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O documento discute como a sociedade moderna valoriza a normalização em detrimento do conflito, levando ao surgimento de uma "sociedade depressiva". Isso é evidenciado pelo uso crescente de medicamentos psiquiátricos que suprimem sintomas sem tratar as causas profundas, e pela ênfase da psiquiatria na classificação de doenças em vez da escuta do sofrimento do paciente. A psicanálise é colocada em questão nesse contexto por enfatizar o inconsciente, a sexualidade e o conflito, em opos
O documento discute como a sociedade moderna valoriza a normalização em detrimento do conflito, levando ao surgimento de uma "sociedade depressiva". Isso é evidenciado pelo uso crescente de medicamentos psiquiátricos que suprimem sintomas sem tratar as causas profundas, e pela ênfase da psiquiatria na classificação de doenças em vez da escuta do sofrimento do paciente. A psicanálise é colocada em questão nesse contexto por enfatizar o inconsciente, a sexualidade e o conflito, em opos
O documento discute como a sociedade moderna valoriza a normalização em detrimento do conflito, levando ao surgimento de uma "sociedade depressiva". Isso é evidenciado pelo uso crescente de medicamentos psiquiátricos que suprimem sintomas sem tratar as causas profundas, e pela ênfase da psiquiatria na classificação de doenças em vez da escuta do sofrimento do paciente. A psicanálise é colocada em questão nesse contexto por enfatizar o inconsciente, a sexualidade e o conflito, em opos
Curso de Psicologia Disciplina: Fundamentao da nfase IA Sade e Processos Clnicos DENISE RUIZ DE LACERDA
Fichamento do texto: A sociedade depressiva (Roudinesco) A derrota do sujeito O sofrimento psquico manifesta-se atualmente sob a forma da depresso. O homem deprimido no acredita mais na validade de nenhuma terapia, no entanto, busca desesperadamente preencher o vazio de seu desejo. Para isso, passa da psicanlise para a psicofarmacologia, e dessa para a psicoterapia, sem se dar tempo para refletir sobre a origem de sua infelicidade. Enquanto a sociedade sublinha a igualdade de todos perante a lei, cada um reivindica sua singularidade, recusando-se a se identificar com as imagens da universalidade. A era da subjetividade substituda pela era da individualidade o homem de hoje transformou-se no contrrio de um sujeito, no mais tentando construir seu ser a partir da conscincia das determinaes inconscientes que o perpassam sua revelia. A sociedade democrtica moderna quer banir de seu horizonte a realidade do infortnio, da morte e da violncia, ao mesmo tempo procura integrar num sistema nico as diferenas e as resistncias. Em nome da globalizao e do sucesso econmico, ela tem tentado abolir a ideia do conflito social. Assim, ela passou da era do confronto para a era da evitao, e do culto da glria pela valorizao dos covardes. Agora no se trata de entrar em luta com o mundo, mas de evitar o litgio, aplicando uma estratgia de normalizao. Todo indivduo tem o dever de no mais manifestar seu sofrimento, de no mais se entusiasmar com o menor ideal que no seja o do pacifismo ou o da moral humanitria. O outro passa a ser sempre uma vtima, e por isso se gera a vontade de instaurar no outro a coerncia soberana de um eu narcsico. dada uma valorizao dos processos psicolgicos de normalizao, em detrimento das diferentes formas de explorao do inconsciente. No entanto, o inconsciente ressurge atravs do corpo, opondo uma forte resistncia s disciplinas e s prticas que visam repeli-lo. As sociedades democrticas do fim do sculo XX deixaram de privilegiar o conflito como ncleo normativo da formao subjetiva. A concepo freudiana de um sujeito do inconsciente foi substituda pela concepo mais psicolgica de um indivduo depressivo, que foge de seu inconsciente e est preocupado em retirar de si a existncia de todo conflito.
Os medicamentos de esprito A partir de 1950, as substncias qumicas esvaziaram os manicmios e substituram as camisas-de-fora e os tratamentos de choque pelos medicamentos. Fabricaram um novo homem, polido e sem humor, esgotado pela evitao de suas paixes, envergonhado por no ser conforme ao ideal que lhe proposto. Os psicotrpicos tm o efeito de normalizar comportamentos e eliminar os sintomas mais dolorosos do sofrimento psquico, sem lhes buscar a significao. A princpio, a psicofarmacologia deu ao homem uma recuperao da liberdade. Devolveram a fala ao louco, trouxeram aos neurticos e deprimidos, maior tranquilidade. No entanto, a psicofarmacologia encerrou o sujeito numa nova alienao ao pretender cur-lo da prpria essncia da condio humana. O psicotrpico simbolizou a vitria do pragmatismo e do materialismo sobre as enevoadas elucubraes psicolgicas e filosficas que tentavam definir o homem. Nos pases democrticos, tudo se passa como se no fosse possvel haver nenhuma rebelio. Da a tristeza da alma e a impotncia do sexo, da o paradigma da depresso. Se a emergncia do paradigma da depresso realmente significa que a reinvindicao de uma norma prevaleceu sobre a valorizao do conflito, isso tambm quer dizer que a psicanlise perdeu sua fora de subverso. O paradoxo dessa nova situao que a psicanlise passou a ser confundida com o conjunto das prticas sobre as quais, o passado, exerceu sua supremacia. A psicanlise j no parece se adaptar sociedade depressiva. Se hoje ela posta em concorrncia com a psicofarmacologia, porque os prprios pacientes passaram a exigir que seus sintomas psquicos tenham uma causalidade orgnica. Todos os estudos sociolgicos mostram que a sociedade depressiva tende a romper a essncia da vida humana, considerando que, cada vez mais, neurticos normais reduzem seu limiar de tolerncia aos inelutveis sofrimentos habituais, s dificuldades e provaes da vida. O poder dos remdios , portanto, o sintoma de uma modernidade que tende a abolir no homem o desejo de liberdade e a prpria ideia de enfrenta-lo. A alma no uma coisa Nessa situao, no nos surpreende que a psicanlise seja permanentemente violentada por um discurso tecnicista que no para de invocar sua ineficcia experimental. A psicanlise parece ser ainda mais atacada hoje em dia por haver conquistado o mundo atravs da singularidade de uma experincia subjetiva que coloca o inconsciente, a morte e a sexualidade no cerne da alma humana. A psiquiatria do fim do sculo XX desinteressou-se do sujeito e o abandonou a tratamentos nos quais a fala no tinha nenhum lugar. Assim preferindo a classificao das doenas escuta do sofrimento, ela mergulhou numa espcie de niilismo teraputico. Em consequncia disso, reduziu a psicoterapia a uma tcnica de supresso de sintomas. Quer se trate de angustia, agitao, melancolia ou simples ansiedade, a psiquiatria trata, inicialmente, o trao visvel da doena para suprimi-lo. Evita, assim, a investigao de sua causa de maneira a orientar o paciente para uma posio cada vez menos conflituosa, e portanto, cada vez mais depressiva. Em lugar das paixes, a calmaria, em lugar do desejo, a ausncia de desejo, em lugar do sujeito, o nada.