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Resumo
Buscando contribuir para a problematização das produções contemporâneas de subjetividade
frente ao fenômeno da violência, este trabalho apresenta discussões sobre alguns impasses
vividos por profissionais psi na cena clínica, sobre a proveniência da violência, sua relação com
o Estado e alguns dispositivos que nos permitam enfrentar a crescente produção da violência.
“Até aceito que ele tenha sido assassinado pelos bandidos; afinal
ele também era bandido... Mas o que não aceito é que dele restaram
apenas os dentes... Eles mataram e desapareceram com o corpo:
queimaram. Isto eu não consigo aceitar. Eu queria velar o meu filho.
Agora, parece que os bandidos aprenderam a destruir as provas para
não serem incriminados...”
(depoimento de uma paciente moradora de bairro popular)
assassinato do filho “bandido” - por este motivo considerado por ela e por muitos,
merecedor de castigo de morte - e a terrível dor de não poder enterrá-lo, nos levou
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e a que está em curso atualmente nas cidades: a brutalidade da violência - no
em todo o tecido social sob as formas mais perversas, ou mesmo de modo difuso,
assustadoras
atual, em 2001, o Projeto Clínico Grupal Tortura Nunca Mais deu início a uma
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postos de saúde, foram mapeados alguns impasses que têm se apresentado na
intensidade com que se apresentam, quer por seu caráter inusitado, têm posto os
O que está dentro? O que está fora? Esta pergunta permeou os discursos
situações “ se possa perceber que a violência é de uma outra ordem que não a do
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se trata? Da realidade brutal ou de uma produção delirante, semelhante a um
verdadeiro filme de horror? Que dispositivos clínicos podem nos ajudar a escapar
desta polarização?
A Realidade Delira?“
delírio”
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“A questão da violência, da fome e da miséria se aproximam a da
contamos no âmbito dos serviços que podem dar suporte às ameaças concretas
clientela afetada pela violência. “Há muita gente que chega aqui com um pedido
demanda para o atendimento clínico, estas unidades passam a ser uma referência
de abrigo protetor aos ameaçados pela polícia ou pelo narcotráfico, até que outro
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abandono por parte do Estado a estas populações é notório. Desta maneira, os
de vida.
apesar de que tem sido falha nossa não fazermos registros bem feitos - para
apresentar aos órgãos competentes para que sejam tomadas as providências. Por
A violência silenciada
“Há certos momentos que não vemos a violência onde ela está…”
desta região e sim de outras” ou então “... a não ser a chamada violência
“doméstica”.
ser característica da região, apontava não só para uma negativa da violência, pelo
sofrimento que ela implica, mecanismo habitualmente utilizado, mas também para
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um olhar mergulhado na distância de classe social, como se a violência fosse
sociais, vistos como os que têm “ingerência sobre estes assuntos”. Articulada a
que a atividade clínica está historicamente marcada pelo sigilo e falar em público
sua história pelo intimismo e pelo privado, a clínica tem produzido efeitos
cena clínica.
analistas estejam mais atentos, por ter sido a valorizada em suas formações.
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mulheres. Mas este investimento, sem dúvida necessário, tem se limitado à
tratamento dos afetados pela violência - nos parece imprescindível levar em conta
“ ...toda clínica, incluindo-se uma clínica dos afetados por esse tipo de
violência, só pode ser entendida, vivida, como imediatamente política,
resultado da problematização e da superação da dicotomia entre o
individual e o coletivo, entre o psicológico e o social. A clínica se dá sempre
numa relação com os acontecimentos que ultrapassam a vivência
individual, abrindo-se inapelavelmente para a história e para a política, para
os sentidos existenciais coletivos, para batalhas, derrotas e vitórias cujos
efeitos transbordam os referenciais familiares ou relacionados a princípios
universais intrapsíquicos, tão caros aos psicologismos e psicanalismos.”
(RAUTER, PASSOS, BENEVIDES, 2002, p.11)
Modulações
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conhecido como “Bem Estar Social” sofre uma mudança: são colocadas em
vários setores; o mercado passa a ser a principal referência das relações sociais,
todo o mundo.
Este modelo é hoje globalizado e cada país responde à aplicação desta ordem
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recorrendo a penalidades cada vez mais duras e/ou mesmo “eliminando” seus
toda ordem que se impõe, utiliza ferramentas próprias para sua defesa e
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criminalidade são acionados processos de alarme social, muitas vezes
por juízes.
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importante considerar que as experiências de violência praticadas pelo
controle, cuja forma mais brutal foi o genocídio: uma tecnologia de morte foi
que o sustenta e que ele administra em seu proveito, com a ajuda dos meios de
estas práticas não são marginais ao modelo, fazem parte de sua dinâmica
própria.
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violência: aparenta ser útil, portanto, superar as concepções soberanas do
poder e da economia, para dar conta da microfísica da violência.”(TAVARES
dos SANTOS, 2002, p.23)
Outubro de 2003
Referências Bibliográficas
1998.
Escuta, 1995.
p.101.
21 setembro de 2003.
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RAUTER,C.; PASSOS, E.; BENEVIDES,R. Introdução: Clínica e Política:
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