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Novo Mundo
Copvright @ dos autores
Além do Mar Tenebroso: Tordesilhas e o Novo Mundo / Organização: Maria Teresa Toríbio Brittes
Lemos; [colaboradores] Creusa
Capalbo... [et al.]. - Rio de Janeiro: UERJ / PROEALC, 1995.
100 p.
Inclui Bibliografia ISBN 85-7107-014-8
1. Tratado de Tordesilhas (1494) I. Lemos, Maria Teresa Toríbio Brittes. II. Capalbo,
Creusa.
Publicado no Rio de Janeiro em 1995 pelo Programa de Estudos de América latina e Caribe (PROEAlC) do Centro de Ciências
Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Programação Visual de Rosania Rolins, Capa de Heloisa Fortes, Revisão de
Marco Aurélio Mello Reis e Impressão da GrMica da Uerj.
A Representação do
Meridiano do
Tratado de Tordesilhas no
Planisférico de Cantino
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- Porto Seguro
- Rio de Brasil
- Cabo de São Marco
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de alguns pontos assinalados ao sul do Porto Seguro, parte da
costa desconhecida ainda pela frota de Cabra!.
Surpreendentemente, para o historiador inglês John R. Hale
(1970:65), fora Colombo que levara à Espanha descrições
impressionantemente exatas e detalhadas das novas terras,
inclusive do Brasil, que permitiram ao desconhecido cartógrafo
fazer tal mapa.
Contudo, para a maioria dos estudiosos que debruçaram-se
sobre esse problema, a descoberta da história do mapa de
Cantina trouxe a resposta para a dúvida da existência da
expedição exploradora do litoral brasileiro de 1501. Temos a
informação desta expedição através do relato de Américo
Vespúcio, porém, não existe nenhuma referência de sua realiza-
ção nos arquivos de Portugal, já minucioso para todas as frotas
que de lá partiam, além de também não haver nenhuma
referência de que Vespúcio teria sido contratado como
navegador pela Coroa portuguesa. Apoiado assim nos diversos
estudos feitos, Pereira (1984:35) afirma que "O planisfério da
Casa d'Este, de autor anônimo, constitui assim uma prova
incontestável da vinda à Vera Cruz da Expedição de 1501."
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que tinha um significado equivalente ao de cartógrafo. Esse
documento já foi alvo de análise por parte de diversos
estudiosos, que tendem a considerá-lo como de relato verídico.
Não pretendendo entrar no mérito desta discussão, lembramos,
porém, que Portugal contava na época com os melhores
navegadores e cartógrafos (o próprio mapa em questão assim o
comprova), não havendo nenhum sentido em o rei D. Manuel
necessitar recorrer aos préstimos de um estrangeiro, cuja única
referência que se tinha a seu respeito, era de agente comercial da
casa dos Médicis.
É preciso também considerar o silêncio sobre essa que teria
sido a primeira expedição a ser enviada à nova terra descoberta,
não só nos arquivos portugueses, como em todos os cronistas
que narraram a chegada às Índias(4). Observamos que nada
explicaria a necessidade de sigilo, que teria feito desaparecer
todos os documentos referentes, e calar todos os cronistas, em
relação não só ao episódio como também a Vespúcio, pois nesse
mesmo ano de 1501, D. Manuel tornou pública a descoberta do
Brasil, através de uma carta enviada aos Reis Católicos.
Todavia, mesmo indo contra esses fatos, e considerando
verídica a participação de Vespúcio como cosmógrafo nessa
expedição, observamos contradições nas informações narradas
por Vespúcio e as contidas no nosso referido mapa. A mais
evidente é que teria ele retomado a Portugal trazendo as
informações necessárias para a elaboração do mapa, em
setembro de 1502, ou seja, quando o mapa já estaria quase, se
não totalmente pronto. Precisamos também considerar, além do
tempo necessário para o cálculo e desenho das novas
informações, o tempo que o cartógrafo anônimo levou para ser
corrompido e ter acesso, certamente por meios ilícitos, às
informações do cartógrafo da expedição, Vespúcio, que, segundo
suas palavras, era depositário das maiores confianças do rei.
lembramos ainda que a pena para o crime de traição era de
morte. Ou seja, mesmo que a moral e a ousadia do cartógrafo
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anônimo e de Vespúcio fossem de causar inveja a determinados
homens públicos atuais, é absolutamente impossível que toda
essa conjuntura tenha se concretizado em tão curto espaço de
tempo.
Continuando apontando as contradições, Vespúcio faz
referência à descoberta de uma baía, em 25 de dezembro, que,
por isso, recebeu o nome de Salvador. Porém, esta mesma baía
está indicada no mapa de Cantino como de Todos os Santos.
Partindo da baía de Salvador, Vespúcio só irá fazer posteriores
referências a Ilha Grande e Angra dos Reis(5), contudo o mapa
assinala com precisão Porto Seguro, indica o Rio de Brasil,
provavelmente a baía da Guanabara, e não faz nenhuma
referência a Ilha Grande ou Angra dos Reis.
Referindo-se a essa primeira expedição na carta dirigida a
Lorenzo dei Medeci, Vespúcio faz as seguintes considerações,
extremamente significativas, dentro desse quadro de
contradições:
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ram fazer um levantamento razoavelmente preciso de parte do
litoral, se encontraram dificuldade na própria localização?
Porém, o mais relevante, é que Vespúcio chama a atenção da
importância de saber utilizar a carta de navegar em mares
desconhecidos. Como então pôde Vespúcio demonstrar essa
sapiência, se essa viagem era a primeira exploração desses mares
e que teria sido graças a ela que o primeiro mapa pôde ser feito?
Sendo verídico ou não o seu relato dessa viagem, Vespúcio
demonstra ter conhecimento da existência de cartas de
navegação para a região que estaria sendo explorada. Ao mesmo
tempo, observamos que o planisférico de Cantino foi o primeiro
feito na projeção cilíndrica, até então de utilização exclusiva nas
cartas de navegação portuguesas. Assim, o que nos parece mais
provável, é que o cartógrafo anônimo tenha feito esse
planisférico a partir, principalmente, das cartas de navegação já
existentes. Caso contrário, seria menos trabalhoso e demorado
atualizar um planisférico já existente feito, necessariamente, na
projeção cônica.
Um outro aspecto que tem sido negligenciado pelos
estudiosos é que esse mapa demonstra que o seu cartógrafo tinha
conhecimento preciso não só das latitudes como também das
longitudes de pontos do nosso litoral. A relação numérica no
mapa de Cantino entre as distâncias do meridiano de Tordesilhas
ao extremo leste do litoral (Cabo de São Jorge) e do mesmo
meridiano à costa da África, é extremamente próxima à mesma
relação em um planisférico atual, também na projeção
cilíndrica(6).
Luís de Albuquerque, referindo-se a Alonso de Santa Cruz e
ao seu Libro de Ias Longitudes, faz as seguintes referências
sobre o cálculo das diferenças de longitude na época:
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sição"; o método consistia em partir de um dos lugares por
determinado rumo e saber, através do Regimento da Léguas,
quanto havia de se navegar para o navio se afastar determi-
nada distância do meridiano de partida. É claro que o
Regimento das Léguas, possivelmente obtido por processos
gráficos, não podia ser aplicado para grande derrotas, (o
grifo é nosso) já que a distância entre dois meridianos se ia
encurtando à medida que se avança em latitude. (...) A esta
dificuldade de fundo juntava-se a impossibilidade de se
manter o navio em rumo constante. (...) No terceiro capítulo
ocupa-se do modo de resolver o problema que o preocupa
por eclipse do sol e da lua (...) Contudo, do que diz também
se infere que, afinal, não aprova o processo, pois ele exigia
que a bordo de cada navio seguissem astrônomos doutos,
que as horas dos eclipses fossem previstas com grande
precisão (o que estava longe de se verificar) e que os
relógios em uso tivessem marcha regular (o que também não
era o caso). (1987:26).
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pendência frente às ameaças castelhanas e mouras, ter tomado a
vanguarda desse processo. Segundo o medievalista português
José Mattoso (1987), os fatores até então apontados (cruzadas,
viagens de missioneiros e aventureiros ao Oriente, inventos
técnicos, existência de uma burguesia mercantilista e
desenvolvimento do comércio português no Atlântico Norte etc.)
são importantes, porém insuficientes para explicar suas razões,
pois, como se compreende esta tendência para a expansão
ultramarina se o Ocidente passava, desde meados do século XIV,
por um período de crise demográfica e de recessão econômica?
Onde estão os excedentes populacionais que alimentam a
constante sangria de gente? De onde vem agora a curiosidade por
costumes diferentes, o ímpeto para comunicar com povos de
língua desconhecida, a coragem de navegar através do oceano
cheio de perigo? Estas perguntas permanecem sem respostas. Do
mesmo modo, muito se tem discutido a respeito da natureza da
descoberta do Brasil. Se foi fruto da intencional idade ou do
acaso. Todavia, essa discussão tem se mostrado pouco produtiva
e, até mesmo, estéril.
Acreditamos que esta dificuldade deve-se, primordialmente,
à política do sigilo praticada pela Coroa portuguesa nas questões
relacionadas aos descobrimentos, até a consolidação da rota
atlântica para as Índias, sendo esta a razão da inexistência nos
arquivos portugueses de documentos relativos a este tema,
anteriores ao século XVI. Segundo Cortesão (1947:541/2), no
minucioso testamento de D. Henrique, personagem chave dos
descobrimentos, considerado o introdutor de grandes avanços
nas ciências náuticas(7) não se encontrou um único roteiro ou
carta náutica. As informações que temos sobre os
descobrimentos até o século XVI advêm, principalmente, dos
relatos parciais e duvidosos dos cronistas. A partir de então,
existe uma farta documentação sobre as frotas que se dirigiam à
América, África e Ásia, assim como dos acordos comerciais e da
política externa da Coroa portuguesa.
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Ao nosso ver, a manutenção do sigilo em relação ao prévio
conhecimento do continente americano fazia-se necessário,
inicialmente pelo fato de que o domínio da rota atlântica pelos
portugueses tinha como objetivo, não o contorno de um pretenso
bloqueio muçulmano, conforme apregoado pela maioria dos
historiadores, mas, na realidade, a execução desse bloqueio, ao
impedir o acesso ao Mar Vermelho e Golfo Pérsico das
especiarias vindas do Oriente, que seriam recebidas nos portos
do Egito e da Síria por mercadores italianos, principalmente
venezianos. Atentando para esta perspectiva, entendemos porque
eram os espiões das repúblicas italianas, principalmente
venezianos, os maiores interessados na obtenção desses
segredos.
Posteriormente, a Coroa portuguesa visou também limitar a
ação dos Reis Católicos, apoiados pelo Papa espanhol Alexandre
VI. Através da "descoberta" do Brasil, que teve como
conseqüência a constatação de que Colombo não havia chegado
às Índias, procurou acobertar o engodo em que teriam sido
envolvidos os reis de Espanha, no Tratado de Tordesilhas.
Lembramos que o meridiano de Tordesilhas foi posicionado de
maneira exata de modo que o litoral brasileiro ficasse dentro dos
domínios da Coroa portuguesa, ao mesmo tempo que o
contrameridiano preservava os principais centros de produção e
distribuição de especiarias no Oriente.
As rotas dos veleiros eram definidas não somente pelos
regimes de ventos, como também pelas correntes marinhas. A
corrente das Canárias e Guiné percorrem o litoral ocidental
africano no sentido norte-sul até a região equatorial. A partir de
então a corrente dominante é a de Banguela, que corre no sentido
inverso. Assim, para que as embarcações portuguesas que di-
rigiam-se ao Oriente ultrapassassem o cabo da Boa Esperança,
era necessário que seguissem a corrente do Brasil, a partir do R.
G. do Norte, até o encontro da corrente das Falklands, que, vinda
da Antártica, muda
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de direção no sul do Brasil, dirigindo-se ao Cabo da Boa
Esperança. Assim, a importância do litoral brasileiro devia-se,
além de fornecer portos para abastecimentos, aguadas e reparos,
por ser passagem obrigatória para as naus que seguiam em
direção ao Oriente. Desta maneira, o seu domínio significava o
controle da rota atlântica para as Índias.
O posicionamento do meridiano de Tordesilhas no mapa de
Cantino nos permite afirmar que a dimensão continental do
Novo Mundo era há muito conhecido por um restrito número de
pessoas envolvidas
.com a expansão ultramarina portuguesa. Necessariamente, foi
através de observações feitas ao longo de anos por "astrônomos
doutos" que o desconhecido cartógrafo pôde dispor de
informações tão precisas do nosso litoral.
Contudo, preferiu-se produzir uma versão absolutamente
fantástica para a origem desse planisférico que, ao nosso ver,
demonstra claramente que a "descoberta" do Brasil teve como
objetivo legitimar o poder da Coroa portuguesa sobre um
território que, sigilosamente, há muito era conhecido.
Paradoxalmente, continua-se ainda a discutir se essa
"descoberta" foi fruto do acaso ou da intencionalidade.
Olhando assim, através da ótica do sigilo, passamos a
perceber o processo histórico de um modo bem mais coerente, e,
acreditamos, próximo da realidade.
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Notas
1 - Orville A. Derby. Estudos Cartographicos da primeira phase dos
descobrimentos na América. 1914:335.
Moacyr Soares Pereira. A navegação de 7507 ao Brasil e
Américo Vespúcio. 1984:33/4.
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meridianos e paralelos como linhas retas e paralelas, o que facilita a
determinação das coordenadas geográficas e dos rumos a serem
seguidos, o tipo de projeção utilizada na confecção das cartas
náuticas e a cilíndrica conforme.
..
4 - Pereira, id.: 14/5/6/7: "Surpreendentemente jamais se
encontrou nos arquivos oficiais e particulares portugueses qualquer
documento relacionado a esta navegação exploratória das costas
brasileiras. É conhecida a carta do Visconde de Santarém a
Fernandez de Navarrete, que a publicou a seu pedido, sobre as
viagens de Américo Vespúcio por ordem da Corte de Lisboa, na qual
ele refere a busca que efetuou nas chancelarias originais do Rei D.
Manuel I, de 1495 a 1503 inclusive, em dezenas de milhares de
documentos do corpo cronológico, do das gavetas, e nos "paquetes"
das cartas missivas dos Reis e outros personagens, sem aparecer em
nenhum desses documentos o nome de Vespúcio. Sua pesquisa,
acrescenta, estende-se à coleção de manuscritos da Biblioteca Real
de Paris, na parte relativa aos descobrimentos e viagens lusas, com
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resultados também negativos. (...) os cronistas portugueses de
Quinhentos, em sua quase totalidade, não escreveram uma só palavra
sobre a primeira navegação manuelina ao Brasil. Fernão lopes de
Castanheda e João de Barros nada dizem a respeito do
acontecimento; o mesmo ocorrendo com Damião de Góis, Jerônimo
Osório e Pedro de Mariz, que apenas se referem à expedição de
Gonçalo Coelho à Terra de Santa Cruz, composta de seis velas, das
quais perdera quatro no curso da viagem - evidentemente a de 1503."
Há uma evidente distorção quando Pereira refere-se à quase
totalidade dos cronistas, pois não consegue citar um único que
confirme a expedição narrada por Vespúcio.
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geográficas. Em certo sentido, podemos dizer que a utilização da
projeção cilíndrica nas cartas náuticas expressa uma visão
“transatlântica”, já que esse tipo de projeção é mais adequada para as
regiões equatoriais, conforme argumenta Pimentel. O toque final na
Cartografia náutica foi dado pelo cartógrafo holandês Gehard
Kauffman (1512-1594), conhecido pelo nome latinizado de
Mercator, que em 1569 publicou um mapa-múndi, na projeção
cilíndrica conforme. Mercator obteve essa conformidade por proces-
so gráfico. A aplicação da projeção cilíndrica conforme foi
fundamental para a Cartografia náutica, pois permite que se obtenha
facilmente na carta não só as coordenadas geográficas como o rumo
verdadeiro que une dois pontos. Posteriormente, descobriu-se a
fórmula analítica da projeção cilíndrica conforme, sendo este o tipo
de projeção adotada para as cartas náuticas até a atualidade.
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1984.
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