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1) O documento discute a historiografia da ciência no Brasil e propõe novas abordagens que vão além das instituições, analisando também processos, agentes e artefatos.
2) É apresentado um dossiê com artigos que abordam como o discurso científico influenciou a sociedade brasileira no final do século XIX e início do XX, analisando processos como o código penal e a eugenia.
3) Os artigos também examinam diferentes agentes como instituições e reconsideram modelos disciplina
1) O documento discute a historiografia da ciência no Brasil e propõe novas abordagens que vão além das instituições, analisando também processos, agentes e artefatos.
2) É apresentado um dossiê com artigos que abordam como o discurso científico influenciou a sociedade brasileira no final do século XIX e início do XX, analisando processos como o código penal e a eugenia.
3) Os artigos também examinam diferentes agentes como instituições e reconsideram modelos disciplina
1) O documento discute a historiografia da ciência no Brasil e propõe novas abordagens que vão além das instituições, analisando também processos, agentes e artefatos.
2) É apresentado um dossiê com artigos que abordam como o discurso científico influenciou a sociedade brasileira no final do século XIX e início do XX, analisando processos como o código penal e a eugenia.
3) Os artigos também examinam diferentes agentes como instituições e reconsideram modelos disciplina
Pesquisadora do MAST/MCTI, Professora do PPGH/UNIRIO e PPGEFHC/UFBA e UEFS moema@mast.br Em 2004 escrevi um artigo, publicado na Revista Brasileira de Histria da Cincia, em que fazia um balano historiogr!co da cincia no Brasil no sculo XX. Historicizava o percurso do campo da histria da cincia em nosso pas em duas vertentes: a primeira continha uma abordagem que via na universidade como grande gerador da cincia nacional. Ou seja, somente com o surgimento da universidade se teria cincia no Brasil e as atividades anteriores a sua existncia foram consideradas como pr-cient!cas. Os principais autores desta vertente so Fernando de Azevedo e posteriormente Simon Schwartzman. A partir dos anos de 1980, a histria da cincia no Brasil ganhara outro enfoque mais so!sticado com os estudos das instituies, ou seja, se deslocava o foco para o que Maria Amlia Dantes quali!cou de espaos de cincias, tais como observatrios, jardins botnicos, museus, peridicos, escolas, entre outros 1 . Esta abordagem permitiu que se encontrassem atividades relativas s cincias fora dos marcos da universidade. Em seu bojo tambm estava inserida a crtica de uma viso da cincia que a v como uma atividade intelectual desconectada dos interesses polticos e econmicos e, portanto hierarquicamente superiores aos demais conhecimentos produzidos pela sociedade Seria difcil reproduzir em poucas palavras toda uma 1 Cabe a ressalva de que Nancy Stepan com o seu livro Gnese e Evoluo da Cincia Brasileira de 1976 e Jos Murilo de Carvalho com A Escola de Minas de Ouro Preto de 1978 so estudos de instituies cient!cas no Brasil, mas no partilhavam as mesmas balizas tericas dos estudos orientados por Maria Amlia Dantes. Para uma historiograa da cincia: processos, agentes e artefatos Autora convidada Enviado em 09/07/2013 www.ichs.ufop.br/cadernosdehistoria 9 historiograa que tem por objetivo demonstrar que cincia uma atividade humana como as demais. Nesta vertente, importante destacar os trabalhos de Silvia Figueira, Maria Margaret Lopes e Jaime Benchimol entre vrios outros. Uma questo que a nova historiograa da cincia no Brasil avanou foi na tentativa de desconstruo da ideia de que o brasileiro no era afeito aos assuntos de cincia e de que o nosso ambiente intelectual, tanto na colnia quanto no imprio era caracterizado pela cpia de outros centros, neste sentido cabe a meno ao trabalho de Carlos Ziller Camenietzki. O mrito desta abordagem inegvel e sou tributria a ele, mas no nal daquele artigo, eu lanava a pergunta de seria possvel pensar a histria da cincia no Brasil para alm de suas instituies. Por isso, ao receber o convite para colaborar com um nmero da Revista Eletrnica Cadernos de Histria sobre histria da cincia, aceitei tanto pela oportunidade de realizar um trabalho conjunto com uma nova gerao de historiadores, quanto pela possibilidade de vericar a pergunta anteriormente formulada. Assim, propus o presente dossi que possua como meta identicar aspectos que possibilitassem a compreenso das prticas cientcas como um dos elementos inseridos na cultura nacional de um modo geral. Esta formulao j traz consigo a caracterstica de uma historiograa que d relevo s prticas no sentido de um ato contnuo, como ensina Bruno Latour, e no para grandes descobertas ou a hagiograa de cientistas. Desejava tambm trilhar um caminho aberto por Dominique Pestre, ao investigar como cincia e cultura se enredaram em nosso pas. Mas anal, o que histria da cincia? Existem autores que armaram que ela de difcil denio. Creio que no seja este o caso. A diculdade, a meu ver, est no cotidiano do historiador da cincia que precisa dominar minimamente diversos contedos, seja da matria que deseja analisar, e estabelecer as conexes com contexto dado. Isto porque atualmente, o campo j superou os embates entre internalistas e externalistas. Entendo que para uma histria da cincia ecaz necessrio um equilbrio entre estes dos dois polos. Tendo em vista que a busca por uma denio de conceitos mais precisos inerente ao ofcio do historiador, acredito que a histria da cincia pode ser entendida como o campo de estudo dedicado a investigao das atividades que visam produzir conhecimento a partir do mtodo cientco, cuja denio varia ao longo do tempo. Nos ltimos anos, observou-se uma crescente prossionalizao do campo com o aumento dos cursos de ps-graduao em todo o pas. Este crescimento digno de nota, uma vez que os alunos tem um parco contato com a histria da cincia, Para uma historiogra!a da cincia: processos, agentes e artefatos Revista Eletrnica Cadernos de Histria, ano 7, n. 2, dezembro de 2012. 10 enquanto disciplina, durante a graduao. No obstante, muitos destes prossionais vieram dos cursos de histria, e trouxeram outras ferramentas metodolgicas. Isto favoreceu enormemente a institucionalizao e prossionalizao do campo da histria da cincia, que a partir deste momento no seria mais uma narrativa memorialista exclusiva dos cientistas. Na chamada de artigos para o presente dossi, direcionei a ateno para o caso brasileiro. Cabe lembrar que esta relativizao do papel social da cincia s foi possvel ao se acionar os conhecimentos das cincias sociais. Quando estes conhecimentos se encontram em uma mesma arena, novos questionamentos surgem, como por exemplo, o lugar das naes. A historiograa em muito caminhou na problematizao da categoria nao, ao dar relevo ao seu carter inventado e imaginado (Cf. HOBSBAWN e ANDERSON). Em minha atuao em bancas de ps-graduao, bem como parecerista de peridicos especializados, observei que o historiador da cincia hbil em perceber as relaes sociais implicadas em uma determinada prtica cientca, mas frequentemente naturaliza a ideia de nao. Muitas vezes como se este historiador da cincia estivesse hipnotizado pelo fetiche do nacional e passasse por anos se perguntando o que falta para o Brasil atingisse o desenvolvimento cientco ditado em outras latitudes, ao invs de vericar como as prticas e as ideias cientcas foram apropriadas em nosso territrio em seus diferentes perodos histricos. Esta seduo impede que os mesmos vejam outras relaes e problemas para alm das fronteiras nacionais. Mesmo assim, ainda estou preocupada com o recorte nacional, no como algo a-histrico, mas acredito que dentro desta perspectiva as questes no se esgotaram. E o historiador da cincia no Brasil tem que vencer entraves como a ideia de atraso, falta de originalidade intelectual e explicaes Macunanicas acerca do brasileiro. A noo de que o brasileiro teria pouca familiaridade com os assuntos de cincia est presente, com intensidades variadas, nos discursos dos agentes fomentadores de C&T, dos cientistas e do pblico em geral, o que cria entraves para polticas efetivas de incluso e disseminao da cincia. Os artigos deste dossi responderam plenamente aos questionamentos da chamada da Revista Eletrnica Cadernos de Histria da UFOP. Primeiro, gostaria de chamar a ateno para a abrangncia nacional e internacional do dossi, como pode ser vericado no mapa que registra a origem dos colaboradores. A maior parte dos autores da rea de histria, mas tambm h colaboradores da rea das cincias sociais e museologia, sejam eles alunos de ps-graduao, pesquisadores e professores universitrios. Moema de Rezende Vergara www.ichs.ufop.br/cadernosdehistoria 11 Para atender s expectativas da historiograa da cincia contempornea, sugeri que os autores procurassem analisar os processos, agentes e artefatos. Inicialmente, a respeito dos processos, h os textos sobre o cdigo penal, cincia e religio na Primeira Repblica de Adriana Gomes (SEEDUC-RJ), racismo e eugenia de Antonio Carlos Petean (UFU-MG), a epidemia da febre amarela em So Luiz de Joyce Pereira (UFMA) e a inuncia do positivismo nos mausolus de Porto Alegre de Andr Luiz de Lima (UNIASSELVI-SC), que mostram o peso do discurso cientco na estruturao da sociedade brasileira na passagem do nal do sculo XIX para o sculo XX. Nestes artigos possvel visualizar como o vis cientco transps as fronteiras das instituies e dos laboratrios para organizar o espao urbano, a morte e as polticas pblicas de imigrao e questes inter- raciais, conferindo um aparato cientco ao problema do racismo herdado da escravido. Ainda em relao aos processos, mas em outra clave, encontram-se os trabalhos cuja preocupao central reside na reavaliao de modelos disciplinares tradicionais. O trabalho de Fabiano Ardigo (University of Oxford) realiza uma excelente reexo sobre ironia e narrativa enquanto recursos metodolgicos da histria da cincia no debate entre centro e periferia. Nesta linha de argumentao tambm h o texto de Cristiano Lima Sale (UFSJ) sobre a fronteira na histria e etnias e sua contribuio para a histria da Amrica. Para compreender os agentes das prticas cientcas importante ressaltar que estes no so apenas os cientistas individuais, mas as instituies que tambm devem ser vistos no apenas como espao mas como agentes e atores deste processo. Neste sentido, o texto de Geraldo Magella de Menezes Neto (UFPA), que uma anlise historiogrca a respeito da produo recente sobre o Museu Paraense Emlio Goeldi, no deixa de ser uma apresentao desta centenria instituio de pesquisa nacional. O artigo de Vinicius Santos da Silva (PPGEFHS - UFBA/UEFS) sobre Alexander von Humboldt um timo exemplo para entender a concepo de natureza e cincia daquele naturalista que, mesmo nunca tendo vindo ao Brasil, inuenciou vrias geraes de viajantes e cientistas que por aqui passaram. Outro trabalho que aponta para um processo fundamental para formao de agentes, que o processo de prossionalizao o texto de Lucas Quadros (UFOP) sobre a trajetria do mdico Lus Jos de Godi Torres em Minas Gerais no perodo colonial. Por m, o leitor ler uma sntese do trabalho do Alex Varela (MAST) e Maria Margaret Lopes (UNICAMP) j veem desenvolvendo h algum tempo que dentre vrios mritos, destaca-se em revelar a face de cientista dos irmos Andrada, em especial o conhecimento de mineralogia de Jos Bonifcio. Para uma historiogra!a da cincia: processos, agentes e artefatos Revista Eletrnica Cadernos de Histria, ano 7, n. 2, dezembro de 2012. 12 Finalmente, com relao aos artefatos, o leitor poder ler os textos de Diego Grola (USP) e Felipe Godoi (UFOP). O primeiro possui uma inovadora perspectiva ao analisar a formao das colees de histria natural do Museu Paulista a partir da compra de espcimes e a presena do comerciante alemo Ferdinand Schwanda. Ao destacar os aspectos comerciais de uma das mais importantes instituies cientcas do inicio do sculo XX, esta pesquisa est produzindo dados para a desconstruo de uma viso de cincia desinteressada. O segundo, dedicado aos sambaquis no Brasil um interessante estudo de como estes restos funerrios indgenas forneceram elementos para um momento chave da formao da identidade nacional, a segunda metade do sculo XIX, quando a arqueologia, etnograa e antropologia assessoraram os intelectuais na busca de uma cultura autenticamente brasileira. Concluo aqui esta enriquecedora experincia de editora convidada da Revista Eletrnica Cadernos de Histria. Neste dossi possvel se ter uma ideia da abrangncia, tanto do ponto de vista metodolgico quanto dos objetos dos estudos sociais da cincia desenvolvidos na atualidade. Referncias Bibliogrcas ANDERSON, B. Imagined Communities: re!ections on the Origin and Spread of Nationalism. London - New York: Verso, 1991. AZEVEDO, F. de (org). As cincias no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, [1955]1994. BENCHIMOL, J. Dos micrbios aos mosquitos: febre amarela e a revoluo pasteuriana no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz/Editora UFRJ, 1999. Camenietzki, C. Z. A cruz e a luneta. Rio de Janeiro: Access, 2000. CARVALHO, J. M. de. A Escola de Minas de Ouro Preto: o peso da glria. Rio de Janeiro: FINEP, 1978. DANTES, M. A. (org). Espaos da Cincia no Brasil: 1800-1930. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2001. FIGEIRA, S. As cincias geolgicas no Brasil: uma histria social e institucional, 1875-1934. So Paulo: HUCITEC, 1997. HOBSBAWN, E. A inveno das tradies. So Paulo: Paz e Terra, 2008. Moema de Rezende Vergara www.ichs.ufop.br/cadernosdehistoria 13 LATOUR, B. Cincia em Ao. So Paulo: Editora Unesp, 1999. LOPES, M. M. O Brasil descobre a pesquisa cient!ca: os museus e as cincias naturais no sculo XIX. So Paulo: Editora Hucitec, 1997 . PESTRE, D. Por uma nova histria social e cultural das cincias: novas de!nies, novos objetos, novas abordagens, Cadernos IG-Unicamp, Campinas, Vol. 6, n 1, 1996, 3-56 (trad. de artigo publicado nos Annales ESC, vol. 50, n 3, mai-jun 1995). SCHWARTZMAN, S. Um espao para a cincia. A formao da comunidade cient!ca no Brasil. Braslia: MCT, Centro de Estudos Estratgicos, 2001. STEPAN, N. Gnese e evoluo da cincia brasileira. Oswaldo Cruz e a poltica de investigao cient!ca e mdica. Rio de Janeiro: Artenova, 1976. VERGARA, M. R. Cincia e Modernidade no Brasil: a constituio de duas vertentes historiogr!cas da cincia no sculo XX. Revista da Sociedade Brasileira de Histria da Cincia, Rio de Janeiro, v. 2, n.1, p. 22-31, 2004. Para uma historiogra!a da cincia: processos, agentes e artefatos Revista Eletrnica Cadernos de Histria, ano 7, n. 2, dezembro de 2012.