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HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA, LAVAGEM DE DINHEIRO E QUADRILHA. LAUDO DE CRIPTOANÁLISE PRODUZIDO POR PROFISSIONAL LIGADO AO MINISTÉRIO PÚBLICO. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA, BEM COMO DE DISPOSITIVOS DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. PROVA ILÍCITA. CONCESSÃO DA ORDEM.
1. Entende-se por perito oficial aquele investido no cargo criado por lei, caracterizando-se como auxiliar da justiça e submetendo-se, inclusive, às mesmas causas de suspeição e impedimento do magistrado.
2. Na hipótese vertente, conquanto o laudo pericial tenha sido elaborado por servidora pública, verifica-se que ela compunha o quadro de pessoal do Ministério Público Estadual, não atuando em órgão do Estado destinado exclusivamente à produção de perícias.
3. Assim, o exame questionado foi realizado, a pedido da Promotoria de Justiça que atua no feito, dentro da própria estrutura do Parquet, por meio do Grupo de Apoio Técnico Especializado, do qual a perita fazia parte, a despeito de qualquer ordem, autorização ou controle judicial.
4. O Ministério Público é parte no processo penal, e embora seja entidade vocacionada à defesa da ordem jurídica, representando a sociedade como um todo, não atua de forma imparcial no âmbito penal, de modo que é inconcebível admitir como prova técnica oficial um laudo que emanou exclusivamente de órgão que atua como parte acusadora no processo criminal, sem qualquer tipo de controle judicial ou de participação da defesa, sob pena de ofensa aos princípios constitucionais do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa.
5. A corroborar este entendimento, o artigo 276 do Código de Processo Penal é claro ao assentar a impossibilidade de interferência das partes no que diz respeito à indicação do perito.
6. O caso dos autos não comporta, ainda, a afirmação de que a perícia seria urgente, o que poderia legitimar a sua realização por técnica vinculada ao órgão de acusação, uma vez que se trata de perícia realizada no curso da ação penal, merecendo destaque o fato de que a agenda apreendida foi entregue à Delegacia de Polícia Fazendária sem que se requeresse ao magistrado responsável pelo feito a efetivação de qualquer exame técnico no documento.
7. Registre-se que a denúncia foi ofertada pelo órgão ministerial em 12.11.2007, recebida pelo Juízo em 13.03.2008, sendo que a agenda foi apreendida em poder do paciente em 28.11.2007, e a perícia reputada ilícita realizada em 19.04.2008.
8. Não há que se falar, portanto, em contraditório diferido, uma vez que, por óbvio, não se trata de perícia feita durante a fase policial - que sequer ocorreu no caso dos autos, já que a ação penal foi deflagrada a partir de procedimento investigatório conduzido pelo órgão ministerial -, tampouco de situação em que haveria urgência diante do risco de desaparecimento dos sinais do crime, ou pela impossibilidade ou dificuldade de conservação do material a ser examinado, pois, como visto, cuida-se de criptoanálise de uma agenda apreendida em poder de um dos acusados já no curso do processo criminal.
9. Restam prejudicadas as alegações segundo as quais haveria impedimento da técnica que elaborou o laudo em discussão, que também seria nulo porque realizado por apenas uma perita, uma vez que, conforme já ressaltado, não se tem, no caso vertente, perícia oficial.
10. Ordem concedida para reconhecer a ilicitude do laudo pericial de criptoanálise realizado de forma unilateral pelo Ministério Público, determinando-se o seu desentranhamento dos autos.
(HC 154093/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 09/11/2010, DJe 15/04/2011)
Titolo originale
Operação Propina S.A. - Ilegalidade de laudo produzido por profissional ligado ao MP
HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA, LAVAGEM DE DINHEIRO E QUADRILHA. LAUDO DE CRIPTOANÁLISE PRODUZIDO POR PROFISSIONAL LIGADO AO MINISTÉRIO PÚBLICO. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA, BEM COMO DE DISPOSITIVOS DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. PROVA ILÍCITA. CONCESSÃO DA ORDEM.
1. Entende-se por perito oficial aquele investido no cargo criado por lei, caracterizando-se como auxiliar da justiça e submetendo-se, inclusive, às mesmas causas de suspeição e impedimento do magistrado.
2. Na hipótese vertente, conquanto o laudo pericial tenha sido elaborado por servidora pública, verifica-se que ela compunha o quadro de pessoal do Ministério Público Estadual, não atuando em órgão do Estado destinado exclusivamente à produção de perícias.
3. Assim, o exame questionado foi realizado, a pedido da Promotoria de Justiça que atua no feito, dentro da própria estrutura do Parquet, por meio do Grupo de Apoio Técnico Especializado, do qual a perita fazia parte, a despeito de qualquer ordem, autorização ou controle judicial.
4. O Ministério Público é parte no processo penal, e embora seja entidade vocacionada à defesa da ordem jurídica, representando a sociedade como um todo, não atua de forma imparcial no âmbito penal, de modo que é inconcebível admitir como prova técnica oficial um laudo que emanou exclusivamente de órgão que atua como parte acusadora no processo criminal, sem qualquer tipo de controle judicial ou de participação da defesa, sob pena de ofensa aos princípios constitucionais do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa.
5. A corroborar este entendimento, o artigo 276 do Código de Processo Penal é claro ao assentar a impossibilidade de interferência das partes no que diz respeito à indicação do perito.
6. O caso dos autos não comporta, ainda, a afirmação de que a perícia seria urgente, o que poderia legitimar a sua realização por técnica vinculada ao órgão de acusação, uma vez que se trata de perícia realizada no curso da ação penal, merecendo destaque o fato de que a agenda apreendida foi entregue à Delegacia de Polícia Fazendária sem que se requeresse ao magistrado responsável pelo feito a efetivação de qualquer exame técnico no documento.
7. Registre-se que a denúncia foi ofertada pelo órgão ministerial em 12.11.2007, recebida pelo Juízo em 13.03.2008, sendo que a agenda foi apreendida em poder do paciente em 28.11.2007, e a perícia reputada ilícita realizada em 19.04.2008.
8. Não há que se falar, portanto, em contraditório diferido, uma vez que, por óbvio, não se trata de perícia feita durante a fase policial - que sequer ocorreu no caso dos autos, já que a ação penal foi deflagrada a partir de procedimento investigatório conduzido pelo órgão ministerial -, tampouco de situação em que haveria urgência diante do risco de desaparecimento dos sinais do crime, ou pela impossibilidade ou dificuldade de conservação do material a ser examinado, pois, como visto, cuida-se de criptoanálise de uma agenda apreendida em poder de um dos acusados já no curso do processo criminal.
9. Restam prejudicadas as alegações segundo as quais haveria impedimento da técnica que elaborou o laudo em discussão, que também seria nulo porque realizado por apenas uma perita, uma vez que, conforme já ressaltado, não se tem, no caso vertente, perícia oficial.
10. Ordem concedida para reconhecer a ilicitude do laudo pericial de criptoanálise realizado de forma unilateral pelo Ministério Público, determinando-se o seu desentranhamento dos autos.
(HC 154093/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 09/11/2010, DJe 15/04/2011)
HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA, LAVAGEM DE DINHEIRO E QUADRILHA. LAUDO DE CRIPTOANÁLISE PRODUZIDO POR PROFISSIONAL LIGADO AO MINISTÉRIO PÚBLICO. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA, BEM COMO DE DISPOSITIVOS DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. PROVA ILÍCITA. CONCESSÃO DA ORDEM.
1. Entende-se por perito oficial aquele investido no cargo criado por lei, caracterizando-se como auxiliar da justiça e submetendo-se, inclusive, às mesmas causas de suspeição e impedimento do magistrado.
2. Na hipótese vertente, conquanto o laudo pericial tenha sido elaborado por servidora pública, verifica-se que ela compunha o quadro de pessoal do Ministério Público Estadual, não atuando em órgão do Estado destinado exclusivamente à produção de perícias.
3. Assim, o exame questionado foi realizado, a pedido da Promotoria de Justiça que atua no feito, dentro da própria estrutura do Parquet, por meio do Grupo de Apoio Técnico Especializado, do qual a perita fazia parte, a despeito de qualquer ordem, autorização ou controle judicial.
4. O Ministério Público é parte no processo penal, e embora seja entidade vocacionada à defesa da ordem jurídica, representando a sociedade como um todo, não atua de forma imparcial no âmbito penal, de modo que é inconcebível admitir como prova técnica oficial um laudo que emanou exclusivamente de órgão que atua como parte acusadora no processo criminal, sem qualquer tipo de controle judicial ou de participação da defesa, sob pena de ofensa aos princípios constitucionais do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa.
5. A corroborar este entendimento, o artigo 276 do Código de Processo Penal é claro ao assentar a impossibilidade de interferência das partes no que diz respeito à indicação do perito.
6. O caso dos autos não comporta, ainda, a afirmação de que a perícia seria urgente, o que poderia legitimar a sua realização por técnica vinculada ao órgão de acusação, uma vez que se trata de perícia realizada no curso da ação penal, merecendo destaque o fato de que a agenda apreendida foi entregue à Delegacia de Polícia Fazendária sem que se requeresse ao magistrado responsável pelo feito a efetivação de qualquer exame técnico no documento.
7. Registre-se que a denúncia foi ofertada pelo órgão ministerial em 12.11.2007, recebida pelo Juízo em 13.03.2008, sendo que a agenda foi apreendida em poder do paciente em 28.11.2007, e a perícia reputada ilícita realizada em 19.04.2008.
8. Não há que se falar, portanto, em contraditório diferido, uma vez que, por óbvio, não se trata de perícia feita durante a fase policial - que sequer ocorreu no caso dos autos, já que a ação penal foi deflagrada a partir de procedimento investigatório conduzido pelo órgão ministerial -, tampouco de situação em que haveria urgência diante do risco de desaparecimento dos sinais do crime, ou pela impossibilidade ou dificuldade de conservação do material a ser examinado, pois, como visto, cuida-se de criptoanálise de uma agenda apreendida em poder de um dos acusados já no curso do processo criminal.
9. Restam prejudicadas as alegações segundo as quais haveria impedimento da técnica que elaborou o laudo em discussão, que também seria nulo porque realizado por apenas uma perita, uma vez que, conforme já ressaltado, não se tem, no caso vertente, perícia oficial.
10. Ordem concedida para reconhecer a ilicitude do laudo pericial de criptoanálise realizado de forma unilateral pelo Ministério Público, determinando-se o seu desentranhamento dos autos.
(HC 154093/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 09/11/2010, DJe 15/04/2011)
RELATOR : MINISTRO JORGE MUSSI IMPETRANTE : ANDR EMLIO RIBEIRO VON MELENTOVYTCH E OUTROS IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO PACIENTE : FRANCISCO ROBERTO DA CUNHA GOMES EMENTA HABEAS CORPUS . CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTRIA, LAVAGEM DE DINHEIRO E QUADRILHA. LAUDO DE CRIPTOANLISE PRODUZIDO POR PROFISSIONAL LIGADO AO MINISTRIO PBLICO. VIOLAO AOS PRINCPIOS DO CONTRADITRIO E DA AMPLA DEFESA, BEM COMO DE DISPOSITIVOS DO CDIGO DE PROCESSO PENAL. PROVA ILCITA. CONCESSO DA ORDEM. 1. Entende-se por perito oficial aquele investido no cargo criado por lei, caracterizando-se como auxiliar da justia e submetendo-se, inclusive, s mesmas causas de suspeio e impedimento do magistrado. 2. Na hiptese vertente, conquanto o laudo pericial tenha sido elaborado por servidora pblica, verifica-se que ela compunha o quadro de pessoal do Ministrio Pblico Estadual, no atuando em rgo do Estado destinado exclusivamente produo de percias. 3. Assim, o exame questionado foi realizado, a pedido da Promotoria de Justia que atua no feito, dentro da prpria estrutura do Parquet , por meio do Grupo de Apoio Tcnico Especializado, do qual a perita fazia parte, a despeito de qualquer ordem, autorizao ou controle judicial. 4. O Ministrio Pblico parte no processo penal, e embora seja entidade vocacionada defesa da ordem jurdica, representando a sociedade como um todo, no atua de forma imparcial no mbito penal, de modo que inconcebvel admitir como prova tcnica oficial um laudo que emanou exclusivamente de rgo que atua como parte acusadora no processo criminal, sem qualquer tipo de controle judicial ou de participao da defesa, sob pena de ofensa aos princpios constitucionais do devido processo legal, do contraditrio e da ampla defesa. 5. A corroborar este entendimento, o artigo 276 do Cdigo de Processo Penal claro ao assentar a impossibilidade de interferncia das partes no que diz respeito indicao do perito. 6. O caso dos autos no comporta, ainda, a afirmao de que a percia seria urgente, o que poderia legitimar a sua realizao por tcnica vinculada ao rgo de acusao, uma vez que se trata de percia realizada no curso da ao penal, merecendo destaque o fato de que a agenda apreendida foi entregue Delegacia de Polcia Fazendria sem que se requeresse ao magistrado responsvel pelo feito a efetivao de qualquer exame tcnico no documento. Documento: 1013542 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 15/04/2011 Pgina 1 de 25
Superior Tribunal de Justia 7. Registre-se que a denncia foi ofertada pelo rgo ministerial em 12.11.2007, recebida pelo Juzo em 13.03.2008, sendo que a agenda foi apreendida em poder do paciente em 28.11.2007, e a percia reputada ilcita realizada em 19.04.2008. 8. No h que se falar, portanto, em contraditrio diferido, uma vez que, por bvio, no se trata de percia feita durante a fase policial - que sequer ocorreu no caso dos autos, j que a ao penal foi deflagrada a partir de procedimento investigatrio conduzido pelo rgo ministerial -, tampouco de situao em que haveria urgncia diante do risco de desaparecimento dos sinais do crime, ou pela impossibilidade ou dificuldade de conservao do material a ser examinado, pois, como visto, cuida-se de criptoanlise de uma agenda apreendida em poder de um dos acusados j no curso do processo criminal. 9. Restam prejudicadas as alegaes segundo as quais haveria impedimento da tcnica que elaborou o laudo em discusso, que tambm seria nulo porque realizado por apenas uma perita, uma vez que, conforme j ressaltado, no se tem, no caso vertente, percia oficial. 10. Ordem concedida para reconhecer a ilicitude do laudo pericial de criptoanlise realizado de forma unilateral pelo Ministrio Pblico, determinando-se o seu desentranhamento dos autos. ACRDO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justia, na conformidade dos votos e das notas taquigrficas a seguir: Prosseguindo no julgamento, a Turma, por maioria, concedeu a ordem, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador convocado do TJ/AP) e Napoleo Nunes Maia Filho votaram com o Sr. Ministro Relator. Votaram vencidos os Srs. Ministros Gilson Dipp e Laurita Vaz, que denegavam a ordem. SUSTENTOU ORALMENTE NA SESSO DE 19/10/2010: DR. ANDR EMLIO RIBEIRO VON MELENTOVYTCH (P/ PACTE.). Braslia (DF), 09 de novembro de 2010. (Data do Julgamento). MINISTRO JORGE MUSSI Relator Documento: 1013542 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 15/04/2011 Pgina 2 de 25
Superior Tribunal de Justia HABEAS CORPUS N 154.093 - RJ (2009/0226404-2)
IMPETRANTE : ANDR EMLIO RIBEIRO VON MELENTOVYTCH E OUTROS IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO PACIENTE : FRANCISCO ROBERTO DA CUNHA GOMES RELATRIO O EXMO. SR. MINISTRO JORGE MUSSI (Relator): Trata-se de habeas corpus com pedido liminar impetrado em favor de FRANCISCO ROBERTO DA CUNHA GOMES contra aresto proferido pela Segunda Cmara Criminal do Tribunal de Justia do Estado do Rio de Janeiro que denegou a ordem no writ n. 2009.059.05180, no qual se objetivava o desentranhamento de prova reputada ilcita dos autos de ao penal a que responde o paciente por suposto envolvimento em crimes contra a ordem tributria, de lavagem de dinheiro e de quadrilha. Sustentam os impetrantes que aportou aos autos da ao penal citada laudo pericial de criptoanlise produzido por profissional ligado ao rgo acusador e sem a participao do ru ou do magistrado, em flagrante violao dos princpios do contraditrio e da ampla defesa. Aduzem que no seria a hiptese de contraditrio diferido, assim como que a defesa deveria participar da elaborao do laudo pericial, oferecendo quesitos e nomeando assistente tcnico. De outro lado, defendem que a perita tcnica estava impedida de atuar na investigao em apreo, pois j tinha participado da degravao de interceptao telefnica realizada no mbito da mesma operao, o que contaminaria a prova, nos termos do artigo 278, inciso II, do Cdigo de Processo Penal. Afirmam, ainda, que restou violado o artigo 276 do mesmo diploma legal, pois a nomeao do perito no deve sofrer interferncia das partes, assinalando que a subscritora do laudo, uma vez compondo o quadro profissional do prprio autor da ao, no agiria com a iseno ou imparcialidade exigidas pela lei. Postulam, portanto, a concesso da ordem, para que seja declarada a ilicitude do laudo pericial, determinando-se o seu desentranhamento da ao penal. s fls. 780/781, a liminar foi deferida para que o juiz se abstivesse de Documento: 1013542 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 15/04/2011 Pgina 3 de 25
Superior Tribunal de Justia utilizar como razes de decidir o laudo de criptoanlise produzido unilateralmente pelo Ministrio Pblico. Prestadas as informaes (fls. 791/792 e 799/802), o Ministrio Pblico Federal, em parecer de fls. 804/819, manifestou-se pelo no conhecimento do mandamus ou, caso superada tal questo, pela denegao da ordem. o relatrio.
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Superior Tribunal de Justia HABEAS CORPUS N 154.093 - RJ (2009/0226404-2)
VOTO O EXMO. SR. MINISTRO JORGE MUSSI (Relator): Conforme relatado, com este habeas corpus pretende-se, em sntese, o reconhecimento da ilicitude de laudo pericial de criptoanlise produzido por profissional ligado ao rgo acusador, e sem a participao do ru ou do magistrado. Segundo consta dos autos, no curso de procedimento investigatrio conduzido pelo Ministrio Pblico, o mencionado rgo requereu, em 12.11.2007, diversas medidas cautelares, dentre elas a busca e apreenso de documentos, livros, instrumentos porventura utilizados na perpetrao dos delitos, e CPUs e/ou arquivos magnticos que contivessem dados estanques, cujo contedo pudesse ter relao com os fatos que estavam sendo apurados (fl. 85). Em 23.11.2007, o magistrado responsvel pelo feito deferiu o pedido ministerial, verbis : "Em igual sentido, imperioso o deferimento das diligncias de busca e apreenso, na forma do artigo 240, do CPP, e da expedio de ofcios Secretaria de Fazenda do Estado do Rio de Janeiro, nos exatos termos indicados pelo Ministrio Pblico, justamente como forma de viabilizar a produo do maior nmero de elementos de prova possvel, os quais possam colaborar com a formao da opinio delicti dos membros do Parquet, permitindo o eventual oferecimento de denncia contra os autores dos crimes em apurao. Expeam-se os mandados de busca e apreenso e os ofcios pertinentes. O prazo para cumprimento dos mandados de busca e apreenso ser de 10 (dez) dias, devendo os Agentes Pblicos encarregados de efetuar as diligncias observar as disposies constantes do artigo 245, do CPP, e apresentar o material apreendido, aps triagem Delegacia Fazendria da Polcia Civil do Estado do Rio de Janeiro, bem como prestar as informaes cabveis a este Juzo." (fls. 144/145). A busca e apreenso da agenda cuja percia se contesta no presente mandamus foi realizada no dia 28.11.2007, ocasio em que foi apanhado em poder do Documento: 1013542 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 15/04/2011 Pgina 5 de 25
Superior Tribunal de Justia paciente o material detalhado no termo de fls. 149/150. Em 29.11.2007, o Ministrio Pblico do Estado do Rio de Janeiro forneceu as seguintes informaes ao Juzo: "Vimos, pela presente, prestar os seguintes esclarecimentos a respeito da Operao Propina S.A., deflagrada ontem em cumprimento deciso desse r. Juzo. Dos 31 mandados de priso, foi dado efetivo cumprimento a 25 deles, prosseguindo-se as diligncias para a captura dos demais. Em decorrncia dos mandados de busca e apreenso, foram arrecadados diversos documentos, uma significativa quantidade de computadores, bens e valores, dentre outros, cuja conferncia e apreenso se encerraram s 4h da madrugada. Todo material apreendido foi encaminhado ao CIAC (Centro Integrado de Apurao Criminal), localizado na Rua Pedro Alves, 187, Santo Cristo. A escolha deu-se por razes de segurana, tendo em vista que o rgo conta com a presena permanente de policiais cujas guarnies foram reforadas para guarda do material. Ainda hoje ser iniciada a anlise de tudo o que foi apreendido, em regime de mutiro, com especial preocupao para a devoluo daquilo que no for necessrio s investigaes, sobretudo os computadores apreendidos nas empresas." (fl. 153). Aos 23.01.2008, aps a anlise dos objetos arrecadados pelos membros do Parquet , foi lavrado pela Delegacia de Polcia Fazendria auto de detalhamento do material apresentado e apreendido na "Operao Propina S/A" (fls. 155/158). Nesse nterim, em 12.11.2007 o paciente foi denunciado, juntamente com diversos outros corrus, pela suposta prtica de crimes contra a ordem tributria, de lavagem de dinheiro e de quadrilha. Sobre a participao do paciente nos mencionados delitos, eis o que consta da inicial acusatria: "Nesta ramificao da quadrilha, a maioria dos crimes gravita em torno da figura do denunciado Francisco Roberto Documento: 1013542 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 15/04/2011 Pgina 6 de 25
Superior Tribunal de Justia da Cunha Gomes, pessoa que sem qualquer sombra de dvidas articula os demais integrantes da ramificao, procedendo junto aos demais fiscais e empresrios, direcionando desde a forma como a fiscalizao deveria ser feita at o valor das propinas a serem pagas, sempre tendo por escopo o locupletamento prprio e dos fiscais de seu ncleo, bem como a sonegao de impostos pelas empresas e empresrios envolvidos. Para a perfeita concretizao de seus intentos criminosos, Francisco Roberto ainda se valia de um grande nmero de pessoas, dentre elas, um secretrio particular, um office-boy, um motorista, alm de servidores de nvel intermedirio das Inspetorias." (fl.169). Em 19.05.2008, j estando em curso a ao penal instaurada contra o paciente e demais corrus, o rgo ministerial pleiteou a juntada aos autos de laudo pericial de criptoanlise de agenda apreendida com o ora paciente (fl. 235), exame realizado pela tcnica pericial Maria do Carmo Gargaglione, servidora que atua no Grupo de Apoio Tcnico Especializado do Ministrio Pblico do Estado do Rio de Janeiro. Pois bem. Antes de adentrar o mrito das alegaes apresentadas pelos impetrantes na inicial do writ , cumpre afastar a apontada impossibilidade de apreciao do mandamus suscitada pela Subprocuradoria Geral da Repblica, que vislumbrou a ocorrncia de supresso de instncia na hiptese vertente. No presente habeas corpus alega-se a ilicitude do laudo pericial de criptoanlise pelos seguintes fundamentos: realizao do exame por profissional ligado ao rgo acusador e sem a participao do ru ou do magistrado, em flagrante violao dos princpios do contraditrio e da ampla defesa; inexistncia, no caso, de situao que implicasse a necessidade de contraditrio diferido; obrigatoriedade de participao da defesa na elaborao do laudo, oferecendo quesitos e nomeando assistente tcnico; impedimento da perita tcnica, pois teria participado da degravao de interceptao telefnica realizada no mbito da mesma operao, o que contaminaria a prova; e violao ao artigo 276 do Cdigo de Processo Penal, pois a nomeao do perito no deve sofrer interferncia das partes, assinalando que a subscritora do laudo, uma vez compondo o quadro profissional do prprio autor da ao, no agiria com a iseno ou imparcialidade exigidas pela lei. Na origem, a ordem foi denegada em acrdo que restou assim Documento: 1013542 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 15/04/2011 Pgina 7 de 25
Superior Tribunal de Justia ementado: "HABEAS CORPUS. CRIME DE QUADRILHA E DELITO CONTRA A ORDEM TRIBUTRIA PRATICADO POR EMPRESRIOS EM CONCURSO COM SERVIDORES PBLICOS (FISCAIS DE RENDAS). PLEITO DE DESENTRANHAMENTO DO LAUDO PERICIAL DE CRIPTOANLISE ELABORADO POR PERITA CEDIDA AO MINISTRIO PBLICO. ALEGAO DE VIOLAO DOS PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS DO DEVIDO PROCESSO LEGAL, DO CONTRADITRIO E DA AMPLA DEFESA - O QUE TERIA CAUSADO PREJ UZO DEFESA DO PACIENTE, QUE NO PARTICIPOU DA PRODUO DA REFERIDA PROVA - E DE AFRONTA AO ARTIGO 279, II, DO CDIGO DE PROCESSO PENAL, TENDO EM VISTA QUE A SUBSCRITORA DO MENCIONADO LAUDO FOI QUEM PROCEDEU AO MONITORAMENTO E DEGRAVAO DAS INTERCEPTAES TELEFNICAS ANTERIORMENTE AUTORIZADAS. AUSNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM QUE SE DENEGA. 1. Possuindo o presente writ idntica fundamentao do habeas corpus n 2009.059.02428, tambm desta Cmara Criminal - qual seja, a alegao de violao dos princpios constitucionais do devido processo legal, do contraditrio e da ampla defesa, causando prejuzo defesa -, incabvel se mostra, sob pena de afronta coisa julgada material, a apreciao, no presente remdio herico, da referida matria, ficando a anlise deste mandamus restrita ao argumento de que a validade do laudo pericial de criptoanlise elaborado pelo Parquet 'continuaria comprometida, haja vista que realizado por perito impedido, segundo a prescrio contida no inciso II do art. 279 do Cdigo de Processo Penal.' 2. No tendo a referida perita - funcionria pblica da Prefeitura do Rio de Janeiro, cedida ao Ministrio Pblico estadual - prestado 'depoimento no processo' anteriormente elaborao dos laudos tcnicos de degravao das ligaes telefnicas (elaborados nos dias 12/11/2007, 22/01/2008 e 30/01/2008), e do laudo pericial (elaborado no dia 19/04/2008), porquanto somente foi ela ouvida em juzo no dia 29/08/2008, apenas para esclarecer a metodologia utilizada na elaborao deste ltimo laudo, informando, ainda, como chegou ao respectivo resultado - ocasio em que teve a defesa a oportunidade do exerccio do contraditrio - incabvel se mostra o pretendido desentranhamento do mencionado laudo pericial de Documento: 1013542 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 15/04/2011 Pgina 8 de 25
Superior Tribunal de Justia criptoanlise. 3. Inexistindo nos autos qualquer indcio de que a perita do Parquet tenha, anteriormente elaborao do laudo tcnico de criptoanlise, opinado 'sobre o objeto da percia' - at porque todos os laudos tcnicos de degravao das ligaes telefnicas por ela elaborados, tal como o prprio laudo de criptoanlise, so meramente descritivos e no opinativos -, impossvel se revela, tambm por este motivo, o deferimento do pleito formulado no presente wirt." (fls. 452/453). V-se, ento, que a Corte a quo manifestou-se efetivamente sobre a questo da ilicitude da prova pericial, o que permite que este Superior Tribunal de Justia aprecie o tema. Destaque-se, ademais, que o simples fato de haver outro habeas corpus impetrado em favor do paciente, no qual tambm se pleiteia o desentranhamento do citado laudo dos autos da ao penal, no prejudica o julgamento deste mandamus . que o HC n. 142.205/RJ, tambm de minha relatoria, no qual se impugna o acrdo proferido no writ n. 2009.059.02428, ser julgado de forma conjunta com a presente impetrao, para que se tenha uma melhor compreenso das alegaes, facilitando a prestao jurisdicional invocada. Ressalte-se, em arremate, que no presente remdio constitucional foram acostadas cpias dos dois habeas corpus impetrados em favor do paciente na origem, bem como dos respectivos acrdos nos quais a ordem restou denegada, circunstncias que viabilizam o conhecimento e julgamento da presente impetrao. Quanto ao mrito, a ordem deve ser concedida. Inicialmente, imperioso transcrever a ementa do primeiro habeas corpus impetrado na origem em favor do paciente (HC n. 2009.059.02428), em que a ordem foi denegada a partir das seguintes razes: "CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTRIA. QUADRILHA ORGANIZADA, COMPOSTA POR FISCAIS DE RENDA, CONTABILISTAS, EMPRESRIOS E COLABORADORES. LAUDO ASSINADO POR UM NICO PERITO PERTENCENTE ESTRUTURA ADMINISTRATIVA DO MINISTRIO PBLICO. Documento: 1013542 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 15/04/2011 Pgina 9 de 25
Superior Tribunal de Justia ILICITUDE DA PROVA QUE NO MERECE SER ACOLHIDA. NO APLICAO DA SMULA 361, DO STF. IRREGULARIDADE PROCEDIMENTAL. PARA QUE SE DECLARE NULIDADE NECESSRIO DEMONSTRAR EFETIVO PREJUZO A UMA DAS PARTES OU APURAO DA VERDADE REAL, O QUE NO OCORREU. DOCUMENTO IDNEO PROVANDO A EXISTNCIA DO DELITO E NENHUMA LESO OCASIONADA DEFESA, VEZ QUE A COLETA DE PROVAS SE APRESENTA CONVENIENTE ANTE A PRESENA DO FUMUS BONI IURIS E DO PERIGO DE INUTILIZAO DO PROCESSO COM O DESAPARECIMENTO DE PROVAS DELE DISTANTES. DEPOIMENTO DE PERITO TCNICO PRESTADO EM AUDINCIA DE PROVA DE ACUSAO E GRAVADO EM VDEO. OCASIO EM QUE SE EXERCEU O CONTRADITRIO. INEXISTNCIA DO PROPALADO CERCEAMENTO DE DEFESA E AUSNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL DE QUE TRATAM OS ARTS. 5, LXVIII, DA CF/1988 E 647, DO DIPLOMA PROCESSUAL PENAL. DENEGAO DA ORDEM." (fls. 412/413). Do voto condutor, retiram-se as passagens abaixo: "O laudo pericial criminal tem como suporte uma srie de formalidades e de regulamentos emanados, principalmente, do Cdigo de Processo Penal, que o diferencia, em diversos aspectos, daqueles destinados Justia Cvel. A principal caracterstica que todas as partes integrantes do processo dele se utilizam, pois uma pea tcnico-pericial nica, preconizada pelo art. 159, do CPP. A necessidade de percia, no mbito da Justia Criminal, deve ser feita por peritos oficiais, que so profissionais de curso superior ingressos no servio pblico (Institutos de Criminalstica ou Institutos de Medicina Legal) mediante concurso, cuja funo especfica fazer percias. Na questio jris, o laudo de fls. 29/184 foi evidentemente prejudicial defesa, motivo pelo qual ela se insurgiu. Ocorre que, nesse caso, mesmo que outro perito houvesse participado, em nada alteraria o resultado, pois a sua idoneidade no teria o condo de anular a do outro profissional que j havia participado da percia, vez que possuiriam a mesma qualificao tcnica para o referido procedimento. Nesses termos, tendo em vista que a Sra. Maria do Carmo Gargaglione , comprovadamente, tcnica pericial Documento: 1013542 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 15/04/2011 Pgina 10 de 25
Superior Tribunal de Justia integrante do Grupo de Apoio Tcnico Especializado do Ministrio Pblico, no merece acolhida a irresignao dos combativos impetrantes, pois desnecessria a participao de outro perito na produo do laudo, a fim de atestar a sua idoneidade, ressaltando-se, ainda, que o mtodo empregado na sua feitura foi trazido aos autos, inclusive, com detalhamento prestado em sede de audincia, com a presena da defesa tcnica." (fl. 418). E, citando parecer da Procuradoria de Justia, o Desembargador Relator fez ver que o Ministrio Pblico teria "utilizado setor criado em sua estrutura administrativa, justamente para o aprimoramento e melhor embasamento de provas sobre o ilcito penal imputado ao agente, certo de pugnar pela aplicao da justia nos exatos termos e contornos legais (fl. 421). Assim, conforme se depreende dos trechos acima reproduzidos, o Tribunal de Justia do Estado do Rio de Janeiro considerou inexistir qualquer ilicitude no laudo pericial elaborado por tcnica que pertence estrutura administrativa do rgo acusador. Para solucionar a controvrsia acerca da licitude ou no da percia ora impugnada, preciso esclarecer, em primeiro lugar, que embora a referida prova tenha sido produzida na vigncia do artigo 159 do Cdigo de Processo Penal com a redao dada pela Lei 8.862/1994, tanto o texto anterior quanto o atual, posterior ao advento da Lei 11.690/2008, exigem que a percia seja feita por perito oficial, distinguindo-se apenas quanto quantidade de tcnicos necessria para a realizao dos exames. Entende-se por perito oficial aquele investido no cargo por lei, caracterizando-se como auxiliar da justia, submetendo-se, inclusive, s mesmas causas de suspeio e impedimento do magistrado. Sobre o tema, Guilherme de Souza Nucci expe que: Perito o especialista em determinado assunto. Considera-se-o oficial quando investido na funo por lei e no pela nomeao feita pelo juiz. Normalmente, so pessoas que exercem a atividade por profisso e pertencem a rgo especial do Estado, destinado exclusivamente a produzir percias. Note-se que a lei exige a realizao da percia por um profissional, que considerado, para todos os efeitos, auxiliar da justia (art. Documento: 1013542 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 15/04/2011 Pgina 11 de 25
Superior Tribunal de Justia 275, CPP), submetendo-se s mesmas causas de suspeio dos magistrados (art. 280, CPP). (Manual de Processo Penal e Execuo Penal. E ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 405). Na hiptese vertente, conquanto o laudo pericial tenha sido elaborado por servidora pblica investida no cargo por lei, verifica-se que ela compunha o quadro de pessoal do Ministrio Pblico Estadual, no atuando em rgo do Estado destinado exclusivamente produo de percias. Assim, o exame questionado foi realizado, a pedido da Promotoria de Justia que atua no feito, dentro da prpria estrutura do Parquet , por meio do Grupo de Apoio Tcnico Especializado, do qual a perita fazia parte, a despeito de qualquer ordem, autorizao ou controle judicial. Ora, no se pode considerar como oficial uma percia implementada nesses moldes, ao arrepio dos princpios constitucionais do devido processo legal, do contraditrio e da ampla defesa. H que se ter presente que o Ministrio Pblico parte no processo penal, e embora seja entidade vocacionada defesa da ordem jurdica, representando a sociedade como um todo, no atua de forma imparcial no mbito penal. Apesar de no se desconhecer a existncia de discusso doutrinria acerca da natureza jurdica do Parquet na seara criminal, a posio que mais se coaduna com a realidade do processo penal brasileiro que defende que o citado rgo parte parcial na ao penal. Nesse sentido a lio de Gustavo Badar: "O Ministrio Pblico, ao exercer a ao penal, formulando uma pretenso consistente em imputar ao acusado a prtica de um fato definido como crime, est assumindo a funo de parte. Resta saber, porm, se como parte tem um papel parcial ou imparcial. (...) Contudo, a concepo do Ministrio Pblico como parte imparcial incompatvel com o processo penal acusatrio. O modelo acusatrio exige um processo no qual haja uma dualidade de partes, em igualdade de condies, mas com interesses distintos. Definido o sistema, os sujeitos que nele atuam devem ter a sua funo determinada coerentemente Documento: 1013542 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 15/04/2011 Pgina 12 de 25
Superior Tribunal de Justia com os ditames do modelo processual escolhido. Num processo penal verdadeiramente acusatrio, necessrio rever a posio do Ministrio Pblico como parte imparcial. O contraditrio, possibilitando o funcionamento de uma estrutura dialtica, que se manifesta na potencialidade de indagar e de verificar os contrrios, representa um mecanismo eficiente para a busca da verdade. Mais do que uma escolha de poltica processual, o mtodo dialtico uma garantia epistemolgica na pesquisa da verdade. As opinies contrapostas dos litigantes ampliam os limites do conhecimento do juiz sobre os fatos relevantes para a deciso e diminuem a possibilidade de erros. No processo penal, necessariamente haver o contraditrio, devido importncia dos bens em jogo, pois a soluo desse conflito de interesses relevantes exige, sempre, uma deciso oficial e segura, uma vez que a escolha da parte pode ser, e frequentemente , errada. Contudo, para que o processo acusatrio ou processo de partes se desenvolva em toda sua potencialidade, em a dialtica processual permitindo uma correta reconstruo dos fatos, necessrio que no processo atuem partes com interesses antagnicos ou contrapostos. O convencimento judicial a superao da dvida, que vem de duo, como duellum, e implica a presena de duas ordens de razes contrapostas (da acusao e da defesa) entre as quais o juiz chamado a escolher. Para que tal mecanismo dialtico funcione corretamente, necessrio que haja partes com interesses contrapostos." (nus da prova no processo penal. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 210/213). O mencionado autor prossegue, aduzindo que: "Conceber o Ministrio Pblico como parte imparcial significa inviabilizar a dialtica de partes ou, ao menos, tornar a contraposio entre tese e anttese algo artificial ou meramente formal. No processo acusatrio, em que se acentua a relao dialtica entre as partes, o Ministrio Pblico deve ser uma parte verdadeira, isto uma parte parcial (...) Por tudo isso, no se pode admitir que o Ministrio Pblico seja uma parte ontologicamente imparcial. O Ministrio Pblico no processo penal parte, e parte interessada. Ao formular a acusao, embora esteja buscando o acertamento judicial sobre a ocorrncia ou no do fato crime imputado ao acusado, o Ministrio Pblico j se convenceu previamente da culpabilidade e buscar prov-la. Embora Documento: 1013542 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 15/04/2011 Pgina 13 de 25
Superior Tribunal de Justia para o exerccio da ao penal no se exija a certeza da autoria, o representante do Ministrio Pblico, quando acusa, certamente entende que esta a hiptese mais provvel. Mais do que isso, ao oferecer a denncia, o Promotor acredita que, ao cabo da instruo, conseguir provar, alm de qualquer dvida razovel, a tese da acusao. Alm da inadequao terica, a tese da imparcialidade do Ministrio Pblico tambm contestada pela prtica, que demonstra que o rgo da acusao sempre est empenhado em provar a sua hiptese delitiva, da qual somente abre mo em caso em que se constata a inidoneidade dos elementos de prova que disponha. Isso no significa que, ao longo do iter processual, seja em decorrncia das provas produzidas pela defesa, seja mesmo em funo do resultado das provas de acusao, o Ministrio Pblico no possa se convencer da inocncia do acusado e acabe por pedir sua absolvio. Neste momento poder-se-ia falar em imparcialidade. Mas seria uma imparcialidade eventual e fortuita. (...) Some-se que a conotao de imparcialidade do Ministrio Pblico uma forma de mascarar a verdadeira conflituosidade no s jurdica, mas tambm poltica e social, entre o acusador e o acusado, que imanente ao processo penal. A alegada 'imparcialidade' do Ministrio Pblico traz como consequncia que a posio deste sujeito processual que no o julgador sempre representar a soluo justa e correta. Como o acusador nunca buscaria algo ilegal, por ser essencialmente 'desinteressado', quando ele propugnasse pela condenao porque o acusado realmente seria culpado. Em ltima anlise, o discurso da imparcialidade do Ministrio Pblico tem por finalidade agregar uma maior credibilidade tese acusatria porque a acusao, de forma imparcial e desinteressada, concluiu pela culpa do acusado , em relao posio defensiva que postula a absolvio, porque sempre dever defender o acusado, bradando por sua inocncia, ainda que ele seja culpado. A imparcialidade do Ministrio Pblico, em ltima anlise, acabaria por enfraquecer a presuno de inocncia." (Op. cit., p. 217/221). E, acerca dos efeitos da constatao da parcialidade do Parquet na esfera da produo de provas, o doutrinador tece as seguintes consideraes: "Ainda no campo probatrio, outra conseqncia importante Documento: 1013542 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 15/04/2011 Pgina 14 de 25
Superior Tribunal de Justia do reconhecimento da parcialidade do Ministrio Pblico no processo penal quanto ao valor que se poder dar aos elementos de convico que foram produzidos diretamente pelo Ministrio Pblico, sem a participao do acusado e sem a presena do juiz. Vem se tornando uma prtica cada vez mais freqente a realizao de oitiva de testemunhas nos gabinetes dos promotores de justia. Num processo penal de modelo acusatrio, com partes antagnicas em posio de igualdade, e com iguais direitos prova, todo ato de investigao conduzido exclusiva e isoladamente pelo Ministrio Pblico deve ser considerado apenas como uma 'atividade de parte', tendo somente o valor de uma reconstruo do fato de um ponto de vista parcial e unilateral. Certamente o resultado de tal investigao ser relevante para que o Ministrio Pblico forme sua convico, principalmente para fins de opinio delicti. Ser importante, tambm, para descoberta de fontes de provas que permitiro a produo de meios de prova sob o contraditrio judicial. Contudo, para fins de formao do convencimento judicial, com vistas ao julgamento do processo, esse ato parcial de investigao, produzido na ausncia da 'parte contrria' e fora do contraditrio no ser suficiente para condenao." (Op. cit., p. 222/224). Nessa ordem de ideias, inconcebvel admitir como prova tcnica oficial um laudo que emanou exclusivamente de rgo que atua como parte acusadora no processo criminal, sem qualquer tipo de controle judicial ou de participao da defesa. A corroborar este entendimento, o artigo 276 do Cdigo de Processo Penal claro ao assentar a impossibilidade de interferncia das partes no que diz respeito indicao do perito, verbis : as partes no interviro na nomeao do perito. Sobre o tema, Guilherme de Souza Nucci leciona que: " princpio regente em processo penal, desvestindo as partes do direito de sugerir nomes para a funo de perito, at mesmo porque, atualmente, a grande maioria dos expertos oficial, independendo de qualquer tipo de nomeao ou compromisso. So funcionrios do Estado, embora considerados auxiliares da justia, quando atuam no processo. (...) Lembremos, tambm, que muitos laudos seno todos so produzidos na fase policial, sem repetio em juzo, motivo pelo qual descabe a interveno das partes na nomeao feita pelo delegado ou pelo juiz." (Cdigo de Processo Penal Comentado. 9 ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, p. 580). Documento: 1013542 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 15/04/2011 Pgina 15 de 25
Superior Tribunal de Justia Dessa forma, e nos termos estritos do referido artigo da Lei Processual Penal, no poderia o Ministrio Pblico, por iniciativa prpria, dentro da sua estrutura, periciar de forma unilateral a agenda apreendida e, posteriormente, requerer a juntada do respectivo laudo aos autos, como se prova oficial fosse. O caso dos autos no comporta, ainda, a afirmao de que a percia seria urgente, o que poderia legitimar a sua realizao por tcnica vinculada ao rgo de acusao. Isso porque, ao contrrio do que consignado pelo Tribunal de origem, para quem a coleta de provas se apresentaria conveniente ante a presena da fumaa do bom direito e do perigo de inutilizao do processo com o desaparecimento dos elementos de convico, na hiptese vertente a percia foi solicitada pela Promotoria de Justia ao Grupo de Apoio Tcnico Especializado do Ministrio Pblico do Estado no curso da ao penal, aps a verificao de tudo quanto fora objeto de arrecadao durante o cumprimento das medidas cautelares autorizadas judicialmente, merecendo destaque o fato de que a agenda apreendida foi entregue Delegacia de Polcia Fazendria sem que se requeresse ao magistrado responsvel pelo feito a efetivao de qualquer exame tcnico no documento. Nessa ordem de ideias, registre-se que a denncia foi ofertada pelo rgo ministerial em 12.11.2007 (fl. 232), recebida pelo Juzo em 13.03.2008, conforme extrato de movimentao processual obtida junto ao stio do Tribunal de origem, sendo que a agenda foi apreendida em poder do paciente em 28.11.2007, e a percia reputada ilcita realizada em 19.04.2008 (fls. 236 e 386). Assim, no h que se falar em contraditrio diferido, uma vez que, por bvio, no se trata de percia feita durante a fase policial - que sequer ocorreu no caso dos autos, cuja ao penal foi deflagrada a partir de procedimento investigatrio conduzido pelo rgo ministerial -, tampouco de situao em que haveria urgncia diante do risco de desaparecimento dos sinais do crime, ou pela impossibilidade ou dificuldade de conservao do material a ser examinado, pois, como visto, cuida-se de criptoanlise de uma agenda apreendida em poder de um dos acusados j no curso do processo criminal. Resta patente, ento, a total inobservncia aos postulados do devido Documento: 1013542 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 15/04/2011 Pgina 16 de 25
Superior Tribunal de Justia processo legal, da ampla defesa e do contraditrio, j que a percia foi realizada no mbito do Ministrio Pblico, sem autorizao ou controle judicial, e sem possibilitar defesa a oportunidade de ofertar quesitos, de nomear assistente tcnico, ou mesmo de se manifestar sobre a eventual suspeio ou impedimento do perito, de acordo com o disposto no artigo 159, 3 e 5 do Cdigo de Processo Penal. Quanto ao ponto, merece meno a advertncia feita por Ada Pellegrini Grinover, Antonio Magalhes Gomes Filho e Antonio Scarance Fernandes, no sentido de que, quando no for de imprescindvel realizao na fase policial, a percia deve ser produzida no curso do processo, com a interveno judicial e a devida observncia ao princpio do contraditrio: Mas, se a percia no for necessria na fase indiciria, porque inexiste perigo de que desapaream os sinais do crime ou de que se dispersem outros elementos probatrios, ou porque no servir ela para justificar a instaurao do processo, deve ser realizada na fase processual, mediante contraditrio prvio e com participao do juiz. A percia no inqurito prova antecipada, de natureza cautelar, e s se justificar quando presentes os requisitos do periculum in mora e do fumus boni jris. (As nulidades no processo penal. 11 ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p.145). Frise-se, outrossim, que o Estado do Rio de Janeiro conta, na estrutura de sua Polcia Civil, com um Departamento de Polcia Tcnica e Cientfica, a quem competiria, no caso concreto, realizar quaisquer exames ou percias oficiais no material arrecadado durante as buscas e apreenses. Por fim, restam prejudicadas as alegaes segundo as quais haveria impedimento da tcnica que elaborou o laudo em discusso, que tambm seria nulo porque realizado por apenas uma perita, uma vez que, conforme j ressaltado, no se tem, no caso vertente, percia oficial. A atividade desenvolvida pelos peritos eminentemente tcnica, destinando-se formao do convencimento do magistrado, o que revela a importncia e a necessidade de o servio prestado pelos tcnicos ser idneo e imparcial, o que no restou verificado no caso dos autos. Por tudo quanto foi dito, constata-se que a percia feita na agenda Documento: 1013542 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 15/04/2011 Pgina 17 de 25
Superior Tribunal de Justia apreendida em poder do paciente foi realizada ao arrepio dos princpios do contraditrio e da ampla defesa, alm de violar preceitos da legislao processual penal, o que revela a sua ilicitude, ensejando a sua excluso da ao penal em comento. Ante o exposto, concede-se a ordem para reconhecer a ilicitude do laudo pericial de criptoanlise realizado de forma unilateral pelo Ministrio Pblico, determinando-se o seu desentranhamento dos autos. o voto. Documento: 1013542 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 15/04/2011 Pgina 18 de 25
Superior Tribunal de Justia CERTIDO DE JULGAMENTO QUINTA TURMA
Nmero Registro: 2009/0226404-2 HC 154.093 / RJ MATRIA CRIMINAL Nmeros Origem: 20060011468014 200905905180 EM MESA JULGADO: 19/10/2010 Relator Exmo. Sr. Ministro JORGE MUSSI Presidente da Sesso Exmo. Sr. Ministro JORGE MUSSI Subprocurador-Geral da Repblica Exmo. Sr. Dr. BRASILINO PEREIRA DOS SANTOS Secretrio Bel. LAURO ROCHA REIS AUTUAO IMPETRANTE : ANDR EMLIO RIBEIRO VON MELENTOVYTCH E OUTROS IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO PACIENTE : FRANCISCO ROBERTO DA CUNHA GOMES ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra a Paz Pblica - Quadrilha ou Bando SUSTENTAO ORAL SUSTENTOU ORALMENTE: DR. ANDR EMLIO RIBEIRO VON MELENTOVYTCH (P/ PACTE) CERTIDO Certifico que a egrgia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epgrafe na sesso realizada nesta data, proferiu a seguinte deciso: "Aps o voto do Sr. Ministro Relator concedendo a ordem, pediu vista, antecipadamente, o Sr. Ministro Gilson Dipp." Aguardam os Srs. Ministros Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador convocado do TJ/AP), Laurita Vaz e Napoleo Nunes Maia Filho. Braslia, 19 de outubro de 2010 LAURO ROCHA REIS Secretrio Documento: 1013542 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 15/04/2011 Pgina 19 de 25
Superior Tribunal de Justia HABEAS CORPUS N 154.093 - RJ (2009/0226404-2)
VOTO-VISTA O EXMO. SR. MINISTRO GILSON DIPP: Cuida-se de impetrao destinada a impugnar a juntada de Laudo Pericial oferecido pelo Ministrio Pblico, nos autos da ao penal a que responde o paciente, por alegao de produo unilateral e ao arrepio das disposies da lei processual com violao de direitos e garantias fundamentais, bem assim pedir o desentranhamento da dita pea por constituir prova ilcita. A impetrao investe contra acrdo do Tribunal de Justia que denegou Habeas-Corpus originrio perante aquela Corte e que buscava desfazer deciso do Juzo de primeiro grau que deferira a juntada do mencionado laudo (Laudo Pericial de Criptoanlise do Contedo da Xerocpia autenticada da Agenda apreendida com o Acusado Francisco Roberto da Cunha Gomes, elaborado pelo GATE-Grupo de Apoio Tcnico Especializado, rgo do Ministrio Pblico Estadual). O Ministro Relator concedeu a medida liminar para que o Juiz se abstenha de utilizar como razes de decidir o laudo de criptoanlise produzido unilateralmente pelo denunciante .. No julgamento colegiado, da mesma forma, o Ministro Relator concedeu a ordem para reconhecer a ilicitude do laudo pericial de criptoanlise, realizado de forma unilateral pelo Ministrio Pblico, determinando o desentranhamento dos autos. Pedi vista antecipadamente, para examinar a espcie. Primeiramente, observa-se que ao invs dos meios prprios de defesa dentro da racionalidade processual, a irresignao dos rus vem se exercendo atravs da ao de habeas-corpus , em sentido prprio ou substitutivo de qualquer recurso, com a descaracterizao do prprio processo e de todo o sistema constitucional do duplo grau de jurisdio. No incomum, alis, alcanar a parte r os Tribunais Superiores e deles provocar e obter deliberaes tempors quando a ao penal ainda sequer se instaurou regularmente, salvo em casos especiais que meream o remdio. No caso em exame essas consideraes servem perfeio. De fato, o paciente est respondendo a ao penal por inmeros crimes financeiros e outros e pretende incidentalmente discutir isoladamente o oferecimento de uma pea de prova trazida Documento: 1013542 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 15/04/2011 Pgina 20 de 25
Superior Tribunal de Justia unilateralmente aos autos pelo Ministrio Pblico, antes do encerramento da instruo processual, das alegaes finais, ocasies em que possvel avaliar se h prejuzo defesa ou no, se a instruo alcanou o resultado por outro meio ou at, se o ato ou documento perdeu o significado para a instruo. O referido Laudo Pericial de Criptoanlise, no entanto, como mostra o parecer do Ministrio Pblico Federal resume-se a pea de prova do autor da ao penal. No a prova pericial produzida sob contraditrio e direo do Juiz da causa a que se refere o art. 159 CPP. Trata-se de prova produzida pela parte e isso no desgarra de qualquer baliza legal, cabendo ao julgador atribuir-lhe nesses limites o valor que entender, alm de submet-lo ao exame contraditrio (de resto, j oportunizado) do ru. Tambm no se cuida de prova ilcita posto que de regra a ilicitude nessa matria revela-se pela ofensa a garantias de sigilo quanto a privacidade, intimidade, imagem e honra (Comentrios ao CPP e sua Jurisprudncia, Eugenio Pacelli e Douglas Fischer, Lumen Jris , 2010, p. 313). Aqui simplesmente ocorreu a juntada de laudo tcnico de iniciativa do MP sobre documento apreendido regularmente em diligncia (HC 142.205-RJ, Rel. Jorge Mussi). Vale ressaltar que essa prova oferecida pelo Ministrio Pblico estadual no a percia judicial do art. 159 CPP nem tem o valor de prova produzida, repita-se, sob direo judicial. O regime jurdico da produo da prova pericial, a que reiteradamente se refere a impetrao, o regime de produo da prova pericial em juzo e, no caso, a juntada do laudo pelo MPF constitui mera oferta de documento da parte e no de laudo de percia judicial. Trata-se pois de prova extrajudicial legalmente admissvel que pelo seu contedo intrnseco vale como documento e tem fora probante nos limites prprios, a ser apreciado pelo juiz. Ante tal ordem de considerao e a despeito de ter sido o laudo indigitado produzido pelo prprio Ministrio Pblico ou por servidor a seu cargo, no caso de decretar-lhe a invalidade ou ilicitude e menos ainda de desentranh-lo dos autos, e, sim, apenas de dar-lhe o valor adequado segundo a livre apreciao das provas. Nessa linha, com a licena do Ministro Relator, casso a liminar e denego a ordem, para que prossiga a instruo. Documento: 1013542 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 15/04/2011 Pgina 21 de 25
Superior Tribunal de Justia o voto. Documento: 1013542 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 15/04/2011 Pgina 22 de 25
Superior Tribunal de Justia
HABEAS CORPUS N 154.093 - RJ (2009/0226404-2) (f)
VOTO-VENCIDO EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ: Sr. Presidente, penso que a matria j est bastante esclarecida e, com a devida vnia do eminente Ministro Relator e do Ministro Honildo de Mello Castro, acompanho o voto do Ministro Gilson Dipp, denegando a ordem de habeas corpus. o voto. Documento: 1013542 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 15/04/2011 Pgina 23 de 25
Superior Tribunal de Justia CERTIDO DE JULGAMENTO QUINTA TURMA
Nmero Registro: 2009/0226404-2 HC 154.093 / RJ MATRIA CRIMINAL Nmeros Origem: 20060011468014 200905905180 EM MESA JULGADO: 09/11/2010 Relator Exmo. Sr. Ministro JORGE MUSSI Presidente da Sesso Exmo. Sr. Ministro JORGE MUSSI Subprocurador-Geral da Repblica Exmo. Sr. Dr. FRANCISCO XAVIER PINHEIRO FILHO Secretrio Bel. LAURO ROCHA REIS AUTUAO IMPETRANTE : ANDR EMLIO RIBEIRO VON MELENTOVYTCH E OUTROS IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO PACIENTE : FRANCISCO ROBERTO DA CUNHA GOMES ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra a Paz Pblica - Quadrilha ou Bando SUSTENTAO ORAL SUSTENTOU ORALMENTE NA SESSO DE 19/10/2010: DR. ANDR EMLIO RIBEIRO VON MELENTOVYTCH (P/ PACTE) CERTIDO Certifico que a egrgia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epgrafe na sesso realizada nesta data, proferiu a seguinte deciso: "Prosseguindo no julgamento, a Turma, por maioria, concedeu a ordem, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator." Os Srs. Ministros Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador convocado do TJ/AP) e Napoleo Nunes Maia Filho votaram com o Sr. Ministro Relator. Votaram vencidos os Srs. Ministros Gilson Dipp e Laurita Vaz, que denegavam a ordem. Documento: 1013542 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 15/04/2011 Pgina 24 de 25
Superior Tribunal de Justia Braslia, 09 de novembro de 2010 LAURO ROCHA REIS Secretrio Documento: 1013542 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 15/04/2011 Pgina 25 de 25