Sei sulla pagina 1di 24

24 JORNAL de TURISMO 8 a 14 de JUNHO de 2009 HISTÓRIA

Viaje pelo tempo através dos teatros


de estilo Luso-brasileiro Págs. 20 e 21

Uma publicação da Aver Editora - 16 a 31 de Outubro de 2009 - Ano I Nº 13 R$ 5,00

DANÇA FESTIVAIS
Ballet Teatro Pluralidade artística é
Guaíra celebra destaque na segunda
40 anos edição do Fiac-BA Pág. 22

INTERNACIONAL
Mina Oliveira fala
sobre sua história e
emociona Hollywood
Pág. 23

Pág. 11
FORMAÇÃO
Núcleo vocacional
apresenta mais de 100
projetos em São Paulo
Pág. 14

POLÍTICA CULTURAL
Manifestações marcam a
troca de coordenador da
Escola Livre de Teatro
Pág. 18

ENTREVISTA
Cristina
Pereira
comemora,

Teatro
nos palcos,
40 anos de

e Internet
carreira
Págs. 8, 9 e 10

Orkut, YouTube, Facebook, MySpace, Twitter...


Não importa a ferramenta, o certo é que a internet
modificou os nossos hábitos diários. Tirar proveito
dos seus benefícios é o grande desafio. A classe
artística e teatral parece ter absorvido muito
bem a filosofia desse democrático
ambiente virtual. Já é possível assistir O ano de 2009 é especial
espetáculos inteiros sem sair de para Cristina Pereira:
60 anos de vida e 40 de
casa. A web está aí. Não profissão, comemorados
na peça “A Tartaruga de
ouse reprimi-la. Darwin”
2 16 a 31 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

o dó lar b aixo
Aproveite C .
oçõ es d a C V
e as prom

Cruzeiro de 4 dias Saída 10/dezembro

A partir de 10x 58 reais


Cruzeiro a bordo do navio CVC Zenith. Roteiro Santos/Búzios/Praia
Privativa/Santos. À vista R$ 580, preço por pessoa em cabine dupla
externa categoria H, já aplicada a promoção do 2o passageiro grátis.
Consulte nossas promoções para os demais navios
e cruzeiros de Natal, Réveillon e Férias.

Os navios da CVC são os únicos que incluem refeições e bebidas a


bordo com sistema tudo incluído. E ainda as crianças viajam grátis.

Acesse: www.agentescvc.com.br ou cvc.com.br Confie nos 37 anos da maior operadora de turismo das Américas.
Prezado cliente: preço por pessoa, somente parte marítima, em cabines duplas, conforme categoria mencionada, taxas de embarque e marítimas não estão incluídas. Preço, data de saída
e condições de pagamento sujeitos a reajustes e mudanças sem prévio aviso. Câmbio promocional US$ 1,00 = R$ 1,79. Oferta de lugares limitada e reservas sujeitas a confirmação. Ofertas
válidas para compras realizadas até 1 dia após a publicação deste anúncio. Parcelamento em até 10 vezes iguais e mensais com cheque, cartão ou boleto bancário sujeito a aprovação de crédito.
As taxas de embarque e gorjetas não estão incluídas e deverão ser paga por todos os passageiros, inclusive crianças. Consulte datas promocionais com nossos vendedores.
Jornal de Teatro 16 a 31 de Outubro de 2009
3
Editorial
Sérgio Vieira / Divulgação

DANÇA
Balé Teatro Guaíra completa
40 anos de história construída
por bailarinos, diretores e Ensaio online
coreógrafos de renome
Pág 11 O teatro parece ter sido uma das últimas expressões artísticas a se
render à internet. Afinal, uma cena filmada não perde a magia presencial
que garante o momento do espetáculo? Discutimos este tema na redação
da única forma possível: online. A equipe do Jornal de Teatro está em seis
cidades diferentes e os colaboradores em dois países distintos. Para ilus-
trar o método que as informações teatrais chegaram às próximas páginas
vamos revelar o processo de fechamento desta edição, apresentando nós
mesmos como personagens.
Depois de uma triagem em e-mails, revistas, sites e livros a equipe
realiza uma reunião de pauta via Skype. Com os colaboradores interna-
cionais o contato mais fácil. Por Orkut, de onde Luciana revela que ficou
impressionada com a qualidade do espetáculo de uma brasileira em Los
Angeles, que foi indicado por uma amiga no Facebook, de uma brasileira
em Los Angeles. Também pelo Orkut, Adriano Fanti contou que está na
Alemanha e gravou entrevistas com alguns dos profissionais mais respei-
Índice tados no mundo dos musicais – matéria que vamos conferir nas próximas
edições. Michel Fernandes prefere o MSN e, por lá, dividiu conosco a
alegria de comemorar sete anos do seu portal Aplauso Brasil.
Gerson Steves já assumiu em sua coluna que tem aproveitado a fun-
ENTREVISTA..................................................8 a 10 cionalidade do Facebook e é pelo chat de lá que trocamos alguns “pen-
samentos insignificantes”. Pausa na edição para decidir o layout do novo
As facetas de Cristina Pereira site do Jornal de Teatro (www.jornaldeteatro.com.br) e para entrevistar o
A comediante abre o coração para o Jornal de Teatro e novo estagiário da redação, contato feito por mensagens diretas do Twit-
conta histórias dos seus 40 anos de carreira generosa ter. As matérias chegam e é hora de baixar fotos do Flickr e Picasa. De al-
guma forma, todas as redes sociais ou serviços de conversa online foram
empregados exclusivamente para troca de informações teatrais.
Mais que na troca de informações e na divulgação, o teatro descobre
REPORTAGEM.............................................12 e 13 uma nova ferramenta técnica a seu favor, seja em interações ao vivo no
Teatro e internet: combinação que dá certo palco ou em registros que podem ser incorporados ao espetáculo (con-
forme a matéria nas páginas 12 e 13). Para responder a pergunta inicial,
Novas experiências no meio virtual mostram que a classe teatral recorro às definições conceituais do querido amigo Michaelis, que nada
encontrou um forte aliado na divulgação e promoção da arte dizem sobre a obrigatoriedade de tempo e espaço na interpretação.

Teatro te.a.tro sm (lat theatru) 1 Casa ou lugar destinado à re-


SALVADOR................................................... presentação de obras dramáticas, óperas ou outros espetáculos pú-
16 e 17 blicos. 2 Circo, anfiteatro. 3 Conjunto das obras dramáticas de um
Conheça Luiz Marfuz autor. 4 Coletânea das obras dramáticas de uma nação. 5 Literatu-
ra ou arte dramática. 6 A arte de compor obras dramáticas ou de
O diretor e professor de teatro da Universidade Federal da Bahia revela representá-las. 7 A profissão de ator ou de atriz. 8 Lugar onde se
sentir-se confortável entre a pesquisa, a prática e a troca de conhecimento verifica qualquer acontecimento notável. 9 Aparência vã, miragem,
ilusão. 10 Obra escrita para instruir sobre certos princípios; exem-
plo, modelo, regra. (...)
HISTÓRIA................................................... 20 e 21 Portanto, cortinas abertas para a interatividade e que essa “aparência
Segredos por trás da arquitetura vã, miragem, ilusão” explore cada vez as fronteiras online!
Reportagem mostra que os teatros de estilo luso-brasileiros têm
em comum não só as fachadas, mas também a importância histórica Rodrigoh Bueno
Editor do Jornal de Teatro
INTERNACIONAL..................................................... 23
Mina Olivera encanta Hollywood
Conheça a história da atriz brasileira que construiu carreira fora
do país e, atualmente, exalta seu valor com “LOL - Latina on the Loose”

Email Redação: Redação Rio de Janeiro: Rua General


redacao@jornaldeteatro.com.br Padilha, 134 - São Cristóvão - Rio de Janeiro (RJ).
CEP: 20920-390 - Fone/Fax: (21) 2509-1675
Arte: Bruno Pacheco, Gabriela de Freitas Redação Brasília: SCS - Quadra 02 - Bloco
Presidente: Cláudio Magnavita e Valeska Gomes D - Edifício Oscar Niemeyer - sala 1101 - Brasília-
Diretor Editorial: José Aparecido Miguel Marketing: Bruno Rangel DF. CEP: 70316-900
Presidente: Cláudio Magnavita Castro (brunorangel@avereditora.com.br) Tel.: (61) 3327-1449
Diretores: Jarbas Homem de Mello, Anderson
magnavita@avereditora.com.br Espinosa e Fernando Nogueira
Administração: Elisângela Delabilia Redação Porto Alegre: Avenida Borges
Vice-presidentes: Redação: Rodrigo Figueiredo (editor-chefe), Rodrigoh de Medeiros, 410 - sala 916 - Centro - Porto Alegre
(elis@avereditora.com.br)
Helcio Estrella Bueno (editor) e Fernando Pratti (chefe de reportagem) (RS). CEP: 90020-023.
helcio@avereditora.com.br Rio de Janeiro - Alysson Cardinali Neto, Colaboradores: Gerson Esteves, Michel Tel.: (51) 3231-3745 / 3061 3483
Daniel Pinton Schilklaper, Douglas de Barros e Felipe Sil Fernandes, Adriano Fanti e Luciana Chama
Anderson Espinosa São Paulo - Carlos Gabriel Alves, Ive Andrade e Redação Florianópolis: Rua Dom Jaime
a.espinosa@avereditora.com.br Pablo Ribera Barbery Correspondência e Assinaturas: Câmara, nº 179 - Sala 506 - Ed. Regency Tower -
Brasília - Dominique Belbenoit, Sérgio Nery e Redação São Paulo: Rua da Consolação, Centro - Florianópolis (SC). CEP: 88015-200
www.avereditora.com.br Adair de Oliveira Junior 1992 - 10º andar - CEP: 01302-000 - São Paulo (SP) Tel.: (48) 3024-3575 / 3024-3571
Porto Alegre - Adriana Machado, Fone/FAX: (11) 3257.0577 Redação Salvador: Rua José Peroba, 275,
Publicações da Aver Editora:
Leonardo Serafim e Letícia Souza Impressão: F. Câmara Gráfica e Editora sala 401 - Ed. Metrópolis, Costa Azul, Salvador /
Jornal de Turismo - Aviação em Revista - JT Magazine Florianópolis - Adoniran Peres e Liliane Ribeiro BA. CEP: 41770-235
Jornal Informe do Empresário - SET - Próxima Viagem Salvador - Paloma Jacobina w w w. j o r n a l d e t e a t r o . c o m . b r Tel.: (71) 3017-1938
4 16 a 31 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

Bastidores
ÚLTIMAS VAGAS! TOM HANKS ARRECADA

Fotos: Divulgação
Peça retrata a importância
Terá início, em novembro, a Oficina de Dramaturgia do Ator, co- do Teatro Trianon, entre DINHEIRO PARA SEU
ordenada pelo ator, diretor e dramaturgo Gerson Steves. A oficina tem as décadas de 1920 e 1930, ANTIGO GRUPO DE
como objetivo desenvolver um espetáculo teatral, tendo por princí- para a dramaturgia brasileira TEATRO
pio a improvisação do ator e a construção da dramaturgia, através de O ator Tom Hanks mos-
estímulos internos e externos. Além disso, visa explorar técnicas de trou que não se esquece de
improvisação e pesquisa para a construção de uma linguagem própria suas origens. Ele esteve em
ao espetáculo fundindo elementos do teatro, da dança e multimídia. Cleveland, nos Estados Uni-
A rotina de pesquisa e treinamento do corpo físico, vocal e criativo do dos, para ajudar a arrecadar
ator também estarão presentes nos encontros que acontecem duas vezes dinheiro para um grupo de
por semana durante o módulo, que dura cinco meses. As aulas acontecem teatro de Ohio, onde deu os
no Espaço do Cineclube Augusta (Rua Augusta 1.239, São Paulo). primeiros passos em sua car-
Gerson Steves tem 25 anos de carreira. É graduado em Pro- reira artística. O grupo precisa
paganda e Marketing pela ESPM e em jornalismo pela Fundação de uma nova sede e o ator de-
Cásper Líbero. Sua formação em teatro iniciou-se no Teatro-Escola cidiu participar de um evento
Macunaíma. Cursou mestrado pelo Instituto das Artes da Unesp. que arrecadasse fundos para o
Atuou em espetáculos de Cacá Rosset, Maria Alice Vergueiro, Ge- novo lar da companhia.
rald Thomas, Grupo XPTO. Dirigiu mais de 20 espetáculos teatrais Hanks declarou que tem
e também atuou como autor e figurinista. Mais informações em boas lembranças de seu pri-
www.gersonsteves.com.br ou (11) 8315.7404 / (11) 7655.7267. meiro emprego na área. Como
a história de diversos atores
CÂMARA APROVA A CRIAÇÃO DO VALE-CULTURA que começaram no teatro, ape-
PARA TRABALHADORES (AGÊNCIA CÂMARA) sar de não ter nenhum dinheiro
Benefício será dado a quem ganha até cinco salários mí- na época, o artista gostava de
nimos e permitirá acesso a produtos e serviços de artes vi- trabalhar durante as madruga-
suais, artes cênicas, audiovisual, literatura, música e patri- “A GERAÇÃO TRIANON” das, quando tinha a função de
mônio cultural. Aposentados também receberão o vale. RETORNA AOS PALCOS DO RIO desmontar os cenários em um
O Plenário aprovou, dia 14 de outubro, o Projeto de Lei 5798/09, Estreia dia 22 de outubro, no Teatro da Casa de Cultura Lau- teatro de colégio, o Lakewood
do Executivo, que cria o benefício. O vale mensal de R$ 50 será ra Alvim, o espetáculo “A Geração Trianon”, de Anamaria Nunes High School, em 1977.
distribuído pelas empresas que aderirem ao Programa Cultura (Prêmio Shell de Melhor Autor em 1988), considerado um dos im- Atualmente, o astro está
do Trabalhador e poderá ser usado na compra de serviços ou portantes textos da dramaturgia brasileira do século XX. A direção longe de ter problemas mone-
produtos culturais, como livros e ingressos para cinemas, teatros é de Luiz Antonio Pilar e Cristina Bethencourt. No elenco de 14 tários e dublará pela terceira
e museus. A matéria precisa ser votada ainda pelo Senado. atores estão Licurgo, Marília Medina, Marta Paret, Marcio Vito, Ro- vez o personagem Woody, na
O texto aprovado é o substitutivo da Comissão de Trabalho, de gério Barros, Rubens Camelo, Tracy Segal, Marcos Damigo, Rodol- aguardada animação Toy Story
Administração e Serviço Público, de autoria da deputada Manuela fo Mesquita, Rael Barja, Julia Deccache, Antonio Alves, Alex Reis, 3, que tem estreia prevista para
D’Ávila (PCdoB-RS). Ele estende o benefício aos trabalhadores André Rocha e o pianista Christian Bizotto. junho de 2010.
com deficiência que ganham até sete salários mínimos mensais.
LLOYD WEBBER ANUNCIA
CARTÃO MAGNÉTICO SEQUÊNCIA DE “O FANTASMA DA
O repasse dos R$ 50 não poderá ser feito em dinheiro e sim, ÓPERA”
preferencialmente, por meio de cartão magnético. O vale em papel O compositor britânico Andrew Lloyd We-
só será permitido quando for inviável o uso do cartão. As empre- bber anunciou, no início de outubro, a esperada
sas poderão descontar do trabalhador até 10% do Vale-Cultura, sequência do musical “O Fantasma da Ópera”,
mas ele terá a opção de não aceitar o benefício. As áreas definidas cuja trama se passa na Ópera de Paris. A sequ-
pelo projeto para uso do vale são artes visuais, artes cênicas, au- ência se passará em um parque de diversões em
diovisual, literatura e humanidades, música e patrimônio cultural. Coney Island, Nova Iorque. A nova montagem,
intitulada “Love never dies” (“O amor nunca
ACESSO RESTRITO morre”), estreará em março, no Teatro Adelphi,
Segundo o IBGE, uma pequena parcela da população tem em Londres. “O Fantasma da Ópera” é um dos
acesso à cultura no País. Apenas 14% dos brasileiros vão re- musicais mais aclamados do mundo.
gularmente aos cinemas, 96% não freqüentam museus, 93% O espetáculo também será apresentado em
nunca foram a uma exposição de arte e 78% nunca assistiram Nova Iorque, a partir de novembro de 2010,
a um espetáculo de dança. e na Austrália, em 2011. A história de “Love
O governo considera alarmante o fato de 90% dos municí- Never Dies” começa uma década após o final
pios não possuírem cinemas, teatros, museus ou centros culturais. do musical original e mostra que o fantasma
Segundo a relatora, o Vale-Cultura “contribuirá, com certeza, teve de deixar a Ópera de Paris para se mudar
para Coney Island, o icônico parque de diver- Dani Luque e Bruno Fagundes se encontram nos
para a reversão desses lamentáveis indicadores”.(Agência Câmara) bastidores do espetáculo “Tamo Junto!”, de Marco Luque
sões do Brooklin, em Nova Iorque.
Jornal de Teatro 16 a 31 de Outubro de 2009
5
Bastidores
COMPLETANDO 20 ANOS, CCBB HOMENAGEIA

Divulgação
DIRETOR REGINALDO LUIZ ANTÔNIO MARTINEZ CORRÊA COM
NASCIMENTO O “THEATRO MUSICAL BRAZILEIRO”
REALIZA OFICINA Em 1989, no primeiro ano de funcionamento do CCBB Rio de
SOBRE A OBRA Janeiro (Centro Cultural Banco do Brasil), era apresentado, no Teatro
DE ARRABAL EM II, o premiado “Theatro Musical Brasileiro I”, do já falecido diretor
SÃO PAULO Luiz Antônio Martinez Corrêa, “o grande crítico da sociedade brasi-
As aulas acontecem no leira”, como era chamado. Agora, em comemoração aos 20 anos do
Sesc Santana, entre os dias local, a peça terá uma nova montagem, com estreia prevista para 28
11 e 15 de novembro, e pre- de outubro. A homenagem reúne nomes estelares. A supervisão é de
tendem realizar uma imer- ninguém menos que Bibi Ferreira e a direção de Fábio Pilar.
são no “Universo Arraba- Luiz Antônio Martinez Corrêa (1950-1987), apesar de ter faleci-
lesco”, criando um breve do ainda jovem, conseguiu seu lugar na história do teatro brasileiro.
panorama sobre sua obra A obra “Theatro Musical Brazileiro”, eternamente contemporânea,
para investigar sua lingua- rendeu-lhe o prêmio Mambembe de melhor diretor, em 1985. Trata-
gem estética, a criação das se de um espetáculo de proporções épicas. A peça abrange o período
personagens e a importân- entre 1860 e 1914, sendo fruto de pesquisa realizada por Luiz com a
cia do texto em seu teatro. atriz-cantora Annabel Albernaz e o pianista Marshall Netherland. O Luciano Chirolli e Otávio Martins em cena no CCBB
Serão realizadas leituras, esforço não foi em vão. Juntos, eles recuperaram libretos e partituras
análise de cenas de textos e CICLO DE AUTORES FRANCESES
de revistas preciosas, burletas e comédias musicais de quase um sécu- CONTEMPORÂNEOS APRESENTA “PAWANA”
debates sobre os temas: Te- lo de teatro para reviver um dos períodos mais populares alcançados
atro do Absurdo, Teatro Pâ- No dia 28 de outubro acontecerá, no Centro Cultural Ban-
pelo teatro brasileiro: o tempo áureo dos musicais. co do Brasil, a leitura dramática do texto Pawana, do autor
nico, a dramaturgia de Fer- Reapresentar uma obra de tais proporções exige profissionalismo
nando Arrabal e o processo francês Jean-Marie Gustave Le Clésio, um dos mais renomados
e artistas de nível. A escolha da equipe foi cuidadosamente elaborada dramaturgos contemporâneos, vencedor do Prêmio Nobel de
de criação do ator, entre para que houvesse integração, sinergia e identificação com o con-
outras questões. Reginaldo Literatura, em 2008. Após a dramatização do texto, que será
ceito, preservando, assim, as principais características do espetáculo. dirigida pelo francês Georges Lavaudant, a plateia é convidada
Nascimento é diretor do Te- Além de Bibi Ferreira e Fábio Pilar, o comando dos bastidores fica
atro Kaus Cia Experimental. a participar de um debate com o elenco (Otávio Martins e Lu-
por conta de Kalma Murtinho (figurino), Analu Prestes (cenário) de ciano Chirolli) e a direção da peça, mediado pelo dramaturgo
Mais informações através Analu Prestes, Claudia Vigonne (coordenação artística), Aurélio de
do telefone (11) 2971-8700. Roberto Alvim. A entrada é gratuita.
Simone (iluminação) e Marcelo Alonso Neves (direção musical).

CIRQUE DU SOLEIL SE ESPETÁCULO INFANTIL “O REI LEÃO”


Acauã Fonseca / Divulgação

Paulo César
PREPARA PARA NOVO COMPLETA DEZ ANOS NO WEST END Peréio e João
ESPETÁCULO NOS EUA O musical infantil da Disney, “O Rei Leão”, marca o seu déci- Velho: pai e
O novo espetáculo do Cir- mo aniversário em Londres, no West End. A estreia aconteceu em filho em
que du Soleil fará sua estreia 19 de outubro de 1999 e, desde então, já foi visto por mais de oito ‘Escuta,
em Chicago, dia 19 de no- milhões de pessoas em mais de 4200 apresentações, com ocupação Zé Mané’
vembro, e em Nova Iorque, média de 93% no teatro. Com esses números, a bilheteria arreca-
no começo de 2010. “Banana dou, aproximadamente, US$ 457 milhões e é um dos espetáculos
Shpeel” é a nova criação do que mais foi apresentado na história do West End.
escritor-diretor David Shiner, Mais de 225 atores de 22 países participaram do elenco, sendo
que terá como estrelas Micha- que 64 crianças já fizeram os papéis do jovem Simba e da jovem
el Longoria, que participou Nala. O produtor e presidente da Disney Theatrical Productions
da produção da Broadway declarou que está “tremendamente orgulhoso” pelo sucesso do
“Jersey Boys”, e Annaleigh musical, que teve produção de Julie Taymor. A produtora com-
Ashford, atriz que tem em pletou dizendo que o que a satisfaz no espetáculo é que ele “ul-
seu currículo musicais como trapassa as barreiras culturais e raciais” e é uma história que fala
“Wicked”. com todos igualmente. PERÉIO COMEMORA 50 ANOS DE CARREIRA COM O
Ainda sobre o elenco, a “O Rei Leão” também está em cartaz em Nova Iorque, Las ESPETÁCULO “ESCUTA, ZÉ MANÉ” EM SÃO PAULO
dupla de sapateadores Jose- Vegas, Tóquio, Hamburgo e Paris, além de uma turnê pela O Sesc Avenida Paulista apresenta, a partir do dia 23 de outubro,
ph e Josette Wiggan, Dmitry América do Norte. Em Londres, a programação segue até dia o espetáculo “Escuta, Zé Mane!”, que comemora os 50 anos de car-
Bulkin, Vanessa Alvarez, Ro- 29 de agosto do ano que vem. Para mais informações: www. reira do ator Paulo Cesar Peréio. A montagem fica em cartaz até o dia
byn Baltzer e Alex Ellis são thelionking.co.uk 29 de novembro e apresenta um texto livremente inspirado em “Lis-
alguns dos outros nomes da ten, little man”. Peréio faz uma releitura das ideias do psiquiatra aus-
equipe que serão dirigidos tríaco Wilhelm Reich, incorporando-as à sua própria personalidade.
Águeda Amaral / Divulgação

pelo criador do espetácu- Na peça, Peréio/Reich concede uma palestra e, no decorrer da


lo, David Shiner, com dire- conversação, é confrontado com seus outros “Eus”; o masculino,
ção musical de Jean-François jovem, e o “Eu” feminino. A direção é de Lenerson Polonini e o
Côte. A direção artística fica elenco conta ainda com João Velho (filho de Peréio) e Neca Zarvos.
por conta de Gilles Ste-Croix
e Guy Laliberté, criador do ÁGORA COMEMORA DEZ ANOS
Cirque du Soleil. RECONSTRUINDO SHAKESPEARE
A estreia em Chicago acon- Como parte das comemorações dos seus dez anos de atividades,
tecerá no Chicago Theater aliada à busca de uma revisão crítica de sua produção nesse período,
e seguirá até 3 de janeiro de o Ágora Teatro apresenta o espetáculo “Reconstruindo Ricardo III –
2010. Depois, o espetáculo irá Parte 1”. A montagem, dirigida e protagonizada por Celso Frateschi,
para o Beacon Theather, em estreia dia 29 de outubro e segue até dezembro. O elenco é formado
Nova Iorque, de 4 de feverei- por Angelo Brandini, Bruno Gavranic, Cintya Chaves, Denise Cecchi,
ro até dia 30 de abril de 2010. Jairo Leme, Mawusi Tulani, Valdir Griçço e Viviane Marques.
Mais informações sobre a peça
e ingressos no site Cintya Chaves e Celso Frateschi: foco em Shakespeare
6 16 a 31 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

Editais
Edital do TCA vai selecionar dois espetáculos para próxima temporada
Um dos escolhidos terá temática infanto-juvenil e o outro, temática livre. A temporada será no Centro Cultural de Plataforma, em Salvador
Por Paloma Jacobina

Fotos de David Glat


Encerra-se, dia 6 de novem-
bro, o prazo das inscrições para
o edital de Montagem do TCA
Núcleo (Núcleo de Teatro
do Teatro Castro Alves), que
traz inovações para o período
2009-2010 e recursos previstos
de R$ 200 mil para cada um
dos projetos contemplados.
Além de ampliar o número de
produções, que passou de uma
para duas, o edital deste ano
também levará uma de suas
montagens para ser exibida no
subúrbio ferroviário de Salva-
dor, no Centro Cultural de Pla- Momentos “Jeremias, o Profeta da Chuva”, peça contemplada com o prêmio do TCA Núcleo, em 2009, e que ficou quase dois meses em cartaz
taforma.
Com temática livre, o espe- bém determinam que cada inclusive nomes internacionais se dois meses em cartaz, na Sala ção de Carmem Paternostro.
táculo terá temporada no local peça deverá ter, no mínimo, que serão convidados para mi- do Coro, sempre de sexta-feira Nesses 15 anos, espetáculos de
com o intuito de envolver pes- cinco atores. Os produtores nistrar as oficinas, a exemplo a domingo. O TCA anunciou sucesso como “Volpone”, de
soas da comunidade nas ativi- interessados poderão se inscre- da consagrada cenógrafa e es- que 2.889 espectadores con- Ben Jonson, com direção de
dades artísticas das oficinas, ver nos dois projetos, mas so- critora inglesa Pamela Howard. feriram o trabalho, que teve, Fernando Guerreiro, e “Ham-
segundo o diretor do TCA, mente serão contemplados em O edital do TCA foi lança- pela primeira vez no teatro let”, de Shakespeare, com dire-
Moacyr Gramacho. O novo uma das categorias. Devido ao do pouco mais de uma sema- baiano, sessões especiais com ção de Arildo Déda, em 2005,
edital do TCA Núcleo está dis- formato ampliado, serão du- na depois do encerramento da áudio-descrição e tradução em têm marcado a história do teatro
ponível no site do TCA (www. plicadas as oficinas de atores, montagem contemplada pelo libras para deficientes visuais e baiano. “Policarpo Quaresma”,
tca.ba.gov.br) e da Fundação direção, produção, cenário, fi- projeto do ano passado, “Je- auditivos. de Lima Barreto, direção de Luiz
Cultural (www.fundacaocultu- gurino e iluminação, envolven- remias, o Profeta da Chuva”. O projeto existe desde 1995, Marfuz, por exemplo, levou sete
ral.ba.gov.br). do um número ainda maior de Escrito e dirigido por Adelice quando foi inaugurado com a indicações e cinco prêmios no
As regras deste ano tam- profissionais das artes cênicas, Souza, o espetáculo ficou qua- montagem “Otelo”, com dire- Braskem de Teatro 2008.

Marketing Cultural
Braskem: levando festivais do Sul ao Nordeste do Brasil
Porto Alegre Em Cena e Prêmio Braskem de Teatro recebem apoio da empresa, que, desde 2002, apóia os projetos culturais do País
Por Leonardo Serafim mente, o Teatro Castro Alves
Divulgação

recebe a nata dos artistas do


Desde a sua fundação, em Estado para premiar as me-
2002, a Braskem, uma das prin- lhores obras. Ao todo são dez
cipais empresas petroquímicas categorias que dividem um
do Brasil, sempre abraçou os significativo valor monetário
projetos culturais do País e le- e o reconhecimento da popu-
vou incentivo a diversos festi- lação. Na última edição, que
vais em solo nacional. Em pou- aconteceu em abril deste ano,
co mais de seis anos de vida, a os vencedores do segmento de
empresa virou referência na melhor espetáculo adulto e de
arte e tem proporcionado a melhor espetáculo infanto-ju-
chance de milhares de artis- venil receberam um prêmio no
tas mostrarem seus trabalhos. valor de R$ 30 mil, enquanto as
Uma das áreas que mais recebe demais categorias foram con-
investimento é o teatro. templadas com R$ 5 mil cada
Segundo a assessoria de im- uma, além do troféu.
prensa da Braskem, o objetivo Fugindo dos palcos, mas
dos patrocínios é abrir opor- não das artes, a Braskem tam-
tunidades e reconhecer novos bém leva seu incentivo a ou-
atores e diretores, além de va- tros campos da cultura nacio-
lorizar a cultura tradicional das nal. Ainda na capital baiana,
comunidades, principalmente Entrega do Prêmio Brasken, em 2009: a meta é promover a interatividade entre as encenações e o público acontecem o Prêmio de Aca-
as que estão localizadas ao re- demia de Letras, voltada para
dor das unidades da marca, pisaram nas casas culturais da Patrice Chéreau. edição 2009 foi “O Sobrado”, escritores e poetas, e o Prêmio
como acontece com o Porto cidade durante o evento. Um Além de financiar o festi- peça criada pelo grupo Cer- Braskem Cultura e Arte, que
Alegre em Cena e com o Prê- pouco desse sucesso deve-se val, a Braskem promove, no co, promovida pelo Departa- apoia a produção para autores
mio Braskem de Teatro, na a Braskem que, patrocinando evento, o Prêmio Braskem em mento de Arte Dramática do inéditos nas áreas de música,
Bahia. o Em Cena há quatro anos, Cena, que contempla as pro- Instituto de Artes da UFRGS literatura, artes plásticas e cine-
Reconhecido como um dos foi uma das responsáveis pelo duções locais e provoca inte- (Universidade Federal do Rio ma. Já o Fronteiras do Pensa-
grandes festivais do Brasil, o crescimento da festa. Graças ratividade entre as encenações Grande do Sul). mento Braskem, projeto lança-
Porto Alegre Em Cena, que ao apoio da petroquímica, a e o público. Criado em 2006, Em Salvador, a empresa do em Porto Alegre, em 2006,
chegou a sua 16º edição este capital gaúcha teve a honra de ele tem como intenção dar destaca-se pela vastidão de visa promover encontros com
ano, já reuniu mais de 690 pe- receber nomes consagrados de visibilidade aos novos talen- projetos, tendo como carro- troca de ideias para o desenvol-
ças, de 32 países, em sua lon- todo o mundo, desde o dra- tos do Rio Grande do Sul e chefe o Prêmio Braskem de vimento da sociedade, e, recen-
ga trajetória. Estima-se que maturgo norte-americano Bob premiar as melhores apresen- Teatro, festa que já virou tra- temente, foi adotado pelas ci-
pelo menos 700 mil gaúchos Wilson até o diretor francês tações. O grande vencedor da dição na capital baiana. Anual- dades de São Paulo e Salvador.
Jornal de Teatro 16 a 31 de Outubro de 2009
7
Prêmios
Fotos: Divulgação

A montagem “ Viúva, porém honesta” foi uma das mais aplaudidas

Renata Tavares (à dir.) foi a melhor atriz coadjuvante do festival “ Os filhos do Brasil”, de Oswaldo Montenegro, levou seis prêmios inclusive o de melhor espetáculo

Com votação popular, Festival de Teatro do Rio


premia os destaques da 16ª edição
Mais de dois mil espectadores puderam debater e eleger seus espetáculos favoritos

Por Felipe Sil tato com essa arte e esse era espetáculo, e os prêmios foram Tavares) com a montagem “Vi- do Rio tem fomentado cultura
o nosso objetivo”, comemora importantíssimos para a carrei- úva, Porém Honesta”, dirigida e isso é imprescindível”, frisa o
A premiação da 16ª edi- Anunciata. ra da peça”, afirma Leandro. por Dudu Gama. ator e diretor Cláudio Hanley,
ção do Festival de Teatro do Três espetáculos dividi- O grande nome da noite, O XVI Festival de Teatro que fez parte do júri.
Rio foi marcada não só pela ram a premiação desta edição porém, foi Oswaldo Montene- do Rio contou com o apoio Após cada espetáculo reali-
emoção dos vencedores, mas, do festival. A peça “Filhos do gro. Ele venceu nas categorias dos governos municipal e es- zado no Festival de Teatro do
também, pela confirmação Brasil”, dirigida por Oswaldo Melhor Iluminação, Melhor tadual do Rio, além da Funarj Rio havia um debate. Segundo
do sucesso do evento. Foram Montenegro, levou seis prê- Direção, Prêmio Especial pela (Fundação Anita Mantuano de o escritor Sérgio Fonta, um
mais de dois mil espectadores mios. Já “Relações – Peça Qua- Trilha Sonora e Melhor Espe- Artes do Estado do Rio) e de dos debatedores dessa edição,
durante os dez dias de apre- se Romântica”, com direção táculo pelo júri oficial e pelo outros órgãos e empresas. o objetivo é pontuar o trabalho
sentação, na Casa de Cultura de Leandro Muniz, venceu em voto popular, o que rendeu à Especialistas e público te- que foi encenado e esclarecer a
Laura Alvim. A diversidade de quatro categorias. A montagem Cia. Mulungo (que encenou cem elogios às peças e ao mo- plateia. “O debate é uma boa
gêneros apresentados no palco “Viúva, Porém Honesta”, diri- “Filhos do Brasil”) uma pre- delo do festival ponte entre artistas e público,
e a integração entre público e gida por Dudu Gama, ganhou miação dupla em dinheiro. O Festival de Teatro do Rio ajudando a conscientizar e a
artistas (aqueles podiam votar três prêmios. O prêmio de Me- “Participar do festival foi uma é, há 16 anos, importante fer- agregar. O Festival de Teatro
e debater seus espetáculos fa- lhor Texto foi para a monta- alegria enorme, pois tirou os ramenta de fomento à cultu- do Rio merece todo o nosso
voritos) contribuíram para o gem “Relações – Peça Quase grupos teatrais de uma solidão ra teatral na cidade. Não é só aplauso”, celebra.
sucesso do evento, cuja direto- Romântica”, que também ar- que asfixia. Tivemos contato apenas a mistura de gêneros Uma mostra de como a
ra, Anunciata de Almeida, co- rebatou os prêmios de Melhor com colegas, com profissio- das apresentações que chama a integração entre público e os
memorava a realização mais do Ator (Marcio Machado), Me- nais da área, com outros tipos atenção do público, mas, tam- artistas foi essencial para o su-
que bem-sucedida do festival. lhor Atriz (Cecília Hoeltz), e de visão. Além disso, a visibi- bém, os inúmeros debates e cesso do evento está nas pala-
“Essa edição foi um suces- Melhor Ator Coadjuvante (An- lidade que o festival propor- oficinas gratuitas com signifi- vras de Júlia Albuquerque, uma
so. Tivemos casa cheia todos derson Cunha). Para Leandro ciona é muito importante para cativos nomes da cena teatral. das centenas de espectadoras
os dias, com lotação esgotada, Muniz, diretor de “Relações os grupos iniciantes. Me sinto “Este ano, tivemos gêneros que marcaram presença em vá-
e pessoas de fora querendo as- – Peça Quase Romântica”, a profundamente honrado em muito diferentes como comé- rios dias do festival. “Me sinto
sistir aos espetáculos. Acredito participação no festival foi uma receber todos esses prêmios”, dias, musicais, textos de nomes muito feliz, já que meu voto foi
que o evento cumpriu o seu pa- importante vitrine para a com- declarou Oswaldo Montene- como Nelson Rodrigues, o para o espetáculo vencedor. O
pel de dar a oportunidade para panhia. “Espero que a gente gro. Já o grupo Cia. do Foco maior dramaturgo desse País, festival é ótimo, as peças são
que todos possam ter acesso à consiga fazer uma temporada foi o vencedor nas categorias e Oswaldo Montenegro, que muito bacanas e é tudo de gra-
experiência do teatro. Muitos maior depois desse sucesso no Cenografia (Cachalote Mat- produz um outro estilo de te- ça. Qualquer um pode assistir.
espectadores do festival estive- festival. Como o evento é gra- tos), Figurino (Ricardo Rocha) atro. Esse encontro é muito in- O público só tem a agradecer
ram pela primeira vez em con- tuito, muita gente assistiu ao e Atriz Coadjuvante (Renata teressante. O Festival de Teatro essa oportunidade.”
8 16 a 31 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

Entrevista

“O teatro é mais
Por Alysson Cardinali Neto
Fotos: Divulgação

Engraçada, divertida, cômica, brincalhona... Ok, Cris- Cristina em ação na peça


“Tantã”, com direção de
tina Pereira é tudo isso. Afinal, em 40 anos de carreira, um de seus melhores ami-
tornou-se uma das mais famosas comediantes do País. gos, Elias Andreatto, em
Mas essa paulistana “da gema” é muito mais do que uma 1994, na Casa da Gávea
expert na arte de fazer rir: talentosa, dedicada e apaixona-
da (pela vida e pela profissão), a atriz, com 60 anos (mui-
to) bem vividos, usa seu talento não só para divertir, mas
para fazer pensar. Não nega as origens (“Acho que sou
comediante, o que é uma definição bastante abrangen-
te”), mas, ao comemorar – no palco – as quatro décadas
de carreira, com a peça “A Tartaruga de Darwin”, mostra
ser muito mais do que, “apenas”, uma humorista de su-
cesso. Feliz, esta leonina com luz própria – e que não pre-
cisa provar mais nada a ninguém – abre seu coração para
o Jornal de Teatro. Fala sobre televisão (onde começou a
brilhar e guarda algumas más recordações), mas declara
seu amor, mesmo, pelos palcos (“O Teatro, junto com mi-
nha família, é a minha vida”). E faz uma revelação: “Que-
ria fazer mais cinema, mas ninguém me convida”, lamen-
ta a atriz, que, entre uma apresentação e outra, no Teatro
do Sesi, ainda encontra tempo (e fôlego) para co-dirigir a
Casa da Gávea – um centro de artes cênicas fundado por
ela, Paulo Betti, Eliane Giardini, Antônio Grassi e outros
atores – e dar aulas de teatro. Com vocês, Cristina Pereira:

Jornal de Teatro – Qual a na realidade, começou no dia de concentração nazistas, o CP – Timidez, medo no iní- dré Valli (queridíssimo), nosso
emoção de completar qua- de meus 60 anos (9 de agosto), bombardeio de Guernica, cio, pois vinha de um colégio grupo na Casa da Gávea em
tro décadas de profissão? quando aproveitamos para reu- entre outros eventos da hu- de freiras salesianas e era uma Dona Rosita: Rubens Araújo,
Que lições tira destes 40 nir a equipe, os amigos e fazer manidade nos séculos XIX menina ultra comportada. De- Duse Naccaratti (saudosa), Le-
anos de carreira? uma leitura do texto, dentro do e XX. Como é interpretar pois, fui driblando as outras onardo Vieira e Nidia Ferreira.
Cristina Pereira – A emoção ciclo de leituras da Casa. Harriet? Que mensagem dificuldades que surgiram. Era
de ter chegado até aqui poden- você tenta passar ao viven- um verdadeiro malabarismo, JT – É, a lista e grande...
do sobreviver do meu trabalho. JT – Como é trabalhar e ciar uma tartaruga? Como é mas eu acabava sempre de pé CP – Sim. E tem mais: Teresa
Ver quantas boas oportunida- contracenar com Paulo Bet- a trama da peça? e pronta para a próxima. Montero, que escreveu comi-
des tive, quantas lutas, algumas ti (ele dirige e atua na peça, CP – Sempre opinamos ao re- go “Angela Sant’Anna”, Hele-
poucas tristezas, mas essas são que também tem no elenco presentar um texto desse por- JT – Ao olhar para trás, na Varvaki, Lucinha Cordeiro,
mais do trabalho na televisão. Vera Fajardo e Rafael Pon- te e conteúdo. Procuro fazer quais os momentos que Rafael Camargo, Ronald Tei-
O teatro é mais generoso. zi)? tudo com a máxima verdade e mais te marcaram (positiva xeira, Anderson Cunha, que
CP – Somos amigos há mais emoção. Acho que o texto do e negativamente)? nos acompanha até hoje na
JT – Qual o segredo para se de 20 anos, quase 30. Eu Mayorga fala sobre a “evolu- CP – Os momentos sempre “Tartaruga”, muito especial.
chegar a uma data tão espe- acompanho o trabalho, a car- ção monstruosa” do homem, foram as pessoas na minha for- Moacyr Góes, Julio Bressa-
cial? reira do Paulo desde a EAD que seria uma grande tristeza mação e convívio artístico. Para ne, Hector Babenco, Gustavo
CP – Trabalhar e acreditar. (Escola de Arte Dramática da para Darwin, se estivesse vivo. não cometer injustiças (risos): Paso, Jô Bilac, Verônica Ma-
USP), onde também fiz minha Há uma análise crítica da pos- Dr. Alfredo Mesquita, Myriam chado (fono), Carmen Luz,
JT – Como pretende come- formação, no final dos anos tura do homem hoje. A peça Muniz, Ademar Guerra, Celso agora na “Tartaruga”, Vera
morá-la? Imaginava, um dia, 1960. Temos afinidades polí- fornece rico material histórico, Nunes, Emilio De Biasi, Mario Fajardo e Rafael Ponzi, sócios
celebrar 40 anos de carreira? ticas, ideológicas e artísticas, com o qual podemos refletir Masetti, Naum Alves de Souza, e companheiros na Casa da
CP – Nunca pensei nisso. Só além de uma história de vida sobre o que aconteceu. É ex- Paulo Medeiros de Albuquer- Gávea, ao lado do Paulo Betti,
este ano. Acho que a melhor com algumas semelhanças. tremamente mobilizante para que, lá em São Paulo, e ainda de quem já falei, e muitos ou-
comemoração é no palco, cla- Somos uma espécie de irmãos, mim contar toda essa história, meus amigos Vic Militello, Ri- tros que me escapam mas que
ro, fazendo esse texto do Juan pois também discutimos mui- todas as passagens, principal- cardo Blat, Stela e Teresa Frei- me ensinaram muito.
Mayorga e com esse elenco de to. mente as das duas guerras. tas, Ronaldo Ciambroni. Rafael
amigos. Com saúde. Se puder- Ponzi, Paulo Betti, Eliane Giar- JT – Você, ao longo da car-
mos, vamos viajar e mostrar o JT – “A Tartaruga de Da- JT – Vamos entrar no túnel dini, Isa Kopelman, Carmo So- reira, demonstrou seu ta-
trabalho para outras plateias. rwin” é uma fábula sobre do tempo. Como foi o início dré, Ana Carolina (diretora de lento não só na televisão,
Será um luxo! a História contemporânea, de sua carreira? O que te le- cinema), Flavio Marinho (aqui mas no teatro e no cinema.
onde realidade e fantasia se vou a ser atriz? no Rio, fiz três espetáculos Qual desses meios mais te
JT – Por que uma das for- misturam na figura de sua CP – Resolvi ser atriz no iní- dele, grande amigo com quem agrada? Por quê?
mas escolhidas para festejar personagem (Harriet), uma cio da adolescência, em São aprendi e aprendo muito), o CP – Gosto dos três. No teatro
foi no palco, encenando “A tartaruga que Charles Da- Paulo. Soube da EAD pelo Teatro dos Quatro, Sergio Bri- temos mais autonomia, mas gos-
Tartaruga de Darwin”? rwin trouxe das Ilhas Ga- jornal e fui atrás. O que me le- to, Yara Amaral (saudosa), Ary to também de cinema e televisão.
CP – Foi uma ideia do Paulo lápagos, está em processo vou foi a paixão por cinema e Fontoura, José Wilker, Diogo Depende do que estamos fazen-
Betti, que viu o espetáculo em de evolução para a forma pelas histórias que eu lia quan- Vilela, Louise Cardoso, Wolf do. Tudo tem que ter qualidade
Madri e ficou muito entusias- humana e, graças à sua lon- do criança. Maya, Jorge Fernando, Chico mesmo que não tenha muita.
mado. Quando a Casa da Gávea gevidade, presenciou algu- Tenreiro (grande amigo, assim
montou o projeto, tivemos a mas das mais emblemáticas JT – Quais os maiores obs- que chegamos ao Rio), Elias JT – É inegável, porém, que
ideia de incluir a comemoração passagens históricas – a táculos que você enfrentou Andreato (me dirigiu em “Tan- a televisão (principalmente
dos 40 anos de teatro. A festa, revolução russa, os campos para se firmar na profissão? tã” e me ensinou muito), An- no período em que você foi
9
generoso”
Jornal de Teatro 16 a 31 de Outubro de 2009

Entrevista

Caras e bocas O teatro é uma das paixões de


em “Aurora da Cristina, que também brilha
Minha Vida” , no cinema e na televisão
outra peça de
muito sucesso
protagonizada
pela atriz

contratada da Rede Globo) se da direção daquele núcleo JT – Como foi a experiência JT – Quais projetos?
te deu maior visibilidade. em renovar comigo, apesar do nos demais trabalhos televi- CP – Ainda não quero dar JT – Além de atriz, você é
Como define seu período na sucesso do meu trabalho. Eu sivos que você fez em outras muitos detalhes, mas preten- sócia fundadora da Casa da
“Venus Platinada”? Quais fazia um espetáculo de tea- emissoras, como Manchete, do fazer, na Record, um pro- Gávea, um Centro Cultural
recordações traz, por exem- tro, “Corações desesperados”, SBT e Record? grama voltado para o público com aulas de teatro, além
plo, da personagem Fedora com Ary Fontoura e direção CP – Foram bons trabalhos. feminino, um programa bem de projetos e discussões de
Abdala, a Fefê, de “Sassari- do Jorginho, o Jorge Fernan- Na realidade, comecei na TV humorado. Farei esse progra- filmes, livros e vídeos. Fale
cando”, e os famosos qua- do, que tentaram, junto com Tupi, em 1979, com uma ma com a Stella Freitas, uma sobre o projeto, iniciado em
dros que fez no TV Pirata? o Silvio de Abreu, me ajudar novela chamada “Dinhei- grande amiga, com a qual maio de 1992, e que, desde
CP – Foram trabalhos bons, na renovação do contrato na ro vivo”, do Mário Prata, trabalho há 40 anos, desde então, só cresce (em 2001,
boas oportunidades que tive, Globo. Mas não foi possível. em que fazia a Garapa, uma quando ela tinha o grupo tea- a Casa da Gávea recebeu o
com qualidade e inovação. Até corintiana como eu. Estava tral “Amanhã”, em São Paulo. Prêmio Estácio de Sá na ca-
hoje as pessoas falam da Fedora JT – No início da nossa grávida e passava horas, à Aliás, temos também um pro- tegoria Artes Cênicas).
de “Sassaricando”, uma novela conversa, você falou que as noite, decorando a escalação jeto para teatro, para ser exe- CP – A Casa da Gávea é a nos-
do Silvio de Abreu que sempre poucas tristezas que teve na do Corinthians em diversas cutado após a temporada da sa trincheira cultural, como
aproveitou muito o meu humor. carreira foram provenientes épocas, auxiliada pelo Rafa- “Tartaruga”. É um trabalho definiu o Paulo (Betti). Nesses
Ele escreve as personagens pen- do trabalho na televisão. el Ponzi, com quem eu era também voltado para o públi- 17 anos de trabalho fizemos
sando no ator que interpretará e Como assim? casada e que entende tudo co feminino, que está sendo muita coisa boa. Mas só nos
tudo fica muito natural. A TV CP – (séria) Ah, prefiro não fa- de futebol. Na Manchete, escrito pela Marta Góes e de- damos conta quando paramos
Pirata foi um marco na televi- lar muito sobre isso. Não quero fiz uma novela escrita pelo verá ser lançado no segundo para arrumar os arquivos, para
são, pois inovou o humor na te- me aprofundar neste tema. Por José Louzeiro, de muito su- semestre de 2010. dar uma geral, ou quando al-
linha, era maravilhoso. Fizemos isso disse que o teatro é mais cesso, “Corpo Santo”, e, no guém de fora, importante, re-
a novela e o início da TV Pirata, generoso. Minhas tristezas SBT, um seriado do Marcos JT – Qual sua maior virtude conhece o valor desse centro
tudo junto, era uma loucura. E, com a televisão fazem parte do Caruso e da Jandira Martini, como atriz? Qual o defeito? cultural, como aconteceu no
à noite, eu ia para o teatro fazer passado, não vale a pena falar “Brava gente”, dirigido pelo CP – Acho que a verdade, a Projeto Memória do Teatro
“O Amigo da Onça”, que foi, de um período tão distante. Roberto Talma. Tive o pra- entrega ao trabalho seria a Brasileiro e o Flavio Migliac-
de certa forma, o embrião da zer de voltar a trabalhar com qualidade. O defeito, a tensão cio falou da gente com a maior
Casa da Gávea. JT – Devido ao seu grande minha mestra, Myriam Mu- que provoca o exagero. propriedade. Isso nos deixou
sucesso não só no TV Pira- niz. Na Band, fizemos uma muito felizes.
JT – Aliás, por que você saiu ta, mas em novelas de cunho novela “O campeão” e, mais JT – De todas as persona-
da Rede Globo (em 1991)? mais humorístico, você fi- recentemente, participei de gens que você interpretou JT – Outro exemplo de sua
Comenta-se que foi por cou marcada por fazer pa- “Floribella”, uma novela na televisão, qual te deu dedicação à arte é o fato de
questões políticas envolven- peis cômicos (exemplo dis- voltada para o público ado- mais trabalho? E mais sa- você ser professora de tea-
do sua participação no qua- so foi o seu sucesso em TV lescente. Atualmente, sou tisfação? Qual você esque- tro. Por que e como passa
dro “O Povo Pirata”, do hu- Pirata). Como você se define contratada da Record, onde ceria? seus ensinamentos à futura
morístico TV Pirata, e o fato como atriz? estou muito feliz e fiz “Vidas CP – A que deu mais traba- geração?
de você ser simpatizante do CP – Acho que sou comediante, opostas”, do Marcilio Mora- lho foi a Yeda, de “Elas por CP – Gosto muito de dar aulas,
PT. O que houve realmente? o que é uma definição bastan- es, além do seriado “A Lei e o elas”, minha primeira novela de fomentar ideias e trabalhos.
CP – Era uma outra época. te abrangente. Acredito que os Crime”, também do Marcílio. na Globo. Satisfação foi Fefê, Isso aconteceu, algumas vezes,
Foi um pouco de tudo e o fato comediantes possam fazer qual- Tenho, pela primeira vez, um de “Sassaricando”. Não es- na Casa da Gávea, como em
de terminar um contrato e não quer personagem, desde que se- contrato de longa duração e queceria nenhuma. Todas me 92/94, com os atores da tercei-
haver um convite ou interes- jam questionadores e inquietos. projetos com a televisão. serviram como aprendizado. ra idade que resolveram formar
10 16 a 31 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

Entrevista
um grupo chamado Revivendo.
Montamos “Morte e Vida Seve-
rina”, foi um trabalho especial
e alguns se profissionalizaram e
estão na ativa. Ou em 98/2000,
com a montagem de “Dona
Rosita”, a partir de uma oficina
sobre Lorca, que originou um
pequeno e sólido grupo que,
mais tarde, fez “Entre o Céu e
o Inferno”, onde escrevi e dirigi,
dividindo a escrita com a Teresa
Montero e a direção com a Hele-
na Varvaki. Depois houve outras
oficinas, como as denominadas
“A comédia levada a sério”.
“O Amigo da Onça”, com grande elenco, outro sucesso de Cristina O humor irônico, uma das marcas da atriz na peça “A Mente Capta”
JT – Mas como é sua meto- A CARREIRA DE CRISTINA
dologia para ensinar teatro? Consagrada no teatro, Cristina Pereira atuou em mais de 20 peças como
CP – Procuro fazer junto com atriz e diretora. No cinema, trabalhou com Hector Babenco, Bruno Barreto,
os alunos, estimulá-los, aprovei- Júlio Bressane e Ana Carolina. Mas ficou famosa com as personagens cômicas
tar o que eles têm e me forne- que interpretou na tevê, como a marcante Fedora Abdala, a Fefê, de Sassa-
cem como material de trabalho. ricando, e os inúmeros quadros que fez no TV Pirata, ambos da Globo. Seu
início de carreira foi na extinta TV Tupi, na novela “Dinheiro vivo”, do Mário
JT – E como é o seu retorno? Prata. Cristina é sócia fundadora da Casa da Gávea, atriz, diretora e professora
CP – Fico muito cansada nesses de teatro. Atuou nas peças “O Círculo de Giz Caucasiano”, de Bertolt Brecht;
cursos e oficinas, mas me envol- “A Missa Leiga”, de Chico de Assis; “Equus”, de Peter Shaffer; “Mahagonny”,
vo demais com o trabalho. Sou, de Bertolt Brecht; “Jogos na hora da Sesta”, de Roma Mahieu; “A Aurora
também, muito questionadora e da minha vida”, de Naum Alves de Souza; “A mente capta”, de Mauro Rasi;
exigente comigo, pois acho que “Foi bom, meu bem?”, de Luis Alberto de Abreu; “Assim é, se lhe parece”,
muitos cursos são picaretagem. de Luigi Pirandello; “Sábado, Domingo e Segunda”, de Eduardo De Filippo;
Acho que poucos são bons pro- “O Amigo da Onça”, de Chico Caruso; “Corações desesperados”, de Flávio
fessores porque é muito difícil de Souza; “Tantã”, de Rafael Camargo; “Salve Amizade”, de Flávio Marinho;
mesmo. Há coisas que não se “Dona Rosita, A Solteira”, de Federico Garcia Lorca; “Entre o Céu e o In-
ensinam, não dá. E para dar au- ferno”, de Teresa Montero e Cristina Pereira; “Por que Você Não Disse Que
las há que se saber muito. Me Amava”, de Vera Karam; “Abalou Bangu”, de Flávio Marinho; e “Alzira
Power”, de Antonio Bivar.
JT – Quem você destaca nes- Na televisão atuou em “Elas por Elas”, de Cassiano Gabus Mendes; “Guerra
ta nova safra de atores e atri- dos Sexos”, de Silvio de Abreu; “Vereda Tropical”, de Carlos Lombardi; “Sas-
zes surgidos ultimamente? saricando”, de Silvio de Abreu; e “TV Pirata” (estas na Rede Globo); “Corpo
CP – Gostei demais de ter tra- Santo”, de José Louzeiro (TV Manchete); “Brava Gente”, de Marcos Caruso
balhado com uma atriz muito e Jandira Martini (SBT); “O campeão” e “Floribella (Bandeirantes); “Vidas
talentosa, a Lidiane Ribeiro. Ela Opostas” e “A Lei e o Crime”, ambos de Marcílio Moraes, (TV Record). No
era a protagonista de “Desespe- teatro dirigiu “Morte e Vida Severina”, com atores da terceira idade na Casa
radas”, um texto do Jô Bilac. da Gávea; “Grude, pocket show”; “Histórias de cronópios e de famas”; “O
Desejado”; “Amigas”, “Dona Rosita, a solteira”, uma co-direção com Antonio
JT – Qual recado você daria Grassi; “Querida Mamãe”, em Lisboa; “Entre o Céu e o Inferno”. Rir e fazer rir, rotina nos 40 anos de carreira da humorista
para esta geração?
CP – Persistência, disciplina,
humildade (não exagerada,
culpada, mas reconhecedora
das falhas), envolvimento com
o trabalho e dedicação. Quan-
do fiz, ano passado, “Alzira
Power”, ouvi uma frase dita
pelo Gustavo Paso, ótimo di- Dupla afinada: Cristina e Paulo
retor, que “o teatro te dá o que Betti em “A Tartaruga de Darwin”.
você dá para ele”. É isso. Amizade de quase 30 anos, com
afinidades políticas, ideológicas e
artisticas. “Somos uma espécie de
JT – Como, hoje, seria a irmãos, pois também discutimos
Cristina Pereira em início muito”, diz a atriz.
de carreira?
CP – Mais estudiosa, atenta,
exigente e ousada. “A TARTARUGA
DE DARWIN”
JT – Falamos muito de tele- LOCAL:
visão, mas o que é o teatro Teatro Sesi (Avenida Graça
na sua vida? E o cinema? Aranha, nº 1 - Centro / RJ.
CP – O Teatro, junto com Tels: (21) 2563.4164 e
minha família, é a minha vida. 2563.4166.
Cinema, uma experiência mui- HORÁRIOS:
to boa, principalmente nos fil- de sexta-feira a domingo,
mes da Ana Carolina. Queria às 19h30
fazer mais cinema, mas nin- A ATRIZ NO PALCO DURAÇÃO:
guém me convida. A peça “A Tartaruga de Darwin”, do espanhol Juan Mayorga, comemora os 40 anos de carreira 80 minutos
de Cristina Pereira. A atriz celebra a data (no Teatro Sesi, até 15 de novembro), ao lado dos amigos e INGRESSOS:
JT – Quais os planos para o sócios da Casa da Gávea Paulo Betti (acumulando as funções de ator e diretor), Vera Fajardo e Rafael R$ 30 e R$15 (meia entrada)
futuro? Ponzi (também tradutor do texto). A peça marca, ainda, a volta de Paulo Betti, que tem se dedicado CAPACIDADE:
CP – Muitos, sempre. Aliás, não só à televisão, mas ao cinema, à direção teatral e aos palcos como ator. Este ano, aliás, além das 350 espectadores
estar na Casa da Gávea, supõe quatro décadas profissionais de Cristina, comemora-se os 200 anos do do nascimento de Charles CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA:
que se tenha muitos projetos, Darwin, autor de “A Origem das Espécies”, livro definitivo para o pensamento científico acerca do 14 anos
muita energia e fé para tocá- desenvolvimento da vida e a origem do homem. As idéias de Darwin foram inspiradoras para Mayor- TEMPORADA:
los. Essa é a filosofia do Paulo ga na criação do texto que originou “A Tartaruga de Darwin”. até 15 de novembro
Betti e a nossa.
Jornal de Teatro 16 a 31 de Outubro de 2009
11
Sérgio Vieira
Dança
Cores e movimento no palco do
“Guairão”. Quatro décadas do
Balé Guaíra será comemorado
com livro no fim do ano

Balé Teatro Guaíra comemora 40 anos


Bailarinos, diretores e coreógrafos de renome marcam a história da companhia curitibana, que acumula repertório respeitável de peças
Por Liliane Ribeiro o Corpo de Baile da Fundação cos e criou coreografias como Para Ricardo Garanhani, chucou, graças a Deus, mas
Teatro Guaíra, como era cha- “Sagração da Primavera”, “Ar- há 19 anos na companhia, o várias pessoas já caíram por
De repente eles chegaram mado na época, foi criado pelo chipel 3”, “Variações de Pagani- bailarino é, por si só, um ser causa disso”, relembra a atual
lá, diante do palco enorme do governo do Paraná, após con- ni”, “Da vida e da morte”, “O humano disciplinado, pois já diretora Carla Reinecke.
Guairão. Os pés espremidos curso público para contratação Grande Circo Místico”, sucesso é criado dessa forma. “Existe Uma apresentação de balé
dentro da sapatilha, a admira- dos bailarinos. Os primeiros duas vezes em turnês, e “Len- a cobrança profissional, mas clássico depende de muitos fa-
ção e respeito por aquele lugar. diretores foram Ceme Jambay das do Iguaçu”, que ganhou re- acredito que a cobrança seja tores para que tudo corra con-
Deixaram para trás seis horas e Yara Cunto. centemente uma nova versão de mais individual. Como já so- forme o esperado. Dependen-
diárias de suas vidas para estar Com o passar dos anos, os Rui Moreira para comemorar o mos criados assim, nesse sis- do do tamanho da coreografia
ali, movimentando o imaginá- palcos da companhia abrigaram aniversário do Balé Teatro Gua- tema de muita disciplina, de e do tempo para produzi-la,
rio do público e buscando a diretores, coreógrafos e baila- íra. Depois da morte de Trin- muito esforço, acabamos sen- um espetáculo pode precisar
perfeição dos movimentos do rinos de renome nacional e in- cheiras e a ida de sua esposa, Iza- do pessoas muito dedicadas”, da contribuição de muitas pes-
corpo. Numa casa que não é a ternacional. Contudo, para a ex- bel Santa Rosa, para a direção, diz. Garanhani é arquiteto e já soas, como é o caso de “Ro-
deles, mas que, mesmo assim, bailarina e atual diretora do Balé outros diretores passaram pelo recebeu o Troféu Gralha Azul meu e Julieta”, que teve cerca
chamaram-na de lar. Paixão. Os Teatro Guaíra, Carla Reinecke, BTG, como Jair Moraes, Marta – primeiro prêmio oficial a ho- 200 colaborações. “Quando
bailarinos são movidos por isso. o balé local começou a ser reco- Nejm e Cristina Purri. Diversos menagear os artistas e técnicos o coreógrafo não é da cidade,
O Balé Teatro Guaíra é movido nhecido sete anos depois de sua coreógrafos convidados, como do Teatro no Paraná – cinco ele vem, fica 15, 20 dias, mon-
por isso. Depois de quatro dé- criação. “Depois que Hugo De- Luis Arrieta, Tíndaro Silvano e vezes na categoria adereço. ta uma parte do espetáculo e
cadas de empenho e dedicação, lavalle, diretor da época, coreo- Márcia Haydée também fizeram depois volta para casa dele.
a companhia, hoje considerada grafou “Giselle”, nós estreamos parte da história do Guaíra. Em O PALCO Enquanto isso, ensaiamos, até
uma das mais importantes do no Paraná e depois fizemos 1999, Suzana Braga assumiu e a Há algo de mágico no pal- ficar bem afinado. O “Romeu
País, comemora o aniversário uma extensa turnê: São Paulo, companhia se dividiu em duas. co do Teatro Guaíra. Maior e Julieta”, que é uma peça mais
de criação como manda o figu- Brasília, Porto Alegre e vários Foi criado o Guaíra 2 Cia. De que muitos do Brasil, o Guai- longa (duas horas), demorou
rino: com um repertório com outros lugares. Foi aí que as Dança, que segue a linha de rão é o auditório mais co- quase cinco meses para ficar
mais de 130 coreografias. pessoas começaram a falar do intérprete-criador, na qual o nhecido da casa, com 2.173 pronto”, revela a diretora.
Desde o início, a compa- Balé Clássico Guaíra. Inclusive, coreógrafo pede aos bailarinos lugares. Mas é o tablado que
nhia acumulou respeitável re- foi nessa época que aumentou que façam pesquisa e tragam impressiona. “Na época que PROJETOS PARA
pertório, com obras de expres- a quantidade de bailarinos para sugestões para a composição eu era bailarina, veio para O FUTURO
sivos nomes, e transformou a balés desse porte”, revela. O es- dos movimentos da coreogra- cá um rapaz contratado. Ele No final deste ano, será lan-
dança na própria alma do Tea- petáculo “Giselle” estreou com fia. O G2 foi assumido, desde estava começando. Era a pri- çado o livro sobre os 40 anos
tro Guaíra. O teatro surgiu na a bailarina argentina Mônica sua criação, por Carla Reinecke. meira companhia profissional do Balé Guaíra, organizado
década de 1950, época em que Panader como protagonista e Para ela, o contato com outros dele. Daí, começamos a fazer por Cristiane Wosniack, ex-
Curitiba via nascer uma evo- depois teve Ana Botafogo no coreógrafos também é essen- aula no estúdio e no primeiro bailarina do BTG, professora
lução cultural sem preceden- papel-título. cial. “É importante a troca de ensaio de palco que tivemos de História da Dança na FAP
tes com o governo de Bento A direção de Carlos Trin- informação, pois isso sempre – foi a primeira vez que viu e professora de dança contem-
Munhoz da Rocha Netto, um cheiras, coreógrafo português dá uma reciclada. O mais im- aquele palco enorme – ele porânea. Para o ano que vem,
visionário que previa a reali- de renome internacional, tam- portante, porém, é, na direção, ficou encantado e andava fa- a companhia pretende fazer
zação de grandes óperas no bém é considerada um marco conseguir manter o bailarino lando: ‘Que maravilha!’ Ele turnês dos espetáculos novos:
palco daquele que se tornaria na história da companhia. No animado, trabalhar bem a parte falava e ia andando para trás, “Romeu e Julieta”, “Lendas
um dos mais importantes tea- período de 1979 a 1993, Trin- técnica e artística. Isso acho que olhando tudo, até que acabou das Cataratas do Iguaçu” e o
tros do País. Somente em 1969 cheiras remontou vários clássi- a gente tem conseguido”, conta. caindo no fosso. Não se ma- “Quebra Nozes”.
12 16 a 31 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

Reportagem

Teatro
Fotos: Divulgação

a um
clique
Por Bruno Pacheco de grupos nacionais até então vistos
apenas nos palcos, mostra que o mun-
Grace: “Nós ainda inventaremos”

Insana”. Todos esses saíram dos pal-


cos, acumularam milhões de acessos e
em debate um dos grandes males do
mundo virtual: a incerteza quanto a
Paulinho

Está cada vez mais difícil precisar o do do teatro está de olho nas possibili- uma legião de seguidores que divulga- veracidade dos conteúdos.
quanto é essencial o uso da internet no dades oferecidas pela internet. É a tec- ram através de e-mails, blogs e sites ou- “Eu vi que ninguém estava inte-
dia a dia das pessoas, das empresas e nologia como uma oportunidade de se tros trabalhos dos respectivos grupos. ressado na maconha. Pensei que eu ia
das instituições. Parece clichê, mas tal divulgar e se aproximar do público. Como consequência, salas de teatro lo- pegar toda essa moçada interessada
necessidade abriu novo debate a respei- A democrática internet dá chance tadas a cada apresentação. na maconha, mas não. A maior parte
to do acesso a essa tecnologia. Discute- a qualquer um de conseguir seus 15 A utilização da web e redes sociais das pessoas estava na dúvida se eu era
se, atualmente, não só políticas eficien- minutos de fama, o que torna a busca para divulgação pelas companhias, atriz ou se a personagem era real, se eu
tes de inclusão, já que o computador pela popularidade uma verdadeira ba- grupos e produções teatrais aumenta era a personagem. Porque, até então, o
populariza-se em larga escala, mas, talha. Grace Gianoukas, idealizadora, a cada dia, seja por orkut, facebook, YouTube estava hospedando vídeos da
principalmente, os hábitos de compor- diretora e atriz do espetáculo “Terça myspace etc. No ano em que a inter- festinha de aniversário do filho, aquela
tamento para se conviver em harmonia Insana”, um dos grandes sucessos da net completou 40 anos de existência coisa... E eu trouxe algo mais elabora-
com o mundo virtual. Isso porque a de- rede, acredita que a internet pode ser (a data foi comemorada no dia 2 de do. Ou então parecia que realmente era
pendência da internet deixou usuários muito mais explorada. “Nós ainda setembro), a novidade é o Twitter. Es- um flagrante meu. Eu mesma comecei
na corda bamba entre a necessidade e descobriremos e inventaremos mi- tima-se que 15 milhões dos 1,5 bilhão a discutir o que era ser atriz para mim”,
o vício. Afinal, o que não se pode fazer lhões de novos recursos. Por enquan- de usuários de internet do mundo já revela Maria Alice.
pela internet? to, estamos diante do infinito, sem se renderam à proposta do microblog: Fugir dos fakes – perfis falsos – e
Alheios a essas discussões, desen- bússola. É a corrida do ouro. Quem responder a simples pergunta “O que das informações incorretas é o grande
volvedores e produtores de conteúdo chegar primeiro, ganha. Foi dada a você está fazendo?” em 140 caracte- desafio imposto pela web. Buscar fon-
querem mesmo é criar soluções e no- largada, cada um corre para um lado res. O Twitter popularizou-se rapida- tes seguras e selecionar o conteúdo é
vas ferramentas para otimizar tarefas e não sabemos para onde estamos nos mente não só por ser um diário virtu- o caminho para não pisar nas “fezes”.
diárias, disseminar informações e en- encaminhando. Podemos achar ouro al, mas, também, por ser um espaço A atriz Jussara Freire sabe bem o que
treter. A internet oferece um leque de ou fezes..”, ironiza. para apresentar ideias e ideais. é isso. No Wikipédia, a enciclopédia
possibilidades, seja para simplesmente Quando o site de vídeos YouTu- O sucesso na internet não é uma virtual, sua biografia consta que ela é
convidar um amigo para uma festa ou be surgiu, há quatro anos, era difícil exclusividade das stand ups e grupos natural de Campo Grande, no Mato
mesmo assistir a uma peça teatral. É imaginar que a sensação daquele mo- de comédia. Amadores, artistas, tea- Grosso do Sul. Jussara, no entanto,
isso mesmo. Já é possível assistir pe- mento pós-orkut, torna-se-ia todo o tros e companhias iniciantes também afirma que é paulista. “Muita gente
ças teatrais inteiras com exclusividade universo de oportunidades no qual se usam de sites e redes sociais para auto acha que isso é verdade e se pauta pela
e ao vivo sem sair de casa. É preciso revelou. Rapidamente, ouro e fezes se promoção. E a coisa dá certo. A atriz informação que está na net. Não sou
apenas ter uma boa conexão. espalharam pela rede. E no pote por Maria Alice Vergueiro, por exemplo, matogrossense”, diz.
Essa é a proposta inovadora de trás do arco-íris estavam as esquetes virou hit com sua atuação no polêmi-
projetos como o “Teatro para Al- teatrais. “Hermanoteu”, personagem co vídeo “Tapa na Pantera”, na qual CADA UM NO
guém” e a iniciativa da Companhia da Cia de comédia Os melhores do a veterana artista expõe uma suposta SEU QUADRADO
Silenciosa, de Curitiba (ver quadro). Mundo, “Traficante Viado”, sucesso relação com o uso da maconha. Em Dentro do vasto universo oferecido
A classe teatral, que viu sua arte se es- do grupo de stand-up comedy Dez- entrevista ao Jornal de Teatro, em ju- pelas mídias sociais, cada um elege o
palhar através do site de vídeos You necessários, e a “Irmã Selma”, a freira nho, Maria Alice deixou clara suas in- recurso virtual mais adequado ao seu
Tube, graças a personagens cômicos mau-humorada do espetáculo “Terça tenções com o vídeo, além de colocar objetivo. E tem quem prefira todos. O
Jornal de Teatro 16 a 31 de Outubro de 2009
13
Reportagem
Lauro Sollero João Caldas

o Serra fez sucesso na internet com “Traficante viado” Grupo Barbixas de Humor credita o sucesso ao You Tube “Doido” ficou em cartaz no site Teatro para Alguém

grupo Ato de Teatro-Educação de São a ascensão da internet. A mensagem que o públi- EXPERIÊNCIA AO VIVO
TERÇA INSANA: MIX DE AÇÕES VIRTUAIS
Paulo encontrou no Orkut um ponto Sucesso nos palcos e na web, “Terça Insana” co transmite com estas atitudes é que não há mais O ator Elias Andreato estreou no teatro virtual
de encontro entre os atores, além de viu a popularidade dos seus personagens e inte- espaço para intermediários neste ramo e, se algum seu espetáculo solo “Doido”, em setembro, em
ter um feedback de suas produções. grantes expandir-se com a chegada do Youtube. profissional ainda almeja viver de arte e entreteni- apresentação ao vivo. Foi a primeira vez que uma
“As principais notícias e aconteci- Segundo Grace, o Terça não é só um espetáculo de mento, terá que rever uma série de paradigmas e peça esteve em cartaz no palco real e virtual.
mentos a que os atores devem estar humor. Ela esclarece que o Terça Insana possui três se adaptar às novas ferramentas que a grande rede
a par invariavelmente nos chega, pri- frentes de trabalho e cada uma delas usa ferramen- oferece”, encerra. GRUPO CURITIBANO EXIBE ESPETÁCULO
tas de internet diferentes: Projeto Terça Insana, a AO VIVO NA INTERNET
meiramente, por Orkut. Recentemen- JORNAL DE TEATRO NO TWITTER A Companhia Silenciosa, do Paraná, é mais
Terça Insana Produções Artísticas e o show Terça In-
te, decidimos iniciar um blog no qual sana. “Para quem se interessa pelo nosso trabalho O twitter é a bola da vez do mundo virtual e uma uma a utilizar as novas tecnologias para levar a
pudéssemos apresentar um pouco e quer ter acesso às informações originais sobre o febre que não para de crescer no Brasil. Produções sua arte para o maior número possível de ex-
mais a respeito do grupo. A proposta que é o Projeto Terça Insana, é só acessar nosso teatrais, grupos e artistas aderiram ao bloguinho e pectadores. Tanto que o grupo, que realizou
é, além de servir como um meio de site oficial (www.tercainsana.com.br). Lá, é possí- apresentam, em primeira mão, suas agendas e tra- uma polêmica e divertida participação no Fes-
divulgação rápido e permanente, de- vel encontrar toda a nossa história, os objetivos, balhos. O Jornal de Teatro também está no twitter e tival de Curitiba, em março deste ano, estreia,
positar um pouco da vivência de cada as diretrizes e a abrangência do campo de atuação possui, atualmente, cerca de 1200 seguidores que no próximo dia 13 de novembro – no palco e
do Projeto. As empresas interessadas em oferecer recebem o link das matérias no site oficial da publi- na web –, o espetáculo Burlescas.
ator, conforme o processo de criação patrocínio ou em contratar nossos shows também cação – www.jornaldeteatro.com.br. Para a equipe Trata-se de uma releitura da trajetória do
se dá e surge a disponibilidade de se podem conhecer a fundo nossa proposta artística e do jornal, o Twitter ainda tem outra função. Esta re- Teatro Burlesco – apresentação teatral que
testemunhar, por escrito, e disponi- de entretenimento”, frisa. portagem, por exemplo, utilizou alguns personagens consiste em uma paródia ou sátira – através
bilizar para a comunidade. Também Ela explica que a parte executiva é a Terça In- e grupos contactados através do microblog. Por isso, dos tempos. Na montagem, um espetáculo
como um espaço para divulgar fotos sana Produções Artísticas que, segundo a diretora, não deixe de seguir o Jornal de Teatro e, quem sabe, multimídia, com ingredientes de crítica social,
e vídeos que possam auxiliar a do- não sobrevive sem a internet. A ferramenta auxi- colaborar em nossas próximas edições. ironia, reflexão e entretenimento em perfor-
cumentação da trajetória do grupo”, lia na troca de informações e no fechamento de mances de dança, esquetes, projeção de vídeo
contratos. Já o show Terça Insana é o espetáculo WWW.TEATROPARAALGUÉM.COM.BR e música eletrônica. “É uma revisitação do
conta a diretora Ana Cláudia Segadas. em si, onde os personagens podem ser vistos, ao O “Teatro para Alguém” é a experiência mais burlesco. O espetáculo segue a história desse
Eles também utilizam o Youtube.com vivo. “A equipe de criação do show utiliza a inter- complexa e integrada quando se trata de teatro e estilo teatral e ganha características nacionais,
e o Twitter. net como ferramenta de pesquisa de conteúdo, na internet. Criado pela atriz, autora e diretora Renata como o teatro de revista e o teatro de rebolado,
Já a Companhia Barbixas de Hu- busca de referências e resgate de tesouros cultu- Jesion, o site disponibiliza espetáculos para serem até chegar ao que temos nos dias de hoje”, ex-
mor, que realiza o espetáculo Impro- rais que auxiliam na formatação dos espetáculos visualizados a qualquer hora e de qualquer lugar, gra- plica Léo Glück, um dos atores do projeto.
vável, um dos campeões de acesso da trupe, que se renovam a cada mês”, acrescenta. tuitamente. É a personificação da ideia de ir ao teatro A Companhia Silenciosa faz parte do
Grace atribui o sucesso das esquetes do grupo sem sair de casa. Ou melhor, entrar na casa. O site Movimento de Teatro de Grupo de Curitiba
atual, também creditam o sucesso foi formatado como uma casa e os espetáculos se e desenvolve um ambiente de pesquisa e
na internet ao lançamento do primeiro DVD que,
nas bilheterias ao YouTube. “Usamos coincidentemente, saiu no período em que o Youtu- dividem entre os cômodos. produção artística que se tornou referência
muito o site. Atualmente, é a nossa be se tornava febre entre os usuários. “São ações Com apenas dez meses de vida, o site já recebe no teatro do sul do Brasil. A peça inédita e
ferramenta mais forte. Mas também que tiveram total iniciativa dos fãs da Terça Insana, cerca de 800 visitas por dia. Em tempos de estreia, com seis horas de duração será apresentada
usamos o nosso site, mailing... O You- sendo que muitos têm o universo virtual como uma esse número pode chegar a duas mil. Aproximada- no Espaço Cultural 92 Graus (rua Desembar-
Tube faz com que as pessoas vejam extensão natural de suas vidas. É a maneira que mente, 500 pessoas acompanham as apresentações gador Benvindo Valente, 280) e contará com
um pouco do nosso trabalho antes de algumas pessoas encontram para prestigiar seus ao vivo. Na última sexta-feira foi a estreia de “Me- transmissão simultânea através da página da
ídolos, de mostrar aquilo que admiram para os lhor que a Clarisse Lispector”, de Heloisa Pait. trupe na internet (www.companhiasilencio-
ir ao teatro. No site as pessoas conhe- As produções permanecem em cartaz durante um sa.com). O espetáculo será em novembro,
amigos, não importando em que parte do mundo
cem a gente um pouco mais”, explica este amigo esteja. A Terça Insana entende que mês. Mas o internauta pode acessar peças que já nos dias 13, 20 e 27 e em dezembro (dias
Daniel Nascimento, um dos membros isso é um processo natural, pois o relacionamento saíram de cartaz. É só ir até o porão da casa, onde as 12, 17 e 19), sempre a partir das 23h. Por
da trupe. do público com o artista mudou radicalmente com apresentações ficam armazenadas. Douglas de Barros
14 16 a 31 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

Formação Rodrigo Netto

INTERAÇÃO E CONTINUIDADE NAS MOSTRAS DO

Núcleo Vocacional em São Paulo


Secretarias de Cultura e Educação apresentam o resultado dos Projetos Dança, Música e Teatro Vocacional

Desde 2001, o projeto vocacional de Teatro forma pessoas interessadas em entrar em contato com a arte, sem fazer distinção entre amadorismo e profissionalismo

A cidade de São Paulo re-


cebe, entre os dias 1º e 29 de “NA EDIÇÃO 2009, MANTEMOS A
novembro, mais de 100 mostras
públicas gratuitas dos proje- MISSÃO DE PRIORIZAR PROJETOS QUE
tos de Teatro, Dança e Música,
distribuídos em 67 diferentes PRIVILEGIAM UM ENCONTRO REAL ENTRE
pontos. Todos os grupos foram
orientados nestas linguagens e se CULTURA E EDUCAÇÃO, PRINCIPALMENTE
apresentarão com o objetivo de
promover a relação entre comu-
nidade, equipamentos e projetos, NAS SUAS ESSÊNCIAS DE BASES ”
compartilhando experiências e
processos para mostrar os resul- to sempre foi descentralizar as a missão de priorizar projetos
tados e favorecer o intercâmbio ações de arte-educação, com o que privilegiam um encontro
entre os grupos. As mostras, intuito de difundir o exercício real entre cultura e educação,
todas com recomendação etária de arte por toda a cidade, so- principalmente nas suas essên-
livre e com duração de cerca de bretudo nas regiões periféricas, cias de bases”, disse Expedito
90 minutos, são eventos de cará- onde o acesso a espetáculos de Araújo, coordenador do Núcleo.
ter artístico destinados a expor e qualquer natureza ainda é inci-
compartilhar, junto ao público, piente. Além da formação na O ARTISTA-ORIENTADOR
acontecimentos cênicos (acom- linguagem escolhida, o partici- O profissional contratado
panhados de formas e procedi- pante do projeto recebe orien- para atuar como artista-orien-
mentos diversos de apreciação) tações para expandir o apren- tador no Projeto Vocacional,
resultantes dos processos desen- dizado. No caso de teatro, há além de possuir comprovada
volvidos pelo Núcleo Vocacio- companhias que nasceram do experiência artístico-pedagógi- Em 2007, a dança também passou a ser comtemplada pelo Núcleo
nal ao longo do ano. projeto e se profissionalizaram. ca, precisa realmente identificar-
O projeto de Teatro Vo- Os participantes da área de dan- se com o material de trabalho: Patricia Guifford (Cia São Jorge NÚMEROS DOS PROJETOS
cacional surgiu em 2001. Em ça também já deram alguns pas- a arte e a ação cultural. É jus- de Variedades), Mauricio Len- O número crescente de ins-
2007, foi a vez da Dança ser sos importantes neste sentido. tamente por isso que o Voca- castre (Cia dos Isights), Claudia critos no projeto é um reflexo
contemplada. Pautado pelo en- Foi a partir de duas experiên- cional preza a pluralidade de de Souza (Cia Danças), Fernan- do acolhimento da iniciativa
contro entre cultura e educação cias vitoriosas que surgiu o pro- formações artísticas em grupos do Machado (Cia Stacatto de por parte da sociedade. O nú-
de forma continuada, o Núcleo jeto Música Vocacional, lançado de pesquisa continuada e expe- Dança), Luis Ferron (Núcleo mero de integrantes dos gru-
Vocacional atravessou os anos em 2008. Assim como nos dois riências pedagógicas, para pro- Luis Ferron), Wellington Du- pos orientados praticamente
formando pessoas interessa- projetos iniciais, a ação é coor- porcionar aos artistas-vocacio- arte (Núcleo Zélia Monteiro), dobrou de 2006 para 2007, de
das em entrar em contato com denada por artistas-orientadores nados um diálogo amplo com a Pedro Peu (Núcleo Omstrab), 370 pessoas para 610 artistas
a arte, sem fazer diferenciação selecionados por meio de edi- criação cênica contemporânea, José Leonel (Centro Experi- vocacionados, chegando a 980
entre amadorismo e profissio- tal público de chamamento. Os auxiliando na ampliação dos mental de Música SESC Con- em 2008. O número de atendi-
nalismo. Quando foi implanta- profissionais coordenam ativida- olhares sobre o mundo. solação), Ana Claudia César mento atingiu seis mil cidadãos
do, o Projeto Teatro Vocacional des que acontecem em equipa- Nesta edição, em diálogo (Grupo As Choronas), Robson de forma direta e 25 mil indire-
visava incentivar a produção mentos da Secretaria Municipal com a cena cultural paulistana, Lourenço (Prof. Dança Fac. tamente. A programação com-
teatral e transformá-la em fer- de Cultura, como o Centro Cul- com coordenação geral de Ex- Anhembi Morumbi) Matteo pleta está disponível no site www.
ramenta para compreensão da tural da Juventude e bibliotecas pedito Araujo, artistas como Bonfitto (Prof Artes Cênicas cultura.prefeitura.sp.gov.br
realidade, pois o participante públicas e também nos oito Luciana Schwinden (Teatro da Unicamp), Ivan Delmanto, Cas-
desta ação passava a ser agente novos Centros Educacionais Vertigem), Gabriela Flores (Cia sio Santiago, Soraya Aguillera, MAIS INFORMAÇÕES:
tanto na criação artística quanto Unificados (CEUs), administra- da Mentira), Marcelo de Andra- Ana Andreatta, Wilma de Sou- Secretaria Municipal de Cultura
na elaboração de pontos de vis- dos pela Secretaria Municipal de de (Os Fofos), Paulo Celestino za, Ana Roxo, Zina Filler, So- Departamento de Expansão Cultural
ta sobre o entorno, a partir de Educação. “A trajetória do Nú- (Grupo XIX de Teatro), Da- lange Borelli, Deca Madureira, Divisão de Formação
uma leitura crítica e reflexiva da cleo Vocacional é marcada por goberto Feliz (Folias), Silvanah entre outros, são orientadores Núcleo Vocacional
realidade. constante criação e transforma- Santos (Cia Os Satyros), Ana dos processos que estarão nas Tel. (11) 3397-0166 e 0167 /
Um outro foco do proje- ção. Na edição 2009, mantemos Flavia Chrispiniano (IVO 60), mostras públicas. (11) 9848-0255
Jornal de Teatro 16 a 31 de Outubro de 2009
15
Formação
David Glat Ximena Roza Divulgação

A Bahia abrirá suas cortinas para peças com pluralidade artística, como as montagens Jeremias (foto à esquerda), Diciembre (foto central) e L’ Effert de Serge ( foto à direita)

FIAC-BA chega a segunda edição visando a pluralidade artística


Por Daniel Pinton Schilklaper
Dalton Valério

A partir do próximo dia 23,


a Bahia abre suas cortinas para
o Fiac-BA 2009 (Festival Inter-
nacional de Artes Cênicas da
Bahia), em busca de uma cada
vez maior pluralidade artística,
com produções nacionais e in-
ternacionais. Até o dia 31 de ou-
tubro, serão 26 montagens com
artistas de companhias de sete
países, além do Brasil: a França,
com “L’ Effert de Serge” e “La
Prix, La Porte”; o Chile, com
“Neva” e “Diciembre”; o Se-
negal, com “J’accuse”; a Dina-
marca, com “Orô de Otelo”; a
Holanda, com “Bull Dancing/
Urro de Omi Boi”; a Alemanha,
com “Jardim das Delícias”; e os
Estados Unidos, com “La Prix,
La Porte”. Entre os nacionais, a
capital baiana recebe criações de
São Paulo, Rio de Janeiro e Rio
Grande do Sul, numa diversida-
de que inclui o cruzamento de
hip-hop e dança contemporânea,
como o “H3”, e de ilusionismo
e teatro, como o “Além da Mági-
ca”; trabalhos de clown, como o
“A Noite dos Palhaços Mudos”;
e centrados na investigação de
uma dramaturgia moderna e da
interpretação, como “Rainha(s),
Duas Atrizes em Busca de um
Coração”, “In On It” e “Comu-
nicação a Uma Academia”.
O festival, no entanto, não se
resume a apresentações de espe-
táculos diversos. A iniciativa in- O espetáculo “In on it”, com Fernando Eiras e Emílio de Mello, é uma das atrações do Fiac-BA, depois de uma boa temporada no Rio de Janeiro
clui atividades de formação e re-
flexão, como oficinas, palestras, A provocação e a inovação às uma espécie de espetáculo-ma-
encontros e lançamento de livro, quais a diretora se refere não fal- nifesto, no qual propõe que se O Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia será palco de uma
além do Lounge Fiac Oi, um es- tam à peça que, emblematicamen- “vomite” os excessos a fim de homenagem ao ator e diretor baiano Arildo Deda, que completa 70 anos de
paço de convivência que engloba te, abre o festival, dia 23, às 20h, avaliarmos o que de fato quere- vida e está se aposentando da escola de Teatro da UFBA, no auge da sua
outras linguagens artísticas. “O no Teatro Castro Alves, só para mos redeglutir. A partir da noite maturidade criativa. O projeto tem o apoio da Secretaria de Cultura e de alu-
sucesso da primeira edição trou- convidados: “Regurgitofagia”. da abertura, o Fiac-BA se espa- nos e professores da UFBa, que realizarão uma leitura dramática do texto de
xe alegria, mas veio acompanha- Nela, o ator e autor Michel Mela- lha por 16 palcos diferentes. Luiz Marfuz e que será interpretado pelo próprio Arildo Deda. A leitura de A
do de muita responsabilidade. med lança mão do cruzamento de “O público deve esperar Última Seção de Teatro, com direção de Marfuz, acontece dia 29, no Teatro
Assumimos, desde o princípio, várias linguagens, como o teatro, a uma programação diversificada Martins Gonçalvez, às 19h. Em seguida, em novembro, a peça estreia, no
poesia falada, o stand-up comedy, e com um olhar bastante es- Teatro Vila Velha, com exibição nos dias 27, 28 e 29, seguido por seções 4,
tentar trazer para a Bahia uma
5 e 6 de dezembro.
programação voltada para o que sua performance e as artes visuais, pecial para o trabalho do ator.
está acontecendo no mundo, em para discutir a sobrecarga de estí- Muitos desses espetáculos têm
termos de experimentação estéti- mulos do mundo contemporâneo elenco reduzido. Isso não foi
ca e de linguagem. Continuamos e a relação que a sociedade de um critério, mas em um ano
SERVIÇO: de 18 a 20 de outubro, os ingressos para o festival serão vendidos
com o mesmo espírito e com- consumo estabelece com a cul- de incertezas, pode ter nos in- a preços promocionais de R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia), exclusivamente na
prometimento, pautados pela tura. Através de uma interface fluenciado indiretamente. Con- bilheteria do Teatro Castro Alves (das 12h às 18h) – Tel: (71) 3117-4899.
busca de espetáculos de qualida- tecnológica, cada reação sonora tudo, o que pautou a escolha No dia da apresentação, a venda de ingressos se dará exclusivamente nas
de, provocadores e inovadores”, da plateia (risos, aplausos, tosses foi a qualidade”, explica Felipe bilheterias dos teatros. Durante o Fiac, o valor de qualquer ingresso é de R$
enfatiza Nehle Franke, codireto- etc.) é captada por microfones de Assis, lembrando que o fes- 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Mais informações com Beto Mettig: (71) 9112-
ra do Fiac-BA, que coordena o e transformada em descarga tival ainda ampliou de 23 para 6782, Joceval Santana: (71) 9975-8368, Jean Cardoso: (71) 8803-2894 ou
evento em conjunto com Felipe elétrica sobre o corpo do ator/ 26 a oferta de atrações, em rela- em www.fiacbahia.com.br.
de Assis e Ricardo Libório. autor. Assim, Melamed constrói ção à primeira edição.
16 16 a 31 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

Salvador

A alegria triunfa sobre a dor.


O teatro triunfa sobre o horror


Por Paloma Jacobina

Fotos: Divulgação
Sentado em um dos bancos do pátio do antigo casarão da Es-
cola de Teatro da UFBA (Universidade Federal da Bahia), em Sal-
vador, o diretor e professor de teatro Luiz Marfuz dava uma última
É quase
olhada no projeto de mestrado de um dos alunos da instituição. Era
final de tarde de uma véspera de feriado nacional prolongado e a uma
única data disponível na atribulada agenda desse baiano que, hoje,
é respeitado não só por seu trabalho como diretor, professor e es- condenação
critor, mas, também, por desenvolver projetos como o programa
educacional Arte, Talento e Cidadania, do Liceu de Artes e Ofícios fazer teatro.
da Bahia. Marfuz foi co-autor e diretor do espetáculo e projeto
pedagógico “Cuida Bem de Mim” (há 11 anos em cartaz) e acredita
que está nesse nicho de mercado a oportunidade de trabalho para a
Uma bela
maioria dos diretores e atores brasileiros. Na semana da entrevista
para o Jornal de Teatro, Marfuz tinha se dividido entre as aulas condenação.
que profere na escola, um programa na homenagem que organi-
za para outro professor da UFBA (prestes a se aposentar), Arildo E você tem


Deda – e que terá leitura livre no FIAC (Festival Internacional de
Artes Cênicas), que acontece em Salvador, em outubro, e a estréia
de um espetáculo montado especialmente para celebrar o aniversá-
de cumprir
rio da Escola de Administração da UFBA. É assim todos os dias.
Entre a pesquisa e a prática, ao transitar entre os extremos da arte, esta pena
Marfuz se sente confortável. Com a mesma segurança que domina
as práticas de teatro, ele defende as pesquisas e a transferência de com muito
conhecimento. “O saber teatral é fundamental como norte de uma
experiência para o ator”. Acadêmico que nunca largou os palcos, prazer
esse mestre em Comunicação e Culturas Contemporâneas, doutor
em Artes Cênicas, traça um panorama do teatro baiano, fala das
possibilidades de formação de atores e do futuro. Os teatros de vanguarda e experimental são defendidos pelo diretor

Jornal de Teatro – Você co- JT – Mas por que você ha- JT – Você chegou com uma este pensamento. Não se trata a prática, mais preparado
meçou sua carreira de teatro via escolhido administração formação bem diferente do de um grupo de acadêmicos, você estará para enfrentar o
de maneira inusitada, certo? como formação? que se espera, certo? pensadores, mestres e doutores cotidiano?
Luiz Marfuz – Curiosamente, LM – Isso tem a ver com o LM – Eu estou na academia, que se reúnem para fazer esta LM – Nós falamos em merca-
comecei a trabalhar na escola de espírito da época. Administra- mas venho de uma prática. Aqui grade. Optamos pelo caminho do, mas nunca foi tão compli-
administração de empresas da ção seria a carreira dominan- na academia, meu lugar é o de contrário, com um grupo de cado para o artista falar desta
Bahia, onde tive minha primeira te. O que representa hoje as alguém que vem de uma prática artistas de teatro que concebe área como hoje em dia, pois ele
formação. Por conta da militân- carreiras ligadas à informática. e procura sistematizar e refletir uma escola. Esta escola surgiu tem de se nutrir de vários instru-
cia política da década de 1970, Um mercado seguro. Eu fi- sobre esse lugar. Eu nunca largo com duas características funda- mentos e armas para enfrentar
quando arte e política andavam quei muito dividido entre fa- o saber teatral, pois ele é funda- mentais: ela se move pela práti- o mercado. A teoria, por si só,
muito juntas, nós nos reunimos zer comunicação, teatro e ad- mental como norte de uma ex- ca e é pensada por artistas. não é suficiente. O artista tem
para formar um grupo de tea- ministração. Mas decidi fazer periência de opção de vida. que fazer. Peter Brook, que não
tro. O grupo surgiu associado à administração e gostei muito JT – Você diria que tais ca- é de nenhuma universidade, mas
militância estudantil, com temas da minha escolha. Trabalhei JT – Mas isso não é o co- racterísticas são ideais para criou o centro de pesquisa tea-
associados à política. Nós criti- na área por quase 18 anos, em mum. O que vemos, normal- a formação dos atores? Você tral, é uma universidade viva. Ele
cávamos a formação curricular, grandes empresas. Mas o te- mente, é o profissional que destacaria o curso que a diz que não existe diretor desem-
aquele currículo tecnicista, de atro sempre ficou pulsando. segue a carreira acadêmica UFBA oferece no cenário pregado, porque, se ele quiser
base americana, porque quería- Quando terminei o curso de largar o teatro. Por quê? nacional? fazer, junta o elenco e faz. Esse
mos um currículo de base huma- administração, formei um gru- LM – Há essa tendência de LM – É difícil falar como mo- instinto de fazer é fundamental
nística. Isso gerou um movimen- po teatral chamado Carranca, depender da natureza dos pro- delo, mas eu diria que é o que para o artista. Caso contrário, ele
to de teatro dentro da faculdade, que se inseriu no contexto jetos pedagógicos da escola e mais me identifico. Para mim é. cede fácil aos obstáculos da so-
que resultou na peça “Cartão de do teatro baiano e durou sete de depender do que cada um Estou me posicionando mes- ciedade e do mercado.
Ponto”, em 1975. Minha trajetó- anos, com peças minhas, pe- busca. A universidade propi- mo. Temos os modelos dos
ria começa fora do âmbito da es- ças coletivas e adaptações de cia um campo muito grande conservatórios franceses, por JT – Então a formação aca-
cola de teatro. Minha formação livros. Esse grupo era forma- de reflexão, mas, também, de exemplo, que são muito teó- dêmica é o que estrutura o
de teatro vem pela prática, pelo do por emergentes das univer- experimentação. Então, aqui, ricos. É uma forma de pensar ator para o mercado?
fazer. Fora as coisas de infância e sidades, todos formados em por exemplo, ensinamos teatro, e refletir sobre teatro, que tem LM – Sim. Mas, sem o fazer
da adolescência. outros cursos que não teatro. mas não só teoria de teatro. pouco campo para a prática e artístico fomentado pela facul-
Foi quando comecei minha in- a informação. Afinal, o teatro dade, ele se fragilizará diante do
JT – E quando você desco- serção no teatro e no campo JT – Qual a particularidade é muito ligado ao fazer artísti- que possa acontecer lá fora. Os
briu que estava completa- educacional, porque, em se- da escola de teatro da UFBA? co, com o trabalho do corpo, obstáculos são muito grandes e,
mente envolvido com o tea- guida, fiz Comunicação Social LM – A escola de teatro tem da voz e da interpretação, além se você não tiver garra, não vai
tro? com especialização em jorna- uma formação diferente das do movimento, da emoção, do fazer nada. Você tem de apren-
LM – Muito cedo. Aí, eu vou lismo e, em seguida, mestrado outras escolas. Primeira do gesto – tudo isso é físico e você der a fazer teatro na faculdade.
para a infância mesmo. Come- na mesma área. Logo após o Brasil, ela foi criada de um pro- discutir sobre isso é bom, pois Com várias condições mate-
cei fazendo teatro de interior. mestrado, fiz concurso para jeto artístico pensado por artis- elucida e faz com que você as- riais e econômicas, entre outras,
No fundo de casa. Isso eu sem- a escola (de teatro), em 1996, tas que estavam em uma práti- simile os ensinamentos. você irá adquirir um jeito de
pre fazia. onde estou até hoje. ca. Então, o currículo refletirá JT – Quanto mais você tem vencer as adversidades.
Jornal de Teatro 16 a 31 de Outubro de 2009
17
Salvador

“”
Antes, era importante
gritar. Hoje, faz-se
teatro dialogando com
poéticas e estéticas.
Não dá para ficar
somente no discurso

Marfuz é respeitado não só por seu trabalho como diretor, professor e escritor, mas por desenvolver projetos como o programa educacional Arte, Talento e Cidadania, na Bahia

você observa como se faz cada perspectiva? Você acha que presas é estimular esses grupos JT – O que você espera do
JT – Mas ainda sim é muito vez mais monólogos. Ninguém ele esta perdendo essa im- a experimentar outras estéticas teatro baiano em 2010?
difícil... se arrisca a fazer qualquer coisa, portância a partir das mu- para que a linguagem se renove. LM – Sou otimista e acredito
LM – Sim, não se sobrevive de porque não se aceita qualquer danças sociais? Se você fizer só o que o público na luta. O artista tem, por natu-
teatro unicamente. Eu larguei coisa no teatro. LM – Antes era importante gosta, o teatro vai se fossilizar. reza, que avançar. Esse foi um
administração e uma carreira gritar e falar. Hoje, você grita ano de muita luta e reclame. É
sólida para fazer teatro. Sou JT – Você acha que o teatro e fala dialogando com poéticas JT – Como podemos com- quase uma condenação fazer
professor da escola há 12 anos, baiano seguiu essas mudan- e estéticas. Não dá para ficar parar o teatro baiano com o teatro. Uma bela condenação. E
tenho doutorado em artes cêni- ças e amadureceu? somente no discurso. Nós não do restante do Brasil? você tem de cumprir esta pena
cas, dou cursos e oficinas. Daí, LM – Acho. Amadureceu por- perdemos o significado, mas LM – O teatro baiano é muito com muito prazer. O sofrimen-
você me pergunta se eu vivo de que o próprio artista se tornou ganhamos inúmeros significa- pouco conhecido fora do Bra- to, que é inerente à atividade do
teatro? Sim, mas eu não vivo de exigente. Quando pensamos dos em função desta própria sil. É um teatro forte, mas não teatro, se consegue transformar
bilheteria de espetáculo. em fazer uma peça atualmente, mudança. Por isso, é importan- muito reconhecido devido a em prazer. É como se juntas-
todos esses elementos são pen- te existir o teatro de vanguarda uma certa comodidade de não sem as duas instâncias (ator e
JT – É essa é a diferença? sados. Na década de 1970, o e o teatro experimental. Esses nos deslocarmos daqui. É mui- personagem) à dor e alegria.
LM – Claro. O artista que vive improviso funcionava. Sabe por grupos têm pesquisado formas to caro fazer teatro, ainda mais Você está falando de uma dor
de espetáculo raramente vive de quê? Porque, naquela época, as e conceitos que, neste momen- se viajar pelo País. Por isso é fá- intensa, mas, também, da dor
bilheteria. Quando falo viver pessoas iam ao teatro em busca to, não foram aceitos mas, com cil você ter uma espetáculo do e alegria de criar. O ator triun-
de teatro, me refiro ao campo de uma mensagem. Havia uma o passar do tempo, se tornarão eixo Rio-São Paulo aqui. Te- fa sobre o horror e faz a beleza
de arte e educação, que é muito questão ideológica muito for- uma estética que irá se instau- mos um teatro forte, mas que sobrevoar as ruínas. Você tem
forte na Bahia, estado referên- te. O que importava era o que rar na sociedade. vira o que nós chamamos de de conviver com as ruínas, mas
cia pela criação de ONGs como era dito no teatro, por conta do teatro secreto, porque, quando alçar voos sobre o abismo que
a Cipó, por exemplo. Além momento de ditadura vigente JT – Me dê um exemplo disso. o levamos para festivais, as crí- se coloca para o artista.
disso, existem as empresas que no Brasil. O teatro era um espa- LM – A forma como o públi- ticas sempre são extremamente
investem no campo de res- ço de escoamento do não dito, co aceita os monólogos. Você positivas. Pouca gente vê e as
ponsabilidade social. Há muito dessas tensões e da necessidade assiste a espetáculos com pou- coisas não acontecem. Muitas PAPO DE COXIA
teatro-empresa. Você vive de te- de se posicionar. Quando criei cos elementos de cena porque coisas também têm aconteci-
atro e não de bilheteria. É muito “Cartão de Ponto” (1975), foi o público se acostumou com do à margem, assim como os Um nome esquecido:
difícil fazer um espetáculo hoje com essa intenção. O público essas mudanças. Antigamente, trabalhos que estão na vitrine. Ilmara Rodrigues.
sem patrocínio, seja ele de qual- aplaudia falas. Hoje, porém, pe- os espetáculos tinham a preocu- Quando você conhece esses
quer ordem (estatal ou privada). las possibilidades tecnológicas pação de reproduzir fielmente o dois extremos, percebe que Um grande momento:
Temos muitos teatro-empresas. do teatro, ele tende muito mais ambiente no palco. Hoje você tem muita coisa acontecendo. quando optei por trabalhar
Então, você tem a possibilida- a buscar o campo visual do es- tem referências, como a de An- Evidentemente que também com os jovens no “Cuida
de de realizar, mas você precisa petáculo. tunes Filho, que trabalha com temos que destacar o teatro bem de Mim”.
de patrocínio. Porque, quando o palco nu. Isso muda a per- nas periferias, nas comunida-
você trabalha com bilheteria, JT – Qual significado o te- cepção do público e consolida des, que levam novos atores, Uma peça inesquecível:
depois que todos os custos são atro passou a ter para o pú- determinadas estéticas. Agora, com visões modificadas, para o “O Último Carro”, de João
pagos, sobra muito pouco. Aí blico com essa mudança de o trabalho do Estado e das em- teatro profissional. das Neves, na década de 70.
18 16 a 31 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

Política Cultural

Fotos: divulgação
Protestos,
manifestações
e paralisação
marcaram o
último mês na
Escola Livre de Teatro
Por Carlos Gabriel Alves MANIFESTAÇÕES
No dia 11 de setembro, cerca de 300
O clima entre a ELT (Escola Livre de artistas participaram de uma passeata,
Teatro), criada há 19 anos e reconhecida como forma de protesto, que saiu da Rua
nacionalmente por seu sistema de ges- Rui Barbosa com destino ao Paço Mu-
tão democrático, e a secretaria de cultura nicipal. O objetivo era entregar a carta
da cidade paulista de Santo André não é para a prefeitura e um abaixo-assinado
de extrema leveza. Motivo? A demissão ao secretário Salvo Melo. Fizeram par-
do professor e coordenador Edgar Cas- te do ato, além de dezenas de alunos e
tro, no último dia 8 de setembro, e a en- mestres da escola, diversas companhias
trada, em seu lugar, de Eliana Gonçalves e grupos teatrais, bem como as atrizes
– indicada pela prefeitura local – como Maria Alice Vergueiro e Leona Cavali, o
coordenadora administrativa da escola. ator Antonio Petrin e as diretoras Geor-
A iniciativa desagradou a maioria dos gete Fadel e Cibele Forjaz.
alunos e mestres da ELT e resultou em Como parte das manifestações, a es-
protestos dos representantes da classe cola suspendeu atividades durante uma
artística paulistana. Eles têm reivindica- semana – entre os dias 21 e 25 de setem-
do, junto aos poderes executivo e legis- bro – e organizou a “Semana ELT em
lativo da cidade, a volta do coordenador, alerta”. O movimento abriu as portas da
alegando que a atitude é necessária para escola para diversos grupos teatrais, de
a preservação do projeto pedagógico da dança e artistas se apresentarem e pro-
instituição. moverem debates.
Insatisfeitos, os artistas ligados à ins- No último dia 8, representantes da
tituição entregaram ao prefeito Aidan escola foram à Câmara Municipal de
Ravin e ao secretário de cultura, Ed- Santo André e discursaram nas tribunas
son Salvo Melo, uma carta com várias livres, com o objetivo de intensificar o
reivindicações do grupo, entre elas a diálogo entre a ELT e os membros do
readmissão do professor Edgar Castro poder executivo e legislativo da cidade.
e a demissão de Eliana. “Solicitamos Na ocasião, os membros da escola e um
ao Executivo a reavaliação da demissão grupo de vereadores afinaram os discur-
do coordenador e mestre Edgar Castro, sos, com o intuito de chegar a um acor-
que ajuda a construir a História da ELT do. A comunidade aceitou a permanên-
há 11 anos de forma íntegra, inovado- cia de Eliana Gonçalves no cargo, desde
ra e constante. Solicitamos, também, que haja uma adequação na atitude da
a transferência da funcionária Eliana coordenadora em prol do projeto.
Gonçalves para outro setor da munici- O professor Edgar Castro ressal-
palidade a que ela possa emprestar o seu tou que o importante é o projeto da
conhecimento profissional de maneira Escola Livre de teatro, não se tratando
efetivamente útil, segundo o seu perfil”, de uma questão pessoal. “Somos tudo
dizia um trecho do documento. menos intransigentes. Queremos o bem Unidos, os alunos da ELT se reuniram e, através de passeatas e debates, defendem Edgar
Em resposta, a Secretaria de Cultu- da escola e isso significa a expansão do
ra de Santo André encaminhou outra projeto original, não sua retração, como dor será escolhido pela comunidade ELT. te. “Apesar do período de incerteza por
carta à escola, assinada pelo secretário estava acontecendo.” Só não se tem a oficialização da Secretaria qual passamos, esse período tem sido
Salvo Melo, sobre as reivindicações dos de Cultura, Esportes e Lazer. A Comuni- muito rico. Ainda estamos refletindo so-
membros da ELT. E negou-se a demitir EXPECTATIVAS dade pede esta oficialização.” bre o que significa essa experiência po-
a atual coordenadora: “Entendemos que Após mais de um mês de debates e A secretaria ainda não se manifestou lítica pela qual estamos passando, sem
determinadas posturas podem ser revis- discussões a situação ainda não está resol- sobre o retorno de Castro, mas os mem- falar dos diversos apoios que recebemos
tas, desde que pautadas sempre pelo vida. Em seu blog oficial (www.mundoli- bros da escola estão otimistas em rela- e visibilidade que alcançamos defenden-
mecanismo que mais é prezado pela co- vre-sa.blogspot.com), a ELT divulgou que ção a um desfecho positivo em breve. do nosso projeto pedagógico”.
munidade em sua carta: o diálogo. Aten- recebeu, de forma não oficial, a autoriza- “O impasse ainda continua, mas, apa- A demora na oficialização do acordo
demos e atenderemos à Comunidade ção para reintegrar o professor Edgar Cas- rentemente, estamos caminhando para deve atrasar o cronograma de aulas, que
ELT em sua reivindicação principal: a tro à escola. “Após este mês de conversas um diálogo responsável”, mencionou passará por uma nova eleição de coorde-
manutenção do projeto e da Escola Li- com o Executivo e com o Legislativo, a um dos avisos deixados no blog da esco- nador pedagógico ainda este ano. Castro
vre de Teatro, não abrindo mão, contu- Escola Livre de Teatro tem a resposta de la. Castro, que já retomou as atividades, afirmou que o mês de janeiro deve ser
do, da prerrogativa administrativa e legal que seu Mestre Edgar Castro está de volta revela que a escola tem passado por um usado para repor as aulas perdidas du-
de indicarmos sua coordenação.” ao corpo docente e que o novo coordena- processo conturbado, porém, marcan- rante o período de paralisação.
Jornal de Teatro 16 a 31 de Outubro de 2009
19
Opinião

Para os nossos filhos


Gerson Steves
Desde o dia em que a cidade Não é novidade que o teatro reflexões sobre a obra literária (afinal, Mas e como fica o trabalho do bem. Recebemos uma herança
do Rio de Janeiro foi eleita sede dos tem a explosão do acontecimen- dramaturgia é literatura e não teatro) ator? Esta sombra que desaparece fabulosa, temos um legado con-
Jogos Olímpicos de 2016, tenho to, a surpresa da eventualidade, a perdem-se quando o artista se vai. no entardecer de seu tempo? Ele siderável a deixar, vivemos num
ouvido muito certa palavra sobre costumeira fugacidade de tudo que Felizmente, há os registros. E se os mesmo, veículo primeiro e último tempo em que isso é possível e
a qual nunca dediquei mais que al- é momentâneo. Exige atenção ime- há, é preciso que sejam preservados, do teatro, sem o qual esta arte não temos meios para tal. Precisamos,
guns segundos de atenção: legado. diata. Possui uma urgência intrínseca vistos, lidos, divulgados. Em tempos se faz, é espectro que se esvai de portanto, apenas ensinar os jovens
De imediato, ocorreu-me a célebre menos percebida em outras artes. em que não mais se acorre aos livros nossos olhos tão logo o pano cai. a preservar essa riqueza, fazendo-
frase de Machado de Assis, em Telas e esculturas continuarão e sim ao Google ou ao Youtube, curio- De nossos atores e atrizes ficam as a prosperar, crescer e multiplicar
Dom Casmurro: “Não tive filhos, nos corredores de museus e gale- samente ainda há um mercado para fotos, os cartazes e os programas no exercício da arte. Para que aos
não transmiti a nenhuma criatura o rias por séculos, talvez. Sinfonias livros de arte, inclusive teatro. das peças. Sobram seus poucos re- filhos de todos nós não lhes seja
legado de nossa miséria”. e até balés continuarão a ser repe- Funcionam como peças de um gistros em cinema e televisão, que deixado o legado miserável que
Eu, que vou passar por esta tidos preservando o gênio de seus quebra-cabeça a serem colocadas nos dão tão somente a pálida ideia ora se apresenta.
vida sem herdeiros, às vezes me criadores. Do mesmo modo que lado a lado, formando o quadro do de sua genialidade. * Gerson Steves tem 25 anos
pegava pensando sobre o que fotografias, monumentos e projetos que foi o teatro do nosso tempo. É E, nestes tempos de marketing de atividades teatrais na cidade
seriam dos meus livros e discos arquitetônicos continuam alvo de possível conhecer a arte de Gianni cultural em que cinemas e teatros de São Paulo, tendo atuado como
(pobre herança!) no dia da minha preservação e até reprodução mun- Ratto, José de Anchieta Costa, Cyro levam nomes de instituições finan- diretor, dramaturgo, ator, produtor
morte – se é que nesse tempo do afora. Quanto ao teatro, o muito Del Nero. Alguns de nossos grandes ceiras pouco preocupadas com a e professor. Não tem filhos, mas
ainda se ouvirão discos ou se lerão que se pode esperar é que estudan- atores podem ser vistos pelas lentes arte e mais com a isenção de im- adotou os inúmeros alunos que
livros. Acontece que, agora, tenho tes leiam as obras de mestres como de Vânia Toledo e Lenise Pinheiro. postos, mídia e decorrente retorno teve como tal.
refletido mais sobre as nossas Nelson Rodrigues, Lorca ou Shakes- Isso sem falar em pensadores que de imagem, com alguma sorte os
heranças culturais, aquelas que peare. E, com sorte, vejam algumas exerceram a crítica como forma de nomes de nossos grandes artistas * Gerson Steves tem 25 anos
recebi e as que deixarei como le- dessas obras encenadas pela ótica reflexão e cuja linhagem começa passarão a apadrinhar algum espa- de atividades teatrais na cida-
gado às futuras gerações. Assunto de seus contemporâneos – o que com Machado de Assis e se estende ço de espetáculos. No futuro, pou- de de São Paulo, tendo atuado
cheio de sutilezas históricas e nu- pode ser para o bem e para o mal. até nomes como Décio de Almeida cos saberão quem foram ou que como diretor, dramaturgo, ator,
ances de vaidade, ainda mais ao Mas aquela encenação específi- Prado, Yan Michalski, Bárbara Helio- rosto tiveram. produtor e professor. Tem tui-
abordar uma arte como o teatro, ca, o trabalho daquele determinado dora e Alberto Guzik. Portanto, corra- A palavra talento tem sua origem tado à beça ultimamente (www.
supostamente efêmera. artista, sua visão de beleza e dor, suas mos às livrarias. no dinheiro. E é, de fato, nosso maior gersonsteves.com.br).
20 16 a 31 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

História
História contada através da
arquitetura
Teatros de estilo luso-brasileiro têm em Macaxeira
comum mais do que suas fachadas TEATRO SÃO JOÃO
LAPA, PARANÁ
Por Ive Andrade A Vila Nova do Príncipe de Santo
Antônio da Lapa, no Paraná, só tem
Os teatros brasileiros podem ser classificados e separados en- registros de sua atividade cultural a
tre grupos e estilos distintos. Ao analisar os cinco considerados partir da segunda metade do século
de arquitetura luso-brasileira, encontramos mais do que apenas um XIX, quando foi declarada cidade, em
estilo de construção. A maioria dos edifícios, que estão espalhados 1872. Quatro anos depois da decla-
por quatro das cinco regiões do Brasil, foi construída no século ração nascia o Teatro São João, uma
XIX, por uma vontade do povo de fazer crescer – ou, muitas vezes, iniciativa de alguns moradores locais
nascer – a vida cultural dentro de cidades pequenas e aparentemen- que formavam a Associação Literária
te sem cena teatral. As crises estruturais, de falta de verba, ou que Lapeana, criada com o objetivo de
vieram com o advento do cinema, também traçam paralelos entre organizar uma biblioteca e construir
os teatros de fachada simplista, que originalmente tinham seus ca- um teatro, que teve o projeto do en-
marotes como divisórias sociais. O Jornal de Teatro te leva, então, genheiro admirador das artes cênicas,
a viajar pelo tempo, através de alguns dos espaços que foram cená- Francisco Therézio Porto.
rios da história das artes cênicas no Brasil. A inauguração do espaço acon-
teceu somente em 1887, com um
espetáculo da Companhia Souza
Bastos de Operetas. A Revolução
Marcos Vieira

Federalista, em 1930, fechou o es-


paço, que, nessa época, se trans-
formou em enfermaria. Anos mais
tarde, o teatro reabriu suas portas
e se transformou em cinema. Além
dos filmes, o local hospedava festas,
exposições e leilões.
Nos anos 1970, as companhias
de teatro de diversos estados bra-
sileiros puderam voltar a utilizar o
Teatro São João como espaço cêni-
co e deram espaço, também, a cur-
sos de teatro. Sua estrutura interna
é toda revestida em madeira, como
outros teatros brasileiros que se-
guem o mesmo estilo arquitetônico.
Recentemente foi restaurado com
recursos do Iphan (Instituto do Pa-
trimônio Histórico e Artístico Na-
cional) e da Lei Federal de Incentivo
à Cultura. Continua em atividade.
TEATRO MUNICIPAL DE PIRENÓPOLIS
PIRENÓPOLIS, GOIÁS
A construção do espaço teatral de Pirenópolis não foi
um processo simples e levou mais de uma década para ser TEATRO MUNICIPAL DE SABARÁ – SABARÁ, MINAS GERAIS
concluída. O lavrador local Sebastião Pompeu de Pina to- Pouco se sabe sobre os primeiros anos desse teatro, um dos mais antigos
mou a iniciativa de erguer um teatro na cidade, em 1889, edifícios de Minas Gerais. Documentos registram apenas a importância que o
e com a ajuda da comunidade conseguiu, 12 anos depois, espaço teve para o universo cultural da cidade de Sabará, como palco de festas
inaugurar a casa de espetáculos, em 1901. O dinheiro para para a realeza e comemorações populares durante boa parte do século XIX. O
a construção foi arrecadado através de leilões de alimentos, Teatro Municipal de Sabará, originalmente conhecido como “Casa de Ópera”, foi
roupas, animais e outros bens que os cidadãos da cidade construído entre 1818-19 e deu origem à vida teatral da pequena cidade, que, na
doaram para a obra. época, tinha por volta de oito mil habitantes. Foram esses moradores que lutaram
Como o estilo luso-brasileiro propõe, sua estrutura é vi- pela construção do teatro e que mantiveram a administração do local durante
sivelmente recoberta de madeira e o palco do Municipal de anos, mantendo uma ligação forte com a coroa.
Pirenópolis foi, durante muitas décadas, palco de peças tea- A relação com a realeza marcou o espaço em um importante episódio da história
trais, óperas e espetáculos de dança. Com o surgimento do brasileira. O teatro recebeu a visita de Dom Pedro I e a cidade o recepcionou com
cinema, como muitos teatros brasileiros, o local entrou em festa, em meio à revolta constitucionalista que se espalhava rapidamente por todo
crise e passou a ser utilizado de diversas formas distantes o País. Depois da execução do hino nacional, antes de começar o espetáculo em
do propósito original do espaço: serraria, fábrica de móveis, homenagem ao imperador, enquanto Dom Pedro I se posicionava em seu camarote,
comércio, bar, garagem e, inclusive, cinema. ouviu-se no teatro um grito de “Viva o Imperador Pedro I”. A declaração se seguiu
O teatro passou por duas grandes reformas nas déca- de um constrangedor silêncio, quebrado pelos revoltosos constitucionalistas, que res-
das de 1980 e 1990. A última modernizou o espaço interno, ponderam: “Viva o senhor D. Pedro I, enquanto for constitucional”. Pouco tempo
preservando a fachada e estrutura, uma vez que o espaço depois, Dom Pedro I abdica de seu trono em favor de seu filho. Cinquenta anos mais
foi tombado como patrimônio cultural no mesmo ano de tarde, em 1881, o Teatro de Sabará recebeu com louvor o Imperador Dom Pedro II.
sua reabertura, em 1999. Hoje, o Municipal de Pirenópolis Já no início do século XX, o teatro entra em uma fase de completa decadência e só reabre
conta com uma perfeita acústica, poltronas acolchoadas e ar suas portas em 1970, após uma restauração, que o pôs em funcionamento até os dias de hoje.
condicionado, instalado em 2003.
Jornal de Teatro 16 a 31 de Outubro de 2009
21
História
Neno Vianna
TEATRO MUNICIPAL DE OURO
PRETO – OURO PRETO,
MINAS GERAIS
Considerado o teatro mais antigo da
América do Sul, o Municipal de Ouro
Preto foi inaugurado em 6 de junho de
1770, com o nome Casa de Ópera de Vila
Rica. O diferencial do teatro, na época,
não era sua arquitetura, mas a preocupa-
ção de seu construtor, o coronel João de
Sousa Lisboa, em manter um bom elenco
de artistas e espetáculos. O criador do te-
atro era um entusiasta das artes cênicas
e dedicou sua vida ao espaço. Com sua
morte, em 1778, o teatro teve proble-
mas e ressurgiu apenas oito anos depois,
como centro cultural da cidade.
Os altos e baixos levaram o teatro
por suas diversas reformas, mas o esti-
lo simplista de sua fachada permanece,
com uma mistura de estilos que vão
do neoclássico, passando pelo barroco,
chegando ao luso-brasileiro. Apesar de
ter sido palco de espetáculos nacionais e
internacionais, nas primeiras décadas do
século XIX, a chamada Casa de Ópera
não tinha a estrutura luxuosa das casas
da Europa. As grandes mudanças se
concentraram nos séculos XIX e XX,
com a reconstrução de camarotes, que
adquiriram o formato de ferradura, e de-
coração interna.
Finalmente, em 1985, depois de in-
filtrações, desabamentos e outros pro-
blemas estruturais, o teatro fechou suas
portas para a realização de uma expres-
siva mudança. Hoje recebe, além dos
espetáculos de grande porte, turistas
interessados na história do mais antigo
teatro brasileiro.

SECTUR

Zarlei Starling

TEATRO SETE DE SETEMBRO – PENEDO, ALAGOAS


A Sociedade Filarmônica Sete de Setembro foi fundada por Manoel Pereira de Carvalho, em 1865. A
princípio, as afinidades com a música uniam seus participantes e, mais tarde, o teatro passou a fazer parte
desse cenário cultural. Foi então que surgiu o ideal de inaugurar um espaço para os espetáculos das artes
cênicas em Alagoas. Quase 20 anos depois da fundação do grupo, na cidade de Penedo, o primeiro teatro
do estado de Alagoas foi inaugurado, no dia 7 de setembro, no final do século XIX, em 1884.
Durante a reforma, o arquiteto italiano Luiz Lucariny ficou responsável por dar ares de sofis-
ticação à obra e deixar o espaço com estrutura internacional. Para financiar tal obra, o local, ainda
inacabado e utilizado para a apresentação de espetáculos, viu o dinheiro arrecadado na bilheteria
ser utilizado para a construção.
O espaço tornou-se rapidamente o centro das atenções culturais da cidade e do estado. Foi
cenário de espetáculos de diversas companhias nacionais e internacionais. A primeira crise veio
– como é o caso de muitos outros no Brasil – com o surgimento do cinema. No início do século
XX, uma tela de projeção montada no Sete de Setembro passou a competir com os espetáculos
teatrais e venceu a “briga” quando o teatro foi transformado em um cinema, até 1959.
Depois dessa data, problemas financeiros fizeram que o teatro parasse de funcionar dentro
de seus propósitos originais e quase foi definitivamente fechado. Entretanto, esforços de alguns
órgãos de cultura possibilitaram a restauração do edifício na década de 1980 e permitiram que o
teatro voltasse às atividades originais.
22 16 a 31 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

Vida e Obra
Vasconcellos: carioca que conquistou Porto Alegre
Por Leonardo Serafim “Boneca Teresa ou Canção de
POA em Cena/ Divulgação

Amor e Morte de Gelsi e Valdi-


O adjetivo polivalente cai nete”, de Carlos Carvalho.
como uma luva na hora de des- Em 1977, foi escolhido
crever Luiz Paulo Vasconcellos. como Diretor do Instituto de
Em 50 anos de carreira, comple- Artes da UFRGS, cargo que
tados em 2009, não existe área ocuparia até 1997. Com uma
no cenário teatral em que ele não carreira consolidada no Brasil,
tenha emprestado seu talento. Luiz Paulo decidiu continuar
Escritor, diretor, ator, professor, estudando e viajou para os Es-
ensaísta e, até mesmo, bilheteiro tados Unidos. A experiência de
são algumas das versatilidades dirigir espetáculos no âmbito
que ajudam a traçar a personali- acadêmico se manteve na Terra
dade e o talento do artista, um do Tio Sam, onde ele realizou
dos responsáveis pelo cresci- duas montagens no curso de
mento do teatro gaúcho. mestrado na State University
Nascido na cidade do Rio of New York, com as encena-
de Janeiro, em 1941, Luiz Pau- ções “Miss Margarida’s Way”
lo Vasconcellos conheceu o (Apareceu a Margarida), de
mundo das artes cênicas aos 18 Roberto Athayde, em 1981; e
anos, quando um amigo o con- “The Bakkhai” (As Bacantes),
vidou para participar de um es- de Eurípides, em 1982.
petáculo amador. Sua história Em seu retorno a Porto
nos palcos profissionais come- Alegre, montou “A Alma Boa
çou oito anos depois. Mesmo de Set-Suan”, de Bertolt Bre-
sem o apoio total do pai, um cht, em 1986, e publicou, no
homem singular, que amava a ano seguinte, seu “Dicionário
música erudita, mas repudia- de Teatro”, com “um saudável
va a dramaturgia, Luiz Paulo toque de ineditismo”, como
resolveu se aventurar no Con- afirma Yan Michalski, no pre-
servatório Nacional de Teatro, fácio, por se tratar da primeira
cursando direção teatral. obra desse gênero escrita por
Em sua primeira aparição um autor brasileiro.
como ator, na obra “Pic-Nic no
Front”, de Fernando Arrabal, A VIDA CONTINUA
a genialidade, que tanto marca Devido a sua importância
sua carreira, ficou em segundo para o teatro do Rio Grande
plano, sendo dominada pelo do Sul, Luiz Paulo recebeu jus-
nervosismo, que culminou no ta homenagem, na última edi-
esquecimento de sua única fala. ção do Porto Alegre Em Cena.
“Fazia o papel de um enfermeiro Uma exposição intitulada: Luiz
que recolhia feridos e cadáveres Paulo Vasconcellos: 50 anos de
depois das batalhas. No dia da teatro, foi organizada em um
estreia, não consegui me lembrar shopping da cidade.
no meu texto” conta o mestre. Foram 39 módulos feitos a
Após dirigir o espetáculo partir de belas fotografias que
“Mãe Coragem”, de Bertolt registraram momentos marcan-
Brecht, como trabalho final do tes da vida profissional e pesso-
curso de gradução, Luiz Pau- al do artista. A mostra incluiu,
lo Vasconcellos recebeu uma além de muitas fotos de dife-
chance que mudaria a sua car- rentes momentos de sua carrei-
reira, transformando-o em um ra, cartazes de projetos cênicos
importante nome do teatro variados, entre outras relíquias.
gaúcho. Precisando de um di- Mas engana-se quem acha que,
retor para comandar um grupo após esse reconhecimento,
de jovens atores, Gerd Bor- o dramaturgo pretende des-
nheim, então chefe do Curso cansar. Pelo contrário. Aos 69
de Arte Dramática da UFRGS anos, Luiz Paulo Vasconcellos
(Universidade Federal do Rio Presente na passeata dos Cem Mil, Vasconcellos nunca aceitou as imposições do governo e defendeu seus ideais não pensa em parar e conti-
Grande do Sul) convidou Luiz nua com o ritmo acelerado de
Paulo para tal missão. sem passar pela censura.” esconde que contou também Arte Dramática), colaborando outros tempos. Além de seguir
Admirador das obras do Censura que tentou, mas com a sorte para escapar das para a reestruturação das artes sua carreira nos palcos, atuando
dramaturgo alemão Brecht, que nunca conseguiu atrapalhar os represálias. Segundo ele, nun- cênicas no Estado e se tornan- no espetáculo “Platão: Dois em
sempre usou como temática a trabalhos do carioca. Militante ca ninguém interferiu em seus do o grande incentivador do Um”, ele se mantém ocupado
degradação humana e a luta pela confesso, Luiz Paulo Vascon- espetáculos, muito pelo fato de teatro local. Ciente do poten- com atividades paralelas, bus-
emancipação social do homem, cellos nunca aceitou as impo- grande parte de suas obras te- cial cultural do sul do Brasil, cando material para um futuro
Luiz Paulo resolveu, novamente, sições do governo e sempre rem sido feitas em escolas de ele acreditava que Porto Alegre livro e lecionando no Teatro
encenar uma peça do artista. E defendeu seus ideais. Foi assim teatro, que, na época, não eram tinha reais condições de ser a Escola de Porto Alegre.
a escolha não poderia ser mais na passeata dos Cem Mil, dia 26 submetidas à censura. terceira força nacional, pronta Luiz Paulo, que segue os
acertada. “Vim e dirigi ‘A Ópera de junho de 1968, no Rio de Ja- para brigar de igual para igual ensinamentos de Pablo Pi-
dos Três Vinténs’, que ficou três neiro, evento o qual ele ainda se TRANSFORMANDO O com o eixo Rio-São Paulo. casso, acredita que tem muita
meses em cartaz com casa cheia orgulha de ter participado. Foi TEATRO DE PORTO Conciliando aulas com es- lenhar para queimar. “Repito
e foi o maior sucesso que Porto assim no movimento “arte da ALEGRE EM REFERÊNCIA petáculos nos anos 1970, o o que Picasso, então com 70
Alegre jamais havia visto com resistência”, que reunia intelec- Graças ao sucesso da peça carioca ajudou a encenar diver- anos, disse quando lhe pergun-
uma produção local. Foi incrível. tuais e estudantes para protestar “A Ópera dos Três Vinténs”, sos textos de artistas da região, taram qual a sua melhor fase:
Como era um trabalho acadêmi- contra as ações governamentais. Luiz Paulo ganhou o papel de como “¿Quem Roubou Meu a próxima! Quero continuar fa-
co, pudemos reproduzir Brecht Porém, o dramaturgo não professor na CAD (Curso de Anabela?”, de Ivo Bender, e zendo o que eu gosto.”
Jornal de Teatro 16 a 31 de Outubro de 2009
23
Internacional

Atriz brasileira encanta plateias em Hollywood


Mina Olivera mostra seu valor com “LOL – Latina on the Loose” e toca o coração do público
transforma-se em mulher guer-
Fotos: Roberto Milk
reira e aprende a se respeitar.
O espetáculo me ganhou
Luciana Chama pela verdade com que Mina
Los Angeles apresenta a história de sua vida
e a coragem de levá-la em cena
aqui nos Estados Unidos. Quem
passa pela experiência de viver
Não dei a menor bola fora de sua pátria entende com
quando o espetáculo entrou propriedade o valor da luta pela
em cartaz. E confesso só ter ousadia da aventura. Superando
despencado da minha casa, com dignidade as dificuldades
em Venice, ate Downtown do mega competitivo mercado
para assisti-lo depois de ler os cinematográfico em Hollywood,
comentários positivos de uma a atriz carioca decidiu transfor-
amiga no Facebook. Uma co- mar a herança latina em vanta-
média sobre as aventuras e os gem: construiu a própria opor-
desafios de uma brasileira em tunidade e lotou o teatro nas
terras estrangeiras que busca poucas semanas que ficou em
por seus sonhos, mantendo cartaz. Foi com enorme prazer
na memória o ensinamento que assisti a brasileira desempe- A carioca Mina apresenta a história de sua vida e transforma sua herança latina em vantagem profissional
de sua avó: “show them your nhar com sucesso, na terra dos
worth” (mostre o seu valor). gringos, a sua função máxima na ou porque precisam de um não tentei fazer a história de ela querer que eu mostrasse o
Apesar da semelhança com a como artista: Mina tocou, lá no agente ou empresário para se re- todo mundo. Eu fui bem espe- meu valor.
minha vivência, o tema não fundo, o coração do seu público. colocar no mercado cinemato- cífica com as coisas que aconte-
me instigou. Paguei a minha Na entrevista abaixo, um pouco gráfico. Eles se juntam e fazem ceram. Mas, por ser uma versão LC – Faz alguma diferen-
língua por ter sido preconcei- mais de Mina Olivera. teatro com a intenção de atrair bem sincera, de mostrar mesmo ça ser brasileira e não his-
tuosa: “LOL – Latina on the esses executivos, sem se voltar as vezes que eu fui humilhada, pânica para esse mercado
Loose” é uma delícia. Luciana Chama – Mina, pa- muito para a qualidade da pro- as vezes que eu me emocionei, de trabalho?
É teatro no qual o ator é rabéns pela performance. dução. Então, o nível do que é mais as pessoas se identificam. MO – Eu sempre trabalhei
o senhor do palco, sustenta- Adorei o texto. O que te levou feito cai um pouco e as pessoas muito aqui, fiz muito papel
do pela qualidade da escrita a escrevê-lo? não se sentem muito motivadas LC – A história não é tão co- em filme e televisão, mas
e interpretação. Que surpresa Mina Olivera – Primeiro, por a freqüentar o teatro. Elas foram mum para o público america- sempre fiquei chateada com
boa foi testemunhar o talento causa da minha avó. Eu sempre assistir algumas vezes, não gos- no. Qual foi o maior desafio o tipo de papel escrito para
que é Mina Olivera. Apresen- senti culpa, pois ela morreu e eu taram e não voltam. Fora que é artístico para encená-la? latinos, porque não existem
tado principalmente em in- estava aqui. A gente tinha um difícil a vida de fazer teatro, pro- MO – O desafio dessa peça foi escritores que entendam
glês (com algumas inserções relacionamento único e eu sem- duzir... eu ralei muito para reali- que eu sempre achei que para as esse valor. É um americano
também em espanhol e por- pre gostei de repetir as histórias zar essa peça. pessoas se identificarem com a que não tem a menor fami-
tuguês) o texto é autobiográ- dela. Minha avó sempre foi mui- minha avó, elas tinham que sa- liaridade com a cultura latina
fico, escrito e estrelado pela to verdadeira, até no episódio LC – E a comunidade brasi- ber de onde ela vinha. Eu tinha e que escreve um papel para
própria. Seu instrumento é o do dia em que cheguei em casa leira daqui, veio te assistir? que explicar que essa mulher, latino. Daí, o que acontece
corpo e, com sua voz, ela de- e tinha um recado na secretária MO – Olha, engraçado porque apesar de não ter dinheiro ne- não é um personagem in-
nota a personalidade e o afeto eletrônica dizendo “Neguinha, quando comecei a promover o nhum e ter vindo do nada, sem- teiro Vira um estereótipo!
das muitas personagens que tô indo pro hospital e é pra espetáculo muita gente aqui me pre foi muito digna. Casou com Faltam papéis bons e como
interpreta. Mina segura a onda morrer, viu? Só tô ligando pra adiantou: não conte com o pú- marido rico que perdeu tudo, tem uma quantidade mui-
dos 90 minutos de espetáculo despedir.Te amo, adeus, tchau”. blico brasileiro! Mas quando fui uma das filhas morreu nos seus to maior de imigrantes que
sozinha e com graça, carisma pedir apoio ao Consulado Bra- braços e ela nunca perdeu a dig- vêm do México e outros pa-
e atitude – visivelmente con- LC – Ela falou assim mesmo? sileiro de LA, eu disse ao vice- nidade. Então, se eu deixasse de íses da América Latina, claro
quista cada coração ocupado MO – Falou, cheguei em casa e cônsul “Dorival, pode ser que contar essa parte, não ia fazer que a maioria dos papéis são
dos 300 lugares do Los Ange- quase morri (risos). Engraçado eu esteja errada, mas eu vou sentido a mensagem da peça, de para esse tipo.
les Theatre Center. que, hoje, penso que minha avó contar com o povo brasileiro!”
A atriz relata sua histó- estava me dando todas as falas (risos) O brasileiro gosta de te-
ria e de sua família desde a para o meu primeiro trabalho atro. Eu sei que se eles virem
vida pobre dos avós, o casa- como escritora e eu que não uma peça legal vão me apoiar. LEIA A ENTREVISTA
mento nada convencional de estava sabendo! Outro motivo Então, vi bastante brasileiro COMPLETA NO
seus pais até sua jornada pe- foi porque eu queria passar a durante a temporada, até por-
las Américas, quando sai em mensagem de você comandar a que muita gente passa pelas ex- WWW.LUCIANACHAMA.
busca de sua liberdade, auto- sua vida, de não ficar esperando, periências e dificuldades que eu BLOGSPOT.COM
conhecimento e o sonho de de realmente ir à luta e não ter mostro na peça.
estudar teatro na concorrida medo de fracassar. Não dá para
Universidade da Califórnia, ficar no banco do passageiro en- LC – O público se identifica
em Los Angeles (UCLA). En- quanto a vida passa. muito com as suas experiên-
frentando preconceitos e até cias em cena. O texto trata da
mesmo frustrada depois de LC – Qual a maior dificulda- superação de dificuldades, as
ser desencorajada pela racista de de se fazer teatro em Los pessoas se veem ali no palco, MAIS SOBRE
consultora da universidade, Angeles? é a historia de todo mundo... A ATRIZ:
Mina se sobressai e é aceita MO – O público! L.A. é uma MO – Engraçado, acho que WWW.MINAOLIVERA.COM
pela UCLA; gradua-se com cidade dominada pelo cinema. quanto mais sincera sou sobre a E
honra e passa a frente dos co- Os atores terminam de filmar, minha vida, quando coloco mais WWW.LATINAONTHELOOSE.COM Mina é mais do que um belo rosto
legas americanos. A garota in- ficam desempregados, daí vão de mim no espetáculo, mais vira
segura vinda do Rio de Janeiro fazer teatro para fazer uma gra- a historia de todo mundo. Eu
24 An 260x368 .ai 1 10/20/09 9:32 PM
16 a 31 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

Potrebbero piacerti anche