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1) Os testes de enzimas hepáticas como aminotransferases, fosfatase alcalina e gama-glutamiltransferase podem indicar agressão ao fígado, embora não sejam específicos do órgão. 2) A elevação dessas enzimas sugere a necessidade de investigar as principais causas como hepatites virais, doença hepática alcoólica, medicamentos e esteatose. 3) Os principais testes iniciais para identificar a causa incluem sorologia para hepatites B e C e a relação entre as aminotransferases
1) Os testes de enzimas hepáticas como aminotransferases, fosfatase alcalina e gama-glutamiltransferase podem indicar agressão ao fígado, embora não sejam específicos do órgão. 2) A elevação dessas enzimas sugere a necessidade de investigar as principais causas como hepatites virais, doença hepática alcoólica, medicamentos e esteatose. 3) Os principais testes iniciais para identificar a causa incluem sorologia para hepatites B e C e a relação entre as aminotransferases
1) Os testes de enzimas hepáticas como aminotransferases, fosfatase alcalina e gama-glutamiltransferase podem indicar agressão ao fígado, embora não sejam específicos do órgão. 2) A elevação dessas enzimas sugere a necessidade de investigar as principais causas como hepatites virais, doença hepática alcoólica, medicamentos e esteatose. 3) Os principais testes iniciais para identificar a causa incluem sorologia para hepatites B e C e a relação entre as aminotransferases
05 INTRODUO O s testes laboratoriais podem ser usados para: a. Confirmar a existncia de agresso ao fgado (testes hepticos); b. Avaliar funcionalmente he- patcitos, a drenagem biliar e o sistema reticuloendotelial (testes de funo heptica); c. Determinar a etiologia da doena heptica. Neste arti go comentaremos aspectos relacionados com a primeira categoria (espe- cialmente enzimas sricas). Alguns autores s utilizam o termo leso aps exame histolgico de fragmento de bipsia heptica. A confir- mao de agresso heptica baseada em testes bioqumicos (testes hepticos e no de funo heptica). Como exemplo, citaremos a elevao srica de aminotransferases, que informam sobre agresso ao rgo, mas no avaliam a sua funo. Entretanto, neste artigo usaremos os termos agresso (ou dano) e leso como sinnimos, pois tm sido utilizados pela maioria dos autores. (1) As enzimas podem ser encontradas em vrios tecidos do organismo, podendo estar elevadas em diversas doenas. Verifica-se na prtica diria que no incomum pacientes, mesmo sem sintomas, apresentarem elevao srica das enzimas aminotransferases (tran- saminases), fosfatase alcalina (FA) e gama- glutamiltransferase (GGT). Embora essas enzimas no sejam rgano- especficas (esto presentes em vrios tecidos do organismo) elevam-se mais freqentemente em pacientes com doena heptica, podendo refletir dano ao fgado, (2) razo pela qual vrios autores as denominam enzimas hepticas. A determinao da atividade srica dessas enzimas possibilita estabelecer o tipo de leso heptica, seja hepatocelular ou colesttica, mas no se presta para o diagnstico diferencial das hepatites e nem para indicar se a colestase intra ou extra-heptica. (3) Essa determinao en- zimtica importante para orientar a seqncia diagnstica, direcionando a escolha de exames sorolgicos especficos, tcnicas de imagem e bipsia. Quando o paciente apresenta elevao das mencionadas enzimas, qual a conduta a ser seguida? Admitindo-se que os resultados sejam confiveis (no necessitando, portanto, a repe- tio dos exames) deve-se inicialmente verificar se o paciente apresenta doena heptica ou Enzimas Hepticas: Por Que So Importantes Para o Estudo de Doenas do Fgado Prof. Dr. Moyss Mincis 1 Prof. Dr. Ricardo Mincis 2 1 - Professor Titular da Disciplina de Gastroenterologia da Universidade Federal de So Paulo Escola Paulista de Medicina. Professor Titular da Disciplina de Gastroenterologia da Faculdade de Cincias Mdicas de Santos. 2 - Professor Mestre da Disciplina de Gastroenterologia da Faculdade de Cincias Mdicas de Santos. Prof. Dr. Moyss Mincis ( esq.) e Prof. Dr. Ricardo Mincis. 45 Prtica Hospitalar Ano IX N 51 Mai-Jun/2007 no-heptica responsvel pela mencio- nada elevao enzimtica. Os quadros 1 e 2 listam respectivamente as causas de elevao srica crnica de transaminases, FA e GGT. Nveis de aminotransferases Ambas as aminotransferases esto presentes no soro, em nveis baixos. Nas leses hepatocelulares (como nas hepati- tes) esto elevadas. A aminotransferase do aspartato (AST) ou transaminase glutmico as causas no-hepticas. Para identificar a causa da elevao das aminotransferases deve-se recorrer a testes que esto men- cionados no quadro 3. A causa da elevao srica das tran- sami nases vari a consi deravel mente, dependendo da populao estudada. Em um nico grupo de 100 consecutivos doa- dores de sangue com aminotransferase da alanina elevada, 48% eram relacionados com o uso de lcool, 22% apresentavam esteatose, 17% hepatite C, 4% problemas no-hepticos e em 9% o diagnstico es- pecfico no foi estabelecido. (4) Em estudo recente de 1.124 pacientes consecutivos que apresentaram elevao crnica de aminotransferases, em 81 no foi possvel identificar a causa e foram submetidos a bipsia heptica. Dos 81 casos, 41 apre- sentavam esteatose, 26 esteatoepatite, quatro fibrose, dois cirrose e oito aspecto histolgico normal. Os pacientes com fibrose e cirrose apresentavam tambm es- teatose. Somente nos casos de esteatose e esteatoepatite foi possvel diagnstico especfico. Quadro 1. Causas de elevao dos nveis sricos de aminotransferases Causas hepticas Hepatite crnica B Hepatite crnica C Doena heptica alcolica Medicamentos, ervas, drogas Esteatose Esteatoepatite no-alcolica Hepatite auto-imune Doena de Wilson Decincia de alfa-1-antitripsina Causas no-hepticas Doenas inatas do metabolismo muscular Doenas musculares adquiridas Exerccios vigorosos Quadro 2. Causas de elevao srica da fosfatase alcalina e da gamaglutamil transferase Fosfatase Alcalina Colestase crnica Doena heptica inltrativa Primeiro trimestre da gravidez Aps ingesto de alimentos gordurosos nos grupos sangneos O ou B Elevao familial benigna Crescimento rpido em adolescente Aumenta gradualmente entre 45 e 60 anos, principalmente em mulheres. Gamaglutamil transferase Doenas hepatobiliares Doena pancretica Infarto do miocrdio Insucincia renal Doena pulmonar obstrutiva crnica Diabetes Alcoolismo Alguns medicamentos oxalactica (TGO) encontrada, em ordem decrescente quanto concentrao, no fgado, msculo cardaco, msculo esque- ltico, rins, crebro, pncreas, pulmes, leuccitos e eritrcitos. Os nveis mais elevados de aminotransferase da alanina (ALT) ou transferase glutmico-pirvica (TGP) so encontrados no fgado, po- dendo ser considerados marcador es- pecfico de dano heptico. Vale salientar, contudo, que h pouca correlao entre a intensidade de dano heptico e nveis de transaminases. (2) Havendo aumento persistente de tran- saminase deve-se inicialmente procurar obter anamnese completa para identificar as suas principais causas: hepatite crnica pelo vrus B, hepatite crnica pelo vrus C, doena heptica alcolica, medicamentos, ervas e drogas, esteatose, esteatoepatite no-alcolica, hepatite auto-imune, hemo- cromatose, doena de Wilson e deficincia de alfa-1-antitripsina entre as causas hep- ticas. E molstia clica, doenas inatas do metabolismo muscular, doenas muscula- res adquiridas e exerccios vigorosos, entre Quadro 3. Testes laboratoriais que podem identificar a causa de elevao srica de aminotransferase em paciente assintomtico Teste Diagnstico AgHBs, Anti-HBc e Anti-HBs Presena de AgHBs e Anti-HBc 6 meses indica hepatite crnica B Anti-HVC Sugestivo de hepatite crnica pelo vrus C *Antecedentes de alcoolismo e AST/ALT 2 Sugestivo de hepatite alcolica ou cirrose alcolica Ferro srico e capacidade total de ligao de ferro Sugestivo de hemocromatose Diminuio de ceruloplasmina (em paciente com 40 anos) Sugestivo de molstia de Wilson srica Eletroforese das protenas sricas (aumento policlonal de imunoglobinas) Sugestivo de hepatite auto-imune Eletroforese das protenas sricas (diminuio acentuada de -globulina) Sugestivo de decincia de alfa-1-antitripsina Testes adicionais Presena de RNA atravs do PCR Conrma hepatite crnica pelo vrus C Fenotipagem de -1-antitripsina Presena de fentipo ZZ indica decincia de alfa-1- antitripsina Anticorpos antiendomsio e antigliadina Indicativo de molstia celaca Elevao de creatinaquinase Indica distrbio de msculo estriado * Qualquer tipo de leso heptica lcool-induzida pode causar elevao de enzimas sricas. Nota: dados para o diagnstico de doena heptica induzida para medicamentos, ervas e drogas, constam do texto. 46 Prtica Hospitalar Ano IX N 51 Mai-Jun/2007 CAUSAS HEPTICAS Hepatite Crnica B O teste inicial para o estudo da infec- o pelo vrus B inclui AgHBs, anti-HBs, anti-HBc. A presena de anti-HBs e anti- HBc indica imunidade. AgHBs e Anti-HBc positivos indicam presena de infeco. Para determinar se h replicao viral deve-se incluir a pesquisa de DNA do vrus da hepatite B. Hepatite Crnica C A prevalncia dessa hepatite muito elevada nos EUA (5) e tambm no Brasil, a se julgar por estudo realizado no municpio de So Paulo. (6) O teste inicial para determinar a pre- sena de infeco pelo vrus C o anti- HVC (anticorpo contra o vrus da hepatite C), cuja sensibilidade 92% a 97%. (7) A confirmao do diagnstico feita pela presena de RNA atravs de PCR. Doena Heptica Alcolica A hiptese de doena heptica alco- lica deve ser baseada em um conjunto de dados: anamnese, exame fsico, exames laboratoriais, mtodos diagnsticos por imagem, estudo histolgico e melhora acentuada aps absteno etlica. (8) A re- lao TGO/TGO 2 sugestiva de doena heptica alcolica, especialmente hepatite alcolica e cirrose alcolica. Em estudo, confirmado por dados histolgicos, cerca de 90% dos casos com TGO/TGO > 2 apresentavam hepatopatia alcolica. (9) A positividade para o mencionado diagnsti- co aumentaria para 96%, aproximadamen- te, quando a relao TGO/TGP for > 3. Medicamentos, Ervas e Drogas O estudo diagnstico da doena hep- tica induzida por drogas (DHID) deve, em geral, se basear na anamnese, exame fsico, exames laboratoriais, mtodos diagnsticos por imagem e estudo histolgico (se poss- vel) e, em alguns casos, na resposta (melho- ra) aps a suspenso da droga. O conjunto dos dados obtidos possibilita, geralmente, afirmar que so muito sugestivos de DHID e informa a respeito do tipo de leso he- ptica e de sua intensidade. (10,11) Embora qualquer medicamento possa, em princpio, causar dano heptico, alguns (exemplos: digoxina, teofilina) geralmente no causam DHID, enquanto outros (antiinflamatrios no-esterides, antibiticos, drogas antiepi- lpticas) so comumente desencadeadores de DHID. Devemos tambm lembrar que ervas, alguns produtos homeopticos e drogas ilcitas (exemplo: cocana) podem tambm elevar as aminotransferases (e outras enzimas) no soro. Esteatose A esteatose caracteriza-se fundamen- talmente por deposio excessiva de gor- duras na clula heptica. H vrias causas: corticosteride, agentes txicos (fsforo, ter, clorofrmio, tetracloreto de carbono, entre outros), algumas anastomoses intes- tinais para o tratamento da obesidade, entre outras condies patolgicas. Entretanto, uma das causas mais freqentes a es- teatose lcool-induzida. Essa a primeira e a mais freqente das leses hepticas induzidas pelo etanol, podendo ser a nica ou estar associada com outra(s) leso(es) (hepatite alcolica, cirrose). A esteatose pode ser identificada pela ultra-sonografia ou tomografia computadorizada (alm, naturalmente, de estudo histolgico). Os nveis de aminotransferases no aumentam, em geral, mais de quatro vezes o valor normal. A relao AST/ALT pode ser 2 (embora esse ndice seja menos freqen- temente encontrado do que na hepatite alcolica e cirrose alcolica). Afirmava-se, at recentemente, que a esteatose alcolica no evolui para a cirrose. Estudos recentes possibilitaram demonstrar que, embora no comumente, a esteatose alcolica pode evoluir para a fibrose e cirrose. Esteatoepatite A esteatoepatite caracteriza-se pela presena de esteatose macrovesicular e processo inflamatrio no parnquima heptico, podendo haver ou no, associa- damente, corpsculos de Mallory, fibrose ou cirrose. Vrias so as condies associadas com a esteatoepatite: obesidade, diabetes mellitus, hiperlipemia, glicocorticides, estrgenos, amiodarona, perexilina, entre outras. O diagnstico baseia-se em dados histolgicos. Os nveis de aminotransfera- ses no se elevam mais de quatro vezes os valores normais. O ndice de AST/ALT em geral < 1. Essa leso heptica pode evoluir para a cirrose. Hepatite Auto-Imune Essa doena heptica compromete cerca de 100.000 a 200.000 indivduos nos EUA, sendo responsvel por 2,6% dos transplantes no European Liver Transplant Registry e 5,9% no National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Disease (NIDDKD) Liver Transplantation Database. Ocorre preferentemente em pacientes do sexo feminino, com relao aproximada de oito mulheres para um homem, sendo a maior incidncia nas faixas etrias de trs a 25 e de 40-70 anos de idade, podendo surgir tambm aps transplante heptico. (12)
O diagnstico se fundamenta na presena de nveis elevados de transaminases, au- sncia de outras causas de hepatite cr- nica e aspectos sorolgicos e patolgicos sugestivos da doena. (13,15) Cerca de 80% dos pacientes apresentam hipergama- globulinemia. Nveis de imunoglobulinas policlonais mais de duas vezes o valor normal so muito sugestivos de presena dessa hepatopatia. Outros testes utilizados so: anticorpos antinucleares, anticorpos antimsculo liso e anticorpos contra frao microssomal fgado/rins. A bipsia heptica essencial para o diagnstico. Hemocromatose Deve-se formular a hiptese diagnstica de hemocromatose hereditria ou gentica em todos os casos de indivduos assinto- mticos que tenham parentes diretos de pessoas comprovadamente portadoras dessa sndrome ou que, por um motivo qualquer, evidenciam um marcador indireto anormal, sugestivo de sobrecarga de ferro. Os primeiros exames a serem realizados so a dosagem de ferro e da ferritina sricos e a determinao da saturao da transferri- Hepatologia 47 Prtica Hospitalar Ano IX N 51 Mai-Jun/2007 na. Em geral, o ferro srico est aumentado, comumente entre 180-300 mcg por cento (valores normais de referncia 50-150 mcg). ndice de saturao de mais 45% suges- tivo de hemocromatose. Esses exames, entretanto, podem apresentar resultados falsos-positivos e falsos-negativos. Con- tudo, se houver suspeita deve-se realizar bipsia heptica. H atualmente tambm outros exames disponveis. (16) Molstia de Wilson Essa uma doena gentica que se caracteriza por diminuio da excreo biliar de cobre, que se acumula em diversos tecidos, especialmente no fgado, crebro, crneas e rins. A hiptese diagnstica de- ve ser formulada diante de todo paciente jovem, portador de hepatopatia de causa desconhecida, especialmente quando h histria familiar de molstia de Wilson ou de outros casos de hepatopatias ou problemas neurolgicos de natureza no elucidada. (17)
O primeiro exame a ser realizado a dosa- gem de ceruloplasmina srica. Em 85% dos casos os nveis desta esto diminudos. Os pacientes devem ser submetidos a exame oftalmolgico para verificar se h o anel de Kayser-Fleischer. Se a ceruloplasmina for normal e o sinal de Kayser-Fleischer ausente deve-se solicitar a dosagem de cobre na urina de 24 horas. Excreo diria superior a 100 g de cobre sugestiva de molstia de Wilson. A confirmao diagnstica feita atravs da bipsia heptica para medida do cobre. Na molstia de Wilson, os nveis desse metal so superiores a 250 g por grama, peso seco. Deficincia de Alfa-1-Antitripsina A deficincia dessa glicoprotena causa i ncomum de doena hepti ca crnica em adultos. O estudo diagnstico deve incluir a determinao srica de alfa-1-antitripsina e a determinao de seu fentipo. Vale salientar que, em geral, nas leses agudas, hepatites virais, medicamentosas, isquemia aguda-choque auto-imune e ic- tercias por obstruo parcial passagem de clculo AST/ALT > 5-10 x LSN. CAUSAS NO-HEPTICAS Em estudo recente, verificou-se que a molstia celaca pode causar aumento das transaminases sricas. Com base nos resultados dessa pesquisa, recomenda- se realizar testes para o diagnstico de molsti a celaca assintomtica se as causas mais comuns de elevao de aminotransferases foram excludas. (19) As transaminases (especialmente a TGO) podem estar elevadas em outros rgos ou tecidos, especialmente em condies patolgicas relacionadas com o msculo estriado (particularmente em doenas inatas de metabolismo muscular). Doenas musculares adquiridas, tais como polimio- site e decorrentes de exerccios vigorosos, tambm podem causar aumento srico das transaminases. Havendo condies patolgicas relacionadas com o msculo estriado, esto tambm elevadas no soro a creatina quinase e a aldolase. Essas consideraes evidenciaram que muitas so as causas de elevao srica das aminotransferases. Contudo, h aspectos ainda no elucidados. Para ilus- trar, citaremos trabalho recente em que os autores verificaram aumento persistente de transaminase (e tambm da gamaglutamil transferase) em indivduos medicados com placebo. (20) As razes para essas anorma- lidades incluem possveis modificaes na dieta ou reduo de atividade fsica em alguns indivduos; mas em outros no se conhece a causa de elevao srica de enzimas hepticas. Nos casos de eleva- o persistente das transaminases (duas ou mais vezes o valor normal) em que a causa no foi determinada, est indicada a realizao da bipsia heptica. CAUSAS DE ELEVAO SRICA DE FOSFATASE ALCALINA O aumento srico dos nveis de fosfa- tase alcalina se relaciona predominante- mente com distrbios do fgado e sseo. Para se diferenciar elevao srica de origem heptica da de origem ssea, recomenda-se determinar tambm os n- veis das enzimas gamaglutamil transferase ou 5-nucleotidase, enzimas que esto, em geral, elevadas paralelamente com a elevao da fosfatase alcalina nas doenas hepticas (e no nas de origem ssea). A mencionada diferenciao tambm pode ser feita determinando-se as isoenzimas da fosfatase al cal i na. Se a el evao persistente dessa enzima for sugestiva de origem heptica, a investigao deve ser feita para verificar se h colestase ou doena heptica infiltrativa. As doenas colestticas incluem: obstruo parcial dos dutos biliares, cirrose biliar primria, colangite esclerosante primria e colestase por drogas (exemplo: esterides anaboli- zantes). A propsito do estudo diagnstico de drogas, vale lembrar que adotam-se parmetros bioqumicos (determinao da fosfatase alcalina e das aminotransferases) para diferenciar leso hepatocelular, de colestase e de leso mista (tabela 1). Os processos infiltrativos incluem: sarcoidose, outros tipos de doenas granulomatosas e metstases de cncer no fgado. Os testes iniciais (quando h colestase) compreendem ultra-sonografia do abdome e testes sorolgicos (anticor- pos antimitocondriais). A presena destes muito sugestiva de cirrose biliar primria. Tabela 1. Parmetros bioqumicos Valores Atividade srica Leso hepatocelular Colestase mista Leso ALT 2 x Normal - 2 x normal FA - 2 x Normal 2 x normal ndice I 5 I 2 2< I < 5 ALT = alanina aminotransferase; FA = fosfatase alcalina. ndice nmero de vezes que ALT est acima dos valores normais dividido pelo nmero de vezes que a FA est acima dos valores normais. Hepatologia 48 Prtica Hospitalar Ano IX N 51 Mai-Jun/2007 A confirmao deste diagnstico se faz atravs de exame histopatolgico de frag- mento de fgado obtido atravs da bipsia heptica. A presena de dilatao biliar (ao ultra-som) sugestiva de obstruo. Quando h dilatao biliar ou presena de coledocolitase est, em princpio, indicada a colangiopancreatografia endoscpica retrgrada (CPER), que pode possibilitar a identificao da causa da obstruo e tam- bm til para remover clculos e outros pro- cedimentos. Quando no houver anticorpos antimitocondriais e nem anormalidades ao ultra-som e a fosfatase alcalina permanecer elevada mais de 50% acima dos nveis da normalidade, esto indicadas a bipsia he- ptica, a ressonncia magntica ou CPER. Se o aumento da enzima for menor que o mencionado, as outras enzimas estiverem normais e o paciente no apresentar sinto- mas, estaria indicada apenas a observao do doente. (21) No primeiro trimestre da gravidez pode haver aumento da fosfatase alcalina, por causa da passagem desta da placenta para o sangue. Indivduos dos gru- pos sangneos O ou B podem apresentar aumento dos nveis dessa enzima, aps ingesto de alimentos gordurosos, devido a um influxo da fosfatase do intestino. H tambm na literatura relatos de aumento srico familiar benigno, da fosfatase por causa do aumento dos seus nveis no intestino; aumento dessa enzima pode tambm estar relacionado com a idade. O crescimento rpido em adolescentes pode ocasionar nveis sricos de fosfatase alcalina duas vezes maiores do que os do adulto sadio e conseqente a passagem da fosfatase alcalina do osso para o sangue. O aumento dessa enzima tambm ocorre (em indivduos sadios) gradualmente entre 45 e 60 anos, principalmente em mulheres. A elevao srica (duas ou mais vezes o limite superior da normalidade) das AST, ALT, GGT e FA indicativa de dano heptico e no de alterao funcional do fgado. CAUSAS DE ELEVAO SRICA DE GAMAGLUTAMIL TRANSFERASE Essa enzima pode estar aumentada no soro em vrias condies patolgicas: infarto do miocrdio, doena pancreti- ca, diabetes, insuficincia renal, doena pulmonar obstrutiva crnica, doena heptica induzida por drogas (exemplos: fenantona, barbitricos) e alcoolismo. A GGT encontrada nos hepatcitos e nas clulas do epitlio biliar. Apresenta grande sensibilidade para indicar a presena ou ausncia de doena hepatobiliar, mas sua especificidade baixa. Essa enzima til como indicador de doena heptica: es- pecialmente na de etiologia alcolica, nas leses expansivas intraparenquimatosas e na obstruo biliar. (22) A determinao da GGT e FA possibilita algumas informaes: enquanto esta est elevada em doenas sseas, na gravidez ou fase de cresci- mento, a GGT no se altera nas mesmas; na hepatite alcolica e cirrose alcolica, a GGT se eleva muito mais que a fosfatase alcalina. Alguns autores consideram que a GGT mais sensvel que a fosfatase alcalina para detectar doena heptica. (23) Alguns autores preconizam determinar essa enzima em indivduos que estejam in- gerindo lcool e no relatam essa ingesto. Contudo, sua sensibilidade varia, segundo diversos trabalhos, entre 52% e 94%, e sua especificidade baixa. H tambm outras enzimas que se elevam no soro quando h dano hep- tico, mas so menos sensveis (como a desidrogenase ltica) ou mesmo muito sensveis quando ocorre dano hepato- celular agudo (como a d-isoenzima da glutationa-S-transferase), mas no so utilizadas rotineiramente. t REFERNCIAS 1. Silva AO, Cardoso VDS, Rocha BS et al. Conduta diagnstica em pacientes com doena hepatobi- liar. In: Dani R (Editor). Gastroenterologia Essen- cial. 3 ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2006;515-524. 2. Pratt DS, Kaplan MM. Laboratory tests. In: Schiff ER, Sorell MF, Maddrey WC (Editors). Diseases of the Liver. 8 ed., vol. 1. Philadelphia: Lippincott- Raven. 1999;205-244. 3. Sherlock S, Dooley. Avaliao da funo heptica. In: Sherlock S, Dooley J (Editores). Doena do Fgado e do Sistema Biliar. 11 ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2002;17-31. 4. Katrov WN, Friedman LS, Cody H et al. Elevated serum alanine aminotransferase levels in blood donors: the contribuition of hepatitis C virus. 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