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Introdução
Cada uma das histórias que lemos, ouvimos ou escrevemos, é contada por um
narrador.
Nos exercícios de leitura, assim como nas experiências de escrita, é fundamental a
preocupação com o narrador.
A grosso modo, podemos distinguir três tipos de narrador, isto é, três tipos de foco
narrativo: - narrador-personagem; - narrador-observador; - narrador-onisciente.
O discurso (ou estilo) indireto livre é um terceiro tipo de recurso narrativo, uma
espécie de expediente híbrido resultante da conciliação dos dois discursos acima
referidos. Trata-se, portanto, de um tipo misto, em que o narrador, em vez de reproduzir
ipsis litteris as próprias palavras da personagem (discurso direto), ou de informar o
leitor sobre o que ela teria dito (discurso indireto), aproxima-se da personagem e
confunde-se com ela, transmitindo a impressão de que ambos falam em uníssono, por
isso, às vezes, torna-se um pouco difícil separar a fala da personagem do discurso do
narrador. É que a fronteira entre os dois se apresenta, em certos casos, bastante sutil,
devido à liberdade formal de que dispõe o narrador, a par da motivação basicamente
psicológica inerente ao discurso indireto livre.
Conclusão
O discurso indireto livre é uma forma mais expressiva e mais íntima de o narrador
apresentar as reações e os estados de espírito da personagem. Condicionando e
moldando-lhe o caráter, imagens vivas, percepções, lembranças, catarses verbais e
mentais surgem e se manifestam num acaso aparente, mas, na verdade, habilmente
manipuladas pelo narrador, através do emprego desse rico processo narrativo. Ressalte-
se também a importância do contexto, para que o leitor possa desentranhar do discurso
indireto estrito do narrador o discurso indireto livre, porta-voz da personagem, com
todas as suas implicações de oralidade e introspecção psicológica subjacentes.
Revelando os sentimentos, as angústias e motivações mais íntimas da personagem,
enfim toda a sua dimensão humana, tal como acontece com o Fabiano de Vidas secas,
presta-se o discurso indireto livre aos mais altos vôos da prosa narrativa, sobretudo na
pena de um escritor exímio e universalista, como o nosso Graciliano Ramos.
Referências Bibliográficas
GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. 10ª ed. Rio de Janeiro: Fundação
Getúlio Vargas, 1982.
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 5ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1955.