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informação ou persuasão?
Alexandre Duarte
Professor Convidado IADE, EPBJC, ESAD - Investigador UNIDCOM
resum o
Depois dos ataques às torres gémeas do World Trade Center, o
mundo ficou mais familiarizado que nunca com o termo "terrorista".
De forma praticamente imediata e inconsciente, esta palavra e
este conceito, foram automaticamente associado aos muçulmanos, ao
Médio Oriente, ao Afeganistão, ao Iraque, à Al-Quaeda, a Bin Laden, etc.
No entanto, nunca esta terminologia se referiu ou associou à
sociedade ocidental. Este é então o ponto de partida para esta análise.
Partindo de um facto específico e traumático - os ataques do 11
de Setembro - partiremos para a análise da forma como os meios de
comunicação social (MCS) ocidentais trataram o assunto e de que forma
as nossas opiniões e atitudes foram - ou são - moldadas por esta
“ditadura” do poder dos MCS, à luz das teorias dos cultural studies, dos
textos e análises de Jean Baudrillard e das interpretações de vários
autores, em particular de Douglas Kellner.
“Es t a m o s s em p r e i n cl i n a d o s a t r a n s fo r m a r o
i n s t r u m en t a l t écn i co em b o d e exp i a t ó r i o d o s
p eca d o s p r a t i ca d o s p o r a q u el es q u e o
m a n ej a m . O s p r o d u t o s d a ci ên ci a m o d er n a , em
s i m es m o s , n ã o s ã o b o n s n em m a u s : é o m o d o
co m q u e s ã o em p r eg u es q u e d et er m i n a o s eu
va l o r . ”
General David Sarnoff
MEDIA TERRORISTA,
informação ou persuasão?
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Intro duç ão
Antes de entrarmos no tema propriamente dito, começaremos pelo
enquadramento teórico e respectiva análise da importância crescente (e consequente
debate) que tem havido nos últimos tempos sobre a forma como os meios de
comunicação social (MCS) influenciam e determinam a cultura, para depois, então sim,
analisarmos o tema específico dos ataques “terroristas” e a sua adequação no contexto e
advento da sociedade mediática de que nos fala Marshall McLuhan, bem como a
influência real e prática que a forma como este tema foi comunicado, teve no dia-a-dia
das sociedades ocidentais.
As primeiras referências teóricas nesta área foram produzidas pela chamada
Escola de Frankfurt, na qual, dois estudiosos, Horkheimer e Adorno, criaram, em 1947, a
expressão “indústria cultural” referindo-se ao processo de industrialização da cultura.
Para estes autores, a cultura era transformada em mercadoria, produzida em
escala industrial de forma “ standartizada” , pelo que estes teóricos viam nos meios de
comunicação de massa (cinema, rádio, música) instrumentos de dominação, de alienação
e de manutenção das classes sociais.
Na verdade, convém esclarecer que este conceito de “indústria cultural” destes
pensadores “ frankfurtianos” não se refere aos meios em si (enquanto meros veículos),
mas ao uso dessa tecnologias por parte das classes dominantes.
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Os Cultural Studies ultrapassaram algumas das “limitações” encontradas nas
propostas da Escola de Frankfurt, nomeadamente, e pelo que aqui nos interessa, ao nível
da análise do papel dos MCS. Para estes autores, os MCS não são apenas uma entidade
dominadora, mas antes um produto cultural que se alimenta de outras culturas, a partir de
uma relação de interdependência.
Assim sendo, os produtos mediáticos informam, respondem a uma necessidade
social, proporcionam cultura e lazer, reflectem e colocam em discussão os diferentes
valores e símbolos existentes, e ora manipulam, ora servem como resistência ao status
quo.
No entanto e apesar de podermos considerar que existiu uma evolução, é
importante que as questões levantadas pela Escola de Frankfurt não sejam totalmente
deixadas de lado. Devemos procurar o equilíbrio entre o ideológico e o resistente, na
medida em que não é apenas o receptor quem produz significados, os meios de
comunicação também o fazem. Os MCS são um reflexo do processo hegemónico
(Williams, 1979): ao mesmo tempo que incorporam e se adaptam às diferentes culturas,
num processo contínuo de negociação, integram os valores, significados e crenças da
classe dominante. A questão é que esta ideologia dominante não existe sozinha. Ela
corresponde à organização material do mundo dentro de um contínuo processo de
pressão e oposição.
E é precisamente esta pressão e oposição à hegemonia que proporcionam o
fortalecimento e o desenvolvimento do processo democrático.
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Manipulaç ão atrav és da C o m unic aç ão de Massas
Como vimos, é impossível dissociar a comunicação de massas da indústria
cultural, uma vez que elas são interdependentes, desde logo pelo facto de existirem hoje,
meios de comunicação capazes de fazer chegar uma mesma mensagem a muitos milhões
de pessoas. Assim sendo, a indústria cultural é consequência desta sociedade actual que
aceita, a maioria das vezes sem qualquer julgamento prévio, ideias, mensagens e
informações sem nenhuma barreira ou filtro, tornando-se assim numa sociedade de
consumo globalizada, sem restrições.
Este é precisamente o ponto que nos permite fazer a ponte para o caso que aqui
pretendemos analisar, à luz do até aqui referido.
Para tal, iremos partir dos vários estudos e pappers de Jean Baudrillard, onde este
autor analisa a temática da influência e importância dos MCS na cultura e sociedades
ocidentais, alguns dos quais mereceram comentários da parte de Kellner que
referenciaremos sempre que assim se justifique.
Para aprofundarmos esta viagem pelos “bastidores” das notícias, das imagens e
dos conteúdos, no fundo, da informação, interpretemos a forma como a cobertura
mediática do "11 de Setembro” e a consequente guerra no Iraque foi realizada para
tentarmos levantar uma pequena ponta do véu como o espectáculo de terror é gerado,
manipulado e divulgado.
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Os atentados do 11 de Setembro ultrapassam largamente a dimensão de mera
violência física ou um acto de pura arbitrariedade. Antes pelo contrário: o alvo foi eleito
pelo seu absoluto simbolismo.
Desde logo, as torres gémeas do World Trade Center eram um símbolo, um ícone
representativo da força do mercado capitalista global.
O u seja: o o bjec tiv o últim o desta "v io lênc ia" não são
as v ítim as em si, m as um públic o extrem am ente m ais v asto
e assim , deste m o do , o "espec tác ulo do terro r"
ganha um estatuto de “ ac to de c o m unic aç ão ” .
Torna-se assim evidente que os MCS ajudaram (se é que não construíram mesmo
de raiz) a criar o protótipo do “terrorista”: oriundo do médio oriente, muçulmano,
extremista, disposto a morrer por um mero, simples e irracional fanatismo religioso, esta
visão racista foi, não temos hoje qualquer dúvida, fruto do trabalho tendencioso dos media
ocidentais.
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S ó que esta "guerra ao terro r"
é abso lutam ente espec ulativ a,
na m edida em que não v em o s
o v erdadeiro ac o ntec im ento .
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"Terrorista" pode significar coisas muito diferentes. É evidente que cada palavra
não tem uma definição exclusiva e hermética, mas tem significados diferentes consoante o
momento da história e das culturas.
Mesmo quando situado no contexto actual, onde a violência é o elemento básico
do acto "terrorista", a sua função e finalidade é constituir um perigo para a vida humana. Ou
seja: as definições de terrorismo são virtualmente as mesmas que as definições de contra-
terrorismo.
Apetece-nos terminar este ensaio com a frase que Kellner deixou escrita no
documento que entregou numa conferência em Karlruhe, na Alemanha, em 2004 por
altura da comemoração do septuagésimo quinto aniversário de Baudrillard:
MEDIA TERRORISTA,
informação ou persuasão?
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Ref erênc ias biblio gráf ic as:
B A UDR IL L A R D, Jean, "TT he spirit o f T erro rism and Requiem f o r the T win
T o wers ", New edition, translated by Chris Turner, Verso Books, 2003
WIL L IA MS , Raymond, “M
M arxism o e L iteratura ”, Zahar Editores, Rio Janeiro, Brasil,
1979
S F EZ, Lucien, “C
C rític a da C o m unic aç ão ”, Colecção Epistemologia e Sociedade do
Instituto Piaget, Lisboa, 1990
MEDIA TERRORISTA,
informação ou persuasão?
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Mc L UHA N , Marshall, “O s m eio s de C o m unic aç ão c o m o extensõ es do
Ho m em ”, (1964) tradução de Décio Pignatari, Editora Cultrix, São Paulo, Brasil, 2007
C A ZEN EUV E, Jean, “Guia alf abétic o das C o m unic aç õ es de Massas”, Editora
Martins Fontes, São Paulo, Brasil, 1976
B A UDR IL L A R D, Jean, "TT he spirit o f T erro rism ", Le Monde, 2 November 2001
translated by Dr. Rachel Bloul, The European Graduate School, Media & communication,
disponível em:
http://www.egs.edu/faculty/baudrillard/baudrillard-the-spirit-of-terrorism.html
Consultado em 2009.03.17
B A UDR IL L A R D, Jean. "T he V io lenc e f the Im age", The European Graduate School,
Media & communication, disponível em:
http://www.egs.edu/faculty/baudrillard/baudrillard-the-violence-of-the-image.html
Consultado em 2009.03.17
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http://www.press.uchicago.edu/books/derrida/derrida911.html
Consultado em 2009.03.16