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EDITORIAL

SUMÁRIO
recursos naturais e miséria Julho/agosto 2005/06

A
constante exploração de riquezas naturais sem trazer
benefícios à população local, cedo ou tarde gera indigna-
ção e crises. A situação da Bolívia traz alguns elementos
ilustrativos do que representa o domínio e a exploração dos
recursos naturais pelas transnacionais. O fato gerador da
crise naquele país foi a aprovação da Lei dos Hidrocarbo-
netos, que entre outras medidas, condiciona novas explorações de Um olhar para o mundo em
recursos naturais à permissão dos povos indígenas, além de exigir busca de rumo para vida.
mudança dos contratos das multinacionais, obrigando as petrolíferas a Arte: Cleber P. Pires
Foto2: Jaime C. Patias
adotarem o regime de risco, de produção e de ganhos compartilhados.
Embora tenha aumentado o controle estatal, a lei não supriu muitas
exigências da população. A Bolívia possui a segunda maior reserva  MURAL DO LEITOR--------------------------------------04
de gás natural da América Latina (1,5 trilhão de metros cúbicos). A Cartas
população indígena Aymara, Quéchua e Guarani, que representa  OPINIÃO--------------------------------------------------05
65% dos 9 milhões de habitantes do país esperava que a riqueza As terras indígenas
melhorasse seu nível de vida. Mas, desde 1990, quando ocorreram Mário José Gonçalves / Aparecido Barbosa de Lima
as primeiras descobertas do gás, o quadro social piora ano a ano. De  PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07
acordo com o último censo de 2001, 63% da população é constituída A importância das "borboletas" na vida
de pobres. A precária condição de vida da classe mais pobre e a pro- Rosa Clara Franzoi
teção dos direitos dos indígenas vêm gerando protestos desde o final  VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08
dos anos 90. O serviço de Notícias do Mundo
Arquivo

Boletim Rádio Vaticano / El Observador / Fides / Zenit


águas de Cochabamba era
privatizado, efetuado pela  ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10
empresa americana Inter- Vocação à santidade
Salvador Medina
national Water (na Bolívia,
Águas de Tunari). Com  CIDADANIA-----------------------------------------------12
tarifas que aumentaram em Reforma agrária e corrupção
Alfredo J. Gonçalves
até 200%, o boliviano, para
pagar a água, utilizava 22%  testemunho-------------------------------------------13
Consagradas para o mundo
do seu salário mensal. No Maria Lúcia de Jesus
início de janeiro deste ano,
houve uma greve fortíssima para pressionar a saída de Águas de  testemunho-------------------------------------------14
Só Deus basta
Illimani dominada pela Suez (maior empresa de águas do mundo), Imelda Stefani
que tem como sócio o próprio Banco Mundial, que cobrava 445
dólares americanos para instalar água e esgoto numa residência,  FORMAÇÃO MISSIONÁRIA----------------------------15
A Missão no Concílio Vaticano II
o equivalente a nove salários mínimos da região e dizia atender Ramón Cazallas Serrano
100% dos moradores de El Alto, quando na realidade só atingia
15%. O governo boliviano emitiu um Decreto Supremo, que equivale  MISSÃO HOJE-------------------------------------------19
Caminhando juntos
à nossa medida provisória, para a saída da Suez. Luiz Balsan
Agora as lideranças bolivianas exigem a nacionalização do gás,
 DESTAQUE DO MÊS------------------------------------20
do petróleo, da energia e da água. Politicamente enfraquecidos e As CEBs e o 11º Intereclesial
dependentes de financiamento externo, países pobres que buscam Nelito Nonato Dornelas
empréstimos sabem que, para obtê-los, devem facilitar a privatização
 ATUALIDADE----------------------------------------------22
de seus recursos naturais. A indignação popular da Bolívia é um O 2º Congresso Vocacional
exemplo a ser seguido pelos países que permitem passivamente Carlos Alberto Chiquim
que seus recursos naturais indispensáveis à qualidade de vida do  INFÂNCIA MISSIONÁRIA-------------------------------24
povo sejam entregues à exploração predatória. Isso mostra que Vamos amar e cuidar das nossas crianças?
grupos organizados, detentores de informação e de conhecimento Roseane de Araújo Silva
e com consciência de cidadania, estão aptos a exigir respeito aos  CONEXÃO JOVEM--------------------------------------25
seus direitos e garantir a democracia. A população não entende Jornada Mundial da Juventude
porque os governos ficam do lado das empresas estrangeiras e André Cunha de Figueiredo Torres
não do povo. Como aceitar que um político eleito pela população  ENTREVISTA-----------------------------------------------26
para defender o patrimônio do Estado, crie todas as facilidades para Etiópia, um país legendário e fascinante
Rosa Clara Franzoi
beneficiar as transnacionais e coloque-se contra a população que
exige um direito legítimo? O que dizer da Lei Kandir que no Brasil  AMAZÔNIA-----------------------------------------------28
concede isenção total de impostos sobre os nossos minérios e tudo Sares: Serviço de Ação, Reflexão e Educação Social
Cláudio Perani
que é exportado... Na Bolívia, como no Brasil e em tantos países,
sempre as riquezas se vão e o que sobra é a miséria.   Volta ao Brasil---------------------------------------30
Notícias do Brasil
CESE / CIMI / CNBB

Missões - Jul/Ago 2005 3


Mural do Leitor
Ano XXXII - no 06 Julho/Agosto 2005 Leigo e Missão

Diretor: Jaime Carlos Patias Vibramos com os artigos sobre os lei-


gos (rubrica Formação Missionária, escrita
Editor: Maria Emerenciana Raia pelos padres Luiz e Lírio nas últimas quatro
edições). Nós havíamos falado sobre a
Equipe de Redação: Joaquim F. Ação Católica num encontro na paróquia.
Gonçalves, Cristina Ribeiro Silva e Rosa Eu entrei para a JEC em novembro de
Clara Franzoi 1955 (há 50 anos!). Já naquele tempo
estávamos preocupados em atender às
Colaboradores: Alfredo J. Gonçalves, classes menos favorecidas. Foi bom vol-
Vitor Hugo Gerhard, Lírio Girardi, Luiz tar ao passado e ver a preocupação dos
Balsan, Salvador Medina, Michelangelo colégios católicos em nos envolver nos
Piovano, Júlio César, Marinei Ferrari, movimentos, buscando solução para as
Roseane Araujo injustiças sociais (fome, desemprego...). esse “olhar clínico” para ver e buscar nela
Não era uma Igreja paternalista, mas o “remédio” para as suas vidas. Mas o
Agências: Adital, Adista, CIMI, CNBB, que dava o anzol e ensinava a pescar. importante é que a revista está chegando
Dom Hélder, IPS, MISNA, Pulsar, Va- Eu sou fruto deste milagre. Nunca es- às mãos de muitas famílias.
ticano moreci ante os desafios que surgiram na Aqui no Rio Grande do Sul, dia 1o de
caminhada. Aprendi a reivindicar não só maio realizou-se a 10a Romaria Estadual
Diagramação e Arte: Cleber P. Pires os meus direitos, mas também daqueles do Trabalhador e da Trabalhadora, em
que não tinham vez, nem voz. Nunca Caxias do Sul. Promovida pela Pastoral
Jornalista responsável: aproveitando dos tradicionais “jeitinhos”, Operária do Estado, a Romaria, este ano
Maria Emerenciana Raia (MTB 17532) mas procurando os trâmites legais. E a teve como tema: “Trabalho, fonte de dig-
cada conquista agradecia a Deus por ter nidade, direito de todos!”. Cerca de 10 mil
Administração: Eugênio Butti aprendido a colocá-lo acima de tudo, a pessoas debateram direito ao emprego,
fazer a experiência d’Ele, através da oração educação, saúde e moradia.
Sociedade responsável: diária da imitação de Cristo, participando Outro evento foi o 1o Filó Italiano,
Instituto Missões Consolata do Apostolado da Oração, das Filhas de realizado em Três de Maio para celebrar
(CNPJ 60.915.477/0001-29) Maria e de outros movimentos. os 130 anos da chegada dos imigrantes
italianos no Sul do país. A Noite Italiana
Impressão: Edições Loyola Alenyr Vizeu foi promovida pela ACITRE - Associação
(11) 6914.1922 Paraíba do Sul, RJ Cultural Italiana de Três de Maio e Região.
Celebrou-se uma missa em italiano, gru-
Colaboração anual: R$ 35,00 Espiritualidade pos de cantores e de dança animaram o
AG: 545-2 CC: 38163-2 - BRADESCO evento e pratos típicos da culinária italiana,
Soc. Missionários de N.S. Consoladora Adorei o texto sobre Nossa Senhora junto com um bom vinho, fizeram parte da
(a publicação anual de Missões é de 10 números)
Consolata, edição de junho, de autoria de programação.
Salvador Medina. É muito bom conhecer
Missões é produzida pelos
a história, além da origem do nome Con- Teresinha Turra
Missionários da Consolata
solata. Cada vez mais a revista melhora. Rocinha, Três de Maio, RS.
Fone: (11) 6256.7599
Assim, estamos também disponibilizando
Missionários da Consolata
no site da paróquia São Brás, em Plata- Assinatura de Missões
forma, na coluna “combustível espiritual”
Rua Josimo de Alencar Macedo, 413
os ótimos textos. Fica aqui o convite para Foi com muita alegria que efetuei meu
Cx.P. 207 - 69301-970 Boa Vista/RR
todos viajarem conosco no trem da Missão: cadastro para ser assinante da revista
Fone: (95) 224.4109
www.tremdamissao.cjb.net Missões. Mais feliz ainda fiquei ao receber
Até mais! Sucesso! o primeiro exemplar como assinante. Eu já
Membro da PREMLA (Federação de
Imprensa Missionária Latino-Americana)
era leitora de "empréstimos" e da Internet.
Diniz Giuseppi Aproveito para parabenizar toda a equipe
Salvador, Bahia e, em especial os padre Salvador Medina e
Redação Stephen Murungi, residentes em Salvador,
Rua Dom Domingos de Silos, 110 Romaria e Noite Italiana Paróquia São Brás, Plataforma. Foi atra-
02526-030 - São Paulo Espero que todos estejam bem e vés deles que me apaixonei pelos artigos
Fone/Fax: (11) 6256.8820 sempre trabalhando com dinamismo mis- desta revista. Fiquem com Deus!
Site: www.revistamissoes.org.br sionário na coordenação e elaboração da
E-mail: redacao@revistamissoes.org.br revista Missões, excelente no conteúdo Cledinalva dos Reis Nunes
e qualidade. Pena que muitos não têm Salvador, BA.

4 Jul/Ago 2005 - Missões


As terras indígenas

OPINIÃO
de Mário José Gonçalves e Aparecido Barbosa de Lima

A
demarcação das terras indígenas o que afirmam os maus intencionados, que povo indígena na sua formulação e não dos
brasileiras deve ser feita de forma apostam no fracasso e são contra os investi- gabinetes do Poder Público, sofrendo toda
urgente e irreversível, porque se mentos públicos em políticas de apoio à causa sorte de influência negativa dos mais variados
essa discussão se prolongar sem indígena. Ao contrário, melhor que o branco, o interesses que se opõem à causa. Sem isto
solução concreta por mais tempo, índio responde mais positivamente aos inves- não é possível um projeto de desenvolvimento
não teremos mais povos indígenas timentos de apoio que lhe são feitos. O senso econômico sustentável, social e cultural do povo
a preservar, mas simples grupelhos que serão de honra mais rígido que o do branco, aliado ao indígena. A inimputabilidade, a incapacidade
confundidos com os caboclos, trabalhadores sentimento de vida coletiva e de partilha numa civil e a tutela do Estado garantidos na Cons-
rurais mal remunerados, ribeirinhos, caiçaras, vida em comum, garante um bom resultado no tituição Federal não pretendem reduzir o povo
mas nunca reconhecidos como índios. É o que
deseja a cultura do branco, com raras exceções:

Jaime C. Patias
dizimar para não dividir espaços nem riquezas.
Num primeiro momento a razão está com a
simples e imediata demarcação: isolar para
proteger, para preservar. As reservas têm sido
criadas como se fossem solução final adequada
para a questão. Mas só isto não basta. Todas
as culturas evoluem, desde que não sejam
dizimadas. Nosso índio não é idiota, nem
pretende continuar na idade da pedra lasca-
da. Quer evoluir, mas a seu modo. Para isto
ele quer respeito e quer tempo, como pessoa
humana e como povo. Somente a demarcação
das terras não assegura um bom futuro eco-
nômico, social e cultural para as comunidades
indígenas. É preciso mais. Desde os tempos
do antigo Serviço de Proteção aos Índios não
temos uma política séria e correta a respeito
da questão indígena. Tudo parece ser tratado
como mero problema administrativo, como é
a questão das estradas etc., e não como uma
questão que precisa ter tratamento adequado
com políticas claras para um povo que nos
antecedeu nesta terra. Na maioria das vezes
o problema é levado adiante com critérios nem
sempre recomendáveis porque procura não
afetar interesses políticos de quem se sente
incomodado com a proximidade dos índios, sob
alegação de que impedem o desenvolvimento, 33ª Assembléia dos Povos Indígenas de Roraima, 2004.
ou procurando não afetar também o bolso de investimento corretamente aplicado no apoio da indígena a um bando de alienados mentais
quem gananciosamente se beneficia de terras promoção da qualidade de vida nas comunidades que não consegue prover a própria vida. Pelo
fáceis e baratas. indígenas, principalmente quando apoiado em contrário, impõem cuidados e atenção espe-
É imperioso que nessa política haja uma ações motivadoras discutidas bilateralmente cial a um povo altivo, cheio de sabedoria e de
mudança de tratamento unilateral da questão com as partes envolvidas. senso de Justiça, que merece ser tratado com
indígena. Os índios já tiveram uma evolução No geral o desapego a um consumismo a mesma dignidade de qualquer ser humano.
considerável e possuem lideranças próprias, doentio, uma cultura de respeito às crianças, aos Principalmente na partilha da escolha do seu
idôneas e aptas a representá-los na discussão idosos, às viúvas, à solidariedade numa socie- próprio destino. Ainda que a solução possa
por soluções mais adequadas e para o enca- dade sem excluídos, apoiada numa economia parecer utópica, é um desafio que precisa ser
minhamento do processo de condução da sua solidária de subsistência e de justa distribuição encarado o mais rápido possível. Não há como
vida. O primeiro passo é reconhecer que têm dos alimentos e dos poucos pertences, seriam adiar mais. 
condições de participar do processo de condução fortes ingredientes para um resultado positivo
da questão. O segundo é possibilitar mecanismos na definição de uma correta política para a Mário José Gonçalves e Aparecido Barbosa de Lima
de participação nesse processo. questão indígena, se ela viesse sobretudo de são membros da Comissão de Direitos Humanos
Índio custa dinheiro e não dá retorno. É um processo de discussão e participação do da Diocese de Jales, SP.

Missões - Jul/Ago 2005 5


Supremo ‘derruba’ Liminar que
mandava retirar índios da aldeia

N
o dia 10 de junho, o ministro Carlos Aires de Brito, decisão é mais uma vitória que fortalece a homologação da
do Supremo Tribunal Federal, deferiu Liminar para Raposa, permite que os indígenas possam viver e trabalhar com
suspender todas as ações possessórias que tramitam tranqüilidade. A gente agora aguarda que o STF acabe com a
na Justiça Federal de Roraima em favor de ocupantes ação possessória que deu origem ao mandado. Esse foi o outro
não-índios da terra indígena Raposa Serra do Sol. pedido que fizemos ao tribunal”, explicou a advogada.
Com isso, as famílias macuxi que vivem na aldeia José Wilson foi um dos proprietários de terra que entrou na
Brilho do Sol, não são mais obrigadas a deixar a reserva, con- Justiça em 2004 com ações possessórias que questionavam a
forme havia sentenciado o juiz Helder Girão Barreto. portaria 820, de 1998, que estabelecia a demarcação em área
Além da ação possessória impetrada por José Wilson da contínua da Raposa Serra do Sol. A maioria dessas ações foi
Silva, Aires de Brito “suspendeu até o julgamento do mérito revogada porque o plenário do STF as julgou prejudicadas pela
da Reclamação 3331”, outras ações ingressadas na Justiça “perda de objeto” – já que as terras, agora, eram indí­genas –, mas
Federal de Roraima pelos arrozeiros Paulo César Quartieiro, a ação possessória em questão não constava da lista analisada
Genor Luis Faccio e Nelson Itikawa e pelo pecuarista João pelos ministros.
Gualberto Sales. A comunidade Brilho do Sol fica na região do Baixo Cotingo,
O ministro acatou os pedidos da Advocacia Geral da União, no sul da Raposa Serra do Sol. Ela faz parte de um grupo de
Funai e da própria comunidade Brilho do Sol, por entender que é quatro aldeias que foram reocupadas pelos indígenas no segun-
do Supremo a competência para julgar as ações que envolvem do semestre do ano passado, como uma estratégia para fazer
a terra indígena Raposa Serra do Sol, homologada em 15 de resistência à expansão dos arrozais dentro da terra indígena.
abril pelo presidente Lula. No dia 23 de novembro de 2004, quatro aldeias e dois retiros
Joênia Wapichana, assessora jurídica do Conselho Indígena indígenas tiveram as casas queimadas por um grupo suposta-
de Roraima (CIR), peticionou ao STF que suspendesse imedia- mente liderado pelos rizicultores. O caso está sendo investigado
tamente a execução do mandado de manutenção e reintegração pela Polícia Federal. 
de posse concedido pela 1ª Vara de Justiça Federal de Roraima a
José Wilson da Silva, ex-comandante da Polícia Militar (PM).”Essa Fonte: CIR
Arquivo CIR

6 Jul/Ago 2005 - Missões


pró-vocações
A importância
O “acaso” não existe. Tudo é
previsto por alguém que nos ama.

das "borboletas" na vida


de Rosa Clara Franzoi

"D
urante a Segunda Guerra Mundial, na Checoslováquia,
um trem noturno estava correndo em alta velocidade,
bem lotado. O maquinista e seu ajudante, atentos,
olhavam a estrada iluminada pelos faróis do trem.
De repente, os dois viram à frente uma sombra,
como se fosse uma grande mão fazendo sinal para
parar. Bastante assustados, frearam o trem e desceram para
ver o que estava acontecendo.Quando descobriram, respiraram
aliviados. O que acontecera? Uma borboleta entrara no farol do
trem e batia as asas diante da lâmpada, criando uma imagem de
mão. Mais tranqüilos, foram andando para frente pelos trilhos e
a mais ou menos uns 30 metros, pararam aterrorizados: a ponte
sobre a qual deveriam passar não existia mais, fora totalmente
destruída por uma bomba...”

“Acaso” e “coincidências” não existem

Ermanno Savarino
Neste fato, relatado como verídico, percebemos uma importante
lição vocacional. O maquinista e seu ajudante estavam atentos,
perceberam o sinal e assim puderam fazer também o passo
seguinte que foi o de acolhê-lo e atendê-lo, evitando a terrível
catástrofe. Eles eram livres, poderiam não ter dado atenção e quer realizados e felizes, vai semeando muitas “borboletas” em
considerado aquilo uma bobagem. Se observarmos com atenção, nosso caminho. Mesmo aquilo que julgamos mera coincidência,
nossa vida está repleta de “sinais”: uns nos indicam passagem tem sua procedência e seu objetivo. Tudo é previsto.
livre, outros nos colocam em estado de alerta, outros ainda nos
mandam parar. Hoje, vivemos todos correndo pela vida, no mais Nós somos livres para aceitar ou não
das vezes em alta velocidade e não nos damos conta de quanta Deixando-nos plena liberdade de aceitar ou não, estes
coisa ao nosso redor nos fala, nos transmite mensagens, nos dá sinais vão orientando e mostrando os caminhos melhores que
algum sinal indicador. E menos ainda desconfiamos de onde e nos ajudam a construir bem o nosso futuro. A vida moderna nos
por quem estes sinais nos chegam. Precisamos nos convencer enche de atrativos que nos roubam a maior parte do tempo que
de uma coisa: “Nada, absolutamente nada, acontece por acaso”. deveríamos dedicar à reflexão. Vivemos uma intensa poluição
Aquele Alguém, que é o Senhor das nossas vidas e que nos sonora e visual que enche rapidamente a nossa mente e nosso
coração, não deixando mais espaço nenhum. Não que tudo seja
ruim, mas também nem tudo é bom. Cabe a nós instalarmos
Quer ser um missionário/a? filtros para fazermos a seleção. Para selecionar é preciso parar e
descer, como fizeram o maquinista e seu ajudante. Saber parar
Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva Moratelli e descer à realidade pode ser uma preciosa oportunidade para
Av. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui tomar rumos novos e acertados para o futuro.
02611-011 - São Paulo - SP
Tel. (11) 6231-0500 - E-mail: rebra@uol.com.br Viver por viver não leva a lugar nenhum
Jovem! A vida é importante, porém, mais importante é o seu
Centro Missionário “José Allamano” - Pe. Joaquim Gonçalves sentido. Alguém já disse: “Diga-me em que você gasta seu tempo
Rua Itá, 381 - Pedra Branca
02636-030 - São Paulo - SP livre, no que você gasta o dinheiro de que dispõe, em que você
Tel. (11) 6232-2383 - E-mail: secretariamissao@imconsolata.org.br pensa continuamente, quais são as suas maiores preocupações,
os temas de suas conversas... e eu delinearei o seu futuro”. Se
Missionários da Consolata - Pe. César Avellaneda quiser aprofundar mais o tema, leia o texto de Mt 7, 24-29, sobre
Rua da Igreja, 70-A - CXP 3253 a casa construída na rocha. 
69072-970 - Manaus - AM
Tel. (92) 624-3044 - E-mail: imcmanaus@manausnet.com.br Rosa Clara Franzoi é irmã missionária e animadora vocacional.

Missões - Jul/Ago 2005 7


iniciativas de missão e experiências de voluntariado
dirigidas a jovens, famílias, estudantes e seminaristas,
em diversos países do mundo. O objetivo é sensibilizar
sempre mais sobre o tema da “responsabilidade uni-
versal” da missão, e ajudar especialmente pequenas
Igrejas locais que estão crescendo, enviando também
profissionais que podem iniciar projetos úteis ao de-
senvolvimento das comunidades locais. Por isso, a
Arquidiocese de Seul olha para a pequena realidade
mongol. Um grupo de cerca de 30 voluntários está se
preparando para ir à Mongólia ocupar-se de projetos
nos setores da agricultura e da irrigação, e oferecer
um curso de um mês aos jovens da área.

Itália Vaticano
O jovem missionário Escravidão das mulheres
Quem é o jovem missionário? Que é a POIM? Com a constatação de que a prostituição é “um
VOLTA AO MUNDO

Como se transmite o amor pela missão aos mais ultraje à dignidade da mulher”, um Congresso cele-
jovens? Como fazer com que as crianças e os jovens brado no Vaticano buscou caminhos para enfrentar o
italianos se apaixonem pela POIM? Estas foram as desafio que a crescente demanda do comércio sexual
interrogações que se buscou responder no Segundo propõe. Ao inaugurar o encontro, o cardeal japonês
Congresso Nacional dos encarregados diocesanos e Stephen Fumio Hamao, presidente do Conselho
regionais da Pontifícia Obra da Infância Missionária Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itineran-
(POIM), realizado entre os dias 17 e 19 de junho, em tes, convidou os presentes a “assumir a defesa dos
Vico Equense, Salerno. direitos das mulheres”. O I Encontro Internacional de
O slogan escolhido para o Congresso foi “Jovens Pastoral para a libertação das mulheres de rua foi
unidos pela missão!”. Foram três dias de formação e convocado pelo organismo vaticano presidido pelo
animação missionária, com partilha das experiências purpurado e foi celebrado entre os dias 13 e 14 de
das Igrejas locais e de avaliação das iniciativas do junho no Palácio de São Calisto. A cada ano, a vida
Secretariado Nacional. de um milhão de pessoas fica abalada pelo tráfico
de seres humanos. Na Tailândia, por exemplo, entre
Uganda 150.000 e 200.000 mulheres, muitas delas menores
Assembléia dos Bispos da AMECEA de idade, acabam na rua, constatou-se no encontro.
“Pedimos a todos, sacerdotes, religiosos, fiéis Meio milhão de mulheres procedentes da Europa
leigos, governos e agências não-governamentais, que oriental são escravizadas e obrigadas a prostituir-se
trabalhem unidos para deter a difusão desta chaga nas ruas da Europa ocidental.
que está devastando as populações de nossa região”.
É o forte apelo dos bispos da AMECEA (Associação Estados Unidos
dos Membros das Conferências Episcopais da África Conferência Binacional sobre Migração
Oriental) para combater a difusão da AIDS na região. Bispos, sacerdotes, dirigentes políticos e movi-
O apelo foi lançado na conclusão da 15ª Assembléia mentos leigos encontraram-se, de 23 a 26 de junho,
Plenária da Associação, realizada em Uganda. A men- na cidade de El Paso, Texas, na primeira Conferência
sagem reitera a exigência de ir até as raízes da difusão Binacional sobre Migração, promovida pela Igreja
da AIDS: pobreza, avidez e corrupção, ignorância e Católica do México e dos Estados Unidos. “Juntos no
analfabetismo, desemprego, guerra e presença de caminho da esperança, já não seremos estranhos”
refugiados e desabrigados internos, discriminações foi o lema proposto. Um tema que diz respeito aos
entre sexos, comportamentos imorais, desrespeito quase 500 mil mexicanos que, a cada ano, cruzam
dos direitos das crianças. Durante a Assembléia, os a fronteira, em busca de trabalho, e à comunidade
bispos debateram também outros problemas que hispânica nos EUA, em seu conjunto, que já conta
afetam a região: o impacto da globalização, o can- 45 milhões de pessoas. A conferência baseou-se
celamento da dívida, os conflitos no Sul do Sudão, numa carta que os bispos de ambos os países subs-
em Darfur, no Norte de Uganda, e as tensões entre creveram, em 2003. Nesse documento defendiam a
Etiópia e Eritréia. “globalização da solidariedade entre os povos”, termo
contido na exortação apostólica pós-sinodal “Ecclesia
Coréia do Sul in América”, de João Paulo II. Os trabalhos da Con-
“Igreja que recebe” a “Igreja que doa” ferência abordaram temas como a ajuda pastoral
Aumenta o senso de missão na comunidade cató- aos trabalhadores agrícolas, o desenvolvimento das
lica coreana. “De Igreja que recebe, queremos cada políticas migratórias em ambos os lados da fronteira,
vez mais ser Igreja que doa”, afirmou a Conferência os direitos humanos dos clandestinos e as vítimas do
Episcopal da Coréia. tráfico de seres humanos. 
Diversos grupos e movimentos eclesiais, institutos
religiosos, paróquias, associações, estão organizando
um verão marcado pela missão Ad Gentes, promovendo Fontes: Boletim Rádio Vaticano, El Observador, Fides, Zenit.
8 Jul/Ago 2005 - Missões
INTENÇÃO MISSIONÁRIA
Para que os sacerdotes, os religiosos e as
Divulgação

religiosas, os seminaristas e os leigos dos países


missionários, enviados à Roma para lá concluir
sua formação, encontrem na “Cidade Eterna”,
uma oportunidade de enriquecimento espiritual.
Também fiz meus estudos complementares em Roma. Já faz
quase duas décadas e eles me servem ainda hoje como duas
vertentes para o ministério sacerdotal. De um lado, os estudos
acadêmicos, sempre necessários para entender melhor as coi-
sas. De outro lado, a experiência da internacionalidade. Estar
Para que os batizados sejam agentes em Roma, rodeado de estudantes de todas as partes do mundo,
pode significar um enriquecimento pessoal que vale quase como
transformadores, irradiando a luz do Evangelho outro curso superior. Costumo dizer que um agente da evangeli-
zação deve cuidar sempre de, ao menos, quatro dimensões que
sobre as ideologias e as estruturas da sociedade. formam a pessoa. A dimensão intelectual. Cuidar bem do dom
da inteligência que nos foi dado é tarefa permanente e necessária.
O cuidado na leitura diária, o aperfeiçoamento da linguagem, o
de Vitor Hugo Gerhard tempo para a reflexão pessoal, são alguns dos aspectos a serem
sempre levados em consideração. A dimensão humano-afetiva.

O
Nestes tempos de grandes agitações e instabilidade emocional
batismo torna pública a nossa condição de filhos de a que somos submetidos, um bom cuidado da nossa afetividade
Deus e membros da Igreja. Também nos introduz é fundamental, para não nos perdermos nos atoleiros dos afetos
na fé de nossos pais, herança bendita que nos faz desordenados ou da necessidade de doses cada vez maiores
ver com outros olhos a trajetória da humanidade, de adrenalina. A auto-estima faz parte da vida de todos aqueles
seus feitos fabulosos e suas fragilidades. O batismo que desejam manter uma vida afetiva saudável. A dimensão
nos torna sujeitos ativos na história humana, capa- operativa. Somos homens e mulheres capazes de produzir,
zes de intervir nela de forma decisiva. Em sua carta Encíclica de transformar, de intervir na criação, como continuadores da
Redemptoris Missio, de 1991, o papa João Paulo II nos lembra obra do Senhor. O fruto do nosso trabalho servirá, não só para
que a presença dos cristãos no mundo é sempre uma via de o nosso sustento, como também para dizer, de alguma maneira,
mão dupla. Na medida em que somos capazes de irradiar o quem nós somos. A dimensão transcendental. Por mais que
Evangelho nas culturas, somos igualmente influenciados por alguns queiram negar, somos seres necessariamente espirituais,
elas, num processo de crescimento e transformação. voltados para a transcendência e carentes do alimento espiritual.
É bem verdade que nem todos os cristãos são capazes de Encontrar o tempo e as motivações suficientes parece ser urgente
perceber a força do seu batismo, e vivem mais no acostamento nestes tempos de distração, de busca do prazer e do predomínio
das estradas da vida do que propriamente andando sobre elas do efêmero.
e colaborando na construção de projetos que promovam a digni- Neste sentido, a experiência em Roma pode ajudar em todas
dade humana, a justiça e a paz. Mas isso não invalida o sentido essas dimensões. Iluminar o entendimento com os estudos,
do sacramento e seu significado. O pluralismo cada vez mais para definir com mais clareza os critérios que irão nortear a
avassalador das ideologias e sua força promovida pelos meios ação missionária. Abrir os horizontes do coração, para relações
de comunicação, parecem estar condicionando não só o agir afetivas mais amplas e universais, ajudando-nos a perceber a
dos cristãos, mas sua própria identidade. É comum escutar que amplitude das culturas e a riqueza do gênero humano. A troca
o mais importante é ter Jesus no coração, como se a fé fosse de experiências na variada e copiosa iniciativa pastoral e evan-
algo necessariamente privado e subjetivo, como se a vontade gelizadora, tão diferente e ao mesmo tempo tão igual em todos
de Deus para com Sua obra criada não estivesse revestida de os rincões da terra. Variada porque fruto dos carismas... igual
um projeto com critérios e metas bem definidas. porque fruto do mesmo Espírito. Por fim, Pedro e Paulo, Santa
Também se escuta com certa freqüência que a Igreja e os Mãe Maria e todos os Santos e Santas que gravitam em Roma,
cristãos devem se ocupar dos assuntos religiosos, deixando para certamente irão inundar os espíritos de uma paixão incontida
o “mundo” cuidar de si mesmo. O caminho não está nem tanto pelo Reino do Senhor. O difícil, às vezes, é voltar para casa e
ao mar, nem tanto à terra. Sacralizar o profano ou profanizar o recomeçar cada dia, curtir a saudade dos tempos de Roma e
sagrado nunca deu certo. Deixá-los separados, como duas ins- realizar plenamente o ministério a que somos chamados. 
tâncias autônomas parece também não ser o caminho. A relação
entre fé e vida parece ser o caminho espinhoso a ser seguido, se Vitor Hugo Gerhard é sacerdote e coordenador de pastoral
acreditamos que um dia haverá um só rebanho e um só Pastor. da Diocese de Novo Hamburgo, RS.

Missões - Jul/Ago 2005 9


Vocação
espiritualidade

à santidade
Não podemos afirmar que os santos sejam
gente do passado. Não! Hoje também temos
santos e santas. Aliás, em cada época o
Espírito Santo suscita os que são necessários.

de Salvador Medina

H
oje, no mundo da rua e dos lares, do trabalho e do
lazer, da ciência e da tecnologia, dos negócios e da
economia, das artes em geral e da comunicação, da
política e da diplomacia, se escuta falar bem pouco de
santidade. Parece coisa do passado, fora de moda,
arcaica e fora do cotidiano da gente. Como se ninguém
quisesse ser santo, como se todo mundo se protegesse para
não ser chamado de santo, nem aparecer como tal. Estranha
constatação num contexto de tantas espiritualidades.
Na verdade, não é bem assim! Já escutei várias pessoas das
Comunidades Eclesiais de Base, jovens e adultos de diferentes
movimentos religiosos, crianças da Infância Missionária e pes­
soas da terceira idade confessar, na intimidade da comunicação:
“quero ser santo!” Já li em vários textos de Constituições da Vida
Consagrada, como nos corações de muitos religiosos autênticos,
projetos de santidade.
A morte e o funeral de João Paulo II permitiram aos comuni­
cadores e formadores de opinião pública apresentar ao mundo
o espetáculo e o mistério do sagrado, do santo, da santidade
e da santificação, sob o prisma do cristianismo e, particular­
mente, da Igreja Católica. Em muitos dos surpreendidos ou
Jaime C. Patias

entristecidos espectadores, admiradores do personagem ou


Dia Nacional da Juventude, seguidores do mesmo Jesus Cristo por ele vivido e anunciado,
2004 - Praça da Sé, SP. deve ter ficado alguma idéia sobre a santidade. Pessoalmente
me aproximei de várias pessoas perguntando sobre a santidade.

10 Jul/Ago 2005 - Missões


Colhi algumas respostas: “é algo do

Domenico Brusa
passado, conservador e antiquado,
regido por longas listas de normas
morais e comportamentais sem peso
científico”; “é algo muito difícil de
atingir e por isso mesmo para gente
importante, heróis, personagens ou
líderes de religiões ou movimentos
espirituais”; “trata-se de alguma coisa
relacionada com templos, mesquitas,
conventos ou lugares sagrados, onde
se reconhecem os poderes e valores
de alguns poucos mortais, mas só
depois da morte”.

Santidade:
um projeto de vida
Pensando bem, uma vez que re­
conhecemos a vida como um dom
divino e nos assumimos responsáveis
por vivê-la bem e para o bem, nos
encontramos com a verdadeira e única
vocação: a santidade como projeto de
vida. Todos, independente do estado
de vida - solteiros ou casados, consa­
grados, ordenados ou leigos - somos
Nascer do sol no oeste de Showa, Etiópia.
chamados a ser santos ou perfeitos,
como o Pai do céu: “Sede perfeitos, como vosso Pai celeste é ajuda a santificar a terra e a criação em geral. O ser humano,
perfeito”, tal como convida Jesus no Sermão da Montanha (Mt além de encarnado e inculturado no presente imanente, busca o
5, 48). Ele nos exorta a viver as relações humanas segundo a lei transcendente, esse mesmo que Jesus de Nazaré revelou como
do amor fraterno e o poder do serviço entre iguais e diferentes, Pai da misericórdia, com entranhas de Mãe compassiva. Com
trabalhando com responsabilidade e carinho a “terra mãe” e parti­ Ele a humanidade, através da fé, entra em diálogo permanente,
lhando o pão cotidiano com justiça solidária. Podemos nos inspirar escuta suas revelações e eleva orações. Esse Divino que se fez
em Jesus como recomenda Pedro, um dos primeiros chamados: humano nos libertou do pecado e da morte e nos tornou santos
“como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos para a eternidade.
em todo o vosso procedimento” (1Pd 1, 15); e sermos guiados,
iluminados e fortalecidos pelo Espírito santificador (cf. 1Pd 1, 2) Este chão também dá santo
que nos impulsiona a construir e celebrar a paz, dizendo com a A santidade não é uma planta selvagem, ela precisa ser
vida e a voz: “santificado seja o teu nome” (Mt 6, 9). cultivada; também não é exclusiva deste ou daquele terreno.
Este chão também dá santo. Tampouco podemos afirmar que os
Para ser santo é preciso ser humano santos são gente do passado. Não! Hoje também temos santos
No parágrafo anterior nos referimos à vida como dom, à e santas. Aliás, em cada época o Espírito de Deus suscita os
vocação como missão e à santidade como projeto. Tratamos a santos necessários. Ao mesmo tempo, que ninguém pense que
vida como dom divino, a vocação como chamado de Jesus e a santos são apenas os canonizados oficialmente pelo papa, na
santidade como obra do Espírito santificador. Mas todos esses Igreja Católica. Todas as Igrejas e religiões, na medida em que
componentes de fé e obediência ao Pai do céu, de amor e doação formam seres plenamente humanos, estão gerando santos ou
fraternal no seguimento do Filho enviado do Pai e de esperança santas que poderão ajudar na transformação deste mundo “de
na ação solidária animada pelo Espírito Santo consolador e liber­ selvagem em humano e de humano em divino”. Estarão cola­
tador, exigem uma “carne”, uma humanidade, para a encarnação borando assim na construção do Reino de Deus, anunciado e
e uma “cultura” para a inculturação. Queremos então dizer, que instaurado por Jesus Cristo, durante sua vida histórica, lá na
a santidade é encarnada e inculturada, do contrário não chega Palestina, e do qual esperamos fazer parte, na hora definitiva,
a ser resposta pessoal à vocação universal. junto com toda essa imensa multidão, que ninguém consegue
Para ser santo é preciso primeiro ser humano: quanto mais contar, vinda da grande tribulação dos tempos (cf. Ap 9, 14-17).
humano, mais santo e, quanto mais santo, mais humano. Na Lá viveremos a verdadeira comunhão dos santos. 
medida em que aprende a viver e a conviver com os outros, os
diferentes, buscando tecer as relações sociais com respeito e Salvador Medina é sacerdote missionário e pároco da Paróquia São Brás, Salvador, BA.
dignidade, suscitando e construindo comunidades animadas pelo
amor doação, o ser humano se humaniza. Também aprende a
amar e quem ama até se doar, gratuitamente, se faz santo e
Para Refletir
ajuda os outros a se santificar. O ser humano procura sempre 1. Podemos identificar alguns santos ou santas entre os membros das nossas Igrejas, congregações,
viver com dignidade e qualidade e para isso trabalha, cultiva, instituições e comunidades. Por que os catalogamos assim?
constrói, transforma, compra, troca, vende etc. Se faz mais hu­
mano ao partir e repartir os bens, a terra e o pão, sem perder a 2. Como podemos viver hoje a fé, a esperança e a caridade, virtudes fundamentais que nos
esperança na fraternidade cósmica e universal. Também apren­ permitem ser profundamente humanos e santos?
demos a partilhar e quem partilha até se repartir se faz santo e 3. Tentemos fazer um levantamento e definir o perfil da santidade para hoje.

Missões - Jul/Ago 2005 11


Reforma agrária
cidadania

e corrupção

Valter Campanato_ABr
Na contramão da corrupção
lutam os trabalhadores,
que no final das CPIs, são
os que pagam a conta.
Trabalhadores sem-terra na Esplanada dos Ministérios.

de Alfredo J. Gonçalves as instâncias e o prestígio público em benefício do patrimônio


privado. Público e privado tornam-se facilmente intercambiáveis,
a tal ponto que o próprio político não saberia mais distinguir um

U
do outro. Que dirá o povo que muitas vezes o elegeu!
ma rápida olhada em jornais, revistas e noticiários Ao lado do patrimonialismo, como filhotes bastardos de um
televisivos, por um lado, e na chamada imprensa pai comum, proliferam com abundância o coronelismo, o perso-
alternativa ou nanica, por outro, evidencia dois temas nalismo, o populismo, e outros “ismos”, tão freqüentes quanto
de destaque nas últimas semanas: a reforma agrária nocivos. Evidente que nesse emaranhado de fios que tecem e
e a corrupção. O primeiro tema se sobressai devido mesclam o espaço público e o privado, o terreno torna-se fértil
à Marcha Nacional pela Reforma Agrária, realizada a desvios, a práticas corruptas e a alianças inescrupulosas.
entre Goiânia e Brasília, de 1º a 17 de maio, com cerca de doze Quando o véu se rasga e as “maracutaias” vêm à tona, das duas
mil pessoas. Quanto ao segundo tema, tem sido, recentemente, uma: ou os políticos correm para se proteger uns dos outros, ou
manchete de capa em numerosos veículos de comunicação. Na para apontar o dedo em riste sobre os adversários. O resultado
cabeça, entre tantos outros, o escândalo de propina envolvendo é que as CPIs da corrupção, que têm sido a grande maioria,
o alto escalão dos Correios e o “mensalão”. costumam abrir-se com ímpeto profético e promissor, para logo
O que uma coisa tem a ver com a outra? Enquanto os tra- serem melancolicamente abortadas.
balhadores e trabalhadoras rurais pressionam o governo federal O pior é que muitos políticos que antes erguiam a CPI como
pela agilização da reforma agrária e por uma política econômica um bordão contra os corruptos, hoje procuram desativar essa
voltada para as necessidades mais urgentes da população de “bomba”, a qual, segundo sua nova forma de pensar, pode com-
baixa renda, a corrupção revela o desvio de vultosos recursos prometer os rumos da política econômica ou antecipar o calendário
financeiros pelo ralo da tradicional promiscuidade entre o público eleitoral. Os antigos arautos da ética e da transparên­cia agora
e o privado. Se, à prática da corrupção, juntarmos o montante parecem preferir as trevas à luz. Enquanto isso, o Congresso
orçamentário desviado para o pagamento de juros e serviços da Nacional permanece paralisado, movendo-se apenas em reação
dívida externa, mediante o superávit primário, será fácil concluir aos torpedos das Medidas Provisórias.
porque os serviços públicos sofrem de deterioração crescente Na contramão desse vício histórico e estrutural da tradição
e de precariedade crônica. política brasileira, marcham os trabalhadores e trabalhadoras
sem-terra. Na contramão, silenciosamente gritam as filas do INSS,
Patrimonialismo brasileiro os buracos das estradas, o peso insuportável dos tributos, os
Uma outra olhada no clássico estudo de Raymundo Faoro famintos à beira de latifúndios improdutivos, os desempregados
poderia nos fornecer uma chave de leitura para entender o mo- e subempregados, os migrantes aos milhares e milhões, enfim
mento presente. Afinal, quem não conhece a própria história, está a imensa multidão dos “sem”. Na contramão, organizam-se
condenado a repetir seus erros. Na minuciosa análise sobre a e lutam os movimentos sociais, com os pés no chão, com as
formação do patronato brasileiro, feita na obra “Os Donos do Poder”, mãos entrelaçadas e com e esperança teimosa de construir uma
o autor utiliza o conceito de patrimonialismo para explicar a apro- sociedade justa, solidária e democrática. 
priação privada da “rex publica”. Ou seja, os políticos tradicionais
passam a administrar o município, o estado ou a nação como se Alfredo J. Gonçalves é sacerdote carlista, assessor da Comissão para o Serviço da Caridade,
fossem extensões de sua propriedade particular. Utilizam o erário, Justiça e Paz – CNBB.

12 Jul/Ago 2005 - Missões


Consagradas

Testemunho
O SEARA Franciscano é um
Instituto Secular de vida
contemplativa e fraterna vivida

para o mundo
no mundo e a partir do mundo,
segundo o espírito de São
Francisco de Assis.
de Maria Lúcia de Jesus período inicial onde a candidata conhece o Instituto; dois anos
de prova, o que corresponde ao Noviciado na vida religiosa;
cinco anos de votos temporários e a formação permanente nos

O
votos perpétuos. O Instituto Franciscano SEARA está presente
SEARA foi concebido em 28 de janeiro de 1969, e em nove estados brasileiros, no Paraguai e em Portugal. Possui
em 21 de dezembro de 1994 aprovado pela Igreja. 14 membros no período inicial, 18 no período de prova, 20 com
Seu fundador, Frei Eurico de Melo OFM Capuchinho, votos temporários, 64 com votos perpétuos e 12 associadas.
viveu a maior parte de seu ministério sacerdotal A sede do Instituto se encontra em Tijucas do Sul, Paraná, no
entre as cidades de Ponta Grossa e Curitiba, no Eremitério Santa Clara. Lá, segundo Frei Eurico, é o “ninho
Paraná. Dedicou-se de forma apaixonada à vida quente” onde a família SEARA se reúne para retiros, encontros de
consagrada e ao sacerdócio. Iniciou as primeiras reflexões, formação, reuniões do Conselho e encontros das fraternidades.
sobre a fundação de uma forma de vida totalmente consagrada No Eremitério mora uma fraternidade de vida contemplativa que
a Deus, com rapazes e moças que se sentiam vocacionados. acolhe as irmãs que chegam.
Porém, queriam permanecer em suas realidades diárias, ou seja,
sem separar-se da família e de suas profissões. Expressões do rosto de Cristo
Podemos dizer que são três os modelos de Vida Consagrada:
Chamadas a transformar Contemplativa, Apostólica e Secular, de acordo com o mistério de
A Consagração Secular é uma vocação ainda recente no Cristo que querem expressar. A Consagração Secular existiu nos
sentido de existência oficial na Igreja. É, por isso, ainda pouco primeiros três ou quatro séculos da era cristã como primeira forma de
conhecida, mas de grande importância no mundo, que Vida Consagra-
cada vez mais exige “alas avançadas de guerrilheiros da. Ela foi sendo
do Evangelho”, nas ações e decisões que acontecem suplantada pela
“fora dos muros” da Igreja. Agem de forma diferen- Consagração Re-
ciada, nos espaços da comunicação, da política, da ligiosa. Para ma-
economia, da construção da “paz e bem” no mundo nifestar ao mundo
cada vez mais globalizado. o rosto de Jesus
que reza e bus-
Formação, compromisso e expansão ca a solidão para
Fotos: Arquivo SEARA

A formação dos membros do Instituto é feita em os encontros com


sua própria realidade. Segue os mesmos passos o Pai, nasceu a
de qualquer Instituto religioso, isto é: dois anos de Vida Consagrada
Contemplativa.
Para manifestar
ao mundo o ros-
to de Jesus que
anuncia o Reino de Deus pela palavra, ensino,
cura, perdão, bênção e expulsão dos demônios,
nasceu a Vida Consagrada Apostólica. Para ma-
nifestar ao mundo o rosto de Jesus que é amigo,
convive e caminha lado a lado com as pessoas
de seu tempo, radiante de graça, nasceu a Vida
Consagrada Secular. Jesus tem seu “jeitinho” de
fazer o convite: “Vem e segue-me!”
Deseja conhecer-nos um pouco mais?
Comunique-se conosco: Eremitério Santa Clara
- Estrada Rio Abaixo – Rincão - 83190-000,
Tijucas do Sul, PR. 

Maria Lúcia de Jesus, Moderadora Geral do Instituto,


é técnica de enfermagem e atual Secretária de Saúde
da Prefeitura Municipal de Cafelândia, PR.

Missões - Jul/Ago 2005 13


Só Deus basta
Testemunho
venezuela:
Superfície...............912.050 Km²
População..............24.200.000 hab.
Católicos.................92,7%
Capital....................Caracas

de Imelda Stefani
Ir. Imelda nasceu em Selva Del Mantello,
província de Treviso, Itália. Provém de uma

A
atração pela vida missionária começou cedo em mim,
quando eu tinha meus oito anos. Na preparação à
primeira comunhão, assisti o filme “Molokai – a ilha
família de agricultores, rica em valores
maldita”, que contava a história da vida e trabalho he-
róico do padre Damião Weuster, chamado de apóstolo
humanos e cristãos, na qual aprendeu a
dos leprosos. Fiquei cativada. Foi um amor à primeira
vista que orientou para sempre a minha vida. Olhando para trás,
viver a fé na vida cotidiana. É formada em
vejo que Deus me acompanhou com muito amor e ternura, na
infância, adolescência e juventude, através de pessoas que me
Ciências Sociais.
ajudaram a fazer um bom discernimento vocacional. Contudo,
o desejo de um dia tornar-me uma missionária parecia muito a oportunidade de ir ao Santuário de Nossa Senhora Consolata
distante. Eu não conhecia nenhum Instituto. Procurei, então, para confiar-lhe meus desejos e ouvi-la, assim como fazia o
compensá-lo, dedicando parte do meu tempo como catequista nosso fundador.
na minha comunidade paroquial. Ainda adolescente, com 14
anos, comecei a trabalhar numa fábrica, onde permaneci por Na Venezuela
sete anos. Aos 20 anos tive a oportunidade de conhecer dois Aos 35 anos fui destinada às missões da Venezuela. Com
Institutos Missionários ao mesmo tempo. Lembro-me que foi uma outras três irmãs, fomos iniciar uma comunidade no Amazonas
enorme alegria aquele dia. Estava se abrindo uma porta para a venezuelano, na localidade de Têncua, Alto Ventuari, entre os
realização do meu sonho. Dos dois, escolhi o das Missionárias indígenas yé cuana. O salto da Europa para a Venezuela foi
da Consolata, porque após as primeiras informações, percebi muito grande em todos os sentidos. De Caracas, viajamos 18
que a espiritualidade do fundador, o Bem-aventurado José horas de ônibus, mais uma hora numa pequena aeronave e 12
Allamano, como também aquele específico carisma da missão, horas de canoa. Em compensação, a paisagem era belíssima.
respondiam melhor ao que eu sentia no coração. Tínhamos diante de nossos olhos um estupendo tapete verde.
Não perdi mais tempo. Com 21 anos comecei a fazer parte Minha primeira exclamação foi: “Senhor, estou mesmo indo aos
da família, muito contente de estar colocando a minha vida a extremos confins da terra!”
serviço de Deus na missão. Tive a graça de viver os anos de A comunidade indígena nos acolheu com muita festa e alegria.
minha formação religiosa e profissional em Turim; isto me dava Pouco a pouco fomos aprendendo a difícil língua que falavam.
Procurávamos entender a sua cultura, usos e costumes, entrar
um pouco na sua religiosidade. Tudo aquilo era tão novo para
Jaime C. Patias

nós! Nos primeiros anos trabalhamos no campo da educação,


acompanhando os professores locais, ajudando-os a melhorar
a sua formação e abrindo várias escolinhas, pois o nível de
analfabetismo era muito elevado. Com os adultos foi possível
fazer um caminho de evangelização, dialogando sobre seus ritos
religiosos para entender-lhes o sentido. Algumas famílias depois
de um tempo de catecumenato pediram para ser batizadas.
Assim começou uma pequena comunidade cristã que continua
crescendo e dando frutos ainda hoje. Missa? Somente uma vez
por mês, devido à grande distância e a escassez dos meios.
Fazíamos belas e animadas celebrações da palavra. Como
sempre, no início as dificuldades não faltaram. Num só ano
trocamos três vezes de casa, até que foi construída a nossa, no
estilo dos yé cuana. Eles não usam móveis e por isso, nossas
malas serviam de armário e uma única mesa funcionava para
todas as utilidades. Esta experiência me ajudou muito a viver o
essencial, o “só Deus basta”. Depois de 25 anos de vida religio-
sa, não deixo de agradecer a Ele pelo grande dom da vocação
missionária e na fidelidade renovo a cada dia o meu “sim” na
sua presença que me diz: “não temas. Eu estou contigo todos
os dias até o fim dos tempos”. 

Imelda Stefani é missionária da Consolata na Venezuela.

14 Jul/Ago 2005 - Missões


A Missão no

Concílio Vaticano II
Siciliani-Gennari/SIR

Basílica de São Pedro, Vaticano, 18 de abril de 2005: missa para eleição do novo pontífice.

de Ramón Cazallas Serrano


Apresentaremos neste artigo as

N
o dia 7 de dezembro de 1965, há quase quarenta
anos, o papa Paulo VI, juntamente com os padres
idéias básicas do Vaticano II
conciliares, aprovava o Decreto Conciliar Ad Gentes sobre a Missão e as instituições
sobre a atividade missionária. Foi um momento
feliz para a Igreja universal, especialmente para missionárias, e mais tarde falaremos
a missionária.
Este Decreto fez um caminho sofrido na assembléia conciliar, sobre a Missão Ad Gentes hoje.
entre aqueles que queriam dar simples normas disciplinares e
os que queriam uma teologia missionária para a Igreja universal.
O Espírito Santo se fez presente através, sobretudo, dos bispos
missionários e daqueles nativos dos assim chamados “países de fez-se por nós necessitado, para que nos tornássemos ricos
missão”. Começava a surgir um episcopado africano e asiático, da sua pobreza (Cfr 2 Cor 8, 9). Desde a antiguidade os santos
sem esquecer a contribuição dos bispos latino-americanos que padres proclamam que “nada estaria remido que não tivesse
trabalhavam em dioceses verdadeiramente missionárias. sido primeiro assumido por Cristo”.
O programa de Jesus quando se apresenta na sinagoga de
Missionária por natureza Nazaré é o programa da Missão: “O Espírito do Senhor está sobre
A Igreja é enviada a todos os povos, obedecendo ao man- mim, porque Ele me consagrou com a unção, para anunciar a
dato do seu fundador. Todas as raças e culturas são chamadas Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação
a receber a boa notícia que Jesus traz com o seu Evangelho. aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os
Ela é peregrina e deve anunciar a todos os povos que encontra oprimidos” (Lc 14, 18).
em seu caminho a salvação, ou o alegre anúncio da vida e as O Espírito Santo está presente na Missão, a precede, a
palavras de Jesus de Nazaré. acompanha e a segue e dirige com a sua presença. A Igreja
A Missão tem como fonte a Trindade Santa. As três pessoas continua esta missão e explicita, através de sua história, a mis-
estão presentes na origem da Missão com amor eterno. Para são do próprio Cristo, que foi enviado a evangelizar os pobres.
entender este amor, o Filho, através da Encarnação, veio para Movida pelo Espírito Santo, deve seguir o mesmo caminho de
fazer-nos participantes da sua natureza divina, e sendo rico, Cristo: o caminho da pobreza, da obediência, do serviço e da

Missões - Jul/Ago 2005 15


Arquivo

Comunidade cristã em Nampula, Moçambique.

imolação própria até a morte, morte da qual Ele saiu vencedor As Igrejas dão e recebem, se convertem em Igrejas irmãs, parti-
através da ressurreição. A atividade missionária emana intima- lham os dons e carismas. A partir deste princípio, é consolador
mente da própria natureza da Igreja. E a Missão entre os gentios ver hoje os antigos países missionários (Espanha, Itália etc.)
difere da atividade pastoral que se exerce com os fiéis, ela usa o recebendo nas suas Igrejas particulares missionários africanos,
diálogo ecumênico. Não foi à toa que o ecumenismo nasceu na latino-americanos ou asiáticos. A Missão é transversal e não
Missão, perante o escândalo que muitas vezes a divisão produ- mais caminha em uma única dimensão.
zia nos não-cristãos. Este conceito será aprofundado nos anos “Os bispos, cada um com o seu presbitério, cada vez mais
seguintes, considerando o diálogo ecumênico e inter-religioso penetrados do sentido de Cristo e da Igreja, devem sentir e viver
como os pilares do novo conceito de missão Ad Gentes. com a Igreja universal. Deve manter-se íntima a comunhão das
A Missão Ad Gentes é aquela que tem como destinatários Igrejas jovens com a Igreja inteira, cujos elementos tradicionais
aqueles que ainda não crêem em Cristo. Ad Gentes é uma elas devem juntar à sua cultura própria, para fazer crescer a vida
expressão latina que quer dizer “aos povos”, entendendo-se do Corpo místico por meio de trocas mútuas. Por isso, devem
aqueles que ainda não conhecem Jesus Cristo. cultivar-se os elementos teológicos, psicológicos e humanos
que podem contribuir para fomentar este sentido de comunhão
A Igreja local como sujeito da Missão com a Igreja universal”. (Ad Gentes n.20).
Até o Vaticano II, praticamente a Missão era considera-
da como tarefa dos missionários, homens e mulheres que
davam a própria vida pela causa do Evangelho. As Igrejas Divulgação
locais ajudavam na colaboração e com o envio temporário
de alguns evangelizadores. O Concílio muda este con-
ceito, colocando a obra missionária no coração daquelas
Igrejas, das velhas e das novas. A Igreja particular, pela
obrigação que tem de representar o mais perfeitamente
possível a Igreja universal, deve ter consciência que foi
também enviada aos habitantes do mesmo território dos
que não crêem em Cristo, a fim de ser, pelo testemunho
da vida de cada um dos fiéis e de toda a comunidade, um
sinal a apresentar-lhes Jesus de Nazaré. Paulo VI anos
mais tarde, dirá em Kampala, (Uganda): “vocês, africanos,
devem ser os missionários da África. Na América Latina,
durante a Conferência de Puebla, as Igrejas do continente
serão convidadas a dar desde a própria pobreza . O Con-
cílio mudou o conceito de Missão, já não existe quem dá
e quem recebe. Todas as Igrejas são ricas na vitalidade
dos carismas, independentemente da sua situação social. Concílio Vaticano II.

16 Jul/Ago 2005 - Missões


Arquivo Prelazia de São Felix do Araguaia
Irmãzinhas de Jesus de Charles de Foucauld, Santa Terezinha de São Felix do Araguaia.

Os leigos também são missionários A adaptação como atitude


De diversas maneiras e em diferentes contextos, o Concílio O Concílio não conhece ainda a palavra inculturação. Fala
fala da vocação missionária inerente a todo batizado. O discípulo de adaptação num sentido mais profundo que a materialidade
de Jesus, através do Batismo, recebe a missão de anunciar com a da palavra. A teologia, a liturgia, a catequese, a pregação e até
sua vida o seu Evangelho. O número 21 do Decreto Ad Gentes é mesmo a vida religiosa devem confrontar-se com as culturas,
muito rico e importante para conhecer o papel do leigo na obra da usos e costumes dos povos. O Evangelho deve ser pregado com
evangelização: “a Igreja não está fundada verdadeiramente, nem categorias que o povo entenda e manifeste na própria cultura a
vive plenamente nem é o sinal perfeito de Cristo entre os homens novidade do cristianismo.
se, com a hierarquia, não existe e trabalha um laicato autêntico. Depois do Concílio, a teologia e mesmo o magistério da
De fato, sem a presença ativa dos leigos, o Evangelho não pode Igreja vão desenvolver todos estes conceitos inseridos nos
gravar-se profundamente nos espíritos, na vida e no trabalho de contextos da inculturação, pluralismo e riquezas culturais,
um povo. Por isso, é necessário desde a fundação da Igreja prestar porque as sementes do Verbo já estão presentes antes que o
grande atenção à formação dum laicato cristão amadurecido”. Estas missionário chegue.
e outras afirmações são realidade plural na nossa sociedade. Cada “É necessário que em cada grande espaço sociocultural,
vez mais aumentam os leigos que querem se unir à Missão. As se estimule uma reflexão teológica tal que, à luz da tradição da
realidades temporais são campos para uma profunda espiritualidade Igreja universal, as ações e as palavras reveladas por Deus,
missionária no anúncio de Cristo em outros povos. consignadas na Sagrada Escritura, e explicadas pelos padres
V MILIANIC / Comboni Press

Comunidade cristã no Sudão. di una missione

Missões - Jul/Ago 2005 17


CRB
Arquivo
Sobre os missionários e leigos
O principal dever dos homens e das mulheres é dar
testemunho de Cristo pelo exemplo e pela palavra, na
família, no seu ambiente social e no âmbito da profissão.
Importa que neles transpareça o novo homem, criado
segundo Deus na justiça e na santidade da verdade. De-
vem manifestar essa vida nova no âmbito da sociedade e
da cultura pátrias, segundo as suas tradições nacionais.
Devem conhecer essa cultura, purificá-la e conservá-la,
desenvolvê-la segundo as recentes situações, e finalmente
aperfeiçoá-la em Cristo (Ad Gentes n. 21).
Convençam-se por isso vivamente todos os filhos
da Igreja de sua responsabilidade para com o mundo.
Fomentem em si um espírito verdadeiramente católico.
Empenhem-se com afinco na obra da evangelização.
Contudo, saibam todos que seu primeiro e principal dever
pela difusão da fé consiste em viver profundamente a vida
cristã. Pois seu fervor no serviço de Deus e sua caridade
para com os outros trarão novo sopro espiritual a toda a
Igreja, que aparecerá como sinal levando às nações, a
quez “luz do mundo” (Mt 5,14) e o “sal da terra” (Mt 5,13) (Ad
Gentes n. 36).
ez Vas

Vive o Povo de Deus em comunidades, principalmente


co Lop

diocesanas e paroquiais, e nelas aparece de certo modo


visivelmente. Em conseqüência cabe-lhes também teste-
Francis

munhar Cristo diante das nações.


Não pode crescer nas comunidades a graça da reno-
vação, se não dilatar cada uma os espaços da caridade
até os confins da terra, cuidando igualmente dos de longe
como dos membros próprios.
Assim toda a comunidade reza, coopera e exerce
atividade entre os povos por seus filhos que Deus escolhe
Silva

para esse excelentíssimo ofício. (Ad Gentes n. 37)


Teresa

da Igreja e pelo magistério, sejam sempre de novo investigadas.


Assim se entenderá mais claramente o processo de tornar a fé
inteligível, tendo em conta a filosofia ou a sabedoria dos povos”
(Ad Gentes n.22).

Os Institutos missionários
como sentinelas da Missão
“Visto que uma obra missionária, como prova a experiência,
não pode ser realizada pelos indivíduos isolados, a vocação
comum reuniu-os em Institutos, nos quais, pelo esforço comum,
se formassem convenientemente e executassem essa tarefa em
nome da Igreja e segundo a vontade da autoridade hierárquica.
Os Institutos, desde há muitos séculos que têm suportado o
peso do dia e do calor, consagrando-se inteiramente ou em
parte à empresa apostólica. A essas Igrejas, fundadas à custa
do seu suor e até do seu sangue, prestarão serviço com zelo e
Silva

experiência em fraterna cooperação”. (Ad Gentes n.27).


Os Institutos missionários com a própria espiritualidade,
Teresa

formação e estilo de vida, devem ser a memória viva da Missão


na Igreja e, como dizia João Paulo II na encíclica Redemptoris
Missio: “a missão está ainda nos seus começos”. Estas são, se-
gundo o meu parecer, as idéias básicas da Missão no Concílio.
Estas raízes cresceram como uma grande árvore nestes 40 anos.
E agora estamos perante um panorama enorme sobre a Missão.
O que, onde e como é a Missão veremos na próxima edição. 

Ramón Cazallas Serrano é missionário e diretor do Instituto Superior de Teologia e Pastoral


de Bonfim, BA (ISTEPAB).

18 Jul/Ago 2005 - Missões


missão
daHoje
Caminhando juntos

Missão
história
A paróquia Santa Margarida, em Curitiba, róquia Santa Margarida, de Curitiba, coordenada pelos padres
Lírio Girardi e Durvalino Condicelli, vem procurando viver. O

implanta Plano de Evangelização. dia 13 de março de 2005, teve uma importância fundamental
nesta caminhada, pela realização da Assembléia Paroquial.
Estavam presentes, além dos sacerdotes que nela atuam, os
leigos representantes dos diversos grupos, das pastorais e das
de Luiz Balsan cinco comunidades que formam a paróquia. O objetivo funda-
mental era a aprovação do Plano Paroquial de Evangelização.

O
Na verdade, este dia se apresentava como uma espécie de
documento “Missão e ministérios dos cristãos leigos conclusão de uma caminhada que já tinha mais de dois anos.
e leigas”, número 62, da Conferência Nacional dos Caminhada esta que foi agregando o estudo da realidade de
Bispos do Brasil (CNBB), coloca claramente uma cada comunidade e os objetivos que se quer alcançar, iluminados
perspectiva de Igreja Corpo Místico de Cristo. Nela, o pelas orientações da Igreja local e provocados pelos grandes
Espírito se manifesta de forma generosa, distribuindo desafios do mundo de hoje.
dons de formas diferentes. São Paulo, o escritor
do Novo Testamento que mais trata dos carismas entendidos Momento de síntese
como dons do Espírito, nos coloca alguns marcos fundamentais. A Assembléia se desenvolveu em passos progressivos:
Diz que a cada pessoa são dadas diferentes manifestações do cada comunidade e cada Pastoral Paroquial apresentou um
Espírito; e diz também que estes dons, distribuídos de formas relatório. Era o ponto de partida para saber sobre a caminhada
diversas, são para o bem do Corpo de Cristo. Aliás, este é o da paróquia. Num segundo momento, a Assembléia elegeu os
verdadeiro critério para avaliar o real valor de um carisma: não novos coordenadores do CPP (Conselho Pastoral Paroquial), que
o fato da pessoa realizar coisas extraordinárias, mas o serviço serão as pessoas que, ao lado dos sacerdotes, vão coordenar
que presta à comunidade. Paulo escreve três capítulos sobre os a caminhada da paróquia. Num terceiro momento a Assembléia
carismas, na Primeira Carta aos Coríntios – capítulos 12, 13 e discutiu e aprovou o Plano de Evangelização. Foi o momento
14 – para falar da importância destes dons. A teologia de Paulo oficial em que a comunidade definiu as diretrizes da ação evan-
é bonita e prática. Põe em evidência a diversidade, lembrando, gelizadora para promover a dignidade da pessoa, renovar-se e
porém, que esta diversidade conduz à unidade: distribuição de colaborar na construção de uma sociedade justa e solidária e
dons para serem colocados a serviço da comunidade, em favor escolheu pistas de ação para a realização dessas diretrizes.
de uma única missão.
Rumo a seguir
Diversidade e comunhão Em nossa vida, continuamente nos deparamos com a distância
Para que a variedade esteja realmente a serviço da unidade que existe entre o sonho de Deus e a realidade do mundo. Tal
e, portanto, do bem comum, é preciso caminhar juntos, refletir diferença aponta para os rumos da nossa ação evangelizadora.
juntos, buscar caminhos de unidade. É este caminho que a pa- Por isso as pastorais procuram abranger uma diversidade de
serviços. Existe, porém, um velho provérbio que
diz que “não há vento favorável para quem não
Arquivo Pessoal

sabe para onde vai”. Dentro de uma realidade


ampla de Igreja, sempre há alguns aspectos
que são mais urgentes e mais importantes
e que, por isso, centralizam os esforços e
energias. Nesta Assembléia, a paróquia de
Santa Margarida escolheu duas prioridades
que constituirão seu principal foco de atenção
nos próximos anos: juventude-adolescência e
família. Outros dois aspectos vão receber uma
atenção particular: acolhida e liturgia. Esta
escolha representa um ponto de chegada,
enquanto é fruto de uma longa caminhada de
estudo e reflexão; mas é, acima de tudo, ponto
de partida, pois agora começa o momento
decisivo, de empenho e comunhão, para que
este sonho possa se tornar realidade. 

Luiz Balsan é missionário, professor de Espiritualidade


Sebastião Paz (Vice-Coordenador), Lia Cristiane Litz (Secretária) e Edson Ferreira (Coordenador). e doutor em Teologia.

Missões - Jul/Ago 2005 19


As CEBs e o 1
Destaque do mês

Muitas pessoas têm a impressão de que as Comunidades Eclesiais de Base estão


diminuindo, mas na verdade elas estão crescendo e com grande vitalidade.

de Nelito Nonato Dornelas

Arquivo
D
epois do Concílio Vaticano II houve uma onda de
entusiasmo, de esperança, aí nasceram as Comu-
nidades Eclesiais de Base (CEBs). Elas cresceram
rapidamente pelo Brasil e América Latina, e também
pelos países da Ásia, Europa, África, Oriente e Amé-
rica do Norte. Depois houve um tempo de parada,
de menos entusiasmo e um certo cansaço, que na verdade, foi
um tempo de acúmulo de forças.
Agora, tudo nos leva a crer que virá uma força nova. Se
olharmos a Igreja, nós estamos, sem dúvida, num momento de
mudança. O pontificado de João Paulo II anunciou uma nova
etapa. Com a chegada de Bento XVI, nós podemos criar forças
novas e pensar o que podemos construir. É o momento de ela-
borar novos projetos para a Igreja e a sociedade.
Numa Igreja de CEBs e não apenas com CEBs, as Comu-
nidades Eclesiais de Base ensinam que o mais importante é
que nós colaboremos em todos os níveis, criando dentro da
Igreja uma cultura de participação. Que celebremos a nossa fé
em comunidade e que não seja somente o sacerdote, a freira
ou os coordenadores, mas que toda comunidade forje a própria
liturgia, as suas pastorais, e abra caminhos novos. Quanto mais
participativos forem seus membros, mais solidária e missionária
será a comunidade.
10º Inreclesial das CEBs, Ilhéus, BA.
Uma Comunidade Eclesial de Base saindo de si para levar
seu entusiasmo e suas descobertas às outras comunidades, se As CEBs precisam estar atentas a duas questões: primeiro,
fortalecerá e poderá ser estímulo para que outras sejam também aproveitar esse momento religioso para animarem-se a si mes-
solidárias, participativas e evangelizadoras. Conforme nos diz dom mas, fazendo uma experiência religiosa mais profunda. Então,
Pedro Casaldáliga: “que assumamos nosso batismo, sejamos essa força religiosa vai incentivá-las a sair de si mesmas. Uma
mais audaciosos e tenhamos uma visão de totalidade”. comunidade sai de si quando se compromete com as causas
sociais, com os pobres, com a luta, com a melhoria da região,
Em nível existencial do bairro, das situações, enfim, aquilo que as CEBs sempre
Outro fenômeno que também é promissor para as CEBs, souberam fazer e fizeram muito bem. Então o fenômeno religioso
ainda que não pareça, é o surgimento do fenômeno religioso. em vez de ser uma força alienante, pode transformar-se numa
Sem dúvida há uma sede enorme de religião e essa sede atra- grande força de reanimação das CEBs. Visto desta forma, o
vessa todos os setores e segmentos sociais. As elites estão próprio movimento carismático não é uma força oposta, mas
desiludindo-se com este modelo de vida materialista, hedonista uma energia que as CEBs podem haurir para si mesmas. Por
e individualista e parecem estar buscando mais sentido para isso, as Comunidades Eclesiais não podem terminar sua bus-
sua existência. ca existencial na experiência religiosa, porque, aí sim, elas se
As camadas populares, por causa da crise, da dificuldade, tornarão alienadas e alienantes.
da luta, da humilhação sofrida, estão querendo um espaço onde O segundo elemento importante é a valorização da Bíblia.
possam sentir-se mais gente, mais próximas da força maior e A Bíblia, vista como a Palavra de Deus, está cada vez mais
percebem que a grande presença que pode animar toda pessoa, presente na evangelização. Os leigos estão buscando estudar
em qualquer situação, é Deus. mais teologia. Há muitos cursos de formação e de Bíblia em

20 Jul/Ago 2005 - Missões


11º Intereclesial
todas as partes. As CEBs já os fazem como forma de aumentar As CEBs podem impregnar na sociedade a cultura da soli-
e aprofundar a sua cultura religiosa. Mesmo que a conjuntura dariedade, de tal maneira que, a primeira idéia que nos vem à
atual não favoreça a visibilidade das Comunidades Eclesiais, elas mente quando acordamos seja: solidariedade! Porque os sím-
estão aí e abrem novos horizontes e novas oportunidades. bolos que nos cercam falam de solidariedade. Então, os atos
solidários fluirão como uma coisa natural e não serão esforços
Em nível social grandes porque será natural em nós. A uma cultura individualista,
Vivemos numa situação social desafiadora. O próprio sistema responderemos com solidariedade.
político neoliberal nos desafia. Mas, ele já mostra sinais de fragi-
lidade e tem provocado reações em todo o mundo. Está cansado O 11º Intereclesial de CEBs
e se apresenta como um barco que está deixando entrar água Assim, chegamos em 2005. E, com ele, transportado nas
pelo casco. Ao mesmo tempo, de dentro do sistema, continua asas do Espírito, mais um vagão do trem das CEBs, que vem
nascendo e se constituindo uma cultura de solidariedade em sendo esperança de vida, abrindo a porta da Igreja para acolher
âmbitos globais. e partilhar, militando nas causas do “outro mundo possível”. A
Sabemos que as forças populares, organizadas em peque- estação que nos espera é a cidade de Ipatinga, em Minas Ge-
nas Comunidades Eclesiais de Base, sozinhas não mudarão o rais, diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, onde celebraremos,
grande sistema, mas podem enfrentá-lo, por meio de uma cultura de 19 a 23 de julho, o 11º Intereclesial de CEBs, cujo tema é
de solidariedade. Talvez aí as CEBs tenham uma chave nova “CEBs e a espiritualidade libertadora” e o lema: “Seguir Jesus
para este novo milênio. A cultura de solidariedade possui uma no compromisso com os excluídos”. Dois encontros específicos
energia própria e anima as Comunidades de Base. antecederão ao Intereclesial: um na Arquidiocese de Vitória,
Espírito Santo, nos dias 14 a 17 de julho, que é o Encontro
Intercontinental de CEBs e o outro, em Coronel Fabriciano,
de 16 a 18 de julho, dos povos indígenas. Este trem tem dois
trilhos: o primeiro fundamenta-se no seguimento de Jesus e o
segundo refere-se ao nosso compromisso com as causas dos
excluídos. Nestes trilhos circula a energia que vem do chão. O
trem atravessa a história, está em movimento e esta energia
provém do seu próprio movimento, é a nossa espiritualidade
que está bem no centro do 11º Intereclesial.
Esta viagem teve início há trinta anos, quando fora colocada,
por iniciativa de Dom Luiz Gonzaga Fernandes, a primeira loco-
motiva em movimento, em Vitória, no Espírito Santo. O nosso
encontro acontecerá numa região que tem vivido intensamente
todos os acontecimentos, que marcaram estes últimos quarenta
anos. Nossa diocese foi criada em 1965, quando da última ses-
são do Concílio Vaticano II, da qual participara o nosso primeiro
bispo, Dom Marcos Antônio Noronha. Por sua iniciativa flores-
ceu em toda a extensão destas terras mineiras um verdadeiro
canteiro de CEBs. Incentivadas pelos bispos que o sucederam,
este modelo eclesial permanece vivo e se fortalece com a
preparação do 11º Intereclesial. O bispo anfitrião, Dom Odilon
Guimarães Moreira, conclama: “este é o ano do 11º Intereclesial.
Pessoas que se reúnem para celebrar a fé e a vida, para ouvir
e refletir a Palavra de Deus e que têm um compromisso com o
outro, representarão a sua comunidade ou sua diocese. Este
Intereclesial será uma bênção para nossa Igreja diocesana.
São 3.600 delegados vindos de todo o Brasil e além-fronteiras.
Brancos, afros e amarelos virão! Índios darão sua parcela com
sua presença e atuação. Evangélicos não faltarão”. 

Nelito Nonato Dornelas é sacerdote e membro da Secretaria Nacional do Intereclesial das CEBs.
(cebsintereclesial@terra.com.br)

Missões - Jul/Ago 2005 21


O 2º Congress
atualidade

Vocacional do Brasil
de Carlos Alberto Chiquim

E
stamos vivendo os momentos decisivos preparatórios
para o 2º Congresso Vocacional em âmbito nacional,
que se realizará em Itaici, Indaiatuba, São Paulo, de 2
a 6 de setembro. Paróquias, dioceses e regionais da
CNBB estão promovendo encontros de formação e de
aprofundamento do tema, “Igreja, povo de Deus a ser-
viço da vida” numa perspectiva de provocação para uma missão
específica dentro da comunidade, da Igreja e da sociedade, “Ide
também vós para minha vinha!” (Mt 20, 4).
A Igreja no Brasil, que muito já avançou na consciência
vocacional, na prática dos ministérios e no serviço de animação
vocacional, graças, sobretudo, a dois grandes eventos: o 1º Con-
gresso Vocacional do Brasil, em 1999, com o tema: “Vocações e
Ministérios para o Novo Milênio”, e o lema: “Coragem! Levanta-te,
Ele te chama!” (Mc 10, 49b) e o Ano Vocacional (2003), com o
tema: “Batismo, fonte de todas as vocações”, e o lema: “Avancem
para águas mais profundas” (Lc 5, 4), sente a necessidade de
resgatar alguns conceitos fundamentais, como: “povo de Deus”,
“vocação à santidade”, “carismas e ministérios”, para dar conti-
nuidade à caminhada vocacional.
A Comissão Episcopal para os Ministérios Ordenados e a
Vida Consagrada, em comunhão com os animadores vocacio-
nais da Igreja no Brasil definiram como objetivo geral “Animar
e celebrar a caminhada vocacional da Igreja, povo de Deus a
serviço da vida”. Todas as ações a serem realizadas nas oficinas
do Congresso visam reafirmar a consciência de que a Igreja é
povo de Deus, assembléia dos chamados (PDV 34), convocada
e reunida pela Trindade (LG 4); proclamar a vocação universal
à santidade, na diversidade das vocações, dos carismas e dos
ministérios (LG 5), para a formação e o desenvolvimento da
vida em comunidade (DGAE 117); assumir com renovado ardor
o incentivo e a organização de meios para o surgimento, a pro-
moção e o acompanhamento das vocações para os ministérios memória da caminhada vocacional da Igreja no Brasil, o período
ordenados, vida consagrada e ministérios dos cristãos leigos e anterior ao Concílio Vaticano II, o surgimento das pastorais na
leigas (PDV 39) e fortalecer a convicção de que toda vocação é década de 70, entre elas a Pastoral Vocacional e a sua evolução
para a missão, serviço à pessoa humana, particularmente aos até os dias de hoje. A segunda parte aprofunda o tema central
pobres e excluídos (GS). do Congresso: a Igreja, povo de Deus a serviço da vida, tendo
como base o estudo da parábola dos trabalhadores da vinha (Mt
A preparação 20, 1-16). E a última parte apresenta os fundamentos teológicos
Com a finalidade de preparar os animadores e animadoras e indicações pastorais. O tema de estudo priorizou a teologia
vocacionais para esse significativo evento, o texto-base está e a eclesiologia do Concílio Vaticano II e procurou valorizar a
focado em três partes, a saber: a primeira contempla o resgate da caminhada vocacional, resgatando os fatos mais significativos

22 Jul/Ago 2005 - Missões


so
clara para cada batizado, a vontade de Deus, está cumprindo sua

De 2 a 6 de setembro
missão. O bispo diocesano, cada presbítero, religioso e religiosa,
catequista, professor e todos os que exercem um ministério na

será realizado o Segundo comunidade deverão ser os primeiros animadores vocacionais.


A Igreja como um todo deverá estar imbuída desse Espírito de

Congresso Vocacional, Deus, que sopra e “torna novas todas as coisas”. A Igreja Parti-
cular deverá ser acordada para o sentimento de diocesaneidade

em Itaici, São Paulo, com e de pertença. Pertencer à Igreja significa fazer parte dela e estar
integrado, assumindo sua vida e missão. O batizado é inserido

o tema “Igreja, povo de no corpo de Cristo que é sua Igreja. “Eu sou a videira; vós sois
os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito

Deus a serviço da vida”. fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5).
Nenhum batizado, pastoral, movimento eclesial, diocese,
congregação religiosa ou organismo, pode viver de forma inde-
pendente da sua Igreja, porque quando Deus constituiu o corpo,
o formou “não para a divisão, mas para que os membros sejam
Arquivo Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus

solícitos uns com os outros. Se um membro sofre, todos os


membros sofrem com ele; se um membro é honrado, todos os
membros se alegram com ele” (1Cor 12-25-26).

Nosso compromisso
Vale a pena recordar que um Congresso Vocacional, even-
to de caráter nacional, traz grandes benefícios para a vida da
Igreja. Há uma revitalização da caminhada de comunidades que
acabaram, por diversas circunstâncias, se acomodando. Outras
que, vendo novas experiências, saem do rotineiro e acabam
adentrando mais ao fundo, duc in altum, renovando a sua ação
evangelizadora.
Desde já convocamos todos que trabalham nessa missão
a organizar e estruturar a animação vocacional nas dioceses,
Institutos e Congregações e implantar as equipes vocacionais
paroquiais, integradas com as outras pastorais. Não se pode
Encontro Vocacional no Colégio “Cor Jesu”, DF. falar em animação vocacional sem ter presente a importância
da catequese, principalmente a do Sacramento da Confirma-
da experiência das comunidades. O 2º Congresso Vocacional

Revista Rogate
deverá ser um marco divisor de águas, ou seja, apresentar um
salto qualitativo na ação vocacional de nossas comunidades.
A animação vocacional não poderá mais ser entendida como
um trabalho de suplência, isto é, de fazer aquilo que os outros
agentes evangelizadores não fazem. A questão vocacional deverá
ser entendida como uma dimensão essencial na vida de nossa
Igreja. Ela faz parte do mandato de Jesus, “ide também vós para
a minha messe” (Mt 20, 4); “segui-me e vos farei pescadores
de homens” (Mt 4, 19); “eu vim para que todos tenham vida e a
tenham em abundância” (Jo 10, 10). É missão de toda a Igreja
proclamar a boa nova de Jesus, despertando no coração dos
fiéis o desejo de conhecê-lo e de segui-lo. Portanto, o desper-
tar vocacional deverá ser feito por todos os batizados. Cabe à
animação vocacional a missão de colaborar no discernimento
e acompanhamento, suscitando no coração dos adolescentes
e jovens, o amor apaixonado por Jesus Cristo, pelos irmãos e
a adesão à sua Igreja. Participantes da 27ª Assembléia do Serviço de Animação
Vocacional do Regional Sul 1.
Igreja Particular ção, o envolvimento dos grupos de jovens como instrumento
A partir do 2º Congresso Vocacional, cada diocese deverá de amadurecimento da fé em seus membros e a importância
empenhar-se em aprofundar entre os fiéis, o conceito de vocação da família na descoberta do sentido da vida. Frutos desse Con-
como uma relação dialógica com Deus, em função da comunidade, gresso estão sendo esperados: o investimento na formação
na construção do Reino ; o sentimento de pertença e a dimensão permanente e na mística dos animadores; a criação de uma
de comunhão. E feliz será a Igreja Particular que assumir a di- cultura vocacional, onde toda a comunidade se sinta co-respon-
mensão vocacional como uma de suas prioridades, pois despertar sável para o despertar de seus membros, através da oração e
cada batizado para o seu compromisso na comunidade e na do chamado direto e a valorização dos ministérios dos cristãos
sociedade é acordá-lo para o sentido da vida e para a dimensão leigos e leigas na Igreja.
da graça. Uma Pastoral Vocacional imbuída do espírito eclesial e,
sobretudo, da fidelidade a Cristo, o Bom Pastor, aquele que torna Carlos Alberto Chiquim é sacerdote e secretário executivo do Regional Sul 2 - CNBB.

Missões - Jul/Ago 2005 23


vamos amar
e cuidar das nossas crianças?
Infância “E agora me digam se eu tenho direito,
Missionária
se sou cidadão, ou por Deus não fui feito?”
Fr. Domingos dos Santos

Ermanno Savarino
104 municípios fronteiriços, onde este crime já possui o caráter
transnacional, como por exemplo, Oiapoque, no Amapá e Foz
do Iguaçu, no Paraná e sua tríplice fronteira. Na verdade, nesta
pesquisa consta um número bem maior de municípios onde
foram detectadas redes de exploração sexual de crianças e
adolescentes comercialmente. Estas redes de turismo sexual
costumam agir principalmente no interior dos estados, onde
“recrutam” suas vítimas. Dos municípios envolvidos, 31,8%
são da região Nordeste, 25,7% do Sudeste, 17,3% da região
Sul, 13,6% do Centro-Oeste e 11,6% da região Norte, contando
ainda com crianças e adolescentes beneficiários de programas
sociais. Um crime silencioso e da mesma maneira assustador
é o de pedofilia na rede mundial de computadores, amplamente
divulgado na mídia.

O povo é santuário de Deus (Sl 114)


A vida nos coloca um desafio a cada dia: as nossas crianças e
adolescentes em qualquer situação são os pequeninos do Reino
de Deus Pai-Mãe. Elas esperam com ternura uma sociedade
fraterna e igualitária, construída a partir dos adultos. Jesus dedicou
muito carinho e atenção às crianças do seu tempo, uma vez que
as mesmas eram tidas como inferiores: “quem receber em meu
de Roseane de Araújo Silva nome uma destas crianças, estará recebendo a mim. E quem
me receber, não estará recebendo a mim, mas Àquele que me

D
enviou. (...) E se alguém escandalizar um destes pequeninos
a mesma maneira que Dom Carlos Forbin Janson, que acreditam, seria melhor que fosse jogado ao mar com uma
fundador da Infância Missionária, tomarei como pedra de moinho amarrada no pescoço” (Mc 9, 37 e 42).
ponto de partida nesta edição a China, um dos O Estatuto da Criança e do Adolescente em seu 4º artigo
maiores países do mundo, com uma população reforça como “dever da família, da comunidade, da sociedade
também grandiosa. Neste país uma pesquisa feita em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade,
nos últimos 25 anos, apresentou registros de abusos a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimenta-
na infância como uma prática bastante disseminada. Entre os ção, à educação, (...) à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
3.500 adolescentes pesquisados, 50% dos meninos e cerca de convivência familiar e comunitária” (Lei nº 8.069, de 13 de julho
33% das meninas sofreram algum tipo de agressão na infância. de 1990). A exemplo de Dom Carlos Janson devemos assumir
Esta pesquisa, financiada em parte pelo UNICEF, demonstrou esta causa e defender as nossas crianças daqueles que roubam
na relação entre abuso infantil e saúde mental que as crianças o que elas têm de mais precioso: a infância. A IM nasceu da
maltratadas têm uma maior propensão a se tornarem alcoólatras necessidade e da triste realidade que enfrentavam as crianças
ou a adotarem um comportamento violento. Em nosso país a chinesas, como todos sabem. As crianças e adolescentes bra-
violência e o abuso contra nossas crianças ainda é freqüen- sileiras esperam concretamente uma atitude nossa, junto aos
temente silenciado, tanto pela família, quanto pelos vizinhos, Conselhos Municipais de Segurança, denunciando este crime e
médicos e educadores, conseqüência dessa omissão são as buscando políticas públicas eficazes no combate à exploração
nossas crianças marcadas irreversivelmente. sexual e na criação de projetos sociais de combate à pobreza.
Uma das situações mais preocupantes em nosso meio são Nas palavras de Dom Carlos, o protagonismo das nossas crianças
as crianças e adolescentes explorados sexualmente. Esse fato nos mostra que um outro mundo é possível sim! Das crianças
agrava-se principalmente na região fronteiriça onde o controle e do mundo – sempre amigas! 
fiscalização são desafios para o poder público. Dados coletados
por um grupo de pesquisa da Universidade de Brasília falam de Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da rede pública do Paraná.

24 Jul/Ago 2005 - Missões


Jornada Mundial

conexão jovem
da Juventude que pode irmanar todos os membros da família humana.” Desta
forma, a juventude católica do mundo todo aceita o desafio de
ser evangelizadora a partir do encontro pessoal com Jesus, o
Cristo. Vamos à Colônia para partilhar a experiência de Jesus
com nossos irmãos jovens do mundo. Como disse um jovem na
XV JMJ (em Roma 2000), não vamos à Jornada simplesmente
A XX Jornada Mundial da Juventude (JMJ) para ver o papa ou para fazer um “turismo espiritual” ... vamos
à Jornada para encontrar Jesus; vamos, sim, a convite do Papa
será realizada entre os dias 11 e 21 de – mas o centro de nossa peregrinação é o encontro com Jesus
e a partilha de nossas experiências de fé com outros jovens que
agosto, na cidade alemã de Colônia. fazem esta mesma opção.
De 11 a 15 de agosto acontecerá aquilo que vem sendo
chamado de Pré-Jornada – os jovens que vão chegando de
todos os países do mundo se dividem nas dioceses da Alema-
de André Cunha de Figueiredo Torres nha para conhecer mais de perto a realidade da Igreja naquele

Divulgação
oão Paulo II ao ser eleito papa, em 1978, falou de sua
confiança nos jovens como futuro do mundo e espe-
rança da Igreja. Em 1984, se reuniu pela primeira vez
com eles, em Roma, no Domingo de Ramos. Naquele
encontro o papa confiou-lhes a “cruz da Jornada Mundial
da Juventude”.
A primeira Jornada Mundial da Juventude (JMJ) aconteceu
em 1986, em Roma. Depois se seguiram encontros na Argen-
tina (1987), Espanha (1989), Polônia (1991), Estados Unidos
(1993), Filipinas (1995), França (1997), novamente em Roma
(no Jubileu do ano 2000) e Canadá (2002). Os encontros em
nível mundial acontecem a cada dois (ou três) anos, reunindo,
aproximadamente, um milhão de jovens – a X JMJ nas Filipinas
reuniu cerca de 4 milhões de jovens e foi a maior concentração
da história da JMJ. Nos anos que se intercalam, as Jornadas
acontecem localmente (nas várias dioceses do mundo!) – estes
dois âmbitos da celebração das Jornadas da Juventude têm o
objetivo de fortalecer a consciência de Igreja.

Alemanha 2005
Ao término da XVII JMJ (Canadá – 2002), João Paulo II
marcou o próximo encontro com os jovens do mundo para a
Alemanha em 2005 – a cidade de Colônia (Köln) foi escolhida
para sediar este encontro. O papa Bento XVI, antes mesmo de
assumir oficialmente a missão de ser o pastor da Igreja Universal,
confirmou sua presença na JMJ. Assim, a juventude de todo o
mundo está sendo convidada a participar da XX Jornada Mundial
da Juventude, de 11 a 21 de agosto de 2005. O lema desta JMJ
é tirado do Evangelho segundo Mateus: “Viemos adorá-Lo”. Na
mensagem que escreveu aos jovens, preparando a XX JMJ, o
Jovens comemoram Dia Mundial da Juventude.
querido papa João Paulo II, motivava-os a partir do lema citado
acima, dizendo: “Sede adoradores do único Deus, reconhecen- país e trocar experiências desta vivência. São dias de oração,
do-lhe o primeiro lugar na vossa existência! A idolatria é uma partilha da Palavra, ação solidária, shows, passeios culturais,
tentação constante do homem. (...) Jovens, não cedais a falsas e muito mais. Enfim, esta é uma grande festa e um importante
ilusões nem a modas efêmeras, que muitas vezes deixam um encontro da juventude que se sente missionária no mundo. 
trágico vazio espiritual! Recusai as soluções do dinheiro, do con-
sumismo e da violência dissimulada que por vezes os meios de Mais informações poderão ser obtidas nos sites:
comunicação propõem. (...) Adorai Cristo: Ele é a Rocha sobre a www.vatican.va ou www.wjt2005.de
qual construir o vosso futuro e um mundo mais justo e solidário.
Jesus é o Príncipe da paz, a fonte de perdão e de reconciliação, André Cunha de Figueiredo Torres é sacerdote, Diretor do Instituto Dom Bosco, São Paulo.

Missões - Jul/Ago 2005 25


Etiópia, um país legendár
entrevista

Arquivo Pessoal
Melânia Lessa é catarinense, criada no Estado do Paraná. Irmã
missionária, trabalha há quase quatro anos na Etiópia. Nesta
entrevista, descreve o seu trabalho neste país africano.
de Rosa Clara Franzoi

A
Etiópia possui relíquias arqueológicas das mais antigas,
é um dos poucos países que escapou ao colonialismo
europeu e conseguiu conservar quase inalterada a
própria identidade cultural: língua e alfabeto. Tem um
calendário próprio, e um modo tradicional de contar as
horas, medir o tempo e muitas outras coisas...

Como se vive o social, o econômico, o político e o cultural


num país tão diferente?

Para responder a esta pergunta, seria preciso ultrapassar


tanto a dimensão do sensível e do emocional, quanto da razão
cartesiana e entrar no espaço ético-estético-político-histórico, ou
seja, no mundo da vida do povo etíope. Tarefa impossível para
mim que entrei neste país há pouco tempo e atuo em poucos
e reduzidos espaços desta terra fascinante. E acrescente-se
o fato que o contexto social, cultural e político está mudando
velozmente também na Etiópia, onde até agora, a tradição, era
o ponto focal de toda e qualquer leitura. Se o contato com lín-
guas, alfabetos, modo de organizar e contar o tempo, a história complexo de inferioridade que paralisa o dinamismo e a coragem
e a vida, tão diferentes dos nossos, questiona a nossa lógica profética da mesma (The Church we want to be n. 34-2002). Em
e força o alargamento do nosso horizonte, a aplicação das algumas áreas, existem comunidades vivas e atuantes. Na maioria
medidas neoliberais com todas as suas características muito dos casos porém, é uma Igreja dependente da ajuda externa,
nos preocupa. Se por um lado as “comunicações” unem todos seja de recursos humanos – missionários(as) – , seja de recursos
os grupos e etnias, revelando os limites que se escondem por econômicos. Assim mesmo, a Igreja Católica é reconhecida em
detrás de certas tradições - por exemplo a triste realidade da todo país pela sua atuação no campo da promoção humana,
mulher -, a tecnologia abre novas oportunidades de conheci- sinal e comunhão entre as diferentes etnias e religiões.
mento e criatividade e os mercados penetram todos os espa-
ços sociais... Por outro lado, os desequilíbrios e perturbações Desde quando as missionárias e missionários da Consolata
que o neoliberalismo está provocando na Etiópia em todas as estão presentes na Etiópia e como se harmonizam com uma
dimensões da vida social, econômica, política e cultural antes cultura tão diversa?
regidas por princípios milenares, causam apreensão, pois não
conseguimos imaginar o futuro. Em forma de sonho, a presença é muito antiga, desde quando
o fundador, o Bem-aventurado José Allamano, aos 13 anos, se
A Etiópia com sua história milenar, suas profundas ligações encontrou com o grande e legendário missionário cardeal Massaia.
com o cristianismo e a sua complexa cultura, parece fugir Mas, na realidade, uma presença concreta deu-se a partir de 1916
a toda classificação. Que presença e que voz tem a Igreja – com a chegada dos primeiros padres e irmãos e em 1924 com
Católica e como atua no campo da evangelização? a das irmãs, até 1942, quando com a Segunda Guerra Mundial,
missionárias e missionários foram obrigados a deixar os campos
A Igreja Católica na Etiópia é uma Igreja numérica e politi- florescentes da missão. O retorno foi possível somente muitos
camente insignificante – apenas cerca de 0,5% da população. anos mais tarde – os padres em 1970 e as irmãs em 1974. O sábio
Esta constatação cria uma sensação de impotência e um certo conselho do fundador: “... um somente é o objetivo comum: fazer

26 Jul/Ago 2005 - Missões


rio e fascinante
o bem, o maior bem possível unicamente para a glória de Deus”
(carta a Mons. Barlassina em 3/11/1915) e a realização deste seu
sonho é que nos sustenta nesta missão. Para nós irmãs, caminhar
ao lado da mulher etíope, mulher bela, forte e corajosa é uma
experiência que dá novo significado em nossa vida. vem sendo oferecida à grande parte da população, a atenção
e o incentivo dado à valorização e participação da mulher na
Que desafios a Igreja enfrenta na Etiópia diante das vertigi- construção de uma nova sociedade – exemplo significativo é a
nosas mudanças de um mundo globalizado? “Associação das Mulheres Advogadas da Etiópia”, que luta pela
emancipação da mulher e na defesa dos seus direitos.
São vários os desafios e multifacetados. Em primeiro lugar,
porque as conquistas da globalização não beneficiam a todos. Dentre as muitas experiências que já viveu neste país, qual
Incham as cidades, crescendo, portanto, o número dos mendi- você julgaria mais significativa?
gos, moradores e crianças de rua, prostituição... Avassalador é o
avanço do vírus HIV, que deixa milhares de órfãos. Preocupante Sair do Brasil e ir para a Etiópia, já é por si só uma expe-
é a perda dos valores culturais das diferentes etnias, que gera riência muito significativa. Ao chegar, eu senti dentro de mim
um grande desequilíbrio especialmente na família. Também nos sentimentos de indignação e impotência e ao mesmo tempo
preocupa a exploração das diferenças étnicas pelos políticos de maravilha e intensa ternura para com o povo. Impossível
inescrupulosos. A grande falta de trabalho, o alcoolismo, a fome, aprender as três línguas principais faladas na Missão para onde
as doenças... martirizam o povo etíope e com ele também nós havia sido enviada. Muito sofrido foi o processo de escolha de
sofremos. prioridades de ação, diante da miséria e dos apelos insistentes do
povo pedindo o pão da Palavra, o pão do saber e o pão de cada
Quais são os sinais de vida que conseguem alimentar a dia... Após um breve curso de língua “Oromo”, passei seis meses
esperança dos cerca de 67 milhões de habitantes do país, visitando as comunidades com um missionário da Consolata,
que na sua maioria vivem com padrões de vida abaixo da argentino, padre Jorge Pratolongo. O nosso primeiro objetivo
pobreza? foi “desvelar e cultivar” os valores das diferentes comunidades,
sinalizando nossa vontade de construir com o povo comunidades
Por mais que a situação pareça, muitas vezes impermeá- de Jesus Cristo, comunidades fraternas e missionárias. Algumas
vel a qualquer possibilidade de utopia, o nosso povo continua destas comunidades, acostumadas a sempre receber, entraram
esperando na vida. É impressionante! Um clima de “sagrado”, em crise; outras, porém, envolveram-se com um entusiasmo
fé simples, espírito de renúncia e sacrifício (jejum) e uma terna contagiante. Recordo com emoção o compromisso de uma
devoção a Nossa Senhora, constituem o chão desta esperan- comunidade – a de Alangana – situada no alto da montanha e
ça. O desejo de libertação inerente à pessoa humana e que se rodeada de muçulmanos. Esta comunidade nos surpreendeu
fortalece em meio à opressão e o sofrimento é sinal de vida. com gestos de sabor das primeiras comunidades cristãs. Na
Também o são a possibilidade de educação que, aos poucos caminhada quaresmal de 2003, durante um período de intensa
fome, o grupo de jovens se dispôs a cultivar os
campos dos idosos e ­doentes, tanto católicos
como ortodoxos e muçulmanos; foi feita a par-
tilha generosa da colheita de batatinhas com
as comunidades das terras baixas onde a fome
campeava voraz; houve a participação alegre
e maciça das mulheres, até então um grupinho
tímido e pouco perseverante. As poéticas, mas
sofridas caminhadas em meio à floresta, mon-
tanha acima, sempre com aquela ladainha de
saudação típica dos “Oromos”: Akkan, Bultani,
que significa como tem passado a noite? Ngaa,
paz! ou Urgaa, sinto um perfume ao encontrar
você! E ainda Fayyaa, saúde ... tudo era motivo
de gratidão a Deus pelo grande dom da vocação
missionária. Realmente, a Missão nos humaniza,
nos leva ao essencial, ilumina a nossa fé e toda
a nossa vida. 

Ir. Melânia em sua missão na Etiópia. Rosa Clara Franzoi é irmã missionária e animadora vocacional.

Missões - Jul/Ago 2005 27


amazônia

Serviço de Ação, Reflexão e Educação Social


de Cláudio Perani
O objetivo do Serviço de Ação, Reflexão e
Educação Social é a solidariedade com os

O
SARES nasceu em 2004, a partir de um pedido do pobres, pois procura planejar, organizar e se
arcebispo de Manaus, Dom Luís Vieira, à Companhia
de Jesus. Sua aspiração era constituir um Centro posicionar em favor de sua luta.
que pudesse aprofundar a temática sociopolítica,
prestando um serviço às diferentes forças sociais
preocupadas com a construção de uma sociedade Traços de uma espiritualidade encarnada
melhor. Desde o início, foi decidido que o Centro tinha que ser Nosso encontro com Deus realiza-se e é fortalecido, fun-
interinstitucional, integrando pessoas de diferentes Congregações damentalmente, através do encontro com os irmãos. Algumas
Religiosas e leigos de diversas Instituições. Quase imediatamente mediações:
foram feitos vínculos com o Instituto Missões Consolata e com o Encontro com os outros, que são para nós, intelectuais, as
Instituto dos Irmãos Maristas. Sendo que o Centro é um serviço lideranças dos movimentos sociais e as pastorais sociais.
da Igreja, sua inspiração está na fé cristã. Participam do projeto A interdisciplinariedade: o diálogo entre as diferentes disci-
os padres Cláudio Perani e Roberto Jaramillo, jesuítas, Ricar- plinas, a relação religioso/secular, igreja/sociedade; tudo isso
do Castro, da Consolata, além de Márcia de Oliveira e Edenei representa um desafio e uma riqueza, um caminho ascético para
Barroso Salvador. sair de si mesmo e encontrar o outro (imagem e apelo), para
Brevemente, desejamos apresentar aqui alguns princípios estar aberto às tradições dos outros. O serviço, que significa
que nos orientam. possibilidade para estar à disposição das necessidades dos

Fotos: Roberto Jaramillo

Alunos e professores do curso da FAS composto de membros de movimentos e pastorais sociais de Manaus.

28 Jul/Ago 2005 - Missões


outros (“não vim para ser servido, mas para servir”).
O político, entendido como o nível de vida ordinário, Áreas de atuação do SARES:
cotidiano, onde se manifesta o Espírito Santo, a voz
de Deus; noutras palavras, a valorização da criação, do
1. Assessorias a diversos grupos e movimentos: (CRB, CPT,
profano, fora do templo, como espaço de encontro com
Universidade Indígena da Venezuela, Pastoral Social de Pre-
Deus que possa permitir uma fé mais evangélica e um
sidente Figueiredo, Escolas de Fé e Política de Manaus, CNBB
verdadeiro diálogo com Deus também no templo.
Norte I, Congregações Religiosas, Equipe Itinerante).
Uma atitude de indignação diante da realidade de
injustiças existente, que não permita uma fácil acomodação
2. Escola de Formação Política - EFP
e nos aproxime do Deus da justiça, aliado dos pobres.
2.1. Formação para a Ação Social - FAS
Uma institucionalidade leve, quer dizer, um mínimo de
2.2. Formação para a Intervenção Política Local – FIP-L
burocracia que permita maior espaço e tempo para o
encontro com as pessoas e com Deus.
3. Organização e sistematização do acervo - biblioteca
Todas essas mediações exigem um esforço de escuta
e de itinerância. Escuta para ouvir a voz dos irmãos e
4. Conhecimento de pesquisas amazônicas - publicações
irmãs e, deste modo, a voz de Deus. Itinerância porque

estamos sempre à procura de caminhos novos, de idéias,
Projetos em andamento:
paradigmas, parceiros, alianças... Essas mediações
1. Observatório civil e educativo do tráfico, consumo e produção
recebem luz plena através do encontro com a Palavra
de drogas na Amazônia (OTDA).
de Deus, a oração, a Eucaristia. É bom também lembrar,
2. Formação para a Intervenção Política Internacional - FIPI.
que estamos tateando nesta direção, tendo isso como
ideal a ser alcançado com a graça de Deus.

Contato e solidariedade com os pobres


O contato direto com os pobres, atualmente, é muito limitado. Outras novidades
A obra entra em contato com os representantes das reivindica- A interinstitucionalidade: o projeto, como foi dito, não é pro-
ções populares, com os que trabalham com os pobres, com as priedade da Companhia de Jesus. Esta começou os contatos
lideranças dos movimentos e com aqueles que querem ajudar. e costurou os primeiros passos. Mas as idéias, as ações, as
estruturas, integram membros de várias instituições: uns como
parceiros/colaboradores, outros como verdadeiros integrantes
da obra. Desejamos avançar mais nessa linha.
A intercongregacionalidade: no nível eclesial temos não uma
simples parceria, mas uma aliança entre as Congregações dos
Maristas, da Consolata e dos Jesuítas.
A parceria com a Universidade Federal e com o mundo da
academia revela grande competência e uma abertura para estar
mais a serviço da sociedade. Isso enriquece a caminhada do
povo e abre mais a Universidade em favor dos setores popula-
res. O SARES pretende ser uma ponte entre os dois mundos,
intelectual e popular, a fim de enriquecê-los.

Algumas afirmações no debate sobre


orientação do SARES
A assessoria está voltada para apoiar e orientar, sem pre-
Grupo de alunas na biblioteca do SARES. tender impor nenhuma linha própria.
Em particular, visitamos famílias de sem-teto que ocupam No âmbito da sociedade: promover um maior engajamento
terrenos e as crianças e seus pais das escolinhas de reforço. sociopolítico das pessoas, sempre olhando para o “outro” en-
Nosso objetivo maior é a solidariedade com os pobres, pois quanto sujeito reconhecido em sua subjetividade, resgatando sua
procuramos planejar, organizar, nos posicionarmos em favor atuação social e política; priorizar a perspectiva das categorias
da luta dos pobres. mais excluídas, reconhecendo seu valor e seu potencial de
­atuação política. No âmbito político: favorecer uma “política nova”,
Desafios da conjuntura refletindo sobre o papel importante dos partidos, sabendo, ao
Aqui apresentamos os desafios que consideramos mais pre- mesmo tempo, que não representam o único caminho para um
sentes no trabalho: conseguir estar presente na caminhada dos projeto de sociedade; o SARES não pretende limitar-se à cidade
movimentos populares; colocar a Amazônia e seus problemas de Manaus e sua ulterior concretização se dará à medida de sua
e saídas no centro da nossa análise; a falta de paradigmas e maior inserção na Região Amazônica vista como totalidade e
a mudança rápida da conjuntura real e, por conseqüência, dos além das próprias fronteiras; o diferencial proposto pelo SARES
valores, dos conceitos, dos modelos de análise; a dificuldade está numa nova assessoria metodológica mais participativa e
de completar a análise econômica e política com a perspectiva mais envolvente. A preocupação permanente com o intercâmbio
cultural; conseguir capacitar lideranças autóctones para serem de experiências é que vai ajudar a equipe a pensar a Amazônia
protagonistas da caminhada; ajudar a Igreja a se abrir mais para na sua diversidade e globalidade. 
a realidade social, num trabalho não exclusivamente assistencial;
conhecimento e análise do mundo da droga. Cláudio Perani é sacerdote jesuíta e membro do Sares.

Missões - Jul/Ago 2005 29


Curitiba (PR) no Parque do Morro do Osso, mas a grande maioria
Extensão Universitária em Missiologia deles fica fora dos limites do parque. A comunidade,
de cerca de 20 famílias, é formada por indígenas de
O COMIDI (Conselho Missionário Diocesano) de várias aldeias do estado. Eles reocuparam o Morro
Curitiba e a PUC (Pontifícia Universidade Católica) do em 9 de abril de 2004 e reivindicam da Fundação
Paraná promovem o 2º Curso de Extensão Universi- Nacional do Índio (Funai) o estudo da área, que vinha
tária em Missiologia, com o objetivo de contribuir na sendo utilizada pela prefeitura de Porto Alegre como
formação missionária para agentes multiplicadores e atrativo turístico, pela presença de sítios arqueológicos
animadores da Dimensão Missionária da Arquidioce- e cemitérios indígenas no local. A Funai visitou os
se, contribuindo para que as comunidades assumam indígenas em fevereiro de 2005 e comprometeu-se
e vivenciem o anúncio do Evangelho, na realidade a enviar um relatório informando as conclusões da
local, além-fronteiras e Ad Gentes, além de promo- visita. Segundo a equipe do CIMI em Porto Alegre,
ver e reavivar a identidade missionária da Igreja em nada foi encaminhado pela Fundação.
todos os níveis da comunidade eclesial, motivando a
organização e implementação dos COMIPAs. O curso Salvador (BA)
será realizado de agosto a dezembro de 2005, sempre CESE realiza Assembléia Geral
no segundo sábado de cada mês. Informações pelo A Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE)
e--mail: comidi@matrix.com.br (Ir. Ivone) realizou nos dias 8 e 9 de junho, a sua XXXII Assembléia
Geral anual, no Centro de Treinamento de Líderes, em
VOLTA AO BRASIL

São Paulo (SP) Salvador, Bahia. Estiveram presentes, além das igrejas
Eleita nova Direção Provincial IMC associadas da CESE, representantes de igrejas e or-
ganismos religiosos e ecumênicos convidados, como

Cleber P. Pires
a Igreja Batista Nazareth, o CLAI - Brasil (Conselho
Latino-americano de Igrejas), o CONIC (Conselho
Nacional de Igrejas Cristãs), Cáritas e Diaconia. Ao
final da assembléia, a CESE , o CONIC e demais
organismos ecumênicos presentes divulgaram uma
nota cobrando do governo e da sociedade civil ética
na política e o fim da impunidade. As Igrejas Cristãs
do Brasil constatam, no documento, “um nítido mal-
estar na vida democrática do País provocado pela
imposição progressiva da agenda neoliberal nas
entranhas do governo, que se expressa em muitos
Padres Giovanni, Jaime, Lírio, Elio e Pietro. aspectos das reformas realizadas ou em curso (...): na
Reunidos entre os dias 15 e 16 de junho, em São prevalência do agronegócio sobre a agricultura familiar
Paulo, no Centro Missionário José Allamano, após o e na lentidão da Reforma Agrária (...); na aceitação
retiro anual, os missionários da Consolata do Brasil passiva do endividamento público, sem qualquer
elegeram o novo Superior Provincial, padre Lírio Gi- restrição à especulação financeira; e, ainda, na opção
rardi, bem como o Vice-provincial, padre Jaime Carlos por políticas compensatórias desacompanhadas do
Patias e os Conselheiros Elio Rama, Giovanni Crippa atendimento estruturante e universal segundo uma
e Pietro Plona. Padre Lírio, natural de Rio do Oeste, perspectiva de direitos”.
Santa Catarina, exercia o cargo de Vice-provincial e
era pároco da Paróquia Santa Margarida, em Curitiba. Brasília (DF)
Substitui padre Michelangelo Piovani, que foi Superior Pastorais Sociais e Organismos
Provincial durante 6 anos. A nova Direção Provincial Na reunião das Pastorais Sociais e Organismos
tomou posse no dia 16, por um período de 3 anos. da CNBB, realizada de 2 a 3 de junho, em Brasília,
foram levantados os principais temas que interessam
Porto Alegre (RS) a todas as Pastorais Sociais: mística e espiritualidade,
Kaingang sofrem preconceito políticas públicas, direitos humanos e economia soli-
“´É hoje que vou tirar essa bugrada daqui´. Foi dária. Além disso, ficou decidido que serão mapeadas
com essas palavras que o Secretário Municipal do ações que têm a participação conjunta das Pastorais
Meio Ambiente nos tratou ao chegar aqui no dia 4 de Sociais como: Campanha da Fraternidade, Semana
junho. Por muito tempo nos chamaram de bugre para Social, Mutirão de Combate à Fome e Grito dos
dizer que somos bicho do mato, que somos animais, Excluídos. Outro assunto abordado foi a 4ª Semana
que dá para matar, eliminar. Mas nós não aceitamos Social Brasileira, em que se constatou a relevância
isso. Exigimos respeito, e queremos que justiça seja da multiplicação dos seminários regionais por todo
feita contra toda discriminação e preconceito. E temos o país, mas, também, foi verificada a pouca partici-
certeza que a população de Porto Alegre não pensa pação dos movimentos sociais e entidades ligadas
assim e tem esse respeito por nós”. Assim protestaram à Igreja nestes eventos. Para mudar essa realidade,
os Kaingang que vivem no Morro do Osso, na cidade de foi proposta a realização de uma oficina nacional
Porto Alegre, Rio Grande do Sul, após uma tentativa do com a participação das entidades e movimentos em
Secretário Municipal de Meio Ambiente, Beto Moesch, setembro, em Brasília. 
de retirar, sem ordem judicial, os barracos onde vivem
os indígenas. Alguns dos barracos foram construídos
Fontes: CESE, CIMI, CNBB.
30 Jul/Ago 2005 - Missões
Ordenação de três novos diáconos
N
o dia 18 de junho, no Santuário Paróquia Santa na oração, junto aos missionários e colegas, que amadurecemos
Edwirges, bairro do Sacomã, São Paulo, foram os compromissos cada vez mais exigentes do seguimento de
ordenados diáconos os seminaristas Bento Eugê- Jesus, na fé e no dia-a-dia. E também com nossos professores
nio Muhita (moçambicano),
Cláudio Moratelli (brasileiro)

José Roberto Garcia


e Stanslaus Joseph Mnya-
wani (tanzaniano). A celebração foi
presidida pelo bispo dom Odilo Pedro
Scherer, Secretário Geral da CNBB e
concelebrada pelos padres Lírio Girardi
(Superior Provincial IMC) e Elio Rama
(Reitor do Seminário Internacional IMC
em São Paulo), entre outros numerosos
sacerdotes. Participaram da celebração
colegas diáconos, seminaristas, religiosas
e numerosos fiéis das comunidades da
Paróquia Santa Madre Paulina de He­
liópolis onde os neo-ordenados realizam
serviços pastorais.

Agradecimento
No final da celebração o neo-diácono
Cláudio Moratelli leu uma mensagem de
agradecimento em nome de todos:
“Há uma frase lapidar que expressa
o caminho de quem se empenhou em
responder com a vida ao chamativo projeto utópico evangélico é que se abriu um horizonte da realidade constitutiva do ser
de Deus: ‘A vocação nasce na família, cresce na comunidade, humano, do mundo e de Deus no tabuleiro da vida.
amadurece na oração e dá fruto na missão’. Com nossos pais, No Brasil, em Moçambique e na Tanzânia o fruto da missão
irmãos, irmãs e parentes, foi que descobrimos a presença foi tomando corpo e nos dando forças para alimentar toda a se-
convidativa de Deus. Já nas comunidades foi que sentimos o riedade da nossa entrega a serviço da libertação e da causa de
direcionamento pelo qual o vento de Pentecostes nos encaminha- Jesus. Por isso, agradecemos a todos que direta ou indiretamente
va. Respondendo ao chamado Consolata do Pai, outros irmãos nos proporcionaram viver este momento. Muito obrigado”. 
entraram nos seminários do Instituto conosco, todos querendo
ser missionários. Mas, na busca muitos partiram, partiram para o Bento, Cláudio e Stanslaus
encontro com outras opções de vida. A nós tocou continuar, e foi Diáconos missionários da Consolata


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01 assinatura R$ 35,00 A Revista Missões publica 10 edições no ano.
02 a 09 assinaturas R$ 25,00 cada assinatura Nos meses de Jan/Fev e Jul/Ago a edição é
10 ou mais assinaturas R$ 20,00 cada assinatura bimensal.

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