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O documento discute as principais espécies de peixes redondos cultivados no Brasil, incluindo o pacu, o tambaqui e a pirapitinga, bem como seus híbridos. Detalha aspectos como reprodução, idade ideal para reprodução, época de reprodução, seleção de reprodutores e indução da desova. Também fornece informações sobre a taxonomia destas espécies.
O documento discute as principais espécies de peixes redondos cultivados no Brasil, incluindo o pacu, o tambaqui e a pirapitinga, bem como seus híbridos. Detalha aspectos como reprodução, idade ideal para reprodução, época de reprodução, seleção de reprodutores e indução da desova. Também fornece informações sobre a taxonomia destas espécies.
O documento discute as principais espécies de peixes redondos cultivados no Brasil, incluindo o pacu, o tambaqui e a pirapitinga, bem como seus híbridos. Detalha aspectos como reprodução, idade ideal para reprodução, época de reprodução, seleção de reprodutores e indução da desova. Também fornece informações sobre a taxonomia destas espécies.
27 Panorama da AQICULTURA, maro/abril, 2004 27 Por: Fernando Kubitza, Ph.D. (Acqua & Imagem) fernando@acquaimagem.com.br As principais espcies e os hbridos O pacu, o tambaqui e a pirapitinga, bem como alguns hbridos entre estas espcies, so os peixes redondos de impor- tncia para a piscicultura comercial no Brasil. Estes peixes tambm so cultivados em pases vizinhos, como o caso do pacu cultivado no Paraguai e na Bolvia, e do tambaqui e da pirapitinga, nativos e cultivados no Peru, na Colmbia e na Venezuela. Estes peixes so reoflicos (percorrem longas dis- tncias durante o perodo reprodutivo e realizam a desova total na poca da piracema). O rpido crescimento (podem atingir entre 1 e 1,5kg de peso no primeiro ano de cultivo), o hbito alimentar diversificado (no habitat natural comem frutas, se- mentes, moluscos, plantas, pequenos peixes, caranguejos, entre outros alimentos), a rusticidade sob condies de cultivo, a facilidade de captura (despesca com redes), a esportividade e a carne de boa qualidade contriburam para uma rpida popularizao do cultivo desses peixes. OTambaqui Colossoma macropomum O tambaqui, at o presente momento, a principal espcie amaznica cultivada no Brasil. Na natureza h registros de que esse peixe atinge peso ao redor de 30 quilos, sendo considerado o segundo maior peixe de escamas da bacia amaznica, perdendo em porte somente para o pirarucu ( Arapaima gigas). A facilidade de produo de alevinos e o rpido crescimento fizeram do tambaqui um dos peixes mais populares da piscicultura brasileira. Apesar do seu cultivo ser possvel em todo o Brasil, o risco de alta mortalidade durante os meses de inverno tem desencorajado o cultivo do tambaqui nos estados das regies Sul e Sudeste, particularmente em locais onde a gua pode atingir temperaturas abaixo dos 17 o C. Desse modo, o cultivo do tambaqui tem se concentrado nas regies Norte, Nordeste e Centro-Oeste do pas, mgrande nmero de estudos cient- ficos j foi realizado sobre diversos aspectos da biologia e cultivo dos peixes do gnero Colossoma e Piaractus no Brasil e em pases vizinhos como o Peru, a Venezuela e a Colmbia. Estes estudos esto amplamente distribudos emrevistas cientficas e livros editados no Brasil e no exterior, emanais de Si mpsios Brasileiros e Latino Americanos de Aqicultura, nos resumos de Simpsios I nternacionais, dentre outros veculos impressos. Paralelamente, um grande volume de conhecimento emprico gerado diariamente nas pisciculturas distribudas por todo o pas. Assim, com o presente artigo espera- mos compartilhar tais conhecimentos com os produtores, tcnicos e diversos outros profissionais envolvidos ou no no processo produtivo e no desenvolvimento tecnolgico do cultivo de peixes redondos no Brasil. Devido extenso do assunto este artigo ser dividido em duas partes. U 29 Panorama da AQICULTURA, maro/abril, 2004 onde alm do clima favorvel, o tambaqui desfruta de boa aceitao no mercado. Tambm conhecido como cachama (Venezuela), gamitama (Per) e cachama ne- gra (Colmbia), o tambaqui possui dentes molariformes que lhe permitem triturar frutos, castanhas, sementes, caramujos, dentre outros alimentos que compem a sua dieta natural. Colossoma oculum (Cope, 1871) e Colossoma nigripinnis (Cope, 1878) so denominaes sinnimas do tambaqui. Os hbridos Diversos hbridos entre essas trs espcies j foram produzidos expe- rimentalmente e alguns deles hoje so cultivados comercialmente no Brasil. O tambacu o hbrido mais comumente usado pelos produtores. Resulta do cruzamento induzido entre fmeas de tambaqui e machos de pacu. Comparado ao tambaqui, tolera melhor as baixas temperaturas dos meses de inverno nas Regies Sul e Sudeste, alm do que apresenta crescimento mais rpido do que o pacu. Nakaghi et al (1997) observaram a presena de gametas bem desenvolvidos nas gnadas de machos e fmeas do hbrido tambacu, sugerindo ser possvel o cruzamento destes hbridos com as espcies originais, o que realmente tem sido comprovado em algumas pisciculturas. Cerca de 20% dos animais amostrados demonstraram hermafroditismo tpico. Vasques et al (1997) tambm relataram casos de hermafroditismo no tambacu. Opacu Piaractus mesopotamicus O pacu originrio das bacias do Rio Paraguai (Pantanal Mato-grossense) e do Prata (que drena o Rio Grande, o Rio Paran e o Rio Tiet). Na natureza chega a alcanar cerca de 20 quilos. A relativa facilidade de produo de alevinos e a esportividade do pacu foram fundamentais para que este pei- xe conquistasse posio destacada entre as espcies nativas mais cultivadas no pas, e se tornasse um dos peixes mais apreciados nos pesque-pagues espalhados nas regies sudeste e centro-oeste do pas. O mercado do pacu para o consumo mais restrito aos estados da regio centro-oeste, principal- mente o Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul, onde a pesca do pacu sempre foi abun- dante. No entanto, a disponibilidade do pacu oriundo de pisciculturas vem aumentando e pode ajudar a popularizar o consumo deste peixe em outras regies, notadamente na regio sudeste. O pacu tambm possui dentes molariformes que auxiliam na triturao de frutos, sementes, caranguejos e outros tipos de alimentos naturais. Colossoma mitrei (Berg, 1895) e Myletes mesopotamicus (Holmberg, 1887) so sinnimos dessa espcie. A pirapitinga Piaractus brachypomum A pirapitinga, tambm conhecida como morocoto na Venezuela, paco no Per e cachama blanca na Colmbia, a nica espcie do gnero Piaractus encontrada na Bacia Amaznica. Pode alcanar at 20 quilos de peso e considerado o terceiro maior peixe de escamas da Amaznia. No Brasil os primeiros trabalhos visando a produo de alevinos em larga escala e a avaliao do desempenho da pirapitinga em cultivo foram realizados pelo DNOCS na dcada de 70. Em virtude de apresentar um crescimento um pouco mais lento do que o tambaqui, o cultivo comercial da pirapitinga no se tornou to popular no Brasil. No entanto, este peixe tem sido utilizado em cruzamen- tos para a obteno de hbridos com o pacu (patinga) e com o tambaqui (tambatinga). Colossoma brachypomum (Cuvier, 1818) e Colossoma bidens (Spix, 1829) so sinnimos dessa espcie. O pacu, o tambaqui e a pirapitinga so espcies da mesma ordem, famlia e subfamlia, (ver quadro 1) se enquadrando dentro da seguinte classificao taxonmica: Ordem: Characiforme Famlia: Characidae Subfamlia: Myleinae Gneros: Colossoma (tambaqui) e Piaractus (pacu e pirapitinga) Exemplares de pacu Piaractus mesopotamicus F o t o s :
P r o j e t o
P a c u 31 Panorama da AQICULTURA, maro/abril, 2004 Outros hbridos: o paqui um hbrido advindo do cruzamen- to entre fmeas de pacu e machos de tambaqui. O tambatinga resulta do cruzamento de fmeas de tambaqui e machos de pirapitinga. O primeiro registro de uso deste hbrido em aqicultura foi feito por Darmont e Salaya (1984) na Venezuela. Reproduo e produo de ps-larvas H um grande volume de informaes no que diz respeito reproduo controlada e larvicultura dos peixes redondos, confor- me sumarizadas a seguir. Idade ideal para reproduo- A partir do 3 o ou 4 o ano de vida para o pacu e a partir do 4 o ou 5 o ano de vida para o tambaqui e pirapitinga. Em regies com temperaturas mdias anuais mais baixas, a maturao das gnadas destes peixes mais lenta. Lima et al (1994) observa- ram que as fmeas de tambaqui cultivadas na Regio Sudeste tiveram a sua primeira maturao sexual prxima ao 6 o ano de vida. Por outro lado, com 3 a 4 anos de idade o tambaqui atinge a maturidade sexual na regio amaznica (Brasil, Colmbia e Peru). Woynarovich (1987) sugere que a maturao sexual da pirapitinga na Regio Nordeste ocorre mais cedo do que a maturao do tambaqui, ou seja, por volta do 2 o ou 3 o ano de vida. poca de reproduo - A reproduo do tambaqui e do pacu geralmente ocorre de outubro a maro, sendo observada uma maior concentrao das desovas no perodo de novembro a fevereiro. No caso do tambaqui na Regio Nordeste, possvel a realizao de duas indues desova no ano com a mesma fmea. Ramos et al (1998a) demonstrou que os reprodutores de tambaqui mantidos em estufas no CEPTA/IBAMA (Pirassununga-SP) desovaram antecipadamente em outubro, cerca de 2,5 meses antes do perodo normal de desova. Na estufa, a temperatura mdia nos meses mais frios foi 4 o C superior a observada nos viveiros sem estufa (Ferrari et al 1998). Seleo dos reprodutores para a induo da desova- Os machos que liberam smen de cor branca e de aspecto denso aps uma leve presso no abdmen so os mais adequados para a reproduo. Com relao s fmeas, devem ser selecionadas aquelas com o abdmen distendido (volumoso) e macio ao toque, geralmente com a papila genital avermelhada e entumescida. Desova induzida- O procedimento mais comum para a induo desova a aplicao de extrato de hipfise. Geralmente so usadas hipfises de carpa (normalmente importadas), embora j tenha sido empregado com sucesso hipfises de curimat (Nordeste), de curimbat (Sudeste) e de jaraqui (no Norte). Nas fmeas geralmente so aplicadas duas doses espaadas entre 8 e 12 horas. Na primeira dose aplicado 0,5mg de extrato de hipfise/kg e, na segunda, so aplicados 4,5 a 5,0mg/kg. No macho, uma nica dose de 1,0 a 2,0mg/kg aplicada no mesmo momento da segunda dose nas fmeas. Para o pacu, Bock e Padovani (2000) apontam ser eficaz a aplicao de extrato de hipfise a uma dose preparatria de 0,5mg/ kg nas fmeas (diluda em 0,25ml de soro/kg de reprodutor) e, aps 12 horas, uma dose definitiva de 5mg/kg (diluda em 0,5ml de soro/ kg de reprodutor). Nos machos, usualmente realizada uma nica aplicao de 1,5 a 2,0mg de extrato de hipfise/kg (diludos em 0,25ml/kg de reprodutor), simultaneamente segunda aplicao nas fmeas. O momento da ovulao e desova geralmente ocorre aps acumuladas 220 a 280 horas-grau, ou seja, entre 8 a 10 horas aps a aplicao da segunda dose de extrato de hipfise nas fmeas com a temperatura mdia da gua ao redor de 27 o C. Para o pacu, a ovulao geralmente ocorre entre 240 e 270 horas-grau (Bock e Padovani, 2000). Na regio de Alta Floresta MT, a desova do tambaqui ocorreu entre 200 e 250 horas-grau (Godoi et al 2000). No Peru foi registrada a ovulao e desova do tambaqui cerca de 11 horas aps a induo hormonal a uma temperatura mdia de 26,8 o C (290-300 horas-grau). Para a pirapitinga o tempo necessrio para a ovulao e desova foi semelhante, cerca de 11 horas a 27,4 o C (Bocanegra, 1989). Fecundidade- Bocanegra (1989) apresentou as seguintes equa- es relacionando o peso das fmeas em quilos (PF) e o nmero de vulos (NO): Tambaqui: NO = 167.899 + (33.818 x PF) Exemplo: para fmeas com peso ao redor de 6kg o nmero mdio de vulos produzidos prximo a 370 mil, ou 62 mil vulos/ kg de peso. Pirapitinga: NO = -382.881 + (186.780 x PF) Exemplo: para fmeas com peso ao redor de 6kg o nmero mdio de vulos produzidos prximo a 740 mil, ou 123 mil vulos/kg de peso. Para o tambaqui e a pirapitinga, cada grama de vulos aps a extruso contm cerca de 1.000 vulos (Bocanegra 1989; Da Silva e Pinheiro 1989). Malca (1989) sugere uma estimativa volumtrica, utilizando o valor mdio de 1.400 vulos por mililitro (ou 1.400.000 vulos por litro) aps a extruso. Bernardino et al (1994b) registraram desovas com 50 a 70g de vulos liberados por quilo de fmea, ou seja, entre 50 a 70 mil vulos por quilo de fmea. Dependendo da condio das fmeas, mais 100g de vulos podem ser liberados por quilo de peso vivo. Saint-Paul (1986) registra que fmeas de tambaqui com peso ao redor de 15kg podem produzir entre 1 e 2 milhes de vulos. Extruso e fertilizao dos ovos- O corpo dos reprodutores deve estar seco no momento da coleta dos vulos e do smen. Os vulos so coletados diretamente em uma bacia plstica. O smen pode ser coletado previamente em um copo plstico ou bquer para depois ser usado na fertilizao, ou mesmo ser gotejado diretamente sobre os vulos na bacia. O soro fisiolgico a 0,9% ou uma soluo sal- uria (soluo sal-carbamida com 40g de sal comum e 30g de uria em 10 litros de gua), podem ser utilizados no momento da fertilizao para prolongar a motilidade dos espermatozides. A soluo de fertilizao deve ser utilizada em volume entre 30 e 50% do volume dos vulos. Imediatamente aps a adio do smen e da soluo de fertilizao, os vulos devem ser gentilmente revolvi- dos (com o uso de uma pena ou de uma esptula de plstico ou borracha), permanecendo com os espermatozides por cerca de 3 minutos nessa soluo para assegurar uma boa fecundao. De maneira geral, a taxa de fertilizao gira entre 60 e 95%. Incubao dos ovos - As incubadoras do tipo cnicas ou funil so as mais adequadas produo de ps-larvas de peixes redondos, comportando entre 1.500 a 2.500 ovos/litro. A vazo de gua deve ser regulada entre 2 a 10 litros de gua/minuto, de acordo com o volume das incubadoras (entre 60 e 200 litros). O tempo necessrio para o incio da ecloso dos ovos varia com a temperatura da gua, conforme ilustrado no Quadro 02. Abaixo de 22 o C e acima de 32 o C o sucesso da incubao dos ovos muito pequeno. A incubao dos ovos em temperaturas acima de 32 o C resulta em alta mortalidade dos embries e no nascimento de embries com grande incidncia de anormalidades e praticamente todas as ps-larvas iro morrer cerca de 4h aps a ecloso. 32 Panorama da AQICULTURA, maro/abril, 2004 A adequada oxigenao da gua nas incubadoras funda- mental durante a incubao dos ovos. Valencia e Puentes (1989) relatam que com a manuteno do oxignio dissolvido acima de 4mg/l, a taxa de fecundao geralmente fica prxima de 90% na fase de blastporo. No entanto, quando o nvel de oxignio declina para valores entre 2 e 3,5mg/l, a taxa de fecundao (medida na fase de blastporo) cai para 20%. A alimentao das ps-larvas- A absoro completa do saco vitelnico das ps-larvas pode levar de 4 a 6 dias, dependendo da temperatura da gua na incubadora ou nos tanques de larvicultura (Bello et al 1989; Valencia e Puentes 1989). Durante esta etapa de desenvolvimento uma prtica comum a oferta de leite em p, leveduras, gema de ovo cozido, ovo microencapsulado, farinha de sangue, entre outros tipos de alimentos, para as ps-larvas. No entanto, estas ainda no possuem sistema digestivo capaz de aproveitar estes alimentos. Nesta fase as ps-larvas comeam a se alimentar de organismos planctnicos, dentre eles os rotferos, os nuplios de coppodos e os pequenos cladceros. Entre o 6 o e 9 o dia de vida, a maioria das ps-larvas j demonstrou ser capaz de se alimentar com nuplios de artmia (Cestarolli e Salles, 2000). Bello et al (1989) observaram um consumo entre 60 a 170 cladceros por ps-larva diariamente. Ps-larvas estocadas diretamente nos viveiros de larvicultura apresentaram grande preferncia por cladceros e dpteros e so- mente comeam a consumir rao a partir do 12 o dia aps a estocagem. Somente aps o 16 o dia de estocagem nos viveiros foi possvel registrar mais de 50% das ps-larvas com rao no trato digestivo (Senhorini e Fransozo, 1994). O uso exclusivo de rao na alimentao inicial das ps- larvas resulta em reduzido crescimento e sobrevivncia, compara- do oferta de nuplios de artmia ou de uma combinao de nuplios de artmia e plncton. Jomori et al (2003b) verificaram que as ps-larvas de pacu alimentadas exclusivamente com nuplios de artmia nos primeiros 9 dias foram capazes de se alimentar com 33 Panorama da AQICULTURA, maro/abril, 2004 bm foi registrado na larvicultura de muitas outras espcies de peixes cultivadas no mundo. Predadores das ps-larvas - Os coppodos podem exercer uma significativa predao de ovos, larvas e ps-larvas de pacu, tambaqui, pirapitinga e de ou- tras espcies nativas. Essa predao pode ocorrer tanto nas incubadoras como nos primei- ros dias aps a estocagem nos viveiros de larvicultura. Em ex- perimento realizado em aquri- os, Faria et al (2001) registra- ram que a mortalidade entre lar- vas de pacu com 6 mm aumen- tou de 0 para 44% com a eleva- o na densidade de coppodos de 0 para 30 organismos por litro nos aqurios experimen- tais. Outro importante predador de ps-larvas freqentemente observado nos viveiros de larvicultura so as ninfas de Odonata (ninfas de liblulas). Valncia e Puentes (1989) sugerem que estes insetos podem predar 70 a 90% das ps- larvas estocadas nos viveiros. Uma forma de reduzir a predao das ps-larvas realizar um crescimento prvio das mesmas em condies mais pro- tegidas antes do povoamento nos viveiros. Jomori (2001) obteve ndices de sobrevi- vncia superiores a 80% com ps-larvas de pacu mantidas sob condies controladas em laboratrio e alimentadas com nuplios de artmia. Tambm observou que a sobre- vivncia e a recuperao de alevinos a partir das ps-larvas estocadas em viveiros aduba- dos foi de 11% quando as ps-larvas foram estocadas diretamente nos viveiros. Esta recuperao aumentou para 25, 45 e 54% quando as ps-larvas foram mantidas por perodos de 3, 6 e 9 dias, respectivamente, sob as condies protegidas do laboratrio, alimentadas com nuplios de artmia antes de serem estocadas nos viveiros de larvicultura. A predao por coppodos e por odonatas pode ser minimizada estocando-se as ps-larvas imediatamente aps o preparo dos viveiros, no mximo no 3 o dia contado a partir do incio do enchimento dos viveiros. Durante o preparo dos viveiros tambm possvel eliminar as ninfas de odonata e outros insetos predadores com a aplicao de inseticidas como o folidol ou de uma misturade leo diesel e leo queimado sobre as poas dgua remanescentes no fundo dos viveiros. uma dieta comercial microencapsulada. No entanto, a recuperao de alevinos foi de apenas 26% aps 35 dias de experimento. O fornecimento simultneo de nuplios de artmia e alimento microencapsulado por mais uma semana (at 16 dias), elevou a sobrevivncia das ps-larvas para valores prximos a 46%. Prolongando o perodo de alimentao com nuplios para 21 dias e realizando o fornecimento simultneo de dieta microencapsulada nos ltimos 7 dias, a sobrevivncia das ps larvas subiu para valores prximos a 70%. Pedreira e Sipaba-Tavares (2001) demonstraram que a colorao das incuba- doras usadas para a larvicultura exerce in- fluncia sobre a sobrevivncia e crescimen- to das ps-larvas de tambaqui. Observaram uma sobrevivncia de 68% das ps-larvas estocadas em recipientes com colorao verde claro, comparado a apenas 9% em recipientes marrom escuro. Aps 20 dias de estudo, as ps-larvas mantidas em recipien- tes de cor verde atingiram 32mg compara- das a apenas 22mg para as ps-larvas mantidas nos recipientes de cor marrom escuro. A maior sobrevivncia e crescimen- to das ps-larvas nos recipientes verde cla- ro foi atribuda a melhor visualizao do zooplncton e outras partculas de alimen- tos pelas ps-larvas, devido a melhor luminosidade e ao maior contraste do ali- mento natural com o ambiente de cultivo. Esse efeito da cor do fundo sobre o desem- penho e sobrevivncia das ps-larvas tam- Coppodos e ninfas de odonatas exercemgrande predao sobre as ps-larvas nos viveiros. Essa predao minimizada coma aplicao de cal nas poas, que elimina insetos e peixes remanescentes, coma estocagem das ps-larvas no mais do que 3 dias aps o incio do enchimento dos viveiros, e coma estocagem de ps-larvas maiores, crescidas por pelo menos uma semana em local protegido, tambmreduz o risco de predao. 35 Panorama da AQICULTURA, maro/abril, 2004 Os cuidados no preparo dos viveiros para larvicultura A larvicultura e a produo de alevinos em grande escala tm sido realizadas com a transferncia das ps-larvas direta- mente das incubadoras para os viveiros ou tanques previamente preparados e fertilizados, onde as ps-larvas permanecem por um perodo que varia entre 25 e 40 dias at atingirem o estgio de alevinos prontos para a comercializao. Eliminao dos potenciais predadores- Ninfas de liblulas (Odonata), os remadores (Notonecta), as baratas dgua, e os alevinos e peixes invasores que ficaram nos viveiros devem ser eliminados com a aplicao de 200 a 300 gramas de cal virgem/ m 2 de poa. A cal aplicada nas poas contribuir parcialmente com a calagem dos viveiros. Calagemdos viveiros- A calagem corrige o pH de guas muito cidas, melhora a disponibilidade de nutrientes para o fitoplncton, ajuda a manter o pH da gua mais estvel e fornece clcio para o desenvolvimento do zooplncton. A calagem no necessria quando a alcalinidade e a dureza total da gua forem superiores a 30mg de CaCO 3 /L. Geralmente so aplicados entre 200 e 400 kg de calcrio agrcola por 1.000m 2 . Enchimento dos viveiros e controle de girinos- A preveno da entrada de peixes predadores nos viveiros pode ser feita com a colocao de uma tela de 0,5mm no tubo de abastecimento de gua. O enchimento dos viveiros deve ter incio no mximo 2 a 3 dias antes da estocagem das ps-larvas. Desta forma, no haver tempo para o estabelecimento de uma grande populao de insetos predadores. Deve ser evitado tambm o estabeleci- mento de girinos, por meio da vistoria das margens dos vivei- ros todas as manhs visando lo- calizar e remover as desovas de sapos e rs. As margens dos vi- veiros devem ser mantidas lim- pas (sem mato) para diminuir os potenciais locais de desova dos sapos. Ateno deve ser dada aos girinos que aparecerem. Estes devem ser removidos (com pus ou redes) enquanto ainda so jo- vens e permanecem agrupados. Adubao dos viveiros- em- pregada para promover o desen- volvimento de bactrias e do fi- toplncton, que serviro de ali- mentos aos protozorios e rotferos. Os protozorios e os rotferos so os primeiros ali- mentos das ps-larvas de muitas espcies de peixes. O fitoplnc- ton, os protozorios e os rotferos serviro de alimentos para os nuplios, copepoditos e as for- mas adultas dos coppodos e cladceros. Estes organismos tambm se alimentam com as minsculas partculas de materi- al orgnico em suspenso na gua, provenientes da adubao com farelos vegetais, restos de rao e outros adubos orgnicos. Adubao inicial - Apesar da adubao dos viveiros de larvicultura ser tradicionalmente efetuada com a aplicao de estercos ani- mais, em particular da cama ou do esterco de frango, a nossa experincia com o uso do farelo de arroz e de outros farelos invariavelmente possibilitou atingir resultados superiores e mais consistentes, notadamente no que diz respeito sobrevivncia das ps-larvas e nmero de alevinos produzidos. A adubao inicial deve ser realizada com a aplicao de 10kg de farelo de arroz e 3 Uso do disco de Sechi para ajustes na adubao dos viveiros de larvicultura. Pirapitingas ( frente) e tambaqui (ao fundo), fotografados pelo autor no aqurio de Cahatanooga, Tenesse, EUA 37 Panorama da AQICULTURA, maro/abril, 2004 Tabela 1. Produo esperada (toneladas por hectare) de peixes redondos sob diferentes condies de cultivo. (calagem e adubao) e estocados, o fornecimento de rao pode ser iniciado aps o 10 o dia da estocagem das ps-larvas (cerca de 13 a 14 dias aps a ecloso). Se houver grande abundncia de zooplncton neste perodo, o incio do arraoamento pode ser protelado ainda mais. Bock e Padovani (2000) recomendam o fornecimento de rao com pelo menos 30% de protena, na forma de p, com partculas de 250 micra, sendo esta alimentao iniciada aps o 10 o dia de vida das ps-larvas. Quintero et al (2000) ratificou a necessi- dade de suplementao vitamnica completa nas raes para assegu- rar adequado crescimento e sobrevivncia de ps-larvas de pacu. Santos Jr. et al (1994) observaram que uma freqncia de alimen- tao de 5 vezes ao dia resultou em maior sobrevivncia de ps-larvas/ alevinos de pacu comparada a 3 alimentaes ao dia (52% versus 35%). No foram observadas diferenas na variabilidade de peso e de tamanho dos alevinos aps a aplicao destas duas estratgias de alimentao. Estratgias de recria e a expectativa de produo Diversas estratgias de recria tm sido utilizadas na produ- o de peixes redondos para o consumo ou para a pesca esportiva. Na tabela 1 esto reunidas as principais estratgias e expectativas de produo. kg de uria por 1.000m 2 sobre todo o viveiro quando o fundo do mesmo j estiver coberto por uma lmina dgua com cerca de 40 a 50cm de profundidade mdia. O uso de fertilizantes fosfatados deve ser evitado ou minimizado. O excesso de fsforo nas adubaes iniciais favorece o desenvolvimento de algas cianofceas, que geralmente so grandes demais para servirem de alimento ao zooplncton. Alm disso, algumas destas algas podem ser txicas ao zooplncton e tambm s ps-larvas e alevinos. Adubaes complementares- Aps a adubao inicial, de- vem ser realizadas aplicaes dirias de 5kg de farelo de arroz (ou outro farelo) por 1.000m 2 . O farelo deve ser umedecido no momento da aplicao, facilitando a distribuio do mesmo nos viveiros. Aps 5 a 7 dias da adubao inicial pode ser necessria uma nova aplicao de uria, particularmente se a transparncia medida com o disco de Secchi ainda for superior a 50cm. O produtor deve lembrar que a resposta do fitoplncton adubao no ocorre de um dia para o outro. Deve esperar 3 a 4 dias e observar o efeito da adubao com uria na transpa- rncia da gua. Se esta ainda no chegar prximo a 50cm, deve repetir a aplicao. A estocagemdas ps-larvas- Deve ser feita no 2 ou 3 dia aps o incio do enchimento do viveiro, mesmo que o viveiro ainda no esteja completamente cheio. No perodo de vero os picos de produo de protozorios e rotferos, primeiros alimentos das ps-larvas destas espcies, geralmente ocorrem no 3 o dia. To- mando todos os cuidados no preparo dos viveiros e estocando as ps-larvas neste perodo, a sobrevivncia na larvicultura pode ser superior a 70%. No raro, para algumas espcies, alcanar sobrevivncia de ps-larvas prximas de 90% em larviculturas bem conduzidas. Aps 25 a 30 dias nos viveiros, os alevinos geralmente atingem tamanho entre 3 a 5 cm. Deve ser evitada uma renovao excessiva de gua nos viveiros de larvicultura. O produtor deve se certificar de que no h excesso de gua saindo pelo dreno dos viveiros. A renovao excessiva da gua dilui os nutrientes aplicados na adubao e prejudica a formao do plncton, reduzindo o desenvolvimento e a sobrevivncia das ps-larvas e alevinos. Raes para as ps-larvas Quando os viveiros foram adequadamente preparados Produo extensiva ou rudimentar - Nessa opo os peixes contam apenas com a produtividade natural dos viveiros como fonte de alimento. A abundncia de alimento depender, portanto, da fertili- dade natural do solo e da gua. A produo raramente ultrapassa 100 kg/ha. O fator limitante ao crescimento da biomassa de peixes a baixa disponibilidade de alimento. Cultivo emviveiros adubados - A calagem e a adubao corrigem a qualidade da gua e aumentam a disponibilidade de alimento. Fertilizantes inorgnicos nitrogenados e fosfatados, e adubos org- nicos (estercos animais, farelos vegetais e subprodutos agroindus- triais) so aplicados e servem como fontes de nutrientes para o crescimento do plncton e outros organismos utilizados como alimento natural. Apesar dos peixes redondos no possurem uma habilidade muito grande em explorar o plncton, a biomassa destes peixes chega a ser 3 a 18 vezes superior biomassa sustentada no sistema extensivo ou rudimentar (300 a 1.800kg/ha). A capacidade de produo ainda limitada principalmente pela quantidade de alimento disponvel, visto ser alta a qualidade do alimento natural produzido via adubao. 39 Panorama da AQICULTURA, maro/abril, 2004 Tanques-rede ou gaiolas- O cultivo de peixes em tanques-rede ou gaiolas permite o aproveitamento de grandes audes e reserva- trios onde impraticvel a despesca total dos peixes quando estes esto soltos no ambiente. Densidades de estocagem entre 25 e 80 peixes/m 3 so usadas na finalizao de peixes redondos em tanques-rede, atingindo biomassa ao redor de 50 a 100kg/m 3 , dependendo do peso final desejado e do volume dos tanques-rede. Neste sistema de cultivo, o acesso dos peixes ao alimen- to natural limitado, havendo a neces- sidade do uso de raes nutricional- mente completas para assegurar um adequado crescimento e sade dos animais. As primeiras iniciativas de produo de peixes redondos em tan- ques-rede ocorreram no incio da d- cada de 90 e resultaram em baixa pro- duo (inferior a 30kg/m 3 ) devido inexistncia, no mercado, de raes nutricionalmente completas. Na prxima edio sero discutidos os temas qualidade da gua, nutrio e alimentao, sanidade e qualidade e ren- dimento da carne dos peixes redondos. Adubao e oferta de alimento suplementar - A substituio de parte do adubo orgnico por um alimento suplementar permite aumentar a capacidade de suporte devido ao aumento na quanti- dade de alimento ofertado e da reduo da carga orgnica do viveiro. No entanto, o alimento suplementar (restos de colheitas, frutas, verduras, restos de varejo e restaurantes, farelos mistura- dos na propriedade, entre outros) geralmente mais energtico do que protico, rico em fibras e nutricionalmente incompleto. Assim, os peixes precisam obter no alimento natural parte da protena e diversos outros nutrientes essenciais que faltam ou ocorrem em quantidades limitadas no alimento suplementar, principalmente no que diz respeito a alguns aminocidos essen- ciais, vitaminas e minerais. Com o aumento na biomassa de peixes nos viveiros, o alimento natural comea a ser insuficiente para suprir tais nutrientes limitantes no alimento suplementar. A produo de peixes redondos nesse sistema de cultivo gira em torno de 2 a 5 toneladas/ha, sendo limitada pela inadequada qualidade nutricional dos alimentos fornecidos e pela impossibi- lidade de aumentar a oferta de alimento em virtude da reduo dos nveis de oxignio dissolvido na gua. Rao completa e baixa renovao de gua- O uso de raes completas possibilita o aumento na produo por fornecer todos os nutrientes exigidos para o adequado crescimento e sade dos peixes, dispensando completamente o uso de estercos e alimento suplementar. Interessante notar que, neste nvel de produo, onde a renovao de gua zero e no h disponibilidade de aerao suplementar, a biomassa para a maioria dos peixes cultivados nivelada entre 5 a 7 toneladas por hectare. A capacidade de produo com o uso de rao completa limitada pela mxima taxa de alimentao que pode ser praticada de forma a no ocorrer nveis crticos de oxignio dissolvido nos viveiros. Esse nvel de alimentao gira em torno de 60kg/ha/dia. Rao completa e troca parcial de gua - A troca de gua, quando possvel, permite a remoo de parte da carga orgnica e dos metablitos txicos que se acumulam nos tanques e viveiros durante o cultivo. Com isso possvel aumentar os nveis de arraoamento e, conseqentemente, a capacidade de produo. Muitos sistemas com renovao parcial de gua tambm empre- gam aerao contnua, suplementar ou de emergncia. A capaci- dade de produo nos sistemas com troca parcial de gua depende da espcie cultivada, da taxa de renovao de gua empregada e da existncia ou no de um sistema de aerao, conforme apresentado no quadro 3. Para o tambaqui h registro de capa- cidade de suporte entre 10.000 e 17.000 kg/ha, com a capacidade de realizar at 40% de troca de gua/dia. Para o tambacu foi registrada uma produo de 22.000 kg/ha em cultivo onde cerca de 17% do volume dos tanques eram renovados diariamente, sem emprego de aerao. A produo de peixes redondos como uso de rao pode variar de 4 a 30 t/ ha, emfuno da capacidade de renovao de gua e da existncia ou no de um sistema de aerao de emergncia. Para o tambaqui h registro de produo de 17 t/ha, coma renovao de gua de at 40% ao dia e para o tambacu de 22t/ ha com17% de renovao ao dia.