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EDITORIAL

SUMÁRIO
Promover a Paz Outubro 2005/08

O
utubro é o mês das Missões: tempo em que se realiza
a campanha de conscientização, animação e formação
missionária promovida pelas POM. O trabalho culmina
com a celebração do Dia Mundial das Missões, 23 de
outubro. A Campanha Missionária 2005 tem como tema:
“A Missão a serviço da paz” e lema: “Felizes os que pro-
movem a paz” (Mt 5, 9). O dom da paz é parte essencial da missão
de Jesus Cristo e do Espírito Santo segundo o desígnio de Deus-Pai.
Portanto, a paz está na origem da vida e da missão da Igreja, que Cartaz oficial da
Campanha Missionária 2005.
peregrina neste mundo, por sua natureza, é missionária. O mundo
Pontifícias Obras Missionárias
gasta dez vezes mais em armas que em ajuda humanitária. Para
cada dólar investido no mundo todo em ajuda, os países destinam
dez para seus orçamentos militares, segundo os dados reunidos no  MURAL DO LEITOR--------------------------------------04
Relatório 2005 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi- Cartas
mento (Pnud). Além disso, todos os países do Grupo dos Sete (G7)  OPINIÃO--------------------------------------------------05
destinam pelo menos quatro vezes mais dinheiro para despesas Construtores da paz
militares do que para ajuda humanitária. No caso dos Estados Unidos, João Pedro Baresi / Dalva Rodrigues Carvalho
esta proporção é 25 vezes maior; na Grécia, 19; na Itália, 10,8; em  PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07
Portugal, 10; no Reino Unido, 8,3; na Austrália, 7,6; e na França, 6,3. O anjo amigo (malaika rafiki)
Isso é uma insensatez em um mundo no qual os próprios governos Rosa Clara Franzoi
dos países desenvolvidos reconhecem cada vez mais os vínculos  VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08
entre ameaças à segurança e pobreza mundial e em seus discursos Notícias do Mundo
Fides / SIR / ZENIT
afirmam que o combate à pobreza é uma prioridade.
O Brasil é o campeão em mortes  ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10
Desarme

causadas por armas de fogo no mundo. Em busca de um mundo novo


Rogério Gomes
São cerca de 39 mil pessoas por ano,
uma média de 108 mortos por dia, um  CIDADANIA-----------------------------------------------12
a cada 13 minutos. Os dados são do Migração no mundo andino
Alfredo J. Gonçalves
relatório “Mortes matadas por armas
de fogo no Brasil de 1979 a 2003”,  testemunho-------------------------------------------13
Deus não abandona seu povo
do Fundo das Nações Unidas para a Maria Inocência Giacomozzi
Educação, a Cultura e a Ciência (Unesco). Lançada em julho de
2004, a Campanha Nacional de Entrega Voluntária de Armas, em  testemunho-------------------------------------------14
Sem nenhuma desculpa
pouco mais de um ano, recolheu cerca de 443 mil armas. Entretanto, Francisco Lopez Vásquez
isso não chega a ser 5% do total. A pesquisa “Brasil: as armas e
as vítimas”, realizada pelo Instituto de Estudos da Religião (Iser),  FORMAÇÃO MISSIONÁRIA----------------------------15
A Missão a serviço da paz
em parceria com o Viva Rio, mostra que existiam no Brasil, antes Daniel Lagni
da Campanha, cerca de 17 milhões de armas de fogo, 15 milhões
nas mãos da população civil. As estatísticas revelam que a imensa  MISSÃO HOJE-------------------------------------------19
Paróquia missionária
maioria dos crimes por armas de fogo ocorre no âmbito da família e Estevão Raschietti
da vizinhança. Pouquíssimas vezes o fato do cidadão estar arma-
 DESTAQUE DO MÊS------------------------------------20
do, resultou em mais segurança para ele e sua família. O bandido Processo de paz na República Democrática do Congo
também deve ser desarmado, através do cumprimento das leis e Didier Badibanga
por uma polícia honesta e melhor preparada.
 ATUALIDADE----------------------------------------------22
A grande imprensa noticiou que, em um ano de funcionamento Conflitos no mundo (quadro)
do Estatuto do Desarmamento, o índice de mortes por armas de Pontifícias Obras Missionárias
fogo no Brasil teve uma queda em 15,4%. Isso representa 5.000  INFÂNCIA MISSIONÁRIA-------------------------------24
vidas salvas. No dia 23 de outubro, precisamente no Dia Mundial Um novo ardor missionário
das Missões, o povo brasileiro irá votar se aprova que, no Brasil, a Roseane de Araújo Silva
produção e a venda de armas de fogo e munição continuem sendo  CONEXÃO JOVEM--------------------------------------25
proibidas. Pela primeira vez, um país dá a seus cidadãos o direito Juventude missionária
de votar em assunto tão decisivo para a vida e a organização da João Batista Amâncio
sociedade. O plebiscito, além de proporcionar um debate sobre a  ENTREVISTA-----------------------------------------------26
segurança pública, mostrará a diferença entre os que, por cultura Referendo do Desarmamento Vidas Poupadas
Jaime Carlos Patias
pessoal ou por defender a rica indústria de armas apostam no com-
bate à violência pelo uso de armas e os cidadãos que acreditam na  AMAZÔNIA-----------------------------------------------28
construção da cultura de paz. Votar sim pela vida e por um Brasil Comunicação que transforma
Ivan Brito
sem armas no dia Mundial das Missões é participar ativamente na
“Missão a serviço da paz”.   Volta ao Brasil---------------------------------------30
Notícias do Brasil
Adital / CNBB / CIR

Missões - Outubro 2005 3


Mural do Leitor
Ano XXXII - no 08 Outubro 2005 Nossa vida é Missão!
gos sempre disseram que eu tinha “cara
Diretor: Jaime Carlos Patias É com muita alegria e entusiasmo de padre”, embora nunca tenha gostado
que eu partilho um pouco da minha ex- desta comparação.
Editor: Maria Emerenciana Raia periência de vida com os missionários Fui morar na cidade do Rio de Janeiro
da Consolata em Manaus. Somos quatro com meu irmão, onde fui vocacionado dos
Equipe de Redação: Joaquim F. jovens no Propedêutico e cada um vem de barnabitas e dos franciscanos, pensei muito
Gonçalves, Cristina Ribeiro Silva e Rosa uma realidade bem diferente, mas juntos em ser franciscano, mas o Senhor tinha
Clara Franzoi aprendemos a viver cada dia essa mistura para mim outros planos... Naquele ano,
cultural, transformando tudo em fraterni- eles não tiveram condições financeiras de
Colaboradores: Alfredo J. Gonçalves, dade. Sinto-me feliz por esta experiência, manter o Seminário. Na mesma época,
Vitor Hugo Gerhard, Lírio Girardi, Luiz e, apesar das dificuldades e desafios, passei em um concurso da Marinha, assim
Balsan, Manoel Aparecido Monteiro, percebo que estou indo pelo caminho fui para Fortaleza, minha terra natal, e fugi
Júlio César, Marinei Ferrari, certo. Somos gratos pela presença dos de minha vocação, sufocada com tudo
Roseane de Araújo Silva, missionários aqui na Região Amazônica o que eu tinha para fazer. Tive algumas
e por isso neste mês que é dedicado às namoradas e experiências difíceis, mas
Agências: Adital, Adista, CIMI, missões, quero manifestar o meu agra- também coisas boas aconteceram. Fui
CNBB, Dom Hélder, IPS, MISNA, decimento, de modo particular ao padre transferido para Manaus e tive a oportu-
Pulsar, Vaticano César e ao Irmão Tarcísio, que este ano nidade de conhecer os missionários, sei
nos acompanham na formação. A todos, que não foi paixão à primeira vista, pois
Diagramação e Arte: Cleber P. Pires um abraço de paz. nunca tinha ouvido falar de missionários
na Igreja Católica.
Jornalista responsável: Francisco Maya Em minhas andanças pelos rios da
Maria Emerenciana Raia (MTB 17532) Manaus, AM. bacia amazônica tive a grande oportunidade
de estabelecer contato bem receptivo com
Administração: Eugênio Butti Vocação missionária as comunidades ribeirinhas, indígenas e
outras mais, e fui amadurecendo a minha
Sociedade responsável: Sou seminarista do Propedêutico dos vocação e entendendo o verdadeiro sentido
Instituto Missões Consolata missionários da Consolata em Manaus. de minha vida. Deixei a Marinha, estou
(CNPJ 60.915.477/0001-29) Refletindo sobre o mês de agosto, dedi- abraçando esta cruz missionária de Cristo
cado às vocações, decidi escrever para e posso dizer agora que sou feliz.
Impressão: Edições Loyola vocês para contar um pouco como foi
(11) 6914.1922 minha decisão de largar tudo e aderir à Francisco Paulino da Silva
causa de Jesus missionário. Meus ami- Manaus, AM.
Colaboração anual: R$ 35,00
AG: 545-2 CC: 38163-2 - BRADESCO
Instituto Missões Consolata
Treino para a Missão além-fronteiras

M
(a publicação anual de Missões é de 10 números)
ichelle, carioca, e Sandra Regina, comunidades missionárias muito carentes,
brasiliense, pertencem agora à onde as irmãs e padres da Consolata
Missões é produzida pelos
família Consolata. Para elas, 10 de evangelizam, para que as pessoas ad-
Missionários da Consolata
setembro foi um dia muito quiram consciência de
Fone: (11) 6256.7599
Janice

especial. Diante de Deus seus direitos e possam


e de uma considerável caminhar por si mesmas
Missionários da Consolata
comunidade, composta sem tanta dependência.
Rua Josimo de Alencar Macedo, 413
por seus pais: Rosângela Esse treino missionário
Cx.P. 207 - 69301-970 Boa Vista/RR
e Diógenes (Michelle) e é agora bem mais longo
Fone: (95) 224.4109
Nilvia e Nilton (Sandra), do que as duas estavam
demais familiares, muitos acostumadas a fazer
Membro da PREMLA (Federação de
Imprensa Missionária Latino-Americana)
amigos, irmãs, padres nas etapas de formação,
e um bom número de que eram de vinte dias
leigos missionários, elas Michelle e Sandra. ou de um mês. Agora
Redação pronunciaram seu Primeiro Juramento, será de um ano. A Missão em lugares
Rua Dom Domingos de Silos, 110 fazendo publicamente a entrega de sua difíceis e desafiadores do Brasil é, para
02526-030 - São Paulo vida a Deus para a Missão. Nesse dia foi as neoprofessas, uma preparação ideal
Fone/Fax: (11) 6256.8820 também oficializada a destinação de am- para o além-fronteiras que virá depois -
Site: www.revistamissoes.org.br bas. Michelle irá para Monte Santo, Bahia, Carisma específico das filhas e filhos do
E-mail: redacao@revistamissoes.org.br e Sandra para Marilac, Minas Gerais. São Bem-aventurado José Allamano. 

4 Outubro 2005 - Missões


Construtores da PAZ

OPINIÃO
de João Pedro Baresi

E
m breve vamos entrar no clima natalino fé em Deus, em particular para os cristãos que mas a guerra”. Sua ressurreição foi garantia de
e a paz reinará soberana no Brasil e conhecem a revelação de Jesus Cristo, a paz que essa guerra estava vencida. Dessas breves
no mundo inteiro. Escrita em todas as não só é possível, mas inevitável. Foi esta a reflexões podemos trazer indicações concretas
línguas, cantada em todas as músicas, Boa Notícia cantada pelos anjos em Belém: o para sermos construtores da paz de Deus:
“vendida” em todas as lojas, embalada amor de Deus pela humanidade é a garantia conhecer em que mundo vivemos, as várias
em todas as igrejas. Será obrigatório desta paz. Utopia? Sem dúvida, mas não simples formas de violência, suas raízes e os maiores
acreditar na paz e proibido lembrar de tudo utopia criada pela mente humana, utopia do responsáveis; manter firme a fé na paz possível
que possa enfraquecer a fé nela. Passadas Reino de Deus. Foi por este Reino que Jesus e inevitável, na certeza de que Jesus marcha
as festas, tudo voltará ao normal, guardando entregou sua vida e proclamou santos todos à nossa frente; reconhecer os construtores da
em algum cantinho da alma e do mercado, a aqueles que trabalham na construção da paz. paz e nos unirmos a eles sem preconceitos de
saudade do encantado mundo natalino. Enviou, dois a dois, os seus discípulos, para qualquer tipo, e se opor, como fez Jesus, contra
Brutalmente, os noticiários voltarão a falar levá-la a todas as casas. Alertou-os contra os todos os lobos que enganam o mundo com sua
de violência, em suas muitas manifestações. A seus inimigos, lobos disfarçados de ovelhas. falsa propaganda de paz. 
dura realidade continuará a golpear o profundo Para que ninguém se iludisse sobre a possi-
desejo de paz que está acima de qualquer outro bilidade de acordo com esses lobos, Jesus foi João Pedro Baresi é missionário comboniano, coordenador da
desejo humano. Para aliviar a angústia, a maioria categórico: “Não vim trazer a paz sobre a terra, Comissão Justiça e Paz CRB-SP.
das pessoas continuará a reagir emotivamen-
Jaime C. Patias

te, tentando esquecer, ou apontando saídas


ilusórias, ou até mesmo invocando respostas
violentas para acabar com a violência. Querendo
enfrentar com seriedade a questão da paz,
a primeira coisa a fazer é ter a coragem de
encarar sem ilusões a realidade que está aí.
Há guerras de todos os tipos e em todos os
lados: no coração das pessoas, na intimidade
dos lares, na convivência social, na organiza-
ção pública, nas relações entre países. Diante
disso, é grande a tentação de pensar que a
paz é um sonho irrealizável. Para quem tem Marcha pela paz, março de 2005, Av. Paulista, SP.

de Dalva Rodrigues Carvalho

V
ivemos numa sociedade com leis, A nossa maior preocupação é a péssima sem-teto, sobre essas crianças de mãos es-
costumes e padrões pré-estabe- companhia dos menos favorecidos com os tendidas e com o nariz escorrendo”. A quem
lecidos, que determinam quais nossos filhos, nossas famílias. Temos que nós queremos enganar? Como podemos
nossas chances de fazermos afastá-los, temos que colocá-los à margem semear alguma coisa onde não há terreno
parte desse ou daquele grupo. dessa sociedade, que tem padrões, roupa de fértil, preparado para brotar? E as sementes,
Quando constituímos nossa famí- marca, tênis importado, chances de estudar em vamos tirá-las de onde? Do nosso egoísmo, da
lia e temos nossos filhos, começamos a definir escolas particulares... Se eles roubarem para nossa ignorância, dos nossos falsos valores?
o que é bom para eles, então excluímos das ter as mesmas coisas, devem apodrecer nas Não podemos dar o que não temos, vamos
festinhas de aniversário aquelas crianças que cadeias. Assim achamos que somos bonzinhos, mudar nossa visão, nossos valores, vamos
moram na área de ocupação no outro quarteirão, afinal, não fazemos mal a ninguém... A maioria nos aproximar de Deus que é Pai de todos,
ou são do cortiço ali em frente, pois elas são de nós se omite perante essa injustiça, essa ricos e pobres, negros e brancos, honestos
“feias e mal vestidas”. Nas escolas, brigamos desigualdade, e ainda contribui para manter as e maldosos. Vamos lutar pela igualdade de
com a diretora para não misturar nossos filhos diferenças, valoriza as aparências, a cor da pele, oportunidades. Só vamos semear a paz quando
com aqueles meninos de mau comportamento, o mercado nos trata conforme nosso poder de não houver mais fome, quando todos tiverem
favelados, famintos, sem educação, sem cari- consumo e isso é importante. Mas precisamos o direito de ter um teto, ter uma boa educação,
nho, sem amor. Mas esses meninos crescem, manter nosso lado respeitoso, não importa se ter trabalho que garanta a dignidade do ser
e com eles, a indiferença. Nós também não nos o nosso vizinho está passando fome, se nas humano e formos todos considerados como
importamos com as crianças abandonadas em noites frias pessoas morrem congeladas. “Eu cidadãos, não meros números de consumo.
seus castelos, com mesas fartas de comida, vou falar de paz, eu vou fazer minha doação Vamos continuar construindo uma nova cultura
mas vazias de ninguém, que têm brinquedos para as crianças do programa de televisão, e um dia teremos a paz. 
importados, mas apenas a companhia de babás. vou usar roupa branca, vou levantar minha
Essas também são abandonadas e são fortes bandeira e vou participar da marcha pela paz, Dalva Rodrigues Carvalho é membro da Comissão de Defesa
candidatas a se tornarem sem sentimento e a imprensa vai estar lá, e eu vou marchar... de Direitos Humanos da Diocese de Mogi das Cruzes (CD-
violentas. sobre esses famintos, esses favelados, esses DHDMC).

Missões - Outubro 2005 5


Homens encapuzados invadem e
incendeiam centro Indígena de Formação
"Que a Bem-aventurança da perseguição por causa do Evangelho ora
vivida pelos povos indígenas e a Igreja de Deus presente em Roraima
nos faça cada vez mais fiéis ao Evangelho dos pobres".
(Dom Roque Paloschi, bispo de Roraima)

F
altando quatro dias para começar a festa da homolo- Júlio que trabalha para o Senai, entidade parceira do Centro, foi
gação da terra indígena Raposa Serra do Sol, cerca de agredido fisicamente, mas não corre perigo de morte.
150 homens encapuzados e armados com revólveres, Um veículo Toyota do Convênio do CIR com a Funasa para
espingardas, facões e pedaços de pau, invadiram e in- Atenção Básica à Saúde no Distrito Sanitário Leste de Roraima,
cendiaram, no dia 17 de setembro, o Centro de Formação que fazia remoção de um paciente para Boa Vista, também foi
e Cultura Raposa Serra do Sol, antiga Missão Surumu, interceptado pelo grupo. Os motoristas tiveram armas apon-
a cerca de 230 quilômetros de Boa Vista. Segundo informações tadas para suas cabeças, sofreram humilhações, agressões
colhidas por uma equipe do Conselho Indígena de Roraima verbais, o carro foi depredado e o paciente indígena agredido
– CIR, que esteve no local fisicamente. Após a agressão, uma aeronave foi fretada para
pela manhã, o vandalismo remover a vítima.
foi coordenado, suposta-
mente, pelo vice-prefeito

Fotos Arquivo CIR


de Pacaraima, Anísio Pe-
drosa, e pelo vereador
do município e tuxaua
da aldeia Contão, Ge-
nilvaldo Macuxi. Os dois
são ligados ao prefeito de
Pacaraima, Paulo César
Quartiero, maior produtor
de arroz da região.
A antiga Missão Suru-
mu também foi invadida e
depredada em janeiro de
2004 pelo mesmo grupo
comandado por Quartiero,
que ameaça resistência
armada a qualquer tenta-
tiva de retirada da área,
homologada no dia 15
de abril pelo presidente
Lula da Silva. Em 2004, A Polícia Federal foi comunicada dos acontecimentos e nas
três missionários foram primeiras horas da manhã do dia 17 enviou uma equipe para
seqüestrados e, mesmo o local. Por volta do meio dia, os agentes chegaram em Boa
a Polícia Federal tendo Vista trazendo alunos, professor e lideranças indígenas para
indiciado arrozeiros e lí- prestarem depoimentos.
deres indígenas, até hoje O Conselho Indígena de Roraima repudia mais essa atitude
ninguém foi punido. covarde dos setores contrários aos direitos indígenas, manipu-
No ataque, as instalações do Centro foram completamente lados por grupos políticos e econômicos, que historicamente
destruídas: igreja, hospital, dormitórios, refeitório masculino e usam a violência e valem-se da impunidade para conquistar os
feminino, banheiros, biblioteca, sala e quartos dos professores. seus objetivos. 
Durante a invasão, um professor do curso de Mecânica e cerca
de 30 alunos estavam no Centro de Formação. O professor Conselho Indígena de Roraima.

6 Outubro 2005 - Missões


pró-vocações
O anjo amigo (malaika rafiki)
O desafio de um sonho interrompido...

Arquivo MC
de Rosa Clara Franzoi

C
oncluído o Ensino Médio, Ângela Groppo (1931-1971)
matricula-se na faculdade. Todos sabiam de sua prefe-
rência pela área de letras, mas ela escolhe medicina.
Teria algum segredo guardado no coração? Quando
adolescente, Ângela participou com a mãe dos funerais
de Ir. Clorinda, uma missionária que havia morrido com
apenas 27 anos e que não tivera tempo hábil para concretizar
seu sonho missionário em terras africanas. Na ocasião, um
sacerdote lançou o desafio: “Quem daria continuidade àquele
sonho interrompido?” Aquilo soou de forma estranha no coração
de Ângela, como algo dirigido a ela, e nunca mais o esqueceu.
Desde então, começou a pensar seriamente no seu futuro. Sentia
no coração uma atração pelas crianças, doentes e idosos; gostava
de ajudar as pessoas mais fracas. Ali estava o segredo que a
fez optar pela medicina: ser missionária na África. Em casa tinha
tudo. A família tinha posses e ela podia prever um futuro feliz.
Adolescente de caráter alegre, expansivo, brincalhão e esportivo
com Margarida e Gian - seus irmãos, com os amigos e amigas,
fazia de sua casa um lugar de encontro, de festas e de muita
alegria. Porém, o pensamento às vezes estava longe, na África,
onde já se via cuidando dos doentes e curando-os. O mistério foi desvendado quando, ao término do segundo ano
da faculdade ela tranca a matrícula e se despede de todos para
Profissão acertada entrar no Instituto das Missionárias da Consolata.
Ângela, natural de Turim, Itália, refletia: como médica, poderei
prestar um grande serviço à humanidade, principalmente aos Um chamado exigente
mais pobres. Já está com 20 anos e cursa o segundo ano de A separação do lar, dos pais e familiares, dos colegas da
medicina. Jovem, bonita e inteligente, os colegas de curso come- faculdade, dos amigos e dos lugares que freqüentava foi muito
çam a cortejá-la e um deles arrisca uma proposta de namoro. E dolorosa; mas o ideal missionário era maior e no seu interior
ela: “que pena, você chegou atrasado, já estou comprometida.” ela sentia que valia a pena... No Instituto, foram três anos de
Logo, a classe toda fica sabendo daquela resposta e começa formação para a Missão, depois dos quais Ângela faz a sua
a vigiá-la para descobrir quem seria o felizardo. Ela brinca, Primeira Profissão. Como religiosa, recebe o nome de Ir. Prisca.
dizendo: “vocês só o conhecerão no dia do meu casamento”. Em seguida, retorna à faculdade, faz seu estágio nos melhores
hospitais da cidade e forma-se médica cirurgiã. Muitos anos já
haviam passado desde o dia em que ela, ainda adolescente,
Quer ser um missionário/a? respondera o seu primeiro “sim” a Deus sobre o túmulo da jovem
missionária. Agora, estava pronta para a Missão.
Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva Moratelli Com a chegada da Irmã médica, foi concretizado um desejo
Av. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui muito antigo da população pobre de Riara, no Quênia. Lá tudo
02611-011 - São Paulo - SP era muito difícil e os recursos escassos. Mas, os missionários e
Tel. (11) 6231-0500 - E-mail: rebra@uol.com.br missionárias são sempre homens e mulheres de muita esperança.
Projetaram um hospital para 200 leitos, que seria construído,
Centro Missionário “José Allamano” - Pe. Manoel A. Monteiro (Néo) aos poucos, em etapas. A Providência veio em socorro, a obra
Rua Itá, 381 - Pedra Branca
02636-030 - São Paulo - SP foi concluída e um trabalho intenso começou a ser desenvol-
Tel. (11) 6232-2383 - E-mail: secretariamissao@imconsolata.org.br vido pela Ir. Prisca, as colegas missionárias e as enfermeiras.
Ir. Prisca tornou-se conhecida em toda a região e os doentes
Missionários da Consolata - Pe. César Avellaneda deram-lhe um nome muito significativo: “malaika rafiki”, que na
Rua da Igreja, 70-A - CXP 3253 língua local, o kswahili, significa: anjo amigo. 
69072-970 - Manaus - AM
Tel. (92) 624-3044 - E-mail: imcmanaus@manausnet.com.br
Rosa Clara Franzoi é irmã missionária e animadora vocacional.

Missões - Outubro 2005 7


do país asiático, após uma cerimônia religiosa em
Hong Kong. Na China, o governo permite a prática
religiosa só com pessoal reconhecido e em lugares
registrados ante a Sala dos Assuntos Religiosos e
sob o controle da Associação Patriótica. Os fiéis que
tentam sair deste controle para pôr-se em obediência
direta do papa formam a Igreja “clandestina”. Os quatro
bispos católicos chineses nomeados por Bento XVI
para participar da XI Assembléia Geral Ordinária do
Sínodo dos Bispos, de 2 a 23 de outubro, são Dom
Antonio Li Duan, arcebispo de Xian, e Dom Aloysius
Vaticano Jin Luxian, bispo de Xangai (ambos reconhecidos
Reconciliação entre cristãos e judeus pelo governo), Dom Giuseppe Wei Jingyi, bispo de
“Considero Qiqihar (não reconhecido pelo governo, portanto da
VOLTA AO MUNDO
Arquivo Vaticano

esta visita um Igreja não oficial ou “clandestina”) e Dom Luca Li


passo ulterior no Jingfeng, bispo de Fengxiang (Shaanxi), que acaba
processo de apro- de ser reconhecido pelo governo.
fundamento das
relações religio- Venezuela
sas entre católicos Crianças rezam o Rosário
e judeus”. Menos Um milhão de crianças em oração, pela união e a
de um mês depois paz, junto à Virgem Maria: esta é a iniciativa lançada
da histórica visita pelo Conselho Nacional de Leigos (CNL) na Venezuela
de Bento XVI à para o próximo 18 de outubro. Fazendo eco desta pro-
Sinagoga de Co- posta, a Conferência Episcopal Venezuelana difunde
lônia, na Alema- em seu site (www.cev.org.ve) esta idéia de convidar
nha - durante a XX 1.000.000 de crianças a unir-se na oração do Santo
Jornada Mundial Rosário, junto à Santíssima Virgem. O motor dessa
da Juventude -, o jornada é difundir entre crianças a necessidade de
papa pôde acres- fazer oração pela paz interior de cada ser humano,
centar uma nova assim como também pela paz e a unidade da família,
página ao diálogo do país e do mundo inteiro. Sem mobilizações nem
entre Igreja e ju­ gastos, o lugar onde se levará a cabo esta grande
daísmo, receben- jornada de oração será nas escolas, nas salas, nos
do em Castel Gandolfo, dois rabinos chefes de Israel, pátios ou capelas, às 9h00 do dia 18. Também se
Shlomo Moshe Amar, e Yona Metzger, acompanhados motivará outras crianças a rezar onde se encontrem:
de uma comitiva. Bento XVI evocou o início da revi- hospitais, paróquias, lares de cuidado diário, etc.
ravolta nas relações entre mundo católico e mundo
judaico, amadurecidas com o Concílio Vaticano II, Moçambique
em particular a declaração conciliar “Nostra Aetate”. Panorama das Igrejas de língua portuguesa
“Devemos continuar insistindo sobre o fato de que as “O português é falado no mundo por cerca de 250
religiões e a paz caminham juntas, porque a fé religiosa milhões de pessoas e representa uma das línguas
e a sua prática não podem ficar separadas da defesa mais utilizadas no mundo católico. Esta base comum
da imagem de Deus em todo ser humano”. A parte permitiu aos bispos presentes discutir com grande
final da saudação às duas personalidades judaicas foi liberdade e fraternidade sobre a vida da Igreja e da
reservada pelo papa a um comentário sobre a atual missão na comunidade por eles representadas” - es-
situação diplomática entre Santa Sé e Estado de creve Dom Odilo Pedro Scherer, bispo auxiliar de São
Israel: “Estamos contentes que tais relações tenham Paulo e Secretário-geral da Conferência Nacional dos
se mostrado em formas de cooperação mais sólidas Bispos do Brasil, em um artigo sobre o encontro das
e estáveis, todavia, permanecemos na expectativa Conferências Episcopais dos Países lusófonos, que
do cumprimento dos Acordos Fundamentais sobre se realizou em Maputo, capital de Moçambique, de
questões ainda abertas”. 6 a 9 de setembro. Na reunião, os bispos lusófonos
apresentaram a situação religiosa, política, social
Hong Kong e econômica de suas nações, suas preocupações
Viagem de bispos chineses a Roma pastorais e os desafios para a evangelização, além de
A Igreja oficial chinesa ainda está em negociações formular propostas de ajuda recíproca, especialmente
com o Vaticano sobre a possibilidade de que este- no campo missionário e da formação de agentes de
jam presentes em Roma os quatro bispos chineses evangelização. 
chamados para o Sínodo, segundo manifestou Ye
Xiaowen, diretor da Sala estatal de Assuntos Religiosos Fontes: Fides, SIR, ZENIT.
8 Outubro 2005 - Missões
INTENÇÃO MISSIONÁRIA
Para que as obras missionárias recebam

Jaime C. Patias
não apenas orações, mas também nossa
colaboração econômica.

de Vitor Hugo Gerhard

E
m todas as oportunidades que me oferecem para falar ou
escrever sobre a missão da Igreja, tenho sempre insistido
que ela, a missão, só terá possibilidade de se expandir
quando forem contempladas estas quatro dimensões
que a constituem:

A Coordenação. Coordenar é “pôr as coisas numa determi-


nada ordem”, com a ajuda dos irmãos e das irmãs. O ministério Celebração na paróquia N.Sra. da Penha, SP.
da coordenação, assim como é entendido nos tempos de hoje, muitos anos no futuro. Os fenômenos do neopentecostalismo
requer o princípio da subsidiariedade, do planejamento participativo e do ateísmo prático, em todas as camadas sociais, parecem
e de uma adequada compreensão dos fins a que se destina. Ao estar dizendo que é necessário preocupar-se seriamente com
menos por isso, a dimensão missionária da ação evangelizadora a formação.
requer e exige uma equipe de coordenação, capaz de levar
adiante propostas e projetos em seu campo específico. A Cooperação. Não faz muito tempo que os cristãos em
geral e as igrejas diocesanas em particular, acordaram para a
A Animação. Jesus reunia multidões e pequenos grupos cooperação missionária. Vários são os projetos neste sentido
com a finalidade de animá-los na vivência do Evangelho. Se (Igrejas-Irmãs, missão além-fronteiras...). O número de mis-
é verdade que vivemos em tempos de motivação mais de tipo sionários brasileiros no exterior cresceu. O deslocamento de
vivencial e emocional, e que as pessoas não reagem apenas pessoas e comunidades para a Amazônia e o Nordeste também
pelo convencimento intelectual, então a animação missionária é se verificou. A superação do conceito de territorialidade das
uma necessidade. Animar nossos agentes, nossas comunidades Províncias religiosas ajudou em muito para a diáspora e para a
e os cristãos em geral, parece fazer parte do espírito religioso inserção da vida consagrada. Entretanto, ainda recebemos mais
baseado na opção e não na obrigação. Nossas opções precisam dos fundos financeiros da Congregação para a Evangelização
ser provocadas, vez por outra. dos Povos do que recolhemos na coleta missionária realizada
em outubro. Nosso gesto de partilha, quando se refere ao di-
A Formação. Uma das descobertas mais desconcertantes nheiro para ajudar na ação missionária de toda a Igreja, ainda
que fizemos recentemente é de que a formação religiosa da está longe de expressar a generosidade e a sensibilidade tão
nossa gente não foi suficientemente sólida como desejaríamos. típicas do povo brasileiro. 
A formação inicial, o aprofundamento da fé e a formação perma-
nente requerem sempre mais grandes esforços. Deixar de formar Vitor Hugo Gerhard é sacerdote e coordenador de pastoral
agentes para a missão por um ano, pode significar a perda de da Diocese de Novo Hamburgo, RS.

Apelo urgente para as vítimas do furacão ‘Katrina’


Dom Alfred C. Hughes, arcebispo de Nova Orleans, Estados Uni- arredores); 3 universidades católicas; 14 escolas superiores; 15 escolas
dos, lançou um apelo urgente à comunidade católica de todo o mundo, de primeiro grau; 38 conventos de religiosos e 25 de religiosas.
pedindo orações e ajudas concretas para a população atingida pelo Através do slogan “Uma Igreja - Uma Comunidade”, Dom Hughes
furacão ‘Katrina’. A Arquidiocese criou um Fundo de Ajuda para prover pediu também aos católicos de todo o mundo que se unam, formando
as necessidades básicas dos milhares de desabrigados, e, em longo uma rede de oração em favor da população atingida pelo furacão. A meta
prazo, para a reconstrução dos numerosos edifícios destruídos. Segundo desta rede é alcançar 20 milhões de orações. Os fiéis de todo o mundo
o arcebispo, mais de 90% das igrejas, escolas, paróquias e outros edifícios podem se unir a ela por meio da Internet. As diversas Cáritas norte-ame-
da Arquidiocese foram seriamente danificados. Segundo os dados do ricanas iniciaram uma ‘operação habitação’, para oferecer abrigos dignos
National Catholic Register, na Arquidiocese de Nova Orleans, 30% da às pessoas desabrigadas. Muitas perderam suas casas definitivamente.
população é católica. Antes do furacão, existiam 140 paróquias, 90 capelas Os bispos do México organizaram uma coleta no domingo, dia 25 de
para a adoração eucarística (49 na cidade de Nova Orleans e 41 nos setembro, para recolher verbas para as vítimas (Fides).

Missões - Outubro 2005 9


Em busca
espiritualidade

O mês de outubro é uma ocasião


oportuna para uma reflexão sobre a
espiritualidade da Missão.

de um mundo novo
além das muralhas de Jerusalém, literalmente, saíram para a
Jaime C. Patias

Missão, anunciando o Crucificado que ressuscitara dos mortos e


se revelara na história (AG 4). Desse modo, o objetivo deste texto
é refletir sobre o agir missionário, na óptica da espiritualidade.
Não se trata de elaborar conceitos, mas de perceber como isto
ocorre na vida eclesial.

O sopro do Espírito na ação humana


A espiritualidade é toda ação humana que brota do Espírito e
se concretiza na vida pelo amor, num encontro consigo mesmo,
e num lançar-se ao outro na comunhão plenificada em Cristo
pelo Pai, abrangendo a corporeidade humana na sua totalidade
e vida de fé. Vista dessa forma, não é algo etéreo, mas está na
concretude humana. Antes do Vaticano II, a preocupação era
salvar a alma e desprezava-se, nos moldes da antropologia
grega dualista, o corpo. O Concílio traz uma novidade antro-
pológica, resgata o ser humano na sua totalidade, rescaldando
a antropologia judaica, bíblica – corpo-alma, como unidade
multidimensional. Conseqüentemente, surge um novo conceito
de espiritualidade que abarca todo o ser humano, salvo não
em parte, mas no todo. Obviamente, essa perspectiva muda o
enfoque da Missão que leva em consideração o humano em sua
composição biopsíquica e a sua inserção na história, na reali-
dade social, política, econômica, cultural, pessoal e religiosa. O
anúncio salvífico consiste agora em perceber o sopro do Espírito
na corporeidade, unidade global, na ação do ser humano e na
sua capacidade de transformar as velhas estruturas em novas
e salvar-se historicamente, por meio do conteúdo libertador
ensinado por Jesus de Nazaré em sua missão.
Celebração no 11º Intereclesial, Ipatinga, MG.
Espiritualidade na e da Missão
de Rogério Gomes
Existem dois aspectos importantíssimos, quando se trata da
Missão: verificar a espiritualidade na e da missão. O primeiro, diz
respeito aos agentes que proclamam a Boa Nova. Se comunicam

O
algo, devem ser conscientes de que são fonte transbordante
mês de outubro é considerado pela Igreja como o e límpida, para que a mensagem não contenha ruídos e não
mês missionário. É um convite para as comunidades seja inócua. Abrir-se ao Espírito na existência, converter-se
cristãs criarem consciência da caminhada, tomá-la interiormente e buscar constantemente novas atitudes de vida,
nas mãos, refletir sobre ela, lançar-se sempre às ter um itinerário de encontro pessoal, com o outro, com Deus e
águas mais profundas (Lc 5, 4) e perscrutar sobre ser sensível aos gritos dos pequeninos, sem perder de vista o
um elemento importante: a espiritualidade da Missão, fundamental, o querigma (anúncio), são as atitudes desejáveis
isto é, qual o conteúdo humano, espiritual e redentor que ela dos missionários. O segundo aspecto depende desse anúncio.
está proclamando. Sabe-se que a espiritualidade, dentre tantas Se os agentes não possuem uma espiritualidade profunda,
outras características, tem sua dimensão eclesial e missionária, o anúncio querigmático fica comprometido. Se têm abertura,
porque a Igreja nasce a partir do evento de Pentecostes (At 21, perceberão a riqueza que o outro possui e começarão, como
13), tão forte que os Apóstolos não se contiveram e foram para o oleiro, a modelar aquela realidade para que se torne vaso a

10 Outubro 2005 - Missões


Orestes Aprino
Procissão no Domingo de Ramos em Empada Bubaque, Guiné Bissau.

conter o perfume que se alastra e contagia a comunidade, de no mundo, pelo Espírito, Deus-conosco, no Pai fonte e origem de
tal forma que o objetivo da evangelização é fazer memória do todas as coisas, para que o mundo seja o lugar onde desabroche
Cristo peregrino, que acolhe, cura e perdoa, presente no mundo a vida em plenitude. Por isso, os cristãos têm a responsabilidade
e nas diversas culturas. Assim, a espiritualidade a emanar da de ser, no mundo, sinais visíveis da ação de Jesus que anunciou
Missão é o núcleo frontal da mensagem cristã, o Cristo que se a esperança aos pobres, libertou as pessoas de suas próprias
encarna na história humana, experimenta-a, morre nela e por amarras (Mt 9, 1-8), curou as feridas (Mt 8, 1-4), deu nova vida
ela e ressuscita para que a história humana seja plenificada no e visão àqueles (Lc 18, 35ss) que se deixaram tocar pelo projeto
cotidiano da vida. A Missão deve ecoar o grito de Jesus Cristo, de humanidade salvadora (AG 12).
Redentor no mundo pós-moderno, cheio de situações de sofri-
mentos: crianças abandonadas e exploradas; jovens margina- A missão na pós-modernidade
lizados, excluídos do trabalho e no mundo das drogas; homens Frente à pós-modernidade, a postura cristã é de diálogo e não
e mulheres prostituídos; desemprego; violência; desigualdades simplesmente de condenação, apresentando uma mensagem nova
sociais, fome, miséria, doenças; guerras, regimes totalitários, que ajude a superar as contradições e a superficialidade presentes
falsas democracias; a objetificação do ser humano, transformado na sociedade contemporânea. Nisto consiste a espiri­tualidade
em mercadoria; crescimento da contaminação pelo vírus HIV no que deve estar contida no anúncio missionário. A realidade deve
mundo; uma retomada da corrida armamentista aos projetos ser vislumbrada na sua pluralidade e nunca pela exclusão e por
nucleares; xenofobia, eugenia, desestruturação familiar, rela- posturas fechadas, mas deve ser discernida, buscando um cami-
ções humanas descartáveis, analfabetismo; guerras religiosas, nho que leve os seres humanos a viver em plenitude, respeitando
catástrofes ecológicas decorrentes da exploração humana da a individualidade de cada um e gerando comunhão. Em meio à
natureza; perda de sentido da vida e pauperização dos países diversidade cultural e religiosa, cada qual terá o seu espaço vital e
em desenvolvimento, especialmente os continentes latino-ame- deve lutar para salvaguardar a esperança humana que se traduz
ricano, asiático e africano... A lista é incomensurável. na possibilidade de um mundo melhor. A espiritualidade da Missão
requer perceber o Deus dialogante que age em meio às culturas,
Missão pelo mistério pascal no mundo e nas diferentes etapas da história e faz comunhão e
Sendo assim, a Missão só tem sentido se, pelo mistério comunidade, a partir do respeito às diferenças. Esse diálogo é
pascal de Jesus, resgata os seres humanos da sua indigência possível, porque possui dimensão criadora e recriadora, geradora
e lhes restitui a esperança, perante um mundo obscurecido de vida. É humano-corporal-divino, imanente e transcendente,
pela injustiça e pelo desrespeito à dignidade humana (AG 12). criativo, unitivo, de profunda liberdade e de vitalidade e surge de
Portanto, a espiritualidade da Missão deve ser, antes de tudo, um olhar contemplativo sobre a realidade. Esse elemento está
humanizadora e conduzir todos a serem bem-aventurados e à contido na vida humana, nas culturas e em todas as religiões.
libertação integral, conforme Jesus, ao inaugurar sua pregação: Ele permite perceber o princípio vital inscrito dentro do mundo e
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para ver que há uma força geradora do Espírito que desperta e abre
evangelizar os pobres; para proclamar a remissão aos presos caminhos novos para a compreensão abrangente do outro, dife-
e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade rente, o qual se deve relacionar. Trata-se de um convite a sair de
aos oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor” si mesmo e recriar uma nova realidade, embasada na liberdade,
(Lc 4, 18s). Percebe-se que esse anúncio é exigente, requer na utopia, e acima de tudo, na vida humana. 
uma postura coerente e profética diante do mundo que aí está,
dialogando com ele, mostrando que se trata de um mandato de Rogério Gomes é missionário redentorista, formado em Filosofia pela PUC de Campinas, bacharelando
Jesus, no passado, prolongando-se na história, e hoje a nós, em Teologia pelo Instituto São Paulo de Estudos Superiores, ITESP, autor de vários artigos em
para que em seu nome, atualizemos a sua memória redentora jornais e revistas, atuando pastoralmente na Paróquia Menino Jesus, em Diadema, SP.

Missões - Outubro 2005 11


Migração
cidadania

Em toda a América Latina, muitos


países vêm se convertendo em áreas
de origem de emigração, sem deixar de
ser destino de imigrantes.

no mundo andino
de Alfredo J. Gonçalves vulneráveis a todo tipo de exploração. Também são freqüentes as
mortes durante a travessia, as tentativas frustradas e o retorno

O
de mãos vazias. Por outro lado, em muitos casos, os emigrados
Brasil está de costas para os demais países latino- sustentam suas famílias através das remessas regulares de
americanos. Historicamente, vários fatores têm parte de seus rendimentos.
contribuído para isso, destacando-se entre eles a
língua, a posição geográfica e a miscigenação cultural. Migrações limítrofes
Sabemos mais sobre a história dos países europeus A tríplice fronteira entre Peru, Chile e Bolívia é palco de
e norte-americanos, por exemplo, do que sobre a vida freqüentes movimentos de trabalhadores que se deslocam
e cultura do povo inca, maia, quéchua, aymara, mapuche etc. periodicamente para a colheita de frutas nos vales de Arica,
Por isso vale a pena “hacer um recorrido” pelo mundo andino, Iquique e Antofagasta, ao norte do Chile. Nos dias atuais, um dos
tentando captar aí as principais tendências migratórias. maiores desafios da mobilidade humana é justamente o chamado
“complexo fronteiriço”, onde se verifica um movimento constante
Imigração e emigração de trabalhadores que, quase diariamente, cruzam e recruzam
Entre dois e três milhões de peruanos residem fora de sua a fronteira de dois ou mais países. Além dessa região de Arica,
pátria, em países como Estados Unidos, Japão, Austrália, Es- podemos lembrar Foz do Iguaçu, no Paraná, fronteira entre Brasil,
panha, Brasil, Argentina, Chile. A mesma sangria de jovens e Argentina e Paraguai e Corumbá, Mato Grosso do Sul, fronteira
entre Bolívia e Brasil, entre outras.
Nesse território de ninguém, laços se fa-
Jaime C. Patias

zem e desfazem a cada momento. Relações


de disputa e de solidariedade se confundem
e se mesclam. A busca de trabalho convi-
ve, não raro, com o tráfico de drogas e de
seres humanos. Ao mesmo tempo em que
as fronteiras constituem um obstáculo para
os migrantes, estes, com suas idas e vindas
periódicas, vão aos poucos abolindo as bar-
reiras que os separam. Colocam em pauta,
assim, a necessidade de repensar o conceito
de cidadania universal.

Urbanização acelerada
Lima, capital do Peru, e Santa Fé de Bogo-
tá, capital da Colômbia, contam hoje com um
terço a mais de suas respectivas populações.
Ao redor de um centro histórico que data dos
tempos da Colônia espanhola, estendem-se
os bairros pobres, onde vão se acumulando
centenas de milhares de “desplazados”, víti-
Mulheres guatemaltecas. mas dos conflitos armados entre Exército e
cérebros, em menor ou maior grau, ocorre entre os equatorianos, guerrilha. Situação semelhante repete-se em La Paz, Bolívia,
os bolivianos, os colombianos, os chilenos e assim por diante. em Quito, Equador, em Santiago do Chile e em Caracas, Vene-
Contam-se aos milhões os trabalhadores da área andina que zuela. As populações recorrem à capital e às cidades médias em
hoje migram em busca de um futuro mais promissor. Aliás, em busca dos serviços de saúde, educação, saneamento básico,
toda a América Latina, muitos países, sem deixar de ser destino transporte. Muitas fazem da cidade uma espécie de trampolim
de imigrantes, nas últimas décadas vêm se convertendo em para o salto da emigração. 
áreas de origem de emigração.
Nem é preciso lembrar que grande parte desses emigrantes Alfredo J. Gonçalves é sacerdote carlista e assessor da Comissão para o Serviço da Caridade,
vive em situação irregular nos países de destino, o que os torna Justiça e Paz – CNBB.

12 Outubro 2005 - Missões


Deus não abandona

Testemunho
seu povo
Arquivo MC

meses recebi uma carta de uma das colegas, convidando-me a


recomeçar. Ao ler a carta fiquei muito comovida, porém, guardei
silêncio. Certo dia, disse para minha mãe: podem providenciar o
que preciso, pois decidi entrar no “Juvenato”. Os anos de estudo
e formação foram longos e, à medida que o tempo passava, foi
amadurecendo dentro de mim o desejo de consagrar-me a Deus
para a Missão. No dia 22 de maio de 1965 fiz a minha primeira
Profissão Religiosa.

Como vivi e vivo a Missão


Sempre entendi a Missão como “serviço” e procurei vivê-la
intensamente, em todos os lugares por onde passei, dedicando-
me por vinte e cinco anos à educação, à pastoral paroquial, à
Animação Missionária Vocacional e outros serviços solicitados pela
minha família religiosa. Trabalhei por três anos em Moçambique,
justamente no período em que houve a implantação do regime
marxista-leninista no país. Foram anos de muitos desafios para
nós missionárias. Embora estivesse disposta a enfrentar junto
com elas os desafios do regime, tive que voltar ao Brasil por
questões de saúde. Apenas recuperei minhas forças, recomecei
a viver minha Missão neste país, onde trabalhei por mais vinte
Ir. Maria Inocência (de pé) no meio de crianças leprosas anos, alimentando, porém, a esperança de um dia poder partir
numa aldeia que as irmãs atendem, com 700 doentes. novamente para “além-fronteiras”. Finalmente, no início de 1996,
fui enviada para a Guiné Bissau. Parti com alegria, disposta a dar
da “minha pobreza” e convencida de que teria muito a receber

Maria Inocência, 62, nasceu em dos meus irmãos guineenses.

A Missão no mundo atual


Timbó, Santa Catarina. Partilha sua Hoje a Missão não é mais a mesma! Os desafios são muito

experiência como missionária no maiores do que no passado: exige de nós uma maior preparação
em todos os sentidos para sermos capazes de entrar em contato

Brasil, Moçambique e Guiné Bissau. com as culturas, dispostos a dialogar com elas, e a perceber e
respeitar seus valores. É preciso ter muita capacidade de ob-
servar, contemplar, escutar, admirar, acolher e esperar. Este é
um grande desafio para quem tem pressa, quem deseja colher
de Maria Inocência Giacomozzi
frutos, quem é levado a ser protagonista. Temos a convicção de
que estas atitudes não ajudam a promover a pessoa. Contudo,

Q
a tentação é grande! Muitas vezes perde-se a paciência e, en-
uando Ir. Hedviges, minha irmã de sangue, vinha tão, em poucos minutos pode-se acabar com o que se tentou
de férias, conversava muito sobre a vida no “Juve- construir com muito esforço.
nato”, etapa de formação para se tornar religiosa. Além desses desafios, ligados à cultura, há tantos outros
Eu apenas a escutava e, como Maria, guardava referentes à situação econômica, e sociopolítica dos países. Na
tudo no coração. Meus irmãos mais velhos, por Guiné Bissau vivemos num clima de grande instabilidade, de crise
brincadeira, me desafiavam: “por que também não total em todos os níveis. Junto com nosso povo enfrentamos a
entra no “Juvenato”?” Eu zangada, dava-lhes as costas. Não guerra com todas as suas nefastas conseqüências: perda não
queria deixar minha mãe. Contudo, no início de 1957, minha só dos bens materiais, mas, sobretudo dos valores humanos,
irmã, ao voltar para o “Juvenato”, fez-me o convite de passar como o valor da vida, do respeito aos direitos da pessoa. O que
uns dias com ela. Com certa resistência, aceitei. Fiquei quase dá a mim e às minhas Irmãs a força de permanecer na Missão,
um mês em sua companhia e com algumas de suas colegas. mesmo arriscando a vida, é a certeza de que somos a expressão
Os dias foram intermináveis! Finalmente minha mãe veio bus- do amor fiel de Deus que jamais abandona o seu povo. 
car-me e eu vibrei de alegria ao poder retornar para casa. Dizia
a mim mesma: “nunca mais hei de voltar!” Mas, após uns dois Maria Inocência Giacomozzi é irmã missionária da Consolata na Guiné Bissau.

Missões - Outubro 2005 13


Sem nenhuma
Testemunho

desculpa de Francisco Lopez Vásquez


Francisco Lopez Vásquez é Conselheiro Geral

M
eu nome é Francisco, mas todos me chamam de do Instituto Missões Consolata. Seu último
Paco. Sou espanhol, tenho 51 anos. Lembro-me
que aos 12 anos me vi sozinho indo à missa do-
trabalho foi como Superior da Delegação da
minical. Meus amigos, aos poucos, foram todos
se afastando dessa prática religiosa. Também
Coréia do Sul.
eu, se levasse em conta o aborrecimento que
causava, de bom grado a teria deixado. Mas, não fui capaz. da Consolata. Lá, encontrei o padre Juan que me convidou a
Dentro de mim, algo que eu não conseguia entender, me impelia participar de um retiro vocacional. Na verdade eu não tinha ne-
a não perdê-la. De toda aquela celebração, a única coisa que me nhum interesse em tal coisa. Entretanto, faltou-me a coragem de
agradava era a leitura do Evangelho e a homilia do sacerdote. dizer não. Por alguns meses tentei esquecer o convite. Mas, ao
Realmente, ele me entusiasmava com a sua pregação. Cada vez aproximar-se da data senti-me incomodado por uma voz interior
sentia aumentar em mim o desejo de viver seus ensinamentos. que me impulsionava a participar, a fazer a minha parte, ainda
Porém, não era capaz de viver o Evangelho sozinho. que contra a minha vontade. Finalmente, decidi pedir autorização
a meu pai, na certeza de que não me permitiria. Entretanto, fui
Na universidade surpreendido pelo seu consentimento. Não me restava mais
Freqüentei a universidade dos 17 aos 20 anos. Por inter- nenhuma desculpa. Não podia mais fugir. Me obriguei a ir.
médio de um colega de estudos, dotado de grande empatia e
disponibilidade, encontrei um grupo de jovens comprometidos No retiro vocacional
a viver o Evangelho em todas as circunstâncias de suas vidas. O retiro aconteceu em um dos seminários do Instituto Missões
Eles se encontravam regularmente. Partilhavam suas experiên- Consolata, onde conheci muitos seminaristas e ouvi missionários
cias de vida frente aos ensinamentos evangélicos. Tratava-se provenientes da África e América Latina. Os jovens que participa-
de um grupo Gen do Movimento dos Focolares. Foi o início de vam eram nove. Todos decididos a entrar no seminário, menos
uma nova e bela experiência. Descobri um cristinianismo vivo eu. Entretanto, senti-me atraído pelo ambiente. O testemunho
e atraente: viver o amor de Deus, fazer a sua vontade numa dos missionários começou a despertar meu interesse. Mas,
busca de vida em plenitude. eu não conseguia me ver como um deles. No segundo dia foi
realizada uma hora de adoração eucarística. Para mim, tudo
Convite indiscreto era novo. Eu não sabia como me comportar. Olhava ao redor
Apesar das minhas resistências frente à vida de sacerdote, para ver como faziam os demais. A verdade é que, mesmo sem
aceitei o convite de visitar uma comunidade dos missionários entender, senti a vontade de empenhar-me seriamente no que
estava acontecendo. Lembrei-me de um conselho, dado a
Jaime C. Patias

Chiara Lubich quando criança, de fixar os olhos em Jesus


Hóstia, afastando toda distração e repetir:“Jesus, ilumina-
me com a tua luz!” E assim fiz por algum tempo.
De repente, algo aconteceu dentro de mim. Não sei
defini-lo. Sei apenas que tornei-me outro. A aversão em
ser sacerdote, religioso ou missionário, desapareceu. Da-
quele momento em diante estava disposto a fazer qualquer
coisa que Deus me pedisse. Em outras palavras, senti o
chamado de Deus de forma tão veemente que até hoje
nenhuma sombra de dúvida paira sobre a minha vocação.
Com o coração explodindo de felicidade, eu lhe disse o meu
“sim” exclusivo e definitivo. Desse modo, findos os estudos
universitários, ingressei no Instituto dos Missionários da
Consolata, numa aventura que continua me apaixonando
sempre mais. 

Padre Francisco Lopez durante XI Capítulo Geral, São Paulo. Francisco Lopez Vásquez é Conselheiro Geral do Instituto Missões Consolata.

14 Outubro 2005 - Missões


A Missão
a serviço da paz
A Campanha Missionária 2005 chama a atenção para a
ação missionária em busca da paz.
Jaime C. Patias

Movimentos Sociais em Marcha pela


paz, Avenida Paulista, SP, maio 2003.

Cartaz da Campanha
Missionária 2005
Tema: A Missão a serviço da paz
Lema: Felizes os que promovem a paz (Mt 5,9)

A
frase atribuída a São Francisco de
Assis, “Senhor, fazei de mim ins-
trumento de Vossa paz” expressa
bem o desejo e os sentimentos de toda
a humanidade. A comunidade cristã e a
Missão estão a serviço da paz.
A Campanha da Fratemidade Ecumê-
nica deste ano, promovida pelo Conselho
Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Co-
de Daniel Lagni
nic), lança para todos nós um forte grito
e apelo de paz. Queremos a paz!

P
O Cartaz da Campanha Missionária
romovida pelas Pontifícias Obras nho de vida, o anúncio do Evangelho, a de 2005 também retoma o tema da paz.
Missionárias, a campanha de criação das Igrejas locais e o esforço para No seu centro, está desenhada a pomba,
conscientização, animação e se inculturar, o diálogo inter-religioso, a
símbolo bíblico da paz. Isto nos remete
formação missionária anual, em formação das consciências para seguir
ao livro do Gênesis 8, 8-12, quando Noé,
outubro, dedicado às Missões, as orientações da doutrina social cristã,
após o dilúvio, soltou um pombinho: ele
desenvolve-se durante todo o a proximidade aos últimos e o serviço
foi e trouxe de volta um ramo de oliveira,
mês nas comunidades eclesiais em todo concreto da caridade.
o mundo, e culmina com a celebração sinal de vida e de paz. As cores dos cinco
do Dia Mundial das Missões, este ano, Atualidade do Ad Gentes continentes ali presentes lembram nosso
celebrado no dia 23. A Missão faz parte da Reconhecendo a urgência da Missão, compromisso com a promoção e a defesa
vida da Igreja, que, “peregrina é, por sua o papa João Paulo II declarou a atualidade da paz, no mundo todo. A Missão está a
natureza, missionária, visto que tem a sua da Missão Ad Gentes (de primeiro anún- serviço da paz. A cruz, no alto, remete-nos
origem, segundo o desígnio de Deus-Pai, cio) e sinalizou profeticamente os frutos ao supremo ato de amor de Cristo, que
na missão do Filho e do Espírito Santo” na encíclica Redemptoris Missio: “Vejo o reconcilia a humanidade toda com Deus.
(Ad Gentes, 2). alvorecer de uma nova época missionária, Ela ilumina a humanidade nos caminhos
que se tornará dia radiante e rico de frutos, que levam à construção da paz. Aponta
Fundamento da Missão se todos os cristãos, e especialmente os para a necessidade do perdão, cujo fruto
A ação missionária é essencial para missionários e as Igrejas jovens, respon- é a paz. Que, de fato, a Missão, todos
a comunidade cristã. Pelo Batismo, todo derem com generosidade e santidade aos nós, cristãos, os missionários e missioná-
cristão é chamado a reunir-se em comu- apelos e desafios do nosso tempo”. rias, sejamos instrumentos de paz para o
nhão ao redor de Cristo e participar da sua Os fatos confirmam a verdade de que mundo, no presente e no futuro.
missão (cf. Mc 3, 14-15), com o testemu- “a fé doada revigora-se”. “Multiplicaram-se

Missões - Outubro 2005 15


as Igrejas locais que possuem bispos, contextos que conheceram novas dificul-

Jaime C. Patias
clero e pessoal apostólico próprio. Cons- dades, acrescidas às antigas: desde uma
tata-se uma inserção mais profunda das mentalidade secularizada mais difundida,
comunidades cristãs na vida dos povos. aos questionamentos sobre o valor salví-
A comunhão entre as Igrejas tem levado fico das religiões não-cristãs; desde um
a um dinâmico intercâmbio de bens es- mal-entendido respeito das consciências
pirituais e de dons. que considera supérflua a conversão, à
A ação evangelizadora dos leigos promoção humana considerada como
está mudando a vida eclesial. As Igrejas objetivo totalizador do compromisso. O
particulares estão se abrindo ao encon- cruzamento de aspectos geográficos,
tro, ao diálogo e à colaboração com os culturais e sociais, próprio da globalização,
membros de outras Igrejas cristãs e re- requer atenção aos “novos ambientes nos
ligiões. Sobretudo, afirma-se uma nova quais se deve proclamar o Evangelho” (RM,
consciência: ou seja, de que a Missão 37c). Estes são, por exemplo, as grandes
diz respeito a todos os cristãos, a todas aglomerações urbanas, os fenômenos
as dioceses e paróquias, às instituições inéditos e crescentes de pobreza, as mi-
e associações eclesiais” (RM, 2).Estes grações, os jovens, o mundo da cultura e
resultados positivos são especialmen- da ciência, as comunicações sociais e as
te preciosos, porque amadurecidos em Encerramento do CAM-COMLA 7. relações internacionais (RM 37).

Da Missão da Igreja à cooperação missionária

O
envio da Igreja Ad Gentes sacerdotes diocesanos e outros membros a Evangelização dos Povos (CEP) a função
(além-fronteiras, para o primeiro do clero, leigos, associações de voluntá- de “regulamentar e coordenar, em todo o
anúncio) supõe a colaboração rios e de famílias, serviços profissionais, mundo, tanto a obra quanto a cooperação
de todos os crentes: “Como o Igrejas-Irmãs, intercâmbios de pessoal e missionária” (Ad Gentes, 29)
Pai me enviou, também eu vos envio”(cf. de experiências pastorais. Todos estes Para promover esta cooperação, a
Jo 20, 21). “A participação das comunida- novos agentes precisam ser ajudados. Congregação “serve-se especialmen-
des eclesiais e de cada um dos fiéis na Para fomentar, apoiar e coordenar a te das Pontifícias Obras Missionárias
realização deste projeto divino chama-se comunhão entre todos os agentes missio- (POM), a saber, da Obra da Propagação
cooperação missionária” (cf. Congregação nários, surgiram vários organismos ecle- da Fé, da Obra de São Pedro Apóstolo,
para a Evangelização dos Povos, Instrução siais: comissões e secretarias promovidas da Obra da Santa Infância, ou Infância
A Cooperação Missionária -, 1º de outubro pelas conferências episcopais, alianças Missionária, e da União Missionária do
de 1998, n. 2). entre institutos missionários, fundações Clero” (cf. João Paulo II, Const. Ap. Pastor
Por isto a Igreja alegra-se com o fato científicas de estudo e aprofundamento, Bonus, 91).
de que, juntamente com Congregações organizações nos locais de Missão. Em Na obra de formação e cooperação
e Institutos tradicionalmente dedicados à tal contexto, o Concílio Vaticano II não só missionária, portanto, “deve ser justamente
Missão Ad Gentes, vão surgindo hoje novas reconheceu a responsabilidade do Colégio reservado o primeiro lugar”(Ad Gentes, 38)
formas de promoção da evangelização, Episcopal para com a Missão universal, e “o primeiro papel” às Pontifícias Obras
bem como novos agentes missionários: como também confiou à Congregação para Missionárias (Redemptoris Missio, 84).

A origem do Dia Mundial das Missões


A idéia de um Dia das Missões em esfera mundial nasceu realizou-se a Plenária do Conselho Superior Geral da Obra,
no Círculo Missionário do Seminário Arquidiocesano de Sássari já Pontifícia, da Propagação da Fé. Naquela ocasião, decidiu-
(Sardenha, Itália). De 14 a 16 de maio de 1925, o Círculo Mis- se pedir oficialmente ao papa Pio XI “a instituição em todo o
sionário organizou um tríduo missionário, com a participação do mundo católico de um dia de oração e de ofertas em prol da
arcebispo, que suscitou muita animação. No ano seguinte, de propagação da fé”. Em 24 de abril de 1926, a Congregação
17 a 20 de maio de 1926, repetiu-se a celebração. Na ocasião, dos Ritos comunicava que o Santo Padre havia concedido o
chegou de Roma Monsenhor Luigi Drago, Secretário da Sagrada pedido. Seria celebrado anualmente no penúltimo domingo
Congregação de Propaganda Fide (atual Congregação para do mês de outubro. O primeiro Dia Mundial das Missões foi
a Evangelização dos Povos, no Vaticano). Os seminaristas celebrado em 1927. Em 19 de outubro de 1985, o papa João
pediram-lhe que propusesse ao papa Pio XI a celebração Paulo II lembrava a origem do Dia Mundial das Missões falando
de um dia todo dedicado às Missões, como se fazia na Uni- aos fiéis da Igreja de Sássari durante a sua viagem pastoral à
versidade do Sagrado Coração. Monsenhor Drago prometeu Sardenha. Neste ano de 2005 celebramos, portanto, o 79º Dia
que falaria com o papa a respeito. E, de Roma, mandou dizer Mundial das Missões, com coletas em todas as missas para
que o papa havia enviado uma resposta ao pedido: “Esta é as Missões da Igreja em todo o mundo, no dia 23 de outubro,
uma inspiração que vem do céu”. No final de março de 1926 penúltimo domingo do mês das missões.

16 Outubro 2005 - Missões


As Pontifícias Obras Missionárias
A
graça da renovação missionária

Jaime C. Patias
sempre ajudou a Igreja a ampliar
os espaços da fé e da caridade
até os últimos confins da terra.
No contexto rico de piedade do século
19, o caminho do anúncio encontrou novo
impulso graças a algumas pessoas que,
movidas pelo amor de Cristo pela humani-
dade (Cf. 2Cor 5,14) e apoiadas por uma
forte espiritualidade de contínua oração,
conseguiram viver a própria dedicação à
Missão até considerá-la um dom de Deus à
Igreja. É importante citá-las nominalmente:
Paulina Maria Jaricot (1799-1862), que está
na origem da Obra da Propagação da Fé;
Orestes Asprino

Celebração de festa missionária


outubro 2003, Curitiba, PR.

“Embora sejam do papa,


são também Obras de todo
o episcopado e de todo o
Povo de Deus”
pastorais e missionárias fundamentais,
visando a sua progressiva autonomia, e
colocando-as em condições de acudirem,
por sua vez, às necessidades de outros
(cf. Redemptoris Missio, 85). Este fundo
universal de solidariedade é animado e
Celebração em Empada, Guiné Bissau.
coordenado pela Obra da Propagação da
Carlos Augusto Maria de Forbin-Janson Objetivo específico Fé, a qual administra as ofertas recolhidas,
(1785-1844), bispo de Nancy, França, Entre as muitas formas do serviço à Missão, de modo especial durante o Dia Mundial
fundador da Obra da Santa Infância; Joana as Pontifícias Obras Missionárias sempre das Missões, em prol de todas as iniciativas
Bigard (1859-1934) que, juntamente com tiveram como principal objetivo subsidiar de cooperação missionária.
sua mãe Estefânia, deu vida à Obra de a evangelização propriamente dita. As Pontifícias Obras Missionárias
São Pedro Apóstolo; o Bem-aventurado Sem excluir a ajuda nos campos da programam anualmente esta ajuda fra-
Pe. Paulo Manna (1872-1952), missionário, promoção humana e do desenvolvimento, e terna e recíproca, levando em conta as
fundador e animador da União Missionária colaborando com entidades e associações necessidades de todas as Igrejas, as
do Clero. Nascidas espontaneamente do católicas de assistência social e de saúde, prioridades emergentes, as diretrizes da
Povo de Deus como iniciativas apostóli- elas têm a convicção de “que o melhor Congregação para a Evangelização dos
cas privadas de leigos, elas souberam serviço ao irmão é a evangelização, que Povos, e eventuais orientações dadas
transformar a adesão a Cristo dos fiéis em o predispõe a realizar-se como filho de pelas Conferências Episcopais em ques-
decidida co-responsabilidade missionária. Deus, liberta-o das injustiças e promove-o tão. As Direções Nacionais participam da
Assumidas como própria pela Igreja em integralmente” (RM, 58). formação e da distribuição destes fundos,
várias dioceses, as Obras foram, uma após Mediante um fundo de solidariedade, em conformidade com as leis civis dos
a outra, assumindo caráter supranacional as Pontifícias Obras Missionárias mantêm países a que pertencem. 
e, finalmente, foram reconhecidas como prioritariamente as Igrejas em situações di-
Pontifícias, e colocadas em relação direta fíceis e de maior necessidade, ajudando-as, Daniel Lagni é sacerdote, diretor nacional das Pontifícias Obras
com a Santa Sé. com respeito, a enfrentar suas necessidades Missionárias do Brasil.

Missões - Outubro 2005 17


Mensagem para o Dia Mundial das Missões
Missão: Pão Partido para a Vida do Mundo
Caríssimos Irmãos e Irmãs,

Jaime C. Patias
1. O Dia Mundial das Missões neste
ano dedicado à Eucaristia ajuda-nos a
compreender melhor o sentido “eucarístico”
da nossa existência, revivendo o clima do
Cenáculo, quando Jesus, na vigília da sua
paixão, se ofereceu ao mundo: “Na noite
em que ia ser entregue, o Senhor Jesus
tomou o pão e, depois de dar graças, par-
tiu-o e disse: ‘Isto é o meu corpo entregue Celebração durante 11º Intereclesial, Ipatinga, MG.
por vós. Fazei isto em minha memória’”
(1Cor 11,23-24). Juntamente com Cristo, se “pão partido” para os irmãos, chegando
(...) A Eucaristia contém em si “o sinal a Igreja faz-se “pão por vezes até ao sacrifício da vida.
da universalidade” e, de modo sacramental, partido” Quantos mártires missionários, neste
prefigura o que há de acontecer, “quando 3. Quando celebra a Eucaristia, de nosso tempo! Que o exemplo deles leve
os que participam da natureza humana, modo especial no domingo, Dia do Senhor, numerosos jovens a percorrer o caminho
regenerados em Cristo pelo Espírito San- a Comunidade Eclesial experimenta, à luz da fidelidade heróica a Cristo! A Igreja tem
to, contemplando unanimemente a glória da fé, o valor do encontro com Cristo cruci- necessidade de homens e mulheres que
de Deus, puderem dizer: “Pai nosso” (Ad ficado e adquire cada vez mais consciência estejam dispostos a consagrar-se total-
Gentes, 7). Deste modo, enquanto faz de que o Sacrifício Eucarístico é “em favor mente à grande causa do Evangelho.
compreender plenamente o sentido da de muitos” (Mt 26,28). Alimentando-nos do O Dia Mundial das Missões constitui
Missão, a Eucaristia impele cada indiví- Corpo e do Sangue do Senhor crucificado uma circunstância oportuna para tomar
duo que crê, e de maneira especial os e ressuscitado, não podemos conservar consciência da necessidade urgente de
missionários, a ser “pão partido para a este “dom” somente para nós. Pelo con- participar na Missão evangelizadora, em
vida do mundo”. trário, é necessário difundi-lo. O amor que se encontram comprometidas as
apaixonado por Cristo leva ao anúncio Comunidades locais e os numerosos Or-
A humanidade tem corajoso de Cristo, anúncio que, com o ganismos eclesiais e, de modo particular,
necessidade de Cristo, martírio, se torna oferta suprema de amor as Pontifícias Obras Missionárias e os
“pão partido” a Deus e aos irmãos. A Eucaristia leva a Institutos Missionários. Trata-se de uma
2. Na nossa época, a sociedade hu- uma ação evangelizadora generosa e ao Missão que, além da oração e do sacrifício,
mana parece envolvida por densas trevas, compromisso efetivo na edificação de uma espera também apoio material concreto.
abalada por acontecimentos dramáticos sociedade mais justa e fraterna. Uma vez mais, aproveito a ocasião para
e confundida por calamidades naturais Faço votos cordiais, a fim de que o frisar o serviço prestado pelas Pontifícias
catastróficas. No entanto, assim como fez Ano da Eucaristia estimule todas as co- Obras Missionárias e convido todos a
“na noite em que ia ser entregue” (1Cor munidades cristãs a ir ao encontro, “com apoiá-las com uma generosa cooperação
11,23), também hoje Jesus “parte o pão” operosidade fraterna .../... das muitas po- espiritual e material.
(cf. Mt 26,26) por nós e, nas Celebrações brezas do nosso mundo” (Mane Nobiscum Que a Virgem, Mãe de Deus, nos ajude
Eucarísticas, oferece-se a si mesmo sob o Domine, 28). E isto, porque “pelo amor a reviver a experiência do Cenáculo, para
sinal sacramental do seu amor por todos. mútuo e, em particular, pela dedicação que as nossas Comunidades eclesiais se
Por isso, desejei lembrar que “a Eucaristia aos necessitados, seremos reconhecidos tornem autenticamente “católicas”; ou seja,
não é expressão de comunhão apenas como verdadeiros discípulos de Cristo (cf. Comunidades em que a “espiritualidade
na vida da Igreja; é também projeto de Jo 13,35; Mt 25,31-46). Com base neste missionária”, que é “comunhão íntima com
solidariedade em prol da humanidade critério, será comprovada a autenticidade Cristo” (Redemptoris Missio, 88), se ponha
inteira” (Mane Nobiscum Domine, 27); é das nossas celebrações eucarísticas” em íntima relação com a “espiritualidade
“pão do céu”, que, dando a vida eterna (Mane Nobiscum Domine, 28). eucarística”, que tem como modelo Maria,
(cf. Jo 6,33), abre o coração dos homens “mulher eucarística” (Ecclesia de Eucha-
a uma grande esperança. Os missionários, “pão ristia, 53); Comunidades que permanecem
O próprio Redentor, que à vista da partido” para a vida do abertas à voz do Espírito e às necessidades
multidão necessitada sentiu compaixão, mundo da humanidade; e Comunidades nas quais
“pois ela estava cansada e abatida, como 4. Também hoje Cristo ordena aos os fiéis, e especialmente os missionários,
ovelhas sem pastor” (Mt 9,36), presente na seus discípulos: “Vós mesmos dai-lhes não hesitem em fazer-se “pão partido para
Eucaristia, continua ao longo dos séculos de comer!” (Mt 14,16). Em seu nome, os a vida do mundo”.
manifestando compaixão pela humanidade missionários partem rumo a muitas partes Concedo-vos a todos a minha Bênção!
pobre e sofredora. do mundo, para anunciar e dar testemunho
E é em Seu nome que os agentes do Evangelho. Com sua ação, eles fazem Vaticano, 22 de fevereiro de 2005
de pastoral e os missionários percorrem ressoar as palavras do Redentor: “Eu sou Festa da Cátedra de São Pedro
caminhos inexplorados, para levar o “pão” o pão da vida. Quem vem a mim não terá
da salvação a todos. (...) mais sede” (Jo 6,35); eles mesmos tornam- João Paulo II

18 Novembro 2005 - Missões


A Eucaristia

Missão
história missão
daHoje
é celebração de amor
“Se não há missão, a celebração eucarística não é autêntica; se não há
Eucaristia vivida, a missão não é verdadeira” Dom Marcelo Zago.

de Estevão Raschietti o diálogo de vida e de fé com o mundo, com outras denomina-


ções religiosas. Ele deve ter um espaço privilegiado no trabalho
missionário, porque a Igreja não é somente a comunidade dos

A
que procuram viver o Cristo. Ela deve ser também o sinal, o
Igreja é fruto do amor trinitário (Deus Pai, Filho e sacramento do Reino de Deus que já está presente no mundo,
Espírito Santo) e com a missão que recebeu, deve ultrapassando os limites da própria Igreja. Por isso, o diálogo
perpetuar esse amor vivido e celebrado na Eucaris- exige contemplação que para nós significa adoração e colóquio,
tia. Por isso, é sinal e sacramento dessa corrente de e que encontra seu ambiente propício aos pés da Eucaristia. Ali
amor entranhado no mundo. Sua missão torna-se se encontra o equilíbrio e o aprofundamento.
autêntica, à medida que realiza esse amor, pois é A missão cristã na atualidade coloca como primeiro sinal,
única e tem uma só fonte: Cristo. Ele é, pois, o ápice, o centro, as ações que apontam para repartir o pão da vida, promover a
o pivô desta economia da salvação e a Eucaristia atual é a sua justiça e a inclusão social, impulsionar os processos de trans-
demonstração. Nesta visão, a Eucaristia é o sinal daqueles que formação. Estas ações são explicitamente eucarísticas na sua
conscientemente aceitam o amor de Cristo e se disponibilizam inspiração. Elas derivam do conceito de fraternidade e partilha
a transmiti-lo e a perpetuá-lo. A pessoa que sabe
que é amada, sente a necessidade de transmitir tal
amor aos outros e, assim, torna-se missionária a
partir da própria vida.
A Eucaristia e a missão são, sobretudo, de Cris-
to, mas também, da Igreja. Por um lado, a missão
nasce sempre de uma comunidade que celebra a
Eucaristia, nasce como exigência de comunicar
aos outros o Cristo descoberto e experimentado na
fração do pão. Por outro lado, os desafios que vêm
da realidade nos ajudam a encontrar na Eucaristia
a resposta para o agir. Por isso é ponto de chegada
e ponto de partida de toda a missão que a Igreja
realiza, ou seja, a missão nasce da Eucaristia e
conduz à ela. A Eucaristia é talvez o mais poderoso
símbolo de que dispõe a missão para expressar seus
objetivos e sua mística. Ela evoca a reconciliação
e a paz da humanidade. Ela oferece os espaços
onde as culturas e os povos podem se encontrar, dialogar e que desde o início animou a comunidade cristã e as primeiras
sair enriquecidos pelo Evangelho, sem perder o que lhes é pró- celebrações da Eucaristia (At 2, 42-47). O texto do instrumento
prio. O sonho da unidade da humanidade e dos discípulos de de trabalho do Sínodo sobre a Eucaristia e a missão da Igreja
Cristo, o objetivo último da missão encontra na Eucaristia sua contemplava as “implicações sociais da Eucaristia” e dizia que “é
antecipação e inspiração. preciso ajudar os cristãos a compreender o que significa para a
fé a relação entre o Cristo da Eucaristia e o Cristo presente em
Aprendendo aos pés da Eucaristia seus irmãos e irmãs, sobretudo nos pobres e marginalizados
A Eucaristia continua sendo o mistério que mais inspira a da sociedade”, porque “a solução dos problemas grandes e
missão porque é a fonte de onde ela nasce e o fim para o qual pequenos da humanidade está no amor que Cristo nos ensina
ela caminha: reunir a humanidade em torno da mesa do Senhor na Eucaristia: amor que se dá, que se irradia e se sacrifica”.
Jesus como sinal e chegada do seu Reino. Porém, para que A Eucaristia é a memória de Jesus e o projeto da sua mis-
isso se realize, é preciso uma atitude de diálogo. E um dos são, que a Igreja continua no tempo e na história. Um projeto
grandes desafios para a missão hoje, no mundo globalizado, é que se realiza numa variedade de formas e sensibilidades. O

Missões - Novembro 2005 19


Processo de paz
Destaque do mês

na República Demo
de Didier Badibanga serão organizadas eleições livres e democráticas, as primeiras
deste tipo, que devem restabelecer uma nova ordem política

A
no terreno de uma composição que hoje já existe no país: um
República Democrática do Congo obteve a indepen- presidente da República ajudado por quatro vice-presidentes,
dência em 1960, mas, desde então, nunca encontrou um governo constituído de 60 ministros e vice-ministros de cinco
a paz de uma maneira efetiva. Guerras civis, rebeliões instituições de apoio à democracia.
e agressões externas explodiram no país, deixando Com uma população de aproximadamente 45 milhões de
milhões de mortos. Desde 2002, com os acordos de habitantes (segundo as estimativas do Ministério Congolês
paz assinados entre o governo e as facções rebeldes, dos Negócios Exteriores, em 1996), distribuída numa superfície
em Pretória, África do Sul, o Congo atravessa um período de de 2.350.643 km2, a República Democrática do Congo passa
transição. Esses acordos proporcionaram um fio de esperança atualmente por um recenseamento eleitoral. Mais de 6 milhões
a este país, situado no centro do continente africano. Em breve, de pessoas já obtiveram seu título, graças ao apoio financeiro
da comunidade internacional desde o início dos trabalhos, em
25 de julho.
Fotos: Angelo Costalonga

A tarefa não será fácil. Muitas dificuldades restam para su-


perar. A Missão da ONU no Congo (MONUC) tem feito esforços
redobrados pela paz no país.

Das guerras de rebelião


Depois da guerra civil entre os anos de 1964 e 1965, uma
rebelião explodiu em setembro de 1996 no Congo, trazida por
uma das personalidades que mais marcaram a guerra da década
de 60, alguém que tornou-se guerrilheiro nas florestas de muitos
países da parte leste do continente africano: Laurent Désiré Ka-
bila. Apoiado pelos países vizinhos, entre eles, Ruanda, Uganda
e Burundi, Kabila e seus aliados, reagrupados na Aliança das
Forças Democráticas pela Libertação do Congo (AFDL), con-
quistaram uma após outra, todas as cidades do país.
O poder de Kabila cresceu e em agosto de 1998, com a
ajuda de Angola, Zimbabue e Namíbia, partiu para uma guerra
sem precedentes contra os antigos aliados, Ruanda, Uganda
e Burundi, apoiando os novos movimentos político-militares,
a RCD (Rassemblement - Ajuntamento - Congolês pela De-
mocracia) e o MLC (Movimento da Libertação do Congo), de
Jean-Pierre Bemba. Conflitos étnicos serviram aos dirigentes
de diferentes movimentos político-militares para preservar seu
poder econômico
Todas essas rebeliões deixaram atrás de si milhares de
mortos, a maioria, civis. O balanço foi trágico: 3.500.000 mortos,
fora as atrocidades como enterro de mulheres vivas, estupros
rituais e incestos forçados, além da exploração de menores e
escravidão sexual. Houve uma pilhagem de recursos minerais,
destruição da fauna e da flora, criando quase meio milhão de
refugiados.

Forças negativas
A incidência dos extremistas hutus ruandenses na República
Democrática do Congo tem sua origem a partir do genocídio
Crianças, símbolo do anseio de liberdade e paz. de 1994, que causou quase um milhão de mortos em Ruanda.

20 Outubro 2005 - Missões


A paz no Congo está inserida num contexto
de sonho, mito e realidade. Resta um longo
caminho a ser percorrido.

ocrática do Congo

Procissão de Sexta-Feira Santa, manifestação de fé do povo congolês.

Com a chegada de Paul Kagame ao poder naquele ano, os esperam também pelo processo de integração, depois da abertura
hutus ficaram com medo da vingança do antigo homem forte do de alguns centros de reeducação. Os territórios, antigamente
Fronte Patriótico Ruandês (FPR) e atravessaram as fronteiras “no man land” (terra sem dono) podem ser hoje ocupados pelos
para encontrar asilo no Congo. Esta presença serve de pretexto rebeldes, não sendo mais um obstáculo diante da circulação das
às autoridades de Ruanda para desdobrar as suas tropas sobre pessoas e de seus bens.
a terra congolesa. Todos lutam pela reconstrução do país e pela reconciliação
Hoje, a questão das forças negativas nesta região da Repú- nacional. O parlamento congolês já adotou certas leis para a orga-
blica Democrática do Congo se apresenta como um verdadeiro nização das eleições (lei orgânica, dos partidos políticos, sobre a
quebra-cabeças na vivência cotidiana dos habitantes do país. identificação, título eleitoral e o projeto da Constituição da terceira
As Forças Democráticas pela Libertação de Ruanda (FDLR) República). Todos os congoleses esperam as eleições. Essa
praticam toda forma de extorsão contra a população civil. As vontade engajada é um grande passo no processo eleitoral.
Forças Armadas da República Democrática do Congo (FARDC) e Mesmo com as eleições que se aproximam, o processo de
a MONUC (Missão da ONU no Congo) fazem operações conjun- paz não será fácil. É necessário que o governo ofereça segu-
tas visando desarmá-las pela força, depois de muitas tentativas rança a todo o território nacional durante as eleições. Existem
de desarmamento voluntário sem sucesso. Em recente reunião, dificuldades ligadas à logística, além de desejos egoístas de
ocorrida em agosto, autoridades do Congo, Ruanda, Uganda e certos atores da transição, de bloquear o processo.
Estados Unidos decidiram que as FDLR devem deixar o país o A comunidade internacional contribuiu financeiramente para
mais cedo possível. o processo eleitoral na tentativa do país encontrar seu equilíbrio
perdido. Um verdadeiro perigo é ver o ex-Zaire recomeçar do
Os resultados da caminhada zero. O país passou por um banho de sangue, que custou a vida
O que se conhece atualmente na República Democrática do de mais de 3 milhões de pessoas. Crises políticas sempre estão
Congo é, teoricamente, o fim das rebeliões. Os chefes rebeldes prontas para interromper a organização das eleições. Porém, a
que ontem traziam tumulto e desolação à população, tornaram-se vontade do povo e o desejo de construir a paz existem. Já são
hoje os chefes do poder (governadores) e seus homens foram grandes passos! 
integrados aos civis. Este era um dos objetivos dos acordos da
África do Sul, que ainda não foram totalmente cumpridos. Didier Badibanga é jornalista formado pela escola audiovisual da Radio Nepoko de Wamba,
Por outro lado, os membros da Polícia Nacional Congolesa República Democrática do Congo.

Missões - Outubro 2005 21


atualidade

22 Outubro 2005 - Missões


Missões - Outubro 2005 23
Um novo ardor
missionário A criança missionária nos trouxe um olhar singelo, afetuoso,

Infância
“No olhar de quem bonito de se ver, nas diferentes realidades do nosso país. Nos
seus relatos e partilhas podemos contemplar a seriedade e o
Missionária sabe enxergar, empenho dos pequenos missionários. “A criança missionária é
alegre e solidária no serviço aos irmãos” (6º Mandamento da
em cada esquina, Criança Missionária).

no menino e na “Vocês são o sal da terra” (Mt 5, 13a)


A Infância e a Adolescência Missionária contribuíram eco-
menina o futuro do nomicamente em 2004 com quase três mil projetos em defesa
de crianças nos cinco continentes, ou seja, a partir da oferta
país”. (Zé Vicente) das crianças missionárias nos seus grupos, tornou-se possí-
vel colaborar com creches, orfanatos, casas de acolhida para
crianças de rua, escolas infantis, promovendo a vida junto aos
pequeninos sofredores, com um olhar especial às crianças
africanas, que receberam 52% e a Ásia com 40% dos donativos
destas Obras Pontifícias.
Para a criança missionária a sua contribuição financeira,
fruto de um pequeno sacrifício, demonstra o quanto ela ama e
se preocupa com as crianças do mundo inteiro. É no exercício
diário que a criança missionária é “sal da terra e luz do mundo”
(Mt 5, 13-16).

Evangelizar em comunhão fraterna!


Aos doze anos de idade, Jesus surpreendeu seus pais e o
grupo de anciãos no templo em Jerusalém com a sua sabedoria,
assim como hoje nos surpreende a ação missionária das crianças
e adolescentes, animando-nos com seu vigor. O missionário ou
missionária coloca em primeiro plano as outras pessoas, estejam
elas no seu país ou fora dele, com a preocupação de tornar a
pessoa de Jesus Cristo mais conhecida e querida por todos. O
trabalho da Infância Missionária é, sem dúvida, uma evangelização
que servirá de base para outras ações evangelizadoras futuras,
Arquivo

porque o sujeito da evangelização é a criança, no seu modo de


Encontro vocacional “Despertar” da paróquia Cantagalo, PR. ser, perceber e viver como criança. Neste mês missionário, que
a nossa mãe Maria, a Estrela da Evangelização abençoe as
crianças evangelizadoras dos cinco continentes. Das crianças
do mundo – sempre amigas! 
de Roseane de Araújo Silva
Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da rede pública do Paraná.

N
este mês em que comemoramos o Dia das Crian-
ças, celebramos também o mês missionário, o Dia
Mundial das Missões e o Dia Mundial da Santa
Vamos encontrar nossos
Infância. Recordo-me com alegria dos “primeiros missionários?
passos” ou “novos passos” da Infância Missionária Sugestão de atividade para as crianças
no Brasil, pouco depois do III Congresso Missionário missionárias:
Latino-americano na Colômbia. Um entusiasmo contagiante! Era
uma pequena luz que se reacendia esperançosa, porque trataria Você sabia que existem 1.838 missionários e missionárias
brasileiros em missão em outro país (Missão além-fronteiras)?
especificamente da evangelização dos pequeninos, ou seja,
Informe-se com o COMIPA ou COMIRE da sua região e envie
das crianças evangelizando outras crianças. De canto a canto
uma cartinha missionária das crianças do grupo para um mis-
do país, aconteceram vários encontros de formação (EFAIM’s)
sionário ou missionária no exterior.
para os animadores, e muita coisa bonita se viu de lá pra cá:
O objetivo é estabelecer laços de amizade entre as crianças
as crianças missionárias nos mostraram o seu protagonismo e missionárias e os missionários, através da troca de correspon-
a sua alegria ao evangelizar outras crianças, afirmando: eu sou dência das atividades missionárias de cada um.
missionária! eu sou missionário!

24 Outubro 2005 - Missões


Juventude missionária

conexão jovem
Jaime C. Patias

A juventude responde ao apelo: “América


Latina, tua vida é missão”.
Como eles vivem este espírito missionário? Qual é o serviço
que prestam à Igreja?
Na temporada de férias organizam acampamentos paroquiais,
diocesanos ou nacionais, com o propósito de levar a consolação a
tantos homens, mulheres e crianças nos lugares onde os párocos
não podem ir. Mas, creio que o maior serviço que nós, jovens,
possamos prestar à Igreja seja o de dar testemunho de vida,
ante uma sociedade que muitas vezes quer transformar nossos
valores cristãos. Por isso, eu convido a todos vocês, jovens de
idade ou de espírito que lêem Missões a dizer um “sim” a Deus,
sendo missionário em sua própria realidade, tanto em seu país,
como além-fronteiras.

Bernardo Matorell, em que situação se encontra a juventude


missionária na Colômbia?
Para ninguém é desconhecida toda a problemática social que
atravessa o meu país, onde a ânsia de poder em todos seus as-
pectos faz entrar em conflitos distintas forças armadas de direita,
de esquerda, de extrema direta e de extrema esquerda e onde,
sem dúvida, a população civil é a principal afetada e a juventude,
Jovem participante do CAM-COMLA 7, Guatemala, 2003.
que apenas começa a se abrir para a vida, é aproveitada como
massa de manobra para promover a guerra, que destrói a paz,
a concórdia e a unidade, inclusive dentro das famílias.
de João Batista Amâncio

Que opção tomar frente a esta situação?

N
Existem jovens que são obrigados a optar pela guerra para
esta edição, Conexão Jovem entrevista dois jovens salvar suas famílias de serem assassinadas; outros também
missionários: Juan José Perdomo, natural de Ca- optam por este caminho porque não encontram, aparentemente,
racas, Venezuela, e Bernardo Matorell Batista, de melhores soluções, devido à situação econômica do país. E
Cartagena de Índias, Colômbia, que decidiram dizer outros, como os que participam da juventude missionária, optam
“sim” à Missão, dispostos a anunciar a Boa Nova por promover a vida. A juventude missionária descobriu que sua
de Jesus ao mundo. Os dois jovens saíram de seus presença e opção na Colômbia deve promover e ser agente que
respectivos países e neste momento se encontram na Argentina, semeia a vida em todas as situações cotidianas.
participando da etapa de formação denominada Noviciado.
Vale a pena pelo Evangelho arriscar a vida e não perder o
Juan José, como é a juventude missionária em um país sonho de um mundo melhor?
como a Venezuela? É significativo que nós, jovens, descubramos que o Evan-
Minha experiência parte de “JovenMision”, um serviço de gelho é uma força transformadora e que está toda impregnada
animação missionária das Obras Missionárias Pontifícias da de vida, e a juventude missionária deve ter consciência que ser
Venezuela, que apóia os grupos de jovens em geral, aqueles anunciadora do Evangelho é comprometer-se com a preservação
que de uma ou outra maneira querem se colocar a serviço da deste grande dom dado por Deus. O jovem promove a vida apre-
Missão. A juventude missionária venezuelana está aberta a sentando atitudes que rechaçam toda forma de violência e ódio;
novos desafios. defendendo a vida dos inocentes e desprotegidos, das crianças,
dos idosos, comprometendo-se com milhares de desprezados
Quais as dificuldades que podem surgir neste trabalho? do país. Creio que é o mesmo Jesus que vai inspirando os cami-
Certamente não é fácil para muitos destes jovens ser nhos para que o Evangelho seja a luz que ilumine àqueles que
missionários nas suas paróquias, nem fora delas. Às vezes, vivem nas trevas e na sombra da morte. Assim, onde campeia a
percebo que são os próprios párocos que não motivam, nem violência, a vida e a paz serão abundantes, ou como diz nosso
apóiam esses jovens. Creio que esta é uma de tantas outras Hino Nacional: “en surcos de dolores, el bien germina ya” (em
dificuldades a que são submetidos alguns grupos que querem canteiro de dores, o bem germina já). 
ser missionários. Porém, a juventude sempre salta os obstáculos
que lhes são apresentados. João Batista Amâncio é noviço da Consolata na Argentina.

Missões - Outubro 2005 25


Referendo do Desarmamen
entrevista

enfrentar alguns desses fatores, por exemplo, trabalhando em


Arquivo Pessoal

mais de 300 favelas do Rio de Janeiro, dando cursos de treina-


mento profissional ou curso supletivo para jovens, que são as
maiores vítimas da violência. Disputamos a alma dos jovens com
o narcotráfico. Os traficantes prometem a eles armas, dinheiro e
uma vida curtíssima e nós procuramos resgatá-los para reinseri-
los na sociedade. Nas favelas temos também cooperativas que
envolvem principalmente mulheres, criando uma alternativa de
emprego, porque achamos que a pregação da cultura da paz,
embora seja essencial, precisa ser acompanhada de atitudes
concretas. Trabalhamos também para reformar a polícia, que ao
meu ver está contaminada pelo crime. De nada adianta ter boas
leis se não temos quem as aplique. Formamos nos últimos dois
anos mais de 300 sargentos. Esses por sua vez agora estão
formando 6000 soldados para a Polícia Militar de uma forma que
respeita os direitos humanos. No Viva Rio temos mais de 1000
voluntários e fazemos muitas campanhas com a mobilização
deles, mas temos também muitos profissionais.

No dia 23 de outubro, será realizado o primeiro referendo da


história brasileira sobre o desarmamento. Acha que o Brasil
sai à frente em termos mundiais nessa questão?

Há uma enorme curiosidade quanto ao referendo porque


nenhum país jamais submeteu à votação popular sua política
de segurança pública. Por isso há um grande interesse e um
grande reconhecimento de que o Brasil foi muito inovador nesse
aspecto. Segurança pública é algo que diz respeito a todos os
cidadãos e envolve o cotidiano das pessoas. É uma questão
que afeta diretamente a população. O referendo criou uma
expectativa em outros países do continente. Se o resultado for
de Jaime Carlos Patias
pelo sim da proibição, acredita-se que países como o Uruguai
e Argentina possivelmente repitam a experiência brasileira. No

A
Brasil, no momento em que a democracia representativa está
cada 13 minutos, morre uma pessoa no Brasil vitimada muito desgastada com essa história do “mensalão” é muito
por arma de fogo. No dia 23 de outubro, será realizado importante que o referendo aponte soluções dentro do próprio
o primeiro referendo sobre desarmamento da história sistema político vigente para que a juventude não fique ainda
brasileira. Essa é uma importante conquista de nossa mais descrente da democracia. Como os jovens nunca viveram
democracia. A pergunta será: “o comércio de armas de uma ditadura, acham que a democracia é corrupção e que talvez
fogo e munição deve ser proibido no Brasil?” São muitas fosse melhor a ditadura do que esse parlamento corrupto. O
as razões para dizer sim, mas não faltam opiniões contrárias. referendo mostra que a solução não é voltar ao passado, mas
Estudo divulgado no dia 9 de setembro de 2005 pela Unesco sim, aprofundar a democracia brasileira.
(Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura) revelou que 5.563 vidas foram poupadas em 2004 no Um dos argumentos dos que se opõem à Campanha é de que
Brasil devido ao Estatuto e à Campanha do Desarmamento. os cidadãos serão desarmados e os bandidos vão continuar
Entrevistamos Antônio Rangel Bandeira, do Movimento Viva armados e que o Estatuto do Desarmamento não desarma
Rio, coordenador da Campanha do Desarmamento e autor do o bandido. Acredita-se que “ter arma em casa aumenta a
livro “Armas de Fogo – Proteção ou Risco?” proteção”. Como o senhor responde a essa questão?

O Viva Rio desenvolve campanhas pela paz e projetos sociais. As pessoas não conhecem o Estatuto do Desarmamento. A
Quais as áreas de atuação e como é feito o trabalho? nova lei tem 37 artigos e apenas um trata do referendo e outro
trata do desarmamento voluntário de armas. Todos os demais
Nós enfrentamos o tema da violência urbana como um fenô- tratam de dar meios à polícia para desarmar os bandidos. Todos
meno complexo, que reflete a soma de vários fatores. Procuramos esses artigos estão sendo aplicados. Por exemplo, a marcação

26 Outubro 2005 - Missões


nto Vidas Poupadas
“Procurai a paz da cidade e orai por ela ao Senhor, porque na sua paz vós tereis paz” (Jr 29, 7)

da munição é uma medida inovadora. Pouquíssimos países hospitais por armas de fogo caiu mais de 10% e em São Paulo
fazem isso. A ONU aplaudiu esse lado da legislação brasileira mais de 7%. Estamos salvando vidas. Um sinal de que nossa
como algo extremamente eficiente porque o bandido troca tiros política esta dando certo.
com a polícia e foge, mas a munição que ele usou fica no chão.
Como a cápsula está marcada, sabe-se em questão de minutos O senhor está otimista quanto ao plebiscito?
de que delegacia policial foi desviada. Então pela primeira vez a
polícia vai poder fazer rastreamento de munição, coisa que jamais O Ibope registrou um apoio de 81% da população pelo sim
fez e ao invés de ficar apenas com a prisão de um bandido que para a proibição. Mas nós estamos temerosos porque os de-
possui uma arma vai descobrir as redes que abastecem esses fensores das armas contam com o fortíssimo apoio da indústria
bandidos. Outro exemplo é o rastreamento armamentista e publicamente destinou dois
das próprias armas. Como saber que uma milhões e meio de reais para a propaganda
arma foi vendida pela Taurus no Rio Grande deles na televisão. Nós contamos apenas
do Sul para um lojista e ele a revendeu para o com recursos humanos. Temos o apoio
crime organizado? A única forma de combater esmagador da classe artística. Contamos
isso é ter registro da origem e tendo a arma também com o apoio de especialistas em
apreendida, fazer esse rastreamento. Para segurança pública e o Conselho Nacional
isso é preciso ter um banco de dados, que das Igrejas Cristãs – CONIC, que nos dá
já está sendo construído. Isso tudo é para muito respaldo, pela sua credibilidade. A
desarmar o bandido. Coisa muito diferente é Campanha vai ser assim: de um lado, a
desarmar a sociedade. Desarmar a sociedade indústria da morte, muito rica, e do outro,
visa acabar com a maioria dos homicídios que os que querem uma cultura de paz, os que
são causados por acidentes com crianças e acham que não devemos enfrentar a violência
homens matando suas mulheres. Esse dado com mais violência.
tem no livro que lançamos para informar a
opinião pública. O livro se chama “Armas de Certamente essas medidas vão resolver
Fogo: Proteção ou Risco?”, da editora Viva alguns problemas, mas não todos. O que
Rio. É um livro feito com trabalho voluntário mais deveríamos fazer para diminuir a
e vendido por apenas R$ 10,00 nas livrarias violência?
e bancas de jornais nas capitais brasileiras.
É um esforço mostrar que muitas vezes o Eu acrescentaria a importância da cria-
perigo não vem das ruas, mas de dentro da ção de emprego, uma vez que o desem-
própria casa. prego aumenta a criminalidade. Reforma
agrária também é importante, porque muita gente é expulsa
A Campanha nacional de entrega voluntária de armas que da terra por falta de condições de trabalho e vai engrossar
começou em julho de 2004 recolheu 443 mil armas de fogo. as populações da periferia das megalópoles. É preciso uma
Que avaliação o senhor faz sobre a resposta da população maior responsabilidade por parte dos meios de comunicação
brasileira à Campanha? social, que permanentemente intoxicam a população com filmes
violentos. E principalmente um esforço educativo para que as
Um estudo da Unesco concluiu que o Estatuto do Desarma- pessoas realmente tenham valores de solidariedade, valores
mento e a Campanha de entrega de armas, iniciados em julho de uma cultura de paz e não de uma cultura guerreira, bélica.
de 2004, anularam a tendência de crescimento das mortes por A Campanha é um passo importante, talvez a única coisa im-
arma de fogo. A expectativa era de que o número crescesse 7,2% portante que está sendo feita na área da segurança pública.
em 2004 em relação a 2003, baseado nos números dos anos Infelizmente as autoridades não dão prioridade à segurança
anteriores. O número absoluto de mortes também caiu 8,2%. pública que é a segunda preocupação do povo brasileiro,
Juntando os dois dados, a Unesco chegou à conclusão de que perdendo apenas para o desemprego. O próprio debate sobre
o índice de mortes causadas por armas de fogo foi reduzido o referendo vai ser uma oportunidade para dizer que tipo de
em 15,4%. O estudo da Unesco utilizou dados do Subsistema segurança pública nós queremos, que polícia nós queremos
de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde. Isso e se queremos um Brasil armado ou um Brasil sem armas. 
significa 5.000 vidas poupadas. Foi a primeira vez em 13 anos
que houve queda. No Rio de Janeiro o número de feridos nos Jaime Carlos Patias é missionário, diretor da revista Missões e mestre em comunicação.

Missões - Outubro 2005 27


Comunicação que transforma
amazônia

Fotos de Emerson Quaresma


Em Manaus, um curso de
comunicadores populares
procura despertar a consciência
crítica com relação à mídia.
de Ivan Brito

C
om o objetivo de criar um espaço onde se pudesse
discutir e refletir sobre o conteúdo que os veículos
de comunicação de massa transmitem à população,
Participantes do curso fazendo
desde julho deste ano, trinta pessoas, entre jovens trabalho de campo na comunidade.
e adultos, participam da terceira edição do curso de
comunicadores populares de base. O curso, que é maiores bolsões de pobreza dentro da área urbana da cidade.
gratuito, tem a duração de quatro meses. Suas aulas são minis- Devido às necessidades como alimentação, emprego e qualifi-
tradas aos sábados, das 14h00 às 17h00 na Escola Municipal cação profissional dos moradores, a “arquidiocese de Manaus
Themístocles Pinheiro Gadelha, e o curso é coordenado pela e a área missionária Santa Maria Goretti vêem no curso de
Pastoral da Comunicação (Pascom) e pelo Núcleo Jovens de comunicação popular, uma alternativa para suprir ao menos
Direitos Humanos (NJDH), ambos da área missionária Santa essa lacuna”, explica o padre Sérgio Weber, responsável pela
Maria Goretti, localizada na zona leste da cidade de Manaus. área missionária.
Segundo o censo de 2000, a zona leste da cidade é a mais De acordo com Francimar Rodrigues, um dos coordenado-
populosa, com aproximadamente 500 mil habitantes. Na última res do curso, o objetivo não é fazer com que os participantes
década o acentuado crescimento vegetativo, o êxodo rural, se tornem profissionais em comunicação e sim, fazer com que
os movimentos migratórios de outros estados (principalmente eles possam ter uma leitura crítica dos veículos de comunica-
Pará, Maranhão e os do Nordeste) e a falta de uma política ção de massa. “Por se localizar numa área periférica, o curso
pública habitacional eficiente, propiciaram o seu crescimento visa também combater uma prática eleitoreira muito comum
desordenado. Grupos de sem-teto invadiram áreas privadas em Manaus, que é a utilização dos meios de comunicação,
e construíram moradias sem infra-estrutura alguma. Em con- principalmente televisão e rádio, de forma demagógica para
seqüência desses movimentos, a zona leste se tornou um dos cooptação de votos”, destaca.

Bairro de Jorge Texeira, onde é realizado o curso de comunicação.

28 Outubro 2005 - Missões


Parceiros do curso:
Área Missionária Santa Maria Goretti
Missionários da Consolata
Centro dos Direitos Humanos da Arquidiocese de Manaus - CDH
Grupo de Comunicação Popular – GCP
Universidade Federal do Amazonas – UFAM
Escola Municipal Themístocles Pinheiro Gadelha

Todos as pessoas envolvidas no curso, coordenadores e


palestrantes estão trabalhando de forma voluntária. A estrutu-
ra, o apoio com materiais e lanche foram conseguidos com os
parceiros do curso.
Segundo a professora da Universidade Federal do Amazo-
nas, Ivânia Vieira, palestrante voluntária, hoje os veículos de Bairro de Jorge Teixeira onde é realizado o curso.
comunicação de massa têm uma influência muito grande na vida
das pessoas, que chega a ser decisiva em algumas ocasiões. deram continuidade ao trabalho, modificando metodologia e
“É fundamental que as comunidades e os grupos sociais parem objetivos do curso. A motivação pessoal foi um dos pontos
para conversar sobre qual tem sido o papel do rádio, da televisão, bastante trabalhados, devido à dura realidade das comunidades
do jornal e da internet na vida delas”, diz a professora. periféricas e a falta de perspectiva de uma vida melhor. “Aprendi
“Uma outra perspectiva do curso é que os participantes deixem muito sobre comunicação, mas não ganhei só conhecimento,
de ser espectadores passivos e colaborem na sua comunidade, evolui como cidadã e como pessoa, pois aprendi a valorizar
utilizando o conhecimento adquirido para gerar uma informação a verdadeira amizade”, diz Auria Figueiredo, participante da
segunda edição.
Ao unir as metodologias empregadas nas primeiras edições,

Palestrantes voluntários:
Marcio Augusto – Advogado do CDH
Tenório Telles – Membro da Academia Amazonense de Letras e escritor
Ivânia Vieira – Jornalista e professora da UFAM
Marcos Figueira – Radialista
Narciso Lobo – Doutor em Comunicação Social e professor da UFAM
Carlos Dias – Fotógrafo profissional e professor da UFAM
Cleudomar Viana – Coordenador do jornal Uga-Uga
Pe. Ricardo Castro – Doutor em Sociologia da Religião

Teatro Amazonas. a terceira possibilita uma atividade mais plural, trabalhando o indi-
víduo (auto-estima e motivação), os meios de comunicação (sua
pelo olhar deles”, afirma o professor e doutor em comunicação produção e a interferência na vida das pessoas) e incentivando
social Narciso Lobo. Destacando ainda que é necessário uma o trabalho em comunidade, utilizando o conhecimento adquirido
alfabetização do ponto de vista da comunicação: “ler e interpretar na construção de um modelo alternativo de comunicação que
uma informação que está aí, é um desafio”. vá ao encontro das necessidades dessa população.
Para Tayana Martins, 19, o curso está sendo uma nova experi-
Metodologia e resultados obtidos ência na área da comunicação, ela que é estudante de jornalismo
Ao longo das três edições do curso, a metologia empregada nunca imaginava debater e aprender esse assunto na comunidade.
vem sendo aperfeiçoada de acordo com as necessidades indi- “Na verdade eu não tinha noção da importância desse curso. A
viduais dos participantes e das comunidades. cada sábado abordamos um assunto diferente que não serve só
A primeira edição visava capacitar pessoas que, mais tarde, para comunicação, mas sim para vida”, afirma Tayana.
pudessem trabalhar com comunicação comunitária. Um exemplo A primeira edição do curso foi realizada no ano de 2002 por
é o jovem Emerson Quaresma, que descobriu sua vocação e iniciativa do jornalista hondurenho José Antonio Chirino, mis-
hoje é estudante de jornalismo. Trabalha em um grande jornal sionário que desenvolvia trabalhos na pastoral da comunicação
diário da cidade e é um dos coordenadores do curso. “Naquela na área missionária Santa Maria Goretti. Chirino percebeu a
época eu não tinha nenhuma perspectiva de vida, não encontra- necessidade de trabalhar a comunicação como uma ferramenta
va alternativas que ampliassem minha visão de mundo. Estava de integração e inclusão social, de forma gratuita. Em Manaus
fadado à frustração. O curso resgatou a minha auto-estima, me até então, não havia acontecido nada parecido. 
devolveu a vida”, afirma Quaresma.
Como resultado positivo da primeira edição, a segunda já Ivan Brito é estudante de jornalismo e membro da pastoral da comunicação da área missionária
teve como coordenadores, entre outros, dois ex-alunos, que Santa Maria Goretti, Manaus, Amazonas.

Missões - Outubro 2005 29


Mato Grosso do Sul Brasília
Justiça mantém demarcação Curso Nacional sobre
de terra indígena Cultura da Paz e Direitos Humanos
A Justiça brasileira garantiu a demarcação da De 9 a 12 de novembro, no Centro Cultural de
terra indígena Yvy Katu, do povo guarani-nhandeva. Brasília (DF), acontecerá a primeira etapa do Curso
Num julgamento, realizado no dia 14 de setembro, Nacional sobre Cultura da Paz e Direitos Humanos.O
o Superior Tribunal de Justiça decidiu que todos os objetivo é capacitar multiplicadores para formar media-
procedimentos legais foram tomados para a demar- dores de conflitos. O evento contará com a assessoria
do padre Marcelo Guimarães. De 13 a
Joge Campos/ACS/STJ

15 do mesmo mês, será realizado o 2º


Seminário Nacional sobre Cultura de
Paz, com o tema “Elaborando Políticas
Públicas pró-ativas para a Construção
da Paz”. A assessoria também será do
padre Marcelo Guimarães.Informações:
cbjp@cnbb.org.br ou pelo telefone:
(61) 2103-8328.

Tortura nos
VOLTA AO BRASIL

presídios brasileiros
A tortura de detentos continua sendo
uma realidade em todos os estados bra-
sileiros. A análise está num documento
da Pastoral Carcerária Nacional, ligada
à Confederação Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB). Segundo o documento,
no sistema penitenciário brasileiro, são
registradas várias formas de desrespeito
aos direitos fundamentais previstos na
Lideranças indígenas acompanham o julgamento do STJ.
Constituição Federal. A Pastoral analisa
cação da terra e negou pedido de mandado de segu- que o Brasil realizou uma campanha “superficial”
rança a uma empresa que questionava o processo. contra a tortura e que não instalou instrumentos para
A demarcação da terra está prevista numa Portaria combater o problema, mas também ressalta que o país
Declaratória do Ministério da Justiça, mas ainda não já colocou em curso algumas mudanças importantes
tinha sido feita por conta da ação judicial impetrada como a capacitação de policias e agentes peniten­
pela empresa Agropecuária Pedra Branca Ltda. O STJ ciários, com cursos de direitos humanos; e introdução
havia decidido que a demarcação somente poderia de corregedorias e ouvidorias, que já fazem em parte
ser feita após o julgamento da ação da empresa, de um bom trabalho. Em quase todos os estados faltam
propriedade de fazendeiros de Mato Grosso do Sul, ainda corregedorias autônomas, efetivas e dotadas
estado onde está situada a terra. com os recursos necessários nos mais diversos sen-
Depois da demarcação, a terra precisa ainda ser tidos. O resultado é o comprometimento do trabalho
homologada pelo presidente da República e registrada de combate à tortura, que também fica prejudicado
em cartório e na Secretaria de Patrimônio da União. devido à dificuldade de se fazer exames de corpo de
A conclusão do processo de demarcação da terra delito. A Pastoral Carcerária já enviou uma carta ao
contribui para garantir o direito dos guaranis a viver presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva,
em seu território tradicional Yvy Katu. denunciando os casos de tortura.
A decisão do STJ foi comemorada por cerca de 40
lideranças indígenas que acompanhavam o julgamen- São Paulo
to. Há 22 anos, o povo guarani-nhandeva reivindica “Evangelização e
ao Estado brasileiro o reconhecimento integral da Missão Profética da Igreja”
terra, que fica no município de Japorã, no estado do Esse é o título do documento nº 80, publicado
Mato Grosso do Sul. A área, que teve a demarcação pelas Paulinas. Trata-se do texto aprovado durante a
garantida pela Justiça, representa apenas 10% do 43ª Assembléia Geral dos Bispos do Brasil, realizada
território de 9.454 hectares reconhecido pela Funai em Itaici, Indaiatuba, São Paulo, de 9 a 17 de agosto
como pertencente aos índios. de 2005. O documento compreende quatro capítulos,
Apesar dessa vitória, ainda são poucas as ter- além da apresentação, introdução e conclusão. São
ras dos guaranis no estado do Mato Grosso do Sul eles: Evangelização e Profetismo; O testemunho da
em situação regular. De nove terras, apenas duas fé cristã e o pluralismo cultural e religioso; O compro-
estão registradas, ou seja, tiveram seu processo misso da Igreja em favor da inclusão social; Dignidade
de reconhecimento concluído. Uma das terras foi Humana e Biotecnologias. O documento encontra-se
homologada, mas teve sua homologação suspensa nas livrarias católicas. Informações: editora@paulinas.
pelo STJ. Outras quatro terras ainda não tiveram seu org.br ou pelo telefone: (11) 2125-3549. 
processo de identificação iniciado pela Funai, e uma
outra nem chega a constar na listagem de terras do
órgão indigenista oficial. Fontes: Adital, CNBB, CIR.
30 Outubro 2005 - Missões
O Encontro Internacional África Brasil
tem como objetivo promover um
programa internacional de estudos
entre jornalistas, comunicadores,
pesquisadores, educadores,
lideranças políticas e agentes
culturais sobre os desafios que as
questões relacionadas à etnia e à
raça apresentam para a mídia e os
processos de comunicação, na África
e no Brasil.
Além de promover relatos de
experiência e análises de natureza
antropológica, política e cultural, o
encontro destina-se à celebração de
compromissos para a implementação
de ações coletivas e de políticas
públicas voltadas à igualdade racial,
envolvendo jornalistas e agentes
culturais da América Latina e África.

INFORMAÇÕES SOBRE O TEMÁRIO


NCE/USP, pelo e-mail: africabrasil@usp.br

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02 a 09 assinaturas R$ 25,00 cada assinatura Nos meses de Jan/Fev e Jul/Ago a edição é
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