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brasileiro, Nilo Batista (2000, p. 30) trata do direito penal germânico antigo. Elucidando que
mesmo busca salientar a impropriedade do uso do termo “sistema” no caso específico, uma
vez que, “[...] supõe uma articulação estável de operadores e agências simplesmente
inconcebível à época, quando sequer existia um cotidiano penal, e sim conflitos episódicos
que eram solucionados a partir da tradição oral a cerca da solução de conflitos análogos.”
(ibid., p. 30).
Ressalta ainda o autor que, antes de inventarem sua escrita os povos germânicos
questão são notadamente estrangeiras, apesar de, posteriormente, com o advento da escrita, as
inúmeras leis criadas perenizarem as práticas penais daqueles povos (ibid., p. 30 e 31).
2 VIDA MATERIAL
fertilidade do solo, da oferta da caça, de epidemias ou conflitos com outras tribos, e, por conta
disto não construíam casa (ibid., p. 32). Apesar de praticarem a agricultura e a pecuária, não
mantinham relações comerciais, “[...] escambo de bens manufaturados por gado ou escravos
capturados nos conflitos entre tribos [...]” (ibid., p. 32). Destacaram-se ainda na produção de
sua organização social e das relações políticas que estabeleceram e desenvolveram (ibid., p.
32).
3 ORGANIZAÇÃO SOCIAL
A forma como viviam os povos germânicos fomentava uma forte coesão grupal-
familiar, o clã, ou a Sippe, a que pertencia determinado indivíduo, não só lhe promovia o
auxílio, a defesa, mas também o seu específico reconhecimento social, e, neste tipo de
principal meio de integração, mas admitia-se outros modos de ingresso na Sippe (ibid., p. 32).
amenização dos rigores da escravidão, e, apesar dos escravos não integrarem as Sippen,
Do que se extrai que, por ter em seu bojo um forte igualitarismo, positivamente, as
característica identificadora até mesmo da própria noção de sociedade, qual seja, a indicação
a ciência de prováveis imprevisões (ibid., p. 33). Nesta linha, uma vez violada a paz da Sippe,
reafirmada e conseqüentemente a paz (ibid., p. 33). Estes procedimentos teriam ares judiciais
quando a ação que provocou a violação da paz tivesse sido individual violenta ou predatória,
pela convivencialidade familiar (ibid., p. 33). Sendo o autor da violação à paz membro da
Sippe, dependendo do caso, dentre outras medidas, poderia ser excluído e convertido em um
estranho, caso fosse membro de outra Sippe, firmar-se-ia um estado de inimizade, que só seria
à paz em morte violenta, impunha-se a vingança do sangue, que poderia recair em qualquer
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parente próximo do ofensor, diante da identificação entre os membros de uma Sippe (ibid., p.
33 e 34). A inimizade e a vingança do sangue espalharam-se como práticas por toda a Europa
vivência social que gera conflitos, necessita de imediata resposta que a dirima, como
se explicitar que, forma-se uma certa estabilização, e, ressalte-se, é desta estabilização que vai
se configurando a estrutura de poder de uma sociedade, ainda, é que, conforme esta estrutura
grupos que dominam e que são dominados, juntamente com mecanismos de controle das
5 ORGNIZAÇÃO POLÍTICA
estatal do futuro, existia o Bund, que consistia em uma liga de várias Sippen (ibid., p. 35). O
Bund apresentava-se como instância voltada aos interesses comuns, não intervindo nos
tradicionais processos internos dos grupos familiares, procurava assegurar não mais a paz de
cada Sippe, mas outra paz, a saber, de caráter convencional, pactuada (ibid., p. 35). Esta outra
paz tem um conceito jurídico, proveniente de um tratado não escrito entre várias Sippen,
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acenando para uma igualitária aplicação da lei (ibid., p. 35). Intentando a manutenção desta
paz o Bund assume funções judiciais, uma vez violada esta paz, convoca-se uma assembléia
de cem homens para discorrer quanto à aplicação de uma pena consensual, neste passo, deve-
uma espécie coercitiva de exclusão, onde o culpado sofria uma desqualificação, subtraindo-
estranho que não mais merecia integrar nem o seu, nem outro grupo do Bund, podendo ser
morto impunemente, sendo possível que qualquer parente próximo do culpado pudesse ser
atingido pela perda da paz (ibid., p. 35). Da perda da paz se originaram o banimento, o
6 O ESTRANHO BAN(D)IDO
Todos os que não fossem protegidos juridicamente pelo Bund, eram banidos do
seja, não eram propriamente homens, isto devido a múltiplas e diversas razões (ibid., p. 36).
Segundo Nilo Batista, o estranho é “[...] aquele que não é conhecido, que não integra as
grande alvo de suas práticas penais.” (ibid., p. 36). O que ganha logicidade, uma vez que,
referida sociedade propugna sua paz na manutenção das rotinas cotidianamente cumpridas e
celebradas, e o estranho amedronta simplesmente por ser desconhecido e possibilitar com isto
que o dia de amanhã seja diferente de hoje, desta feita, recai-lhe as práticas penais como
vez que, não suportavam ter em sua igualdade um diferente, o ofensor, a ponto de
que, é consideravelmente passível de ser explicada nos moldes da tão atual criminologia
crítica. Pois bem, o processo de estigmatização e exclusão de outrora e o atual parecem poder
perfeitamente receber uma mesma elucidação, a saber: de acordo com a criminologia crítica,
estigmatização (ANDRADE, 2003, p. 41), que, por sua vez, ao promover a perda da
grupo e criando alvo para o arsenal das práticas penais (ALBERGARIA, 1988, p. 148).
7 A NOBREZA GERMÂNICA
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concentração de poder era incompatível com os padrões coletivos das decisões políticas,
incorrendo na possibilidade de ser morto aquele que a tentasse (ibid., p. 37). Só em casos de
guerra um chefe era eleito, as assembléias eram presididas por um sacerdote com atribuições
ordem, o direito real de ordenar legitimamente, a figura do rei é então conhecida, mas é uma
realeza eleita, não hereditária e removível (ibid., p. 38). Outrossim, perante o avanço material
da civilização, bem como, tendo em vista as sucessivas invasões, mudanças na estrutura social
belicosa, que veio a compor um conselho, primeiro disputando e depois superando o poderio
8 PERSONALIDADE DO DIREITO
segundo o mesmo “[...] onde quer que se encontrasse o indivíduo, a ele se aplicavam as regras
dos costumes (ou mais tarde, das leis) de seu povo.” (ibid., p. 38). O referido princípio fora
diante da dura vida que levava seu povo, e da importância que indicava à comunhão entre a
força humana e as forças naturais, propiciadora da paz (ibid., p. 39). Por conta disto, o
consideração de um ato como violento e turbador da paz (ibid., p. 39). Até porque, a paz da
algo de amedrontador, como já elucidado. Assim, toda a diferença entre violência e delito
“[...] está no descompasso entre o que aconteceu e o que ‘deveria’ ter acontecido.” (ibid., p.
39).
10 OBJETIVISMO
violento imprevisto, considerado como delito, e a quebra das rotinas da Sippe, ou paz,
objetiva, onde o resultado, e não a conduta, é que importa para a reação penal (ibid., p. 40).
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11 RESPONSABILIDADE GRUPAL
acresça-se, não era pessoal, ou seja, não era circunscrita à pessoa do ofensor, neste passo,
quando não identificado o ofensor a imputação do fato recai sobre o grupo a que pertence, no
vingança de sangue e a perda da paz poderiam atingir parentes próximos do ofensor, portanto,
12 PROCESSO CRIMINAL
O processo criminal germânico antigo não tinha como objetivo a elucidação das
interessava-se muito mais pelo futuro do que pelo passado (ibid., p. 41 e 42). Investigar o
significado do delito e profetizar seus desdobramentos, sob o comando de forças naturais, que
poderiam manifestar-se até por meio de sinais aleatórios, para posteriormente chegar a uma
42). Não existia o mandato com finalidade de representação, mas, aos poucos, e em
(ibid., p. 42).
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superado pela assembléia da Sippe (ibid., p. 42). A assembléia do Bund era presidida por um
vitimizado por outrem, tinha o direito de convocar a assembléia, e esta convocação poderia se
dar de diversas formas, então, a assembléia se reunia e o queixoso jurava sua acusação,
acompanhado de testemunhas que também prestavam juramento (ibid., p. 43). Às vezes eram
alarme, um pedido de socorro, um grito por ajuda, e na sua falta cabia à vítima, em um
determinado prazo, relatar publicamente o fato no povoado mais próximo (ibid., p. 43).
Ressalta-se que, caso a parte sucumbente entendesse que a decisão tomada fosse derivada de
parcialidade maliciosa, poderia querelar contra o juiz que a proferiu, aventando-se aqui um
antecedente dos recursos (ibid., p. 42 e 43). Vale salientar ainda que, o direito de acusar era
13 FLAGRANTE DELITO
14 REVELIA
querela, caso atrasasse, o acusado estava sujeito eventualmente a simples multa, se aparecesse
antes do crepúsculo, pois, uma vez posto o sol, a vítima requisitaria a perda da paz diante da
15 TESTEMUNHAS
da reputação das partes, não visam o fato punível, quando tratam do fato, referem-se a atos
que precedam o procedimento (um grito de socorro, um contrato, um casamento), ou, a atos
poderia ser testemunha, mas, com as transformações sociais, passou-se a restringir tal
prerrogativa, dependendo da condição da pessoa que iria depor, da pessoa sobre quem iria
16 JURAMENTO E CONJURADORES
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gravemente punido, caso não o fosse em vida, certamente o seria com a morte (ibid., p. 45). O
juramento pode ser promissório, quando dado em garantia, como compromisso solene com
uma conduta futura, ou, assertório, quando declarativo, dado para esclarecer um fato já
ocorrido (ibid., p. 45). Algumas vezes o juramento condicionava-se ao toque com as mãos em
Determinadas leis consideravam o juramento dos nobres mais valioso do que o dos homens
livres, e o destes mais do que o dos servos (ibid., p. 46). A quantidade dos conjuradores
17 ORDÁLIA
meio de prova mais eficaz a extrair dos fatos incognoscíveis uma decisão quanto ao
com as migrações fora levada por toda a Europa (ibid., p. 48), de sobremodo deixando suas
marcas:
18 DUELO JUDICIÁRIO
era envolto de religiosidade, as forças naturais nele interviriam para estabelecer seu desfecho,
19 A PENA “NECESSÁRIA”
No direito penal germânico antigo, a reação penal não mantinha uma constante
correspondência com os delitos aos quais era atribuída, bem como não era preciso o sentido e
necessidade da pena, pois, sua execução se fazia imperativa, uma vez que, as divindades e os
mortos, dentre eles a própria vítima, esperam-na, condicionando o retorno da paz a sua
realização (ibid., p. 50 e 51). Assim, tal pena não teria o condão de retribuição nos moldes de
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Kelsen, visto que, não se esgotava em resposta ao delito, mas pressuposto para reafirmação da
paz, além de que advinha de um direito penal do fato e não do autor (ibid., p. 51).
20 PENA DE MORTE
A execução coletiva da pena de morte não é tão freqüente, já a privada, seja por
delegação da assembléia ou do juiz, seja pelas inúmeras situações em que a vida do culpado
21 PENAS CORPORAIS
cumulativamente, quando isoladas, algumas vezes, davam ensejo à composição (ibid., p. 52).
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22 RESTRIÇÕES À LIBERDADE
transferência para o ofendido ou para o fisco de todos os bens do culpado, salvo algumas
confisco, como alternativa à pena de morte, estava na linha da expulsão grupal (ibid., p. 53).
23 PENAS PECUNIÁRIAS
A pena que mais se identifica com o direito penal germânico antigo é a pecuniária,
ou a seus parentes, depois, passou a ser parcelado em virtude de reserva comunal (ibid., p.
atividade lucrativa, durante a Idade Média (ibid., p. 54). O valor da multa se diferenciava de
acordo com a condição social da vítima e, posteriormente, com a parte do corpo lesionada
(ibid., p. 54).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBERGARIA, Jason. Criminologia : teoria e prática. 2 ed.. Rio de Janeiro : AIDE Editora,
1988.
ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Sistema Penal Máximo X Cidadania Mínima :
códigos da violência na era da globalização. Porto Alegre : Livraria do Advogado, 2003.
BATISTA, Nilo. Matrizes Ibéricas do Sistema Penal Brasileiro. Rio de Janeiro : Freitas
Bastos Editora, 2000.