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O CENÁRIO MUNDIAL

Profa. Felicia Alejandrina Urbina Ponce

1 PANORAMA SOCIAL, ECONÔMICO E AMBIENTAL

1.1 Panorama Social

Falar de Responsabilidade Social e Sustentabilidade


(RSS) sem contextualizar o cenário econômico,
social e ambiental seria ignorar o pano de fundo no
qual ambos os conceitos são discutidos. Por essa
razão, é conveniente termos uma caracterização,
ainda que muito rápida sobre esse cenário, no intuito
de fornecer informações às vezes “inverossímeis”
de uma realidade da qual todos fazemos parte e
que, querendo ou não, justificam a necessidade da
concretização da Responsabilidade Social Empre-
sarial (RSE) e do Desenvolvimento Sustentável
(DS) nas práticas empresariais e na dinâmica de
nossa sociedade.

Ressalva-se que embora o conteúdo desenvolvido neste texto destaque o panorama social e
ambiental desde uma perspectiva mundial, estas características são válidas para as análises
do contexto aplicado à realidade brasileira por apresentarem traços comuns.

Umas das iniciativas mundiais voltadas à reflexão sobre temas relacionados às desigual-
dades sociais estão sendo conduzidas pelo Forum Social Mundial (FSM), caracterizado por
um encontro anual organizado por membros do movimento de globalização alternativa com o
objetivo de coordenar campanhas mundiais, compartilhar e refinar estratégias de organização,
debater assuntos relacionados aos países com baixos níveis de desenvolvimento social, além
de se constituir num espaço de denúncia, interação e integração dos diversos movimentos
mundiais com apelos sociais, especialmente o relacionado à defesa dos Direitos Humanos.

O primeiro e o terceiro FSM foram sediados aqui no Brasil, na cidade de Porto Alegre, em
janeiro de 2001 e janeiro de 2003, respectivamente. Neste último encontro foram desenvolvidos
painéis de debates paralelos ao Forum voltados à discussão de possibilidades participativas

O cenário mundial 1
anticomunistas e anticapitalistas, desde diversos aspectos das estruturas sociais, políticas e
econômicas dos países participantes.

As informações que serão aqui apresentadas foram


basicamente extraídas do último Relatório do Desen-
volvimento Humano, que teve como tema: A água para
lá da escassez: poder, pobreza e a crise mundial da
água, desenvolvido, no ano de 2006, pelo Programa
das Nações Unidas (PNUD). O texto rejeita a hipótese
de que a crise mundial da água seja resultado da
escassez e argumenta que a crise tem suas raízes
na pobreza, no poder e nas desigualdades, não na
disponibilidade física da água.

O relatório aponta que cerca de 1,1 bilhões de pessoas


dos países em desenvolvimento têm um acesso
inadequado à água e 2,6 bilhões não dispõem de
saneamento básico. Estas cifras, segundo os relatores, refletem escolhas políticas e institu-
cionais e não a disponibilidade física da água.

As necessidades de água para uso doméstico representam uma fração muito pequena
da utilização da água (menos do que 5% do total), porém a contradição se faz presente
quando constatamos que há desigualdade no acesso à água potável e ao saneamento em
nível doméstico. Esta desigualdade pode ser observada quando, num mesmo país, classes
sociais privilegiadas têm acesso direto a centenas de litros diários de água a baixo preço,
enquanto populações de regiões rurais ou periféricas do mesmo país têm menos do que
20 litros de água que devem ser recolhidas a quilômetros de distância para a satisfação de
necessidades básicas.

O segundo exemplo que ilustra estar a origem do problema na desigualdade e não na escassez
é quando abordamos a água como meio de subsistência no mundo da agricultura e da indús-
tria. De igual modo, apesar de reconhecer que medidas preventivas devem ser tomadas para
não agravar o problema da escassez global da água, nem todas as pessoas são afetadas
da mesma forma. O relatório assinala, a respeito dos sistemas de produção que mantém os
meios de subsistência, o seguinte:

Em regiões da Índia que sofrem de pressão sobre os recursos hídricos, as bombas de irrigação
extraem água de aqüíferos 24 horas por dia para os agricultores abastados, ao passo que os
pequenos agricultores vizinhos dependem dos caprichos da chuva (PNUD, 2006, p. 2).

Segundo dados do Programa das Nações Unidas – Brasil (PNUD, 2006) as pessoas necessitam
de água potável para manterem sua saúde e dignidade além de contribuir com a sustentação
dos sistemas ecológicos e os sistemas de produção que mantém os meios de subsistência.

2 O cenário mundial
Esta privação desigual de água e de saneamento entre regiões e países gera sérios custos
para o desenvolvimento humano, dentre eles foram citados os seguintes:

• cerca de 1,8 milhão de mortes de crianças por disenteria (4.900 mortes/dia). Em


conjunto, a água imprópria para consumo e o mau saneamento constituem a segunda
maior causa mundial de morte infantil;

• a perda de 443 milhões de dias escolares por ano devido às doenças relacionadas
com a água;

• perto da metade do total de pessoas dos países em desenvolvimento sofrem, em


determinada altura, de um problema de saúde causado pela falta de acesso à água e
ao saneamento;

• milhões de mulheres passam várias horas por dia para recolhendo água;

• ciclos de vida de desfavorecimento afetam milhões de pessoas com a doença e as


oportunidades de educação perdidas na infância, resultando em pobreza na vida
adulta.

Outros dados alarmantes sobre o panorama social são encontrados no Worldwatch Institute
(2005), tais como:

• 1/3 da população não tem acesso à energia, como eletricidade e combustíveis


fósseis;

• em 2025, a previsão será de que se nenhuma ação for tomada, 4 bilhões de pessoas
(metade da população mundial) estarão sem acesso ao saneamento básico;

• dos 6,2 bilhões de habitantes do planeta, apenas 1,7 consegue consumir além de suas
necessidades básicas. Enquanto isso, 65% da população americana é considerada
obesa;

• aumento exacerbado de preocupações com a segurança e o terrorismo;

• aumento da disseminação de armamentos mortais; cerca de 300.000 pessoas morrem,


anualmente, vítimas de armas leves; em conflitos armados, outras 200.000 pessoas
são mortas anualmente em violência armada extra-guerra e 1,5 milhão são feridas;

• crescimento de movimentos populacionais em larga escala;

• surgimento de novas e reemergentes doenças transmissíveis;

• a crescente competição por terras;

• a difícil situação demográfica originada pela migração para grandes centros urbanos
em busca de uma vida melhor, gerando “fatores demográficos de risco”;

 Sistema de abastecimento de água; esgoto sanitário e coleta de resíduos sólidos.


 Abrigo, alimentação, moradia, educação e saúde.

O cenário mundial 
• as doenças contagiosas estão matando 14 vezes mais de 1,1 milhão de pessoas
anualmente;

• a expectativa de vida para recém-nascidos no Japão, Suécia e Suíça era superior a 73


anos, enquanto era inferior a 34 anos em países pobres e assolados por doenças;

As imagens aqui apresentadas foram criadas pelo Instituto Ethos. Foram cedidas pelo instituto
para o curso presencial de Administração, para apoiar a disciplina Responsabilidade Social e
Sustentabilidade, ministrada durante o segundo semestre de 2006.

Fonte: Instituto Ethos, 2006.

1.2 Panorama Ambiental

Somente um evento catastrófico e repentino poderá colocar o planeta no rumo de uma economia
ambientalmente sustentável. Esse “11 de setembro” ecológico deve acontecer nos próximos dois
anos, na forma de uma alta maciça no preço dos alimentos causada pela queda na produção de
grãos da China, resultado da degradação ambiental (ANGELO, 2003, p. 1).

A previsão é de um dos ambientalistas mais respeitados do mundo, o americano Lester R.


Brown. Formado em economia agrícola, Brown fundou, em 1973, o Worldwatch Institute,
organização não-governamental responsável pela publicação anual do Estado do Mundo.

Em entrevista concedida ao jornalista Cláudio Angelo para a Folha de S. Paulo, Folha Online
– Ciência, ele expressa uma das premissas contidas no seu livro Eco-Economia: uma nova

 O cenário mundial
economia para a terra, lançado em 2003 pela editora UMA. Neste livro, o autor afirma que a
economia clássica gera uma distorção nos preços dos produtos ou serviços ao não incorporar
os custos ambientais gerados no processo de produção desses insumos ou serviços. Estas
influências acabam afetando, de maneira destrutiva, nossos ecossistemas, que, segundo o
autor, são a base da economia.

Talvez esta idéia de Brown esteja alinhada a uma


das cláusulas incluídas na proposta do Protocolo
de Kyoto e MDL (Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo) adotado pela Convenção das Nações Unidas
sobre mudanças climáticas, assinado em 1998, e
que estabelece metas para a redução de emissões
de gases de efeito estufa nos países industrializados
e um modelo de desenvolvimento limpo para as
nações emergentes. Fica aqui uma reflexão: será
que os créditos de carbonos associados que serão
comercializados por meio deste Protocolo não se
tornará uma maneira de legitimar que países alta-
mente poluidores paguem pelo direito de poluir.

Uma outra problemática, não menos séria em nível mundial e nacional, está representada pelo
esgotamento da capacidade dos aterros sanitários para absorver toneladas de lixo domiciliar
que são despejados diariamente, ocasionando sérios riscos para a saúde humana e preju-
dicando de forma direta os solos e o meio ambiente. A própria falta de saneamento básico
obriga às famílias a gerarem um impacto ambiental muito sério como conseqüência do destino
inadequado do esgoto e do lixo domiciliar entre outros fatores.

Um outro assunto que está em todas as pautas é o problema do aquecimento global,


gerado, dentre outras razões, pelo desmatamento desordenado e pela emissão de gases
poluentes provenientes de várias fontes. O desmatamento e a queimada de florestas são
muito comuns no Brasil na região Amazônica, influenciando o efeito estufa, já que essas
florestas atuam como reguladoras da temperatura, dos ventos e do nível de chuvas. Por
ano, são devastados 140 mil km2 da floresta tropical no mundo, e 30% do que resta está
degradado ou fragmentado.

No meio do caos climático, uma boa notícia é a forte divulgação que tanto os meios impressos
quanto os televisivos estão dando para a cobertura do problema do aquecimento do planeta,
gerado pelo efeito estufa. Quais as conseqüências do efeito estufa? De maneira simplificada
poderíamos dizer que tem contribuído para o aumento não esperado da temperatura do
planeta. As informações mais recentes evidenciam que as explicações estão apoiadas em
pesquisas que indicaram que o século XX foi o mais quente dos últimos 500 anos. Estes rela-
tórios também apontam que o aumento da temperatura provocado pelo efeito estufa poderá
ocasionar os seguintes problemas:

O cenário mundial 
• desequilíbrios de ecossistemas, ocasionando extinção de espécies vegetais e animais; até
50% das espécies podem desaparecer ou ficar em risco de extinção até o fim do século;

• derretimento das calotas polares;

• alagamentos de regiões litorâneas;

• intensificação de furacões; tufões; maremotos, terremotos e enchentes;

• redução de alimentos por causa da redução da produção agrícola;

• desvio de curso de correntes marítimas;

• desastres ambientais, agravados por mudanças climáticas, geraram 50 milhões de


“refugiados ambientais”;

• aparecimento de novas doenças agrícolas, cientistas agrícolas da Ásia constataram


que a temperatura em elevação poderá reduzir a produção de grãos nos trópicos em
até 30%, ao longo dos próximos 50 anos.

Outro fator que está gerando o efeito estufa é o lançamento de gases poluentes na atmosfera,
principalmente os que resultam da queima de combustíveis fósseis. A queima do óleo diesel e
da gasolina nos grandes centros urbanos tem colaborado para o efeito estufa. O dióxido e o
monóxido de carbono ficam concentrados em determinadas regiões da atmosfera, formando
uma camada que bloqueia a dissipação do calor. Esta camada de poluentes, tão visível nas
grandes cidades, funciona como um isolante térmico do planeta Terra. O calor fica retido nas
camadas mais baixas da atmosfera, trazendo graves problemas ao planeta.

Com relação ao efeito gerado pelas camadas de fumaças originadas pelos meios de transporte
um artigo publicado na revista da Fapesp assinala:

Apesar dos avanços obtidos na última década no controle da emissão de gases e


partículas poluentes, respirar o ar de São Paulo continua sendo um ato de heroísmo
[...] Estima-se que nove pessoas ainda morram por dia na cidade, vítimas de proble-
mas cardiovasculares, respiratórios ou cânceres de pulmão, direta ou indiretamente
associados à poluição atmosférica (FAPESP, 2006, p. 42).

De acordo com um estudo coordenado pelos professores de medicina da USP, Paulo Saldiva e
Nelson Gouveia, publicado em março do 2006, na revista Enviroment Research, verificou-se que
São Paulo, Cidade de México e Santiago no Chile poderiam evitar 150 mil mortes, 4 milhões de
crises de asma, 300.000 internações de crianças e 48 mil casos de bronquite crônica em um período
de 20 anos, e gerar uma economia de U$$ 165 bilhões se reduzissem os níveis de poluição aos
parâmetros indicados pela Organização Mundial de Saúde – OMS (FAPESP, 2006, p. 42).

A idéia de apresentar esta realidade nua e crua não significa rejeitar as formas de progresso
econômico gerado pela abertura e consolidação de empresas em pleno século XXI. O que se
questiona é quais os cuidados e ações que a sociedade como um todo e que o setor produtivo
em particular estão implementando para desenvolver negócios de maneira sustentável.

 O cenário mundial
Acredito que toda atividade inserida no sistema de processo produtivo de maneira geral impacta
de forma direta ou indireta o meio ambiente. Então o questionamento não é condenar o sistema
produtivo mundial ou nacional, porque ele é um grande gerador de empregos e fornecedor
de bens e serviços; o que está em jogo é como gerenciar os impactos ambientais associados
ao aumento da atividade produtiva. O desafio é o que fazer no meio de uma sociedade que
Ulrich Beck (1992) denominou “sociedade de risco”.

Para o autor a produção social da riqueza na modernidade é acompanhada por uma produção social
do risco. O processo de industrialização é indissociável do processo de produção de riscos, uma
vez que uma das principais conseqüências do desenvolvimento científico industrial é a exposição
da humanidade a riscos e inúmeras formas de contaminação nunca observados anteriormente, que
ameaçam os habitantes do planeta e o meio ambiente. Agrava o problema a percepção de que os
riscos gerados hoje não se limitam à população atual, uma vez que as gerações futuras também serão
afetadas e talvez de forma ainda mais dramática (BECK, 1992 apud DEMAJOROVIC, 2003, p. 35).

Ulrich Beck faz um paralelo entre a sociedade industrial e a nova sociedade, enfatizando
que a era industrial foi caracterizada por conflitos relacionados aos modos de produção e à
distribuição da riqueza, já nesta era atual a sociedade continua baseada no conflito em torno
da produção mais com a aparição de uma outra variável: a distribuição dos riscos gerados
durante o processo produtivo.

Nesse contexto, acredito que o grande desafio serão os objetivos econômicos poderem ser
conciliados com os objetivos voltados para ações que minimizem os impactos ambientais.

Fonte: Instituto Ethos, 2006.

O cenário mundial 
1.3 Panorama Econômico Mundial

Os dados que serão apresentados foram extraídos do Relatório anual da ONU – World
Economic Situation and Prospects, 2007.

O relatório antecipa que a economia mundial terá uma desaceleração, em 2007, após três
anos de crescimento histórico, segundo os novos prognósticos das Nações Unidas sobre a
economia global. Diminuindo o PMB (Produto Mundial Bruto) de 4,0% atingido em 2005 e um
crescimento estimado de 3,8 % para 2006, espera-se que o crescimento mundial diminua a
um ritmo de 3,2 % em 2007.

O recessivo mercado de imóveis nos EUA é uma variável importante que influencia a dimi-
nuição da atividade econômica mundial, segundo a ONU. A recuperação econômica no Japão
e na Europa não são suficientemente forte para substituir os EUA como a mola propulsora
da economia mundial.

Embora a economia mundial tenha apresentado um crescimento econômico, este crescimento


não tem tido repercussões significativas na redução das taxas de desemprego. Este desemprego
tem sido mais expressivo em países em desenvolvimento, apesar do crescimento da produção
durante o ano de 2006. Os países em desenvolvimento e as economias emergentes atingiram
taxas médias de crescimento de produção de 6,5 e 7,2%, respectivamente. Espera-se que o
crescimento nesses países permaneça aumentando em 2007, embora a previsão seja de uma
moderação de 5,9%, em países em desenvolvimento, e 6,5% para as economias emergentes.

As economias da Ásia oriental continuam liderando o crescimento econômico no mundo


em desenvolvimento, registrando uma média 7,7% em 2006. A China registrou uma taxa de
crescimento de 10%.

Na Ásia meridional, liderada pela Índia, também houve uma alta representada por uma taxa de
6,7% em 2006. As perspectivas são de que o crescimento permaneça forte com as economias
da Ásia oriental em expansão a uma taxa de 7,5%, enquanto as da Ásia meridional experi-
mentaram uma leve desaceleração em 2007.

O rendimento dos países menos desenvolvidos permanece forte, atingindo uma média de
quase 7% em 2006, especialmente nos países produtores de petróleo. Antecipa-se que o
crescimento destes países permaneça igualmente crescente em 2007.

Espera-se que o crescimento na Europa, que superou as expectativas em 2006, tenha uma
moderação a um ritmo de 2%, em 2007, e no Japão que também experimentou um crescimento
robusto em 2006, se desacelere a menos de 2% em 2007.

O relatório da ONU adverte que existe a possibilidade de a economia mundial piorar de forma
severa no caso de uma queda mais dramática no preço do segmento imobiliário, nos EUA
(15%). Tal queda não só diminuiria o crescimento nos Estados Unidos a um ritmo abaixo de 1%
em 2007, mas também reduziria de maneira expressiva o crescimento econômico mundial em
aproximadamente um ponto percentual. Tal diminuição poderia ocasionar crises nos mercados

 O cenário mundial
hipotecários e detonar um ajuste deflacionário nos mercados desequilibrados globais, aumen-
tando assim o risco de uma grande agitação nos mercados financeiros.

Outros dados importantes extraídos do Relatório de Desenvolvimento Humano 2005


apontam:

• entre o ano de 1950 e 2000 a produção mundial de bens e serviços aumentou de 6


para 43 trilhões de dólares;

• apesar disso, 80% dos países tiveram renda per capita em 1999 menor do que tinham
em 1989;

• desde 1998, 86% do acréscimo de renda vem sendo apropriado pelos mesmos 20%
da população;

• as três pessoas mais ricas do mundo detêm mais do que o PIB dos 48 países mais
pobres, onde vivem 600 milhões de pessoas;

• aumento de desastres naturais recorrentes de colapso de ecossistemas;

Fonte: Instituto Ethos, 2006.

1.4 Panorama Econômico Brasileiro

É interessante observar como, apesar da tendência de crescimento econômico dos países


emergentes, incluindo o Brasil, é comum constatar que, embora exista um crescimento econô-

 Soma dos valores financeiros de todas as riquezas produzidas em um determinado período, país, cidade, estado.

O cenário mundial 
mico, não necessariamente retrata uma melhora no desenvolvimento social. Eis algumas
razões que podem explicar esta contradição:

• o PIB do Brasil é o 10.º do mundo, com R$ 2,1 trilhões, segundo o IBGE (2007);

• apesar disso, 56,9 milhões de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza e 24,7 milhões
na extrema pobreza (IPEA, 2001);

• o Brasil é o oitavo país em desigualdade de renda no mundo depois da Guatemala,


Suazilândia, República Centro-Africana, Serra Leoa, Botsuana, Lesoto e Namíbia
(PNUD, 2005);

• para erradicar a extrema pobreza brasileira seria necessário não mais que 1% da renda
do país. Para se erradicar a pobreza seriam precisos 5% (IPEA, 2004);

• as transições econômicas convulsivas causam desigualdade crescente e alto desem-


prego (PNUD, 2005).

Um indicador que pode expressar o cres-


cimento econômico de um país está repre-
sentado pelo comportamento da balança
comercial. Segundo dados de Ribeiro (2007)
a balança comercial brasileira registrou um
saldo positivo de U$$ 3,688 bilhões em maio
deste ano, resultado 28,2% superior ao regis-
trado em maio de 2006.

Segundo Ribeiro, apesar desse resultado posi-


tivo do mês de maio, a expectativa para este
ano é que o superávit comercial seja menor
que o registrado no ano passado, devido ao
crescimento das importações terem crescido
a um ritmo superior ao das exportações, o que
começa a afetar o saldo da balança.

Este conteúdo introdutório não poderia deixar de encerrar esta primeira parte sem apresentar
um texto que recebi do Instituto Ethos, denominado Manifesto pelo desenvolvimento susten-
tável, que tem como finalidade instigar a reflexão dos assuntos abordados neste momento.
Acreditamos que o texto seja apropriado à sua leitura em virtude de ser de autoria de dois
grandes conhecedores e praticantes da RSS no Brasil. Certa de que este artigo também
será de grande valia para a fixação dos conhecimentos e para o desenvolvimento da ativi-
dade prevista nesta unidade, ao mesmo tempo em que constitui a transição para o conteúdo
desenvolvido para o segundo objetivo especifico da disciplina, isto é: entender a relação entre
responsabilidade social e desenvolvimento sustentável.

10 O cenário mundial
INSTITUTO

MANIFESTO PELO DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL

O ano de 2006 poderá passar para a história como aquele em que as pessoas, as organizações
empresariais e os próprios governos no mundo inteiro iniciaram um processo de conscientização
a respeito do risco real que a humanidade inteira corre se não houver uma transformação radical
nos modelos de desenvolvimento adotados pelos países até o momento.

Governantes, empresários, cidadãos comuns, enfim, uma parcela cada vez maior de seres hu-
manos acorda para a realidade de que a assimetria crescente entre ricos e pobres e as ameaças
por conta do mau uso dos recursos naturais comprometem não só as sociedades democráticas,
mas exaurem o próprio planeta.

Estranhamente, parece que o Brasil ainda não acordou para esta nova realidade repleta de
ameaças e oportunidades.

Na última campanha presidencial, o desenvolvimento sustentável esteve completamente ausente


nos debates, no discurso dos candidatos e nos programas de governo. Falou-se apenas em cres-
cimento econômico em si, como se fosse a solução para todos os problemas nacionais. Não se
questiona, nas propostas governamentais e de alguns setores empresariais, o preço deste cres-
cimento, quem serão seus beneficiários e o impacto sobre as próximas gerações. A preservação
do nosso patrimônio ambiental e os cuidados com a nossa rica diversidade cultural passaram a
ser colocados como obstáculos ao “progresso”.

Aquecimento global, destruição de florestas, seca, poluição, enchentes, nada disso parece inte-
grar as preocupações de nossos governantes, de nossos líderes e, principalmente, de algumas
entidades empresariais representativas. Parece-nos até que o Brasil alienou-se da sua condição
de um dos maiores e dos mais populosos países do planeta.

Paradoxo incompreensível, pois governos federais e estaduais, mundo afora, considerados


refratários às questões vinculadas à sustentabilidade estão progressivamente implementando
programas e planos que contemplam a substituição de combustível fóssil por energias limpas
e a adoção de outros processos menos agressivos ao meio ambiente. Quando não o fazem na
dimensão federal, fazem-no na dimensão estadual e municipal, como ocorre nos EUA.

O cenário mundial 11
Até a China, que está no limite da sustentabilidade, quando apresentou em Davos o seu plano
qüinqüenal de desenvolvimento, deu grande ênfase ao meio ambiente, à questão da água e às
fontes de energia renovável.

Mesmo a mídia vem mudando de opinião. É o caso do jornal britânico Financial Times, bastião
dos princípios neoliberais no mundo. Em editorial publicado no início de novembro, o jornal reco-
nhece que a “mão invisível” do mercado não é suficiente para impedir a degradação ambiental e
os problemas sociais. “Precisamos encontrar alternativas”, reconhece o editorialista, insuspeito
de qualquer simpatia com movimentos ou opiniões anticapitalistas. Outro pilar da supremacia do
mercado, a revista The Economist, também britânica, não tem dúvidas em afirmar que os negócios
com energia limpa têm o potencial para tornarem-se, em breve, em um “boom” de investimentos,
semelhante à corrida tecnológica das décadas de 1980 e 1990.

Há outros fatos que também demonstram como o desenvolvimento sustentável já faz parte das
preocupações dos mais variados segmentos econômicos: as seguradoras estimulam e aprofundam
a elaboração de indicadores não-financeiros para avaliar os riscos dos negócios. As quatro maio-
res auditorias do mundo (Deloitte, KPMG, Price e Ernst & Young ) aplicam com mais freqüência
critérios não-financeiros para analisar balanços, reconhecendo que os princípios contábeis até
hoje vigentes tornam-se progressivamente obsoletos para avaliar o impacto socioambiental das
atividades das empresas, assim como a continuidade de suas atividades econômicas.

Ao desprezar o desenvolvimento sustentável como alternativa para a sociedade, o Brasil comete


um erro triplo: 1 – não potencializará sua condição única nas áreas de energia limpa, biodiversidade
e inclusão social na base da pirâmide; 2 – continuará insistindo num modelo de crescimento que
exclui milhões de brasileiros que, de outra maneira, na perspectiva do desenvolvimento susten-
tável, serão incluídos também como protagonistas do processo de crescimento; 3 – continuará
queimando florestas, desperdiçando riquezas e destruindo sua biodiversidade, hipotecando das
gerações futuras a condição de emancipação, dignidade e cidadania global. Também continuará
ocupando vergonhosas posições nos rankings de desenvolvimento humano e de corrupção, bem
como o de 4.o maior emissor de carbono no mundo.

Já que conhecemos os riscos do atual modelo de desenvolvimento, temos recursos e tecnologia


e sabemos o que deve ser feito para alcançar a justiça social e cuidar do planeta, a opção pelo
desenvolvimento sustentável depende apenas da vontade política dos governos e da sociedade.
Esta é uma escolha ÉTICA.

Quando o Instituto Ethos começou suas atividades, há oito anos, preocupou-se em construir uma
discussão que deixa claro para a sociedade brasileira que a responsabilidade social empresarial
(RSE) representa um estágio superior de gestão empresarial, por criar condições para que as
empresas potencializem seus impactos positivos e tornem-se agentes inovadores e parceiros na
construção de uma sociedade mais justa e sustentável.

12 O cenário mundial
O Instituto Ethos não representa as empresas associadas. Estas têm outras entidades para
representá-las. O Instituto Ethos representa, sim, uma cultura organizacional crescente, um
movimento que vem transformando as empresas de qualquer porte ou setor, ultrapassando até
os limites corporativos. Essas empresas, ao identificar nesses desafios as oportunidades para
realizar negócios de uma outra maneira, tornam-se peças-chave na construção de uma outra
globalização, aquela em que as tecnologias, os processos, os produtos e os serviços contribuirão
para a emancipação de populações marginalizadas e para a construção de sociedades onde a
civilização pode se revelar na sua plenitude, sem comprometer o planeta.

Para muitos países, movimentos vivos da sociedade civil organizada e empresas, o ano de 2006
representa a aurora de um novo modelo de desenvolvimento, que cada vez mais se torna um
imperativo moral, com todos os dilemas e todas as imensas oportunidades que traz qualquer
transformação. Para os brasileiros, no entanto, 2006 poderá ser o ano em que, tal qual avestruzes,
paralisamos perplexos diante de uma realidade que não temos competência para operar.

Por não concordar com a omissão e por ter um profundo compromisso com a responsabilidade
social empresarial e o projeto de desenvolvimento sustentável, por ter o dever do pioneirismo e a
responsabilidade da ação inovadora, o Instituto Ethos decide tornar a premissa do desenvolvimento
sustentável, o motor de sua ação estratégica.

Para isso, propõe-se a:

 ampliar os canais de diálogo com a sociedade civil e os governos para reforçar o compromisso
do setor empresarial com outro modelo de desenvolvimento;

 empreender esforços para aprofundar e reconhecer, no mercado e na sociedade, alterna-


tivas concretas de processos, produtos e serviços de baixo impacto ambiental, inovadores e
promotores da inclusão social;

 convocar seus associados e as empresas líderes em RSE para realizar um esforço extraordi-
nário de construção de uma estratégia para a sociedade brasileira, baseada nessas premissas,
bem como para aprofundar o desenvolvimento sustentável como estratégia para o país.

Finalmente, o Instituto Ethos compromete-se a não economizar esforços e a engajar-se em tantos


diálogos quantos forem necessários para tornar as premissas do desenvolvimento sustentável no ver-
dadeiro projeto do Brasil hoje, com inclusão social e dignidade para as atuais e futuras gerações.

Oded Grajew
Presidente do Conselho Deliberativo
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social

Ricardo Young
Presidente
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social

O cenário mundial 13
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14 O cenário mundial
ANOTAÇÕES

O cenário mundial 15

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