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O documento discute a presença de fármacos no Reservatório Billings em São Paulo. Fármacos são introduzidos no ambiente aquático através de esgotos domésticos e hospitalares e podem ser bioacumulados, apresentando riscos para ecossistemas. Apesar de encontrados em baixas concentrações, seus efeitos sinérgicos são pouco compreendidos. O estudo analisará a presença de fármacos no Reservatório Billings utilizando cromatografia líquida acoplada à espectrometria de
O documento discute a presença de fármacos no Reservatório Billings em São Paulo. Fármacos são introduzidos no ambiente aquático através de esgotos domésticos e hospitalares e podem ser bioacumulados, apresentando riscos para ecossistemas. Apesar de encontrados em baixas concentrações, seus efeitos sinérgicos são pouco compreendidos. O estudo analisará a presença de fármacos no Reservatório Billings utilizando cromatografia líquida acoplada à espectrometria de
O documento discute a presença de fármacos no Reservatório Billings em São Paulo. Fármacos são introduzidos no ambiente aquático através de esgotos domésticos e hospitalares e podem ser bioacumulados, apresentando riscos para ecossistemas. Apesar de encontrados em baixas concentrações, seus efeitos sinérgicos são pouco compreendidos. O estudo analisará a presença de fármacos no Reservatório Billings utilizando cromatografia líquida acoplada à espectrometria de
*ALMEIDA, G. A.; WEBER, R. R. Universidade de So Paulo Instituto Oceanogrfico Praa do Oceanogrfico, 191 CEP 05508-900 Cidade Universitria So Paulo SP *e-mail: gleby.almeida@uol.com.br Entrada: 4/10/2005 Aceite: 30/11/2005 Resumo: Frmacos desenvolvidos para uso humano entram no ambiente aqutico por intermdio de descarga imprpria de urina e fezes provenientes de moradias e hospitais. Esses compostos tambm podem ser introduzidos nos corpos hdricos por meio de carreamento pelas chuvas e inundaes. Muitos frmacos so encontrados em concentraes muito baixas no ambiente aqutico, no entanto bem provvel que tais compostos estejam sendo bioacumulados e apresentem riscos para os ecossistemas aquticos. Palavras-chave: frmacos; Reservatrio Billings; contaminao de guas naturais. Abstract: Pharmaceuticals developed for human use enter in the aquatic environment through the improper disposal of urine and faeces, discharged from private households and hospitals. These compounds also have direct inputs into natural waters through heavy rainfall and flooding. Most pharmaceuticals are found in natural waters in only very low concentrations. However despite this general finding, there still remains the question of the risks that these traces of pharmaceuticals pose for the aquatic ecosystems. Keywords: pharmaceuticals drugs; Billings Reservoir; natural water contamination. Introduo Os esgotos municipais contm uma gama de compostos orgnicos persistentes derivados das diversas atividades humanas, como aqueles usados diariamente na higiene pessoal, no asseio das roupas, louas, entre outros. Entre os diversos grupos de compostos, so encontrados os produtos farmacuticos e os de cuidados pessoais, os quais so usados em grandes quantidades em todo o mundo. Frmaco uma denominao genrica para compostos utilizados tanto na medicina humana como na veterinria. Aps a administrao de um frmaco, uma parte significativa excretada no esgoto domstico, e a presena de resduos de frmacos em guas superficiais pode ser um indicativo da contaminao por esgotos (Stumpf et al., 1999). Os medicamentos utilizados na medicina veterinria tambm so lanados no meio ambiente por meio dos excrementos e de transporte pela gua das chuvas. Estudos demonstraram que vrias dessas substncias so persistentes no meio ambiente e que tais compostos no so removidos nas plantas de tratamento de esgotos (Stumpf et al., 1999; Ternes et al., 1999); so incorporados ao meio ambiente pelas descargas de efluentes das estaes de tratamento. Sendo assim, muitos frmacos resistem a vrios processos de tratamento convencional de gua. Para evitar a ingesto dessas substncias pela gua potvel mesmo em baixas concentraes, necessrio desenvolver mtodos para reduzir a introduo desses compostos no meio ambiente melhorando as estaes de tratamento de esgotos, eliminando-os no tratamento da gua potvel para consumo humano. Na Europa a ocorrncia desses compostos na gua tem chamado a ateno especialmente dos produtores de gua potvel (Derksen, apud CSTEE, 2001). Tais compostos no tm limites ambientais estabelecidos, e pouco se conhece sobre os possveis efeitos sinrgicos que podem ocorrer no ambiente, os quais provavelmente devem ser dependentes do comportamento farmacocintico do composto, como meia-vida, metabolismo, excreo etc. Uma das razes da falta de dados que a regulamentao de drogas feita por agncias de sade, as quais no consideram as questes ambientais, pois at recentemente os frmacos no eram vistos como substncias potencialmente txicas ao meio ambiente. 8 Frmacos na Represa Billings Por outro lado, os medicamentos so desenvolvidos para serem persistentes, mantendo suas propriedades para servir a um propsito teraputico. Muitas substncias so lipoflicas, para que possam atravessar membranas e sejam resistentes o bastante a fim de evitar que se tornem inativas antes do efeito de cura. Segundo Mulroy (2001), 50% a 90% da dosagem de um frmaco excretado inalterado e persiste no meio ambiente. Sendo assim, as substncias medicinais apresentam propriedades semelhantes a outros xenobiticos e podem ser bioacumuladas e provocar efeitos nos ecossistemas aquticos (Halling-Sorensen et al., 1998). Introduo de produtos farmacuticos no ambiente aqutico Pouco se conhece sobre a rota dos frmacos no meio ambiente, mas a ocorrncia desses compostos pode apresentar efeitos adversos em organismos aquticos e terrestres. Tais efeitos ocorrem em qualquer nvel da hierarquia biolgica, como clula-rgos-organismos-populao-ecossistema. Segundo Jorgensen et al. (2000),
alguns desses efeitos podem ser observados em concentraes na ordem de ngL -1 . A figura 1 mostra esquematicamente a introduo de produtos farmacuticos no ambiente aqutico (Halling-Sorensen et al., 1998; Hirsch et al., 1999; Heberer, 2002). As estaes de tratamento de esgotos (ETEs) tm papel fundamental na emisso desses compostos para o ambiente aqutico. Nas ETEs os frmacos podem ser degradados, adsorvidos ou ainda reativados, como resultado da atividade microbiana. Estudos de degradao em ETEs de compostos como analgsicos, antibiticos, oncolticos, hormnios, entre outros, variaram na biodegradao (Halling-Sorensen et al., 1998). Outra fonte importante para o lanamento de frmacos no ambiente so os efluentes hospitalares, em que as concentraes de drogas individuais ocorrem acima de 100 g.L -1 no meio aquoso e acima de 100 mg.L -1 em sedimentos (Derksen, apud CSTEE, 2001). Diariamente nos hospitais so administrados vrios grupos de substncias, alm dos adjuvantes a eles associados como componentes. Tambm so utilizados substncias diagnsticas e desinfetantes. Todos esses compostos produzem uma mistura complexa, tornando-se necessrio monitorar as principais fontes emissoras para o ambiente aqutico. Por que os frmacos esto sendo encontrados no meio ambiente questes analticas Muitos compostos qumicos tm sido estudados no meio ambiente. Em um estudo prvio, um screening feito por cromatografia a gs e espectrometria de massas (CG/EM) para verificar quais substncias esto presentes na amostra. Os poluentes orgnicos prioritrios (POPs), como os compostos orgnicos volteis (VOCs), os pesticidas e as bifenilas policloradas (PCBs), apresentam propriedades que possibilitam analis-los por CG/EM. Possuem alta presso de vapor, que lhes permite entrar na fase gasosa e ser analisados por cromatografia a gs, ou so hidrofbicos, o que lhes permite ser analisados estruturalmente por CG/EM (Sedlak, 2000). Por outro lado, os frmacos possuem baixa presso de vapor, um coeficiente de partio relativamente baixo e grupos funcionais que ficam presos nas colunas da cromatografia a gs. Por isso, os frmacos no apresentam um bom comportamento nos sistemas de CG/EM (Sedlak, 2000). Figura 1 Introduo de produtos farmacuticos no ambiente aqutico Revista Sade e Ambiente / Health and Environment Journal, v. 6, n. 2, dez. 05 9 No entanto a anlise de resduos de frmacos em amostras ambientais como guas de rios e gua potvel requer mtodos sensveis para a deteco de concentraes na faixa de g.L -1 e ng.L -1 . Para a deteco de baixas concentraes de frmacos no ambiente aqutico, a extrao em fase slida o melhor meio e freqentemente requer fases especficas, associadas cromatografia lquida de alta eficincia acoplada a espectrometria de massas (CLAE/EM) ou ainda a cromatografia lquida de alta eficincia acoplada a dois espectrmetros de massa em srie (CLAE-EM/EM). rea de estudo Represa Billings Localizada na regio sudeste da capital paulista (2342 e 2345 S; 4627 e 4622 W), numa altitude mdia de 746,5 m, a Represa Billings foi construda na dcada de 1920 pela empresa canadense Light & Power, com a finalidade de fornecer gua para movimentar as turbinas da usina Henri Borden, em Cubato, na Baixada Santista. Tambm serviria como uma reserva estratgica para abastecer a populao da regio metropolitana de So Paulo. Atualmente, juntamente com a Represa Guarapiranga, constitui o principal reservatrio da regio metropolitana de So Paulo (CETESB, 1989). O Reservatrio Billings, com uma rea de drenagem de 560 km 2 e um volume aproximado de 1,2 bilho de metros cbicos e vazo mdia de 18 m.s - , inunda uma rea de 127 km 2 com profundidade mdia de 10 m. Sua bacia formada ao norte pelos rios Tamanduate, Guai e Taiaupeba, todos afluentes do Rio Tiet; ao sul pelos rios Quilombo, Cubato e Capivari- Monos; a oeste faz fronteira com a bacia de drenagem do Rio Guarapiranga (Rocha, apud CETESB, 1996). A bacia do complexo Billings composta pelos municpios de Ribeiro Pires, Rio Grande da Serra, Diadema, Santo Andr, So Bernardo do Campo e So Paulo. A captao de gua para abastecimento d-se atravs do brao do Rio Grande, junto ponte da Via Anchieta, onde foi necessrio barr- lo, para evitar mistura de guas do corpo central, que inviabilizaria a captao (CETESB, 1990). O reservatrio encontra-se no alto da serra do mar, na exuberante mata atlntica, rica em biodiversidade, o que propiciou mltiplas atividades, como a instalao de colnias de pescadores, estaleiros e atividades agrcolas. So praticadas atividades hortifrutigranjeiras, com destaque para as hortalias, nos municpios de Ribeiro Pires e Rio Grande da Serra. A tendncia geral de ocupao de chcaras de recreao e lazer e clubes de fim de semana, dada a aproximao da conurbao metropolitana, carente de espaos verdes (CETESB, 1992). H ainda uma reserva indgena de guaranis naquela regio, e a beleza do seu entorno fez com que um dos seus recantos fosse chamado de Eldorado. O problema No Brasil, o Estado de So Paulo destaca-se pela amplitude da distribuio das represas, bem como a variedade de sua localizao geogrfica. As represas formam um conjunto que acumula significativa coletnea de informaes sobre processos ambientais, econmicos e sociais. Sua caracterizao, levando em conta essas caractersticas e seus impactos, representa um avano importante do ponto de vista conceitual: a evoluo das represas est intimamente ligada s transformaes sociais e econmicas ocorridas no Estado. As informaes sobre os eventos ecolgicos, biolgicos, sociais e econmicos ao longo da bacia hidrogrfica ficam registradas nas variveis de estado e nos processos em curso nas represas. Portanto, estas podem ser consideradas reservatrios ou acumuladores de informaes da bacia hidrogrfica (Tundisi, 1986). Durante mais de 50 anos a Represa Billings recebeu uma carga de esgotos domsticos e industriais de toda a regio da Grande So Paulo. A represa passou a receber o bombeamento do Rio Pinheiros em 1940 a fim de aumentar a produo energtica, e as guas do reservatrio comearam a ser utilizadas para o abastecimento somente 18 anos depois, por causa da falta de gua em So Paulo. Na dcada de 60, a disponibilidade de gua possibilitou que indstrias se instalassem em Cubato. A carga poluidora que atingiu o 10 Frmacos na Represa Billings Reservatrio Billings, em Pedreira, chegou a 235.400 kg DBO/dia em 1990 (CETESB, 1990). Com a promulgao da Constituio do Estado de So Paulo em 1990, o artigo 46 determinou a suspenso do bombeamento dos esgotos para a represa, prevendo porm excees, como conteno de enchentes e gerao de energia eltrica. A Resoluo n 03/92, de 4 de setembro de 1992, das secretarias estaduais do Meio Ambiente, da Energia e dos Recursos Hdricos e Saneamento, restringiu o bombeamento do canal do Rio Pinheiros para a represa, porm o bombeamento foi retomado inmeras vezes. Lamparelli et al. (1996) estudaram a relao das comunidades aquticas do complexo (plncton, bentos e peixes), visando avaliar o grau de degradao e enfocando a contribuio dos contaminantes orgnicos e inorgnicos presentes na gua e no sedimento. Concluram que o grau de toxicidade e a atividade mutagnica em algumas amostras de gua alertam para a necessidade de cuidados na utilizao da gua para abastecimento pblico. A mortandade de peixes tambm foi monitorada, e em um estudo realizado por Martins (1996) observou-se que, por exemplo, em 1994 foram registradas 41 ocorrncias no Estado de So Paulo. Destas, 56% foram provocadas por aes antrpicas, como lanamento de efluentes domsticos e/ou industriais, despejo de substncias txicas, manuseio de produtos para agropecuria e controle de pragas. No Reservatrio Billings, 100% dos casos ocorreram em virtude do aporte do Rio Pinheiros com sua carga poluidora (Guazzelli, 1992). Alm das questes ambientais, o sistema abriga um outro srio conflito, que a ocupao desordenada em torno do reservatrio. O Estado de So Paulo tem 248.000 km 2 , contendo a rede urbana mais densa das Amricas. Tambm , provavelmente, a mais densa da Amrica Latina e talvez uma das mais densas do mundo ocidental (AbSaber, 1996). A regio metropolitana de So Paulo (RMSP) apresenta uma enorme complexidade urbana, social, poltico-territorial, ambiental, econmica e, especialmente, hdrica. A RMSP um exemplo de como o crescimento desordenado pode prejudicar o abastecimento de gua. Embora a Lei de Proteo dos Mananciais de 1976 proba qualquer tipo de ocupao em reas de mananciais, a populao em condies socioeconmicas restritas foi obrigada a se instalar nesses locais. Entre 1989 e 1999 a bacia da Billings perdeu 6,6% da cobertura vegetal. A expanso urbana representa 21,9 km 2 e ocorreu em reas com severas restries ambientais, como encostas ngremes, regies inundveis e vrzeas (ISA, 2002). Alm disso, h falta de saneamento, que uma das caractersticas dessa suburbanizao. Metodologia Anlise de frmacos em amostras aquosas Para a anlise de frmacos foram empregadas as tcnicas descritas em Nachweis ausgewhlter Pharmaka in aquatischen Systemen mittels LC- Tandem-MS (2001). A figura 2 representa o fluxograma de anlise de frmacos em amostras aquosas. Figura 2 Fluxograma para anlise de frmacos em amostras aquosas Revista Sade e Ambiente / Health and Environment Journal, v. 6, n. 2, dez. 05 11 Foram analisados vrios grupos de frmacos, e o procedimento analtico usado foi o mesmo mostrado no fluxograma, variando-se apenas as fases slidas para extrao e os padres. As fases utilizadas para a extrao em fase slida e os respectivos grupos de frmacos constam da tabela 1. Tabela 1 Fases e grupo de frmacos analisados Resultados e discusso Foram analisados frmacos pertencentes aos grupos dos betabloqueadores, antibiticos, frmacos cidos, frmacos neutros e contrastes iodados para raio X. O termo frmaco cido compreende os compostos contendo grupos carboxlicos e um ou dois grupos fenol-hidrxidos. Pertencem a essa categoria os antiflogsticos, os reguladores de lipdios, o cido saliclico principal metablito do cido acetilsaliclico e os anti-spticos fenlicos. O termo frmaco neutro usado para diferentes compostos de vrias classes mdicas, os quais no contm grupos funcionais cidos. So bases fracas e drogas neutras utilizadas como antiflogsticos, reguladores de lipdios, agentes antiepilticos, drogas psiquitricas e vasodilatadores. Os frmacos identificados no Reservatrio Billings, bem como seu emprego e as concentraes mdias, esto na tabela 2. Tabela 2 Frmacos identificados no Reservatrio Billings Poucos dados sobre frmacos em amostras ambientais so disponveis, e pouco se sabe sobre seus efeitos nos organismos aquticos. Uma das razes da falta de dados que a regulamentao de drogas feita por agncias de sade, as quais no consideram as questes ambientais, pois at recentemente os frmacos no eram vistos como substncias potencialmente txicas ao meio ambiente. Porm alguns estudos tm mostrado que esses compostos no so completamente removidos no processo de tratamento de efluentes e a transformao dos frmacos durante o tratamento dependente das suas propriedades fsico- qumicas, estrutura, solubilidade, entre outras. O diclofenaco foi o composto detectado em maior concentrao, seguido do ibuprofeno e da cafena. Esses compostos, indicados no tratamento da dor, so largamente prescritos, alm de serem adquiridos livremente. A cafena, na indstria farmacutica, tem uma srie de aplicaes como 12 Frmacos na Represa Billings analgsico e antipirtico. O buformin entra na sntese da insulina; o atenolol um betabloqueador, sendo atualmente um dos medicamentos mais prescritos mundialmente no controle da hipertenso. O diazepan tambm a droga mais comum entre os ansiolticos. O ibuprofeno um dos medicamentos de maior prescrio no tratamento de dores reumticas e febres. a terceira droga mais popular no mundo, e sua produo de vrias toneladas, sua dose teraputica relativamente alta entre 600 e 1.200 mg por dia (Morant e Ruppanner, 1994). Essa droga excretada em grau significante, ou seja, entre 70-80% da dose teraputica (Hutt e Caldwel, 1983). As propriedades fsico-qumicas desse composto sugerem uma grande mobilidade em ambientes aquticos, sendo um dos compostos farmacuticos mais detectados em efluentes de estaes de tratamento de esgoto, lagos e rios (Ternes, 1998). Embora o ibuprofeno e o diclofenaco tenham comportamento diferente no meio ambiente, ambos no so totalmente eliminados durante o tratamento de efluentes. O diclofenaco sofre fotodegradao nos lagos, porm apresenta um tempo de residncia maior que o ibuprofeno (Busel, 2000). Apesar de em temperaturas elevadas ocorrer maior atividade biolgica, no Reservatrio Billings o ibuprofeno e o diclofenaco foram os compostos que apresentaram maiores concentraes. Comparando- se com os dados de outros autores e as condies sanitrias do reservatrio, perfeitamente previsvel a ocorrncia de tais compostos, pois aporta diariamente grande volume de esgotos provenientes das moradias que esto no seu entorno. Nas estaes de tratamento, as concentraes iniciais desses compostos so 25 a 1.000 vezes maiores. Uma descarga direta de esgoto sem tratamento, mesmo em pequeno volume, pode levar ao ambiente aqutico uma carga de frmacos similar ou muito maior do que aquela remanescente de esgoto tratado. Quando tal carga, qualitativa e quantitativamente, no apresenta nenhum tipo de tratamento, bem provvel que esses compostos estejam sendo bioacumulados e disponibilizados tanto na fase lquida como nos sedimentos. As substncias medicinais apresentam propriedades semelhantes a outros xenobiticos e podem ser bioacumuladas e provocar efeitos nos ecossistemas aquticos (Halling-Sorensen et al., 1998). A relevncia da avaliao do risco potencial dos frmacos no meio ambiente d-se pelo grande consumo. Embora as informaes sejam escassas, sabe-se que drogas, como so denominadas, esto presentes nos rios e, mesmo em baixas concentraes, muitas delas podem causar efeitos ecotoxicolgicos crnicos e agudos no ambiente aqutico. Porm h poucos dados sobre efeitos ambientais, como destino e comportamento, e, quando comparadas a outros campos da legislao ambiental que tratam dos componentes qumicos industriais, as informaes sobre risco ambiental dos frmacos so muito limitadas, se no inexistentes. Do ponto de vista cientfico isso injustificvel, uma vez que tais compostos so consumidos em grandes quantidades, tm mecanismos de ao especficos tanto teraputica como toxicologicamente, so lanados direta e indiretamente no ambiente e tm sido detectados nos corpos hdricos. Consideraes finais Na Represa Billings, a presena de traos desses compostos facilmente explicvel, dadas as condies sanitrias do corpo hdrico, uma vez que ela recebe um volume considervel de efluentes domsticos sem tratamento provenientes das moradias que esto em seu entorno, alm de abrigar em sua bacia hidrogrfica atividades diversas que produzem efluentes de natureza desconhecida. Quando essa carga no recebe qualitativa e quantitativamente nenhum tipo de tratamento, bem provvel que tais compostos estejam sendo bioacumulados e disponibilizados, tanto na fase lquida como nos sedimentos. Tambm se deve considerar que esses compostos, juntamente com outras classes de compostos qumicos, no so facilmente eliminados no tratamento convencional da gua e, mesmo em pequenas concentraes, podem estar presentes diariamente na gua consumida pela populao. Agradecimentos Agradecemos FAPESP e DAAD-Alemanha o apoio financeiro; ao Institut fr Wasserforschung und Wassertechnologie GmbH, Alemanha, e ao Prof. Dr. Baumann, da Johannes Guttemberg Universitt, Mainz, na realizao deste trabalho. Revista Sade e Ambiente / Health and Environment Journal, v. 6, n. 2, dez. 05 13 Referncias AbSaber A (1996). Anais da jornada de debates Billings So Paulo. Comit da Bacia Hidrogrfica do Alto Tiet. Busel H-R, Poiger T, Muller M (2000). Environ. Sci. Technol. 36: 1.202. CETESB (1989). Qualidade ambiental. Srie Relatrios. Governo do Estado de So Paulo, Secretaria do Meio Ambiente. CETESB (1990). Qualidade ambiental. Srie Relatrios. Governo do Estado de So Paulo, Secretaria do Meio Ambiente. 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