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SEGUNDA-FEIRA
Alguns Padres da Igreja dizem que este cego às portas de Jericó é imagem
“de quem desconhece a claridade da luz eterna”2. De vez em quando, a alma
pode sofrer momentos de cegueira e escuridão, o caminho claro que um dia
vislumbrou pode perder os seus contornos e aquilo que antes era luz e alegria
pode transformar-se em trevas e numa certa tristeza que pesa sobre o coração.
Seja qual for a sua origem, se alguma vez nos encontramos nesse estado,
que faremos? O cego de Jericó – Bartimeu, filho de Timeu4 – ensina-nos:
dirigir-nos ao Senhor, pedir-lhe que se compadeça de nós. Jesus Cristo ouve-
nos, ainda que pareça seguir o seu caminho e deixar-nos para trás. Não está
longe.
Mas é possível que nos aconteça o mesmo que a Bartimeu: Os que iam à
frente repreendiam-no para que se calasse. Queriam barrar-lhe o acesso a
Cristo. Não teremos sentido o mesmo em muitas ocasiões? “Quando queremos
voltar para Deus, essas mesmas fraquezas nas quais incorremos acodem-nos
ao coração, turvam-nos o entendimento, deixam-nos o ânimo confuso e
quereriam apagar a voz das nossas orações”5. É o peso da fraqueza ou do
pecado que se faz sentir.
Vejamos, contudo, o exemplo do cego: Mas ele gritava cada vez mais alto:
Filho de David, tem piedade de mim! “Vede-o: aquele a quem a turba
repreendia para que se calasse, levanta cada vez mais a voz; assim também
nós [...]. Quanto maior for o alvoroço interior, quanto maiores forem as
dificuldades que encontremos, com tanto mais força deve sair a oração do
nosso coração”6.
Às vezes, pode ser-nos difícil conhecer as causas que nos levaram a essa
situação penosa em que tudo parece custar-nos mais, mas não há dúvida de
que conhecemos o remédio sempre eficaz: a oração. “Quando se está às
escuras, com a alma cega e inquieta, temos de recorrer, como Bartimeu, à Luz.
Repete, grita, insiste com mais força: «Domine, ut videam!» – Senhor, que eu
veja!... E far-se-á dia para os teus olhos, e poderás alegrar-te com o clarão de
luz que Ele te concederá”7.
Santa Teresa escrevia com a humildade dos santos: “Deveria ser muito
contínua a nossa oração por esses que nos dão luz. O que seríamos sem eles,
entre tempestades tão grandes como as que agora atravessa a Igreja?”10 E
São João da Cruz dizia o mesmo: “Quem quer estar só, sem arrimo e sem
guia, será como uma árvore que está solitária e sem dono no campo, que por
mais fruta que tenha, os caminhantes apanham-na e não chega a amadurecer.
“A alma sem mestre, ainda que tenha virtude, é como um carvão aceso que
está só; mais se irá esfriando do que acendendo”11.
Naquele que nos ajuda devemos ver o próprio Cristo, que nos ensina,
ilumina, cura e dá alimento à nossa alma para que continue o seu caminho.
Sem esse sentido sobrenatural, sem essa fé, a direcção espiritual ficaria
desvirtuada; converter-se-ia em algo completamente diferente: numa troca de
opiniões, talvez. E torna-se uma grande ajuda e confere muita fortaleza quando
o que realmente desejamos é averiguar a vontade de Deus a nosso respeito e
identificar-nos com ela. Por outro lado, não devemos esquecer que não é um
meio para encontrarmos solução para os nossos problemas temporais: ajuda-
nos a santificá-los, nunca a organizá-los nem a resolvê-los. Não é essa a sua
finalidade.
A consciência de que, através dessa pessoa que conta com uma graça
especial de Deus para nos aconselhar, nos aproximamos do próprio Cristo,
determinará a confiança, a delicadeza, a simplicidade e a sinceridade com que
devemos servir-nos deste meio. Bartimeu aproximou-se de Jesus como quem
caminha para a Luz, para a Vida, para a Verdade, para o Caminho. Assim
também devemos nós fazer, porque essa pessoa é um instrumento através do
qual Deus nos comunica graças semelhantes às que teríamos obtido se nos
tivéssemos encontrado com Ele pelos caminhos da Palestina.
(1) Lc 18, 35-43; (2) cfr. São Gregório Magno, Homilias sobre os Evangelhos, I, 2, 2; (3) S.
Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 34; (4) Mc 10, 46-52; (5) São Gregório Magno,
Homilias sobre os Evangelhos, I, 2, 3; (6) cfr. ibid., I, 2, 4; (7) S. Josemaría Escrivá, Sulco, n.
862; (8) cfr. Jo 9, 1 e segs.; (9) S. Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 34; (10) Santa
Teresa, Vida, 13, 10; (11) São João da Cruz, Dichos de luz y de amor, Apostolado de la
Prensa, Madrid, 1966, págs. 958-964; (12) cfr. Act 9, 17-18; (13) S. Josemaría Escrivá,
Caminho, n. 823.