A circunstância que cerca a morte de uma pessoa, a idade, condição
social e o seu relacionamento religioso são fatores importantes que impõem a forma dos rios funerários. No Brasil, para os indicados das religiões de etnia yorubá, os ritos são denominados Àsèsè – retorno às origens. O falecimento de um indicado é marcado pela retirada, com o corpo já no ataúde do elemento central de sua iniciação, o osù. Trata – se de uma retirada simbólica de algo, agora abstrato, juntamente com alguns fios de cabelo do alto da cabeça, no lugar onde foi colocado o osù. Outros elementos são utilizados neste ritual: efun (Pó branco); eyin (ovo); èiè eiyelé ( sangue de pombo); àkàsà (Pudim de milho branco enrolado em folha verde); òwú (algodão), com o qual tudo é recolhido e despachado . Posteriormente , o jogo do obì tudo confirmará . em alguns casos, o ritual é feito em cima de um igbá, uma meia cabeça. O manipulador deste ritual deve ser sempre uma pessoa com orô mais antigo que o falecido, ou , pelo menos com a mesma expressão religiosa. Após o enterro é iniciada uma seqüência de cerimônias noturnas, idênticas e diárias, que duram sete dias, sendo que, no sexto dia, deverão ser feitos os sacrifícios propiciatórios e o Erù Éégún – “Carrego do Morto”. No último dia, denominado “arremate”, cantar – se com o dia claro. Somente no ritual de Àsèsè, o Ìpàdé é realizado à noite, com exceção do último dia, quando é feito de dia. Durante todo o Àsèsè, os toques são feitos em cima do igbá, uma meia cabeça, ou do akèrègbè, uma cabaça inteira. Somente no último dia os atabaques são utilizados. Todos os presentes se vestem de branco, aso òkè, cobrindo toda a parte de cima do corpo até o pescoço. No pulo amarra-se uma tira de palha – da – costa, ìko, e, nas pálpebras, passa-se um pouco de efun, pó branco, assim como também na nuca, fronte e peito.
Àsèsè , meus respeitos
Àsèsè, Àsèsè o As escravas saúdam os mais antigos
Os cântigos são acompanhados de danças individuais em frente a um
igbá, colocado no chão, onde são depositadas moedas recebidas de todos os presentes, passadas antes em volta de suas cabeças . É o “ pagamento” de proteção para as pessoas não irem com a alma do morto. Os cânticos são efetuados na modalidade Kétu, e em duas outras etnias - jeje e angola – congo, pois Éégún existe em toda nação de Candomblé; não tem bandeira, muda de nome, mas é um só. Quando, em vida, a pessoa morta teve seus assentamentos, Ìdí Òrisà, acompanhados pôr quartinhas cheias de água , símbolo de vida ativa. Agora, sua quartinhas serão esvaziadas e emborcadas, como símbolo da vida que partiu. É o jogo que irá definir o que irá no carrego do morto e o que poderá ficar como ojúbo da casa, ou seja, a permanência dos assentados e outros símbolos como elementos de culto e adoração. Há um aspecto nos ritos de Àsèsè que devemos observar e que está ligado ao Òrìsà Òsóòsí . Após os cânticos iniciais, é feita uma série de reverências a Ode Àrólé, um outro nome dado a Òsóòsì, e ancestral míticos dos candomblés da nação Kétu no Brasil. Relacionado ao fato, vamos transcrever trechos de uma citação feita pela ìyálórìsà Stella de Òsóòsì e posteriormente pôr oba Ka Kanfò, ambos pertences ao Candomblé do Àse Òpó Àfònjá em Salvador Bahia.
“Uma outra denominação dada ao rito de Àsèsè é Àjèjé, que significa
a vigília do caçador. Conta a tradição que Oduleke criou uma menina e que deu o nome de Oya. Já crescida, se tornou mulher inteligente e altiva conhecendo todos os segredos da caça e artes de magia. Quando Odukele faleceu, Oya lhe prestou uma homenagem. Reuniu os seus pertences, colocando – os numa grande trouxa e, durante 7 dias, dançou e cantou em homenagem ao pia adotivo. Ao final dos 7 dias, um grande cortejo foi depositar a grande trouxa aos pés de uma arvore sagrada. A este carrego foi dado o nome de Àjèjé e que deu nome também ao ritual. A princípio era praticado apenas pelos caçadores e, com o tempo, se entendeu a todas as pessoas recebendo o nome de Àsèsè”.
Uma das seqüências das cantigas em louvor a Òsòósì nos fala sobre isto:
O nascimento que nos trouxe o mundo
Ode Àrólé nos trouxe ao mundo
O ritual de Àsèsè, descrito em parte é dedicado exclusivamente ás
pessoas iniciadas. Em fins do século passado, os descendentes de africanos no Brasil faziam esse ritual indistintamente. Em outra exposição de Oba Ka Kanfò sobre o assunto, destacamos o trecho: “Os pêsames eram dados com um tabuleiro de àkàràje, panela com èkuru, abara, àkàsà etc. Estas comidas ficavam em volta do corpo, na sala, e pertencia ao morto ou morta. Quando chegava um visitante, ele fazia a saudação “E Kú àse o” e servia usando uma folha de mamona passada no fogo onde estavam sendo feitas as comidas, e comia. Depois jogava a folha num balaio e ia dançar em volta do corpo para pagar a comida que comera. Porque, geralmente, naquele tempo, o Àsèsè era feito em qualquer casa. Nos dias de hoje, é feito somente nos terreiros”. Entre os yorubá, quando morre uma pessoa, o corpo é envolvido imediatamente numa mortalha branca. Antes ele é banhado; se for uma mulher, o cabelo é devidamente penteado, e se for homem, algumas vezes é inteiramente raspado. A condição de estar devidamente limpo é para ser bem recebido na morada de seus ancestrais. Em algumas religiões, um pouco do cabelo, das unhas dos dedos dos pés e das mãos do falecido é cortado e guardado para “2º enterro”, que ocorrerá dias ou semanas depois. Conhecedores da maneira de preservar o corpo, o mesmo pode ficar dois ou mais dias sem exalar mal cheiro e recebendo as honras devidas. Os sacrifícios efetuados objetivam fortalecer o espírito, igualmente os alimentos e oferendas fortalecer o espírito, igualmente os alimentos e oferendas, que são colocados aos pés do morto como forma dele não sentir fome durante a jornada à terra dos ancestrais. Os parentes e amigos chegam para cantar, dançar e comer. Antes do pôr – do – sol a dança pára e o corpo é envolvido em roupas pesadas e bonitas, tudo conduzido em procissão solene até a sepultura. Há o costume de se mandar recados para os antepassados que se foram antes, numa prova da crença no além e no poder dos antepassados. Todo este conjunto de situações objetivas não perde o vínculo com os familiares e que a vida lá continue do mesmo modo que a vida na Terra. Em outros tempos, as sepulturas eram cavadas no interior da casa, mas o costume passou. Vários dias após o funeral, há um outro rito conhecido como fífa éégún Òkùú wo lé – “Trazer o espírito falecido para a casa”. Um santuário é construído no canto da casa, onde são feitos os pedidos e oferendas, numa conversa íntima familiar. Este vínculo fortalece a condição deles tudo verem o que está acontecendo na Terra. Quando se diz Bàbá mimá sùn o – “Meu pai, não durma”, trata-se de um apelo ao falecido para ficar atento ás coisas da Terra. Em outras palavras, há uma comunhão constante e um apelo à vigilância.
Bibliografia Livro: Òrun Áiyé Autor: José Beniste Editora Bertrand Brasil . 01/08/2002