O Valor Do Sofrimento
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O Valor Do Sofrimento - Paulo Faitanin
Paulo Faitanin
O Valor do Sofrimento
CADERNOS DA AQUINATE
1
Paulo Faitanin
O Valor do Sofrimento
Uma leitura a partir de Santo Tomás de
Aquino.
3ª Edição
Ampliada e Revisada
Niterói, 2023
Image 2É proibida a reprodução total ou parcial da presente obra, sem a licença expressa do autor, de acordo com a Lei 9.610 de 19/02/1998
CADERNOS DA AQUINATE
1
ISSN: 1982-8845
Diretor: Alfredo Morán
Ficha catalográfica
FAITANIN, Paulo. O Valor do Sofrimento. Uma leitura a partir de Santo Tomás de Aquino. 3ª Edição. Cadernos da Aquinate, nº 1, Niterói, 2023.
Niterói, RJ, agosto de 2023.
50 páginas.
1. (Sofrimento) Filosofia. 2. Tomás de Aquino. 3. Tomismo.
Capa: Santo Tomás de Aquino;
detalhe da crucificação por Frá Angélico
óleo séc. XV
[wood engraving by Reynolds Stone, in Saint Thomas Aquinas, Selected writings, New York: The Heritage Press, 1971, p. 1]
CADERNOS DA AQUINATE
aquinate.com.br
3
ABREVIATURAS
Compendium Theologiae – CTh.
De natura accidentis – De nat. Accd.
De aeternitate mundi – De aeter. Mundi
De regimine principum – De reg. princ.
De substantiis separatis – De sub. sep.
Expositio in Dionysium De divinis nominibus – De div. nom.
Expositio super librum Boethii De Trinitate – De Trinitate.
Expositio libri Boethii De ebdomadibus – De ebdom.
In decem libros Ethicorum exposition – In Eth.
In duodecim libros Metaphysicorum expositio – In Met.
In libro de causis expositio – De causis.
In libros De anima lectura – In De anima.
In libros De caelo et mundo expositio – In De caelo.
In libros Perihermeneias expositio – In Perih.
In libros Politicorum expositio – In Pol.
In libros Posteriorum Analyticorum expositio – In Post. Anal.
In octo libros Physicorum expositio – In Phys.
In quattuor libros Sententiarum – In Sent.
Quaestiones disputatae De Spiritualibus creaturis – De Spir. Creat.
Quaestiones disputatae De anima – De anima.
Quaestiones disputatae De Potentia Dei – De potentia.
Quaestiones disputatae De veritate – De veritate.
Quaestiones Quodlibetales – Quodl
Summa Contra Gentiles - SCG.
Summa Theologiae – STh.
Super Evangelii S. Ioannis lectura – In Ioan.
6
CADERNOS DA AQUINATE
1. O Valor do Sofrimento: uma leitura a partir de Santo Tomás de Aquino.
2. A Sabedoria do Amor: iniciação à filosofia de Santo Tomás de Aquino.
3. O Ofício do Sábio: o modo de estudar e ensinar, segundo Santo Tomás de Aquino.
4. O Único Necessário: a perfeição da vida espiritual, segundo Santo Tomás de Aquino.
5. A Hierarquia Celeste: a angelologia de Santo Tomás de Aquino.
6. A Ordem do Universo: a cosmologia de Santo Tomás de Aquino.
7. A Dignidade do Homem: a antropologia filosófica de Santo Tomás de Aquino.
8. A Razão Capaz de Deus: a teologia natural, segundo Santo Tomás de Aquino.
9. Redemptionem Misit: Bula de Canonização de Santo Tomás de Aquino, 18 de julho de 1323.
10. Mirabilis Deus: Bula de Proclamação de Santo Tomás de Aquino como Doutor da Igreja, 11 de abril de 1567.
11. Introdução ao Tomismo: Tomás, o Tomismo & os Tomistas: uma breve apresentação.
Índice
INTRODUÇÃO. ................................................................................................ 6
CAPÍTULO PRIMEIRO
O MISTÉRIO DA INIQUIDADE E O MAL.
INTRODUÇÃO. ...............................................................................................11
VESTÍGIOS DA BONDADE DIVINA NA CRIAÇÃO. ............................................12
O QUE É O MAL? ...........................................................................................15
É EVIDENTE O MAL? .....................................................................................16
O QUE SIGNIFICA O MAL? ..............................................................................17
QUAL É A ORIGEM DO MAL?..........................................................................19
QUAL É A NATUREZA DO MAL? .....................................................................20
QUAL É A CAUSA DO MAL? ...........................................................................21
QUAL SERÁ O PAPEL DA RESPONSABILIDADE HUMANA PERANTE O BEM E O
MAL? ............................................................................................................25
CONCLUSÃO. ................................................................................................28
CAPÍTULO SEGUNDO
O MISTÉRIO DA PIEDADE E O SOFRIMENTO.
INTRODUÇÃO. ...............................................................................................29
DESESPERO DA MODERNIDADE ATÉIA ANTE O SOFRIMENTO. ........................30
ANTROPOLOGIA DO SOFRIMENTO. ................................................................37
MAS O QUE SIGNIFICA SOFRIMENTO? ............................................................39
O SOFRIMENTO É NATUREZA OU ALGO QUE PADECE A NATUREZA? ..............40
ESCATOLOGIA DO SOFRIMENTO. ...................................................................41
CONCLUSÃO. ................................................................................................49
8
INTRODUÇÃO.
Bendita seja a dor. Amada seja a dor. Santificada seja a dor. Glorificada seja a dor
.
São José Maria Escrivá, Caminho, n° 208.
1. As pessoas sofrem! Isto é indiscutível. Cada um conhece o sofrimento que tem porque o experimenta individualmente1. Impressiona-me como certas pessoas conseguem, apesar da dor que sentem, tornarem-se solidárias à dor alheia. Justificam que a oração e o serviço lhes colocam em intimidade com a dor de Cristo2 e que isso as ensina algo do mistério da dor humana. Qual mistério? O da redenção humana3, que a razão percebe tocada pela fé, mas não soluciona, porque ele não é um problema4 que ela resolva segundo os seus princípios5. Contudo, os princípios da razão pelos quais ela conhece a verdade natural, são exigidos conciliados com os da fé6 para tentar elucidar, 1 BENTO XVI, Spe salvi n. 36. Tal como o agir, também o sofrimento faz parte da existência humana
.
2 Intimidade é o encontro da alma com Deus que goza ter chegado ao alto estado de perfeição, sua união com Deus, pelo caminho da noite escura da fé [SÃO JOÃO DA CRUZ, Noite Escura
, em: Obras completas. Petrópolis: Vozes, 2002, pp. 36-37]. Esta intimidade representa a união nupcial da alma com Deus, fim para o qual foi criada; união conquistada por meio da cruz, realizada na cruz e nela selada para sempre [SANTA EDITH STEIN, Espírito e Fé – morte e ressurreição (a noite escura do espírito)
, em: A ciência da Cruz. 3ª Edição. São Paulo: Edições Loyola, 2002, pp. 59-61]. Esta união conduz-nos aos aposentos da sétima morada do castelo interior, que representa o matrimônio místico, a plena configuração a Cristo crucificado, que se realiza no nosso espírito, na absoluta ausência de si mesmo, superação de todo sofrimento, com o total preenchimento de Deus [SANTA TERESA DE ÁVILA, Castelo Interior
, em: Obras completas. 2ª Edição. São Paulo: Edições Loyola, 2002, pp. 565-588].
3 O mistério da redenção humana é a verdade divina, acerca do plano da salvação humana, revelada ao homem pelo sofrimento redentor de Cristo. [CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n°
618]. Verdade que se deve crer e que não pode ser, em sua totalidade, compreendida pela inteligência humana. Mas que, apesar de sua transcendência com relação ao intelecto, em alguns aspectos não deixam a razão indiferente ou totalmente cega, senão a nutre buscar, nos dados da fé, aqueles aspectos que a meditação e a experiência podem parcialmente ajudar a esclarecer.
[TOMÁS DE AQUINO, S. CG.I, c.7].
4 Problema é o que se tem diante de si, uma questão especulativa ou prática, que exige uma solução dada pela razão, que se não o elimina, ao menos o explica; mistério é algo secreto, particularmente sacro, mas inacessível à inteligência humana [TOMÁS DE AQUINO, S. Expositio in Isaia, lec.2].
5 A verdade natural da razão não é contrária à verdade da fé cristã. Embora a verdade da fé cristã exceda a capacidade da razão humana, os princípios que a razão tem postos em si pela natureza não podem ser contrários àquela verdade. Os princípios da razão foram infundidos em nós por Deus. Deus é a única fonte da verdade de fé e da razão e, também, o autor de nossa natureza. Se não fosse assim, Deus teria infundido em nós dupla verdade, opostas entre si, o que seria absurdo e tornaria impossível o conhecimento da verdade que é Deus. [TOMÁS DE AQUINO, S. C.G.I, c.7].
6 Nem só a razão nem só a fé! A razão no desuso de seus princípios e alheia à graça e aos dados de fé, jamais explicará este fenômeno corriqueiro em nossas vidas. Isolada a razão, explicaria o sofrimento como efeito colateral de um acontecimento ou como consequência de uma espécie de ‘roleta russa’ do acaso das infinitas possibilidades inerentes à imperfeição do universo e da natureza humana.