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A Sabedoria do Sutra de Lótus

O capítulo "Revelação da Vida Eterna do Buda" - parte 10


Vida após a morte — a fusão com a vida universal: o significado da vida eterna – parte 1

Um Diálogo sobre a Religião no Século XXI

Os participantes discutiram várias questões relacionadas ao conceito budista de vida eterna. O


que exatamente continua pela eternidade? Como é o estado após a morte? Falaram também sobre a
vida universal de acordo com o conceito da não-substancialidade e da doutrina das nove
consciências.

Saito: À luz do conceito de não-substancialidade, ou de ausência de ser, que tenta esclarecer o


verdadeiro aspecto de nossa vida, talvez pudéssemos dizer que esta vida é o “ser”.
Pres. Ikeda: Embora a atividade seja a característica principal da corrente de vida de uma pessoa
enquanto ela estiver viva, a corrente de vida de uma pessoa após sua morte é fundamentalmente
passiva. Desse ponto de vista, não podemos transformar nosso estado de vida após a morte. Por
exemplo, enquanto estamos vivos, mesmo que nossa tendência básica seja o estado de Inferno, pelo
contato com outras pessoas e pela influência do ambiente podemos experimentar uma variedade de
estados diferentes — Alegria, Tranqüilidade e assim por diante. Mas no estado de morte perdemos o
contato com estímulos externos, revertendo ao estado subjacente de nossa própria vida.
Após a morte, uma vida que tem o estado de Inferno como sua tendência básica torna-se una
com o estado de Inferno existente no Universo e fica cheia de completa dor e sofrimento. Uma vida
que tem o estado de Fome como sua tendência subjacente será atormentada por uma sensação de
fome cada vez mais insaciável do que a experimentada enquanto estava viva.
Após passar pelo sofrimento da morte, o “ser” de uma vida que tem o estado de Alegria ou de
Tranqüilidade como sua tendência fundamental recuperará a paz e a tranqüilidade e será gentilmente
abraçado por uma sensação de realização e satisfação.
Após a morte, vidas que possuem o estado de Buda como sua tendência fundamental
instantaneamente se tornarão unas com o estado de Buda no Universo e serão permeadas pelo
sentimento de uma grande e brilhante alegria. Percebendo que todo o Universo é a terra do Buda,
elas desfrutarão um estado de vida descrito pela seguinte passagem: “Esta minha terra permanece
segura e tranqüila, constantemente cheia de seres humanos e celestiais” e “seres vivos desfrutam
tranqüilidade. Os deuses tocam tambores celestiais.” (LS 16, 230.) E, de acordo com suas orações, sua
vida ficará una com o Buda eterno tanto na vida como na morte. Vamos falar mais tarde sobre a vida
e a morte com relação ao estado de Buda na próxima ocasião, quando recapitularemos o capítulo
“Revelação da Vida Eterna do Buda”.

Pode-se transformar o estado de vida após a morte?


As incontáveis entidades nos três mil mundos que estão passando pelo processo de
nascimento, duração, mudança e extinção são todas incorporação dos poderes transcendentais do
Buda.
Mas à luz de Nitiren e de seus seguidores, a percepção e a compreensão do conceito de
atingir o estado de Buda na forma atual é o que significam as palavras “o segredo do Buda e seus
poderes transcendentais”. Pois além de atingir o estado de Buda, não há “segredos” nem “poderes
trancendentais”. (Gosho Zenshu, pág. 753.)

Endo: Uma vez que a vida após a morte não possui atividade, há algo que possa mudar o estado de
uma pessoa que morre e se funde com o estado de Inferno?
Pres. Ikeda: Esse é o motivo pelo qual devemos nos empenhar para realizar nossa revolução humana
nesta vida. Se uma pessoa passa sua vida em vão, então, mesmo que ela se arrependa por dez mil
anos, será tarde demais para fazer alguma coisa.
Mas a força da Lei Mística é enorme. O Daimoku que recitamos atinge a vida dos falecidos que
está latente na vida universal. O presidente Toda dizia: “O poder do Daimoku é imenso. Ele pode
fazer uma vida que está suportando um carma doloroso experimentar um estado de paz como um
sonho como se estivesse brincando num jardim de flores.”1 O som de nossa voz recitando Daimoku
ressoa por todo o Universo.
Endo: O Daimoku recitado por aqueles que estão vivos atinge a vida daqueles que morreram. Se isso
é verdade, a vida daqueles que morreram passa a agir em nome daqueles que estão vivos?
Saito: A vida após a morte é um estado de latência; perdeu toda a atividade. Disso se pode concluir
que a vida daqueles que morreram não pode realizar nenhuma atividade.
Suda: Realmente. Há religiões que solicitam dinheiro de seus adeptos dizendo-lhes, por exemplo,
que o espírito de seu ancestral quer isso ou aquilo. Isso é repreensível.
Endo: Sim. Mas há muitas pessoas que declararam realmente ter ouvido vozes de uma pessoa
falecida ou ter visto um fantasma. Parece que não podemos considerar todas essas experiências
como ilusões ou embustes.
Pres. Ikeda: Certa vez, o presidente Toda disse o seguinte a uma pessoa que pensava ter ouvido a
voz de um falecido: “As pessoas vivas possuem os Dez Mundos em sua vida. Então pode acontecer de
alguma vez alguém sentir o ‘comprimento de onda da vida’ de alguém que morreu e cuja vida
tornou-se una com o Universo. Creio que o senhor tenha sentido isso na forma de palavras audíveis.”
Em outras palavras, se a energia vital de uma pessoa estiver fraca, poderá ser afetada pelo
“comprimento de onda da vida” da mesma forma que um rádio ou uma televisão sintoniza um sinal.
E as pessoas somente percebem essas vozes individualmente. O presidente Toda ressaltou a essa
pessoa que se ela desenvolvesse sua energia vital por meio de uma forte fé, então o “comprimento
de onda da vida” de seu próprio estado de Buda seria irradiado e traria paz e descanso à pessoa
falecida.
Ele declarou depois: “Até agora você foi enganado ao pensar que sua esposa ou seus
ancestrais falecidos eram espíritos. Não se deixe iludir por essas ilusões. Se de fato for esse o caso,
então todo o mundo estaria cheio de fantasmas e estaria tão povoado que o senhor não poderia se
mover.”
De qualquer forma, o Universo interage eternamente com o ritmo da vida e da morte. As
infinitas correntes do oceano da vida surgem fortes num momento e calmas no outro, jamais
parando por um instante, repetindo o drama da vida e da morte. O capítulo “Revelação da Vida
Eterna do Buda” explica que a força motriz por trás disso são os “poderes transcendentais” do Buda.
No Ongui Kuden (Registro dos Ensinos Orais), Daishonin diz: “As incontáveis entidades nos três
mil mundos que estão passando pelo processo de nascimento, duração, mudança e extinção são
todas incorporação dos poderes transcendentais do Buda.” (Gosho Zenshu, pág. 753.)
Em essência, o capítulo “Revelação da Vida Eterna do Buda” exorta-nos a desenvolver esses
poderes transcendentais, essa grande e fundamental vitalidade, em nós mesmos. O mais importante
— seja falando sobre poderes transcendentais seja da vida universal — é que somente podemos
atingir isso por meio de sinceras ações pelo Kossen-rufu. É uma questão de praticar com o espírito de
“resolutamente desejar ver o Buda, não hesitando mesmo que isso lhes custe a vida”. (LS16, 230.)
O presidente Toda enfrentou as dificuldades de cabeça erguida e foi aprisionado. E foi na
prisão que ele atingiu a iluminação. Embasado num senso de missão que transcendia a vida e a
morte, ele jurou dar a vida em prol do Kossen-rufu, e como resultado despertou para o verdadeiro
aspecto da vida e da morte.
A fé para continuar empenhando-se incansavelmente pelo Kossen-rufu pelas três existências
do passado, presente e futuro é o grande navio para embarcar na eterna viagem pelo “oceano da
vida e da morte”.

O capítulo "Revelação da Vida Eterna do Buda" - Parte 11


A vida após a morte — Avançando eternamente com abundante energia vital: o significado da
vida eterna - Parte II (BS 1522 – 04/09/99)

Pres. Ikeda: Vamos continuar nosso estudo sobre a vida eterna. Espero confirmar nossa teoria sem
deixar nenhuma sombra de dúvida — ainda nesta existência!
Endo: Recentemente, foi publicado no Japão um livro fora do comum intitulado Shisha no Honne:
Eikoku Bohimei no Sekai (A Verdade sobre os Mortos — O Mundo dos Epitáfios). O autor analisa
várias inscrições das lápides de túmulos de cemitérios britânicos.
Saito: O senhor poderia nos dar alguns exemplos?
Endo: Bem, em um dos epitáfios está gravado: “Aqui jaz minha esposa. / Deixem-na em paz aqui! /
Agora descansa / Assim como eu.”1
Pres. Ikeda: Essa sinceridade é realmente chocante!
Suda: Pelo brado dessa declaração, parece que ela deve ter sido realmente como uma feitora!
Endo: Há também epitáfios expressando a angústia de uma esposa pelo fato de seu marido ter
morrido primeiro. “Não posso me contentar em segui-lo. / Como saberei para onde foi?”2
Saito: Ela quer dizer: “Não sei se foi para o céu ou para o inferno.” Suas palavras expressam uma
profunda emoção.
Pres. Ikeda: Somente o fato de estarem casados não garante que ficarão juntos novamente após a
morte. A verdade é que nascemos sozinhos e temos de morrer sozinhos. É um fato cruel, mas uma
realidade.
No entanto, o budismo expõe que, por meio do poder da Lei Mística, renascemos na
companhia de nossos entes queridos existência após existência e por toda a eternidade.
Suda: É claro que há vários epitáfios que expressam sentimentos ternos.
Endo: Isso é verdade.
Pres. Ikeda: Qual é o tipo de epitáfio mais comum?
Endo: Não tenho dados precisos mas, de acordo com o livro, uma inscrição típica de lápides de
túmulos ingleses, datando mais de duzentos anos, é: “Assim como existi, você existe, e assim como
parti, você também partirá.”3
Saito: Essa inscrição revela-se intensamente filosófica. Para os que lêem a lápide, essas palavras
significam: “Algum dia, você também morrerá.”
Endo: Há também um outro epitáfio comum, que diz: “Não fite aqui. / Ignore-me. / Logo, você estará
aqui. / Assim como eu.”
O Grande Mestre Miao-lo da China declara em seu comentário que aquele que não consegue
compreender o conteúdo do capítulo “A Revelação da Vida Eterna do Buda” nada mais é que um
animal irracional incapaz de compreender seu débito de gratidão ao soberano, mestre e pais...
Agora, Nitiren e seus discípulos, que recitamos o Nam-myoho-rengue-kyo, somos os pais de
todos os seres vivos, pois salvamos todos eles dos tormentos do inferno dos incessantes sofrimentos.
No Sutra do Nirvana consta: “Os inúmeros sofrimentos dos seres vivos — todos eles, o próprio Buda
vivencia como seus próprios sofrimentos.” E Nitiren declara: “Os inúmeros sofrimentos dos seres vivos
— todos eles, o próprio Nitiren vivencia como seus próprios sofrimentos!” (Gosho Zenshu, pág. 758.)
O caractere ji [interpretado como “aquele” ou “aqueles”] marca o início da parte Jigague, e o
caractere shin [ “ente” ou “corpo”], constante da passagem “rapidamente adquiri o corpo de um
buda”, marca o final dessa parte. Portanto, inicia e termina com “o próprio ser”, e tudo o que está
contido no meio dessa parte descreve a “recepção” e a “utilização” desse corpo. Em outras palavras, a
parte Jigague elucida o “ente que é livremente recebido e usado” ou o Buda da absoluta liberdade.
(Gosho Zenshu, pág. 759.)

Não existe certeza maior que a morte

Suda: Esse epitáfio é realmente um memento mori, uma indicação de mortalidade. Isso traz à mente
uma passagem muito citada do Gosho “A Herança da Lei Última da Vida”, na qual Daishonin solicita a
todos nós que nos dediquemos na fé “com a profunda visão de que este é o último momento” de
nossa vida (END, vol. I, pág. 350.) Em minha opinião, faria mais sentido se ele dissesse: “...Com a
determinação de que este é o último momento de nossa vida.” Qual é o significado das palavras
“profunda visão”?
Pres. Ikeda: Esse é um ponto extremamente importante. Todos sabemos que morreremos “um dia”.
Porém, tendemos sempre a imaginar que a morte ainda está longe; que é algo que ocorrerá num
futuro indeterminado. É normal que os jovens pensem dessa maneira, mas o mesmo acontece com
os mais velhos. Na verdade, a tendência de ignorar a iminência da morte pode aumentar conforme o
tempo passa.
Qual é o verdadeiro aspecto da vida? É a realidade de que uma pessoa pode estar viva em um
momento e morta no outro. A possibilidade da morte — causada por terremotos, acidentes, morte
súbita por doença ou por outras causas — está presente a todo instante. O que ocorre é que as
pessoas simplesmente se esquecem disso.
Saito: É exatamente isso. Ainda que alguém conseguisse se esconder no lugar mais remoto da Terra
ou nos cantos mais distantes do Universo, não escaparia da morte.
Pres. Ikeda: Certa vez, uma pessoa descreveu a aproximação da morte com estas palavras: “A morte
não aparece diante de nós, chega por trás.” Os anos passarão enquanto os senhores ficarem se
repetindo “Um dia, praticarei seriamente” ou “Vou me dedicar mais quando ultrapassar minhas
dificuldades presentes”. Então, finalmente, chegará o momento em que os senhores terão de encarar
a morte sem ter acumulado uma verdadeira boa sorte na vida. Creio que é comum encontrar esse
tipo de experiência. No entanto, uma vez que se derem conta do que passou, embora talvez seu
desejo fosse ter agido de maneira diferente, será tarde demais para recuperar o tempo perdido.
Suda: É claro que, se alguém souber que lhe restam apenas mais três dias de vida, essa pessoa não
conseguiria ficar sentada assistindo à televisão.
Pres. Ikeda: Porém, se pensarem seriamente sobre isso, sejam três dias, três anos ou trinta anos, em
essência, o problema continuará sendo o mesmo. Desse modo, o único meio é viver o presente — de
forma que não importando quando vamos morrer, jamais teremos arrependimentos.
Além disso, visto da perspectiva da eternidade, até um período de cem anos nada mais é que um
instante. Literalmente, poderíamos dizer que “este é o último momento” de nossa vida. O segundo
presidente da Soka Gakkai, Jossei Toda, costumava nos dizer: “Na verdade, praticamos a fé para o
momento de nossa morte.”
Suda: Compreendo.
Pres. Ikeda: Em se tratando de certeza, nada é mais certo que a morte. Portanto, o mais importante
daqui para frente é realmente nos dedicarmos ao máximo, sem hesitação, a acumular os tesouros do
coração para toda a eternidade.
No entanto, a maioria das pessoas coloca esse ponto fundamental em segundo plano, desperdiçando
seu tempo na busca de prazeres momentâneos. Nada é mais importante na vida que a questão da
vida e da morte. Em comparação, tudo o mais não tem muita importância. Compreenderemos
claramente esse ponto no momento de nossa morte.
Uma pessoa que cuida de doentes terminais comentou: “O último momento da vida é como se
visualizássemos de uma só vez toda nossa existência em um vasto panorama. Nesse instante, não é a
superficialidade de uma alta posição como presidente de uma companhia nem o sucesso nos
negócios que conta, mas a forma como conduzimos nossa própria vida, nossa consideração pelas
outras pessoas. Tratamos as pessoas com amor e afeto ou as desprezamos? Experimentamos um
sentimento de satisfação por termos mantido nossas convicções ou sofremos de arrependimento por
tê-las traído? Esses são os aspectos da vida com os quais deparamos de uma só vez com intensidade
quando estamos diante da morte. Essa é a verdadeira natureza da morte.
Saito: O modo como essa pessoa se refere aos aspectos humanos de nossa vida pode ser visto, à luz
da doutrina dos Dez Mundos, como nossa tendência básica de vida. Quando ouvimos tais relatos,
percebemos que devemos nos esforçar sinceramente para elevar nossas tendências básicas de vida.
Pres. Ikeda: Nesse sentido, a conscientização e a compreensão da morte realmente eleva nossas
condições de vida. Pois somente quando interiorizamos a realidade e a inevitabilidade da morte é
que passamos a buscar seriamente algo eterno e determinamos tornar valioso cada instante da vida.
Endo: É como se tivéssemos um prazo final para entregar um texto que estamos escrevendo. Isso
pode ser estressante, mas o fato é que sem uma data limite será realmente difícil concluí-lo; eu
próprio provavelmente jamais acabaria finalizando algo.
Suda: O mesmo poderia ser dito em relação aos exames. Por mais avançados que fossem os exames
de budismo, se não existissem, seria fácil deixar o tempo correr sem fazermos nenhum progresso, e
acabaríamos cultivando o pensamento de que “Irei estudar mais tarde”.
Pres. Ikeda: Como seria a vida se não houvesse a morte? Por ser infinitamente longa, ela
provavelmente se tornaria cada vez mais entediante.
Saito: Se não existisse nenhuma pressão nem urgência, a maioria das pessoas provavelmente
desperdiçaria seu tempo.
Endo: E enfrentaríamos um sério problema de superpopulação!
Suda: Mesmo que atingíssemos a idade de trezentos anos e ficássemos completamente inválidos,
não poderíamos morrer. Dizem que o primeiro imperador chinês Shih Huang Ti (259–210 a.C.), da
dinastia Chin, desejava encontrar o elixir da eterna juventude e imortalidade. Porém, sob tais
circunstâncias, as pessoas talvez passem a buscar o elixir da morte.

Buscando o eterno

Pres. Ikeda: Pelo fato de sabermos que vamos morrer, empreendemos esforços para aproveitar ao
máximo o momento presente. A civilização moderna foi descrita como uma “civilização que esqueceu
a morte” e, ao mesmo tempo, tornou-se descontroladamente gananciosa.
Assim como ocorre com qualquer indivíduo, quando uma sociedade ou civilização tenta evitar
a questão fundamental da morte, torna-se decadente, buscando somente o prazer imediato.
É a conscientização da morte que distingue as pessoas dos animais e, na verdade, nos faz
humanos. Esse ponto tem sido defendido em diversos estudos acadêmicos, tais como o de Edgar
Morin, L’ homme et la mort (O Homem e a Morte [Paris, Éditions du Seuil, 1970.]). Ignorar a morte é o
mesmo que conduzir uma existência animalesca.
Saito: Isso significa que tanto para o indivíduo como para toda a humanidade a morte não é algo
para ser temido ou considerado de forma negativa; em vez disso, ela é um valor positivo que nos
impulsiona a buscar “algo eterno”.
Pres. Ikeda: Correto. Isso explica, em parte, a importância da doutrina do 13o capítulo do Sutra de
Lótus, “Revelação da Vida Eterna do Buda”, indicado pelo trecho: “Como um meio eficaz, aparento
entrar no nirvana.” (LS16, pág. 229.)5
Suda: Resumindo, o trecho “como um meio eficaz aparento entrar no nirvana” significa que a morte é
um meio eficaz.
Endo: Sim. É um meio que faz as pessoas buscarem o Buda eterno.
Pres. Ikeda: Como manifestação de sua benevolência, o Buda usa até sua morte como um meio para
conduzir seus discípulos à iluminação. Creio que deveríamos reconfirmar esse ponto investigando o
texto do sutra.
Saito: Certo. No capítulo “Revelação da Vida Eterna do Buda”, Sakyamuni expõe que embora sua vida
seja infinita, por intermédio do poder do meio eficaz ele aparenta entrar no nirvana com o propósito
de conduzir as pessoas à iluminação. A razão disso é que se o Buda continuasse existindo no mundo
infinitamente, as pessoas deixariam de buscar seus ensinos.
Endo: Em uma passagem do sutra consta:
Se o Buda permanecer no mundo por um tempo muito longo, as pessoas de pouca virtude
não plantarão boas sementes; porém, vivendo na pobreza e na solidão, elas se apegarão aos cinco
desejos e ficarão presas na rede das imaginações e dos pensamentos ilusórios. Se compreenderem
que o Buda está constantemente no mundo e jamais entrará em extinção, eles ficarão arrogantes e
egoístas, ou passivos e negligentes. Eles não compreendem o quanto é difícil encontrar o Buda e
deixarão de tratá-lo com respeito e reverência. (LS16, pág. 227.)
Suda: Creio que em meu caso isso é definitivamente verdadeiro!
Endo: Até alguém que possui uma forte fé provavelmente se tornaria preguiçoso, pensando: “No
final, o Buda me ajudará de alguma forma.”

A parábola do bom médico

Pres. Ikeda: O significado da passagem “como um meio eu aparento entrar no nirvana”


provavelmente fica mais claro se a considerarmos nos termos da parábola do bom médico.
Endo: Para resumi-la: O bom médico tem vários filhos. Enquanto ele se ausenta para uma viagem,
seus filhos ingerem veneno. Quando o pai retorna, encontra-os em um grande sofrimento e decide
preparar um excelente remédio para curá-los.
Suda: O bom médico representa o Buda, e seus filhos, as pessoas comuns. O excelente remédio
corresponde ao Sutra de Lótus e à eterna Lei Mística, a qual Sakyamuni também segue como mestre.
Nos Últimos Dias da Lei, esse remédio é o Gohonzon.
Endo: Embora o pai lhes tenha preparado o remédio mais eficaz, alguns dos filhos, por estarem
“profundamente influenciados” pelo veneno, não o tomam.
Os que aceitam e tomam o remédio são imediatamente curados. Porém, os outros que recusaram
continuam a se contorcer de agonia.
Pres. Ikeda: Esses filhos representam as pessoas “entorpecidas”. Assim são chamados pois, apesar de
estarem doentes e desejarem ser curados, eles se recusam a tomar o remédio. O veneno havia
penetrado tão profundamente em sua consciência que eles acabaram perdendo a razão.
Eles recusam o grande remédio benéfico porque pensam que seu gosto é ruim. O capítulo
“Revelação da Vida Eterna do Buda” expõe que “sua mente já não é a mesma (LS16, pág. 228.) Não
conseguem raciocinar.
Poderíamos dizer que esse é o estado de uma mente descrita na passagem: “Suas cabeças se
partiram em sete pedaços. (cf. LS26, pág. 310.)
Saito: Falando de maneira ampla, parece-me que hoje a maioria das pessoas está “entorpecida”.
Enquanto muitos concordam em que a sociedade está doente e que algo deve ser feito para mudar
essa situação, quando a questão é a mudança fundamental na vida das pessoas — que proporciona a
única cura verdadeira para os problemas da sociedade — eles não buscam seriamente esse caminho.
Restringindo-se a conceitos abstratos, não empreendem nenhum esforço para compreender o
princípio da revolução humana. Como resultado, nada realmente muda.
Pres. Ikeda: Essa afirmação é verdadeira. Tsunessaburo Makiguti, primeiro presidente da Soka
Gakkai, era bastante rigoroso em relação a essas enfermidades sociais.
Suda: Sua conclusão foi de que a sociedade humana estava afetada pelo que ele denominava como
“sintomas de alta psicose”.
Endo: Devido à sua compaixão pelos filhos “entorpecidos”, o bom médico, que representa o Buda,
pensa em um meio para que acreditem que ele morreu a fim de mostrar-lhes o caminho.
Suda: Após partir novamente, ele envia um mensageiro com instruções para dizer aos filhos que ele
havia morrido em uma terra distante. Quando eles ouvem o relato, seu coração se enche de tristeza e
angústia ao pensarem que de agora em diante não terão ninguém para ajudá-los. É nesse momento
que eles finalmente abrem os olhos.
“É verdade!”, pensam, “ainda temos o remédio que nosso pai nos deixou”. Então, decidem
tomá-lo e imediatamente se curam. Quando o pai recebe a notícia de que todos os filhos estavam
curados, ele imediatamente retorna para casa e aparece diante deles.
Esse é o conteúdo da parábola.

Buscando o mestre com um único pensamento

Pres. Ikeda: Quando temos acesso a algo em tempo integral, então, por mais sublime e grandioso
que seja, temos a tendência de esquecer de nosso sentimento de gratidão. É somente quando
perdemos tal coisa que começamos aperceber verdadeiramente a importância disso e o quanto
fomos beneficiados.
Saito: Quando os filhos recebem a notícia da morte do pai, o sutra diz: “Todos manifestam um
profundo sentimento e sua mente sinceramente acalenta encontrar-me [o Buda].” E continua
descrevendo que eles “com a mente única desejando ver-me, oferecem a própria vida”. (LS16, pág.
230.) Em resposta a esse profundo espírito de procura, o Buda eterno aparece diante deles.
Pres. Ikeda: Essa é uma outra maneira de dizer que eles despertaram para o estado de Buda eterno
inerente em sua própria vida. E desejando ver o Buda com a mente única é a chave para esse
despertar.
Nitiren Daishonin declara que ter manifestado o estado de Buda em seu próprio coração e se
iluminado para os Três Grandes Ensinos Fundamentais lendo com sua vida a passagem: “Com a
mente única desejando ver o Buda, eles querem oferecer-lhes a vida.” (END, vol. I, pág. 142.)
Conforme já mencionamos, em relação ao termo “com a mente única”, Daishonin observa: “‘Única’ e
‘mente’ também significa ver o Buda na própria mente de uma pessoa, concentrar a mente para ver o
Buda, e que ver a própria mente é ver o Buda.” (Ibidem.) Em outras palavras, a mente de uma pessoa
comum que deseja ver o Buda torna-se a mente do próprio Buda.
O coração é o mais importante. Não é possível compreender o budismo sem um puro espírito
de procura que emana das profundezas do coração. Quando praticamos com a consciência de que
somente encontraremos o Gohonzon uma única vez a cada cem milhões ou dez bilhões de anos, um
profundo sentimento de gratidão preenche nosso coração cada vez que realizamos o Gongyo.
Nitiren Daishonin, o Buda dos Últimos Dias da Lei, manifestou o estado de Buda em seu
próprio coração vivenciando em sua vida a passagem “com a mente única desejando ver o Buda,
oferecem a própria vida”. Devemos refletir profundamente sobre esse ponto.
O único meio de atingirmos o estado de Buda é manifestarmos um espírito de abnegada
devoção, de “oferecer a própria vida”. Sem esse espírito, não há budismo. A fim de fazer manifestar
tal espírito nas pessoas, o Buda parte desta existência. Esse é o significado de “como um meio eficaz,
aparento entrar no nirvana”.

Qual é o “momento da morte”?

Pres. Ikeda: Certa vez, o presidente Toda observou: “A quem a frase ‘último momento’ se refere na
passagem ‘este é o último momento desta vida’? À vida do Buda. O quanto não nos sentiríamos
desolados se o Buda deixasse de existir. Devemos manifestar uma fé e uma prática resolutas com o
sentimento de que agora vamos nos separar do Buda.”6
Após a morte do presidente Toda, aqueles que não haviam ouvido atentamente essas palavras
caíram na lamentação, desejando ter se dedicado mais enquanto ele ainda estava vivo.
“Este é o último momento desta vida” é um encorajamento para nos esforçarmos
intensamente em prol do Kossen-rufu com o pensamento de que este é o último momento da vida
do mestre. É realmente uma grande boa sorte lutar em prol do Kossen-rufu juntamente com o apoio
do mestre.
Aquele que não compreende este ponto não pode ser chamado de verdadeiro discípulo.
As pessoas que compreendem isso e devotam-se seriamente enquanto o mestre está vivo
correspondem aos filhos da parábola que permaneceram conscientes. Aqueles que não
compreendem correspondem aos filhos que ficaram completamente entorpecidos pelo veneno.
Saito: Percebi agora que eu não havia compreendido totalmente o significado dessa parábola. O
princípio de mestre e discípulo é verdadeiramente a essência do capítulo “Revelação da Vida Eterna
do Buda”.
Pres. Ikeda: Esse capítulo é a cristalização da imensa benevolência do Buda em tentar nos ensinar
sobre a unicidade de mestre e discípulo. O mestre é o Buda iluminado desde o remoto passado. Os
discípulos, que são todas as pessoas, também são budas do remoto passado. Quando as pessoas
compreenderão esse ponto? — esse é o constante pensamento do Buda conforme expressado nos
versos finais do capítulo: Mai ji sa ze nen (medito constantemente).7
Não há um mestre que não demonstre nenhum desejo de que seus discípulos se tornem
pessoas realmente notáveis assim como merecem. No entanto, é difícil para os discípulos
compreenderem o espírito do mestre. Por mais que um pai se preocupe com um filho, este
raramente compartilha o mesmo grau de preocupação pelo pai. Eles somente se tornam unos
quando passam a demonstrar uma preocupação mútua.
A preocupação que o Sr. Toda demonstrava pelo Sr. Makiguti era incrível.
Apesar de ser tão forte como um leão, nos últimos momentos de sua vida, após os anos de
luta terem finalmente debilitado seu corpo, o Sr. Toda freqüentemente dizia: “Sem o presidente
Makiguti sinto-me sozinho. Sinceramente, gostaria de voltar a ficar ao seu lado.” Sempre que seus
pensamentos se voltavam ao presidente Makiguti, o Sr. Toda demonstrava um ar de grande
solenidade. E quando comentávamos sobre a morte de seu mestre na prisão, ele se inflamava de
indignação. Algumas vezes, derramava amargas lágrimas do fundo de seu coração, e outras, explodia
de ira. Ele constantemente se lembrava de seu mestre e falava dele.
Acredito que foi no momento em que soube da morte do Sr. Makiguti por um de seus
interrogadores na prisão que ele determinou dedicar toda sua existência a lutar contra a natureza
maléfica do poder que havia levado seu mestre à morte.
Nesse sentido, poderíamos dizer que a morte do presidente Makiguti funcionou como um
“meio eficaz” para estabelecer o palco do movimento pelo Kossen-rufu na era pós-guerra. Isso
absolutamente não teria sido possível sem o espírito de procura de única mente do discípulo em
relação ao seu mestre.
Myo (ou Místico) corresponde à morte e ho (ou Lei), à vida. O mestre corresponde à morte e o
discípulo, à vida. O mestre e o discípulo são a própria Lei Mística; e a Lei Mística é a própria vida e
morte. Essa é a verdadeira unicidade de vida e morte e de mestre e discípulo.
O presidente Toda compôs este poema:
“Meu mestre partiu deste mundo
fazendo o oferecimento
do Bodhisattva Rei da Medicina.
Como eu fui deixado aqui,
que oferecimento farei ao Buda?”
Ele está dizendo que uma vez que seu mestre cultivava o espírito de “com a mente única
desejando ver o Buda, oferece a própria vida”, ele também viveria com o mesmo espírito. Esse é o
espírito do capítulo “Revelação da Vida Eterna do Buda”. Se essa continuidade de mestre e discípulo
não existisse, o diálogo sobre esse capítulo seria algo pouco mais que uma teoria abstrata.
Outro ponto importante no capítulo “Revelação da Vida Eterna do Buda” é que o mestre
aparece de forma diferente dependendo do estado de vida do discípulo. Explica que os discípulos
compreendem a grandiosidade do mestre somente conforme eles próprios se desenvolvem.

O significado do Jigague: A “própria pessoa” é o “Buda eterno”

Endo: A passagem “como um meio eficaz aparento entrar no nirvana” provavelmente reflete a
situação na época da morte de Sakyamuni. Seus discípulos, atordoados pela morte de seu mestre,
viram-se perdidos em completa perturbação, sem saber onde encontrariam apoio durante toda sua
existência.
Suda: Conforme a descrição de um sutra, eles estavam tão assustados que “seus cabelos ficaram
arrepiados”. A descrição continua dizendo que os discípulos “arrancam os cabelos e soluçam, e
estendem os braços e choram, atiram-se ao chão e se debatem.”8
Saito: Creio que os adeptos do budismo das gerações posteriores também devem ter experimentado
um profundo sentimento de perda com o fato de Sakyamuni não estar mais neste mundo. Nesse
contexto, a passagem “como um meio eficaz aparento entrar no nirvana” ensina que a pessoa não
deve ficar apegada à “vida e à morte” aparentes de Sakyamuni, mas que deve abrir os olhos para a
eterna vida do Buda que transcende essa dimensão.
Pres. Ikeda: Correto. Além disso, quando despertamos para a eterna e ilimitada vida do Buda,
simultaneamente compreendemos que a vida do Buda constitui a base de nossa própria vida. Esse é
o “alvorecer” de nossa vida.
Portanto, a parte Jigague do capítulo “Revelação da Vida Eterna do Buda” inicia com o caractere ji,
que significa “um”, e finaliza com o caractere shin, que significa “eu”. Em outras palavras, a totalidade
da parte Jigague atenta para elucidar o eu iluminado que é completamente livre de todos os
impedimentos.
Suda: A parte Jigague é a essência do capítulo “Revelação da Vida Eterna do Buda”, e esse capítulo é
a alma de todo o budismo. Portanto, o alerta para abrirmos os olhos para o eu maior é a mensagem
essencial do budismo.
Endo: O capítulo “Revelação da Vida Eterna do Buda” diz: “O Buda percebe o verdadeiro aspecto do
mundo tríplice em sua exata forma. Não há fluxo nem refluxo de nascimento e morte, e não há algo
como existir neste mundo e, mais tarde, entrar em extinção.” (LS16, pág. 226.) Em resumo, isso
significa que não existe nem “vida” nem “morte”.
Pres. Ikeda: Mas, na realidade, existe tanto a “morte” como a “vida”. Então, porque é afirmado isso?
Endo: Creio que é porque o Sutra de Lótus tem o propósito de direcionar a atenção das pessoas para
algo que transcende a aparência da vida e da morte.

Saito: Isso tem sentido. O Grande Mestre Dengyo do Japão declara: “As duas distinções dos
fenômenos de vida e morte são funções místicas da mente de uma pessoa.”9 Acredito que o
propósito do budismo é despertar-nos para essa “única mente”.
Pres. Ikeda: É verdade. No entanto, quando despertamos para essa “única mente”, ou para a vida
universal do Nam-myoho-rengue-kyo, compreendemos que “vida” é a vida da Lei Mística, e “morte” é
a morte da Lei Mística. Portanto, a afirmação de que não há vida nem morte não tem sentido e, na
verdade, essa declaração manifesta uma atitude escapista e representa um tipo de apego ilusório.
A entidade da vida eternamente imutável

Suda: Sim. Daishonin afirma:


Considerar a vida e a morte com aversão e tentar separar-se disso é ilusão, ou iluminação
parcial. Perceber claramente a vida e a morte como a essência da vida eterna é absorção, ou
iluminação total. Agora, Nitiren e seus discípulos que recitam o Nam-myoho-rengue-kyo
despertaram para a verdade de que o fluxo e o refluxo do nascimento e morte são funções inatas da
vida eterna”. (Gosho Zenshu, pág. 754.)
Pres. Ikeda: Essa é a correta visão de vida e morte. No caso do Budismo de Sakyamuni, poderíamos
dizer que o ensino incentiva as pessoas de tal forma a buscar a “grande vida eterna” do Buda que faz
manifestar a tendência de tentar evitar a realidade da vida e da morte.
No entanto, quando praticamos o Budismo de Nitiren Daishonin, podemos experimentar a
“entidade da vida eternamente imutável” e compreender o princípio que diz que os “sofrimentos da
vida e da morte são nirvana” tendo como base essa grandiosa vida eterna.
Saito: Parece que no Ocidente muitas pessoas têm a imagem do budismo como um ensino que
objetiva atingir um “nirvana de tranqüilidade”, um estado no qual não há vida nem morte.
Suda: Essa é a linha de raciocínio dos ensinos Hinayana, que promove uma imagem de nirvana como
um “estado livre de transmigração de vida e morte”.
Pres. Ikeda: No entanto, o capítulo “Revelação da Vida Eterna do Buda” rejeita essa visão, explicando
que esse “nirvana” nada mais é que um meio eficaz para conduzir as pessoas à direção correta.
Apesar disso, seu ponto forte ainda é enfatizar sobre um mundo que transcende a vida e a morte.
Em contraste, o Budismo de Daishonin ensina que podemos despertar rapidamente para a
“entidade da vida eternamente imutável”.

Tanto a vida como a morte são o Buda

Pres. Ikeda: O que significa então experimentar a vida e a morte fundamentadas na grandiosa vida
do Nam-myoho-rengue-kyo? Daishonin declara: “Repetimos o ciclo do nascimento e da morte com a
certeza de nossa natureza intrinsecamente iluminada.“ (Gosho Zenshu, pág. 724.) Ele está falando
sobre um estado de vida de absoluta liberdade que existe eternamente nas três existências do
passado, presente e futuro.
A passagem “o nascimento e a morte são certezas na terra de nossa natureza intrinsecamente
iluminada” significa experimentar a vida e a morte fundamentadas na suprema vida da Lei Mística.
Quando abraçamos o Gohonzon, avançamos com nossa vida enraizada na “grandiosa terra da
iluminação”, que está una com a vida do Universo.
Experimentar o ciclo de vida e morte nos nove mundos é o mesmo que conduzir seu próprio
navio turbulentamente em meio às dificuldades e obstáculos. É como se ficássemos desviando em
uma estrada completamente esburacada; algumas vezes caímos e ficamos impedidos de continuar a
caminhada; outras, sofremos acidentes e nos ferimos.
No entanto, experimentar a vida e a morte no estado de Buda é como dirigir um carro
equipado com a mais alta tecnologia em uma estrada totalmente plana; enquanto contemplamos a
bela paisabem ao nosso redor, tomamos ações com infinita energia vital para ajudar os outros a se
tornarem felizes.
Endo: Viajamos pela vida e pela morte tendo o estado de Buda como nosso alicerce.
No Japão, muitas pessoas acreditam que nos tornamos Buda somente após a morte. Porém,
essa é uma visão errônea.
Suda: Daishonin diz para um de seus discípulos: “Ele foi um Buda em vida, e agora, é um Buda em
morte. Sua iluminação transcende tanto a vida como a morte. Esse é o significado da doutrina
fundamental: alcançamos a iluminação em nossa presente forma.” (The Major Writings of Nitiren
Daishonin [MW], vol. 2, pág. 207.)
Saito: Esse é o verdadeiro significado da unicidade de vida e morte.
Pres. Ikeda: Portanto, devemos ser vitoriosos em nossa presente existência. A vitória nesta vida é a
vitória após a morte, nas vidas futuras e em toda a eternidade. O presidente Toda dizia: “Se for capaz
de ser feliz nesta existência, então, com certeza também será feliz em suas vidas futuras.”
Endo: Há religiões que afirmam que a felicidade somente é alcançada com a morte e nem mesmo
tentam oferecer às pessoas soluções para os infortúnios e sofrimentos desta existência. Em contraste,
o Budismo de Nitiren Daishonin expõe que a prova real de felicidade nesta vida é a própria prova real
de felicidade após a morte e nas próximas existências.
Pres. Ikeda: A vida eterna não é algo que podemos ver com nossos olhos, nem algo que pode ser
comprovado empiricamente. Nesse sentido, essa percepção pertence ao mundo da ‘crença’ e não ao
mundo intelectual das pessoas. Isso quer dizer que todos podem inventar histórias sobre o pós-vida.
Suda: Parece-me que muitas religiões agem exatamente dessa maneira.
Pres. Ikeda: Em contraste, o Budismo de Nitiren Daishonin expõe sobre a inseparabilidade da vida e
da morte, indicando que podemos ver o estado de nosso “pós-vida” na circunstância de nossa
presente vida.
Se não pudéssemos ser felizes nesta presente existência praticando esse budismo, seria difícil
acreditar em promessas de felicidade após a morte. Porém, quando experimentamos a prova real da
felicidade nesta vida, sentimo-nos totalmente confiantes de que também poderemos estender essa
condição para nossa próxima existência. Se o que Daishonin ensina sobre experimentar a felicidade
por toda a eternidade fosse na verdade uma falsidade, então pela lógica não poderíamos receber
imensuráveis benefícios nesta presente existência por meio dessa prática.
Saito: Esse ponto parece inquestionável.
Pres. Ikeda: E sobre a vida e a morte fundamentadas no estado de Buda? O que ocorre com uma
pessoa que morre mantendo firme sua fé na Lei Mística? Por que não iniciamos analisando o que
Daishonin diz sobre isso no Gosho?
Endo: Em certo momento, ele declara: “Se neste exato momento ele fosse para o Pico da Águia, iria
sentir como se o Sol tivesse surgido, iluminando todas as dez direções; e se sentiria feliz, imaginando
como uma morte prematura poderia ser motivo de alegria” (MW, vol. 5, pág. 281.)
Suda: Essa é uma passagem extraordinária. Não existe a mínima dúvida. Ele está dizendo que a
morte, em vez de ser algo que nos causa medo, é algo pelo qual devemos até mesmo ansiar.
Saito: Daishonin também declara:
Quando escalar a montanha da maravilhosa iluminação e contemplar ao seu redor em todas as
direções, ficará espantado ao perceber que o Universo inteiro é a Terra da Luz Eternamente Tranqüila.
O chão será de lápis-lazúli, e os oito caminhos estarão divididos por cordões dourados. Quatro tipos
de flores cairão dos céus e o ambiente será envolto por uma melodia. Todos os budas e bodhisattvas
estarão presentes em completa alegria, acariciados pela brisa da eternidade, felicidade, verdadeira
identidade e pureza. O tempo já está se aproximando quando, então, iremos nos unir a todos eles.
(MW, vol. 3, págs. 216–217).
Pres. Ikeda: É um estado em que “tanto a vida como a morte são uma alegria”.
Daishonin também afirma: “Por possuir as asas do único veículo como suporte, ele pode voar no céu
da Terra da Luz Eternamente Tranqüila.” (MW, vol. 7, pág. 173.) Com a eternidade e todo o Universo
como palco de nossas atividades, voamos brilhantemente no “grandioso céu da felicidade”. Portanto,
não é a morte que devemos temer, mas a rigorosa lei de causa e efeito.
A pessoa que conduz uma vida digna também morrerá dignamente, e renascerá da mesma
forma. Porém, aquela que vive de modo indigno morrerá e renascerá dessa mesma maneira. O
filósofo grego Antístenes propôs a seguinte questão: “Qual é a melhor coisa que podemos fazer
como seres humanos?” E respondeu: “Morrer dignamente.”
O espírito do capítulo “Revelação da Vida Eterna do Buda” é conduzir a própria vida com base
na Lei Mística

Suda: “Juryo”, no título do capítulo, “Nyorai Juryo Bon” (Vida Eterna do Buda), significa medir ou
perceber a vida e as maravilhosas virtudes do Buda. Conforme aprendemos em nosso diálogo sobre
o capítulo “Revelação da Vida Eterna do Buda”, praticar esse capítulo é conduzir uma vida com a
grandiosa energia vital do Buda.
Endo: Penso que isso significa que a longevidade é importante.
Pres. Ikeda: Certa vez, alguém disse: “A longevidade é a arte da vida.” Poder viver muitos anos já
representa um tipo de vitória. Uma passagem do capítulo diz: “Deixe-nos continuar a viver!” (LS16,
pág. 228.) Todas as manhãs e noites, oro para que os membros da SGI desfrutem excelente saúde e
vida longa.
Ao mesmo tempo, nosso sucesso ou fracasso em vivermos com base no estado de Buda não
está determinado simplesmente pelo período de anos que se passaram em nossa vida. Nitiren
Daishonin tinha apenas sessenta anos quando faleceu.
No Japão, aquele que atinge os sessenta anos já “completou um ciclo do calendário”, pois, no
calendário lunar, esse ciclo marca a conclusão dos cinco ciclos de doze anos. Isso sugere que a
pessoa que alcançou essa idade alcançou uma vida completa. Nikko Shonin, o sucessor de Daishonin,
faleceu com a idade de oitenta e oito anos.
Saito: Especialmente naquela época, ele teria desfrutado uma vida extremamente longa.
Pres. Ikeda: Com quase noventa anos, ele continuava são e vigoroso, e tanto sua audição como sua
visão estavam mais aguçadas e fortes que nunca. Em fevereiro de 1333, ele deitou-se cedo e veio a
falecer no meio da madrugada do dia sete. Relatos descrevem como, até o último momento de sua
vida, ele jamais sofreu por causa de senilidade ou doença.
O terceiro sumo prelado, Nitimoku Shonin, faleceu quando estava com setenta e quatro anos e
durante uma viagem cujo objetivo era encontrar a corte imperial para aconselhá-la a aceitar o ensino
de Daishonin.
Endo: Ele faleceu em um local chamado Tarui na Província de Mino, parte do que hoje é a Prefeitura
de Guifu.
Pres. Ikeda: As circunstâncias de sua vida refletem sua total dedicação à Lei. Em vez de viver
tranqüilamente seu período natural de anos, ele morreu quando empreendia um extraordinário
esforço para preservar e propagar o ensino de seu mestre.
Suda: A morte súbita de Nitimoku Shonin no meio de uma viagem deve ter pego todos de surpresa.
Pres. Ikeda: Creio que há um grande significado no fato de os três mestres1 terem morrido de
maneira diferente; embora cada um deles tenha interiorizado a vida eterna do Buda alcançada por
aquele que dedica a própria vida a lutar em prol do Kossen-rufu, as circunstâncias acerca de sua
morte variam grandemente.
Saito: Daishonin declara: “Ela [a mãe de Toki Jonin] partiu em sua jornada rumo à Primavera Dourada
para revelar o princípio do nascimento e da morte.” (Gosho Zenshu, pág. 977.) Ele ensina que a vida e
a morte assumem várias formas.
Pres. Ikeda: O Budismo de Daishonin é perfeito, pois compreende todos os aspectos da vida e está
completamente livre de contradição. Se, por exemplo, o budismo expressasse que existe uma idade
certa para as pessoas viverem, então, a impossibilidade de alcançar a idade desejada causaria
infelicidade e sofrimento.
Saito: O presidente Toda morreu com a idade de cinqüenta e oito anos. Não podemos dizer que
desfrutou uma vida longa. E o presidente Makiguti morreu aos setenta e três anos, na prisão. Se ele
não tivesse sido sujeitado às duras condições da vida carcerária, com certeza teria vivido mais tempo.
Pres. Ikeda: Seja qual for a duração da nossa vida, curta ou longa; sejam quais forem as
circunstâncias de nossa morte, se nos dedicarmos seriamente ao Kossen-rufu, então, com certeza
experimentaremos uma vida e uma morte fundamentadas no estado de Buda.
Quando eu era jovem, devido à minha condição debilitada de saúde, fui informado de que não
ultrapassaria os trinta anos. No entanto, superei essa expectativa e vivo vigorosamente como
sucessor do presidente Toda. Certa vez, o Sr. Toda me disse: “Você se tornará o Takayama Tyogyu da
Lei Mística.2 O verdadeiro Tyogyu viveu até os trinta e um anos. Você tem de continuar vivendo. Tem
de continuar vivendo como meu sucessor.” Numa outra ocasião, ele chegou a confessar que “daria
sua vida” para mim para que eu pudesse continuar vivendo. Hoje, embora muitos pensassem que eu
iria morrer jovem, alcancei a idade dos setenta anos. Estou saudável e acredito que ainda viverei
muitos anos.
Endo: Penso que essa é a verdadeira essência do capítulo “Revelação da Vida Eterna do Buda”.
Pres. Ikeda: A longevidade é o próprio tesouro. Porém, a maneira como vivemos é ainda mais
importante. Daishonin declara: “É preferível viver um único dia com honra a viver cento e vinte anos e
morrer na desgraça.” (The Major Writings of Nichiren Daishonin [MW], vol. 2, pág. 238.)
Suda: Encontramos afirmações semelhantes até em textos budistas antigos. Em uma passagem
consta: “Melhor que viver cem anos sem ver a própria imortalidade é viver um único dia e ver a
própria imortalidade.”3
Saito: “Imortalidade”, neste contexto, significa o estado de vida no qual a pessoa despertou para a
vida eterna do Buda.
Suda: Certo. O mesmo texto contém a seguinte descrição: “A cautela conduz à imortalidade; a
negligência conduz à morte. Aqueles que são cautelosos jamais morrem; aqueles que são negligentes
já são como mortos.”4

Alcançamos a imortalidade por meio dos esforços em prol do Kossen-rufu

Pres. Ikeda: Para nós, ser sempre cautelosos, dedicar nossa vida e trabalhar vigorosamente rumo à
concretização do grandioso desejo do Kossen-rufu, é alcançar um estado de “imortalidade”. Esse é o
significado de ler o capítulo “Revelação da Vida Eterna do Buda” com a própria vida. Tornamo-nos
unos com o “Buda eterno” somente por meio de contínuos esforços em prol do Kossen-rufu. Então, a
ilimitada vida do Buda se manifesta em nossa própria limitada vida. Isso verdadeiramente ocorreu
com o presidente Toda. Até mesmo quando estava acamado por causa da doença, se alguém
perguntasse algo relacionado ao budismo, ele imediatamente levantava se apoiando em algo e
respondia. Ele dizia freqüentemente: “Por mais mal-humorado que estiver, qualquer pergunta sobre o
Gosho me deixa alegre.” E manteve essa atitude até o último momento de sua vida.
Houve um certo dirigente de comunidade que, por ter empreendido árduos esforços, de um
pobre trabalhador passou a um próspero empresário. No dia anterior à nossa histórica peregrinação
de 16 de março [1958], o presidente Toda telefonou para esse senhor. Após essa pessoa informar que
iria viajar por alguns dias, o presidente Toda, apesar de sua condição extremamente debilitada,
instruiu-o enérgica mas polidamente por trinta minutos sobre como deveria conduzir seus negócios.
Após vários dias, esse senhor telefonou para o presidente Toda no Templo Principal para
informar-lhe sobre como estavam as coisas. Naquela época, o Sr. Toda estava seriamente doente.
Ainda assim, quando soube que o dirigente de comunidade estava na linha desejando falar com ele,
pediu que lhe passassem a ligação. Então, apoiando-se em uma pessoa e tendo outra para segurar o
fone perto de seu ouvido, ele conversou com o dirigente. O Sr. Toda foi realmente um professor
extraordinário.
Saito: Acredito que o presidente Toda sentia sua própria morte se aproximando. Conforme as
palavras de seu assistente, um ano antes de seu falecimento, o presidente Toda observou: “Eu deveria
ter morrido já há muito tempo. Estou apenas tentando ver o quanto posso permanecer nesta
existência... A verdade é esta: Irei morrer em abril do ano que vem. Sim, morrerei.”
Embora eu ainda não consiga compreender o estado de vida do Sr. Toda, fico impressionado
ao ouvir relatos sobre como, até os seus últimos dias, ele que havia despertado para a eternidade da
vida, sempre tratou as pessoas com a mais profunda benevolência.
Pres. Ikeda: Quando compreendemos a eternidade da vida, naturalmente manifestamos ações
benevolentes. Se não agimos dessa maneira é porque ainda não compreendemos verdadeiramente.
Aquele que compreende que a vida das pessoas é idêntica à vida do Buda irá expandir livremente sua
própria vida para levar essa compreensão aos outros. Para nós, seja isso o estado de vida do Buda ou
a iluminação, somente em tal ação concreta é que encontraremos o verdadeiro significado de ser
iluminado. O mesmo com certeza ocorreu com o presidente Makiguti.
O seguinte relato é de uma senhora que estava iniciando a prática da fé. Ela estava tentando
sinceramente ensinar aos outros o Budismo de Nitiren Daishonin. Certo dia, ela trouxe uma amiga,
que estava com um dos pais doente, para ver o senhor Makiguti. Ele a aconselhou com as seguintes
palavras: “Possibilitar seus pais a abraçarem a fé é um ato da mais alta devoção filial.” A amiga
decidiu abraçar a fé imediatamente.
A senhora recitou sincero Daimoku com sua amiga e, após seis meses, o pai dessa amiga
faleceu com uma expressão verdadeiramente bela e tranqüila. A amiga sentiu-se feliz por poder ter
feito tudo que podia em prol da felicidade eterna de seu pai.
Depois de um tempo, a senhora também ensinou a prática ao irmão mais novo dessa amiga.
No entanto, exatamente no dia em que iria se converter, o rapaz morreu em um acidente. A senhora,
chocada pela súbita mudança dos eventos, imediatamente foi até a casa do Sr. Makiguti. Ela
perguntou-lhe: “Por que ele morreu tão repentinamente após ter decidido se converter?”
Apesar de já ser tarde da noite, preocupado com a amiga daquela senhora, o Sr. Makiguti
sugeriu: “Vamos visitá-la”, e partiram para lá. Assim que chegaram, ele sugeriu que todos recitassem
Daimoku com um único pensamento. Com o Sr. Makiguti liderando a recitação, eles continuaram
orando por um longo tempo. Algumas pessoas que não eram membros participaram da recitação
também; e, mais tarde, elas também passaram a ser membros da Soka Gakkai.
As questões sobre a vida e a morte não podem ser respondidas com respostas prontas ou
simples lógica. É realmente dedicando nossa vida e reunindo toda a sinceridade que podemos abrir e
reviver os corações endurecidos das pessoas que estão imersas no sofrimento e na angústia. É por
meio de tal atitude que podemos demonstrar a prova real do ensino que expõe que o caractere “Myo
significa reviver, ou seja, retornar à vida”. (MW, vol. 3, pág. 23.)
Saito: Compreendo. Em consideração aos nossos leitores, gostaria de falar um pouco sobre a morte
de Nitikan Shonin. Recebi muitas questões sobre Nitikan Shonin. Parece que vários membros têm
interesse em saber mais sobre ele, uma vez que diariamente estão orando diante do Gohonzon que
ele inscreveu.
Pres. Ikeda: Os líderes devem responder prontamente às dúvidas das pessoas. Vamos respondê-las
agora mesmo.

Os últimos momentos de Nitikan Shonin

Endo: Há um famoso episódio sobre os últimos momentos de Nitikan Shonin que envolve o soba
japonês, ou sopa de macarrão de trigo-sarraceno. Ele faleceu na manhã de 19 de agosto de 1726,
com sessenta e dois anos.
Parece que Nitikan sabia que sua morte estava próxima. Um dia ou dois antes, vestiu-se com
seu manto e saiu de seu leito. Carregado em uma padiola, ele percorreu um trajeto ao redor do
templo para despedir-se. Primeiro, leu o sutra e recitou Daimoku no Templo Principal. Após isso, foi
prestar uma homenagem aos três mestres no cemitério. Em seguida, procurou o antigo sumo prelado
e o então sumo prelado. Passou pela área comercial nos fundos do templo e retornou ao complexo
de alojamentos Dai-bo. Dizem que, ao longo do caminho, um grande número de simpatizantes havia
se reunido para acenar-lhe.
Suda: Assim que retornou aos seus aposentos, solicitou que preparassem seu funeral, e ele
pessoalmente redigiu alguns versos na cobertura que seria o seu caixão.
Saito: Ele estava absolutamente tranqüilo.
Suda: Na madrugada do dia 18 de abril, ele solicitou que colocassem um Gohonzon próximo a ele e
instruiu seus acompanhantes para orarem Daimoku quando ele falecesse e sobre outros assuntos.
Após isso, pediu que lhe preparassem um pouco de soba, seu prato favorito.
Tomando a sopa em sete goles, ele sorriu radiantemente e observou: “É magnífico – o Palácio
da Luz Eternamente Tranqüila.” Então, enxaguou sua boca e juntou as palmas de suas mãos em
oração diante do Gohonzon. Por volta das oito da manhã do dia dezenove, ele faleceu serenamente,
com seus olhos e sua boca levemente abertos.
Saito: O fato de haver tantos detalhes registrados provavelmente demonstra o quanto as pessoas
ficaram emocionadas.
Pres. Ikeda: Nitikan tomou soba para cumprir uma promessa. Aproximadamente seis meses antes de
falecer, ele observou: “Em sua morte, o grande tradutor e estudioso Kumarajiva declarou: ‘Quando eu
morrer, se minha língua se mantiver intacta quando meu corpo for cremado, é porque todas as
minhas palavras foram verdadeiras.’ E, assim aconteceu, sua língua se manteve intacta em meio às
chamas. Da mesma forma, uma vez que eu sempre apreciei soba, no momento de minha morte, irei
tomar soba, dar um largo sorriso e recitar Daimoku. Se tudo ocorrer dessa forma, então, não duvidem
de uma única palavra que pronunciei.”
Endo: E seus últimos momentos foram exatamente como ele prometeu.
Pres. Ikeda: Em junho, dois meses antes de sua morte, Nitikan Shonin fez a seguinte observação: “O
Taissekiji está agora florescendo. O número de pessoas que recitam o Daimoku está aumentando.
Portanto, com certeza, os Três Poderosos Inimigos se levantarão. Desde a última primavera venho
orando para afastar a calamidade. Portanto, os budas e as divindades celestes, em resposta,
assumiram a forma dos demônios da doença que me afligem pessoalmente. Uma vez que esse, com
certeza, é o princípio de ‘amenizar o efeito cármico’, não há necessidade de ficar nem um pouco triste
por causa disso.”
Endo: Foi por volta daquele ano que ocorreu a Perseguição de Kanazawa.5

Podemos renascer na época e no local que desejarmos

Pres. Ikeda: Sua atitude é a de um inabalável líder do Kossen-rufu. Penso que Nitikan Shonin
conseguia manter tal serenidade e dignidade diante da morte por causa de seu profundo senso de
responsabilidade.
De qualquer maneira, experimentar o nascimento e a morte da perspectiva do estado de Buda
significa que a morte é algo que absolutamente não devemos temer. É o mesmo que ir dormir em
um dia e despertar no outro. Assim que pensar que está morto, antes de ter essa certeza, já terá
entrado em sua próxima existência!
Suda: Sinto-me muito melhor agora!
Pres. Ikeda: Além disso, nascemos no local, na época e da forma que desejamos. E isso não está
limitado a este mundo. Se já estiverem cansados da Terra, poderão partir para lutar em outros
planetas!
Daishonin comenta sobre alcançar o ‘misterioso poder da perfeita liberdade de ação” por meio
da fé na Lei Mística (MW, vol. 7, pág. 69.) E, no Gosho “Sanze Shobutsu Sokanmon Kyoso Hairyu”
(Sobre o Ensino Principal Afirmado por todos os Budas pelas Três Existências), ele declara que todos
aqueles que abraçam a Lei Mística irão renascer “no espaço de um instante”.
Endo: Exato. Na passagem consta:
“Ao alcançar a suprema Terra da Luz Eternamente Tranqüila livremente, no espaço de um instante, a
pessoa irá retornar para o meio de seu sonho de nascimento nos nove mundos. O corpo da pessoa
permeia o mundo Darma nas dez direções e a sua mente entra na vida de todos os seres sensíveis.
Impelida por dentro e impulsionada por fora, na harmonia da causa [interna] e da relação [externa], a
pessoa exercita livremente o poder transcendental de benevolência e amplitude e traz benefícios para
os seres vivos sem qualquer impedimento.” (Gosho Zenshu, pág. 574.)
Saito: Esse é o significado de vida e morte fundamentado no estado de Buda.
Endo: Há provavelmente algumas pessoas que prefeririam descansar um pouco a nascer
imediatamente!
Pres. Ikeda: Então, essas pessoas devem definitivamente descansar! Poder descansar após uma vida
de árduos esforços é algo natural. A morte é “descanso”. É uma fase na qual, envoltos no oceano
benéfico da vida universal, recarregamos nossa vida exausta, e nos preparamos para a explosão de
vitalidade que é o nascimento.
Ao mesmo tempo, quando nos fundamentamos no estado de Buda, a benevolência se torna a
base de nossa vida. Portanto, nosso desejo passa a ser o de renascer novamente o mais rápido
possível, pois assim poderemos ajudar mais pessoas a se tornarem felizes.
A expressão “no espaço de um instante” será melhor apropriada em termos de “tempo
espiritual” em oposição ao “tempo físico”. Assim como os sofrimentos do Inferno por um curto
tempo podem ser como uma eternidade, o tempo passa rapidamente quando alguém está
experimentando a grande alegria do estado de Buda. Esse “tempo espiritual” é uma visão
completamente subjetiva de tempo.

Um alerta à sociedade moderna

Saito: Isso conclui nosso diálogo do capítulo “Revelação da Vida Eterna do Buda”. Ainda há diversos
pontos sobre os quais podemos discutir, mas, neste momento, vamos voltar nossas atenções para os
capítulos finais, começando com o capítulo dezessete, “Distinções de benefícios”.
Pres. Ikeda: Gostaria de comentar, neste momento, sobre a seguinte passagem do Gosho “Abertura
dos Olhos”: “Se uma pessoa falha em conhecer o Buda do capítulo Juryo, ela nada mais é que um
animal talentoso que não sabe nem em que terra seu pai está presidindo.” (The Major Writings of
Nichiren Daishonin, vol. 2, pág. 131 [153].) Embora isso pode ser interpretado de várias formas, penso
que é um alerta para as pessoas da era moderna que estão confusas sobre o alicerce de sua própria
vida.
Em resumo, o capítulo “Revelação da Vida Eterna do Buda” busca transformar “animais
talentosos” em “genuínos seres humanos” que despertaram para a Lei da vida. O sol do verdadeiro
“século do ser humano” irá se levantar quando as pessoas compreenderem e colocarem em prática o
espírito do capítulo “Revelação da Vida Eterna do Buda”, a grandiosa filosofia de vida do Budismo de
Nitiren Daishonin.
O Kossen-rufu é um magnífico movimento para criar uma sociedade na qual todos os campos
de empreendimentos – economia e política, educação e ciência, indústria e agricultura, o lar e a
própria vida – são iluminados pela brilhante luz da Lei Mística.

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