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SEDUFSM

S I N D I C AT O
OUTUBRO DE 2009
ANDES
NACIONAL
Publicação Mensal

Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES

Motivos para comemorar:


Dia do Professor e
20 anos do sindicato
GLAUCIO MAIA

Olimpíadas de 2016
no Rio: bom ou ruim?
Ponto & Contraponto, págs.
04 e 05
Arquivo/SEDUFSM

Momento do “parabéns à SEDUFSM” uniu diretores e público presente


Felipe Müller defende
O jantar-baile do Dia do Professor em 2009 aconteceu no salão do Park Hotel Morotin, na sexta, 16 de
outubro. Além de homenagear os educadores, a direção da SEDUFSM também inovou, trazendo um
expansão e evita
motivo mais que justo para a festa: a homenagem a todos aqueles que, ao longo de duas décadas, fizeram polêmica das fundações
parte das diretorias do sindicato. A Seção Sindical dos Docentes da UFSM completa 20 anos no próximo
dia 7 de novembro. Acompanhe a cobertura da festa na página 10 e também o editorial à página 02. Em entrevista, o reitor eleito da
UFSM defende a expansão das uni-
versidades federais e evita a polê-
RENATO SEERIG
mica envolvendo as fundações de
apoio. Com a palavra, págs. 08 e 09
Santa Maria sedia
Ainda nesta edição:
debates dos GTs SEDUFSM homenageada
do ANDES-SN da Câmara de Vereadores
Ponto a ponto, pág. 02

O V Encontro de Grupos de Trabalho (GTs) do


ANDES-SN aconteceu em Santa Maria, de 23 a
70 anos depois: as feridas
25 de outubro (ver foto). Págs. 06 e 07 da Guerra Civil Espanhola
Extra-classe, pág. 11

AN DES-SN - N osso únic o e le gít im o re pre se nt a nt e


02 OUTUBRO 2009 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES

EDI TORI AL Clauber

Dia do Professor
No dia 15 de outubro foi comemorado o Dia do Professor.
A cada ano a data é lembrada, entretanto, sabe-se pouco
sobre sua origem. Recorrendo à buscas na internet, fica-se
sabendo que em 15 de outubro de 1827 (data consagrada à
educadora Santa Tereza D'Ávila), Dom Pedro I baixou um
decreto imperial que criou o Ensino Elementar no Brasil. O
decreto falava também sobre salário de professores,
descentralização do ensino e até a forma de contratação dos
educadores. Entretanto, mesmo sendo uma decisão imperial,
registra-se que não foi cumprida e, que, somente em 1947 foi
pela primeira vez comemorado 15 de outubro como o Dia do
Professor.
A oficialização da data para comemoração do Dia do
Professor só veio a ocorrer em 1963. Prescrevia a lei da época
que para “comemorar condignamente o Dia do Professor, os
estabelecimentos de ensino farão promover solenidades, em
que se enalteça a função do mestre na sociedade moderna,
fazendo participar os alunos e as famílias". Como se percebe,
a história sobre o professor no Brasil é longa. E, apesar das
sugestões de comemorações à profissão, os exemplos
negativos em relação aos educadores causam tristeza, pois
não são recentes. Em quase 200 anos desde o decreto de Dom
Pedro I, o que se vê no Brasil é a prioridade apenas no PON TO A PON TO
discurso.
Em meio aos descalabros no campo administrativo- Visita ao Cesnors CLAUDIONÉIA PETRY
político, continuamos a ver professores e alunos tendo aula
em contêineres; merendas apodrecidas em depósitos e, Diretores da Seção Sindical dos Docentes
docentes com salários aviltados. Não precisamos ir muito (SEDUFSM) foram a Palmeira das Missões e Frederico
longe. Mesmo em Santa Maria, recentemente, professores de Westphalen no dia 2 de outubro. O motivo foi fazer uma
uma escola estadual tiveram que ministrar aulas no pátio, no visita aos professores do Centro de Educação Superior
ginásio, na biblioteca, pois as salas foram interditadas devido do Norte do Rio Grande do Sul (CESNORS), que é parte
a problemas sérios de conservação. integrante da UFSM. Em Palmeira das Missões, pela
Por outro lado, no terceiro grau, a realidade é menos pior, manhã, a presidente da SEDUFSM, Fabiane Costas,
o que não quer dizer que seja boa. No ensino privado mantém- acompanhada dos diretores Hugo Blois Filho e Julio
se a “selvageria” de o docente ser contratado por hora e Quevedo dos Santos, apresentou aos docentes os temas
demissível a qualquer momento. Na esfera pública, cada vez que têm mobilizado o sindicato nos últimos anos, explicando ainda qual o papel de um sindicato,
mais parecida com a privada, ganha corpo o 'produtivismo', como funciona o encaminhamento das ações judiciais e a luta atual pela manutenção da carreira,
com a possibilidade de o professor ter a remuneração ameaçada pelas políticas governamentais. Na parte da tarde deste mesmo dia, os diretores foram às
ampliada a partir da sua capacidade de obter recursos para a instalações da CESNORS em Frederico Westphalen. Falando para 10 professores (foto),
instituição através de projetos com empresas. O vencimento integrantes do sindicato abordaram temas como o papel do ANDES- SN, as fundações de apoio, as
básico fica cada dia mais achatado diante da prioridade às mudanças na Dedicação Exclusiva e na Carreira e a atuação dos grupos de trabalho. Também
gratificações. Aqueles que estão aposentados são esquecidos ouviram reivindicações dos docentes daquela instituição.
diante do fato de não serem mais “produtivos”.
Infelizmente, a realidade pintada sem retoques não nos
leva ao otimismo. Entretanto, a história não é pensada apenas Proifes contra o ANDES
por décadas ou séculos. E, através da postura crítica, dos atos
de bravura e resistência certamente podem ser obtidas muitas O ANDES - Sindicato Nacional informou que no último dia 8 de setembro de 2009 foi citado
vitórias. E, no que se refere a isso, a SEDUFSM certamente para contestar mandado de segurança (MS 14.690), impetrado pelo Proifes contra o ato do
pode se orgulhar, pois no dia 7 de novembro completa 20 anos ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que restabeleceu o registro sindical do ANDES-SN, em 5 de
de história e muitas lutas. junho desse ano. A ação foi proposta no Superior Tribunal de Justiça – STJ e teve o pedido de
liminar indeferido pelo ministro Humberto Martins, relator designado para o processo. A
Assessoria Jurídica Nacional já está trabalhando no caso e oferecerá a defesa no prazo legal.
Importante destacar que o ANDES também contesta a legitimidade do Proifes, “transformado”
EX PEDI EN T E em entidade sindical no dia 6 de setembro de 2008, na sede da CUT-SP, numa assembleia na
qual os docentes que lá compareceram foram impedidos de se credenciar.
A diretoria da SEDUFSM é composta por : Presidente em exercício: Fabiane A.
Tonetto Costas (Dep. Fundamentos da Educação – CE); Vice-Presidente- Júlio
Ricardo Quevedo dos Santos (Dep. História – CCSH); Secretário-Geral: Rondon
Martin Souza de Castro (Dep. Ciências da Comunicação - CCSH); Primeiro Vereadores homenageiam sindicato
secretário - Maristela da Silva Souza (Dep. Desportos Individuais - CEFD);
Tesoureiro-geral – Hugo Blois (Dep. Arquitetura – CT); Primeiro tesoureiro-
Cícero Urbanetto Nogueira (Colégio Politécnico); Primeiro suplente: Hélio Neis A Seção Sindical dos Docentes da UFSM (SEDUFSM) receberá
( Aposentado); Segundo suplente: Ricardo Rondinel ( Dep. Ciências Econômicas - uma homenagem especial da Câmara de Vereadores. Devido aos
CCSH) 20 anos, que estarão sendo comemorados no dia 7 de novembro de
Jornalista responsável: Fritz R. F. Nunes (MTb nº 8033)
Relações Públicas: Vilma Luciane Ochoa 2009, o sindicato terá uma sessão solene, que foi solicitada pelo
Diagramação e projeto gráfico: J. Adams Propaganda vereador Jorge Trindade (PT), o Jorjão. O evento acontece às 18h
Ilustrações: Clauber Sousa e Reinaldo Pedroso de quinta-feira, 5 de novembro, após a sessão plenária ordinária do
Impressão: Gráfica Pale, Vera Cruz (RS) Tiragem: 1.500 exemplares
Obs: As opiniões contidas neste jornal são da inteira responsabilidade de quem
Legislativo santa-mariense. Além do autor da homenagem,
as assina. Sugestões, críticas, opiniões podem ser enviadas via fone(fax) discursa na tribuna da Câmara um representante da diretoria da
(55)3222.5765 ou pelo e-mail sedufsm@terra.com.br SEDUFSM. As atividades de comemoração às duas décadas de
Informações também podem ser buscadas no site do sindicato: fundação da seção sindical do ANDES-SN prosseguem ao longo
www.sedufsm.com.br
A SEDUFSM funciona na André Marques, 665, cep 97010-041, em Santa do mês de novembro. Já está confirmado para o sábado, dia 7 de novembro, uma apresentação da
Maria(RS). Orquestra Sinfônica de Santa Maria na praça Saldanha Marinho.
Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES OUTUBRO 2009 03

RADAR

Estudantes questionam relação


entre a UFSM e as fundações
FRITZ NUNES
Os representantes do segmento estudantil estão não há clareza em relação ao que vai ser
questionando no Conselho Universitário incorporado, pois o texto não traz uma relação dos
(Consun) da UFSM o conteúdo de três resoluções bens a serem incorporados. Portanto, diz ele, se
que visam à regulamentação da relação entre as aprovado da forma como está, o que se poderá
fundações de apoio e a universidade. Em linhas fazer é dar uma espécie de “cheque em branco”. O
gerais, as resoluções procuram regulamentar os dirigente estudantil defende que essas resoluções
convênios e os contratos existentes, concedem sejam analisadas pelo Ministério Público Federal
bolsas aos servidores envolvidos em projetos e antes de serem aprovadas.
criam um sistema de registros institucional de Anderson Machado chama a atenção para os
projetos, formalizando também órgãos de apontamentos da comissão nomeada pelo reitor
fiscalização. Clovis Lima (Portaria nº 52592/08), que analisou a
O coordenador-geral do Diretório Central de atual forma de relação da UFSM com as fundações
Estudantes (DCE) da UFSM, Anderson Machado, de apoio. Na análise feita pela comissão está dito
explica que a entidade pediu “vistas” às minutas que “as prestações de contas das fundações
das três resoluções na reunião do Consun do chegam de última hora, impossibilitando uma
último dia 28 de agosto. Segundo ele, os verificação eficaz e transparente para os membros
estudantes divergem da “natureza” da relação do Conselho”.
entre a universidade e as fundações. Machado O Coordenador do DCE destaca especial-
comenta que a principal alegação é de que as mente um dos pontos da conclusão do trabalho, no
fundações facilitam o processo de “gestão”, relatório assinado no dia 2 de setembro de 2008,
contudo, segundo ele, o que se tem observado é um pelo professor Paulo Roberto Magnago, que
processo de “privatização da universidade” a “recomenda a não presença de Conselheiros dos
partir da atuação desmedida dessas instituições. Órgãos Colegiados em Diretorias e Conselhos
Não está claro, ressalta, o que a universidade irá Deliberativos das Fundações (...) a fim de se
fazer para sanar as irregularidades que o Tribunal manter independência e transparência nas
de Contas da União (TCU) tem apontado. atividades das mesmas com seus relaciona-
Um dos pontos das resoluções trata da mentos com a UFSM”. Por que a Administração
Machado (DCE): relações que aprofundam privatização incorporação do patrimônio dessas fundações ao não cumpre essa recomendação, questiona
das universidades patrimônio da universidade. Machado ressalta que Machado.
NAJLA PASSOS / ANDES-SN

Ato público reúne entidades


em defesa da Educação
O ANDES-SN, a Federação de Sindicatos de Trabalhadores em Educação
das Universidades Brasileiras – FASUBRA e o Sindicato Nacional dos
Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica –
SINASEFE, com o apoio do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra –
MST, promoveram na terça, 20 de outubro, um ato público na Câmara dos
Deputados, em Brasília, para discutir a Reforma Universitária e a Carreira no
Serviço Público.
Os manifestantes lotaram a sala 04 das Comissões da Câmara para
denunciar projetos em tramitação no parlamento que colocam em xeque a
educação como direito do cidadão, transformando-a em mera mercadoria.
Durante o evento, que se estendeu das 9h às 12 horas, eles contaram com
manifestações de apoio do Movimento de Oposição ao DCE da UnB e de
Manifestação em Brasília reuniu entidades críticas à reforma universitária
deputados de diferentes legendas.
O 1º vice-presidente da Regional Rio Grande do Sul do ANDES-SN, mos, por exemplo, a diferenciação entre carreiras típicas do estado e carreiras
Fernando Molinos Pires, que presidiu a mesa, disse que a tentativa de diálogo não típicas, como o executivo vem propondo”, afirmou Marcos Aurélio.
das três entidades que representam os trabalhadores da educação com o Janine Teixeira, representando a FASUBRA, elogiou o desprendimento do
parlamento, acrescida do apoio do MST, é uma demonstração de que MST de abraçar a luta pela educação pública, mesmo em um momento em
nenhuma força política conseguirá dividir os trabalhadores na luta pela que o movimento sofre vários ataques dos setores conservadores, inclusive a
educação pública e de qualidade. ameaça da criação de uma CPI para investigá-lo. “Nós do movimento
Representando o SINASEFE, Marcos Aurélio Neves também frisou a sindical, como o MST, enfrentamos uma fase difícil. Estamos desarticulados,
importância histórica da rearticulação das entidades da área de educação em não estamos conseguindo realizar ações importantes. Enquanto isso, o
defesa da escola pública em todos os níveis, e reafirmou a importância de que governo continua legislando e aprovando o que lhe convêm. Não há mais luta
elas empreendam uma ação direta no parlamento, em um momento no qual neste país justamente porque parte do movimento sindical/popular aderiu ao
os trabalhadores do serviço público federal vêm sofrendo tantos ataques em governo e parte se afastou das esferas decisórias”, afirmou ela.
seus direitos, por parte do governo federal. “Nós, do SINASEFE, não aceita- (Fonte: ANDES-SN)
04 OUTUBRO/2009 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES

PON TO &

SIM A re a liza ç ã o de e ve nt os c om o a Copa do M undo

Perenidade esportiva
Antonio Guilherme Schmitz Filho
Professor Adjunto do Departamento de Desportos Coletivos/CEFD/UFSM. • Coordenador do Grupo de Pesquisa Análise dos Cenários Esportivos na Mídia.

político-econômico agregado aos


eventos. Neste sentido, o esporte
ascendeu e passou a se diferenciar.
Saiu dos bastidores e ganhou o
palco. Algumas modalidades
saltaram diretamente da plateia para
o palco. Ao passar à frente e ao
expor benefícios e mazelas, prova-
velmente o esporte, a política
esportiva e o mercado esportivo
comecem a ser discutidos e
analisados de forma diferenciada.
Entidades como o COB e a CBF,
bem como seus dirigentes, estarão
na berlinda e com luzes
suficientes para que as diferentes
áreas do conhecimento os
escrutinem.
Talvez, sem ponderar anteci-
padamente aspectos envolvidos
entre o “bem e o mal”, o
fenômeno esportivo marcado
desde a realização do PAN no
Rio proporcionará um momento
sem igual e com perenidade
suficiente para todos os tipos de
apreciação e propostas. A questão
maior diz respeito à nossa capaci-
dade de interpretação e, sobretudo, à
Com a realização do PAN na derando-se as peculiaridades que envolvem o universo esportivo. Os nossa capacidade de desenvol-
cidade do Rio de Janeiro, o Brasil cercaram a conquista da realiza- brasileiros, mesmo aqueles vimento a partir da interação com o
ingressou no circuito dos grandes ção da Olimpíada de menos preocupados com fenômeno esportivo em tempo real.
eventos esportivos. Embora, tradi- 2016 no Rio; uma pre- questões do gênero, Outra possibilidade interessante a
cionalmente, acostumada com paração, um envol- “O esporte não poderão elimi- se verificar na balança cultural será
coberturas de Copas do Mundo de vimento e uma ascendeu. Saiu nar da sua cotidia- a polarização entre o futebol e os
Futebol, a sociedade brasileira, ao cobertura nunca dos bastidores nidade a enxurrada demais esportes, ou a equiparação
longo dos tempos, obteve raras vistos. de informações e a deste com os demais em confor-
e ganhou o
oportunidades de se envolver com Desde o PAN, produção de cená- midade aos resultados obtidos no
eventos desta magnitude. passando pela Copa
palco” rios esportivos que campo esportivo. Talvez a notorie-
Obviamente que prós e contras de 2014, até a realiza- surgirão com maior ou dade e a popularidade esportiva
sobrarão para infinitas “coberturas ção da olimpíada, mante- menor protagonismo. ganhem novas colorações e outros
de bolo”, o que não deve ser remos um relacionamento direto Outra questão que surge com atributos que por ora são desconhe-
desprezado. Principalmente, consi- e regular com as questões que clareza sem precedentes é o valor cidos.
Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES OUTUBRO/2009 05

CON T RAPON TO

e a s Olim pía da s é posit iva pa ra o Bra sil? NÃO


Quem paga essa conta?
Valdelaine Mendes
Professora da Escola Superior de Educação Física (ESEF), da Universidade Federal de Pelotas

Nas últimas semanas fomos bom- jogos olímpicos não vi nenhum


bardeados pelos meios de comuni- governante preocupado com a ori-
cação com informações sobre a gem dos bilhões de reais que serão
incontestável e promissora realiza- usados para adequar a cidade do Rio
ção dos jogos olímpicos de 2016 no de Janeiro às necessidades do even-
Brasil. Espaço para a contestação e to. Certamente, dinheiro novo não
para a crítica à realização de um haverá, mas uma redistribuição
evento de tamanha envergadura daqueles já existentes para cumprir
parecia desnecessário num cenário as metas acordadas com o Comitê
de notícias que davam conta de um Olímpico Internacional.
consenso nacional sobre o me- Assistiremos nos próximos anos
gaevento esportivo. Não é de hoje significativas importâncias sendo
que os grandes meios de comunica- destinadas a obras e serviços no Rio
ção nos convencem da importância de Janeiro. Provavelmente, algumas
e da inevitabilidade de determina- dessas obras serão relevantes para a
das ações. Basta lembrar a década população daquela cidade, mas e
de 1990 e os apelos que bem forma- quantas outras serão abandonadas
ram a opinião pública em torno da ou entregues à administração do
“necessária” privatização da telefo- setor privado por preço de banana?
nia, da energia, sem contar na entre- Isso não é um exercício de futuro-
ga à iniciativa privada do patri- logia, mas uma reflexão a par-
mônio desconhecido da Vale do tir daquilo que acompanhamos
Rio Doce. há bem pouco tempo com o Pan.
Voltando aos jogos olímpi- E o resto do país como fica?
cos, o primeiro aspecto que pre- Afinal, somos nós cidadãos deste
cisa ser levado em considera- Brasil que vamos pagar essa conta
ção é que não há qualquer e continuar sofrendo com a falta de
problema com a realização saneamento básico, de atendimento
de um evento com tais pro- na área da saúde e de qualidade na
porções, desde que os recursos educação. Mas, as necessidades
necessários a sua efetivação sejam decoravam todos os espaços de saneamento ou educação o princi- desses milhões de cidadãos que
provenientes do setor privado. Um competição. O Ministro do pal argumento a que recorrem os estão à margem do que é mais básico
cidadão mais desavisado poderia Esporte, Orlando Silva, em governantes é sobre a origem para garantir a existência de um ser
argumentar que os governantes afir- entrevista ao Programa dos recursos. Os debates humano, parece pouco importar aos
mam ser o setor privado o principal Roda Viva da TV sobre a implantação grupos que dominam política e
responsável pela origem dos recur- Cultura (SP), logo “Será que da lei do piso salari- economicamente o país e que já
sos para esse tipo de evento. após o término do precisamos de al dos professores, estão se capitalizando com os jogos
Entretanto, nem acreditando em con- Pan, foi claro ao uma Olimpíada desde o ano passa- olímpicos.
to de fadas dá para se convencer dizer que devido à para poder do, bem ilustram Eventos como o de 2016 são reve-
com esse discurso, ou será que todos falta de interesse isso, já que muitos ladores da falta de vontade política
já se esqueceram do Pan que se- privado foi preciso
construir governadores, para dos setores que governam o país
diamos em 2007? Naquele episódio haver a interferência estradas” não aumentar os salá- para solucionar históricos proble-
os gastos foram algumas vezes maio- financeira do Estado rios dos educadores, mas da nação. Fica a questão: será
res do que o previsto e não vieram da para assegurar a realização chegaram a levar a questão que precisamos de uma olimpíada
iniciativa privada. A prova disso do evento. ao Supremo Tribunal Federal ale- para construir estradas, melhorar a
estava escancarada no predomínio Sempre que a sociedade reivin- gando inconstitucionalidade na rede de transporte e garantir
absoluto das marcas das estatais que dica mais investimentos em saúde, lei. Entretanto, em relação aos segurança à população?
06 OUTUBRO 2009 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES

OPI N I ÃO

A realização das Olimpíadas


de 2016 no Brasil é importante
Governo impõe modelo de universidade
FRITZ NUNES

para a sociedade? O Movimento


Docente sempre
Fotos: FRITZ NUNES defendeu um pro-
Ricardo Rossato, 63 anos, jeto de universi-
professor aposentado, ex-vice- dade pública,
reitor da UFSM. gratuita e de quali-
“Acho que tem vários aspectos dade, baseado no
essa questão das Olimpíadas no tripé ensino, pes-
Brasil. Um deles seguramente é quisa e extensão,
que nós vamos pagar uma conta. completamente
Eu fiz pós-doutorado em independente do
Montreal (Canadá) em 1994 e, mercado. Pois bem,
em 1976 eles tinham tido as esse modelo parece
Olimpíadas e, até 2000 a estar “superado”
sociedade continuaria pagando para integrantes do
o custo do evento. Portanto, é uma conta cara e que será governo que têm
transformada em impostos. Um outro aspecto e que foi feito uma reforma
no ensino superior
até cobrado do presidente (Lula), é que nós temos o
por decretos, usan-
risco de uma não-transparência dos gastos, como do uma estratégia
aconteceu no Panamericano (do Rio, em 2006). O lado Mesa de debates: Pedro (DCE), Henrique (ADUFPel), Lisboa (ANDES) e Rogério (Assufsm)
para encontrar me-
bom, sem dúvida, é o da projeção do país em nível nos resistência. O modelo em construção pelo educação. Enquanto existem 14 projetos
internacional. O que fica de bom também é se forem governo federal está intimamente atrelado a uma protocolados na Câmara Federal tratando da
bem aproveitadas as instalações, que posteriormente visão mercadológica, com base nas orientações de reforma universitária, a comissão especial que
podem ser transformadas em escolas ou em centros de organismos como o Banco Mundial e a Organização analisa o assunto selecionou quatro para serem os
preparação física. Contudo, é preciso destacar que Mundial do Comércio (OMC). A análise é do fios condutores do relatório final, sendo que estes
devemos evitar o superdimensionamento desse evento. professor Antonio Lisboa Leitão de Souza, diretor são os que mais exprimem uma visão de educação
Sediar a olimpíada não significa que passamos de do Sindicato Nacional dos Docentes (ANDES-SN) não mais como “direito de todos” e sim como
subdesenvolvidos a desenvolvidos. Os problemas e membro da coordenação do Grupo de Trabalho de “mercadoria”, destaca o diretor do ANDES-SN.
continuarão a existir”. Políticas Educacionais (GTPE) do ANDES-SN. Quando se fala em “flexibilização”, Lisboa ressalta
Lisboa, que é docente na Universidade Federal do que isso significa “flexibilizar os modelos
Pedro Sérgio da Silveira, 22 Rio Grande do Norte, falou na manhã de sábado, 24 institucionais” e também “flexibilizar os modelos
anos, aluno do 6º semestre de de outubro, no painel “Reforma Universitária e suas de formação”.
História na UFSM. conseqüências para a sociedade brasileira”, durante Quando se fala em “flexibilizar o modelo”
“Eu acredito que esse tipo de o V Encontro de Grupos de Trabalho do ANDES- significa que a concepção em curso é de que não há
ação do governo é contraditória. SN, ocorrido em Santa Maria. Participaram ainda mais necessidade de uma universidade que esteja
São bilhões de reais que serão do mesmo painel, o representante do Sindicato dos embasada no modelo ensino, pesquisa e extensão.
investidos nas Olimpíadas, mas Servidores (ASSUFSM), Rogério Silva, e o Esse modelo custaria caro, então, torna-se mais fácil
que poderiam ser usados em dirigente do Diretório Central dos Estudantes fazer uma expansão como na atualidade, em que a
(DCE) da UFSM, Pedro da Silveira. precariedade torna-se a marca fundamental. As
outras políticas sociais,
A afirmação do integrante da Coordenação do estruturas multicampi, com déficit de funcionários,
principalmente na área de GTPE se embasa na concepção que tem norteado as poucos laboratórios, faz parte dessa lógica de que,
esporte. Ao mesmo tempo em políticas do Ministério da Educação para as se o modelo não é mais aquele que atrela as três
que o governo retira recursos do universidades. Segundo Lisboa, o que tem ocorrido funções, então, pode-se ter uma expansão mais
ministério do Esporte em função do corte de gastos, no é um processo de “desregulamentação” da barata.
contexto da crise, acaba destinando recursos para o
esporte de alta competitividade, que representa o
padrão dominante”.

Eduardo Luft, 30 anos,


Preocupações e omissões
agrônomo e também aluno do O dirigente do Sindicato dos Servidores da “honrado” pelo convite para poder participar do
curso de Formação de UFSM (ASSUFSM), Rogério Silva, concordou debate junto com o ANDES e destacou que
Professores para a Educação com as críticas levantadas no painel em relação à concorda com a maioria das preocupações do
Profissional na UFSM. expansão de cursos e vagas nas universidades. Ele Movimento Docente. Segundo ele, a lei de
“Eu penso que o problema para disse que a categoria tem “sentido na carne” os inovação tecnológica, as parcerias público-
o país não é a Olimpíada, mas a efeitos dessa expansão precária, com a reali- privadas e as fundações de apoio têm levado a
forma como está sendo vista. zação de concursos em “conta-gotas”. um processo de privatização das univer-
Agora serão sete anos até 2016 Um outro problema que preocupa os sidades públicas. Entretanto, diz ele,
para chegarmos nas Olimpíadas, técnico-administrativos é a tentativa “Temos apesar dos inúmeros consensos, o
na qual serão investidos bilhões, do governo de transformar os sentido na carne que dificulta a atuação, especial-
com a infraestrutura toda do Rio hospitais universitários em “funda- a expansão mente do segmento estudantil, é a
voltada para a organização do evento, que durará um ções públicas de direito privado”. falta de unidade. A superação disso,
mês. Embora o governo diga que essa estrutura será Segundo Rogério, a privatização da
precária” segundo Pedro Silveira, é a
(Rogério Silva, dirigente
deixada depois para a cidade, será direcionada. Então, universidade tem ocorrido aos construção de uma pauta que
da ASSUFSM)
eu penso que esse recurso seria muito melhor investido poucos, exemplificando a terceiri- unifique a todos. Um dos elementos
se fosse pensado mais globalmente, com ações zação no hospital e no restaurante que poderiam dar coesão seria a luta em
importantes como a reforma urbana. Além disso, universitário. E, o que é pior, segundo ele, é defesa de um projeto de universidade
também estamos pensando em investimentos num esse conjunto de problemas sendo tratado de pública, gratuita e de qualidade. O debate da
esporte de alta competição, em que a grande maioria da forma “omissa” pela reitoria. manhã de sábado acabou antecipado em virtude de
população está excluída, pois o mesmo é voltado para O coordenador de políticas educacionais do que o painel sobre as fundações de apoio não
atletas”. DCE da UFSM, Pedro da Silveira, se disse ocorreu pela ausência de um dos palestrantes.
Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES OUTUBRO 2009 07

V Encontro de GTs reúne docentes Cyro Knackfuss, 57 anos,

de vários estados em Santa Maria professor do departamento de


Desportos Coletivos do CEFD.
“Evidente que um evento com a
O balanço do V Encontro de

VILMA OCHOA
Grupos de Trabalho (GTs) do grandiosidade da Olimpíada vai
ANDES-SN, realizado em Santa trazer coisas importantes para o
Maria, de 23 a 25 de outubro, foi Brasil. Mas, o Brasil tem tantos
considerado “positivo” pelos problemas a resolver que eu não
organizadores. Além de represen- sei se era o momento. Essa
tantes das universidades federais decisão de trazer as Olimpíadas
do estado (UFRGS, UFPel, sem dúvida nenhuma é uma
FURG, UFSM e Unipampa), decisão mais política do que
participaram docentes de vários qualquer outra coisa. E, infelizmente, nós temos a
estados como Pará, Rio de Janeiro, comprovação de que quando saem esses megaeventos
Paraná, São Paulo, Mato Grosso e
no Brasil, como foi o caso do Panamericano, que, aliás,
Rio Grande do Norte. Em torno de
40 pessoas estiveram nos painéis foi um sucesso, a gente observa a quantidade de
mais gerais bem como nas dinheiro que sai pelo ralo. É claro que eu gostaria que o
reuniões em grupo. Na avaliação Brasil trouxesse sempre eventos como esses, mas eu
do 1º vice-presidente da Regional gostaria que as coisas fossem mais transparentes no
RS do ANDES-SN, Fernando Grupos de Trabalho tiveram a participação também de estudantes Brasil. Eu tenho convicção que com a Olimpíada, muita
Molinos Pires, a presença de gente vai ganhar dinheiro e muitas outras pessoas vão
estudantes e de servidores em algumas das reuniões são “imprescindíveis”. continuar como estão. Não sei se vai mudar alguma
em grupo foi o ponto alto da atividade. REPÚDIO- O Grupo de Trabalho de Política coisa no Brasil, inclusive na área esportiva. O país não
No domingo, dia 25, na parte da tarde, os relatores Agrária e Meio Ambiente (PAMA) também esteve precisa das Olimpíadas para se tornar uma potência
dos GTs expuseram de forma resumida o que havia reunido em Santa Maria. Dentre os encaminha- esportiva”.
sido discutido. O professor do CEFET-MG, Elcio mentos, a necessidade de se discutir em um seminá-
ARQUIVO/SEDUFSM
Queiroz, que integra o GT Carreira, destacou que o rio uma forma de questionamento às políticas públi- Reinaldo Apolônio da Silva
aspecto mais relevante das discussões foi de que não cas do governo para a área de política agrária e meio Pedroso, 65 anos, professor
se deseja uma carreira que tome como base aspectos ambiente. Também propuseram e tiveram o apoio
aposentado do curso de
“quantitativos e produtivistas”. Deve se levar em unânime em relação a uma Moção de Repúdio a
conta o tempo de serviço e a formação/titulação. O diversos órgãos federais tratando da redução da Desenho Industrial do Centro
detalhamento desses aspectos deve ser feito em um faixa de fronteira, que vai do Mato G. do Sul ao RS, de Artes e Letras (CAL).
seminário nacional sobre Carreira, marcado para os iniciativa que objetiva beneficiar as empresas “Nunca antes na história este
dias 20, 21 e 22 de novembro, em Brasília. multinacionais de celulose. país teve tamanha visibilidade.
Outro grupo que se reuniu em Santa Maria, no Finalizando os relatos, o professor Fernando Lula vende bem o Brasil. A
prédio da Antiga Reitoria (CCSH), foi o das Molinos citou que o GT de Seguridade Social pro- avaliação financeira "custo/
Fundações. No relatório apresentado pelo professor moverá em Florianópolis, de 20 a 22 de novembro, o benefício" sinaliza olímpicos 30
Rondon de Castro (SEDUFSM), e corroborado pela Encontro de Assuntos de Aposentadoria, que terá para 100 bilhões em gastos,
coordenadora do GT, professora Solange Bretas, entre os pontos de discussão, a análise da PEC 270- respectivamente. A efetiva e
destacou-se que uma das propostas é buscar saber A, que trata dos critérios para aposentadoria por transparente aplicação desses valores em desenvol
que tipos de projetos são desenvolvidos e invalidez. O encerramento do V Encontro de GTs vimento social é o que exijo na condição de contri-
financiados através das fundações ditas de apoio. foi feito pela presidente da SEDUFSM, professora buinte sangrado”.
Tornar público os projetos que passam por lá é uma Fabiane Costas, que agradeceu a todos e enalteceu a
forma de transparência e ao mesmo tempo de “qualidade dos debates”.
contraposição ao discurso de que essas entidades

Privatização do Estado brasileiro


RENATO SEERIG
ELES DI SSERAM
“Não há condição de tu falar. Não tem que falar. Nada.
O V Encontro de Grupos de Trabalho
(GTs) do ANDES-SN iniciou na sexta, 23, Absolutamente nada. Tudo o que tu falar te prejudica.
pela manhã, na Câmara de Vereadores. A A verdade te prejudica”. (Frase atribuída ao deputado
mesa de abertura foi composta pela federal Eliseu Padilha, do PMDB-RS, em gravação
secretária-geral do ANDES-SN, professora
Solange Bretas, que representou o telefônica de 2008, orientado o ex-secretário de Canoas,
presidente da entidade, Ciro Correia. Chico Fraga, investigado pela Operação Solidária.
Estiveram ainda o 1º vice-presidente da Publicado em Zero Hora de 27.10.2009)
Regional RS do ANDES-SN, Fernando
Molinos Pires, a presidente da SEDUFSM,
Fabiane Costas, e os representantes do
“O cafezinho servido num copo de vidro no bar é uma
DCE – Anderson Machado; da ASSUFSM- realidade que está sendo relegada ao passado”.
Eloiz Cristino; do CPERS- Sindicato dos (Senador Gerson Camata, do PMDB-ES, defendendo a
Professores Estaduais, Carmem Santos e
regulamentação pelo Congresso da profissão de barista,
do Sinprosm - Sindicato dos Professores
Conferência que abriu o V Encontro de GTs Municipais, Martha Najar. na Folha de São Paulo de 25.10.2009, pág. A10).
Logo após a abertura ocorreu a conferência sobre “A privatização do Estado brasileiro e suas
consequências”. Os conferencistas foram a professora Rosa Maria Marques, da PUC-SP, economista e “O que sobrou do jantar do PT com PMDB? O arroto.
escritora, autora do livro “O Brasil sob a nova ordem- A economia brasileira contemporânea”. E, na Nada mais do que isso.” (Roberto Requião, governador
seqüência, o professor do Instituto de Sociologia e Política da Universidade Federal de Pelotas, Luiz Carlos
Gonçalves Lucas. Na tarde de sexta, a atividade foi diferenciada. Todos os dirigentes sindicais, estudantes, do Paraná, sobre o encontro de integrantes do PMDB
técnico-administrativos, e integrantes de movimentos sociais que manifestaram interesse puderem com o presidente Lula. Na Folha de São Paulo de
participar das reuniões em grupo, nas salas da Antiga Reitoria. Ao final do dia foi feito um debate com o 26.10.2009 de A4).
resultado dos grupos a partir de questões formuladas pela organização. O tema do debate se baseou na
conferência da manhã.
08 OUTUBRO/2009 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES

COM A PALAV RA

Felipe Müller
A partir da sua confirmação junto ao Ministério da Educação, o professor Felipe
Martins Müller será, indubitavelmente, um dos mais jovens reitores a dirigir a
UFSM, iniciando um mandato no final de 2009 e que deve se estender até o final de

Sofrimento
2013. Até mesmo pela sua juventude, não há quem discorde de que Felipe Müller é
um provável candidato a ficar mais uma gestão no cargo. Contudo, ele não admite
publicamente esse interesse, até mesmo porque enfrentará ainda um período de
turbulência, resultado de toda a investigação feita pela Polícia e Ministério Público
Federal a partir de suspeitas de mau uso do dinheiro público pelo braço financeiro
da UFSM, no caso, as fundações de apoio. Sobre isso, aliás, o atual vice-reitor e

da expansão
reitor eleito pela comunidade universitária, quer evitar declarações. Das perguntas
relacionadas à polêmica envolvendo a Fatec, Müller disse que não quer fazer
comentários “no momento”. O mesmo valeu para perguntas relacionadas às
acusações feitas pelo reitor anterior, que é réu da Operação Rodin, professor Paulo
Sarkis, em entrevista ao Jornal da SEDUFSM na edição de agosto/setembro, na qual
relaciona Müller e o atual reitor, Clovis Lima, como os artífices em um processo de

é passageiro
manipulação de dados que incriminariam a ele (Sarkis), no caso do escândalo
envolvendo Fatec e Detran. Contudo, o reitor eleito não se esquiva de responder
questões referentes ao processo de expansão universitária. Para ele, não há como
negar os avanços e, que, as dificuldades decorrentes de todo esse processo são
inerentes, mas, que eventuais sofrimentos são “passageiros”. Acompanhe a seguir a
íntegra da entrevista, concedida através de correio eletrônico. Devido à alegada
extensa agenda de compromissos, Felipe Müller preferiu responder as perguntas
através do e-mail.
Fotos: ANA PAULA NOGUEIRA / Arquivo SEDUFSM / OUTUBRO DE 2006

PERGU N TAS &RESPOSTAS

Pergunta- Professor Felipe, quando o sr. deve tomar posse oficialmente como
reitor da UFSM?
Resposta- Imagino que, provavelmente, entre o Natal e o início de 2010. Na última
semana de 2009 deverá acontecer a posse e, na primeira semana de janeiro de 2010, a
transmissão do cargo. Isso dependerá do acerto de agendas dos dirigentes do
Ministério da Educação e a UFSM.

P - Qual a prioridade ao assumir a Administração da UFSM?


R- Estabelecer uma transição coerente com o trabalho desenvolvido juntamente com
o professor Clovis Lima, num quadriênio de muitas realizações e de amadurecimento
da UFSM, do que resultou em expressivos avanços quantitativos e qualitativos da
Instituição, incorporando a partir do início do próximo ano a competência acadêmica
e administrativa do professor Dalvan Reinert, assim dando seqüência às inúmeras
frentes de trabalho já entabuladas. Iniciando outras pensadas e socializadas com
todos aqueles que contribuíram na definição de propostas de gestão para o período
2009-2013. Em síntese, numa meta global, praticar uma gestão pública com
transparência, eficiência, na perspectiva da expansão do ensino superior
público, gratuito e de qualidade, com resolutividade e, em prol da comunidade
universitária, centrada no comprometimento de aprimoramento das rotinas
administrativas e atividades de ponta a ponta do ensino, da pesquisa e da
extensão, sempre tendo foco nas capacidades de nossos sujeitos
envolvidos, voltados em suas ações ao interesse sócio-educacional.

P - O ANDES-SN e a SEDUFSM têm questionado desde o início a


forma como o governo vem implementando a expansão
universitária, antes do REUNI, como é o caso da Unipampa,
bem como após o REUNI. Qual a sua avaliação sobre a
qualidade da expansão em vigor?
R- Considero politicamente correto a criação de mais
universidades públicas e a revitalização das já existentes, ficando
à nossa geração a responsabilidade de avançar e buscar a
qualificação tão desejada por todos, com um diferencial
importante: existem recursos humanos muito qualificados que
estão adentrando nas universidades e disposição governamental
de bancar as demandas necessárias de infraestrutura. Então, a nós
cabe o desafio de agirmos na mesma perspectiva política com
competência para gerir tal interesse público.

P- No caso da UFSM, muitos professores e mesmo estudantes


manifestam preocupação sobre a ampliação de vagas e cursos
sem a contrapartida ideal na contratação de docentes, e também
na questão da ampliação de espaço físico. Como a
Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES OUTUBRO/2009 09

Administração está solucionando esses problemas? maioria dos conselheiros e da gestão executiva.
R- Encaramos essas preocupações com tranqüilidade e atenção, isto é, com muita
seriedade. Levamos anos para concluir as Casas de Estudantes, ou mesmo para P- Professor Felipe, existe uma reclamação de setores da imprensa de que, a partir
expandir serviços nos Restaurantes Universitários, nos Laboratórios de Ensino e de uma decisão sua, em meados de setembro de 2007, os jornalistas passaram a
Pesquisa ou mesmo contar com aportes expressivos de materiais em nossas fazer cobertura jornalística das reuniões dos conselhos superiores somente do lado
Bibliotecas, e mesmo assim alcançamos o reconhecimento público de sermos uma de fora do recinto. O sr. confirma essa iniciativa e se pretende mantê-la?
das melhores universidades do Brasil, já passados quase cinquenta anos. Atualmente, R- Na verdade isto é regramento regimental, no intuito de garantir a palavra livre e
temos em fase de término mais de 60 obras de infraestrutura, como são exemplos soberana aos membros conselheiros dos diferentes Conselhos Superiores da UFSM,
inúmeras salas de aula e laboratórios, e mais de 40 já em fase de licitação e/ou início e no intuito de que não sejam desviados os assuntos em debate, com captação de
das construções, o que sinaliza que logo teremos os espaços plenamente adequados imagens ou entrevistas. Quando a comunidade universitária julgar pertinente a
aos novos cursos e à expansão dos já existentes, o que vem acompanhado mudança de tais regras caberá aos dirigentes o seu cumprimento. Ao ser tomada
paulatinamente da contratação de novos servidores docentes e técnico- decisão neste sentido certamente deveremos pensar na ocupação e/ou ampliação do
administrativos em educação. Nesse sentido, a “solução” deve ser encarada como um espaço das reuniões, que nesse momento já demonstra sua exigüidade, até mesmo
processo, cuja demanda será sempre crescente e desafiadora. Felizmente, isso é para alocar ali integrantes da imprensa e/ou público em geral interessados em assistir
demonstrativo que a UFSM está se tornando de fato na prática uma Universidade de às sessões. Afora o colocado, tenho certeza que também, com o tempo, teremos
ponta no cenário nacional. Mas, claro, sempre teremos desafios como gestores transmissões ao vivo pela internet, TV Campus e Rádio Universidade.
públicos para atender demandas dos inúmeros setores, já que literalmente Considero muito importante a publicização das informações de interesse
somos uma “cidade” com aproximadamente 30 mil habitantes, que social.
demandam diretamente serviços e/ou que atende milhares de
expectativas da comunidade externa, em sua maioria de parcelas ‘‘Considero P- Qual o futuro político do professor Felipe Müller? Pode ser
menos favorecidas, e cuja administração da Reitoria e das Unidades considerado candidato a um segundo mandato?
deve ser eficiente e resolutiva. muito importante R- O futuro político é administrar democraticamente a UFSM nos
próximos quatro anos. Isso é uma etapa da construção política de
P- A precariedade em alguns casos não é uma abstração. Em a publicização das minha vida pública na comunidade universitária. O resultado da
encontro ocorrido em Bagé, no mês de agosto, um dirigente da informações” consulta me qualifica e ao mesmo tempo requer uma atuação
Sesunipampa falou que muitos professores são obrigados a coerente com a perspectiva política que a democracia brasileira
assumir funções que seriam dos técnico-administrativos. construiu e consolidou em nossas vidas. Convém lembrar que,
Reclamação semelhante foi ouvida por diretores da seção sindical em vencemos o último pleito nas regras estabelecidas democraticamente
visita recente ao Cesnors. Esses exemplos não demonstrariam que a pelas instâncias deliberativas, mesmo tendo afirmado ser necessário e
chamada ampliação das universidades federais tem se dado de forma açodada? urgente modernizar, atualizar e expandir os processos participativos. Nossa
R- Certamente que ainda temos óbices a serem equacionados, e essa será ainda uma plataforma política foi construída para esse período estabelecido pelo processo
realidade de muitos anos das universidades públicas federais. Os problemas serão democrático, de onde saímos vencedores, felizes e esperançosos de uma UFSM cada
sempre crescentes se crescentes forem as expansões dessas Instituições. A UFSM vez melhor, maior e mais acessível para todos.
como um todo tem demandas reprimidas de pessoal, nos seus diferentes setores,

Perguntas que não foram respondidas


sejam os administrativos, sejam os das atividades fins. Exemplo histórico tem sido o
do HUSM, mas isso depende de planejamento e priorização de instâncias políticas
dos ministérios da República. Como servidores públicos, procuramos contribuir o
Na correspondência eletrônica enviada ao Jornal da SEDUFSM, o professor Felipe
máximo possível para bem servir à Sociedade, e assim temos que entender que as
Müller considerou que as perguntas abaixo não “devem ser respondidas por mim
deficiências ainda existentes não impedem a solução de continuidade do interesse
nesse momento”. Veja quais foram as perguntas:
sócio-educacional, isto é, cada vez mais oportunizar o acesso das comunidades local
e regional às Universidades públicas. Como dirigentes públicos, envidamos todas as ‘‘P- Entrando no tema das fundações, o que a UFSM tem feito para enquadrar-se na
energias para encaminhar a solução das demandas. Reconheço que as novas recomendação feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU), procurando assim
Universidades públicas e/ou as novas Unidades da UFSM podem sofrer, evitar relações promíscuas com as fundações de apoio?
momentaneamente com este processo de criação e sustentabilidade institucional, o
que já passamos de forma mais intensa há alguns anos. Mas cabe reconhecer que P- Em entrevista ao Jornal da SEDUFSM, na edição de
estamos avançando muito em pouquíssimo tempo. agosto/setembro de 2009, o ex-reitor, Paulo Sarkis, acusa
o atual reitor, Clovis Lima e o senhor, de terem omitido
P- No relatório de setembro de 2008 de uma comissão presidida pelo professor documentos ao Ministério Público Federal (MPF). Na
Paulo Roberto Magnago, uma das recomendações é de que “não haja presença ótica de Sarkis, essa omissão levou a que o MPF
de conselheiros dos órgãos colegiados, em diretorias e conselhos deliberativos investigasse apenas ele. Como o sr. analisa esse tipo de
das Fundações (...), a fim de se manter a independência e transparência nas acusação?
atividades (...)”. (Ver matéria a respeito na página 03). A reitoria pretende
P- O professor Sarkis afirma que o sr. defendeu junto
cumprir essa orientação?
ao Conselho da Fatec a mudança no convênio, em
R- Esses são encargos que a legislação atual ainda mantém. Pela vontade
2007, passando o projeto com o DETRAN para a
da maioria das pessoas que lá transitam, o ideal seria uma
Fundae. Como é possível explicar essa situação, tendo
gestão independente, constituída por
em vista que a maioria do público leigo desconhece
pessoas da comunidade e técnicos
como é que se deu essa mudança?
especializados, fincando o Conselho
Superior como um órgão fiscalizador. P- Numa entrevista concedida ao Jornal da
Nesses últimos quatro anos fizemos SEDUFSM em outubro de 2006, o sr. elencou
inúmeras sugestões no sentido de algumas mudanças na questão do
realizar mudanças profundas nas gerenciamento dos recursos próprios da
relações Universidade-Fundações, e Fatec à época, que seriam administrados
de modo especial na FATEC. Isto pelo gabinete do reitor anterior. Já se
ocorrendo mesmo antes da eclosão da percebia na época algum tipo de
Operação Rodin, expondo irregularidade? Foi o sr. e o
possibilidades de cumprimento da lei professor Lima que acabaram por
com adequações e ajustes subsidiar o MPF nessa
necessários. Mudanças profundas se investigação que levou à
demonstram cada vez mais Operação Rodin?”
necessárias, mas elas estão sempre
na dependência da alçada da
legislação federal e da vontade da
10 OUTUBRO 2009 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES

EX T RA-CLASSE

Momento de celebração:
Dia do Professor e 20 anos do sindicato
Fotos: GLAUCIO MAIA

O já tradicional jantar-baile em comemoração ao Dia do Professor, em


2009 teve um motivo a mais para ser celebrado: os 20 anos de fundação da
Seção Sindical dos Docentes da UFSM (SEDUFSM), que se dará
oficialmente no próximo dia 7 de novembro. A festa aconteceu na sexta, 16
de outubro, no salão de eventos do Park Hotel Morotin. Cerca de 200
pessoas prestigiaram o jantar, as homenagens aos diretores que passaram
pelo sindicato ao longo de duas décadas, a apresentação do ator Marcos
Bahrone, que interpretou “O Aprendiz”, de William Shakespeare, e,
evidentemente, o baile, que teve a animação da banda “Realce”. As
crianças acima de três anos também tiveram o apoio de 'Cris Recreações'.
A atual diretoria da SEDUFSM, liderada pela professora Fabiane
Costas, fez a recepção aos professores e familiares que foram até o Park
Hotel Morotin. Na hora do cerimonial, a presidente da entidade destacou a
construção histórica da seção sindical, citou os docentes que dirigiram a
entidade, alguns deles presentes, lembrou as conquistas e destacou a
expectativa de que a luta continuará por pelo menos mais 20 anos. Após o
Fabiane Costas, junto com atuais diretores e funcionários, homenageou os professores
jantar, foi trazido o bolo, que celebrava o aniversário da seção sindical.

Uma história de lutas


Simbolizando a história da SEDUFSM, pois além de ser um dos fundadores, presidiu a
entidade de 1994 a 1996, prestou homenagem aos presentes o professor Ricardo Rondinel.
Ele fez um breve histórico da seção sindical usando como inspiração um poema de Antonio
Machado que diz “caminhante não há caminho, faz-se o caminho ao andar”. Rondinel
lembrou do final dos anos 1980, quando a Associação dos Professores (APUSM) realizou
um plebiscito em que ficou definido que não se transformaria em seção sindical do
ANDES. Inconformados com isso, dezenas de professores se reuniram e no dia 7 de
novembro de 1989 iniciaram a construção de um sonho - a SEDUFSM, entidade que
congregaria a luta da categoria docente e que não se desvincularia do movimento sindical
em nível nacional.
Do pequeno grupo que iniciou a caminhada, hoje podem ser contados mais de 1.200 Ricardo Rondinel lembrou um pouco da história dos 20 anos da
filiados. Dos 16 metros quadrados que o sindicato tinha no prédio da reitoria, no campus da SEDUFSM
UFSM, hoje dispõe de uma sede própria no centro de Santa Maria, inclusive com auditório
para a realização de eventos da entidade e que servem também a outros sindicatos da
cidade. Segundo Rondinel, houve muitas greves, e com elas diversos ganhos, mas, como a
vida não é feita somente de acertos, também existem erros e derrotas. Entretanto, para ele,
as vitórias superam as derrotas e, exatamente por isso, o sindicato conseguiu chegar até os
dias de hoje, completando duas décadas de trabalho.

Aos
Aosque
que ainda estão
ainda estão e
e aos que já se foram
aos que já se foram
Em nome dos diretores, o
professor Ricardo Rondinel
agradeceu a todos os filiados,
que entendem a importância
Marcos Bahrone emocionou o público com a interpretação de
da luta. Agradeceu aos
"O aprendiz", de Shakespeare funcionários atuais e a todos
aqueles que fazem parte da
história de construção e consolidação da entidade. Também destacou os primeiros
lutadores que ajudaram no processo de fundação, citando em nome desses o professor
Clovis Guterres. E, não esqueceu daqueles que lutaram mas não estão mais entre nós, como
é o caso do professor de História da UFSM, que também foi diretor do sindicato, Joel
Abílio Pinto dos Santos, falecido em março de 2007. Rondinel encerrou sua fala dando Baile adentrou a madrugada de sábado com a animação
“gracias a la vida”, como cantava Mercedes Sosa, e conclamou os presentes a cantar os da banda "Realce"
“parabéns” à SEDUFSM.
Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES OUTUBRO 2009 11

EX T RA-CLASSE

Guerra Civil Espanhola, 70 anos depois Fotos: FRITZ NUNES


Na década de 1930 a Espanha era um país com algumas marcas importantes: a
monarquia decadente; o capitalismo incipiente, com uma elite conservadora, que se
negava a promover transformações básicas como a reforma agrária que possibilitaria
desconcentrar a posse da terra. Colaboravam para a manutenção dessa realidade
visões culturais de uma sociedade de tradição autoritária, com a influência de setores
da Igreja Católica. O conflito resultante dessa realidade, com os conservadores e
nacionalistas de um lado e os republicamos com apoio de militantes de esquerda do
outro, simbolizou e antecipou a divisão ideológica que ocorreria em termos globais
após a 2ª Guerra Mundial.
Resumidamente, esse foi o contexto trazido pelo historiador e professor da
Faculdade Montserrat, de Caxias do Sul, Gerson Wasen Fraga, na noite do dia 5 de
outubro, em mais uma edição do Cultura na SEDUFSM. O tema da atividade foi “Os
70 anos da Guerra Civil Espanhola” e contou ainda com a presença da professora
Luciana Ferrari Montemezzo, do departamento de Letras Estrangeiras e Modernas
da UFSM. A coordenação foi do professor Rondon de Castro, do departamento de
Ciências da Comunicação da UFSM. Mesmo com a chuva torrencial, cerca de 15
pessoas compareceram.
Além das discussões e debates, um
dos elementos que enriqueceram o
evento promovido pelo sindicato foi a
exposição do trabalho artístico do
professor João Luiz Roth. Na parede do Gerson Fraga (e) e Luciana Montemezzo resgataram aspectos diferentes do conflito
Auditório da SEDUFSM foram
expostas infogravuras relativas a
Federico Garcia Lorca. O poeta e
dramaturgo espanhol foi assassinado
O conflito como um laboratório
Segundo o professor Gerson Fraga, há estudiosos que questionam se o termo
logo no início da guerra civil a mando do correto para designar os enfrentamentos que dividiram a Espanha e levaram a
general Francisco Franco, que após o milhares de mortos entre 1936 e 39, efetivamente se caracterizaria como Guerra
Titi Roth fez exposição de infogravuras conflito, viria a ser o ditador daquele Civil. Isso porque não havia apenas facções nacionais na disputa, mas
sobre Garcia Lorca país. contingentes de estrangeiros em ambos os lados. Entre os nacionalistas, o apoio

As feridas abertas
do governo fascista da Itália e do governo nazista da Alemanha mostrou-se
extremamente importante. Já do lado dos republicanos, o apoio de esquerdistas
do mundo se personificou nas Brigadas Internacionais, que contou até mesmo
O segundo momento do Cultura na SEDUFSM, após
com a participação de brasileiros.
a palestra do professor Gerson Fraga tratou das
Contudo, Fraga destaca que o conflito espanhol acabou se tornando um grande
“feridas” não cicatrizadas pelo conflito. A professora
laboratório para o uso de armamentos e técnicas de guerra que se consolidariam
Luciana Ferrari Montemezzo, do curso de
logo em seguida, durante a 2ª Guerra Mundial. Ele cita o exemplo do bombardeio
Letras/Espanhol da UFSM, apresentou alguns textos de
à cidade espanhola de Guernica por aviões da força aérea alemã. O local, em que
escritores que tratam das fraturas após um conflito que
morreram milhares de pessoas, foi submetido a bombardeios severos ao longo de
durou três anos, mas que até poucos anos atrás era bem
um dia inteiro, com a técnica do “tapete de bombas”. Os horrores de Guernica
pouco discutido no meio intelectual espanhol. O
foram eternizados pela obra do pintor Pablo Picasso.
ditador Francisco Franco faleceu em 1975, mas,
somente mais recentemente começaram a surgir,
conforme Luciana, intelectuais da Espanha dispostos a
“expiar” esse período. REINALDO PEDROSO
Um dos autores resgatados para esse fim, ou seja, Fraga: guerra civil resultou
buscar as raízes de todo o sofrimento enfrentado pelo de uma Espanha ainda
povo espanhol durante a guerra é Alberto Mendéz, atrasada
autor de “Los girasoles ciegos” – Os girassóis cegos.
Mendéz, escritor e ex-militante comunista, faleceu em dezembro de 2004 aos 63
anos. Ganhou um prêmio póstumo em 2005 por esse livro, que em 2008 foi
transformado em filme. “Los girasoles ciegos” é dividido em quatro partes, ou quatro
relatos: “Si el corazón pensara dejaría de latir"; "Manuscrito encontrado en el
- As Olimpíadas têm início na
olvido"; "El idioma de los muertos" e a quarta e última parte, "Los girasoles ciegos". competição para
- Corrida do Ouro.
A OBRA- Para quem se interessar pela obra “Os girassóis cegos”, a internet sediá-las.
disponibiliza algumas opções para que a mesma possa
ser conhecida. Conforme a livraria Cultura, a
publicação possui 160 páginas e teve sua primeira
edição em 2007. Na sinopse que consta na página da
livraria está descrito que o “livro é o regresso às
histórias reais do pós-Guerra Civil Espanhola, narradas
em voz baixa por aqueles que não queriam
simplesmente contar histórias, mas sim falar de seus
amigos, de seus familiares desaparecidos e de ausências
irreparáveis. Histórias dos tempos do silêncio, quando
dava medo alguém saber que sabia de algo. Quatro
versões, sutilmente entrelaçadas, mostram que a
Luciana: intelectuais derrota é a verdadeira protagonista de todas elas, pois,
espanhóis aos poucos foram tantos os horrores que, todos os medos, todos os
vivem "expiação" sofrimentos, todos os dramas, só tinham uma coisa em
comum: os mortos”.
12 OUTUBRO 2009 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES

ART I GO DI CA CU LT U RAL

Livro
Mercedes Sosa: CINE PRIVÊ

guerreira da música
No último dia 4 de outubro morreu García, Fito Páez e Raimundo ibéricos, estavam tão ameaçados
Mercedes Sosa, uma artista argen- Fagner, entre outros, sob o título de pelos regimes fechados das
tina que desde a adolescência canta- amígos mío, corazón americano, políticas imperialistas, ao qual
va, dançava e encenava o folclore da sin fronteras e diversos outros. nosso povo estava submetido.
cultura latino-americana. Porém, foi E é esse o grande momento da Segundo o jornal Correio Brazi-
num contexto de ditaduras militares Mercedes Sosa na condição de liense, para Cristovam Buarque,
que se destacou no movimento de ícone de um movimento. O que ex-reitor da Universidade de
resistência pela via da arte e hoje parece tão demodê, e Brasília e organizador do Festival
incitação da cultura Latino-Americano de
Quem Leu? Pedro Brum Santos (* )
latino-americana. Arte e Cultura, em Editora: Companhia das Letras,
É sabido que na 1989, no qual entre os 2009, 128p.
velha ordem mundial, mais de 500 artistas e Autor: Antonio Carlos Viana
o mundo era dividido ativistas da cultura
em primeiro mundo, latino-americanos ela A ficção contemporânea
segundo mundo e ter- se apresentou, “Ela foi incorpora uma máxima antiga
ceiro mundo. Este últi- como um Che Guevara da literatura: desgraça de pobre
mo compreendia toda da música”. não tem componente trágico.
a América Latina que No Theatro Cine Privê, de Antonio Carlos
Viana, dá preferência a primeira
sofria com o imperia- Municipal do Rio de
pessoa e, com isso, investe
lismo político do pri- Janeiro em 7 de
numa forma de relato
meiro mundo, e re- outubro de 2008, confessional, estratégia que soa
sistia com a utopia Mercedes Sosa foi familiar ao leitor de hoje. Afinal,
ideológica do segundo condecorada com a vivemos um tempo marcado
mundo. Há que se Ordem do Mérito pela exposição da privacidade e,
lembrar que até esse Cultural, 14ª edição, mesmo, da intimidade das
momento, a América que teve como tema pessoas. Rigorosamente, não há
Latina importava qua- central Homenagem a mais segredo nesta época de
se tudo do que o Machado de Assis, blogs e flogs. Viana, porém,
primeiro mundo produzia em assinalando o centenário de morte ausculta uma intimidade que
cultura, e é aí que surge um movi- do maior expoente das letras vem da margem, vagidos
mento de integração e unidade “Cantora nacionais e um dos mais oriundos das franjas da
combinava urbanidade. Rigorosamente,
latino-americana, o da nova canção. expressivos da literatura mundial.
eles se referem à gente que está
O movimento nova canção, ou doçura com a Todos os méritos consensuais
fora do sistema, excluída do
nueva canción, que se consolidou força de uma desta grande artista, que afirmava mundo que conta. Essa é a gente
nas décadas de 1960/70, integrava não cantar apenas por cantar, não
guerreira” que ganha voz nas páginas de
artistas de quase todas as naciona- podem prescindir da forma Cine Privê, algo que, no fundo,
lidades da latino-américa, e absoluta com que enfrentava os pela desconexão com o todo, é
acreditava na unidade do continente palcos nos shows em que se do campo da pornografia –
e manutenção de sua cultura popular propriedade da esquerda intelec- apresentava. A felicidade que tive como apropriadamente sugere o
como resistência política. Já na tual, outrora foi vanguarda da em vê-la cantar na década de 1980, título do livro. Viana é um bom
década de 1980, organizou vários resistência. O folclore, a arte em Santa Maria-RS, marcou em exemplar da ficção que se faz
espetáculos com artistas latino- popular e a cultura de massa, tão minha mente uma imagem hoje, esta que, interessada na
americanos como Milton Nasci- cosmopolita na América latina, paradoxal, na qual ela combinava “vida como ela é”, mexe com a
mento, Pablo Milanés, Teresa simplicidade e doçura com a força nossa condição social não raro
com elementos dos povos nativos,
acomodada na indiferença
Parodi, Chico Buarque, Charly afros e europeus, principalmente de uma guerreira.
diante da miséria e da
ignorância alheias. (* Professor
Rita Inês Paetzhold Pauli do departamento de Letras
Profª Adjunta do Departamento de Ciências Econômicas da UFSM Vernáculas da UFSM)

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