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1. PROBLEMAS BÁSICOS
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não são essas coisas que se repetem muito por aí como significante,
e outras besteiras, que são da ordem de uma lingüística comple-
tamente gagá e que não servem mais nem para ela própria, quanto
mais para a psicanálise. Mas algumas apreensões restarão como
indicadores de processamentos futuros. Portanto, essas coisas têm
que continuar a ser elaboradas ou simplesmente farão parte do
lixo cultural como qualquer outra invenção, e estaremos apenas
repetindo a informação cultural já decantada, já tornada resto.
Ou, se não, como já disse, em termos de clínica e de instituições,
teremos pequenas igrejas, cujos membros se reconhecem uns aos
outros na repetição das mesmas rezas. Este é o destino de toda e
qualquer produção dessas, inclusive a minha. Se isso não se
movimentar, não irá a lugar algum, e se for, é pior ainda, pois não
se tornará mais que um resto cultural.
* * *
Por que, então, esse meu interesse repetitivo sobre Arte?
Porque eu gostaria, este ano, de encerrar o assunto da Arte e da
Estética na minha história de produção. Isto é praticamente im-
possível, mas é o que quero fazer. Chega, encheu, vamos passar
adiante.
O importante, como disse, é que a questão da Estética - do
que se faz na obra de arte, do que se faz com a presença do artista,
com toda a produção ainda proliferante apesar da crise que as
artes estão passando, que nos dá mesmo a impressão de que há
uma grande falta de imaginação - se torna um campo de alta
exemplaridade para as questões de nosso momento. As questões
fundamentais do homem contemporâneo se resumem facilmente
nas questões que temos para com a obra de arte. Mais ainda, se
estão lembrados de meus Seminários anteriores, uso o radical ART
no sentido etimológico de sua originariedade semântica como pro-
cesso puro e simples de articulação e o generalizo chamando de
Arte todo e qualquer processo de criação.
Vocês certamente conhecem os esforços contemporâneos de
separação dos campos. Um muito freqüente, muito lembrado e
utilizado por nossa paróquia, Rio de Janeiro, Brasil, etc., é o livro
já não tão recente de Deleuze e Guattari, este já falecido, intitulado
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Já foi o tempo em que a questão fundamental da Arte, do
belo, era fazer filosofia da arte, a qual sobrevive por aí como quer,
o problema não é nosso. Mas de muito, desde a fundação por
Baumgarten do campo chamado de Estética, do sensível (que jus-
tamente extrapola a abordagem filosófica ou nela não cabe), as
abordagens - extremamente fracionadas, pois o campo da estética
é vastíssimo: há estéticas filosóficas, sociológicas, matemáticas,
comunicacionais, lingüísticas - que tentam alguma aproximação
mais ou menos elucidativa das produções artísticas, não são mais
do campo subdito à ordem filosófica. Mas seja qual for o tipo de
abordagem que se dê à arte em geral, ou ao que é chamado de arte
em particular, os autores costumam distinguir com mais clareza
pelo menos três temas importantes relativos à obra de arte em
nossa época.
O primeiro, é a questão da racionalidade ou irracio-
nalidade. Na tradição filosófica, por via platônica, hegeliana, en-
tre outras, pretendeu-se que houvesse uma racionalidade da obra
de arte. Portanto, a filosofia poderia se debruçar sobre ela e dar
conta dela naturalmente como da ordem do conhecimento. Pois se
há uma racionalidade, qual distância se poderia construir entre a
abordagem da arte enquanto tal e a abordagem da ciência e do
conhecimento na sua maneira específica?
Do ponto de vista do que tenho construído e do que a psicaná-
lise nos deixou como resto, mesmo independentemente das obedi-
ências filosóficas, não vejo por que não tomar toda e qualquer
produção criativa da espécie, inclusive a obra de arte, em sua
racionalidade típica. A questão de racionalidade e irracionalidade
da obra de arte estava ligada à possível subserviência ou não de
sua abordagem às teorias da razão e do conhecimento na filosofia.
No entanto, existe uma estruturação qualquer de ordem estrita-
mente particular no caso da arte - como também no da ciência, da
filosofia, da religião ou de qualquer campo -, isto é, existem for-
mações do Haver, no sentido em que uso o termo, perfeitamente
mapeáveis por outras formações. E isto é um mínimo de racio-
nalidade possível para toda e qualquer tentativa de reflexão. Na
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medida, então, em que tomo o que quer que aconteça como forma-
ções que se decantam, e que não faço a abordagem dessas forma-
ções senão com outras formações decantadas, produzidas ad hoc,
ou em processo de produção, como teoremas, etc., digo que não
há outra racionalidade a se apresentar senão as parcas possibi-
lidades de mapeamento de formações por outras formações. O
que resta não descritível por esse mapeamento sobra para o cam-
po da irracionalidade, a qual é pura e simplesmente a nossa igno-
rância.
Quem acompanha meus Seminários sabe que digo que o
Haver em sua plenitude é construído de algum modo, passa, bre-
vemente que seja, por uma posição indiferenciada no sentido de
aplicar-se ao desejo de não-Haver, que é sua construção funda-
mental, e eis senão quando se fractaliza de novo, se arrebenta em
mil cacos e re-comparece fantasiado de alguma coisa, ou de uma
miríade de coisas. Isso tudo é o que Lacan diz com “estruturado
como linguagem”. Vocês sabem que costumo dizer que se ele afir-
mava que l’inconscient est structuré comme un langage, mas o
quê não é? Lacan parece ter sido um sujeito que conseguiu ganhar
a vida, ficar rico e famoso, dizendo banalidades, o que é coisa de
gênio. Só um gênio é capaz de dizer as maiores banalidades, as
maiores bobagens, transformá-las em grandes tiradas e, repetin-
do-as intensivamente, deixar todos boquiabertos. “O desejo do
homem é o desejo do Outro” - grande novidade. Mas tudo isso
funcionou. Vai ser estruturado como o quê? Vai desejar o quê?
Não há mais nada mesmo...
Ora, na medida em que supuser que, para aquém de qual-
quer Hiperdeterminação, de qualquer indiferenciação, as forma-
ções se dão como fantasiadas, desenhadas de algum modo, se
estruturam como uma linguagem se estrutura - ou seja, é redun-
dância pura... Ninguém, aliás, sabe que diabo é linguagem. Nem
Lacan. Isso se estrutura como se estrutura. Quando ele diz que o
inconsciente é estruturado como uma linguagem quer dizer que a
linguagem é estruturada como a linguagem. Ou seja, o inconsci-
ente é estruturado como o inconsciente, entenderam? Então, é nis-
so que mergulhamos, que chafurdamos, nessa imensa formação
com uma miríade de pequenas fantasias, pequenos construtos, que
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trar que existe, mas que não nos dá nenhuma garantia de conteúdo
para a comunicação. Portanto, estamos todos os homens absolu-
tamente em consenso sobre coisa nenhuma ou sobre tudo. Só que
nem sabíamos disso. Não é possível articular discurso em cima
desse consenso, se não que ele nos lembra algo que o século pare-
ce estar esquecendo, perdendo, que é: pelo Vínculo Absoluto, há
toda possibilidade de vinculação. Ao contrário do que o fim de
século está pensando, que as possibilidades de vinculação estão se
desmoronando, são impossíveis, o reconhecimento de um Vínculo
Absoluto nos dará condição de que toda e qualquer possibilidade
de vinculação é exeqüível, manejável, produzível.
Então, os amores, as transas e os roça-roças intelectuais ou
físicos são infinitamente maiores do que supúnhamos. A possibi-
lidade de estar fazendo arte é infinitamente mais numerosa do que
supúnhamos. O final de século está triste porque a bobagem da
história que pensou que era importante, não o é. O século XX está
morrendo de tristeza porque todas as besteiras em que acreditou
estão ruindo. Mas eram besteiras mesmo. Não valem mais nada.
Agora, podemos construir outras besteiras maravilhosas na medi-
da em que pararmos com a melancolia idiota de supormos que as
vinculações se tornaram impossíveis, que só há vez para um
individualismo ferrenho. Onde, se todo mundo fica refletindo a
sintomática do vizinho? Se estamos em pé de guerra de racismos,
de guerras religiosas, por que estão todos morrendo de medo de
abandonar as formações que estavam aí disponíveis? São os últi-
mos estertores deste século delirante, doente. Isto para ver se da-
mos uma virada e inventamos outra besteira, um pouco mais inte-
ressante, de preferência.
Então, é possível pensar que história e crítica, para o futuro,
não serão senão uma massa imensa, infinitamente grande, de pos-
sibilidades de leitura num vasto e potentíssimo computador de to-
das as formações disponíveis aplicáveis a todas as formações dis-
poníveis. É uma grande orgia intelectual.
Por fim, a questão da comunicação talvez se obvie por aí.
O Vínculo Absoluto nos permite toda sorte de comunicação. Para
quê? Para nada, só para a gente se divertir. Mesmo porque todas
serão precárias. Serão meramente formações mapeando forma-
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