Entrevista WILSON ESTEVANOVIC NETO

Danielle Oliveira e Gustavo Baraúna

“Vivemos o aqui e o agora,

sem pensar no futuro”
Pesquisador fala sobre seu projeto ambiental, sobre a pesquisa que está fazendo em
Salvador e afirma que a cidade precisa melhorar sua relação com o meio ambiente

O Professor Wilson
Estevanovic Neto, 30
anos,natural de Uberaba-MG, é
entomologista, especialista em
anatomia e membro do
Instituto Geográfico e Histórico
da Bahia (IGHB). Diretor do
Museu de História Natural
Wilson Estevanovic de
Uberaba, um dos museus mais
qualificados do país segundo
Diário Oficial da Bahia,Wilson
está residindo em Salvador a
dois anos e a três realiza o
Projeto de Preservação
Ambiental Água Viva na
Bahia. Nessa entrevista, ele nos
fala sobre o seu projeto de “Quando pensamos em
conscientização ambiental e a meio ambiente muitos
respeito de sua pesquisa sobre
a questão ambiental na cidade fatores interferem: a
do Salvador. comunidade, os políticos,
Como você explicaria o seu os órgãos ligados à
projeto? O projeto existe há questão. De forma
mais de 8 anos e há 3 anos
chegou à Bahia. São três genérica posso dizer que
equipes do museu que Salvador precisa melhorar
percorrem o país fazendo
palestras sobre o meio alguns aspectos desta
ambiente. relação.”

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Entrevista WILSON ESTEVANOVIC NETO_______________________________________________
Há pouco mais de um ano
estou com, uma equipe fixa
em Salvador. Na palestra
falamos sobre aquecimento
global, desmatamento,
pesca predatória, poluição,
é por ai. Todos esses temas
já são bem debatidos por
todos, ou deveriam ser, mas
nosso diferencial é que na
palestra as pessoas têm
acesso também a animais
empalhados, que são do
museu, e que são usados no
momento em que falamos
das espécies em extinção.
Como surgiu a idéia de
escrever um livro? O
projeto teve alguma
influência nisto?Com
certeza, muita. Graças ao
projeto tive a possibilidade
de me deparar com vários
problemas ambientais em
algumas grandes cidades do
país. Isso plantou uma
inquietação em mim e,
quando vim passar um
período em Salvador,
percebi as deficiências na
cidade. Comecei a pesquisa
para incrementar o nosso
projeto e há um ano
comecei a escrever o livro.
De que trata o livro?Bem,
a princípio, estou
escrevendo sobre minhas
experiências e a relação da
população e o meio
ambiente em Salvador,
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“ Salvador já está
saindo atrás de
muitas cidades
nessa corrida pela
revitalização dos
rios. Essa é uma
tendência mundial,
preservar o meio
ambiente é
preservar a vida.”
mas pretendo estudar e
vivenciar também outras
cidades do nordeste
brasileiro.
Por que especificamente o
nordeste brasileiro?Por ser
uma região mais
desfavorecida. O nordeste
ainda é carente de políticas
públicas que desenvolvam a
economia, a educação e a
conscientização da
população. A gente pode
pensar que o tema ecologia
e meio ambiente já está
muito debatido, mas se você
olhar ao seu redor, não
precisa viajar para longe,
vai perceber que as
pessoas não têm
consciência da
importância das atitudes
individuais para um
resultado maior,
principalmente quando o
assunto é esse. Vivemos o
aqui e o agora, sem pensar
no futuro. Somos
imediatistas demais.
Como você descreveria a
relação Salvador e meio
ambiente? Ela é
saudável?Isso não é
muito simples de se
responder. Quando
pensamos em meio
ambiente muitos fatores
interferem: a comunidade,
os políticos, os órgãos
ligados à questão. De
forma genérica posso
dizer que Salvador precisa
melhorar alguns aspectos
desta relação. As classes
mais baixas da população
não estão bem informadas
sobre seu papel nesta
relação, as classes média e
alta, estão informadas,
mas não fazem sua parte.
A questão da rede de
esgotos é algo visível para
todos e gritante. O
desmatamento da mata
atlântica deveria ser outro
ponto a se ponderar;
também a fiscalização das
atividades portuárias – a
poluição do fundo do mar
muitas vezes não é visível,
mas causa

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estragos devastadores na
fauna e flora marinha,
podendo levar a um
desequilíbrio na cadeia
alimentar de várias
espécies. Todos esses
prejuízos devem ser
conhecidos e fiscalizados
pela população também.
A partir de seus estudos,
como você vê o sistema de
abastecimento de água em
Salvador e municípios
vizinhos? Ele é eficiente?O
sistema de abastecimento
aqui é bom. Apesar da água
em alguns bairros se
apresentar um pouco
salobra, em termos técnicos,
ela é de boa qualidade
Atualmente Salvador tem,
segundo o IBGE, quase
97% dos domicílios
particulares com
abastecimento de água
potável. Esse é um número
bem expressivo.
Respondendo sua pergunta,
é eficiente sim.
Em relação ao serviço de
coleta de esgoto, pode se
dizer o mesmo?
Infelizmente não. Os
números dizem que 83 %
dos domicílios possuem
solução de esgotamento
sanitário, sendo que apenas
74% estão ligados à rede de
esgoto convencional
tratável, o restante são
fossas e esgotos jogados em
rios e mar.
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Desde o projeto Bahia
Azul nos vemos promessas
“A situação do de melhoras nesta questão,
emissário mas o desejável nunca é
alcançado. A infra-
submarino da estrutura da cidade é
Boca do Rio é precária e pouco
planejada. Temos mais
um projeto mais promessas aí de que até
elaborado. Ele final de 2010 a cobertura
de tratamento de esgotos
permitirá uma chegará a 90% dos
ampliação e domicílios. Tem que
esperar para ver, ou não.
integração da
rede de esgoto
Você já deve ter
da Boca do Rio percebido que em
até a praia do Salvador é comum se
chamar alguns rios de
Flamengo, além esgotos. Ao seu
de criar a entendimento, você acha
que o termo tem
estação de fundamento? Correto não
condicionamento é, mas fundamento tem.
Basta andar pela orla da
prévio, para cidade para ver no Rio
tratamento do Vermelho, Costa Azul,
Boca do Rio – locais que
material lançado poderiam ser cartões
no oceano, postais da cidade, com rios
lançados no mar, sem
evitando danos tratamento. Rios que
para esse realmente parecem mais
esgotos a céu aberto. O rio
ecossistema”. Camurugipe, conhecido
como Calafate, que
deságua no Costa Azul
sem nenhum tratamento é
um bom exemplo.
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A poluição dos rios, “Temos mais da Boca do Rio até a praia

lagos e lagoas de do Flamengo, além de
Salvador chega a ser
promessas aí de criar a estação de
algo preocupante?Se que até final de condicionamento prévio,
não é, deveria ser. Minha para tratamento do
nossa, Salvador já está
2010 a cobertura material lançado no
saindo atrás de muitas de tratamento de oceano, evitando danos
cidades nessa corrida pela para esse ecossistema. Esta
revitalização dos rios.
esgotos chegará iniciativa irá melhorar
Essa é uma tendência a 90% dos muito a qualidade de vida
mundial, preservar o da população. ■
meio ambiente é
domicílios. Tem
preservar a vida. que esperar para
Principalmente as
comunidades mais
ver, ou não.”
carentes, estas serão
grandes beneficiadas por
esta despoluição, porque
geralmente moram perto
de córregos e rios
poluídos. A falta de
saneamento básico é um Os rios ajudam no
dos principais agentes equilíbrio das temperaturas
causadores da e quando bem tratados
proliferação de doenças podem ser local de lazer
nas comunidades mais para a população. Cobrir
carentes. um rio é como matar um
rio. Além do mais, cobrir e
não solucionar o problema
À exemplo do que foi da poluição não muda
realizado na Avenida nada, ao contrário,
Centenário, a prefeitura dificulta a fiscalização por
esta pretende fazer a parte da população.
cobertura em concreto
de dois trechos do canal
do Rio Lucaia que E o emissário submarino
deságua na praia do da Boca do Rio? A
Largo da Mariquita . situação do emissário
Você acha que esta é a submarino da Boca do Rio
melhor escolha para é um projeto mais
solucionar os problemas elaborado. Ele permitirá
do rio?Salvo raras uma ampliação e
exceções, sou contra a integração da rede de
cobertura de rios. esgoto

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