

Nesse sentido, a existência do CAS expande e perpetua esses


diferenciais, contribuindo ativamente para perpetuar as
condições de exclusão social dos efetivos catadores de
materiais recicláveis de Assunção. Assim, o CAS Central
assume o seu papel de atravessador dos atravessadores, por
demonstrar invejável capacidade de atuação na extração de
lucros nessa atividade, ao mesmo tempo em que mantém uma
retórica de integração social7. Esse discurso esvazia-se na
medida em que se constata que no CAS – e ao seu redor – os
catadores não são protagonistas em nenhum sentido. São, isto
sim, descartáveis, na medida em que deixem de cumprir os seus
papéis dentro da lógica de valorização privada de capitais
aplicados na reciclagem de materiais.

Por outro lado, o fato do CAS Central não gerar materiais


recicláveis de maneira autônoma, faz com que os custos de
aquisição sejam deduzidos de suas receitas brutas8. Os
valores das receitas líquidas são aqueles sobre os quais a
eficiência econômica deve ser inicialmente avaliada.

7
O mesmo Plano de Negócios do CAS afirma “o alto impacto social em um meio com pouco
desenvolvimento real. Assim pode-se concluir que além de rentável, é sustentável, criador de riqueza de
sensível impacto na sociedade na qual se desenvolve” – Op.cit. p. 4. Basta lembrar que – ao contrário da
maioria das cooperativas de catadores de materiais recicláveis existentes no Brasil, os catadores-vendedores
nada recebem além dos preços aviltados pelos materiais comprados pelo CAS. Nem sequer os quarentas
catadores do próprio CAS têm direito a refeições diárias gratuitas em seu local de trabalho (!).
8
É curioso que – por seu discreto distanciamento do coletivo dos catadores – o CAS tenha que dispender
recursos financeiros para remunerar os catadores ligados tanto aos grandes geradores quanto à coleta seletiva
executada por carrinheiros, aos quais fornecem os carrinhos, e dos quase são os únicos e cativos compradores.
Esse dispêndio, acaba por excluir os catadores de quaisquer participações sobre os lucros da atividade, porém
exige que esses dispêndios sejam deduzidos da receita bruta.

37
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
FUNDAÇÃO AVINA

A tabela 4.20 exibe as eficiências do CAS – na ótica de


central compradora e revendedora de materiais recicláveis –
tanto para valores de suas receitas brutas, como para valores
de suas receitas líquidas:

TABELA 4.20 - EFICIÊNCIAS FÍSICA E ECONÔMICA DO CAS CENTRAL – VALORES


BRUTOS E LÍQUIDOS DAS RECEITAS - AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

Como os catadores ocupados no CAS Central são apenas 40,


tanto a produtividade física como a produtividade econômica
são espantosas, por serem resultados per capita! Em valores
brutos resultam em eficiências superiores à mais eficiente
dentre todas as vinte cooperativas amostradas na Brasil em
outro trabalho executado pelo PANGEA9. Mesmo em valores de
suas receitas líquidas, suas eficiências são superiores às
demais dezenove cooperativas amostradas no mesmo trabalho,
sendo ultrapassada apenas pela mais produtiva e eficiente das
cooperativas brasileiras de catadores de materiais
recicláveis. Mas – como argumentaremos mais tarde – esses
valores são ilusórios, e obtidos por prestidigitação e
ocultação dos sujeitos ativos no processo de catação, que
acabam sendo, um tanto ardilosamente, retirados do
denominador dos cálculos de eficiência per capita...

Retornaremos ao assunto quando da apresentação da ótica do


SISTEMA CAS10.

Passemos agora à breve discussão da Ótica dos Catadores.

9
Favor consultar Damásio, J. “ANÁLISE DO CUSTO DE GERAÇÃO DE POSTOS DE TRABALHO NA ECONOMIA
URBANA PARA O SEGMENTO DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS” – PANGEA 2006 – no prelo.
10
Expressão cunhada para evitar que seja tomada pelo Projeto Procicla, objeto interno `a ALTERVIDA.

38
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
FUNDAÇÃO AVINA

4.2 A ÓTICA DOS CATADORES

Nessa ótica avaliaremos cada um dos “fornecedores” como se


fossem unidades autônomas de catação. Esta ótica permite
avaliar a situação específica de cada tipo de “fornecedor”
com instâncias de articulação relativamente autônomas e
diferenciadas – embora com o vínculo comum de estarem
condicionados aos preços de compra oferecidos pelo CAS. Essa
vinculação acaba por submetê-los a uma lógica de subordinação
que os mantém presos a um círculo vicioso -- sem perspectivas
de vantagens financeiras, ou progressão social.

4.2.1 As receitas dos catadores de materiais recicláveis

Com essa perspectiva de observação, o que é custo para o CAS,


é entendido como receita pelos catadores de cada uma dessas
instâncias.

As tabelas 4.21 e 4.22 apresentam, respectivamente os valores


das receitas mensais dos catadores que fornecem materiais
recicláveis ao CAS, e as proporções nas quais cada grupo de
materiais contribui com suas receitas.

TABELA 4.21 - RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS


RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – R$ - AGOSTO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

39
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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TABELA 4.22 - COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE FORNECEM
MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL –(%)- AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

4.2.1.1 Carrinheiros

Os aqui chamados de “carrinheiros” compõem um grupo de apenas


onze pessoas, literalmente “recrutadas” pelo CAS para operar
um sistema de coleta seletiva, ainda pouco eficiente,
parcialmente implementado a partir de 13 bairros da cidade de
Assunção. Nesta primeira etapa, em etapa piloto, o CAS
trabalha em seis bairros, que são: Recoleta; Mcal.
Estigarribia; Tembetary; Villa Morra; Los Laureles e San
Cristóbal11. Embora dependam crucialmente do CAS, pelo
fornecimento dos carrinhos e, por isso mesmo, pela compra dos
materiais coletados, esses carrinheiros não são considerados
funcionários do CAS, e não têm qualquer vantagem adicional.

As figuras 4.14 e 4.15 apresentam, respectivamente, as


estimativas percentuais das composições físicas e das
receitas mensais dos catadores carrinheiros que fornecem
materiais recicláveis para o CAS:

11
Op.cit. p.3

40
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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FIGURA 4.14 - ESTIMATIVA PERCENTUAL DA COMPOSIÇÃO DA PRODUÇÃO FÍSICA DOS


CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL –
CARRINHEIROS (%)- AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

FIGURA 4.15 - COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE FORNECEM
MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – CARRINHEIROS (%)- AGOSTO DE
2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

4.2.1.2 Os catadores nos grandes geradores

Apesar da gerência do CAS haver declarado que recebem


materiais recicláveis de onze “grandes geradores”, apenas

41
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
FUNDAÇÃO AVINA

sete deles constam das relações de materiais efetivamente


processados pela unidade: o Shopping; a Unilever; a Polpar; a
Mimbi; a Abasto; a Coyote; e a Comico. Oito catadores estão
ligados permanentemente às atividades de catação dos
materiais desses grandes geradores e são remunerados de
acordo com o volume de material recolhido.

Pela própria natureza de sua operação,são de fato


funcionalmente atrelados à existência do CAS. Porém, não
mantém com o CAS qualquer vínculo de natureza empregatícia,
nem auferem quaisquer outras vantagens adicionais. Por essa
especificidade, dependem da natureza e dos volumes dos
materiais recicláveis recolhidos a partir dos grandes
geradores. Por esse fato, podem ser, com essas
especificidades, diferenciados como grupo de catadores com
funções peculiares.

As figuras 4.16 e 4.17 apresentam, respectivamente, as


estimativas percentuais das composições físicas e das
receitas mensais dos catadores ligados ao recolhimento nos
grandes geradores que fornecem materiais recicláveis para o
CAS:

FIGURA 4.16 - ESTIMATIVA PERCENTUAL DA COMPOSIÇÃO DA PRODUÇÃO FÍSICA DOS


CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – GRANDES
GERADORES (%)- AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

42
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
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FIGURA 4.17 - COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE FORNECEM
MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – CATADORES NOS GRANDES
GERADORES (%)- AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

4.2.1.3 Catadores do vertedero e outros catadores

Nesta denominação encontram-se 95 catadores de materiais


recicláveis que recolhem os seus materiais principalmente no
Vertedero da Cateúra. Esses catadores foram selecionados
dentre um universo que é situado entre 500 e 600 pessoas que
atuam no Vertedero e seus arredores. É relatado que na época
da inauguração do CAS, até 400 catadores buscaram
cadastramento para vender materiais. Diante de uma forte
oferta – muito superior à capacidade de processamento hoje
instalada no CAS – foram selecionados os atuais 95 catadores.

Não existe qualquer tipo de estabilidade ou de compromisso


entre o CAS e os catadores, que são tratados individualmente,
independentemente do fato de serem ligados ou filiados a
alguma associação ou cooperativa de catadores. Assim, o fato
de reputadamente existirem cinco associações / cooperativas

43
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
FUNDAÇÃO AVINA

de catadores, as relações se dão ao nível pessoal, e jamais


ao nível institucional12.

Como nenhuma das associações / cooperativas ligadas à coleta


no vertedouro ou imediações possui qualquer espaço físico
próprio ou equipamento, a venda direta à indústria é difícil,
senão impossível. Os catadores que atuam nessas condições não
são obrigatoriamente atrelados ao CAS, já que – pelo menos em
tese – podem optar por vender os seus materiais recicláveis a
outros atravessadores. Porém, o CAS utiliza a sua proximidade
física ao Vertedero da Cateúra como diferencial locacional,
oferecendo vantagens de acesso e beneficiando-se de vantagens
preferenciais: os catadores que têm os seus produtos
comprados pelo CAS julgam-se favorecidos e recompensados...

Assim, esses 95 catadores acabam por permanecer relativamente


incorporados à lógica de funcionamento do CAS, que,
entretanto, não guarda com eles qualquer compromisso formal
de compra em volumes ou prazos determinados.

As figuras 4.18 e 4.19 apresentam, respectivamente, as


estimativas percentuais das composições físicas e das
receitas mensais dos catadores ligados ao recolhimento de
materiais recicláveis no Vertedero da Cateúra – ou seus
arredores – e que são fornecedores do CAS:

12
Entre as associações identificadas, encontram-se a COSIGAPAR (Comité sindical de ganchero particular );
a ASOTRAVERMU (Asociación de Trabajadores de Vertedero Municipal) e a ASOGAPAR (Asociación de
Ganchero Particular ). É alegado que, embora trabalhem todas em mesmos lugares, com horários semelhantes,
o que as distingue seria o acesso a determinados caminhões de coleta de lixo urbano e/ou suburbano.

44
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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FIGURA 4.18 - ESTIMATIVA PERCENTUAL DA COMPOSIÇÃO DA PRODUÇÃO FÍSICA DOS


CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL –
CATADORES DO VERTEDERO E OUTROS CATADORES (%)

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

FIGURA 4.19 - COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE FORNECEM
MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – CATADORES DO VERTEDERO E
OUTROS CATADORES (%)

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

45
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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4.2.1.4 Carrinheiros, grandes geradores e catadores do


vertedero: médias ponderadas

Agora é possível – na ótica dos catadores de materiais


recicláveis – calcular as médias ponderadas para a composição
das receitas mensais dos catadores que vendem para o CAS. A
figura 4.20 descreve essa composição:

FIGURA 4.20 - COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE FORNECEM
MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – MÉDIA PONDERADA DOS TRÊS
GRUPOS DE CATADORES (%)

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

4.2.2 Eficiência física e eficiência econômica dos três


grupos de catadores

A partir dos dados de produção física e de receitas auferidas


calculados e apresentados nas seções anteriores, torna-se
possível estimar as eficiências físicas e econômicas de cada
um dos três grupos de catadores-fornecedores do CAS.

46
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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A tabela 4.23 apresenta esses resultados:

TABELA 4.23 - EFICIÊNCIAS FÍSICA E ECONÔMICA DOS TRÊS GRUPOS DE CATADORES


– CARRINHEIROS, GRANDES GERADORES E VERTEDERO - AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

Desta tabela, pode-se concluir, sem surpresa, que todos os


três grupos de catadores apresentam baixíssimas eficiências
econômicas – embora tenham médias eficiências físicas. Salta
aos olhos o fato que poderiam apresentar melhores eficiências
econômicas caso apresentassem melhores eficiências de
mercado13.

Porém, suas eficiências econômicas são baixíssimas pelas


mesmas razões que as eficiências econômicas do CAS Central
(apresentadas na seção anterior) são altíssimas! Uma
conclusão NÃO É independente da outra, uma vez que uma causa
a outra, ao mesmo tempo em que é conseqüência da outra.

Em outras palavras: as eficiências econômicas dos três grupos


de catadores são baixas para permitir que a eficiência
econômica do CAS seja alta: um aumento na eficiência
econômica de qualquer desses três grupos, inevitavelmente
implicaria em uma redução da eficiência econômica do CAS!

Esta constatação apenas ressalta o artificialismo utilizado


nas duas óticas anteriormente apresentadas: nem o CAS CENTRAL
é independente dos grupos de catadores; nem esses catadores
podem ser vistos como independentes do CAS CENTRAL. Suas
eficiências físicas e econômicas são atreladas de forma
inextrincável, e a oposição de seus comportamentos apenas

13
Observe-se que os cálculos das respectivas eficiências de mercado – nesse caso – resultariam em
tautológico raciocínio circular, uma vez que a estrutura do CAS mantém esses três grupos de catadores
atrelados a preços vis para a compra de seus materiais recicláveis.

47
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
FUNDAÇÃO AVINA

evidencia a natureza exploratória da atividade do CAS. Ao


privatizar os benefícios do processamento e venda dos
materiais recicláveis, e ao contribuir para ossificar a
distribuição muito desigual dos rendimentos dessa atividade,
o CAS só poderá ser inteiramente apreciado se tomarmos o
conjunto das atividades de catadores-fornecedores-
processamento-venda à indústria como um todo consistente.
Isto significa a conceituação do SISTEMA CAS, que passamos a
discutir brevemente na seção seguinte.

4.3 A ÓTICA DO SISTEMA CAS.

Nessa ótica todo o processo de catação ligado direta ou


indiretamente ao CAS será analisado em conjunto, como um
sistema interligado, o “SISTEMA CAS”. Assim, as eficiências
físicas e econômicas serão calculadas de forma conjunta –
aliás como ocorreria se a opção institucional de organização
jurídica fosse a cooperada.

Esta também é a ótica que permitirá visualizar a canalização


dos recursos financeiros obtidos a partir da catação de
materiais recicláveis e sua destinação à ALTERVIDA sob título
de “amortização da dívida”. Aqui, novamente será necessário
retornar à realidade, na qual o CAS sequer é pessoa jurídica
independente da ALTERVIDA, havendo sobreposição de
contabilidade.

4.3.1 A natureza do “sistema cas”

O SISTEMA CAS é composto por um total de 154 catadores –


segregados em quatro grupos diferentes:

• 40 catadores ocupados no CAS Central;


• 11 catadores-carrinheiros atrelados à coleta seletiva;
• 08 catadores atrelados aos grandes geradores; e
• 95 catadores selecionados no Vertedero e arredores.

Qualquer análise que deixe de considerar esse complexo de


instâncias articuladas, será incapaz de capturar o conjunto
do processo de trabalho humano que é capaz de recolher,

48
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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processar e comercializar 127.135 Kg de materiais recicláveis


mensalmente, ao valor agregado de R$ 53.359,22.

Fracionar a análise, sem dúvida esclarece as partes e


componentes, mas deixar de compreender a sua totalidade, além
de contribuir para fraudar e obscurecer a natureza do
processo em sua dinâmica, e em suas partes constitutivas.

Assim procedendo, os custos de aquisições de materiais


embutem-se – pela consideração das produtividades físicas e
econômicas do conjunto dos trabalhadores envolvidos direta e
indiretamente nas atividades do CAS. Como conseqüência, a
receita líquida do CAS – tão importante para o cálculo da
rentabilidade e dos lucros brutos do empreendimento – precisa
ser substituída pela receita bruta, nos cálculos das
eficiências econômicas do SISTEMA CAS.

4.3.2 Eficiência física e eficiência econômica do sistema


CAS

Antes que possamos apresentar os resultados dos cálculos das


eficiências física e econômica do SISTEMA CAS, é necessário
fazer uma observação:

Com respeito à eficiência econômica: uma coisa é calculá-la


considerando a valoração per capita bruta, sem penalizá-la
com encargos e amortizações. Outra coisa é introduzir uma
dedução compulsória sobre todo o valor da produção bruta, a
título de amortização da dívida contraída com o BID.

Somos informados que no momento um montante equivalente a US$


800 semanais14 são transferidos à ALTERVIDA a título de
amortização dessa dívida. Na prática – diante da inexistência
de figura jurídica de um CAS independente da ALTERVIDA – isto
significa apenas transferência interna de caixa dentro da
própria empresa. Mas este fato, obviamente, influencia nos
valores economicamente disponíveis para os cálculos da
eficiência econômica.

Para evitar dúvidas e ambigüidades, optou-se por apresentar


ambos os cálculos: a) no primeiro caso, a eficiência

14
Algo como US$ 3.200 mensais, ou, ao câmbio da época, uns R$ 6.400,00 por mês.

49
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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econômica foi calculada a partir do SISTEMA CAS conjunto, a


partir dos valores brutos da produção, sem qualquer dedução15;
b) no segundo caso, a eficiência econômica foi calculada a
partir dos valores brutos da produção, deduzidos dos R$
6.400,00 mensais, retirados a título de amortização da dívida
contraída com o BID16. As eficiências físicas são idênticas em
ambos os casos.

Deve-se repetir que nenhuma consideração pode ser feita a


respeito dos recursos transferidos a fundo-perdido pelo mesmo
BID à ALTERVIDA por conta do Projeto PROCICLA17; dos recursos
alocados pela USAID18; ou dos montantes transferidos pela
Prefeitura de Assunção19. Nenhuma destinação dessas alocações
é conhecida nem suas formas de aplicações, financeiras ou
não. Assim, tampouco qualquer benefício é adicionado ao
cálculo da eficiência econômica do SISTEMA CAS. Se benefícios
existem, eles devem estar incorporados ao patrimônio da
ALTERVIDA que – embora juridicamente ligada ao CAS, e dele
indistinguível – é considerada como externa ao SISTEMA CAS,
para efeito desses cálculos.

Não é necessário voltar a declarar que esclarecimentos


adicionais a este respeito exigiriam uma auditoria das contas
do Projeto PROCICLA no âmbito da ALTERVIDA – tarefa que
extrapola os limitados objetivos deste diagnóstico e de muito
excede as competências da equipe executora.

A tabela 4.24 apresenta os resultados dos cálculos efetuados


para as eficiências físicas e econômicas do SISTEMA CAS,
respectivamente SEM, e COM a dedução da parcela de
“amortização da dívida” com o BID.

15
Aliás, como é tradicionalmente feito nos cálculos de eficiências econômicas apresentadas em outros
trabalhos da equipe do PANGEA
16
Declarada como sendo US$ 238.000,00.
17
Esta parcela não-reembolsável é declarada como equivalente a US$ 300.000,00.
18
Não foi possível obter os valores não-reembolsáveis transferidos pela USAID à ATERVIDA.
19
Tampouco foi possível obter dados definitivos sobre os montantes desta contribuição, assim como de outros
possíveis financiadores cujas logomarcas aparecem nos folders do Projeto Procicla.

50
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
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TABELA 4.24 - EFICIÊNCIAS FÍSICAS E EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS DO SISTEMA CAS


– AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

Esses valores para as eficiências físicas e econômicas,


colocam ambas as situações em enquadramento de atividades de
baixas eficiências, muito ao contrário do que foram os
resultados obtidos na análise do CAS CENTRAL. E este é
efetivamente o caso do conjunto das atividades de catação,
processamento e venda de materiais recicláveis para a
indústria, no bojo do Projeto PROCICLA, de responsabilidade
da ALTERVIDA. O projeto, entretanto, é extremamente rentável
– do ponto de vista da lucratividade privada – como já foi
demonstrado anteriormente.

A tabela 4.25 coteja as diferentes eficiências físicas e


econômicas dos diversos segmentos nos quais se pode seccionar
o conjunto das atividades do SISTEMA CAS:

*01 - CAS CENTRAL - Valores Brutos


*02 - CAS CENTRAL - Valores Líquidos
*03 - Carrinheiros
*04 - Grandes Geradores
*05 - Catadores do Vertedero
*06 - TOTAL FORNECEDORES
*07 - SISTEMA CAS CONJUNTO - V. Brutos
*08 - SISTEMA CAS CONJUNTO – V. Brutos
Após Amortização da Dívida

As figuras 4.21 e 4.22, respectivamente, justapõem as


eficiências físicas e as eficiências econômicas desses oito
segmentos, diferencialmente conceituados.

51
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
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TABELA 4.25 - EFICIÊNCIAS FÍSICAS E EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS DOS DIVERSOS SEGMENTOS DO SISTEMA CAS – AGOSTO DE
2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

52
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
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FIGURA 4.21 - EFICIÊNCIAS FÍSICAS DAS SECÇÕES DO SISTEMA CAS(KG/CATADOR)-AGOSTO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

53
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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FIGURA 4.22 - EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS DAS SECÇÕES DO SISTEMA CAS(R$/CATADOR)-AGOSTO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA

54
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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4.3.3 Análise comparativa das eficiências dos segmentos


do sistema CAS

Com o que foi exposto nas seções anteriores, pode-se


entender – fazendo agora o raciocínio inverso -- como é
possível partir de um sistema de baixas produtividades
física e econômica (itens *07 e *08 da tabela 5.2);
segmentar o conjunto dos catadores envolvidos em três
grupos, excluídos dos cálculos pela compra de seus
materiais a preços vis (itens *03, *04, *05 e a sua
totalização no item *06); e finalmente exibir níveis
altíssimos de produtividades física e econômica, ao
considerar como base apenas os 40 catadores remunerados de
forma proto-assalariada na central do CAS (itens *01 e *02
da mesma tabela).

É evidente que a razão subjacente para que esses fatos


possam ter lugar – à parte certo grau de prestidigitação
contábil – reside no isolamento dos benefícios gerados no
processo, mais coerente com uma lógica de apropriação
privada do que com a repartição solidária dos resultados.

Resta, entretanto, estabelecer uma relação comparativa com


outras unidades de catadores de materiais recicláveis
existentes, e já estudadas – e que fossem capazes de prover
um pano-de-fundo para que o que se passa no SISTEMA CAS
possa ser melhor evidenciado.

No âmbito do Centro de Referência do Catador de Material


Reciclável do PANGEA, existem dois estudos prévios que
podem servir a esta função: a) O estudo amostral executado
em 2006 para o conjunto das cooperativas / associações de
catadores brasileiras ligadas ao Movimento Nacional de
Catadores de Materiais Recicláveis20, e; b)O recém
concluído estudo sobre as cooperativas paulistas ligadas à
Rede Cata Sampa21.

Com base nesses dois estudos, torna-se possível aquilatar


as eficiências globais comparadas das diversas segmentações
do SISTEMA CAS, e que podem ser melhor apreciadas.

20
Damásio, J. “ANÁLISE DO CUSTO DE GERAÇÃO DE POSTOS DE TRABALHO NA ECONOMIA URBANA
PARA O SEGMENTO DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS” – PANGEA 2006 – no prelo.

21
“RELATÓRIO TÉCNICO DE AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE DO PROJETO REDE CATA SAMPA, SÃO
PAULO, BRASIL” – Produto elaborado para a Funcação AVINA – Salvador – Novembro de 2007.

55
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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A tabela 4.26 apresenta as eficiências globais, de forma


comparativa, das diversas secções do SISTEMA CAS,
cotejando-as com aquelas das 20 cooperativas da amostra
representativa do Brasil.

TABELA 4.26 - EFICIÊNCIA COMPARATIVA DAS SECÇÕES DO SISTEMA CAS EM


RELAÇÃO À AMOSTRA BRASIL(*) – ORDENAÇÃO – AGO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe – PANGEA


*Consultar Damásio(2006)

Observa-se que – ao apresentar-se como unidade isolada, o


CAS CENTRAL – tanto em sua versão com valores das receitas
brutas, quanto em sua versão com valores das receitas
líquidas – exibe uma altíssima eficiência global (itens *01
e *02).

56
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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Os segmentos dos catadores-fornecedores situam-se na zona


de baixa eficiência – particularmente pela baixíssima
eficiência de mercado que lhes é imposta pelo CAS CENTRAL
(itens *03, *04, *05, e sua totalização *06).

Ao ser integrado aos seus catadores-fornecedores, o CAS


CENTRAL passa a demonstrar a verdadeira eficiência global
do sistema: cai da faixa de alta e altíssimas eficiências,
ultrapassa toda a faixa de média eficiência, e vem alocar-
se em plena faixa de baixa eficiência (itens *07 e *08). Em
particular, os valores obtidos para o Sistema CAS conjunto
-- analisado após a retirada dos valores para a amortização
da dívida com o BID, item *08 – coloca-se acima apenas da
eficiência dos catadores do Vertedero, item *05 ( e de sete
das vinte cooperativas da amostra-Brasil) e abaixo até
mesmo da produtividade do conjunto dos segmentos catadores-
fornecedores, item *06.

Efetuando-se a comparação com outra base de dados – a das


cooperativas paulistas associadas à Rede Cata Sampa – são
obtidos os dados constantes da tabela 5.4.

De forma semelhante ao anteriormente descrito, o CAS


CENTRAL em sua contabilidade de receitas brutas (item *01)
demonstra uma eficiência global superior mesmo à da Central
da Rede Cata Sampa. Mesmo ao serem consideradas apenas as
suas receitas líquidas (item *02)– descontando os
pagamentos efetuados aos catadores-fornecedores – a sua
eficiência global permanece na faixa de alta eficiência,
abaixo apenas da Central da Rede Cata Sampa e da Coopamare.

Porém, como já sabemos, essas são avaliações ilusórias da


eficiência global do CAS, adequadas apenas para ilustrar a
capacidade de extrair excedentes privatizáveis da atividade
de catação de materiais recicláveis. Nessas mensurações são
eliminadas quaisquer possibilidades de capilaridade dos
rendimentos, na forma que a Rede Cata Sampa procurou
instituir -- seja via dos mecanismos da comercialização
conjunta, seja via das participações nas retiradas de
resultados obtidos a partir dos grandes geradores, feiras e
eventos.

Pelo lado dos catadores-fornecedores, observa-se que os


segmentos dos catadores alocados aos grandes geradores
(item

57
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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TABELA 4.27 - EFICIÊNCIA COMPARATIVA DAS SECÇÕES DO SISTEMA CAS EM


RELAÇÃO À REDE CATA SAMPA(*) – ORDENAÇÃO – AGO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe – PANGEA


*Consultar PANGEA(2007)

*04) e os carrinheiros (item *03) inserem-se na faixa de


baixa produtividade global, abaixo da CooperGlicério e da
Cruffi e imediatamente acima da CORA.

Os catadores do Vertedero (item *05) aproximam-se


perigosamente da faixa de baixíssima produtividade -- acima
apenas da AME, ainda na faixa de baixa produtividade, mas
abaixo de todas as demais.

58
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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O SISTEMA CAS em seu conjunto, após a dedução das


amortizações da dívida com o BID (item *08) insere-se em
faixa de produtividade global baixa, abaixo da CORA, e
acima da CooperSantos.

Acreditamos que as comparações de eficiências globais


relativas, que foram acima apresentadas, resumem o
verdadeiro estatuto da CAS – unidade central do Projeto
PROCICLA – em suas articulações sistêmicas com as
atividades de catação, processamento e comercialização de
materiais recicláveis em Assunção.

59
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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5 SUSTENTABILIDADE ECONOMICA, SOCIAL, AMBIENTAL E


INSTITUCIONAL

5.1 SUSTENTABILIDADE INSTITUCIONAL

No que se refere à sustentabilidade institucional, observa-


se que a concepção do projeto e sua aplicação gerou uma
espécie de armadilha e paradoxo: pois é preciso gerar
fortes excedentes, e neste sentido explorar o trabalho dos
catadores, que se tornaram meros fornecedores de matéria
prima, para pagar uma dívida que foi contraída, pelo menos
em tese, para gerar resultados sociais e benefícios para
estes catadores!

Este processo é reforçado quando, ademais, não foi


observado nenhum plano de se estimular a construção de uma
cooperativa, ou associação, ou empresa social22, que possa
vir a tornar-se o ente que representa o processo de
emancipação dos pretensos beneficiários.

Caso houvesse este plano, o mesmo já deveria, há muito


tempo, ter sido implementado, na medida em que se sabem as
tradicionais dificuldades de construir um novo sujeito
econômico de baixo para cima, autônomo e ciente das
complexidades do mercado.

Até o momento o único beneficiário do projeto é o próprio


CAS, que não é uma figura jurídica, e que encontra-se
subordinado ao ALTERVIDA/GEAM 23

Neste sentido não se observa sustentabilidade institucional


pelo menos no que se refere à mesma estar articulada a
algum tipo de processo de emancipação dos catadores24. A
sustentabilidade institucional atualmente está calcada na
ALTERVIDA/GEAM, comprometendo a efetividade do projeto ao
longo do tempo25.

22
E aqui não se pretende analisar qual o melhor modelo, mas que haja algum !
23
Cabe perguntar: de quem será os equipamentos ao final do projeto se não existe nenhum beneficiário de
fato nem formalizado?
24
E aqui cabe uma nova pergunta: para que ter realizado cursos de cooperativismo/associativismo se não
surge desse processo uma nova organização?
25
Entendo efetividade como capacidade de permanência da ação ao longo do tempo pergunta-se: quem
dará continuidade a ação em longo prazo se não foi criado este sujeito?

60
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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5.2 SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

No que se refere à dimensão ambiental, a iniciativa no


galpão conta com os elementos básicos de um processo de
triagem. No entanto, seria necessário implantar uma esteira
para que a coleta possa ser mais adequadamente realizada.
Quando, porém, se analisa a fonte da matéria prima que
alimenta a operação, observa-se que quase 75,8% proveniente
do lixão. Neste sentido, cabe registrar que a coleta no
lixão, da forma como é feita, é absolutamente desprovida de
sustentabilidade ambiental. Por outro lado, o projeto não
se envolveu com a solução desta questão, instalando-se nas
proximidades do lixão, e comprando os recicláveis da sua
rede de fornecedores (os catadores do lixão) sem maiores
comprometimentos com a questão.

Esta postura se acentua quando se observa que o projeto


conta com apenas 10,9% de recicláveis originários da coleta
seletiva residencial, uma operação que teria, em tese, mais
sustentabilidade ambiental.

De fato, são apenas 11 (onze) catadores trabalhando com 6


(seis) carrinhos de coleta em 13 bairros, sendo que a
abrangência em cada um destes bairros é muito reduzida. O
projeto não previu investimentos significativos na operação
da coleta seletiva (por exemplo, mais carrinhos de coleta,
ações de educação ambiental, etc), o que indica que esta
não é uma prioridade, pelo menos no momento.

5.3 SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA E SOCIAL

Pelo exposto nos capítulos anteriores observa-se que a


sustentabilidade econômica está baseada no processo de
compra de materiais recicláveis a preços muito baixos dos
que deveriam ser beneficiários do projeto, visando gerar
excedentes para pagar o empréstimo do BID. Observa-se neste
sentido um profundo equívoco de concepção do projeto que o
compromete de forma decisiva.

A concepção equivocada compromete assim a avaliação da


sustentabilidade social. Isto porque se pode concluir que
como não há beneficiários no projeto, o mesmo é
26
insustentável do ponto de vista social.

26
Foi observado dois trabalhos na área de assistência social voltado para os filhos de catadores e a
construção de instrumentos musicais. No entanto, fica-se no campo da filantropia, e não na formação e
estimulação de uma construção de um sujeito social emancipado, que deveria ser o foco do trabalho
social.

61
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
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6 PRINCIPAIS CONCLUSÕES

As baixas eficiências do SISTEMA CAS são – antes de mais


nada – atribuíveis aos seus baixos níveis de investimento
em produtividade operacional. Isto é evidenciado pela
pequena disponibilidade de equipamentos – até mesmo na
planta da unidade central do CAS. Isto parece
injustificável, diante dos montantes que são citados como
tendo sidos investidos no processo. No CAS existe apenas
uma prensa27, assim mesmo declaradamente tomada por
“emprestada” e não-legalmente de propriedade do CAS /
ALTERVIDA. O responsável pela contabilidade paralela do CAS
declara explicitamente que uma prensa adicional reduziria
em muito os custos operacionais, uma vez que “as luzes não
precisariam ficar acesas a noite inteira para permitir a
prensagem do material a tempo: os custos com o consumo de
energia elétrica diminuiriam muito” (!!) Imaginar que uma
unidade de catação que gera um excedente mensal de US$
3.400 – apenas a parcela da amortização, desconsiderados
outros excedentes -- não disponha de recursos para a
aquisição de uma prensa adicional a sete ou oito mil
dólares – e que aumentaria a sua eficiência financeira –
beira as raias do ridículo e do surreal.

Não existem argumentos razoáveis para explicar o porquê da


não existência de uma cozinha comunitária no CAS, que
permitisse aos catadores efetuar as suas refeições no local
do trabalho, reduzindo os seus custos pessoais. Apenas a
mais tacanha mentalidade de “privatização das vantagens” e
“distribuição das desvantagens” pode explicar este fato. É
urgente a criação e instalação de cozinha-comunitária no
CAS, extensiva aos catadores efetivamente ligados à
atividade.

Apenas dois dos quatro barracões previstos no projeto foram


construídos. Mesmo assim, um deles está ocupado com uma
estrutura de salas para o pessoal administrativo, deixando
pouca área útil para o processamento de materiais. Um
terceiro barracão existe apenas em forma estrutural,
coberto de forma precária, utilizado como espaço
emergencial. Pergunta-se: porque o investimento necessário
para a construção de espaços adequados não foram efetuados
a partir dos recursos obtidos pelo Projeto Procicla juntos
às entidades que o apoiaram financeiramente? Não sabemos, e
é claro que apenas uma auditoria das contas da ALTERVIDA
responderia a essa questão. Novamente lembrar – e pedimos
desculpas pela repetição – que o CAS não tem personalidade
jurídica própria.

27
Uma prensa nova pode ser adquirida por valores entre US$ 7.000,00 e US$ 8.000,00.

62
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Mesmo admitindo-se que seja correto retirar mensalmente dos


valores líquidos gerados pelo CAS uma parcela referente à
amortização da dívida com o BID; e mesmo admitindo que
essas parcelas de fato remunerem o BID e amortizem a citada
dívida, resta, entretanto uma pergunta: como obviamente
essa amortização está sendo efetuada a partir do trabalho
coletivo dos catadores do SISTEMA CAS – ou pelo menos a
partir do trabalho dos 40 catadores diretamente ocupados no
CAS CENTRAL – ao final dessa amortização quem serão os
proprietários efetivos da unidade de processamento, enfim,
do CAS? Parece-nos que a resposta é óbvia: não serão os
catadores. Nem os quarenta que hoje atuam na central (e
que, afinal, nem têm estabilidade), nem muito menos os 114
catadores-fornecedores. A unidade certamente permanecerá na
propriedade jurídica da ALTERVIDA, privada, a não ser que
imediatamente sejam apresentadas propostas que demonstrem
as formas de transferência dessa propriedade aos catadores.
Ou – o que nos parece mais de acordo com o espírito que
hoje norteia a implementação do Projeto Procicla – que
sejam explicitamente abandonados a “retórica social” e o
“discurso de integração com os catadores” e seja declarada
a natureza de “empreendimento privado” desse projeto.
Assim, o verdadeiro papel de “atravessador eficiente” que a
implantação da unidade do CAS vem implementando tornar-se-
ia explícita, e poderia ser melhor avaliada pelas entidades
de financiamento.

Na unidade do CAS existem funcionários administrativos


formalmente contratados que legitimamente esperam estar
contribuindo para a construção de uma atividade de fato
cooperada. Isto ficou bastante claro e patente durante as
conversas mantidas no período de nossa visita. Como a
direção da ALTERVIDA lhes parece distante e inatingível,
mantêm a “esperança” de que um dia o CAS vire uma
cooperativa. Não estão a par, no entanto, de qualquer
iniciativa ou proposta que lhes indique essa direção.
Declaram que se soubessem que isso jamais acontecerá,
deixariam a unidade. E a equipe que efetuou o trabalho
direto foi testemunha – ao lado do Dr. Eduardo Rotella – de
trocas conflituosas de opiniões a respeito, entre a direção
da ALTERVIDA e esses funcionários. A tensão interna entre
esses “esperançosos sinceros” e a pragmática direção
centralizadora da ALTERVIDA aparentemente continuará
presente por algum tempo.

A unidade central do CAS está localizada em um terreno de


1.500 m2, cedido pela prefeitura de Assunção, situado SOBRE
o aterro sanitário da Cateúra. Isto significa que não há
como obter água pura a partir de poços artesianos, uma vez
que os lençóis freáticos da região estão profundamente

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RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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contaminados pelo “chorume” do lixo ali depositado – e mais


recentemente enterrado – por décadas de utilização. A
necessidade de adquirir água a partir da rede pública de
Assunção aumenta os custos e limita a expansão de
atividades água-intensiva no processamento de alguns
materiais recicláveis. Ademais, existe a preocupação local
– fundada ou não – que os barracões possam eventualmente
sofrer abalos em suas fundações, pelas especiais
características do terreno sobre as quais foram os mesmos
erigidos. A própria existência de “fossas sépticas” fica
comprometida.

A única unidade de transporte de materiais recicláveis


reputadamente adquirida como parte do investimento em
equipamentos para o CAS é uma camioneta de cabine dupla –
declarada como comprada de “segunda-mão”- mais adequada
para passeios em fins-de-semana do que para o eficiente
transporte de materiais. Como a propriedade do veículo está
registrada na ALTERVIDA, a equipe tampouco se sentiu
habilitada para tecer comentários adicionais a respeito...

Os quarenta catadores ocupados na unidade central do CAS


não falam. As seguidas tentativas, da equipe que esteve em
Assunção, de estabelecer um diálogo com eles foram
frustradas. Olhares fugidios, respostas monossilábicas e
disposição em encerrar logo a conversa. Talvez seja
timidez. Talvez seja o contato com o “estrangeiro”. Talvez
a convicção de não serem protagonistas. Talvez a sensação
de não serem interlocutores legítimos. Talvez seja outra
coisa qualquer...

A presença da unidade do CAS -- com sua situação


privilegiada junto ao VERTEDERO da Cateúra -- em nada
contribui para minorar a exclusão social dos catadores, ou
para eliminar ou atenuar a exploração que os intermediários
e atravessadores do mercado de materiais recicláveis de
Assunção exercem sobre os catadores. Pelo contrário: a
presença do CAS – e a sua eventual ampliação e
estabilização nos moldes jurídicos e operacionais no qual
hoje se encontra – significa a formalização de uma
eficiente atividade de exploração e marginalização dos
catadores de materiais recicláveis de Assunção. Na verdade,
parece ser provável que os únicos agentes que de fato
sintam quaisquer impactos pela presença do CAS sejam as
indústrias (efeitos positivos, pela melhor qualidade do
material recebido, e pela regularidade das entregas); e os
demais atravessadores de Assunção (efeitos negativos) pela
presença de um novo concorrente mais eficiente, o CAS. Do
ponto de vista dos catadores de Assunção, o efeito de curto
prazo é majoritariamente neutro: não melhora nem piora a

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RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
FUNDAÇÃO AVINA

sua situação atual. Porém, do ponto de vista prospectivo, o


efeito é amplamente negativo, pois significará a eliminação
da possibilidade de mobilidade social e do escape ao
círculo vicioso da pobreza e exclusão.

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RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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7 RISCOS E OPORTUNIDADES: PROPOSTAS E SUGESTÕES DE


APERFEIÇOAMENTO

7.1 DIMENSÃO ORGANIZACIONAL E INSTITUCIONAL

7.1.1 Construção de um novo sujeito social: o


beneficiário

O desafio será aquele de construir um novo sujeito social


emergencialmente e regular qual será a relação econômica
com o projeto. Este novo sujeito (cooperativa, associação
ou empresa social) deverá estabelecer uma nova relação com
a ALTERVIDA, horizontal e com transparência absoluta para
ambas as partes.

7.1.2 Redefinição dos processos de apropriação do


excedente

Como salientado anteriormente é absolutamente impróprio as


elevadas taxas de excedentes geradas pela operação. A
redefinição deve ter como pressuposto a criação do novo
sujeito social e negociação com o mesmo e não mais com
pessoas físicas.

7.1.3 Redefinição do Arranjo Institucional com o BID

Tendo como pressuposto a criação do beneficiário, há de se


incluir na relação do BID este novo sujeito social. Há de
se estimular esta organização a ser criada a se relacionar
com o projeto e acordar formalmente uma co-
responsabilização sobre a divida com o BID28, a
titularidade final dos equipamentos e infra-estruturas
adquiridas, a atual situação econômico-financeira do
contrato e as perspectivas futuras do mesmo.

7.1.4 Reforço institucional da nova organização a ser


criada

Será necessário reforçar a capacidade de planejamento e


intervenção da organização, para que possa ocorrer
efetividade do projeto. Será necessário também fortalecer
os vínculos coletivos visando aperfeiçoar a identificação
dos catadores com a organização.

28
Desde que em condições justas para ambas as partes

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RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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i) Contratação de psicóloga social/assistente


social que possa trabalhar estas questões
alocadas na organização
ii) Capacitação, com metodologias lúdicas a base
de dinâmicas de grupo, dos catadores visando à
construção desta identidade com a cooperativa.
iii) Capacitação da diretoria da organização para
aumentar a sua capacidade de gestão, através
de conteúdos como procedimentos cooperativos
e tributários.

7.1.5 Construção de um sistema de informações

Na comercialização de recicláveis a informação atualizada


de alterações do mercado é estratégica. Em poucas semanas,
determinados preços podem subir em função de algum
desabastecimento ou por outro fator eventual e rapidamente
voltar a um patamar mais baixo.

Sugere-se fortemente a necessidade de criar um sistema de


avaliação e monitoramento de informações, atualizado
constantemente, articulado a indicadores de desempenho
econômico e social, sem o qual pouco se pode fazer em nível
de planejamento estratégico.

7.2 DIMENSÃO ECONOMICA, LOGÍSTICA E DE MERCADO

7.2.1 Aspectos Econômicos

Como salientado qualquer operação para aumentar a eficácia


da comercialização tem que estar subordinada ao
empoderamento dos catadores, o que hoje não ocorre.

7.2.2 Aspectos da Logística da Coleta

Do ponto de vista da logística da coleta sugere-se:

a) Articular no galpão a montagem de uma estrutura de


esteira para que parte da coleta do lixo in natura seja
despejada na mesma, garantindo ao mesmo tempo, o volume e a
escala necessários. Esta operação para dar certo tem que
ter uma forte articulação com a Prefeitura municipal

b) aumentar o numero de carrinhos e de catadores na coleta


seletiva, instalando entrepostos na cidade;

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RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
PROJETO PRO-CICLA / ALTER VIDA
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c) aumentar o número de grandes geradores;

d) adquirir caminhão bau para fazer a coleta de grandes


geradores na cidade;

e) adquirir pelo menos 03 prensas enfardadeiras;

f) melhorar o lay-out de fluxos de operação do atual


galpão, por exemplo a administração encontra-se no meio de
um dos galpões, comprometendo a operação.

Portanto, recomenda-se à Fundação AVINA que eventuais


aportes financeiros destinados ao Projeto PROCICLA sejam
devidamente analisados quanto à sua efetiva destinação. A
perdurar a identidade jurídica entre o CAS e a ALTERVIDA –
e a curiosa mescla/separação de valores não-retornáveis e
amortizações de dívidas assumidas – parece uma fonte de
risco destinar novos aportes29. É óbvio que a unidade
operacional do CAS necessita maior volume de investimentos
em equipamentos, e que pelo menos uma prensa adicional é
imediatamente vital. Porém, antes de efetuar aporte
adicional, cabe indagar sobre as destinações efetivas de
aportes anteriores, que definitivamente não são fisicamente
evidenciados na estrutura física operativa do CAS, na forma
em que ele hoje existe.

29
Há que distinguir entre aportes earmarked e aqueles de destinação geral.

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