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• Hoje, todos partilham um sentimento de medo – por si, pelos próximos, pelos
amigos ou pelos filhos – diante da ameaça de exclusão (desemprego)
• Por outro lado, nem todos partilham hoje do ponto de vista segundo o qual as
vítimas do desemprego, da pobreza e da exclusão social seriam também
vítimas de uma injustiça
• Adota-se uma postura de resignação sobre o fenômeno: a crise do emprego é
considerada uma fatalidade, comparável a uma epidemia (não podemos
exercer nenhuma influência sobre)
• A adesão ao discurso economicista (fatalidade) seria uma manifestação do
processo de banalização do mal
• A exclusão infligida à sociedade, sem mobilização política contra a injustiça,
deriva de uma dissociação estabelecida entre adversidade e injustiça, sob o
efeito da banalização do mal no exercício de atos pelos que não fazem parte da
exclusão e que contribuem para excluir uma porção ainda maior da população
• A adesão à causa economicista funciona como uma defesa contra a
consciência dolorosa da própria cumplicidade, da própria colaboração e da
própria responsabilidade no agravamento da adversidade social
• Desde 1980, não somente o desemprego mudou, mas toda a sociedade se
transformou qualitativamente, a ponto de não ter as mesmas reações de antes
• Houve uma evolução que se caracterizou pela atenuação das reações de
indignação, de cólera e de mobilização coletiva para a ação em prol da
solidariedade e da justiça, ao mesmo tempo em que se desenvolveriam reações
de reserva, de hesitação e de perplexidade, inclusive de indiferença, bem como
de tolerância coletiva à inação e de resignação à injustiça e sofrimento alheio
• O problema passa a ser então o do desenvolvimento da tolerância à injustiça.
É justamente a falta de reações coletivas de mobilização que possibilita o
aumento progressivo do desemprego e de seus estragos psicológicos e sociais
O medo da incompetência
• Mesmo quando o trabalhador sabe o que deve fazer, não pode fazê-lo porque
o impedem as pressões sociais do trabalho
o Colegas criam-lhe obstáculos, o ambiente social é péssimo, cada um
trabalha por si, enquanto todos sonegam informações, prejudicando a
cooperação
• Ser constrangido a executar mal o seu trabalho, a atamancá-lo ou a agir de
má-fé é uma fonte importante de sofrimento no trabalho, seja qual for o setor
Sofrimento e defesa
Da Submissão à mentira
A racionalização
As explicações convencionais
O recurso à virilidade
• Não perder a virilidade não é a mesma coisa que ter a satisfação e o orgulho de
possuir, conquistar ou aumentar sua virilidade. Ter que participar de atos
condenáveis pode acarretar sofrimento moral. Muitas pessoas que adotam esses
comportamentos viris elaboram coletivamente “ideologias defensivas”, graças às
quais se constrói a racionalização do mal. Estratégias coletivas de defesa não são
somente negação (“É o trabalho, isso é tudo” – absolutamente nenhum problema
ético), mas também a provocação (ostentam o cinismo, apelidam-nos de “caubóis”
ou “matadores”). A virilidade é assim submetida a repetidas provas que
contribuem para o zelo dos colaboradores. Tais práticas funcionam como rituais
de conjuração. Avizinhamo-nos assim da transformação da “estratégia coletiva de
defesa do cinismo viril” em “ideologia defensiva do realismo econômico”.
A ideologia defensiva do realismo econômico
• Cinismo passa por força de caráter, por determinação e por um elevado senso de
responsabilidades coletivas, de serviço prestado à empresa ou ao serviço público,
até de senso cívico e de interesse nacional – interesses supra-individuais. Para
complementar a ideologia defensiva, vai-se configurando aos poucos a referência
à seleção. Contanto que seja para proceder a uma seleção positiva, rigorosa e até
científica, o “trabalho sujo” torna-se limpo e legítimo, um tipo de arrumação,
faxina. Além disso, há a cultura do desprezo para com os que são excluídos da
empresa, dispensam-se braços frágeis.
O comportamento das vítimas a serviço da racionalização
A alienação
• Nos trabalhos coletivos cada um adota ora a posição de vitima, ora a posição
daquele que impõe a violência
• Aqueles que não conseguem fazer ambos os papéis não são considerados
homens viris e tornam-se fonte de reavaliação do medo alheio
O caso Eichmann
Desbanalizar o mal