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Alcobaça, p.165-185)
1. Introdução
Maiorga (1303). A primeira cláusula deste documento refere o seguinte: “Damos a vos
sobreditos pobradores todo o herdamento que he enserrado nos ditos termos (...) salvo fornos de
cal com suas pedreiras que retemos para nós” (1 ). Esta fonte documental não só nos elucida da
existência de fornos de cal em laboração, como nos permite supor a sua difusão no domínio
cisterciense. O Mosteiro, como grande instituição senhorial, assegurava o monopólio dos meios
de produção. Saber se a prática deste ofício precede a chegada dos monges é uma questão que se
mantém em aberto. Esta actividade terá perdurado nesta antiga Vila dos Coutos até à instalação,
Maria Alegria Marques refere a existência de um forno de cal nas imediações do Mosteiro
No seu estudo sobre o Santuário da Nossa Senhora da Nazaré, Pedro Penteado refere que “a
Real Casa da Nossa Senhora detinha (...) fornos de cal, instalados no Sítio, na Coutada e no
pátio, junto à fonte da localidade (...). Dos fornos da Real Casa, um deles já existia em 1628
(...). A matéria prima a ser ali transformada era retirada de uma pedreira que se encontrava
próxima do Forte de S. Miguel e da Praia do Norte (...). Quanto aos dois fornos que se
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e lenha necessária ao seu funcionamento (...). Estavam arrendados a três moradores do Sítio (...).
Pela exploração (...) pagavam à Casa apenas dois moios de cal ...” (4).
O concelho de Alcobaça, na viragem para a segunda metade do século XIX, é aquele que
detém o maior número de fornos no distrito de Leiria, ou seja, 22 para um cômputo global de
63. Em produtividade, o concelho surge em segundo lugar com 1530 moios, para uma produção
total de 11480 moios. O preço do moio em Alcobaça cifra-se em setecentos réis (5).
de Alcobaça 19 fornos de cal sem precisar, no entanto, a sua localização (7). No Código de
Posturas da Câmara Municipal de Alcobaça de 1885, o seu art.º 217, menciona que “ é
destinado o logar da Roda para n`elle se matar e argamassar cal “. O Inquérito Industrial de
Diogo Ribeiro, nas suas “Memórias de Turquel”, menciona um forno de cal, em estado
acentuado de ruína, no Vale - das - Cuncas , perto da Moira (Turquel). Refere, ainda, que, na
zona oriental da freguesia, se encontram vários fornos de cal a laborar, sem, no entanto,
combustível é responsável pelo abandono dos fornos de cal na região serrana. Apenas em
Turquel e na Benedita se exerce, em pequena escala, este mester. “Pataias, pela abundância de
combustível e boa qualidade da pedra assenhoreou-se dessa indústria que hoje constitue uma
das suas riquezas”. Igualmente faz alusão ao início desta actividade no lugar da Fervença (10).
Alcobaça, Fervença e Cós. Nesta última freguesia , no local de Monte Santa Rita, são
licenciados , no ano de 1905 quatro fornos de cozer cal propriedade de Serrano & Irmão (11).
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da firma Serrano & Irmão, com o título “ Fornos de Cal na Fervença”, em que se publicita este
produto ao preço de 3$000 réis o metro cúbico e 1$3000 réis o moio (12).
Para a localização dos seus vestígios temos que contar com o contributo da toponímia,
indispensável para a elaboração de uma cartografia desta indústria artesanal. Um carreiro que
passa junto à Cerca da Casa do Monge Lagareiro (século XVIII), na Ataíja de Cima, toma a
designação de rua do forno da cal. Este forno, do qual só restam ténues vestígios, vem
mencionado nos autos de descrição dos bens de raiz do Mosteiro de Alcobaça (13). Tivemos,
vestígios de um forno de cal, que, aliás, é descrito nos Autos de Avaliação dos Bens do
Mosteiro: “Hum grande forno de cozer cal sito no Poço Suão limite de Chaqueda de Cima termo
de Aljubarrota, que de todos os lados parte com charneca e mattos públicos avaliado em mil réis
No concelho limítrofe da Marinha Grande terão existido fornos de cozer a pedra de cal nas
localidades de Engenho, Pedra e Guarda Nova. Estes fornos, encravados no Pinhal do Rei,
decisivo para a fixação dos mestres forneiros nesta área geográfica. Análises laboratoriais
indicam a boa qualidade desta pedra, cuja pureza se fixa nos 97,8%. Contudo, não possuímos
elementos que permitam datar o início desta actividade. Através das fontes orais que colhemos e
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da análise da produção etnográfica regional, sabemos que esta indústria artesanal já tinha
significado na segunda metade do século XIX e que a rede ferroviária facilitou a sua expansão.
acrescidos para a realização de uma história de vida. Apenas conseguimos identificar uma
Figueiredo(17).
na região. O bom estado de conservação da maioria das peças e a sua localização numa
envolvente de pinhal reforça o apelo à visita. A memória da laboração desta indústria artesanal
alcança os filhos mais jovens da terra que ainda presenciaram os fornos em actividade.
É necessário criar condições que permitam a preservação deste património construído, tornando-
- o um espaço museológico, em que o visitante possa ver interpretar as peças na sua dimensão
técnica, social e cultural. Este conhecimento em contexto não só se revela mais atractivo, ao
colocar o museu onde ele de facto deve estar, como lançaria um novo passo - a aposta numa
política cultural que contribua para a valorização da região no seu todo, criando uma rede de
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2. O Forno e os seus Anexos.
Os fornos artesanais de cal não devem ter conhecido grandes transformações do período romano
aos nossos dias. Catão aconselhava a cumprir as seguintes medidas na edificação de um forno: “
Dai ao forno da cal dez pés de largura, por vinte de altura e diminuí a largura até o topo que não
deverá ter mais de três pés” (19). Estas dimensões correspondem, aproximadamente, às exibidas por
altura média destes fornos oscila entre os 4,5 m e os 6m; a largura da base, um pouco superior à dos
fornos romanos, situa-se entre os 3,70 m e os 4,60 m, estreitando o forno ligeiramente na abertura
romana, pois como refere Alarcão : “ Os blocos de calcário eram de tal forma acomodados que,
aceso o fogo e consumida a armação (de madeira), os blocos se sustinham uns aos outros sem que
todo o carregamento ruísse” (20). Este procedimento técnico, excluída a necessidade de estruturar a
carga com uma armação de madeira, corresponde ao levantamento do “empedre” praticado pelos
Os gregos utilizaram a argamassa de cal como revestimento das paredes, preferindo-a à argila
como ligamento das pedras. Foram os romanos que generalizaram a sua aplicação tanto nas
junções, como no reboco, o que permitia colmatar os defeitos do aparelhamento tosco da pedra (21,
22). A inclusão de borras de azeite na argamassa de cal, costume técnico romano utilizado para
conferir uma maior impermeabilização ao aparelho e logo conceder uma resistência e longevidade
superior à construção, manteve-se em uso nesta região ao longo do século XIX. Contribuiu,
certamente, para esta continuidade técnica, o conhecimento dos cistercienses dos tratados de
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A cal simples ou misturada com substâncias corantes foi utilizada, na forma de leite, na caiação
das habitações, cómodos e muros, isolando as estruturas e embelezando-as. Por altura da Páscoa, o
consumo da cal subia, pois as casas eram caiadas antes da visita do pároco. A amassadura de cal,
para além das funções de reboco e de união das pedras, também foi aplicada na construção dos
pisos das eiras. A cal em pó foi utilizada para corrigir a acidez do solo assim como para o
desinfestar, na cura das vinhas... Também nas práticas funerárias foi utilizada com objectivos
inúmeras sepulturas em que a cobertura de cal era evidente. Aberta a cova, o corpo era colocado
sobre dois palmos de altura de cal, sendo em seguida tapado com uma quantidade de cal
equivalente.
formação da carga, as camadas de lenha alternam com as de calcário. (23) Estes fornos, de cozedura
encontrar concluída. De formato barrilóide, são abertos no topo que, em relação à base, evidencia
Para construir o forno procede-se a uma escavação, dado que a caldeira está afundada em
relação ao terreno. A parede do forno, de estrutura circular, é construída em tijolos ligados por um
barro areento, pois quem utilizasse um barro forte (selão) sujeitava-se à ruína das paredes, dado que
este barro reduzia com o calor da cozedura. O aterro envolve, parcialmente, a construção dando
consistência ao conjunto. Eram as mulheres que, com gamelas, transportavam a terra que serve de
apoio às paredes do forno. Por cima do portal dois ou três troncos de pinheiro, colocados na
horizontal, travam a parede do forno que o aterro não cobre. A altura do portal varia entre 1,80 m e
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2,30 m para uma largura que em média tem 1 m. A parte superior do portal recebe um meio arco ou
dois archetes de pedra talhada, que se assentam no tijolo da parede. Apenas num único exemplar
vemos a triangulação de duas lajes. Rasgadas na parede exterior do forno surgem as copeiras.
(50x40) alojava a seira do farnel, a cabaça do vinho servindo, igualmente, de arrecadação dos
Cada forno possui, geralmente, um alpendre que nasce e se apoia na própria parede do forno.
Em alguns casos, quando o alpendre é comum a mais do que um forno, a sua dimensão exige um
paredão de suporte. O alpendre é, normalmente, coberto a telha de canudo. Quando os fornos não
dispunham de alpendre, improvisava-se uma cobertura assentando caniços ou palha sobre varolas
de pinho que atravessam o recinto de serventia do forno. Protegido pelo alpendre, o forneiro dá
comprimento por 9m a 12m de largura e 4m a 6m de altura, com telhado de duas águas, coberto a
telha de canudo, assenta sobre um corpo de colunas de alvenaria e argamassa. Duas colunas ao
centro e entre três a quatro nas zonas laterais suportam esta estrutura. As colunas possuem um
Alguns fornos, dos quais só restam vestígios, aproveitavam como parede o buraco produzido
pela extracção da pedra. Apenas era necessário erguer o portal com a boca de serviço. A
durabilidade destes fornos era curta, pois a pedra madre que constituía, naturalmente, as suas
paredes, com as constantes cozeduras a que era sujeita ia-se consumindo. Estes fornos de
do século XX.
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3. O Abastecimento de Combustível aos Fornos.
Como combustível para assegurar a cozedura da pedra roçavam-se os matos nos pinhais. O
proprietário do forno falava a uns homens que, à jorna, se encarregavam desta tarefa. Nas matas,
privadas e públicas, com enxadas cortava-se a camarneira, a putigueira, o tojo, etc., em seguida,
juntava-se o mato e a caruma com o ancinho de oito dentes em madeira, mais tarde de ferro, e com
o forcado carregavam-se as paveias (molhos) de mato no carro de bois. Os garotos, com pequenos
forcados, acalcavam o mato em cima das carradas. Eram necessários entre 80 a 100 carretos para
uma fornada, com carros de bois de eixo de madeira, dado que as rodas, com os aros em ferro, se
enterravam na areia. Alguns mestres forneiros possuíam juntas de gado, mas tinham de recorrer
sempre aos carreiros. Cinco ou seis carreiros com juntas de bois e carros ocupavam-se dos fretes.
Normalmente o carreiro realizava duas viagens diárias ou apenas uma se a distância era
que medeia entre a Nazaré e S. Pedro de Moel. Era vulgar os bois na ida atravessarem as lagoas e
barreiros, os animais nadavam e os homens em cima do carro agarravam-se aos fueiros. O carreiro
ganhava três vezes a jorna de um homem que roçava o mato, cumprindo ainda no contrato um
molho de crutos (bandeiras de milho) para a alimentação do gado e um litro de vinho. Por volta dos
anos cinquenta adaptam nos carros de bois eixos de ferro e rodados de camioneta, reduzindo a
apenas dez fretes são suficientes para a cosedura da pedra. Com a camioneta efectuavam-se dois
de ramada de pinho). Os homens que se dedicavam a esta tarefa eram apelidados de “motaneiros”,
migrantes provenientes da zona do Ramalhal e Outeiro da Cabeça. O “motano” para além dos
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fornos de cal era procurado pelas padarias e cerâmicas. Vagões repletos de “motano” circulavam na
Com foições, os “motaneiros”, cortavam as ramas do pinheiro, formando molhos que atavam
com fio de sisal. Armavam, em seguida, estas paveias em medas. Na meda a rama, virada para o
exterior, permitia que a lenha se mantivesse enxuta. O acesso fácil à lenha seca permitiu que os
fornos começassem a laborar no Inverno. Cada fornada consumia entre 150 a 200 talhas de
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4. O Arranque da Pedra nas Caboucas.
Os fornos de cal foram construídos nas imediações das caboucas (pedreiras). A maior parte
dos donos de fornos possuía pedreiras ou então extraía a pedra dos baldios da freguesia, num local
conhecido por Ratoinha. O arranque da pedra nas caboucas do povo era gratuito. Passando-se já nas
últimas décadas da actividade a pagar à Junta de Freguesia um montante que foi de 80$00 a 150$00
por fornada.
carrasca e nitrato do Chile) e a martelo rebentavam a pedra. Com a broca abriam um orifício que
levava uma mão cheia de pólvora, em seguida atacavam a pólvora, colocavam o rastilho e uma
explosão, com o auxílio da alavanca, desirmanavam os blocos e com a marreta a golpe certeiro
protegida pela sogra (rodilha), as gamelas carregadas, que eram despejadas fora da área de
exploração.
maiores dimensões (200 a 300 kg) eram carregadas por cima da cabeçalha com a ajuda de dois
madeiros, um a dois homens rolavam-nas para cima do carro. As pedras de tamanho menor eram
acartadas em carros de mão. A formação da carga no estrado do carro requeria saber, as pedras
maiores, rodeando as outras, faziam de suporte, evitando que o movimento dos bois fizesse perder a
carga.
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O Sr. Manuel Serrano, cujos fornos de cal estavam situados junto da actual CIBRA, mandou
construir, no início do século, uma linha de carril que ligava os seus fornos às caboucas (esta linha
ficou conhecida como “Decauville”). As vagonetes, depois de carregadas, eram empurradas pelos
homens, tarefa possível dado o desnível do terreno, das pedreiras para os fornos.
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5. O Trabalho dos Forneiros.
O trabalho do forneiro não o ocupa todo o ano, dado que os fornos só laboravam na estação seca
e em média não ultrapassavam as três ou as quatro fornadas. Partindo da média mais alta, a
serventia do forno requeria dois forneiros ao longo de três meses, período de trabalho que podia ser
intervalado. Os forneiros podiam, no entanto, trabalhar em mais do que um forno. Esta actividade
A “ enforna” durava uma semana. Ao mesmo tempo que os bois carreavam as pedras das
animal o carreto e o “empedre” passaram a ser feitos em apenas dois dias, embora o número de
braços fosse maior. O “empedre” começava com o assentamento das “ armadeiras”, pedras que
partiam do peal, que rodeava o interior do forno ( com cerca de 25 cm de largura e de altura) até
formar uma espécie de abóbada que segurava todo o conjunto. Esta abóbada atingia uma altura que
orçava os 3,5 a 4 metros. No seu topo, a distância à parede aproximava-se dos dois metros. As
“armadeiras” iniciais eram mais pequenas aumentando, progressivamente, de tamanho até atingir os
pois avançando e travando-se umas às outras. Apenas dois forneiros se dedicavam a esta tarefa.
“empedre” até à altura do tronco . Para continuar a levantar a abóbada elevavam o piso com mato,
que servia de andaime, era o “desquente”. Este mato era o primeiro a ser utilizado na caldeira que se
situa no vão da abóbada. Com o auxílio de uma padiola carreavam as “armadeiras” mais pesadas.
Quando o “empedre” alcançava a altura do portal as pedras começavam a ser descarregadas por
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cima. A própria carga dos carros de bois tinha que ser reduzida, pois os animais tinham que vencer
o aterro do forno. As pedras lançadas de rojo caíam por vezes em cima do mato, era então
necessário parti-las com uma marreta e colocá-las em cima do “empedre”. Por detrás das
pentagonal. O espaço livre do portal era revestido a pedra e argamassa de cal de maneira a que o
O carregamento de pedra do forno excedia em cerca de 1,5 m a altura deste. Junto `a parede
colocava-se pedra mais pequena pois a intensidade do lume era menor . O final do “empedre”
fogo. Quando a pedra mais encostada à parede do forno não cozia, convenientemente, amassava-se
cal que se colocava no centro do “capelo” e forçava o lume a bordejar a parede. Em caso de um
“empedre” ruir funcionava a solidariedade vicinal, fazendo-se um peditório entre os forneiros. Esta
situação verificava-se, ocasionalmente, quando o forno já tinha dois a três dias de cozedura.
O tempo que demorava a cozer a pedra era variável, dependendo do empenho e habilidade
dos mestres forneiros e do mato estar seco ou húmido. Havia fornadas que se coziam em cinco dias
e outras que necessitavam de dez. Bandeira de Melo, referindo cálculos de Vicat, aponta um tempo
de cozedura que varia entre 100 a 150 horas, para um forno que comporte entre 75 a 80 metros
cúbicos de pedra (24). É evidente que a duração da cozedura depende do combustível utilizado.
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A capacidade máxima de utilização de um forno permitia fazer uma fornada de três em três
semanas. Um semana para enformar , outra para cozer e a restante para desenfornar. O pai do nosso
informante, o Sr. Joaquim Ribeiro, cozia em média três a quatro fornadas por ano. Este valor pode,
em princípio tomar-se como referência para os demais mestres forneiros. Este número só é
facilitava a laboração do forno no Inverno. A partir daí a média das fornadas aumenta, estimando-se
uma média anual de 13 fornadas . Em cada fornada o senhor Joaquim Ribeiro tirava entre 50 a 55
toneladas de cal cozida, consoante o “empedre” fosse mais chegado ou não. Nos fornos maiores
atingia-se as 60 toneladas de cal. Arala Pinto calcula uma média de 7 fornadas anuais para os 25
fornos que se encontram em laboração na década de quarenta. Cada fornada consumia entre 60 a
realizar, aproximadamente, 175 fornadas seriam necessários 11 200 carradas de lenha. Estima,
ainda, o autor, que a produção de cal destes fornos rudimentares atinja as 800 toneladas/ano (25).
velador serviam o forno até a pedra de cal estar cozida. Um dos forneiros assegurava, inicialmente,
um turno de dezoito horas, pegando às oito horas da manhã e despegando às duas horas da
madrugada . O outro forneiro começava igualmente o trabalho às oito horas da manhã e findava às
vinte horas. Um velador cumpria seis horas de trabalho dando serventia ao outro forneiro. Os turnos
O tempo do descanso era passado num canto do barracão do mato ou por baixo do telheiro
em cima das carumas aconchegado por uma manta. Apenas um forno possuía uma casa para
A combustão rápida do mato exigia um trabalho constante à boca do forno . Com um carro
de madeira o mato é largado junto à alpendrada do forno, logo o outro forneiro com o “fôxo”
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Até ao segundo dia de cozedura a pedra ganha volume, incha. O forno só resiste a esta
pressão graças ao aterro que o envolve, parcialmente, e aos troncos de pinheiro que na parte
alimentação do forno, o forneiro com o “varredoiro” (pinheiro) ao ombro derria as cinzas. Esta
operação fatigante demorava cerca de meia-hora. O forneiro assentava a parte mais delgada do
pinheiro no ombro, protegido por um saco, remexendo com a parte mais grossa todo o brasido até
se poder novamente carregar o forno . Com outro pinheiro mais pequeno, o “acabador”, tirava-se a
cinza dos cantos . Este trabalho, embora necessário, fazia com que o forno começasse a descair, daí,
mais tarde, se recorrer a compressores, o que permitia manter a fornalha constantemente alimentada
final, o “capelo” do “empedre” baixa cerca de um metro em relação ao topo do forno. “ Nos fornos
de calcinação intermitente conhece-se que a cozedura está concluída, quando a chama sae quase
sem fumo e o abatimento da pedra é de cerca de um quinto” (26). O mestre forneiro com o
conhecimento que a experiência lhe outorgou vê se a pedra está bem cozida ou tem o coração cru.
A “ desenforna” era o trabalho mais violento dada a temperatura elevada que o forno
mantinha. Os homens com ancinhos e à mão extraiam a pedra do forno. A cal era vendida à boca do
forno. O Sr. Joaquim Ribeiro conta-nos que os mais antigos utilizavam como medida a fanga , mas
no seu tempo já era tudo à balança . No Código de Posturas e Regulamentos Municipais de 1843 da
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Câmara Municipal de Porto de Mós, concelho serrano, vizinho de Alcobaça, o art.º 47 explicita as
medidas em uso para a venda da cal: “ Todo o proprietário ou dono do forno de cal, he obrigado a
usar de fanga de quatro alqueires, e meia fanga de dous alqueires, Alqueire, e meio alqueire (...)
‘por onde deve medir-se a cal em pó, dando quinze fangas por cada moio, sendo porém em pedra ou
cascalho vender-se-he por convenção com o comprador até mil reis.” A obrigação de utilizar a
fanga e a meia fanga já surge em posturas do século XV (27). Na Postura sobre aferições de pesos
e medidas de 1940, os aferidores mandatados pelo Município, exigem que os fabricantes de cal
possuam uma balança com carga mínima de 100 quilogramas e pesos de 5 quilogramas a 50
gramas.
A qualidade da cal gorda ou cal a mato destes fornos fazia com que os almocreves de
Turquel e da Mendiga ( Serra dos Candeeiros) aqui se deslocassem em carros de bois munidos com
pois não havia espaço para armazenamento. A partir da década de cinquenta constroem-se armazéns
para guardar a cal . As tulhas de tijolo levavam em média entre três a três toneladas e meia,
Ao nível local e regional, a cal era procurada em pedra para o fabrico de argamassas,
estuque e em pó para os campos . Nos mercados da região a cal em pedra ou em pó era um produto
sempre presente.
transporte dos produtos do Pinhal do Rei, deu-se início em 1857 ao traçado do Comboio Americano
que, com uma extensão de 36 Km, ligava Pedreanes a S. Martinho do Porto. Este comboio
“Quando em 1888 os primeiros comboios passaram a Pataias através da linha do Oeste, deu-se um
novo passo nesta indústria, já que se iniciou o transporte de cal através do comboio. Este
acontecimento deveu-se a António Sebastião Coutinho ( António «Manco») que foi durante
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bastante tempo o responsável pelas paragens dos comboios. O carregamento era feito sem qualquer
cais no local chamado de Lagoa das Saramatas, havendo necessidade de um aviso prévio para que
o comboio parasse. Em 1907 ou 1908, e devido às péssimas condições de trabalho existentes, foi
pedido pelos fabricantes de cal, tendo à sua frente o Sr. Manuel Serrano de Figueiredo, um cais para
efectuar o transbordo da cal ... Foi devido a esse pedido que foi construído o Apeadeiro de
Pataias...” (29). Por volta dos anos sessenta, muita da cal produzida era encaminhada para a
Eram as mulheres da localidade A-do-Barbas (Maceira) que vinham a Pataias com burros
aparelhados com seirões e, depois, a vendiam nos mercados locais e nas feiras. Também as naturais
de Pataias se dedicaram a este comércio. Numa das suas obras etnográficas, Manuel Vieira da
Natividade apresenta como ilustração um desenho de uma vendedeira de cal de Pataias (30).
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6. O Declínio da Actividade
esta altura existiam trinta e cinco fornos em actividade. Já em 1942 o seu número reduz-se para
vinte e cinco fornos. O Guia profissional do concelho de Alcobaça de 1950 regista 17 fabricantes de
cal . Em 1982 apenas cinco fornos produzem cal e volvidos dez anos só um ainda trabalha. Aliás, o
Jornal de Pataias de Agosto de 1992, informa- nos que um fogo destruiu totalmente o barracão de
armazenamento de caruma do forno do Sr. Joaquim Vieira Grilo, que, na altura, era explorado pelo
seu filho António Grilo. Este forno terminou a sua actividade no dia 30 de Junho de 1995. As razões
invocadas pelos mestres forneiros para o encerramento dos fornos prendem-se com problemas de
falta de mão de obra, ao horário de trabalho deste ofício e à remuneração exigida pelos forneiros e
população activa, sobretudo das novas gerações, da agricultura para a indústria. Por outro lado, as
empresas que adquiriam cal passaram a instalar fornos eléctricos automatizados para a sua
produção.
produtivas associadas a uma ruralidade tardia que marcou a periferização de Portugal face à Europa
desenvolvida.
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7.Notas
(2) Barbosa, Pedro. 1992, pp.147-48; 163. O trabalho de campo e a pesquisa documental que
(6) Gouveia, Henrique; Carvalho, Margarida. 1987, p.37. Neste artigo os autores definem uma
(13) Autos de descripção dos bens de rais que se achão descritos nos Autos de 1 de F 479
athe F 508, Alcobaça, 28 de Abril de 1834. Arquivo Histórico do Ministério das Finanças.
(14) Autos de Avaliação dos Bens situados nesta Villa e sua antiga comarca, e que
Julho de 1834. A. H. M. F.. Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, caixa 2193, maço 2.
19
(18) Figueiredo, Maria Olímpia. 1996, pp. 40-51.
20
8. Bibliografia
Fontes Manuscritas
Autos de descripção dos bens de rais que se achão descritos nos Autos de 1 de F 479 athe F 5o8,
Alcobaça, 28 de Abril de 1834. Arquivo Histórico do Ministério das Finanças. Mosteiro de Santa
Maria de Alcobaça. Caixa 2193, fl.1 vº. ( Fundo que se encontra no Arquivo Nacional da Torre do
Tombo).
Autos de Avaliação dos Bens situados nesta Villa e sua antiga comarca, e que pertencião ao Extinto
Histórico do Ministério da Finanças. Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, caixa 2193, maço 2.
Jornais
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. Barbosa, Pedro . 1992. Povoamento e Estrutura Agrícola na Estremadura Central . Lisboa: INIC.
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Estudos Económicos.
. Vasconcelos, José Leite de. 1973. Etnografia Portuguesa. Vol. II. Lisboa: Imprensa Nacional –
Casa da Moeda.
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ÍNDICE
1.INTRODUÇÃO........................................................................................................................................1
7. NOTAS...................................................................................................................................................19
8 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................................21
9. ÍNDICE ...................................................................................................................................................27
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