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Antonio Jaques de Matos

Filosofia para
Adolescentes – parte 1

2009
Prefácio

A presente obra vem a completar nossa primeira obra – Filosofia para Adolescentes – cujas aulas
eram em boa parte, hipotéticas e, acrescentar outras áreas do conhecimento humano – Sociologia,
Religião e História as quais fomos convidados a lecionar, áreas que, normalmente, professores de
filosofia são brindados, especialmente em escolas públicas, que têm carência de professores dessas
áreas. Mas, do limão, fizemos uma limonada, pois é muito útil poder mostrar aos alunos a diferença e
semelhança entre Filosofia, Sociologia (Ciência social), Religião e História, quatro das principais formas
que os seres humanos encontraram para exteriorizar seu pensamento. A elas poder-se-ia acrescer Arte.
Procuraremos ser fiel à ordem das aulas e ao conteúdo ministrado, bem como, reações dos alunos
(participação, engajamento, ou afastamento e repulsa, sim, repulsa à metodologia, algo comum, natural,
fisiológico, em adolescentes) e resultados obtidos (formais, provas, trabalhos, apresentações e informais,
expressões, humor, conversas paralelas). Procuraremos apresentar primeiro as aulas de filosofia, depois
de Sociologia e, então, religião e História, Contudo, o leitor deve estar advertido que elas ocorreram em
paralelo: em uma mesma semana, dávamos as três disciplinas para as cinco turmas de primeiros anos do
Ensino Médio, pela manhã, turmas 211,212,213,214 e 215 e História à turma de terceiro ano do ensino
médio, turma 431, no horário noturno.
Queremos lembrar que a disciplina de História não era por nós esperada, mas nos foi oferecida e
como professor ganha pouco, representava um acréscimo financeiro a mais. Acontece, porém, que não
temos formação em História e um filósofo apenas toma emprestado as descobertas arqueológicas para
refletir sobre conceitos abstratos. Mas, tal empresa representou um desafio interessante – em dois ou três
finais-de-semana relemos um livro de história e recuperamos conhecimentos guardados uns vinte anos
na memória, quando éramos adolescentes e ainda estávamos no colégio.
Ainda, devo lembrar que passei neste ano de 2009 a usar um microfone portátil com uma pequena
caixa de som de 7 watts na cintura e os alunos gostavam do equipamento, aliás, eles gostam de tudo que
e relaciona à tecnologia e como nesta época da vida, a educação tem um gosto intragável e se
dependesse da maioria deles não iriam à escola, o uso do microfone prendia a atenção deles. Chego a
ponto de concluir que a pior aula dada por um professor, com microfone é ainda superior à melhor aula
dada sem microfone!!
Considerações metodológicas:
Quando se lida com adolescentes, deve-se considerar algumas questões:

1- Adolescentes são crianças com corpos de adultos, e, por isso, mantém a infantilidade em um
grau elevado. Uma boa maneira de conquistar sua atenção e respeito é:
(a) mostrar-lhes um filme daqueles que não precisam pensar muito, de ação ou romance, de
preferência dublado;
(b) distribuir-lhes guloseimas;
(c) praticar esportes com eles.

2- Eles não suportam rotina, aulas que parecem, para eles, repetitivas, embora sejam apenas
continuações, com acréscimos importantes. Por isso, eles dão valor a mudanças de ambiente: ir à sala de
informática em um dia, ir ao pátio tomar sol no inverno, ir à sala de vídeo, etc. Aliás, quem não gosta?
Mas, há um detalhe a considerar: quando eu entrei na faculdade de filosofia (a primeira que fiz foi
de Administração) me senti mentalmente esgotado e, mais para o final do curso, não tinha mais vontade
de ler um livro inteiro. Será que os adolescentes, em função do excesso de informação mais o conflito
que vivenciam em famílias, geralmente, desestruturadas, não estão exaustos mentalmente? Pensei em
um trabalho para um eventual pós-graduação: medir os batimentos cardíacos de professores e alunos
para saber o grau de stress que vivem em suas atividades!

3- eles estão sem limites, pois vem de casa sem limites, os pais ou avós os deixam fazer o que bem
entendem e sobre para o professor disciplinar, só que o professor não tem instrumentos que uma mãe ou
um pai teriam, como o de puxar a orelha ou dar um tapa na cara diante de desobediência. A psicologia
moderna dirá que isto é ultrapassado, mas lhes dar tudo o que desejam (adolescentrismo) não os educará
para o mundo, pois o mundo não lhes dará tudo o que desejarem! Na escola onde trabalho neste
momento, 2009, nem suspensão ou expulsão os alunos podem sofrer, pois o governo não quer mais
evasão escolar, mas isto não resolve o problema de termos alunos indisciplinados e a única coisa que o
professor pode fazer é tirar para fora da sala os mais desordeiros. Nada os agrada, os levamos para a sala
de vídeo, para o laboratório de informática, excursionamos ao museu de ciências, em dias frios tomamos
sol na rua, quando eles aproveitam para escapar!
Parecem que eles esperam por limites: às vezes respondo com grosseria à indisciplina deles: já
mandei alunos calarem a boca, outra vez, disse a um deles que deveria deixar de ser criança e virar
homem, outras vezes chamei seus pais, porque –lhes disse – com os alunos não era mais possível um
acordo. E quando os pais vêm à escola se horrorizam com o que os filhos fazem ou será que fingem?
Dizem que em casa não são assim! O mais curioso disto tudo é que temos a impressão de que deixaram
ao professor a tarefa de dar limites, mas como? Em geral, quando o aluno incomoda, tiramo-lo da sala,
mas muitas escolas são proibidas de suspender ou expulsar alunos.
O que é certo é que eles foram acostumados (condicionados, mesmo) a um tipo de aula, em escola
pública, em que o professor deixa uma tarefa no quadro e sai da sala e, mais tarde, verificará se eles
anotaram no caderno e fizeram professor curioso e com algum conhecimento amplo da vida. E é isso
que devemos cobrar dos alunos, um ser completo, não um especialista, pelo menos, nesta época de
formação escolar. Lembro que fui um estudante que esperava ansioso por novos conteúdos, pois, assim,
poderia aprender o conhecimento que a humanidade dispunha e tinha acumulado. Tinha esperança,
também, de que tal conhecimento representasse uma oportunidade de me tornar bem sucedido, mas há
muitos obstáculos e nossos sonhos morrem antes de ultrapassar todos: burocracia, para abrir empresas,
gastos para registrar marcas que imaginamos, recursos para implementar ideias, etc. podemos, ainda
assim, escrever nossas ideias e publicá-las na internet de graça!
Um dos argumentos em defesa dos adolescentes é que a escola tecnologicamente está defasada
com o restante dos equipamentos que os adolescentes estão habituados a trabalhar. Mas, experimente
leva-los à sala de informática e pedir uma pesquisa a eles: lhe darão qualquer coisa que aparecer e
apenas a copiarão, sem acrescentar opinião ou argumentos consistentes. Além disso, não estão
habituados a uma comunicação de duas vias, mas apenas a receber informações prontas, pensadas por
outras pessoas, cantores, especialmente.
Solução? Os meus alunos de terceiro ano do ensino médio parecem arredios (uma aluna pediu que
eu deixasse textos para que eles lessem e fizessem algum trabalho e eu respondi que não era ela que
decidiria como eu daria aula, embora eu, nas aulas seguintes, tenha assimilado nas minhas aulas os
trabalhos sem o constante monólogo do professor), desconfiados, agridem verbalmente (perguntam qual
é a tarefa e não esperam a explicação ou se não a entendem dizem que a culpa é do professor, eximindo-
se da mesma), expressam-se com receio e dificuldade de e têm pouca auto-estima, fruto de uma infância
sem afeto?
Mas quando há pontos ou notas envolvidos eles participam. Em parte, propus aulas que não os
massacrassem com excesso de informação, questões difíceis de resolver ou provas que os fizessem
estudar muito e memorizar a matéria - acho que conquistei algum respeito deles. Levei-os ao laboratório
de informática, à sala de vídeo, ofereci-lhes pipoca para os motivar a assistir o DVD de Sócrates, só não
fomos no museu de ciências, porque ele não abre à noite. Não é preciso mais rigor do que a exigência da
presença e de alguma participação por parte deles para a escola cumprir atarefa primeira: ampliar a
percepção (muitos a chamam de pôr a razão no controle, como se existisse um órgão sede da
racionalidade, como bem questionou Popper) acostumada a percepções limitadas a seus hábitos
cotidianos; reparem como um adolescente percebe detalhes que passam despercebidos pelos adultos:
reparam o tipo de sapato que usamos, se a roupa está suja de respingos de lama (pois mesmo com chuva
forte, eu vou de bicicleta para o colégio), a tudo que é pequeno eles prestam atenção! Não é por acaso,
também, que eles, em geral, têm dificuldade de pensar em um nível abstrato, pois neste nível o particular
e o singular (este, esta e isto ou aquilo, aquela, aquele) se encontram desfocados e se dá lugar ao
“existe”, “alguns”, “todos”, expressões que não falam de uma pessoa, que tem um nome, veste uma
certa roupa, moro na rua tal, mas de grupos maiores de pessoas até se o universo tem limite, o que
compreende o conjunto de todas as coisas que existem dentro dele ou mesmo, por especulação, fora
dele.
4- um dia apareceu no colégio um mágico. Precisavam ver a reação dos alunos, adolescentes que
transpareceram as crianças que ainda estão neles. Hipnotizados, saíam das aulas sem pedir e quando
chamava a atenção deles, não estavam nem aí. Senti uma inveja do poder do mágico de prender a
atenção dos alunos. Certamente falta isso na educação ou, então, deixar que eles façam a mágica... de
criar algo que saia de dentro deles mesmos! Um professor não tem a obrigação de ser um mágico, mas
pelo menos a humildade de querer ser um mágico, para ver olhos brilhando na sua frente.

Nota sobre Avaliação


Há casos sobre a avaliação que valem a pensa serem relembrados para servirem de ajuda a outros
professores:
(1) uma aluna de uma turma de pós-médio queixou-se de que a nota (50%) foi abaixo daquela que
ela merecia. Eu chamei a sua atenção para o fato de que ela tinha pesquisado na internet, algo que eu
aceitava, se ela pesquisasse com suas palavras e não apenas copiar as informações, nuas e curas. Depois,
senti que eu poderia estar sendo injusto e ao encontrá-la, avisei que a nota tinha sido alterada para 70%,
pois eu acreditava que ela tinha ficado muitas horas fazendo aquela pesquisa e o que ela me respondeu?
Que sua secretária tinha feito o trabalho. Eu não aceitei esta atitude e voltei atrás na nota, a reduzindo.
Aliás, aquela aluna era advogada e, provavelmente, seguia o pensador do Direito, Hanz Kelsen, para
quem a lei não tem nada a ver com justiça!;
(2) outra vez um aluno disse que eu não tinha devolvido o trabalho dele, que eu devia ter perdido.
Achei pouco provável isto. Então, ele escreveu outro, mas eu lhe disse que não consideraria. Mas, eu
não poderia ter perdido ou guardado em outra pasta, poucos sabem o quanto um professor trabalha? De
qualquer modo, segui minha intuição, ou seja, deixei que a parte do cérebro involuntária, recordasse e
juntasse todas as memórias sobre aquele aluno e chegasse a um veredito: não aceitar o trabalho, pois o
aluno está mentindo.
(3) reconheci a dificuldade de fazer justiça quando avaliamos trabalhos dos nossos alunos, sugeri
que se colocassem todos os trabalhos no quadro e que os avaliassem. Haveria, certamente, as panelinhas,
grupos influentes que votariam uns nos outros; poderia o professor estabelecer critérios como
pontualidade e assuntos que deveriam constar nos trabalhos, talvez esta seja a forma mais óbvia, mas
não para mim.
(4) quando estava no meu segundo ano de docência eu, diante de algum aluno que apresentava
uma reflexão interessante, dava nota máxima do trimestre ou, ainda, quando eles apresentavam algum
trabalho do interesse deles. Uma vez uma aluna disse, após eu falar sobre a teoria de Rousseau, de que
os homens nascem bons e a sociedade os corrompe, que ela não concordava com isso, pois se a
sociedade é feita de homens e estes nascem bons, como poderiam corromper outros homens que,
também, nascem bons? Por isso, ela ganhou em uma argumentação a nota que outros levariam três
meses para ganhar! Ainda acho interessante isso, mas vi que aquela aluna, depois, deixou de assistir às
aulas e passou a participar muito pouco.
(5) cometi muitos erros ao avaliar trabalhos: (a) uma vez disse que todos ganhariam a nota máxima
em um trabalho, desde que o fizessem! Por que disse isso? O professor queria ser bem visto pela turma?
É possível. Mas, depois, eu esqueci a promessa e dei notas abaixo daquela nota máxima e, aí, pelo
menos uma aluna reclamou. Eu havia pedido que imaginassem o inferno à semelhança daquele
imaginado por Dante Alighieri, mas ela disse que lá era um lugar nada tranqüilo e, depois, citou
definições que eu tinha dado de purgatório e limbo. Eu não poderia dar nota máxima por algo que ela
não tinha realizado bem. Seria o mesmo que dar nota a alguém que não tivesse feito nada ou tivesse
escrito sobre outra coisa!
De qualquer modo, procuro evitar uma prova e faço vários trabalhos para que se uma injustiça
houver na avaliação na média dos trabalhos observaremos (a) o progresso do aluno e (b) o seu
conhecimento adquirido.
Nunca vi parte mais desagradável e injusta que julgar o trabalho de alguém ainda mais quando não
há espaço para que julguem nosso trabalho. Um dos meios de amenizar tal injustiça é reduzir ao mínimo
os trabalhos e fazer as provas com perguntas com alternativas.
Uma outra metodologia que pensamos ser a melhor é deixar que os alunos julguem os trabalhos
feitos por eles através da avaliação dos trabalhos de seus colegas; mas há o problema do espírito de
corpo, da amizade acima da verdade... De qualquer modo, vale a pena um teste, não? Podemos expor os
trabalhos no quadro e deixar que eles mesmos julguem: quem merece nota máxima, quem está na média
e quem precisa refazer o trabalho. Será que há pontos negativos, nisso? Pode haver formação de grupos
que apóiem uns aos outros, mas, ainda assim, o professor pode supervisionar para evitar injustiças.
(6) pelo fato dos alunos não anotarem as notas que tiravam nos trabalhos me surgiu a idéia de pôr
na parede da sala a lista de alunos assinalando quais tinham feito o trabalho e quais não para que eles
aprendessem a se organizar e realizassem os trabalhos pendentes sem que o professor precisasse
relembrá-los repetidas vezes.
(7) houve episódios desagradáveis: além de ter que fazer os alunos adquirirem o hábito de parar de
falar quando o professor está falando, certa vez tivemos atritos causados por brincadeiras do professor
mal entendidas pelos alunos: certa vez, porque o colégio proibiu o uso de celular em aula, disse que um
aluno que usava o aparelho só podia ter merda na cabeça, o que provocou um alvoroço em toda a sala,
especialmente em um aluno que resolveu defender a colega, que chorava. Outra vez, pedi (brincando)
que duas alunas parassem de namorar em aula e uma delas não gostou, disse que eu a tinha chamado de
lésbica e eu disse que ela precisava amadurecer, pois não entendeu que era uma brincadeira,
especialmente porque na adolescência é comum brincadeiras relacionadas à sexualidade. Um outro fato
consistiu em eu ter dito que iria atirar milho para algumas alunas que não paravam de conversar e elas
entenderam que eu as estava chamando de promíscuas quando eu queria apenas dizer que elas estavam
muito agitadas [fim].

Filosofia, Sociologia, Religião e História

1a aula introdutória:
Na primeira aula, apresentamo-nos, nosso histórico, faculdade de origem, antes, dissemos que nos
formamos em Administração, depois, arduamente, nos encontramos em Filosofia, depois de ter pensado
em Arquitetura – formas e cores eram, para mim, um atrativo e mais do que isto, uma necessidade
neurológica, porém perder tempo decidindo tipos de tecido ou embelezando a casa de “cabeças vazias”,
nos afastou daquela idéia.
Mostrei-lhes alguns livros que publiquei na internet, apresentei-lhes um livro específico que
escrevi e que dele queria que eles imprimissem um texto que usaremos no segundo trimestre e, para
motivá-los a se mover!, prometi 10 pontos (não queria realmente que fossem 10 pontos, mas saiu da
boca!, oferecei como alternativa: dar 5 pontos para cada disciplina, filosofia, sociologia e religião, mas
prefeririam os 10 pontos!): trata-se do texto, um resumo feito por mim na verdade, da obra “O povo
brasileiro”, de Darcy Ribeiro, que sem igual, mostra a origem da sociedade brasileira, os povos que a
formaram – índios, negros e europeus, a desigualdade presente desde o descobrimento, ou melhor,
invasão! No restante da aula, apresentamos, então, as diferenças entre filosofia, ciências e religião e,
depois, as semelhanças entre elas. Primeiramente, devemos observar que tendemos a ver as três áreas
como separadas, tal como três propriedades, três terrenos que se limitam por cercas, muros,
intransponíveis, mas isto não é verdade.

A melhor imagem seria a seguinte, onde as três áreas têm diferenças, mas, também, semelhanças.
Embora o filósofo seja um solitário, que tenta entender o mundo, a partir de suas experiências e,
também, das experiências que observa nos outros e a religião trás consigo verdades ditadas por líderes
religiosos que dizem tê-las ouvido de um Deus e a Ciência (não esquecer: Sociologia representa aqui as
ciências) parte da observação e testes realizados com uma quantidade de pessoas ou fatos significativos
estatisticamente, isto é, um número que representa uma sociedade inteira, ainda assim, é sobre os
mesmos fatos, é sobre a mesma vida, que filósofo, religioso e cientista se debruçam e sobre os quais
fazem suas investigações, suas reflexões.
Filosofia Ciências Religião
Diferenças: Solitário, faz Pesquisador de Recebedor,
pesquisas sobre suas grupamentos possuidor e
próprias experiências humanos, a partir de divulgador de
e observa as das fatos passados e verdades prontas
pessoas que lhe são presentes.
próximas
Semelhanças: Suas investigações tratam dos mesmos temas, como origem do
universo, existência ou não de Deus e de uma alma imortal, sentido
da vida, felicidade, infelicidade, conflito entre emoções e
racionalidade, origem das sociedades, competição e concorrência,
violência, contratos, estética, morte, condições de verificabilidade
de suas teorias, bem, mal, costumes, leis, etc.

2a aula introdutória:
Fizemos um exercício para observar se eles compreenderam a aula anterior:

(A) Identifique nas sentenças abaixo quais são relacionadas à filosofia, às Ciências e à Religião:

( ) Dr. Zerbini, foi quem primeiro realizou um transplante de coração em humanos, no Brasil, após
uma série de tentativas usando bezerros.
A resposta é “Ciência”, embora apareça um homem solitário, ele na verdade, é um médico (as
pistas são “Dr.” e “transplante”) e médicos trabalham em grupo com enfermeiros, auxiliares de
enfermagem, anestesistas e residentes.
( ) René Descartes defendia que devemos ser céticos em um primeiro momento até que se prove a
verdade de alguma afirmação.
Um homem, solitário e, só por isso, já é “filosofia”. Também, ele expõe sua maneira de pensar
sobre fatos a sua volta, a necessidade de cautela, a partir de experiências que ele viveu ou algumas de
outras pessoas que ele observou (não há um número de observações, por isso, não é “ciência”!), antes de
julgar se algo que ele pensou ou que os outros disseram, é verdadeiro ou falso. Não se duvida, aqui, do
caráter dos outros, apenas se sua percepção e seus sentidos lhe deram toda a informação necessária de
que ele precisa para emitir sua opinião.
( ) Em Israel, encontraram um código secreto na Bíblia, a partir de versículos, onde palavras são
localizadas em linhas verticais, horizontais ou em diagonais, como, por exemplo, “Bin”, “Laden”,
“atacará”, “torres”, “Gêmeas”, “2001”, antes mesmo que os eventos ocorram.

É curioso, porque aqui os alunos disseram se tratar de religião; ocorre que embora se leia a
palavra Bíblia, não se trata da leitura direta do livro, mas através do uso da matemática e embora se
possa duvidar de seu caráter como ciência experimental, ainda assim, quem dela se utiliza, realiza, pelo
menos, experiências mentais tomando, algumas vezes, conteúdos vindos do mundo material. Uma linha
reta, perfeita, é uma idealização mental, mas pode se referir a um projeto de uma nova estrada em
construção, por exemplo. Trata-se, então, de uma ciência.
( ) Os Maias faziam sacrifícios com crianças e escravos que eram oferecidos ao Deus-sol para que
este nunca se apagasse.
Aqui, aparecem as palavras “sacrifício” e “Deus”, por isso, se trata de “religião”. Aproveitamos o
exemplo para perguntar aos alunos se algo assim poderia acontecer hoje: o professor poderia ir ao jardim
de infância da escola e pedir à professor que lhe desse uma criança para oferece-la em sacrifício a um
Deus? Embora a idéia seja grotesca, sua proposição visa a fazer o aluno pensar: o que mudou entre as
maneiras de pensar, dos Maias até nós? Não eram eles também considerados humanos? De que modo
evoluímos, se evoluímos? Houve alguma mudança dentro do cérebro?
( ) Platão acreditava que existiam dois mundos, este, físico, e um outro eterno. De onde mais
tiraríamos a idéia de um círculo perfeito, por exemplo, se nada no mundo material, uma maçã, a lua, é
uma esfera perfeita?
Aqui, se trata de “Filosofia”, pois há um indivíduo, manifestando uma teoria a partir de sua própria
reflexão, ainda que tendo observado o mundo, não testou todos os objetos para saber se são, por
exemplo, esferas perfeitas. Uma vez um aluno, no ano anterior, perguntou se o olho humano não poderia
ser um exemplo de esfera perfeita. Pedi que ele enviasse um e-mail a um oftalmologista, porque era a
pessoa que mais próxima estava de olhos, mas o aluno nunca me respondeu esta questão. Em geral, no
tempo de escola não nos sobra tempo, tal é a quantidade de aulas e informações recebidas, bem como, a
importância exagerada a provas escritas.

Filosofia
Primeira aula:
Apresentei-lhes sete teorias filosóficas com definições de filosofia. Primeiro as copiaram e, depois,
as expliquei uma por uma:
TALES: filosofia é o estudo da natureza de que as coisas são feitas, para ele, são feitas de água.
Ele, também, previu colheitas de oliveiras, de acordo com a previsão do tempo e alugou prensas para as
pessoas, ganhando muito dinheiro.
Pitágoras: Inventou a palavra filosofia (amiga da sabedoria) e filósofo (amigo da sabedoria), isto é,
aquele que busca o conhecimento das coisas. Foi, também, matemático: é dele o teorema que leva seu
nome.
Sócrates: a filosofia nos faz examinar a vida em todos os seus aspectos e isso nos torna sábio e
ético e a posse da sabedoria é a melhor vida.
Platão: a filosofia é a atividade superior do ser humano que o distancia da vida material e o
aproxima do mundo divino.
Aristóteles: a Filosofia é a ciência da verdade que trata da ética, lógica, da natureza e da
matemática.
David Hume: a filosofia ensina a ver os diversos aspectos que podem ser, por nós, observados e
que freqüentemente nos escapam.
Will Durant: Filosofia é o estudo da experiência como um todo, já as ciências, estudam partes do
todo.
Marilena Chauí: a filosofia reflete sobre as religiões, as ciências, a arte, a história e a política para
buscar origens, significados, forma e conteúdo.

Após tê-las escrito no quadro, perguntei se havia uma única definição de filosofia, se nos
perguntassem o que ela é? Evidente que não. Mas, há, sim, uma constante presente em todas elas: ela é o
estudo de todas as coisas, especialmente aqueles assuntos que requerem o uso da mente. Na Grécia
antiga, construção de casas ou a medicina não eram atividade incluídas na filosofia, pois se tratavam de
atividades manuais, embora, Aristóteles tenha investigado o funcionamento do corpo humano (para ele,
o coração era a sede do fogo vital, mantido aceso pela respiração, por exemplo).
De todas as definições (o total é de 28, listadas na minha obra “Filosofia para adolescentes” e deve
haver muito mais, no meu livro “Curso de Filosofia aTemática”, mas estas oito são suficientes e, penso,
abrangem todas as outras), a que mais se aproxima da minha visão de filosofia é a de Will Durant: ela é
uma atividade que se interessa pelo todo e não tanto pelas partes, partes que são mais interessantes às
ciências. Uma alternativa é apresentar um jogo de cartas que tem a imagem de filósofos com pontos
atribuídos à sua antiguidade, à sua sabedoria e pedir que os alunos joguem entre si de maneira que de um
modo agradável aprendam algo sobre os filósofos. Eis o jogo:
Segunda aula:
Vamos aprofundar a diferença entre o todo e as partes. Propus um exercício que consistia em a
partir de diversos objetos ou situações (totalidades), pedi que os alunos identificassem suas partes.
Por exemplo:
(1) sol
(2) Terra
(3) Amazônia
(4) Relógio
(5) Cerveja (aqui aproveitei para dar uma alfinetada: sendo o álcool uma de suas partes,
lembrei-lhes que esta substância era a mesma que usamos para limpar vidros e fazer carros andarem. Por
que bebê-la, então?)
(6) Átomos
(7) Sentimento de raiva
(8) Sentimento de amor

Nestes dois últimos itens, dos sentimentos, surgiram, para a maioria dos alunos, listas de partes.
Mas, perguntei-lhes se eles não eram sentimentos indivisíveis, tal como as cores básicas, azul, amarelo e
vermelho?

Terceira aula:
Eu estava preocupado que eles não entendessem a diferença entre filosofia e ciências e, então,
propus que trouxessem uma coleção de objetos qualquer, para que eu reforçasse na mente deles a idéia
de que a coleção é o todo, ainda que não tenhamos todos os objetos que existem no mundo, podemos
afirmar ou negar algo sobre eles. Por isso, a filosofia não estuda tudo, mas algum conjunto, um todo e
sobre ele faz suas reflexões e elabora suas teorias. Já, as ciências, tratam das partes, que pode ser um
elemento isolado ou a partir de um elemento, decompô-lo para estudar suas partes. Eu levei minha
coleção de latas de energéticos. Sobre o todo, filosofei que poderíamos pensar por que os seres precisam
de substâncias que lhe dêem energia em nossa sociedade industrial ou pós, mas, também, em sociedades
indígenas, quando elas consomem, por exemplo, guaraná! Já sobre as partes, pedi que as citassem, como
a lata de alumínio, a tampa, o rótulo, as cores da embalagem, as substâncias do líquido, da bebida e pedi,
também, que tentassem identificar qual ciência se especializa em cada uma dessas partes.
Uma aluna apresentou uma excelente objeção: um clínico geral trata ou conhece o corpo inteiro e
disse-lhe que a linha que delimita o estudo do todo para os filósofos e as partes para as ciências,
realmente, não era tão exata assim. Poderia ter dito que o clínico geral nada mais possui que um
conhecimento superficial dos sistemas do corpo humano, excreção, circulação, sistema nervoso, etc, mas
mesmo um médico especialista tem que ter noção do todo, também!
As figuras seguintes mostram exemplos de objetos vistos como um todo e, depois, em partes:

Quarta aula:
Temi que eu estivesse falando demais em todo-partes, mas insisti mais um pouco e trouxe duas
imagens, uma da parte baixa de Nova Iorque e outra da margem do rio Guaíba, em Porto Alegre, minha
cidade natal. E pedi que, agora, eles formulassem perguntas e sem que soubessem colocava no lado
esquerdo do quadro aquelas que se refiram ao todo da imagem e do outro lado, as que se referiam a
partes da imagem, distinção nem sempre clara. Por exemplo: se pensarmos no conjunto de todas as
nuvens da imagem isto é um todo, um conjunto; se pensarmos em apenas uma nuvem, podemos dizer
que ela é uma parte do conjunto das nuvens e da imagem, mas, neste caso, podemos pensar que sozinha,
ela é um todo. A filosofia não é exata, mesmo porque o mundo não é exato!

Aconteceu algo curioso: quando pedi a uma aluna que não participava das aulas e conversava
muito no grupinho em torno dela, que formulasse uma pergunta sobre uma das imagens, ela disse o
seguinte: “em que ano foi inaugurado o rio Guaíba?”. Ter dito isto e tendo sido motivo de risos dos
colegas (algo que não censurei), parece-me, fez com que ela prestasse mais atenção. Aquela frase dita
por ela foi, por mim, lembrada em outras aulas, sem que eu citasse o nome dela, óbvio. Cheguei a dizer
que muitas vezes duvidei da importância da escola, mas depois daquela frase, eu estava convencido de
que a educação é indispensável!!!

Em uma outra turma, decidi não tratar das imagens, mas debater temas livres. Em um certo
momento, uma aluna perguntou se eu não estava querendo impor minha verdade aos alunos. Eu tinha
lembrado de um vídeo que um aluno me mostrou onde aparecia um traficante de drogas cortando as
mãos de um ladrão e me perguntei: onde estava deus naquela hora? Falamos, então, sobre o livre-arbítrio
(aquele momento em que estamos diante de duas ou mais alternativas, ao mesmo tempo, e, então,
escolhemos uma delas). Minha dúvida (já levantada por Aristóteles em sua obra sobre os sentidos e os
dados sensoriais, “sense e sensibilia”) consistia em saber se é possível perceber duas coisas ao mesmo
tempo ou perceberíamos uma mistura confusa – imagine perceber as letras “A” e a “B” ao mesmo
tempo, ou seja, a letra “A” em cima da “B”! Perguntei à aluna se existindo muitas verdades, poderíamos
fazer o que quiséssemos, por exemplo, alguém poderia dar receitas médicas se acreditasse que poderia
curar os outros; quem poderia se opor a isso, todos têm a sua verdade. Disse-lhe que eu não queria
convence-los, porque eu, também, buscava a verdade e estávamos todos juntos nesta busca.
E o mais positivo neste diálogo é que ela, depois, substituiu a palavra verdade por opinião! E, aí,
lembrei-os da definição de Platão: verdade é opinião justificada. Alguém pode indicar a direção e
sentido de uma cidade e acertar sua localização sem nunca ter ido lá e nem saber onde realmente fica,
mas se ele justifica, dá explicações – mostrar a cidade em um mapa ou perguntar a alguém que já foi lá
-, bem, então, estamos diante de algo verdadeiro.
Depois, tratamos do tempo, as teses de Einstein de que ele é real, os testes que mostram diferenças
entre relógios que ficam um na Terra e outro que vai ao espaço e, no retorno, medem "tempos" (algo
questionável, pois pode-se pensar que seus movimentos e peças sofreram interferência a gravidade)
diferentes, mesmo tendo sido sincronizados (palavra que significa "em um mesmo tempo"). Sobre o
tempo, ouvi que os alunos sentem-no se arrastar em aulas, embora não tenham sido tão sinceros, senti
que incluíam, também, as minhas aulas. Falar apenas sobre os assuntos que interessam aos adolescentes?
Vivemos um adolescentrismo; quando era aluno cada aula tinha, para mim, um gosto, ma esperança de
que eu fosse ser apresentado para uma nova descoberta; hoje, eles não veem mais assim ou, talvez,
sejam como na minha época, pois poucos sempre teem esperança, a maioria prefere a mesmice na qual
foi acostumada, nas coisas banais, sexo, como se soubessem fazê-lo com arte, música, como se
entendessem-nas.
Gostaria que as aulas fossem sempre assim, neste formato: filosofar livremente, isto é, sem que o
professor escolha os temas e, sim, os alunos. Mas, ainda, não encontrei um meio, uma metodologia, de
tornar isto viável, sem cair na mera opinião. Bastaria pedir-lhes que justificassem, apenas com suas
experiências. Poderíamos recorrer à internet para buscar outros pontos de vista ou entrevistar pessoas na
rua? Ainda não sei a resposta! Poderíamos ter um quadro vazio que mostrasse uma diversidade de temas
que a filosofia trata e, aos poucos, poderíamos pedir-lhes que preencham o quadro?

Quinta aula:
Imaginei que meus alunos estavam cansados da história do todo e das partes, tinha visto um deles
com uma cara – assustadora - de tédio. Por isso, agendei o uso da sala de vídeo da escola para passar um
filme sobre Sócrates. O problema residia em quanto tempo um adolescente agüentaria ver um filme da
década de 70 do século XX?

Sexta aula:
Duas questões intrigantes:
(1o) quando eu lhes disse que veríamos apenas os últimos trinta minutos (de duas horas), que trata
do julgamento de Sócrates, eles disseram que queriam vê-lo todo. Os adolescentes parecem gostar do
oposto que um adulto gosta, talvez só para contrariar, pelo gosto de ser oposto aos outros.
Ocorre que sei que vídeos de filosofia entendiam adolescentes e já vi alunos adultos cansados!
Prossegui com o objetivo: ver 30 minutos do filme. É suficiente para entender que tipo de vida levavam
os gregos na Antiguidade, onde viviam, como era a cidade, como se vestiam, como se comportavam,
como era a vida na Democracia grega de Atenas, mas, também, como as leis eram duras quando puniam
alguém com a pena de morte, ainda que para defender a cidade da ira dos deuses, pois diziam que
Sócrates não acreditava neles ou, ainda, criava seus próprios deuses. A adolescência é uma idade que a
natureza poderia pular, alguém já disse. O que os motiva são coisas estranhas: alguns alunos queriam
ver, como pena, o corte da cabeça de Sócrates!
(2o) surgiu um problema: eles disseram que não conseguiam acompanhar a imagem e a leitura das
legendas (subtítulos). Para mim, este era um problema inimaginável, mas ocorreu. Perguntei-me por que
e, também, aos alunos: suas respostas restringiram-se a dizer que estavam acostumados a ver filmes
dublados. Sugeri-lhes que não tinham o hábito de ler e que, por isso, não estavam a costumados a ler
rapidamente os subtítulos e ver as imagens do filme e, ainda, que era preciso que vissem mais filmes
legendados para superar esta dificuldade. Lembrei em uma turma que eu quando adolescente não tinha
este problema, mas ele apareceu, agora, aos trinta e cinco anos, mas no meu caso, estou envelhecendo e
no caso dos alunos, disse, para eles, deve-se a não exercitar o cérebro novíssimo que eles possuem –
preguiça, no final das contas!
Sétima Aula:
Pedi que me entregassem um resumo do que entenderam do filme. Poderiam ter pesquisado na
internet, mas muitos não fizeram. É triste, mas eles estão habituados a ficar até as 2h da madrugada na
internet para se comunicar com amigos, mas não para estudar. Considerei este resumo parte das outras
avaliações e dei zero para quem copiou o resumo que eu expus no quadro sobre a história de Sócrates: a
perseguição daqueles que discordavam de seus questionamentos, as acusações de corromper (tornar
maus) os jovens de Atenas e de criar falsos deuses ou não crer na existência de deuses.
Houve só uma informação que eu não lhes esclareci, pois eu mesmo não sabia: é que na hora da
votação os gregos depositavam pedras em urnas. Li, na internet, muito depois, que a eles eram dadas
pedras de cor branca e preta, significando, respectivamente, “sim” e “não”, mas o que surpreende é que,
no filme, cada eleitor, deposita ambas as pedras em duas urnas, o que produz confusão: havia uma urna
da condenação e outra da absolvição?
Uma idéia que só me surgiu mais tarde, para motivar os alunos com algo bem mais interessante
seria a de pedir que imaginassem um diálogo entre Sócrates e alguma personalidade famosa. Sobre o
que falariam? Futebol? Universo? Origem da Vida? Amor? Eu escrevi alguns anos atrás um livro que
não foi publicado, “Diálogos hipotéticos”, em que imaginei Sócrates dialogando com alguns persnages
históricos, um deles era Hitler. Era mais ou menos assim:

Críton: - Sócrates, temos visita, é um estrangeiro e quer te conhecer.


Sócrates – Quem é ele? E de onde veio?
Críton – É um governante de uma terra distante, da Germânia. Recentemente ele provocou o caos
na Europa.
Sócrates – Ora, não o faça esperar, traga-o aqui.
(o estrangeiro entra na casa de Sócrates)
Sócrates – Dize-me ó estrangeiro, que acordo tens com um dos deuses mais antigos, o caos, para
venerá-lo mais que aos outros deuses?
Hitler – sabes melhor que eu, nobre Sócrates, que tudo vem do caos, inclusive os grandes impérios.
Sócrates – Vejo em ti uma ambição do tamanho do panteon, ó estrangeiro. Porque esta sede de
poder, que ultrapassa as forças de um indivíduo.
Hitler – ultrapassa, porque se espalha por toda a nação.
Sócrates – mas, ainda assim, cada homem e cada mulher só poderão suportar o peso do seu próprio
corpo e talvez, no máximo, um pouco a mais, embora isto a longo prazo lhe cause danos à saúde.
Hitler – Debates sobre um assunto que tu apenas conhece em teoria.
Sócrates – Sim, mas já estive ao lado daqueles que se intitulavam imortais até que testemunhei a
mortalidade deles. Mas, dize-me me contaram que tua teoria, pois tu também é teórico como eu, se
assemelha a de Darwin, que pensava que o mais forte tinha o direito natural sobre o mais fraco (na
verdade esta é uma interpretação errônea das ideias de Darwin, que disse que o ambiente selecione os
mais adaptados ao ambiente).
Hitler – Exatamente, eu lidero um povo forte que não aceita a existência de fracos.
Sócrates. Então dize-me, vocês correm o mundo para exterminar as pulgas ou os vermes que
parasitam os nossos intestinos?
Hitler – Como? Por que eu faria isso?
Sócrates – é que o daimon (deus interior, há quem diga que é Eros, o deus do amor) que habita em
mim me disse que o que tu propões é inútil e impossível, perder tua vida em caçadas deste tipo. Se eles
são inferiores a ti, porque dás tanta importância a estas formas minúsculas de vida. Se são inferiores a ti
por que te preocuparias, basta que as tires de tua roupa ou do teu ventre quando invadirem o teu corpo.
Hitler – não são estes seres que eu persigo.
Sócrates – persegues homens e mulheres?
Hitler – do tipo mais inferior.
Sócrates – estás andando em círculos, estrangeiro, pois se são inferiores não deverias te preocupar
com eles, um bom vermífugo daria conta do recado ou, então, fazes como eu, quando as pulgas invadem
minhas roupas, chamo a Xantipa para me ajudar a devolvê-las para o solo. O teu problema, estrangeiro,
é que persegues homens e mulheres não porque eles sejam inferiores a ti, mas porque eles são diferentes
de ti! Dize-me: tu que também é artista, segundo o que me informaram: tu pretendes acabar com a cor
vermelha ou com o azul?
Hitler- Como?
Sócrates- é que se tudo o que é diferente, te causa indignação e revolta, e o vermelho é diferente do
azul, qual deles tu protegerás e qual extinguirás?
Hitler – Há, Sócrates, vejo que não entendeste nada do que ti disse (o estrangeiro sai apressado).

Em uma outra aula que penso ser interessante: organizar um teatro para encenar ou um resumo do
filme de Sócrates, ou um resumo destes diálogos que os alunos inventariam eles mesmos. O figurino não
é difícil, os gregos se vestiam com lençóis enrolados no corpo!

Oitava aula:
Interrompi o estudo em Sócrates para falar sobre os Pré-Socráticos e poder realizar um dos
trabalhos finais do 1o trimestre.
Apresentei a eles os principais pensadores pré-Socráticos:
- Tales e sua crença de que tudo é feito de água (ela é o elemento fundamental de tudo),
- Pitágoras e os números (levei em duas turmas uma trena para medir a relação entre a altura dos
alunos e a medida do comprimento das cinturas até o chão, pois li que encontraríamos a proporção
áurea, divina, de 1,62, que estaria presente em todos os seres e criaturas e que provaria uma perfeição do
cosmos e, por trás, uma inteligência criadora, embora, em minha opinião, os números existem em nossas
mentes, estas funcionam como lentes ou redes que têm em si proporções como a áurea),
- Anaximandro e o apeíron, substância primordial infinita e invisível,
- Anaxímenes e o ar como elemento básico de tudo, o que inclui a alma, para ele, um ar sutil (e
para os gregos, feita de átomos esféricos, o que permitiria entrar e sair agilmente de corpos, animando-
os),
- Empédocles e os quatro elementos (ar, água, terra e fogo),
- Parmênides e a sua crença de que tudo é ilusão, o que inclui todos os movimentos que
observamos internos e externos a nós (falei para eles da charge que mostrava um engarrafamento e tinha
uma legenda abaixo: “Parmênides tinha razão, tudo é imóvel” e expliquei a tese dele dizendo que ele
tomou o verbo ser e pensou: “se o ser é, é sempre e não pode não ser, ter sido ou mudar-se”, ou seja, um
caso de obsessão por um idioma!)
-

- Heráclito (tudo está em constante mudança, “não entramos duas vezes no mesmo rio, pois já
não é o mesmo rio e nós, também, não somos mais os mesmos”).
Depois, pedi-lhes que defendessem as ideias desses pensadores, que escrevessem uma frase em
defesa de cada um. Isto é positivo, pois embora tais teorias pareçam ultrapassadas, forçam nossos alunos
a pensar e a pensar em argumentos para uma difícil defesa. Parecem ultrapassadas, porque a ciência toda
a vez que abre uma partícula menor, encontra partículas componentes ainda menores e, em nossa
opinião, não haverá fim e esta sucessão de “matrioskas” (bonecas russas, ocas, que contém outras
bonecas dentro), pode indicar-nos que o que existe é uma única substância, como pensava Anaximandro,
da qual os átomos, elétrons, quarks, neutrinos, são apenas cumes, montanhas que vemos no horizonte e
que escondem de nossa visão os vales que as interligam!
É curiosa a origem deste exercício: eu visitei um site de filosofia e vi uma charge que mostrava um
desenho de um engarrafamento de automóveis e abaixo da figura estava escrito algo com: “Parmênides
tinha razão”, isto é, tudo é ou está imóvel. Dada a complexidade do trabalho pedi que os alunos se
reunissem em grupos de até quatro pessoas. E a nota corresponderia a metade da nota final, substituindo
a prova, que deixaríamos de realizar, que só os deixa nervosos. Uma aluna disse que aquela tarefa lhe
dava um nó na cabeça e eu disse que era isso mesmo que eu queria com aquele exercício. Ensinar a
argumentar mesmo diante de uma teoria fraca e superada? Fazer o cérebro trabalhar? Estimular a ver sob
novas perspectivas? Tudo isso junto, espero que funcione!

Nas turmas do 1o ano do “magistério”, um tipo de ensino médio que forma professores para dar
aulas a crianças, eu pedi que os alunos respondessem à pergunta “quem sou eu”, pergunta que seria
repetida outras vezes ao longo do ano para que no final do ano letivo comparássemos as respostas:
“somos ou não os mesmos?”

Nona aula:
Na aula seguinte, concluí o trabalho iniciado na aula anterior, mas, agora, pedi-lhes que
pensassem, também, em grupo, em argumentos contrários àquelas teorias dos filósofos pré-socráticos.
Entre os argumentos surgidos, chamou minha atenção a capacidade de alguns alunos de diferenciar,por
exemplo, que algo pode ser feito utilizando-se água, sem que ela esteja em sua composição, uma roupa
pode ser tingida com corante e água, mas quando vou comprar a roupa, espero que ela não contenha
água, ainda que contenha alguma umidade no tecido. Quando debatiam Heráclito, notei que era difícil
para eles, defender a tese de que não pisamos duas vezes no mesmo rio. Para muitos deles, podemos, por
exemplo, entrar duas vezes no mesmo rio, pois a água é a mesma e não percebram que o rio deságua em
outro rio ou no mar. Poderiam ter sugerido que poder-se-ia entrar duas vezes no mesmo lago, embora a
água também evapora dele e as chuvas renovam sua água. Houve quem sugerisse pôr os pés em uma
bacia cheia de água tantas vezes quanto quiséssemos e, ainda assim, seria a mesma água. Ao professor
cabe mostrar com mais detalhe o que eles não conseguem ver sozinhos.

Décima, décima primeira e décima segunda aulas:


Levamos as turmas para o Museu de Ciências da Puc em nossa cidade, Porto Alegre. Nas duas
aulas seguintes, fizemos um debate sobre as experiências que mais chamaram suas atenções e
apresentei-lhes imagens que registramos da visita. Em uma terceira aula, pedi que os alunos que
organizassem uma experiência científica, como nota final do trimestre. O problema é que eles apenas
copiaram uma experiência que eles viram em um livro de química ou física e não era isso que eu queria:
queria que eles a partir de algo estranho, fizessem uma investigação. Com isso, eu lhes mostraria que a
filosofia começa com um estranhamento ou um maravilhamento, uma situação que nos prende a atenção
e pode chegar à ciência se a partir de uma explicação do por que aquilo ocorreu realizarmos repetidos
testes por meio de experiência, portanto. Quem realizou esta tarefa ganhou a nota correspondente à nota
da prova final do trimestre.
Contudo, sugiro uma forma mais filosófica para essa tarefa: não pedir-lhes uma experiência
científica, mas, sim, filosófica: (1o) pense em algo ou alguma coisa estranha; (2o) depois, procure com
outras pessoas as explicações, o porquê dessa coisa estranha ter ocorrido; e, por último e mais
importante, (3o) explique você mesmo esse fato ou coisa estranha que você experimentou. Um aluno
sugeriu pesquisar “se a cada pessoa que nasce, é preciso, pelo ordem natural, que uma pessoa tenha
morrido ou vá morrer?”. Outra aluna, lembrou-se de um sonho com espíritos e disse-lhe que poderia na
internet pesquisar em sites que dizem explicar sonhos, mas, acrescentei, que queria que ela desse suas
próprias respostas!
Eu me lembrei de uma vez em que acordei sonolento e vi no piso próximo dos degraus da escada o
que parecia ser vômito de cachorro; quando eu fechei os olhos e os abri de novo, a imagem era a de um
osso que o cachorro tinha deixado ali. Por que minha mente imaginou um vômito? Era uma alternativa
possível uma vez que não tinha ainda fixado minha atenção ao mundo real ou minha mente cria o mundo
real? Sei que tendemos a crer na primeira resposta, ok, mas ainda há coisas estranhas: como a mente
recortou a imagem de vômito (da memória) e a fundiu com a imagem do ambiente externo? Ela faz isso
sozinha ou há um diretor que decide, segundo um roteiro, qual cena será “filmada”?

Décima terceira aula:


É preciso que se diga que enquanto duas turmas visitavam o museu e nas duas aulas seguintes
realizavam trabalhos sobre aquela visita, outras três refletiam sobre os pré-socráticos que, nesta ordem
de aulas em que planejamos deveriam ser chamados de pós-socráticos... o que é, evidentemente, apenas
uma brincadeira!
Nesta aula, queremos fazer um fechamento com chave de ouro: queremos mostrar aos alunos o
quanto Sócrates e os pré-socráticos são ainda lembrados, apesar das teses desses últimos parecem
ultrapassadas e embora a própria ciência não tenha encontrado um elemento fundamental da matéria e,
creio, nem encontrará, se Aristóteles estiver certo quanto à possibilidade de o espaço ser infinitamente
divisível. Basta ver a imagem de átomos feita pela empresa IBM, em 1981, sobre uma superfície de
átomos de silício para observar que as partículas não estão separadas por um vazio, mas lado-a-lado
como uma cadeia de montanhas.

Quando defendemos que há partículas que fundamentam todas as coisas, podemos estar dizendo
apenas que há elevações (irregularidades) que se destacam neste único tecido chamado universo.

Ultimamente, muitas universidades acrescentaram a filosofia aos testes. Não gosto dos formatos
dos testes, pois não se relacionam ao cotidiano dos jovens e, por isso, eles memorizarão as teorias
apenas por causa do vestibular:

Vestibular 2008/2 - Universidade Federal de Uberlândia


QUESTÃO 41 : Sobre o pensamento de Heráclito de Éfeso, marque a alternativa INCORRETA.
A) Segundo Heráclito, a realidade do Ser é a imobilidade, uma vez que a luta entre os opostos
neutraliza qualquer possibilidade de movimento.
B) Heráclito concebe o mundo como um eterno devir, isto é, em estado de perene movimento.
Nesse sentido, a imobilidade apresenta-se como uma ilusão.
C) Para Heráclito, a guerra (pólemos) é o princípio regulador da harmonia do mundo.
D) Segundo Heráclito, o um é múltiplo e o múltiplo é um.
GABARITO
41A

QUESTÃO 43
Leia atentamente o texto abaixo.
Na filosofia de Parmênides preludia-se o tema da ontologia. A experiência não lhe apresentava
em nenhuma parte um ser tal como ele o pensava, mas, do fato que podia pensá-lo, ele concluía
que ele precisava existir: uma conclusão que repousa sobre o pressuposto de que nós temos um
órgão de conhecimento que vai à essência das coisas e é independente da experiência. Segundo
Parmênides, o elemento de nosso pensamento não está presente na intuição mas é trazido de
outra parte, de um mundo extra-sensível ao qual nós temos um acesso direto através do
pensamento.
NIETZSCHE, Friedrich. A filosofia na época trágica dos gregos. Trad. Carlos A. R. de Moura. In Os
pré-socráticos. São Paulo: Abril Cultural, 1978. p. 151. Coleção Os Pensadores
Marque a alternativa INCORRETA.
A) Para Parmênides, o Ser e a Verdade coincidem, porque é impossível a Verdade residir naquilo
que Não-é: somente o Ser pode ser pensado e dito.
B) Pode-se afirmar com segurança que Parmênides rejeita a experiência como fonte da verdade,
pois, para ele, o Ser não pode ser percebido pelos sentidos.
C) Parmênides é nitidamente um pensador empirista, pois afirma que a verdade só pode ser
acessada por meio dos sentidos.
D) O pensamento, para Parmênides, é o meio adequado para se chegar à essência das coisas,
ao Ser, porque os dados dos sentidos não são suficientes para apreender a essência.
GABARITO
43C

Vestibular 2008 - Universidade Estadual de Maringá – UEM


Questão 01
Os filósofos pré-socráticos tentaram explicar a diversidade e a transitoriedade das coisas do
universo, reduzindo tudo a um ou mais princípios elementares, os quais seriam a verdadeira
natureza ou ser de todas as coisas. Assinale o que for correto.
01) Tales de Mileto, o primeiro filósofo segundo Aristóteles, teria afirmado "tudo é água",
indicando, assim, um princípio material elementar, fundamento de toda a realidade.
02) Heráclito de Éfeso interessou-se pelo dinamismo do universo. Afirmou que nada permanece o
mesmo, tudo muda; que a mudança é a passagem de um contrário ao outro e que a luta e a
harmonia dos contrários são o que gera e mantém todas as coisas.
04) Parmênides de Eléia afirmou que o ser não muda. Deduziu a imobilidade e a unidade do ser do
princípio de que "o ser é" e "o não-ser não é", elaborando uma primeira formulação dos princípios
lógicos da identidade e da não-contradição.
08) As teorias dos filósofos pré-socráticos foram pouco significativas para o desenvolvimento da
filosofia e da ciência, uma vez que os pré-socráticos sofreram influência do pensamento mítico, e
de suas obras apenas restaram fragmentos e comentários de autores posteriores.
16) Para Demócrito de Abdera, todo o cosmo se constitui de átomos, isto é, partículas indivisíveis e
invisíveis que, movendo-se e agregando-se no vácuo, formam todas as coisas; geração e
corrupção consistiriam, respectivamente, na agregação e na desagregação dos átomos.
GABARITO:
01)01-02-04-16

Décima terceira aula:


Correção dos testes, pois na aula anterior o professor apenas os copiou no quadro, o que consumiu
a aula inteira. Uma alternativa, é entregar uma cópia dos testes para cada aluno, mas como somos um
professor que, em geral, não escreve muito (diferente de outros da mesma escola), é aceitável ou
suportável tornar aquela aula um dia em homenagem aos escribas do passado!
Para conseguir alguma atenção prometi 2 pontos de um total de 30 (do trimestre) para aqueles que
copiassem os exercícios.

Décima quarta aula:


Disse Sócrates que a filosofia examina a vida, que não melhor vida que a examinada e que este
exame nos ajudaria a conhecer a nós mesmos e controlar nossas paixões excessivas. Falei a eles,
também, que Sócrates dizia que “se os deuses nada precisam e quisermos ser parecidos com os deuses,
então devemos precisar de pouco” e que Platão procurou ensinar aos discípulos que a razão deve
controlar as emoções (paixões, esquecei de dizer: instintos, se é que eles existem, pois se são inatos,
quem os colocou dentro de nós?) e esboçou uma divisão alma humana em três partes: intelectiva (razão,
na cabeça, ideias revolucionária, pois, para seu discípulo, Aristóteles, o cérebro servia para resfriar op
sangue quente proveniente do coração), a parte irascível (da raiva, mas da coragem, também) e a parte
concupiscível (dos prazeres ou desejos carnais, fome, sede, sexo, segurança, calor).
Assim, pediremos que cada aluno faça o seguinte trabalho: abrir mão de algo que fazem em
excesso ou que sabem que é ruim para eles, por uma semana. Em geral, eles tentam parar ou diminuir
com o uso da internet ou do MSN (site de comunicação), televisão ou videogame, música até tarde da
noite ou chocolate e doces.
Não sei se tal tarefa ajudará muito, pois se trata de uma atividade à distância, mas, ainda assim,
peço que eles a levem a sério e, neste ano de 2009, peço, também, que eles tragam com o relatório de
cada dia, a assinatura de uma testemunha, do pai, da mãe ou outro parente. Quando trazem assinaturas
de seus próprios colegas eu desconto a nota.
Apresentei-lhes minha própria experiência: eu me sentia escravo dos refrigerantes, então decidi há
um pouco mais de uma ano atrás diminuir, pois não conseguia parar e de uma garrafa por dia de 1,5
litros passei a consumir 2 latas de 350 ml cada. Houve um momento em que nem mesmo eu abria mão
desta quantidade diariamente e, uma noite, em consumi três latas, uma após outra (não de refrigerante,
mas de energético) e me dei conta de que fazia aquilo não mais por prazer, mas por uma obrigação,
talvez para substituir outras necessidades não realizadas (há um pouco de sublimação, freudiana aqui!).
depois, me lembrei de uma outra causa que pode ter influenciado mais do que eu imaginava: a
necessidade de guardar dinheiro, pois, eu me mudaria para um apartamento onde moraria só e pagaria
todas as despesas; pelos cálculos, o custo do refrigerante é mais alto do que imaginamos, uma fortuna
por água e açúcar! Se tivesse minerais,vitaminas como algumas marcas que só são vendidas nos Estados
Unidos e não no Brasil!

Lembrei a eles que levei um ano até deixar de beber 1,5l por dia e passar a beber 700ml/ dia, o que
mostrou-me que mudanças radicais requerem repetidas tentativas, o que é pior em outros vícios como o
cigarro. Uma aluna concordou que a melhor técnica é largar aos poucos um vício! E quando é um vício?
Quando você faz aquilo não mais por prazer, mas por obrigação!
Outro ponto interessante quando debati em aula, em meio à conversa e barulho comum, foi quando
após eu dizer que por trás de um vício há uma tentativa de preencher ou extinguir um vazio, uma aluna
lembrou que nós mantemos vícios porque temos ansiedade. Daí, lembrei de ter lido a diferença para os
psicanalistas entre a ansiedade e angústia: uma se refere ao medo diante de uma situação desagradável
imaginada e outra é o medo de algo que nem você sabe o que é. Alem do medo diante de algo real,
óbvio. Outra aluna falou que há ansiedade diante de uma expectativa de algo bom que acontecerá.
Questionei-os se houve um momento em que eles tiveram que decidir entre manter a abstinência
ou interromper a experiência, a idéia de um livre-arbítrio. Muitos responderam que sim, mas como
saber? Eu parei de beber refrigerante porque ouvi de médicos que os refrigerantes não faziam bem à
saúde ou, pelo menos, não acrescentavam nada. Fui eu que decidi, então? Lembrei um documentário:
“super size me”, que mostrava alguém que comeu por um mês hambúrgeres, milk shakes, batatas fritas
no McDonalds e os problemas de saúde que surgiram, como sobrecarga do trabalho do fígado!
Uma outra questão a debater: nós tendemos a querer mais, uns passam a consumir não mais meia
carteira de cigarros por dia, mas uma inteira, outros, compram não mais um litro de refrigerante, mas um
e meio, dois e, hoje, já é vendido uma garrafa de 3,3 litros, porque há quem queira esta quantidade!
Há um filme muito interessante que eu mencionei aos alunos sobre um jovem que abriu mão de ter
relações sexuais após um fracasso amoroso, o que o fez aprender muito sobre si mesmo e se preparar
para encontrar alguém que realmente o amasse. No jornal local, apareceu uma reportagem cujo título era
algo como: estou há dois anos sem beber refrigerante, testemunho de uma bailarina, Ana Botafogo, ou a
jornalista não tinha mais nenhum assunto, ou aquela experiência tinha sido para a entrevistada um
grande feito!
Um dos relatos que guardei foi o de uma aluna da turma do magistério: “para mim foi algo
incrível, pois, em 7 dias comi apenas 1 barrinha de chocolate. Normalmente eu como uns 3 pacotes de
trakinas e chocolate... isto foi extraordinário, até minha mãe não acreditou”.

Nota sobre Sigmund Freud e a Psicanálise:

Poderíamos ter falado sobre a teoria de Sigmund Freud (id, ego e superego) neste exercício, pois
parece haver um conflito entre nossos desejos, quando, por exemplo, gostaríamos de comer muito, mas
sem engordar, fazer coisas proibidas sem culpa, etc. Nossa mente é dividida em três partes? O id,
nossos instintos naturais, nossa real natureza? O ego, o “eu”, um homenzinho dentro da nossa cabeça? E
o superego, a parte que guarda, memoriza, os valores que a sociedade nos impõe?
Em vez de aceitar esta tese como verdade sem reflexão, propor outro questionamento: René
Descartes, no século XVI, não via conflito dentro de nossa “alma” ou, podemos dizer, nosso cérebro,
embora ele reconheceu que muitas vezes a alma é arrastada com violência pelos desejos do corpo.
Podemos sugerir duas imagens: a de lutadores de boxe e outra, de uma corrida de cavalos, onde o
desejo mais veloz predomina: haveria conflito em qual imagem? Em ambas ou em uma só? Qual?

Décima quinta aula:


Como muitos alunos não fizeram o trabalho da semana anterior que vale um terço da nota do
segundo trimestre, resolvi lhes dar uma semana a mais, desde que todos falassem um pouco sobre a
experiência.
Décima sexta e décima sétima aulas:
Surgiu-me recentemente a ideia de pedir, após os relatos das experiências de “abstinência”, que os
alunos façam um cartaz para divulgar suas descobertas. Um exemplo, é o cartaz que eu fiz, para tentar
diminuir o status que as bebidas alcoólicas têm entre os jovens de quinze anos.
Esta tarefa, mais tranquila, como deveriam ser todas as aulas: primeiro, os alunos desenharam seus
cartazes, uma aluna fez de um tamanho que ocupava um espaço que pertencia a outros cartazes, o que
demonstra uma dificuldade de respeitar o espaço dos outros, mas, de qualquer modo, a escola é o
momento para refletir sobre estas e outras coisas. Na segunda aula, houve a apresentação e colagem dos
cartazes em uma folha de papel pardo de uns dois metros de comprimento por uns 60 de altura, que
todos realizaram, embora apenas dois ou três alunos ajudaram a colá-lo no hall da escola, atividade que
gostaríamos que todos fizessem para que sentissem que suas ideias seriam expostas a um grande
público.

Décima oitava aula:


Nesta aula, apresentamos as regras para a realização de um importante e agradável trabalho:
filosofar com músicas que eles gostam. Primeiro, mostrei-lhes que Platão e Aristóteles, pensadores de
temas como política, ética, estética, amor, alma, também se interessaram pelo peso da música na
educação: ela, disseram eles, afeta o comportamento, forma (ou deforma) o caráter. Para mostrar sua
influência ouvimos toques de celulares e, embora sejam produzidos por um mesmo instrumento (penso
que seja um teclado eletrônico) , por serem diferentes notas combinadas produzem e despertam em nós
sentimentos diversos: tranqüilidade, tédio, raiva, etc. ora, se toques de celular fazem isso que dirá
música complexas cantadas com letras e histórias?
Depois, mostrei-lhes uma música: em uma turma, uma música romântica, de Ivete Sangalo com
Roberto Carlos, que dizia “se eu não te amasse tanto assim não viria flores por onde eu vim”. Mostrei-
lhes que a partir da letra deveriam fazer perguntas, as mais difíceis possíveis, pois, assim, se
aproximariam das questões filosóficas. Um exemplo: quando amamos alguém nossa percepção muda?
Vemos o que não víamos? Um aluno acrescentou: “E deixamos de ver o que víamos facilmente”.
Em outra música, de Lupicínio Rodrigues, falava que a felicidade “foi embora e a saudade no meu
peito ainda mora e é por isso que eu gosto lá de fora, pois, eu sei que lá a falsidade não vigora”...
Perguntei-lhes: “se a felicidade surge dentro de nós, como é que ela nos escapa? Ela depende de alguém
externo, provavelmente, não?”. Depois, “no interior as pessoas são mais verdadeiras? Se sim, por quê?”.
Surgiram algumas respostas: no interior, as pessoas, em menor número que na cidade, se conhecem e se
respeitam... Em outra turma, o cd estava arranhado e não pude variar a música e, então, repeti a música
“Felicidade”.

Décima oitava aula:


Neste dia, realizamos uma prova de recuperação, que é positiva para os alunos relembrarem o que
estudaram, mas, em minha opinião, inútil para aqueles alunos que não vieram às aulas ou mesmo tendo
vindo, não entenderam nada. De qualquer modo, eis algumas perguntas que fizemos:
Turma 211
(1) cite um argumento a favor e outro contra a tese de Pitágoras (de que são feitas as coisas)
(2) um engarrafamento é um exemplo a favor da tese de qual pensador? (resposta: pelo fato dos
carros estarem imóveis, lembrava Parmênides e a tese de que o movimento é ilusão. Muitos
alunos não conseguiram fazer esta relação, disseram que o engarrafamento era ilusão!)
(3) Para que serviu o exercício “abra mão de algo excessivo ou ruim por uma semana?” (os alunos
responderam: para conhecer o quanto os vícios nos controlam ou, então, para mostrar que
podemos controlar nossos atos)

Outras perguntas que fiz a outras turmas, para que as provas não fossem idênticas e possibilitassem
que uma turma soubesse de antemão as respostas:
(1) o que a “reflexão sobre algo estranho” que fizemos tem a ver com filosofia? (queríamos
relembrar que a filosofia pode se iniciar a partir da observação de fatos inexplicáveis para,
então, buscarmos uma explicação)
(2) as ideias dos filósofos pressocráticos foram superadas? (eu tinha lhes dito que até hoje a
ciência não encontrou, embora procure, um elemento que fundamente todas as coisas, mas eles
se limitaram a responder que sim, eles tinham sido superados, exceto Heráclito e seu “tudo
muda”)
(3) Quem foram os pensadores iluministas? (eu tinha falado sobre Rousseau, mas eles lembraram
de Robespierre, que foi influenciado pelos iluministas).

Décima nona à vigésima terceira aulas:


Nossa intenção é fazer uso de quatro a cinco aulas para filosofar a partir de letras de músicas
trazidas pelos próprios alunos, segundo suas preferências.
Há, pelo menos, dois importantes objetivos neste exercício:
(1o) estimular a autonomia do aluno, na medida em que eles decidirão que letras e músicas trazer;
(2o) estimular a reflexão, apresentando a filosofia como uma atitude prática, cotidiana;
(3o) estimular a tolerância, pois terão que respeitar os diferentes estilos de músicas que os seus
colegas trarão para a sala –de-aula.

E aqui reconhecemos que a escola influencia e condiciona comportamentos, tal como observaram
os pedagogos ligados à sociologia: que a escola é o espaço onde valores estabelecidos por uma classe
(ou, em minha opinião) por um grupo formador de opinião pública, aceito, sem reflexão, pela maioria da
sociedade. Mas, neste caso, por que não defenderíamos a tolerância?

A manifestação de uma aluna, em especial, chamou minha atenção: ela disse que era óbvio demais
entender o que uma música significa, concordei, mas dei o exemplo de uma música - “meu coração, não
sei porque bate feliz quando te vê”: é o coração, a fonte dos sentimentos ou o cérebro? Ele é a causa das
emoções ou as emoções alteram seus batimentos? E o amor, o que é? Não basta responder que é um
sentimento, pois isto não explica. Outra aluna disse que uma pergunta apenas levaria à outra, mas sem
uma resposta. Respondi-lhe otimista que nos levaria a uma resposta mais esclarecedora.
Outra aluna procurou me convencer de que somos livres. Disse-lhe que temos a sensação de que
somos livres, talvez porque ser livre pode significar não estar preso, fisicamente limitado. Disse,
também, que quando supomos que somos livres, isto é, que temos em nós a causa de nossos atos ou nós
mesmos somos a causa de nossos atos, isto pode ser uma ilusão, pois, as escolhas que fazemos tem a ver
com experiências passadas onde outros decidiram por nós, como, quando escolhemos uma comida por
ser ela a preferida por nós, mas o que ocorre é que, no passado, não fomos nós quem a escolheu e ela é a
preferida, pois, a experimentamos em um momento agradável, que não foi, por nós, escolhido. Além
disso, este momento presente não seria propriamente uma escolha. Ou podemos chamar de “escolha”
quando há apenas uma única alternativa? Talvez, sim, mas não será nunca uma escolha livre.
Em uma das músicas que ouvimos havia uma letra que tratava de um amor entre pessoas com
características diferentes, que não estavam prontas para a relação, uma delas dizia que tinha acontecido
em um “tempo (momento) errado” e pedia a outra que partisse em busca de outra pessoa para amar.
Perguntei, então, por que isto não é fácil, terminar um relacionamento e procurar outra pessoa? Surgiram
muitas hipóteses: (a) preguiça, (b) afeição e, eu acrescentei, (c) hábito, como nos ensinou David Hume
e, para isso, fiz a seguinte experiência, que os psicólogos conhecem tão bem: repetimos “Buenos Aires,
Buenos Aires, Buenos Aires” e, sem deixar espaço para a pessoa pensar, perguntamos: “Qual é a capital
do Brasil?”; a resposta que a pessoa dará é “Buenos Aires”, embora a capital seja “Brasília”.

Ao repetir uma palavra ou uma experiência vivida (especialmente intensas, emocionalmente)


somos empurrados a segui-las, sem questionar. Lembrei aos alunos quando um parente me perguntou
por que ficamos tão “presos” emocionalmente a um ex-namorado. E, recordando Hume, disse-lhe que
isto era causado pelo hábito, por ter sucessivos momentos com aquela pessoa, tornou-se um hábito crer
que as experiências seguintes com o sexo oposto se daria com aquela pessoa que, aliás, muitas vezes a
decepcionou. A propósito, a EXPERIÊNCIA DE ABRIR MÃO DE ALGO EXCESSIVO/ RUIM (Décima quarta aula) tem
como principal propósito romper hábitos ruins.

NOTA:
Em duas turmas de magistério (que prepara professores para lecionar primeiras séries, incluindo a
alfabetização), pedimos que elaborassem em grupo um diálogo no formato literário tal como Platão
elaborou em seu livros. Pedi que fossem filósofos, procurando respostas profundas e não as respostas
superficiais, dadas pela maioria das pessoas, como: “o amor é um sentimento inexplicável”. Isto os
aproximaria da prática filosófica e os prepararia para sua profissão, quando dialogariam com seus alunos
do ensino fundamental (primeira à quarta séries), método socrático, mas, 24 séculos depois, também, de
Matthew Lipman, filósofo que se “especializou” (como se fosse possível ser especialista em filosofia)
em crianças.
Entre as conclusões que os grupos chegaram citamos:
- o amor entre homem e mulher envolve paixão e desejo diferente do amor materno, por
exemplo;
- alguns defenderam que o amor que envolve sexo é infinito, outros que é o mais curto,sendo
infinito o amor filial e maternal;
- o amor envolve uma invasão, quando somos tomados pela sensação;
- o amor nos completa.
Acredito que aprenderam mais do que simplesmente dizer que o amor é um sentimento.
Por fim, lembrei das explicações de Platão, que constam na obra (um diálogo, aliás):

ANDRÓGINO, Gravura medieval (Wikipedia)

1) o mito do ser andrógino (de autoria do escritor Aristófanes): no início do mundo havia três tipos
de seres humanos: homens, mulheres e andróginos. Estes últimos, por terem se rebelado contra os
deuses, foram cortados ao meio e, até hoje, as partes cortadas continuam procurando-se para que
uma complete a outra. Lembrei, também, que as primeiras formas de vida, bactérias, se
reproduziam copiando-se solitariamente e, só depois, surgiram os sexos, explicação semelhante a
de Aristófanes;
2) a ciência crê que o amor seja uma ilusão, que o que decide mesmo nossa busca por alguém são
os hormônios.

Por isso, nas duas aulas seguintes, resolvi:


2.1) apresentar um texto sobre a ciência e a química do amor, hormônios, causas de nosso desejo
de amar. O objetivo é debater se os hormônios são realmente as causas ou efeitos do amor;
2.2) depois, iremos ao laboratório de informática para: (a) visitar um site
(http://flashface.ctapt.de/) onde se pode construir um rosto ideal a partir de elementos, como
sobrancelhas, formato de nariz, olhos, etc, refletindo sobre nossas escolhas amorosas;
Neste exercício as descobertas não ficaram tão claras. Pedi que desenhassem um rosto belo, mas
muitos alunos desenharam a imagem de antigos namorados. Eu tive, assim, que lhes perguntar: por que
cada um desenhou a figura com aquelas características? De que experiências eles tinham aprendido a
gostar daqueles formatos de sombrancelhas, lábios, olhos, cabelos, etc? muitos lembraram que a mãe
tinha aquele formato de olhos, por exemplo, ou alguém que conheceu no passado.
(b) pesquisas na área da escola objetos comuns, mas que lhe parecem de algum modo, belos.
Tentar explicar por que o achou belo?
(c) conhecer o mito da caverna através de uma história em quadrinhos que preparará as próximas
aulas sobre o que é o belo, os dois mundos de Platão, o ideal de justiça, a vida em sociedade, a divisão
tripartite da alma (propor 10 objetivos, ver egoísmo ou altruísmo, que parte da alma predomina – ver
Décima terceira aula; esta última tarefa já foi realizada pelos alunos do Ensino Médio, mas não pelos do
Magistério).
NOTA: Ao ler o mito da caverna ou a história em quadrinhos que foi inspirada nele, podemos
perguntar aos alunos o que aquilo tem a ver com o amor, o ideal de beleza, a vida em sociedade e
governos.

Vigésima quarta aula:


Para aqueles que não trouxeram música, realizaremos uma prova onde o professor apresentará uma
música (uma cantiga popular) ou um hino nacional ou estadual e lhes pedirá que formulem:
• 5 perguntas difíceis
• abaixo de cada pergunta sejam apresentadas 4 alternativas (respostas) possíveis,
buscando, assim, fazer os alunos refletires sobre diferentes perspectivas de um mesmo problema!
Acreditei que esta tarefa seria fácil para eles realizarem, apresentei-lhes músicas conhecidas,
cantigas infantis, jingles de uma conhecida rede de fast-food até um trecho do hino nacional. Gigantesco
engano.
Eis as músicas utilizadas nas provas:
1) “O cravo brigou com a rosa, debaixo de uma sacada, o cravo saiu ferido e a rosa, despedaçada”.
2) “Atirei o pau no gato-to, mas o gato-to, não morreu-rreu-rreu, dona chica-ca, admirou-se-se do
berro-do berro que o gato deu, miau!”
3) “dois hambúrgeres, alface, queijo, molho especial, cebola e picles, num pão de gergelim...”
4) “deitado eternamente em berço esplêndido, ao som do mar e a luz do céu profundo, fulguras, ó
Brasil, florão da América, iluminado ao sol do novo mundo!”
Alunos não entenderam o que era essencial: filosofar não é formular perguntas fáceis de responder.
Uma aluna perguntou qual o segundo ingrediente da música (jingle) dos “dois hambúrgeres”!

Aos alunos que tinham filosofado com uma música que eles mesmos trouxeram, dei-lhes outra
tarefa: organizar suas preferências segundo uma hierarquia, do 1o ao 4o lugar, sobre atores/ atrizes
preferidos, comida/bebidas, lojas, canais de tv, músicas, etc. para que na aula seguinte refletíssemos
sobre estas escolhas, procurássemos os motivos daquelas preferências.

Vigésima quinta aula:


Como soube que teríamos filosofia no segundo e no terceiros anos, decidi não apresentar Platão e
Aristóteles aos alunos e, assim, expliquei um dos últimos trabalhos do ano, que elaborassem um diálogo
a semelhante do método socrático, sobre um dos seguintes temas filosóficos: o que é o tempo? Deus
existe? Há um sentido para a vida? O que é o amor? Por que fazemos política? Com isso, esperamos que
eles desenvolvam o hábito de pensar em diferentes perspectivas sobre um tema.
Uma das dicas para a realização desta tarefa é fazer uso de provas, de justificativas, daquilo que
chamamos de razão. Uma aluna falou que a religião também prova a existência de Deus. Lembrei-os de
Freud e um amigo que lhe escreveu dizendo que “sentia que fazia parte do infinito”. A ele, Freud
respondeu: esta sensação tem origem nos primeiros dias de vida, em que não distinguimos nós e o resto
do mundo, tudo parece sem foco e sem limite, sem fim, in-finito, portanto. Procuramos, também,
mostrar que um tema tem argumentos que se opõem: sobre o amor, há quem diga que é uma ilusão, pois,
a natureza aproxima os sexos para garantir a procriação da espécie; outros, dizem que o cupido une duas
pessoas predestinadas uma para a outra, a viverem por toda a eternidade [FIM]

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