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Tradução de A. F. IMMERGUT
EDIÇÕES DE OURO
Todos os personagens deste livro são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas ou
acontecimentos da vida real é mera coincidência.
COLEÇÃO INFINITUS
ESPAÇONAVE ORION
1
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A sala era ampla e escura. No meio de incontáveis aparelhos
inoperantes e painéis de instrumentos apagados, havia uma tela de
radar que, misteriosamente, estava em funcionamento. Hasso e Atan
passaram a observá-la. as armas destravadas nas mãos; até agora,
nenhum dos extraterranos tinha se aproximado deles. Hasso apontou
para a tela, cujo ponteiro girava com incrível rapidez. Sete pontos
luminosos destacavam-se do fundo escuro.
— Lá vêm eles — disse Hasso — e não falta um sequer!
Lançou um olhar significativo para Atan, e acrescentou:
— Portanto, se realmente houve um combate, Cliff não conseguiu
destruir uma única. Será que a Órion ainda existe?
— Creio que não; agora mesmo tentei estabelecer contato com
ela... nenhuma resposta!
— O que significa: a Órion foi aniquilada e McLane está morto.
— Morto como nós.
Hasso raciocinava. Na sua longa vida de astronauta, tinha
conhecido alguns planetas cujos habitantes ainda rastejavam no
crepúsculo de uma pré-cultura. Mas esta era a primeira vez que se
defrontava com seres inteligentes, e estava firmemente convencido de
que escaparia à ameaça mortal que representavam. No íntimo, não
acreditava na morte de McLane. Virou-se para Atan e disse:
— Mas, até lá, vamos aplicar alguns dos nossos truques.
Conhecemos essa estação e suas instalações como a palma da mão. Se
formos para o além, alguns daqueles transparentes vão ter que nos
acompanhar.
Shubashi soltou um riso curto e irritado.
— E como é que você pretende fazer isso, Hasso? São imunes às
nossas armas; a energia atravessa o corpo deles sem causar a menor
lesão. Não têm necessidade de oxigênio ou de outro gás qualquer para
viver e...
Uma expressão pensativa apareceu nos olhos do engenheiro.
— Oxigênio... — murmurou.
Atan virou-se rapidamente e cravou os olhos espantados no rosto
de Hasso.
— Se eles... — começou a frase, sem terminá-la. Hasso acenou
levemente com a cabeça e esboçou um sorriso; o primeiro que deu em
MZ-4...
— Nós somos idiotas — constatou. — Se eles não precisam de
oxigênio, muito bem; é problema deles. Mas, por que então
desligaram ou destruíram toda a instalação? Só há uma explicação:
para eles, oxigênio é tóxico, é veneno! Provavelmente seu
metabolismo baseia-se numa espécie de catalise.
— E já sei no que você está pensando! — exclamou Atan. —
Portanto... vamos procurar o comando da instalação de reserva!
— Adivinhou! — respondeu Hasso. — E olhe que a unidade
renovadora ainda está funcionando!
Afastaram-se da tela de radar, acima da qual uma série de sinais
luminosos estava se acendendo; eram as luzes de aviso que acusavam
a aproximação final das sete naves.
Dentro de segundos, os dois homens encontraram o que estavam
procurando: a mesa de controle dos sistemas de suprimento da
estação.
Havia três jogos completos de todos os instrumentos, o que
garantia o perfeito funcionamento dos inúmeros comandos que
podiam ser operados nesta mesa: pressão atmosférica, composição
volumétrica de gases, campo gravitacional, geradores e calefação,
fluxo energético... a instalação de controle era completa. Hasso
sentou-se na poltrona e começou a estudar os letreiros e as setas que
interligavam chaves e mostradores.
— Aqui está, é esse — disse, após alguns instantes, apontando
para uma pequena chave, destacada pelo cone de luz da sua lanterna.
— Então, mãos à obra! — disse Atan, eufórico. Hasso não se
mexeu. Surpreso, Atan perguntou:
— Mas o que você ainda está esperando?
Com voz calma e objetiva, Hasso explicou:
— Se abrimos os tanques agora, inundamos o sistema de cavernas
do asteróide, matando talvez os poucos estranhos que aqui se
encontram. Mas não se esqueça das sete naves que ainda vão pousar.
E o que vai acontecer então?
Atan agora já acompanhava o raciocínio do companheiro e
concluiu:
— Eles desembarcam, constatam que o asteróide está cheio de
oxigênio e compreendem a situação em que se encontram. Aí nos
matam. Além disso, nem vão pensar em penetrar nas galerias se
descobrirem que existe oxigênio do outro lado da eclusa.
— Provavelmente usam trajes espaciais — disse Hasso. — Mas
não vejo mal algum em realizar um teste nesse sentido. Por outro lado,
se conseguíssemos reunir todos aqui embaixo, aquela nossa idéia
quanto ao oxigênio poderia funcionar.
O risco era considerável. Os dedos de Hasso não tinham largado
um instante sequer o pequeno botão, que ainda estava ajustado ao zero
da escala. Se Hasso o girasse até a marcação abastecer, a estação seria
inundada de oxigênio. Acionando uma outra chave, adicionaria
bióxido de carbono e traços de outros gases. Essa mistura mataria os
intrusos. A esta altura, só uns poucos minutos separavam os invasores
do pouso em MZ-4. Não restava dúvida que estes recintos constituíam
o seu objetivo. O que fazer?
— Eles vão entrar aqui e nos matar, como mataram Clarence e os
seus homens, Hasso — disse Atan, resignado, sem ver outra
alternativa.
Hasso continuava a raciocinar.
— E por que será que esses que já estão aqui ainda não nos
mataram?
— Talvez por razões práticas; pode ser que pretendam usar-nos
como cobaias. Afinal, devem estar preparando um ataque de surpresa
a Terra e seus domínios; nesse caso, precisam de nós vivos para
estudar nossos hábitos e nos interrogar.
— É! — disse Shubashi. — Caímos direitinho na armadilha deles;
tudo que têm a fazer é nos apanhar e carregar para onde quiserem!
Hasso procurava raciocinar febrilmente; agora não havia mais
tempo a perder. A primeira nave já tinha iniciado as manobras para o
pouso.
— De alguma maneira — disse ele — destruíram a instalação de
oxigênio; como e onde, nós vamos descobrir agora mesmo. Vou tentar
inundar esta sala.
Sucessivamente, fechou os registros magnéticos das tubulações
que abasteciam os recintos adjacentes. Agora, só restava a central de
comando... Com um gesto brusco, Hasso girou o botão até o batente.
Os segundos passavam com exasperante lentidão... três, quatro...
Hasso e Atan calibraram os microfones externos para a
sensibilidade máxima. O sibilar do ar injetado e o zumbido das
turbinas deviam ressoar nos alto-falantes como uma cascata. Mas nada
ouviram. Nem uma única lâmpada-piloto estava acesa.
— Nada! — gritou Shubashi. — Está tudo pifado!
— Vou ver se descubro o defeito! — respondeu Hasso.
Conseguiu desaparafusar a tampa dianteira do painel. Examinou a
fiação e as conexões; pareciam intactas. Apesar disso, a instalação não
funcionava. Hasso ligou os circuitos num dos painéis de reserva. A
lâmpada-piloto da segunda instalação acendeu-se.
Hasso procedeu como da primeira vez: isolou as salas vizinhas e
girou o botão.
Clique! Nada. Não se ouvia nem o deslocamento da massa gasosa
nem o ruído das turbinas.
— É um caso perdido! — disse Shubashi, desolado.
Somente cinco pontos luminosos eram ainda visíveis na tela do
radar. Um sinal indicou que uma das naves havia pousado nas
proximidades da abóbada da estação; uma outra estava pairando a tão
pouca altura do asteróide que não podia mais ser detectada pelos
impulsos do radar.
— Agora é tarde! — sussurrou Shubashi. — Estão pousando!
— Maldita instalação! — disse Hasso, cerrando os dentes. —
Oxigênio... onde é que eu vou arranjar oxigênio?
— Na Lancet — gritou Atan e se pôs a correr — o tanque de
oxigênio!
Aos pulos, atravessaram a sala de controle e abriram a porta de
aço. Em desabalada carreira, percorreram a galeria até o cruzamento.
Mudaram bruscamente de direção, penetrando no corredor que levava
até a eclusa do poço de pouso. E lá se encontrava a Lancet...
Corriam sem parar, ofegantes, as armas nos punhos cerrados.
Pouco importava que fossem inoperantes diante daqueles intrusos;
mais importante era a sensação de segurança que transmitiam aos dois
homens em disparada.
Subitamente, as paredes do corredor começaram a irradiar uma
intensa luminosidade.
Atan e Hasso cambalearam mais alguns metros e pararam... mas
nada aconteceu. Obviamente, um dos estranhos tinha acionado um
interruptor.
— Vamos adiante! — cochichou Atan.
Passaram pela eclusa; segundos após, estavam no interior da
Lancet.
Em condições normais, o suprimento do tanque de oxigênio era
suficiente para dois homens durante vinte dias. Febrilmente, Hasso
arrancou o recipiente retangular dos suportes e olhou para o
manômetro... zero! Virou o tanque e olhou, estarrecido, para o rombo
no fundo, pelo qual o gás havia escapado. Examinando o piso do
depósito da Lancet, descobriu que um feixe de raios tinha perfurado a
nave em toda a largura, arrebentando-lhe o casco e atingindo a bateria
de oxigênio. Com profundo abatimento, Hasso largou o tanque vazio
no chão e disse:
— Pensaram mesmo em tudo!
A vibração de uma possante máquina começou a se propagar pela
parede metálica da nave.
— A plataforma do elevador! — disse Hasso. — Significa que já
iniciaram o desembarque!
— Vamos voltar imediatamente para a sala de comando! — disse
Shubashi de repente. A expressão nos olhos de Hasso era de pura
estupefação.
Atan abriu um dos estojos que trazia ao cinto, e retirou uma
pequena caixa metálica, retangular. Em uma das faces menores havia
duas válvulas, providas de minúsculos registros eletrônicos. Cabia
perfeitamente na palma da mão, e Atan a exibiu aos olhos espantados
de Hasso.
— E isto aqui... — disse, em tom triunfante — por acaso não é
oxigênio?
— Nossos tanquezinhos de emergência! — suspirou Hasso,
tirando o seu do estojo. — Agora são as nossas armas! Se bem que
insuficientes para cobrir toda a estação.
— Não se preocupe com isso agora. Vamos indo!
Desceram apressadamente da Lancet, transpuseram a eclusa e,
mais uma vez, penetraram no longo corredor. Numa emergência, os
pequenos tanques podiam suprir os astronautas com oxigênio
suficiente para mais cento e vinte horas de vida. Agora, estavam
transformados em armas, que os dois homens empunhavam com
convicção muito maior que as pistolas energéticas que traziam na
outra mão.
Correndo sem parar; enveredaram pelo segundo corredor, que
levava à central de comando. Ofegantes, pararam na frente da porta
fechada. Durante alguns instantes, entreolharam-se em silêncio.
Finalmente, Atan perguntou:
— Como você acha que devemos agir?
— Temos que liberar toda a carga instantaneamente — respondeu
Hasso — como, ainda não sei... Além disso, precisamos ter certeza de
que todos eles estarão naquela sala quando explodirmos os tanques.
— Você está pensando na sala de controle?
— Isso mesmo! — confirmou Hasso. Ouviram passos;
aparentemente, os estranhos estavam começando a se reunir na sala de
controle. O plano deles parecia perfeito: matariam a guarnição de uma
das bases mais avançadas de Terra e tomariam posse de tudo que lhes
pudesse oferecer algum interesse. Neste instante, os vitoriosos
invasores estavam aguardando a chegada dos ocupantes das sete
naves.
Hasso e Atan sentiam as vibrações incessantes do sobe-desce dos
elevadores; os passos atrás da porta multiplicavam-se.
Um fino zumbido enchia-lhes os ouvidos. Era impossível que
viesse de fora; não havia ar que permitisse a propagação de ondas
sonoras. Era como se o ruído se originasse no próprio tímpano. Hasso
abriu a porta e espiou pela fresta milimétrica.
— A sala já está cheia deles — sussurrou no ouvido de Atan. —
Eu acho que está na hora!
— Aguarde mais um pouco — respondeu Atan — ainda não
chegaram todos!
Ao fim de trinta segundos angustiantes, notaram que o elevador
tinha parado. A intensidade das vibrações indicou que a plataforma
repousava sobre o piso inferior da estação; o desembarque havia
terminado.
— Pelo que consigo enxergar — comentou Atan — nenhum deles
usa capacete!
O estranho zumbido nos ouvidos dos dois terranos tornava-se cada
vez mais intenso. Eram vibrações que pareciam emanar das suas
próprias células. Seria esta a forma pela qual os intrusos se
comunicavam? Subitamente, as vibrações cessaram.
— Estão todos aí! disse Atan. -É agora!
Abriram a porta mais alguns centímetros e viram que ela dava
acesso a uma pequena ante-sala, separada da sala de controle por uma
extensa parede divisória. Atrás dela, os dois homens vislumbravam as
silhuetas dos estranhos, que circulavam entre as máquinas, se
agrupavam em torno dos painéis de controle e se reuniam em frente ao
grande mapa astronômico. Seu aspecto era impressionante. O corpo,
de formas humanas, parecia ser feito de vidro leitoso; o sistema
nervoso — ou algum misterioso aparelho circulatório — era
constituído de veias negras, que pulsavam incessantemente. Eram
esbeltos com altura um pouco inferior a dois metros.
Todos, sem uma única exceção, tinham as costas voltadas, para os
dois homens. Cuidadosamente, Hasso avaliou a distância.
Os dois pequenos tanques tinham sido atados por um pedaço de
fita adesiva, com a qual os astronautas conseguiam vedar pequenos
furos nos seus trajes espaciais. Arremessados por
Hasso, resvalaram pelo piso até o mapa astronômico. Ninguém
tinha ouvido o menor ruído — também para os estranhos, a
propagação do som devia depender da existência de um meio gasoso.
— Mire com cuidado! — implorou Hasso, sentindo o suor frio lhe
escorrer pelo corpo.
Atan Shubashi apontou a arma para os dois tanques. No mesmo
instante, um dos seres estranhos se virou.
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