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1) O gramático Evanildo Bechara defende o Novo Acordo Ortográfico que entrará em vigor no Brasil em janeiro de 2009, unificando as regras de escrita do português nos países lusófonos.
2) As principais mudanças incluem a eliminação de acentos e do trema e novas regras para hifenização.
3) Bechara argumenta que as críticas ao acordo são exageradas e que a língua portuguesa precisa de uma grafia única para se apresentar internacionalmente.
1) O gramático Evanildo Bechara defende o Novo Acordo Ortográfico que entrará em vigor no Brasil em janeiro de 2009, unificando as regras de escrita do português nos países lusófonos.
2) As principais mudanças incluem a eliminação de acentos e do trema e novas regras para hifenização.
3) Bechara argumenta que as críticas ao acordo são exageradas e que a língua portuguesa precisa de uma grafia única para se apresentar internacionalmente.
1) O gramático Evanildo Bechara defende o Novo Acordo Ortográfico que entrará em vigor no Brasil em janeiro de 2009, unificando as regras de escrita do português nos países lusófonos.
2) As principais mudanças incluem a eliminação de acentos e do trema e novas regras para hifenização.
3) Bechara argumenta que as críticas ao acordo são exageradas e que a língua portuguesa precisa de uma grafia única para se apresentar internacionalmente.
So Paulo, segunda-feira, 29 de dezembro de 2008. - Senhor das letras O gramtico Evanildo Bechara defende acordo ortogrfico, que comea a vigorar no Brasil nesta semana Rafael Andrade/Folha Imagem
O acadmico pernambucano Evanildo Bechara gesticula para explicar novas regras do portugus, durante entrevista realizada na Academia Brasileira de Letras, no centro do Rio de Janeiro SYLVIA COLOMBO -ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Evanildo Bechara tinha 11 anos quando cometeu seu primeiro erro de traduo. Viajando de Pernambuco para o Rio de Janeiro, de navio, o garoto que se tornaria um dos gramticos mais famosos do Brasil fez uma parada em Salvador. Entrou num restaurante e pediu um vatap. O garom perguntou como ele queria o prato. Bechara respondeu: bem quentinho, como era costume fazer-se em sua terra para determinar a temperatura da comida. Acabou tendo de engolir um bocado com muita pimenta. Foi ento que as lgrimas brotaram de seus olhos. Aprendi na pele que bem quentinho, na Bahia, era bem apimentado. Por conta desse episdio e de outros que vivi quando minha famlia me mandou para o Rio para estudar, passei a me interessar pelas diferenas que a lngua portuguesa tem em diferentes lugares. A virei professor, viajei, dei aulas no exterior, lancei meus livros e cheguei aqui, resume. Bechara, 80, hoje ocupa a cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras, para a qual foi eleito em 2000, e tem uma dura tarefa pela frente. A partir de 1 de janeiro, quando as regras do Novo Acordo Ortogrfico entrarem em vigor em oito naes da Comunidade dos Pases de Lngua Portuguesa, ser ele a autoridade mxima no Brasil para decidir as possveis querelas e pendncias com relao ao modo como os brasileiros tero de passar a escrever. No me sinto confortvel nessa posio. muito incmodo. E claro que a interpretao que fiz est sujeita a erros. S no erra quem no faz, disse em entrevista Folha, na sede da instituio, no Rio. As regras tm como objetivo unificar as diferentes grafias que o portugus tem nos pases em que lngua oficial. Elas comearo a ser aplicadas em janeiro de 2009, mas as atuais continuaro sendo aceitas at dezembro de 2012. No caso brasileiro, as principais mudanas sero a eliminao de alguns acentos e do trema e a adoo de outras regras para a hifenizao (leia ao lado). Tem gente fazendo tempestade em copo dgua. J passamos por cinco reformas e nunca houve um grande trauma. E mais, o Brasil sempre foi quem mais cedeu at hoje. Nesta reforma, est acontecendo o contrrio, os outros pases, Portugal principalmente, que esto cedendo mais, diz. De todas as mudanas, as que regulam o uso do hfen tm causado mais polmica. Bechara explica que a ideia, de um modo geral, foi a de suavizar sua utilizao. Como um homem comum, que no um gramtico nem tem formao tcnica sobre a lngua, pode saber, por exemplo, que uma expresso um substantivo que em outros casos pode ter outra funo? Ao tirarmos os hifens, estamos facilitando a sua vida. Contexto O gramtico explica que o esprito das novas regras deixar que o contexto explique aquilo que a ortografia no alcana. o caso, por exemplo, da contestada retirada de acento de pra, do verbo parar. Como diferenci-lo da preposio para? Bem, quando se diz manifestao para avenida, fica bastante claro que se trata do verbo, porque os outros elementos na frase levam a essa deduo, diz. O caso dos ditongos que perdem o acento, como idia, tambm causaram estranhamento. No possvel termos duas grafias diferentes para o mesmo tipo de formao. Por que aldeia no tem e idia, sim? Bechara acha que a retirada do acento no vai confundir, por exemplo, crianas em processo de alfabetizao. O primeiro aprendizado de uma pessoa sempre imitativo. Depois vem a reflexo. Quando ela for aprender a escrever, j saber a diferena de pronncia das duas palavras sem que seja necessrio usar um sinal grfico. Para Bechara, a reforma ortogrfica necessria para defender a lngua portuguesa. Trata- se do nico idioma falado por um grupo majoritrio -mais de 230 milhes de pessoas- no mundo a ter duas grafias diferentes. essencial que o portugus se apresente internacionalmente com uma nica vestimenta grfica. Para manter o prestgio e para que seja melhor ensinado e compreendido por todos, conclui. So Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 2008.
UM ACORDO BESTIAL Carlos Heitor Cony Que portugus e que ortografia devem ser respeitadas? Cames ou Frei Luiz de Souza? NO MEU entender, discutir o acordo ortogrfico assinado h dias pelo presidente da Repblica parece que no levar a nada. Pode prevalecer por um algum tempo, como as nossas Constituies anteriores, mas de tempos em tempos, alm de modific-las, fazemos uma nova. Em primeirssimo lugar, pergunto se h realmente necessidade cultural e prtica para estabelecer regras ortogrficas a serem usadas pelos pases de lngua lusfona. Em geral, cita-se o respeito que devemos ter pela matriz, que o portugus. Mas da a dvida: que portugus e que ortografia devem ser respeitadas agora e no futuro? O portugus e a ortografia de Cames ou Frei Luiz de Souza? Ou de Pero Vaz Caminha que escreveu a certido de nascimento de um pas recm-descoberto? Para no ir muito longe, como adotar a ortografia de nossos clssicos, de Jos de Anchieta ou de Machado de Assis? Como aquela dona da pera de Verdi, a linguagem mobile, e a ortografia tambm. Agora mesmo, quando se procura unificar a maneira de escrever palavras, est surgindo uma nova ortografia, at certo ponto radical, usada inicialmente pelos internautas, mas que est vazando para textos literrios e do uso cotidiano. Bj e tb, para citar os mais frequentes, substituem beijo e tambm. Uma simplificao? Ou uma agresso norma dita erudita? Temos o caso de simplificao mais radical na expresso Vossa Excelncia, que foi reduzida para vosmic e terminou na forma simptica e no contestada de voc. Bem verdade que a prpria reduo foi reduzida e h tempos que usamos o simples v para a mesmssima coisa. So respeitveis os argumentos a favor do acordo. Houve outros, no passado, que foram desacordados pelo uso e abuso. No espao de minha gerao, enfrentei vrias ortografias, inclusive aquela que aboliu o w, o y e o k. Houve jornais que passaram a escrever Cubisticheque, quem menos gostou da ideia foi o prprio Kubistchek. Brincadeira tem hora, disse-me ele. Eu prprio fiquei chateado quando at uma enciclopdia grafou o meu nome sem o y. No meu caso, no se tratava de uma pinimba, como em Gilberto Freyre, mas do nome de meus antepassados. Os adeptos daquela ortografia diziam que o camarada tinha o direito de escrever o prprio nome como bem entendesse, mas os outros no. Esqueceram o fundamental: o nome , digamos, a marca industrial, a trademark de um indivduo. Em termos de norma culta, a marca do carro Simca devia ser Sinca. E a Telefonica devia ser Telefnica, para estar de acordo com a acentuao das palavras proparoxtonas. Considerar o acordo como um instrumento poderoso para a unificao cultural e espiritual dos povos lusfonos apenas uma boa inteno. Esta unificao deve existir sem necessidade de obrigarem os portugueses a escrever facto e fato com sentidos diferentes. Pensando bem, e analisando historicamente as palavras, h mais sentido em Portugal quando ali escrevem sbdito em vez de sdito. O prefixo sub inclui a ideia de submisso e no de sumisso. Autores brasileiros reclamam quando seus livros so traduzidos para o portugus de Portugal. Por acaso, tenho dois livros ali publicados: um foi traduzido literalmente, trem virou comboio e diretor virou director. Honestamente, no me senti insultado. Na verso francesa do mesmo romance, pacote virou paquet. E da? O outro, mais recente, foi transcrito tal como o escrevi, mas com abundantes notas ao p de pgina. Dar sopa foi explicado como proporcionar e torcer como desejar. Nos dois casos, o da traduo e o da nota ao p de pgina, no foi prejudicada a essncia - se que meus livros tm alguma essncia. Insisto no respeito e na admirao aos abnegados amantes da lngua, aqui e em Portugal, que gastaram anos de pesquisa e trabalho na tentativa de unificar a ortografia a ser usada oficialmente no Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, So Tom e Prncipe e Timor Leste. Alvssaras para o nosso idioma, que segundo Fernando Pessoa, deve ser a nossa ptria. Foi um enorme esforo que os portugueses poderiam classificar de bestial.