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Este texto revisita temas referentes à crítica do urbano pela Geografia, abordando temas como a cidade pós-revolução industrial, o planejamento urbano, o rentismo, e o isolamento dos indivíduos nas metrópoles.
Este texto revisita temas referentes à crítica do urbano pela Geografia, abordando temas como a cidade pós-revolução industrial, o planejamento urbano, o rentismo, e o isolamento dos indivíduos nas metrópoles.
Este texto revisita temas referentes à crítica do urbano pela Geografia, abordando temas como a cidade pós-revolução industrial, o planejamento urbano, o rentismo, e o isolamento dos indivíduos nas metrópoles.
da cidade industrial paleotcnica solido da metrpole
Vitor Vieira Vasconcelos Mestre em Geografia Bacharel em Filosofia
Graduao em Geografia da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG Junho de 2014
A Cidade Industrial Paleotcnica
Em virtude da expanso das fronteiras coloniais europeias a partir do sculo XV, at o sculo XVIII, foram introduzidas novas espcies de cultivares alimentcios, bem como foi estruturado um sistema estvel de fornecimento de alimentos das colnias para o continente europeu. Essa disponibilidade de alimentos permitiu que a burguesia capitalista pudesse arquitetar novos projetos que utilizassem a mo-de-obra at ento concentrada nas reas rurais da Europa, e deixassem a outra parte como reserva medicante. Com a inveno da mquina a vapor, movida a carvo, tornou-se possvel instalar grandes projetos industriais. As aglomeraes de trabalhadores que migravam do campo para trabalhar nessas indstrias formaram as cidades industriais paleotcnicas. As minas de carvo, as estradas de ferro e as indstrias criavam o eixo para a expanso dos ncleos urbano- industriais. A revoluo industrial, porm, no foi apenas uma mudana nas tcnicas, mas tambm nas formas de cultura e de valores humanos. Os valores e formas de organizao do perodo medieval eram rapidamente abandonados, e os capitalistas industriais passavam a valorizar cada vez mais a busca da eficincia produtiva e da ampliao da reproduo capitalista. Cada parcela do espao e do tempo deveria ser usada para o trabalho, e no mais para a convivncia e desenvolvimento das potencialidades culturais humanas. Os trabalhadores das indstrias deveriam ganhar o mnimo possvel, ocupar o mnimo de espao possvel e trabalhar o mximo de tempo possvel, de modo a trazer mais lucros para os industrialistas. Dessa forma, os trabalhadores urbanos passaram a viver uma vida muito mais degradante que quando viviam no ambiente rural. Alm disso, a burguesia pregava uma ideologia de que deveria haver o mnimo de interveno do governo sobre o desenvolvimento econmico e, consequentemente, sobre o desenvolvimento urbano. Com isso, desejavam deixar de contribuir para o sistema absolutista no qual os reis sustentavam uma classe privilegiada de nobres, clero e burocratas com os impostos colhidos da burguesia. Na proposta da burguesia industrialista, o governo deveria garantir apenas a segurana da propriedade privada, para que a burguesia tivesse liberdade para executar seus projetos de desenvolvimento. Essa atrofia governamental, especialmente no nvel municipal, levou as novas cidades paleotcnicas industriais a se transformarem em grandes aglomerados desorganizados (mas sob a ordem capitalista!). A ausncia de estruturas e servios pblicos para limpeza urbana, fornecimento de gua, esgotamento sanitrio, por exemplo, tornava bem mais degradante a vida nesses centros urbanos, espalhando toda uma sorte de doenas. A isso se somavam a poluio industrial do ar, das guas e a poluio sonora das mquinas, bem como as habitaes insalubres dos operrios, sem acesso luz solar ou arejamento. Em vez de enfrentar esses problemas urbanos, tornava-se muito mais fcil explodir a cidade, ou seja, lanar novos ncleos de subrbios, indstrias e aglomeraes, ampliando a malha urbana. O centro da cidade deixa de ter a importncia comercial e cultural do perodo pr-revoluo industrial, pois as indstrias esto interessadas em produzir para fora, para a rede de mercados consumidores ao redor do mundo, em vez de cuidar de suas cidades. Para mais alm do que simples danos fisiolgicos aos habitantes urbanos, a nova cidade industrial bloqueou o desenvolvimento cultural de um sem nmero de trabalhadores, que passaram a viver muito mais como mquinas, ou mesmo bucha de canho. Esses reflexos continuam repercutindo nas cidades contemporneas, seja no imperativo da eficincia produtiva, seja nas condies de baixa qualidade de vida em grandes favelas e aglomerados urbanos nas cidades dos pases de terceiro mundo, em que vive a mo de obra mais explorada da sociedade.
O Sanitarismo e as Vilas Operrias
Os sanitaristas e urbanistas no incio do sculo XX, no Brasil, construram e propagaram um discurso de que o modo de vida da populao pobre nos cortios das cidades seriam a causa de problemas de sade e de desvios morais. O fato de viverem em ambientes de condies sanitrias precrias, com cmodos escuros, sem ventilao, sujos, e onde se aglomeravam dezenas de pessoas alm de animais e mesmo dejetos humanos, criariam condies propcias para o desenvolvimento de doenas e para a degenerao da moral humana. Nesse contexto, a construo de vilas operrias seria uma oportunidade para os empresrios industrialistas manterem seus empregados em condies de sade e de comportamento mais propcios para um maior rendimento nos trabalhos fabris. As casa unifamiliares com acesso gua e a sanitrios permitia maior condio de higiene. Mas as propostas da vila no paravam a. Junto com a habitao, possibilitava-se maior controle do patro sobre os empregados, em uma tentativa de incutir novos valores e comportamentos. Procurava-se que o trabalhador, aps o horrio de trabalho, se ativesse-se vida com a mulher e os filhos, sem sair para se divertir em botequins, prostbulos ou para outras atividades consideradas imorais ou subversivas. Nas vilas operrias, o controle inclua o toque de recolher, a fiscalizao das pessoas que circulavam nas ruas, bem como diversas outras regras. Os moradores tambm ficavam refns dos armazns localizados no interior das vilas, que garantiam lucro extra para o empresrio. Os padres e freiras exerciam o controle ideolgico, especialmente sobre as mulheres e crianas, nas igrejas e escolas locadas no interior da vila. Dessa forma, as vilas operrias, fundamentadas no saber-poder mdico-higienista, procurava mascarar as relaes de dominao por meio de uma ideologia de racionalismo e controle. Aos operrios, cabia acatar essas condies, pois caso desobedecessem s ordens, na fbrica ou na vila, perderiam de uma s vez o emprego e a habitao.
A Solido nas Metrpoles Contemporneas
Uma das principais transformaes decorrentes da revoluo industrial, trazendo a vida capitalista para as cidades, foi a atomizao individual. Por mais paradoxal que possa parecer, mesmo que nunca antes tantas pessoas vivam aglomeradas nos centros urbanos, essas pessoas vivem em um isolamento e solido maiores que na vida das comunidades pr- capitalistas. Uma cena bastante exemplificadora seria a de uma pessoa andando em uma avenida em meio a uma multido de carros e pedestres, mas sem interagir com nenhum deles. A gide da acumulao de riquezas pessoal e a premente competio do mercado de trabalho so alguns dos pontos chaves para entender essa guinada ao individualismo. Outro ponto importante o esprito da modernidade, sempre dissolvendo os valores antigos, antes que possam se transformar em pontos de convergncia cultural e social. A modernizao das cidades, realizada pelos urbanistas nos projetos de reforma ou de expanso urbana, tambm refletir esse paradigma. Em vez de tentar valorizar o contato humano nas cidades, suas intervenes acabam por separar os indivduos cada vez mais. Um caso claro a valorizao das rodovias e das vias expressas urbanas, em que a cidade passa a ser tlil no para se morar, mas apenas para que o cidado se desloque com o seu carro. Isso sem contar as inmeras pessoas que so removidas ou prejudicadas a cada interveno urbana. Os bairros cortados por essas grandes rodovias so desvalorizados e entram em decadncia, como foi o caso do Bronx em Nova Iorque. O erro desse urbanismo convencional parte de sua utopia de uma cidade funcional e totalmente planejada. Em sua postura higienista, o urbanista sonha com uma sociedade ideal, mas no d tanta ateno ao dia a dia das pessoas reais. Pelo contrrio, passa a maldizer os bairros em que h uma maior vivacidade entre as pessoas nas ruas, pois a prescrio ideal seria a de avenidas largas, com passeios largos mas vazios. Grande parte dos grandes projetos urbansticos teve resultados pouco expressivos, pois tentaram designar funes simplistas e isoladas a cada espao, sem entender a necessidade da multifuncionalidade para a vida cotidiana das pessoas. Alm disso, a imposio de uma estrutura urbana planificada desconsidera que as pessoas tambm tm seus planos individuais e querem interagir e modificar o espao a sua volta. Para uma proposta mais coerente de melhoria da vida das pessoas na cidade, so mais interessantes as iniciativas que levem os moradores a apropriar-se de seu prprio espao. Ao invs de um urbanismo autoritrio, torna-se importante criar canais de dilogo com os moradores para que eles reflitam, mostrem seus problemas e anseios, proponham sugestes e, antes de mais nada, colaborem para uma cidade melhor, segundo seus prprios valores.
Rentismo Urbano e as Estratgias Imobilirias
No sistema capitalista, a propriedade da terra um fator importantssimo, pois permite o controle da moradia, da circulao de pessoas e bens, e mesmo da instalao de empreendimentos produtivos. Desasa forma, as elites financeiras tero um interesse especial em manter a propriedade das terras, especialmente aquelas mais valorizadas. Ao dono da terra, cabe tanto a renda pelo aluguel, quanto a opo de especular financeiramente enquanto aguarda por uma valorizao do terreno, a fim de uma futura venda. Nesse contexto, a aliana entre a elite imobiliria e o Estado fundamental, na medida em que o Estado pode investir em infraestrutura, valorizando as terras, ou mesmo realizar desapropriaes em favelas e cortios para ceder esses terrenos a novas estratgias de incorporao imobilirias. A experincia dos programas de remoo de favelas ilustre bem como ocorre a relocao da populao pobre em reas centrais valorizadas para outras reas mais perifricas da cidade. Todavia, tambm interessante notar o fracasso dos programas habitacionais para o reassentamento dos pobres. Pois logo aps serem reassentados, os mecanismo de especulao imobiliria j comeam a atuar novamente nos conjuntos habitacionais, ainda que no ciclo informal da economia. Mesmo que seja formalmente proibido, logo aps o reassentamento, diversas habitaes j passam a ser alugadas ou vendidas, enquanto os moradores retornam para favelas perifricas. No caso as estratgias de projetos imobilirios para alta classe, uma exemplo o projeto de expanso urbana no entorno da Lagoa dos Ingleses. Localizado em uma rea supervalorizada da Regio Metropolitana de Belo Horizonte, os empreendedores tentam vender uma imagem de estilo, elegncia e conforto como forma de atrair os clientes de alta classe social. Conciliando moradia, trabalho e consumo em um mesmo local, tal como no Alphaville paulista, a elite belorizontina pretende comprar o seu sonho de isolar-se de vez do restante da sociedade. A contradio presente em ambos os exemplos que os planos de habitao e urbanismo no conseguem esconder as relaes de explorao e dominao existentes nas metrpoles. Ao mesmo tempo em que as reas planejadas e dotadas de infraestruturas servem ao enriquecimento do setor imobilirios formal, a populao pobre que trabalha para as elites (mesmo que em trabalhos intermitentes) no conseguir pagar por esses espaos supervalorizados e se dirigir s favelas e periferias. Porm, nessas reas marginalizadas, no podemos ser ingnuos de no reconhecer um mercado imobilirio, mesmo que informal, e que reproduz as relaes capitalistas. Assim, ao lado da especulao imobiliria do Alphaville (paulista ou belorizontino), tende a crescer a Alphavela, e mesmo estratgias de planejamento habitacional perifrico s iro atender mais especulao imobiliria e levar a favela para mais adiante.
Os Condomnios Fechados e a Elite Murada
Nas ltimas dcadas, as cidades brasileiras apresentaram uma multiplicao de empreendimentos imobilirios denominados condomnios fechados. Esses empreendimentos oferecem, como principal chamariz, a possiblidade de viver em um ambiente restrito a residentes de maior nvel de renda, protegidos da criminalidade e dos desconfortos que existem no espao pblico urbano. Para alm da segurana, esses condomnios oferecem diversas infraestruturas e servios de luxo, para fins de lazer e de distino social. Tereza Caldeiras, em seu livro Cidade de Muros, analisou como esses empreendimentos de condomnio fechado atuam como meios de segregao socioespacial e contrariam os ideias de urbanidade e democracia. A autora evidencia a contradio de como, em meio abertura democrtica e afirmao dos direitos humanos no Brasil ps-ditadura, as elites urbanas procuram se isolar cada vez mais no individualismo de suas casas e apartamentos. Mesmo entre os residentes no interior dos condomnios fechados, a interao social muito pouco valorizada, e h diversos atritos e dificuldades de convivncia. A maior parte dos espaos coletivos internos subutilizada e serve apenas como smbolo de status social. Todavia, os moradores de alta classe ainda precisam dos servios de domsticas, faxineiras, lavadores de carros, jardineiros e outros profissionais de classe baixa. Nos condomnios fechados, conforme demonstrado por Tereza Caldeiras, criam-se diversas estratgias para identificao, controle e segregao espacial desses funcionrios. Os seguranas revistam os funcionrios na entrada e sada do condomnio, e, quando esto dentro, sua circulao restringida predominantemente a halls de servio, elevadores de servio e reas de servio. A contratao de servios pelo condomnio, e no mais pelas famlias individualmente, tambm contribui para uma maior impessoalidade no trato do servial. Para o morador do condomnio fechado, portanto, o melhor que o funcionrio seja o mais invisvel possvel. Dessa forma, o morador do condomnio evita o desconforto de lembrar-se de que participa das relaes de dominao e explorao que resultam na diferenciao de classes da sociedade capitalista e na perpetuao da pobreza.
Referncias BERMAN, Marshall. Tudo que slido se desmancha no ar: a aventura a modernidade. 7 reimp. So Paulo: Companhia das Letras [1982] 1989. CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de muros: crime, segregao e cidadania em So Paulo. So Paulo: Editora 34/Edusp, 2000. JACOBS, Jane. Morte e Vida nas Grandes Cidades. So Paulo: Martins Fontes, [1961] 2000. LEFEBVRE H. A Revoluo Urbana. Belo Horizonte: Editora UFMG [1970] 1999. __________. A Cidade do Capital. 2 ed. Rio de Janeiro: DP&A, [1972] 2001. MARTINS, Srgio. Rentismo e autoritarismo: fundamentos seculares de uma urbanizao anticidad. In: ENCUENTRO DE GEGRAFOS DE AMRICA LATINA, 8, 2001, Santiago de Chile. Anais..., Santiago de Chile, 2001, p. 74-83. MUMFORD, L. A cidade na Histria. 2v. Belo Horizonte: Itatiaia, [1961] 1965. RAGO, Margareth Luzia. Do Cabar ao Lar: a utopia da cidade disciplinar Brasil 1890-1930. 2 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra [1985] 1987.
“O Veneno está na Mesa” e “O Veneno está na Mesa II”, drigidos por Sílvio Tendler, sob a perspectiva do capítulo “As Bases Epistemológicas da Agroecologia”, de João Carlos Costa Gomes, do livro “Princípios e Perspectivas da Agroecologia”