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Capitulo Décimo Segundo

HISTÓRIA VERÍDICA

O jipe era confortável e, parecia mesmo o Mercedes da


minha mãe. Ainda que estivesse apavorado com o
momento sinistro, nada temia demais porque Sally estava
ali comigo, a olhar sem distracções para a escuridão que
nos antecedia.
Não havia maneira de fugir.
Estávamos ali os dois, num carro, no meio do nada e
calados. Nenhum de nós cedia. O que estaria Sally a
esconder para não se abrir comigo?
- Vais falar ou vamos continuar assim, calados e
"amuados"? - Queixei-me com indignação. As suas mãos
mexiam-se de maneira a que o volante deixava, mas ao
mesmo tempo que eu falava, elas tomavam uma forma
mais marcada, ainda que de maneira esforçada.
Não me esquecera de que ela era muito mais frágil do
que eu pensava. Na verdade só estava com uma força
superior à minha quando era para me proteger.
- Lembras-te do que a Jennifer te disse acerca do
Kelvin, e de tudo o que tinha a ver com a família que
encontrou a criança?
Eu ainda sei que tu não percebes-te isso muito bem.
- Tens razão. Fiquei confuso em relação a isso.
- Com medo... Talvez?
Não a olhei porque aquilo era uma verdade
incontornável, e, se ela me compreendesse, saberia que
estaria a minha amizade em causa com ela.
A estrada parecia irregular. Um escuro e um cinzento
claro estavam a cintilar enquanto corriam e o jipe os
deixava para trás, como se eles pedissem ajuda e nos, não
quiséssemos ligar.
Seria essa a minha maneira de ver a nossa verdadeira
situação, ou a situação de Jennifer e Kelvin? O que poderia
eu fazer para conseguir integrar-me de modo amistoso num
filme que me envolvia de medo?
Tinha a certeza de que ela me protegeria e não podia
cair na escuridão.
- Quem são o Thomas e a Miriam? - Questionei-a de
repente.
O seu olhar era terno e muito caloroso. Era bom
demais poder desfrutar de uma relação tão próxima e
compreendida.
- São meus irmãos. Vieram para cá quando nos
conhecemos.
- Mas tu disses-te que só tinhas o Kevin... Porque não
disses-te alguma coisa sobre eles também? - Perguntei a
levantar uma das sobrancelhas com desconfiança.
- Lembras-te quando nos conhecemos? Quando
falamos pela segunda vez? - Perfeitamente, e agradeço por
esse momento... Sally tossiu e afastou-se no banco,
fechando ainda mais os punhos no volante.
O ponteiro estava a bater nos cem quilómetros por
hora, nada a que não tivesse habituado, mas, ela
preparava-se para mudar a velocidade para bastante mais.
- Por causa deles, os Nirvan podem vir a castigar-nos
por falta de conduta para com a nossa espécie. Os Nirvan
são três elementos que têm poder sobre todas as famílias
de gargulas. Se temos estas habilidades, muito se devem a
eles. Quando me transformei... – Estava triste e com medo –
Eles ajudaram-me. Um dos malditos Ridell apanhou um
outro irmão meu, o Ivan.
- Ele estava a invadir-lhes a aldeia – Supus com a ideia
a vaguear entre a sua família e a história de Jennifer. Pelos
vistos, o mito era bem real, e Jennifer não me contara tudo.
Teria Sally ido a GreenTree para lhe dar uma repreensão
por causa da verdade que procurava omitir?
Deixei-a continuar sem mexer um segundo os meus
lábios.
- Ele apenas estava à procura de um caminho, quando
foram atrás dele.
O Ivan não gostava de alguém que o pudesse
enfrentar, ou até que o pudesse enervar, e, na verdade, até
o ajudaram, pois estava à procura de alimento – Entrevi
com medo.
A minha voz tremeu e falei muito baixo, não a
encarando.
- Matam humanos - Engoli em seco com o receio de
estar ali.
- Nada disso, e não tenhas medo. Nada faria para te
assustar, ou fazer mal. Desculpa-me. E não, não nos
alimentamos sequer de carne, apenas de muitas das
gargulas que vês, foram humanos como eu, que
adormeceram na escuridão da noite e outros em plena luz
do dia. Apenas comemos uma vez por ano, o vosso ano, e
apenas comemos frutos vermelhos como amoras e frutos
silvestres. Mas, o Ivan não teve alternativa, e além disso já
não se alimentava de carne desde a data em que foi
transformado, que seria mais ou menos há quinhentos
anos.
Virei-me na direcção de casa fazendo sinal com a
cabeça, ao tentar fugir para fora do carro.
Ouvi Sally a murmurar demasiado alto atrás de mim,
ainda no interior do jipe.
- Não percebo o que dizes, Sally – Disse com um som
de ameaça.
- Lá em casa, és mais vulnerável a todos, de seres
prisioneira, para te poderes movimentar - Afirmou
mordendo o lábio inferior como sinal de apreensão,
dirigindo-se devagar e delicadamente a minha casa,
enquanto eu abria o portão.
- Claro, sem margem de dúvidas – Retorqui com um
sorriso malvado.
- Tenho que ter alguma liberdade.
Desconheci o som radiante de Sally, apesar do que lhe
dissera a tentar impor-me. O som fez com que me sentisse
mais estúpido do que quando a conhecera. Entretanto, abri
a porta ferrugenta, e meti o meu casaco para ainda do
cabide que estava junto à mesma, do lado de dentro,
olhando Sally a trancar as portas do jipe com uma chave a
distância.
Dei-lhe espaço para que passa-se e desimpedi o
caminho, ao que ela se precipitou com um movimento de
pura satisfação.
- Ora, ora! - Observei com alegria e surpresa.
- Tenho tempo! - Retorquiu ela - Espero não estar a
incomodar.
O seu olhar escuro e penetrante pousou em cada
canto, e em mim, com uma concentração indecifrável.
- Não, não há problema. Só não quero que fiques
desapontada, e pouco tempo.
Sally esboçou um rasto de sorriso.
- Em relação a estar desiludida, ainda nada posso
apontar, quero dizer, por fora a casa é bela. Mas em relação
ao segundo ponto...
Olhou-me com descontentamento.
Era claro que não iria ficar por muito que desejasse.
Sally poderia estar a fazer "bluff" e o meu desagrado
permanecia inalterável.
- E sabes que prometi estar cedo em casa –
Acrescentou com o olhar na porta.
Depois abanou a cabeça e saiu porta fora, voltando
segundos depois com um livro muito antigo. Talvez
estivesse mesmo disposta a ficar, ou não traria aquilo para
dentro. A não ser que, me fosse dar uma alergia com o pó
que aquilo fazia voar.
- É velho – Verifiquei estupidamente, pegando com
cuidado o objecto que ela tinha. Mostrava estar ansioso,
como se ela fosse contar-me um conto antes de eu
adormecer.
- Podes confirmar – Respondeu Sally.
- E o tem aí? - Interroguei olhando-a com medo
ascendente, pois permanecia de pé.
- Segredos e histórias – Disse, com a voz a oscilar
entre o baixo e o normal.
Porém ouvi-a com bastante clareza e percebi-a.
As folhas do livro enrugado na capa e mas beiras,
parecia tão frágil quanto eu as imaginava.
- Então e o que conta a história?
- Muita coisa! - Sorriu. Era fácil para ela estar sempre
alegre – Da minha família. Da minha espécie.
- Boa – Entusiasmei-me - Ainda por cima conta coisas
sobre a vossa espécie. Conta por favor!
Apontou com o indicador para a primeira folha.
- Este é o meu tetravô. É um homem... Era um homem
sem igual, que tratou de todos os que aí existiram. Aí
começou a nossa "existência".
- Era o principal – Tentei com precaução – É muito
importante para vós não é? - Quis completar com ainda
mais perguntas.
- Sim.
- Ah. Fico admirado por ainda teres isto.
Fitou-me devagar, atraindo o meu ser até ela para
ficar a adorá-la.
- Isto foi mais um empréstimo dado.
- Um belo "roubo" – A minha voz exprimia uma
calorosa brincadeira – E ninguém deu conta do
desaparecimento dessa preciosidade... Realmente és uma
pessoa e tanto!
Acenou com a cabeça, de uma maneira a brincar com
a situação, remexendo no meio do livro como se procurasse
alguma coisa.
- Daniel, aceitarias que este álbum fosse também um
álbum teu? É que tenho ainda um espaço para uma
fotografia, e gostaria de a preencher.
Subi de novo o olhar, extasiado.
- Eu e tu então.
A seguir saí dali e fui até uma gaveta junto ao
telefone, que se abriu com mais força do que eu esperava,
espalhando papéis por todo o lado. A minha foto apareceu e
eu recuperei-a, sem ter tempo para arrumar o resto.
- Acho que isto ficaria melhor contigo - Disse-lhe.
Reflecti como eu gostava de olhar para a fotografia
com a imagem dela lá espelhada.
- Teimoso – Murmurou Sally por entre dentes.
- Mas vais contar-me a história ou não?
Não podia esperar mais, com os nervos de decifrar
aquele mistério.
Sally olhou-me por uns segundos e não pude parar
para pensar sequer em como a noite se prolongava.
- Um pouco – Acabou por concordar – Penso que o meu
irmão Thomas, não me olhará da mesma maneira quando
souber do sucedido. Desde então, falará comigo de uma
maneira estranha e distante, já o conheço! Acho que ele
não voltará a deixar o livro por mãos alheias. O resto dos
presentes neste livro foram alguns tios, o meu avô e
mesmo no fim, apareço eu e depois os meus irmãos –
Percorreu o livro a correr e chegou à penúltima página,
onde ela era pequena.
- Eras mesmo linda – Congratulei-a com ela a corar.
Ela ajeitou-se um pouco e recostou-se no sofá onde
estávamos. Momentaneamente fechou o livro e pousou-o,
cerrando o maxilar pronta a falar.
- Posso contar a história ou não? Então o que
aconteceu foi que, há muito tempo...
- Que idade tens agora? - Interrompi depois de ouvir o
"há muito tempo".
- Os mesmos que tu...
- Continua então. Era só mera curiosidade –
Resmunguei.
- Como estava a dizer, há muito tempo eu estava a
sair da escola e já era de noite. A lua mal se via, porque
estava quase a chover e havia muitas nuvens.
Depois de algum tempo sozinha, meti-me num beco, e,
pensei que me tinha dirigido ao certo, pois a minha casa
ficaria após esse beco, mas não era o beco que esperava, e
este não tinha saída – Demonstrou um rosto bastante triste.
- Se não quiseres continuar não faz mal – Assegurei
notando a sua dificuldade em voltar ao passado.
- Nem pensar! Já não posso voltar atrás. Agora conto
tudo.
- Estou a ouvir-te – Brinquei, ainda que bastante tenso
pelo que viria aí.
Ela tomou nova coragem e inspirou, agarrando os
joelhos com firmeza e grande força.
- Eu era jovem e um pouco tímida, apesar de ter
bastantes rapazes interessados em mim. Era bastante
atraente, até para mim, quando olhava o espelho. Devia
pensar ser a rainha da escola, pois nenhuma das outras
raparigas tinha o meu estilo e, algumas até tinham inveja...
Olhei-a com grande confiança e orgulho. Se antes era
linda, agora deveria ser bem mais.
Haveria agora alguém com inveja, ainda?
Miriam era simpática, mas deveria ter tanta inveja
como as amigas que ela tivera no passado... Ou estaria
enganado? Pensava que não.
- O beco era escuro e decidi sair dali, mas, alguém se
moveu e, atrás, dos lados e à frente apareceram homens e
rapazes loucos para me terem – Estava envergonhada, mas
mesmo assim quis continuar
- E eu assustei-me imenso. Logo desatei a fugir para
trás e consegui-me esconder atrás de um caixote ali ao pé,
mas eles encontraram-me. Usavam capuchos negros e
alguns deles tinham tatuagens estranhas, que pareciam
morcegos curvados sobre si. Depois pegaram em mim e
puxaram-me para dentro de uma das portas de ferro que
estavam junto à parede, quase omitidas de olhos humanos.
Na verdade, os tijolos da porta eram os mesmos da parede
circundante, e assim ninguém dava de conta. Lá dentro, era
tudo medieval, com espadas e escudos, e, após um dos
homens, de cabelo curto e claro, olhos de serpente e uns
braços fortes, me ter empurrado abruptamente para o meio
do pátio aclarado apenas por tochas, vi um trono.
- Um trono? Um trono de rei? Quem eram eles afinal? -
Perguntei com o sangue a fervilhar-me nas veias.
Nesse momento Sally agitou-se como se estivesse
acabado de sentir um calafrio. O clima tinha ficado gelado
desde que ela começara a contar a verídica história, e por
isso, fui ver se estava alguma coisa aberta, mas não era
esse o caso.
O frio teria sido provocado pelo nosso medo e
angústia. Ao menos ela ainda ali estava, e ao meu lado.
- Lembro-me como se fosse hoje, o que ele falou... –
Reflectiu com o olhar pregado ao chão, olhando em frente
com os olhos bem abertos e vermelhos de sangue.
- Chamava-se Raüs e era o mais poderoso. Ao lado
apareceram os outros dois, Lexis e um, que penso ter sido o
irmão dele, e o mais razoável a níveis de violência. Os três
riam-se – Aí contraiu-se e afastou-se de mim, e eu não
entendia o porquê de tal acto – E fizeram-me no que sou
hoje, mas não de uma maneira muito... Amigável, até
porque dei bastante luta, mas em vão.
Fiquei fragilizado com a sua tristeza em ter de contar
tudo aquilo. Não era coisa que eu devesse ter feito, mas a
curiosidade falou mais alto.
- Se soubesses o quanto me arrependo em te ter
obrigado a isto... A contar o que não queria...
- Fui eu! - Interrompeu pondo-me os dedos
suavemente nos lábios para que não falasse mais – A tua
companhia faz-me bem. Sinto-me verdadeiramente
humana, a cem por cento – E sorriu.
Agora eu sabia que chegara a hora.
Com ou sem habilidades, eu seria muito mais que um
namorado para Sally. Teria de a proteger com a minha
própria vida, e isso não mudaria nada, porque sabia que se
fosse possível alguma coisa, apenas seria que o nosso
futuro fosse eterno, para ambos.

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