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Resbook de Psicologia II (Dejours)

CADINA, Rafael. Sócio-fundador & bicampeão do Supply Chain Game


TORRES, Samuel. Sócio-fundador & bicampeão do Supply Chain Game
SHIGUIHARA, Daniel. Sócio-prime & bicampeão do Supply Chain Game
PARK, Jin A. Freelancer
ANDERSEN, Pedro. Freelancer
Capítulo 1 – Como tolerar o intolerável?

• Hoje, todos partilham um sentimento de medo – por si, pelos próximos, pelos
amigos ou pelos filhos – diante da ameaça de exclusão (desemprego)
• Por outro lado, nem todos partilham hoje do ponto de vista segundo o qual as
vítimas do desemprego, da pobreza e da exclusão social seriam também
vítimas de uma injustiça
• Adota-se uma postura de resignação sobre o fenômeno: a crise do emprego é
considerada uma fatalidade, comparável a uma epidemia (não podemos
exercer nenhuma influência sobre)
• A adesão ao discurso economicista (fatalidade) seria uma manifestação do
processo de banalização do mal
• A exclusão infligida à sociedade, sem mobilização política contra a injustiça,
deriva de uma dissociação estabelecida entre adversidade e injustiça, sob o
efeito da banalização do mal no exercício de atos pelos que não fazem parte da
exclusão e que contribuem para excluir uma porção ainda maior da população
• A adesão à causa economicista funciona como uma defesa contra a
consciência dolorosa da própria cumplicidade, da própria colaboração e da
própria responsabilidade no agravamento da adversidade social
• Desde 1980, não somente o desemprego mudou, mas toda a sociedade se
transformou qualitativamente, a ponto de não ter as mesmas reações de antes
• Houve uma evolução que se caracterizou pela atenuação das reações de
indignação, de cólera e de mobilização coletiva para a ação em prol da
solidariedade e da justiça, ao mesmo tempo em que se desenvolveriam reações
de reserva, de hesitação e de perplexidade, inclusive de indiferença, bem como
de tolerância coletiva à inação e de resignação à injustiça e sofrimento alheio
• O problema passa a ser então o do desenvolvimento da tolerância à injustiça.
É justamente a falta de reações coletivas de mobilização que possibilita o
aumento progressivo do desemprego e de seus estragos psicológicos e sociais

Capítulo 2 – O trabalho entre sofrimento e prazer

• Além do sofrimento dos que foram excluídos (desempregados), há o


sofrimento dos que continuam a trabalhar
• Querem nos fazer acreditar que o sofrimento no trabalho foi bastante
atenuado ou mesmo completamente eliminado pela mecanização e a
robotização, no entanto por trás da vitrina, há o sofrimento dos que
trabalham, assumindo diversas tarefas arriscadas para a saúde
• Ao lado dos riscos físicos que o trabalhador sofre (radiações, vírus, fungos,
etc.) existe o sofrimento dos que temem não satisfazer, não estar à altura das
imposições da organização do trabalho:
o Imposições de horário, de ritmo, de formação, informação,
experiência, aprendizagem, nível de instrução e diploma, entre outras

O medo da incompetência

• No trabalho, o real se dá a conhecer ao sujeito essencialmente pela defasagem


entre a organização prescrita do trabalho e a organização real do trabalho
• Em situações de trabalho tecnicamente complexas que implicam riscos para a
segurança das pessoas ou instalações, muitas vezes os trabalhadores não têm
como saber se suas falhas se devem à sua incompetência ou a anomalias
do sistema técnico
• Essa fonte de perplexidade é causa da angústia e sofrimento, que tomam a
forma de medo de ser incompetente, de não estar à altura ou de se mostrar
incapaz de enfrentar convenientemente situações incomuns ou incertas, que
exigem responsabilidade

A pressão para trabalhar mal

• Mesmo quando o trabalhador sabe o que deve fazer, não pode fazê-lo porque
o impedem as pressões sociais do trabalho
o Colegas criam-lhe obstáculos, o ambiente social é péssimo, cada um
trabalha por si, enquanto todos sonegam informações, prejudicando a
cooperação
• Ser constrangido a executar mal o seu trabalho, a atamancá-lo ou a agir de
má-fé é uma fonte importante de sofrimento no trabalho, seja qual for o setor

Sem esperança de reconhecimento

• Quando a contribuição do trabalhador não é reconhecida, quando passa


despercebida em meio à indiferença geral ou é negada pelos outros, isso
acarreta um sofrimento que é muito perigoso a saúde mental, devido à
desestabilização do referencial em que se apóia a identidade
• Quando a qualidade do meu trabalho é reconhecida, também meus esforços,
angústias, dúvidas, decepções e desânimos adquirem sentido  alívio, prazer
• Não podendo gozar os benefícios do reconhecimento de seu trabalho nem
alcançar assim o sentido de sua relação para com o trabalho, o sujeito se vê
reconduzido ao seu sofrimento e somente a ele, capaz de desestabilizar a
identidade e a personalidade e de levar à doença mental

Sofrimento e defesa

• Se o sofrimento não se faz acompanhar de descompensação psicopatológica


(ou seja, de uma ruptura do equilíbrio psíquico que se manifesta pela eclosão
de uma doença mental), é porque contra ele o sujeito emprega defesas que lhe
permitem controlá-lo  Criação de estratégias coletivas de defesa
• Os trabalhadores, apesar das pressões reais, permanecem na normalidade,
que é interpretada como o resultado de uma composição entre o sofrimento e
a luta contra o sofrimento no trabalho  normalidade não implica ausência
de sofrimento
• Estratégias defensivas  armadilha que insensibiliza contra o que faz sofrer
• Permite tornar tolerável o sofrimento ético, que é o que o indivíduo pode
experimentar ao cometer, por causa do trabalho, atos que condena moralmente
Capítulo 3 – O Sofrimento Negado

A principal fonte de injustiça e de sofrimento da sociedade francesa é o


desemprego, o grande palco do sofrimento é o trabalho. Portanto, as organizações
sindicais estão na linha de frente.

A negação pelas organizações políticas e sindicais

• A fragilidade sindical e a dessindicalização, cujo avanço foi tão rápido quanto


o da tolerância à injustiça e à adversidade alheia, não são apenas causas da
tolerância, mas conseqüência
• Até 1968, a saúde mental do trabalhador não era levada em conta. Tidas como
antimaterialistas, essas preocupações tolheriam a mobilização coletiva e a
consciência de classe
• O efeito mais terrível dessa recalcitrância sindical contra a análise da
subjetividade e do sofrimento do trabalho foi que, ao mesmo tempo, tais
organizações contribuíram para a desqualificação do discurso dobre o
sofrimento e, logo, para a tolerância ao sofrimento subjetivo

Vergonha e inibição da ação coletiva

• Novas utopias: A empresa, ao mesmo tempo em que era o ponto de partida do


sofrimento e da injustiça, acenava com a promessa de felicidade, de identidade
e de realização para quem soubesse adaptar-se a ela e contribuir para seu
sucesso  desqualifica preocupações com o trabalho
• Debate sobre o problema da centralidade do trabalho e de sua negação:
trabalho se tornou um artigo raro; realização do ego; intensificação do
emprego; etc.
• A primeira fase do processo de construção da tolerância ao sofrimento,
representada pela recusa sindical de levar em consideração a subjetividade,
segue-se uma segunda fase: a da vergonha de tornar público o sofrimento
gerado pelos novos métodos de gestão do pessoal
• A impossibilidade de exprimir e elaborar o sofrimento no trabalho constitui
importante obstáculo ao reconhecimento do sofrimento dos que estão
desempregados

Surgimento do medo e submissão

• O “autocontrole” constituiu um acréscimo de trabalho e um sistema diabólico


de dominação auto-administrado
• Dicotomia/discrepância entre “descrição subjetiva”, uma descrição que é
reconstruída a partir do relato de operadores e chefes, e “descrição gerencial”,
que é dada pelos setores de métodos, pelo setor de qualidade e pelo setor da
gestão de RH
• Fragilidade ou a inexistência de movimento coletivo de luta parece que se
deve ao medo de demissão e precarização (intensificação do trabalho,
individualismo, neutralização da mobilidade coletiva e estratégia defensiva do
silêncio, da cegueira e da surdez)
• O medo produz uma separação subjetiva crescente entre os que trabalham e os
que não trabalham
• O medo é permanente e gera condutas de obediência e submissão

Da Submissão à mentira

• Gerentes também estão sujeitos ao medo, como tornar visíveis suas


dificuldades e que seus colegas usem informação contra eles  preocupação
de ocultar todas as falhas que não se consegue corrigir
• “Zelo no trabalho” são todas as infrações e artimanhas que os trabalhadores
introduzem no processo de trabalho para que ele funcione
• “Estratégia da distorção comunicacional” é a tese que defende que a
informação destinada aos empregados (gerentes ou operários) é falsificada,
mas que é graças a ela que perdura a mobilização subjetiva dos gerentes

Capítulo 4 – A Mentira Instituída

A estratégia da distorção comunicacional

• As opiniões de cada um se baseiam tanto na experiência direta do trabalho


quanto em informações obtidas indiretamente. Desse modo, para chegar a um
consenso da organização é necessário ponderar as diferentes opiniões dos
integrantes da organização
• Os “pontos de vista” não se fundamentam exclusivamente em argumentos
técnicos e científicos. Trabalhar envolve além de uma atividade produtiva a
convivência entre os integrantes da organização. Assim, a organização do
trabalho antes de preocupar-se com a eficácia técnica, deve levar em conta o
mundo social do trabalho
• Opinião  referências técnicas-científicas + elementos relativos do mundo
social e subjetivo
• Distorções da comunicação:
o Confrontos de opiniões
o Própria mensagem
o Mentira
o Negação real do trabalho  base da distorção comunicacional

Negação real do trabalho

• O ser humano tende a negar o real, o que implica na supervalorização da


concepção e do gerenciamento. Os fracassos no mundo do trabalho são
interpretados como resultado da incompetência, da falta de serenidade, do
desleixo, da falta de preparo, da má vontade, da incapacidade ou do erro
humanos
• “Fator Humano”  interpretação pejorativa das condutas humanas
• A demonstração das dificuldades pessoais do trabalhador é fundamental
para uma melhora de seu trabalho. O “fator humano” impede que o
trabalhador aja naturalmente, fazendo o que não está previsto, assim,
contribuindo para os métodos da organização
• Os próprios trabalhadores se tornam cúmplices da negação do real do
trabalho e do progresso da doutrina pejorativa do fator humano, graças ao
seu silêncio, à sonegação de informações e à desenfreada concorrência que
se vêem mutuamente constrangidos

A mentira propriamente dita

• A mentira consiste em produzir práticas discursivas que vão ocupar o


espaço deixado vago pelo silêncio dos trabalhadores sobre o real e pela
supressão do feedback
• Características da mentira:
o Descrever a produção a partir dos resultados, e não a partir das
atividades das quais eles são decorrentes
o Construir uma descrição que só leva em conta os resultados positivos
e, logo, mente por omitir tudo que representa falha ou fracasso

Da publicidade à comunicação interna

• O discurso oficial sobre o trabalho e sua organização é construído, para


criar uma imagem para o exterior da empresa (clientela, mercado, etc.) e
atender os objetivos internos (ex: satisfação funcionários)
• As empresas passaram a adotar uma fragmentação em “centros de
resultados” para buscar valorizar os atores da organização
• Cada uma dessas obras de valorização emprega mais ou menos os mesmos
artifícios que a mentira comercial. À falta de feedback, enquanto reina o
silêncio sobre o real do trabalho, reconstroem-se aqui e ali descrições do
trabalho e da organização do trabalho que deturpam a realidade e que são
falazes e mentirosas

O apagamento dos vestígios

• A mentira só pode resistir às críticas quando se eliminam as principais


provas em que esta última poderia basear sua argumentação. Para o
apagamento dos vestígios, em regra é necessário afastar os “antigos” que
possuem uma experiência de trabalho, das áreas críticas da organização,
privá-los de responsabilidade e até demiti-los. Substituir trabalhadores
experientes por estagiários é uma solução, a terceirização também

A mídia da comunicação interna

• Para sustentar as práticas discursivas falaciosas de cada um, utilizam-se


meios de comunicação específicos, como documentos concisos, simples e
diretos, buscam o entendimento rápido do leitor; buscam não despertar
curiosidade ou questionamento. Documentos com essa estrutura podem
depreciar a imagem da empresa, por “duvidar” da inteligência dos leitores
• As práticas discursivas acabam sendo uniformizadas por baixo,
padronizadas, sempre apelando para os slogans, os estereótipos, as
fórmulas prontas, que desgastam o conteúdo semântico
• Ao invés da busca pela argumentação, as empresas se utilizam dos
recursos da imagem e da qualidade da diagramação para alcançar seus
objetivos

A racionalização

• Três razões para a existência de tais documentos:


o Fonte de informação dos resultados ou os resultados que a empresa
deseja mostrar em um dado período
o Funcionam como termômetro do que está em voga na companhia
(tende a nos informar a mentira)
o Ensinam como e o que se deve falar em reuniões com colegas
• Esses documentos de distorção comunicacional são facilmente aderidos pelos
gestores, pois são um recurso que eles utilizam para “racionalizar” a mentira
• O mal-estar psicológico dos gestores se dá pela atitude passiva ou reforço em
relação à mentira. Pode causar sofrimento nos outros. Eles fazem isso para se
manter no cargo ou conseguir promoções, mas aí surge o sofrimento por estar
perdendo a própria dignidade (sofrimento ético)
• Racionalização da mentira  defesa psicológica consiste em dar uma
aparência de justificação a atos sabidamente inverossímeis. Ir contra tal
informação é ir de encontro ao sentido da história, já contribuir para ela é
acelerar a passagem de uma fase histórica dolorosa a uma fase de alívio

Capítulo 5 – Aceitação do “trabalho sujo”

As explicações convencionais

• Explicação em termos da racionalidade estratégica: A participação do


consciente do sujeito em atos injustos é resultado de uma atitude calculista. Para
manter seu lugar, conservar suas vantagens e não comprometer seu futuro e até
sua carreira, ele precisa aceitar “colaborar”. A relação entre conduta e recompensa
é instável, mas apesar da incerteza, os gerentes geralmente colaboram como se
estivessem certos da concretização de suas previsões otimistas. “Se vencermos
essa etapa difícil, poderemos tornar a fazer contratações”, no entanto, logo em
seguida, aproveita-se o novo desempenho para transformá-lo em norma e
justificar novo enxugamento de pessoal.
• Explicação em termos da criminologia e da psicopatologia: Os “colaboradores” e
os “líderes” das ações injustas seriam essencialmente perversos e paranóicos, que
cumprem efetivamente importante papel na construção da doutrina e na ação.
Porém, a colaboração zelosa, não somente passiva, mas voluntária e ativa, é de
uma maioria de sujeitos que não são perversos nem paranóicos, ou seja, que não
apresentam maiores distúrbios do senso moral, e que possuem como a maioria da
população, um senso de moral eficiente. Porquanto a banalidade do mal diz
respeito à maioria dos que se tornam zelosos colaboradores de um sistema que
funciona mediante a organização regulada, acordada e deliberada da mentira e da
injustiça.
Explicação proposta: a valorização do mal

• O mal nas práticas ordinárias do trabalho: tolerância à mentira, sua não-denúncia,


participação da injustiça e do sofrimento infligidos a outrem. Injustiças
deliberadamente cometidas e publicamente manifestadas, designações
discriminatória, desprezo, grosseria, obscenidades, etc.
• Participação das pessoas de bem: Quando atos contrários ao direito e à moral
são cometidos com a colaboração de pessoas tidas como responsáveis pelo direito
comum, diz-se que são cúmplices, Quando o mal se institui como sistema e se
apresenta como norma dos atos civis, são “colaboradores”. Interesses econômicos
apenas não são suficientes para mobilizar as pessoas de bem. É a coragem das
pessoas de bem que vai apelar para mobilizá-las. Há uma subversão da razão ética
– coragem, covardia – por influência do juízo de reconhecimento formulado pelos
pares sobre a qualidade do trabalho; juízo que põe em jogo a identidade ou sua
desestabilização patogênica.

O recurso à virilidade

• Mede-se exatamente a virilidade pela violência que se é capaz de cometer contra


outrem, especialmente contra os que são dominados. Um homem viril não hesita
em infligir sofrimento ou dor a outrem, em nome do exercício, da demonstração
ou do restabelecimento do domínio e do poder sobre o outro, inclusive pela força.
Quem recusa ou não consegue cometer o mal é tachado de “viado”, “fresco”,
incapaz e sem coragem. Na verdade, a coragem, nesse caso, não é dar sua
contribuição e solidariedade ao “trabalho sujo”, e sim recusar-se a fazê-lo, em
nome do bem, correndo o risco de ser denunciado e punido. O líder do trabalho do
mal é antes de tudo perverso, pois usa o que em psicanálise tem o nome de
ameaça de castração como instrumento de banalização do mal, invertendo o
ideal de justiça. A questão que se coloca é como a racionalidade ética pode perder
seu posto de comando a ponto de ser não abolida, mas invertida.
• O sofrimento não se apresenta como conseqüência da violência, como seu
resultado último, como término do processo, sem nada depois. Ao contrário, o
sofrimento vem primeiro. Porquanto para além do sofrimento existem as defesas,
que podem ser terrivelmente perigosas, porque são capazes de gerar a violência
social. O mal está fundamentalmente associado ao masculino. O resultado social e
político da conotação sexual associada à capacidade de usar a força e a violência
contra outrem deixa aquele que se recusa a cometer tal violência numa situação
psicológica perigosa. A equação fuga por medo = falta de virilidade está em
nossa cultura, em que a maioria estabelece uma associação entre identidade sexual
masculina, poder de sedução e capacidade de se valer da força, da agressividade,
da violência ou da dominação.

Capítulo 6 – A racionalização do mal

A estratégia coletiva de defesa do “cinismo viril”

• Não perder a virilidade não é a mesma coisa que ter a satisfação e o orgulho de
possuir, conquistar ou aumentar sua virilidade. Ter que participar de atos
condenáveis pode acarretar sofrimento moral. Muitas pessoas que adotam esses
comportamentos viris elaboram coletivamente “ideologias defensivas”, graças às
quais se constrói a racionalização do mal. Estratégias coletivas de defesa não são
somente negação (“É o trabalho, isso é tudo” – absolutamente nenhum problema
ético), mas também a provocação (ostentam o cinismo, apelidam-nos de “caubóis”
ou “matadores”). A virilidade é assim submetida a repetidas provas que
contribuem para o zelo dos colaboradores. Tais práticas funcionam como rituais
de conjuração. Avizinhamo-nos assim da transformação da “estratégia coletiva de
defesa do cinismo viril” em “ideologia defensiva do realismo econômico”.
A ideologia defensiva do realismo econômico

• Cinismo passa por força de caráter, por determinação e por um elevado senso de
responsabilidades coletivas, de serviço prestado à empresa ou ao serviço público,
até de senso cívico e de interesse nacional – interesses supra-individuais. Para
complementar a ideologia defensiva, vai-se configurando aos poucos a referência
à seleção. Contanto que seja para proceder a uma seleção positiva, rigorosa e até
científica, o “trabalho sujo” torna-se limpo e legítimo, um tipo de arrumação,
faxina. Além disso, há a cultura do desprezo para com os que são excluídos da
empresa, dispensam-se braços frágeis.
O comportamento das vítimas a serviço da racionalização

• As demissões em massa levam essencialmente à precarização do emprego, mas


nem sempre à sua extinção. Devido à condição dos trabalhadores, é comum haver
no trabalho, muitos erros e fraudes, tanto por causa da incompetência e da falta de
qualificação que cumpre dissimular, quanto por causa da pressão e dos abusos
incontroláveis dos chefes e dirigentes. A apresentação externa, os modos de vida
desses homens socialmente discriminados alimentam o discurso elitista, racista e
desdenhoso dos líderes e colaboradores do “trabalho sujo”, por falta de
racionalização. A racionalização da mentira, obtida pela ideologia defensiva, é
indispensável à eficácia social da mentira acerca do “trabalho sujo” e do trabalho
do mal.

A ciência e a economia na racionalização

• O neoliberalismo se baseia no realismo da racionalidade instrumental e respeita


as leis que implicam, na administração e na gestão dos negócios da sociedade, a
derradeira referência à verdade científica. A salvação ou a sobrevivência está no
entusiasmo com que cada um presta a sua contribuição para a luta concorrencial.
A referência à guerra econômica convida a suspender toda deliberação moral.
• Não é a racionalidade econômica que é causa do trabalho do mal, mas a
participação progressiva da maioria no trabalho do mal que recruta o argumento
economicista como meio de racionalização e de justificação posterior da
submissão e da colaboração no trabalho sujo.
“Trabalho sujo”, banalidade do mal e apagamento de vestígios

• A sociedade civil não é informada diretamente a respeito da prática banalisada do


mal na empresa. O apagamento de vestígios (falta de transmissão da memória
coletiva por cauda da demissão de veteranos) impede que se movam ações na
justiça e que se instruam processos capazes de ter alguma repercussão na
imprensa.

Capítulo 7 – Ambigüidades das estratégias de defesa

A alienação

• As relações sociais de trabalho são relações de dominação. No entanto, o


trabalho pode permitir uma subversão da dominação por intermédio da
psicodinâmica do reconhecimento
o Reconhecimento da contribuição do sujeito a sociedade
• As pressões do trabalho podem gerar alienação e violência expressas por
meio de estratégias coletivas e individuais de defesa contra o sofrimento
o O trabalho repetitivo (individual) gera a questão do mal colocada pelos
novos métodos de administração e gerenciamento
o A forma banalizada de gestão nos leva a rever a interpretação da
experiência nazista do trabalho do mal que levou ao consentimento
involuntário e à resignação inerentes ao trabalho
o O regime nazista conseguiu banalizar a crueldade, violência e
destruição, resultando a sublimação (purificação). O trabalho do mal
(extermínio) só se concentra na execução
• Além das relações entre violência e sublimação, é preciso examinar a ligação
entre culpa, medo e virilidade
o A dimensão da obrigatoriedade é praticar o mal em proveito de uma
atividade
o A dimensão utilitarista é praticar o mal por prazer
 Elas são inseparáveis da justificativa da violência, já que não
podem neutralizar o medo. Quando muito livrar o sujeito do
sentimento de culpa.
o A virilidade sustenta a luta contra as manifestações do medo
prometendo prestígio a quem enfrenta a adversidade
o A coragem (conquista individual) viril (conduta cujo mérito depende
da validação alheia) necessita de demonstração
o Discurso viril é um discurso de domínio, apoiado no conhecimento, na
demonstração e no raciocínio

Virilidade versus trabalho

• O trabalho e as relações sociais (utilitarista) é que pervertem a coragem e esta


necessita da virilidade quando é mobilizada para responder a uma ordem ou
missão
• Quando existe uma pressão para superar o medo nas missões gerenciais, os
processos psíquicos individuais e coletivos apelam mais para a virilidade
defensiva do que para a coragem moral
• A origem do mal está nas estratégias coletivas de defesa mobilizadas para lutar
contra o medo
Reflexão sobre as estratégias coletivas de defesa

• As estratégias coletivas de defesa contribuem para a coesão do coletivo de


trabalho, pois trabalhar é não apenas ter uma atividade, mas também viver
• Participar da estratégia, provando a coragem viril para os outros é uma
maneira de se inserir ao grupo. Caso não o faça é considerado um “fresco” ou
alvo da vingança coletiva

Reversibilidade das posições de carrasco e de vitima

• Nos trabalhos coletivos cada um adota ora a posição de vitima, ora a posição
daquele que impõe a violência
• Aqueles que não conseguem fazer ambos os papéis não são considerados
homens viris e tornam-se fonte de reavaliação do medo alheio

Reflexão sobre o mal

• O nazismo mudou a forma de estudar o mal. Tenta-se compreender como o


nazismo surgiu em um país que havia chegado ao ponto mais avançado de
civilização
• O problema central do mal é o da mobilização da massa, tentando entender
como é possível mobilizar a massa para o trabalho da violência racionalizada.
o Este processo recebeu o nome de “banalização do mal”
• Colaborar na injustiça e no sofrimento aos outros é o mesmo que permitiu a
mobilização do povo alemão para o nazismo

Capitulo 8 – A banalização do mal

Banalidade e banalização do mal

• A questão de banalidade e banalização do mal remete à insignificante


personalidade de Eichmann
o Burocrata responsável pela solução final. Seu único objetivo era
ascender em sua carreira profissional
o Cumpria ordens sem racionalizar suas conseqüências.
• Banalidade da conduta e não da personalidade
• A partir da psicodinâmica do trabalho pode-se compreender como a
banalização do mal se tornou possível

O caso Eichmann

• A deficiência da capacidade de pensar de Eichmann está associada à outras


características que revelam elementos para interpretar a mobilização da massa
de personalidades diferentes
o Mentir para os outros, assim como para si mesmo, a fim de se gabar e
de aparentar grandeza
o Obediência ao rigor no exercício de suas funções e qualidade de seu
trabalho
o Tendência a acomodar-se com certos procedimentos que lhe agradam,
mais pela forma do que pelo conteúdo
o Decepção que é provocada por ordens contraditórias de seus superiores
que desorganiza sua visão do mundo sobre o sentido do trabalho
o Teimosia que é vista como um mero prolongamento de sua disciplina
o Dependência em relação às instruções e ao comando
o A falta de espírito crítico

Análise das condutas de Eichmann do ponto de vista psicológico

• Existem 2 mundos para explicar a conduta de Eichmann:


o Mundo proximal em que ele é sensível ao outro, mostrando afeição e
confiança. Diante disso ele se sente obrigado a honrar contratos morais
o Mundo distal em que prevalece a racionalidade instrumental.
Indiferença afetiva quase total diante de outros. Ausência de noção de
universalidade moral
• A principal característica construtiva de sua banalidade é a falta de
personalidade verdadeira. Eichmann é um normopata.
o Normopatia: personalidades que se caracterizam por sua extrema
normalidade, no sentido de conformismo com as normas do
comportamento social e profissional
• Três características da normopatia:
o Indiferença para com o mundo distal e colaboração do mal tanto por
omissão quanto por ação
o Suspensão da faculdade de pensar e substituição pelos recursos aos
estereótipos dominantes
o Abolição da faculdade de julgar e da vontade de agir coletivamente
contra a injustiça

Análise das condutas de Eichmann do ponto de vista da psicodinâmica do trabalho

• A psicodinâmica do trabalho nos ensina as estratégias defensivas contra o


sofrimento
• O comportamento normopático pode resultar de uma estratégia defensiva e
não da organização estrutural da personalidade
• Existem diferenças entre a personalidade normopática (Eichmann) e o
comportamento defensivo
o No primeiro caso, a personalidade pelo todo que funciona de modo
normopático, tanto de fatores provenientes do exterior como
intrapsíquicos
o No segundo caso, o comportamento normopático só funciona diante do
medo dos riscos de precarização provenientes do exterior
• A banalização do mal começa pela manipulação política da ameaça de
precarização e exclusão social
• Os impulsos psicológicos defensivo são secundários e são mobilizados por
sujeitos que procuram lutar contra seu próprio sofrimento
A estratégia defensiva individual dos “antolhos voluntários”

• A estratégia de “bancar avestruz” é a negação da realidade é dissimulada sob


a máscara da ignorância
• Comportamento associado a uma estratégia individual de defesa
• A escolha entre a estratégia individual e a coletiva se faz em função da
distância entre o sujeito e o teatro onde se exercem diretamente a violência, a
injustiça e o mal a outrem
• A estratégia dos antolhos voluntários é ideal quando as vitimas estão mais
afastadas e pode ser relegado ao mundo distal
o É utilizada por todos os que só conhecem a injustiça através da mídia
ou da palavra alheia

Limites das estratégias defensivas e crise psicopatológica

• A estratégia de defesa coletiva é frágil e precária e pode ser desestabilizada


por onda de reformas estruturais. A partir disso, só resta então a estratégia dos
antolhos voluntários em que alguns têm êxito e outros fracassam. E é nessas
circunstancias que se observam descompensações psicopatológicas que
assumem duas formas:
o Abatimento, desespero, depressão e até o suicídio
o Impulso reacional de revolta desesperada que pode chegar a atos de
violência e depredação
• Pode-se comparar com os nazistas no final da guerra em que a reforma
estrutural mudou a estratégia de defesa entre os nazistas

Banalização do mal: a articulação dos estágios do dispositivo

• Três estágios que quando corretamente articulados tem o poder eficaz de


neutralização da mobilização coletiva contra a injustiça e o mal:
o O primeiro estágio é constituído pelos lideres da doutrina neoliberal
e da organização concreta do trabalho do mal no teatro das operações
o O segundo estagio é constituído pelos colaboradores diretos que
atuam no próprio campo das operações ou em suas proximidades
o O terceiro estágio é constituído pela massa dos que recorrem a
estratégia de defesa individual contra o medo
• A unificação dessa estratégia resulta na aceitação em massa da injustiça
• Posto isto, considera-se o impacto que a banalização do mal exerce sobre
aqueles que não aderiram ao sistema:
o Os inocentes que ignoram a realidade à qual não tem nenhum acesso.
Porém sua conduta é a mesma daqueles que adotam intencionalmente
a estratégia defensiva da normopatia
o Os oponentes que resistem ao sistema.
• A psicodinâmica do trabalho analisa de maneira particular as respostas
humanas e sociais ao medo. A questão é se existem outras formas de lutar
contra o medo que tenham conseqüências menos temíveis para a organização
da sociedade
Capítulo 9 – Requalificar o sofrimento

A virilidade contra a coragem

• Coragem: vencer o medo


• Uso racional da violência para forjar coragem e vencer o medo causa:
o Familiarização com a violência
o Justificar a violência, considerando que ela está a serviço da virtude
o Aprender a ser capaz de cometer violência contra outros por:
 Motivos pedagógicos (justifica-se fazer alguém sofrer para
torná-lo resistente e corajoso)
 Motivos ligados à coerência interna dos processos psicológicos
(só é totalmente corajoso quem é capaz não apenas de
neutralizar o próprio medo, mas também de permanecer
impassível diante do medo alheio)
• Em geral, não se exige das mulheres esse aprendizado (a não ser daquelas
chamadas a ocupar cargos profissionais monopolizados por homens)
o O homem que não consegue neutralizar seu medo é relegado à classe
das mulheres, afetando sua virilidade
• A virilidade (ou coragem) é solicitada quando o medo está no cerne da relação
vivenciada com as pressões do trabalho
• Problema: banalização do mal
o Envolve a mentira no processo

Desbanalizar o mal

• Desconstrução da distorção comunicacional nas empresas e organizações


• Desconstrução da virilidade como uma mentira (virilidade faz o mal passar por
bem)
• Reflexão sobre o medo e sofrimento no trabalho

Capítulo 10 – Sofrimento, trabalho, ação

• Banalidade do mal: suspensão ou supressão da faculdade de pensar que


podem acompanhar o exercício do mal
o O mal pode ser produzido sem o uso da inteligência e da deliberação,
sem esforço
 Mesmo “pessoas de bem” acabam colaborando com o mal
• Processo de banalização do mal pelo trabalho não é novo
o A novidade está no fato de este passar por razoável e justificado; dado
como racional; aprovado pela maioria dos cidadãos
 Tornou-se um modelo a ser seguido
• Relações de trabalho são principalmente relações sociais de desigualdade em
que todos se confrontam com a dominação e a experiência da injustiça
• O elemento que faz o trabalho propender para o bem ou o mal é o medo
o Medo é um sofrimento psicológico
 Quando atinge certo grau, torna-se incompatível com a
continuação do trabalho
• Para poder continuar trabalhando, apesar do medo, é preciso formular
estratégias defensivas
o Ocasionam desvios de conduta
 Na luta contra o medo, podem se tornar um meio de atenuação
da consciência moral e de consentimento ao exercício do mal
• Medo  estratégias defensivas  perversão da coragem  condutas a
serviço do mal e da violência

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