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Jornal Informativo de História Antiga

Sumário
Pesquisas
3 A Homophilía na
Educação Ateniense

Entrevista
4 Profª Margareth Bakos
revela a recepção de
Pesquisadora Maria de
Fátima apresenta os rituais
símbolos do Egito Antigo
no Brasil fúnebres dos Dogon na
região do Malí, África
Pesquisas
6 Rituais Fúnebres
africanos: um campo de
Muita música,
dança e
experimentação
máscaras
ajudam a
Cultura & Tumba egípcia sugere
7 Sociedade
O Túmulo de Petosíris:
reorganizar as
almas e
preparar para o
inovação estilística para a
início de um estilo grego-
local que ele se civilização Greco-egípcia
egípcio
torna
divindade. O túmulo de Petosíris traz além dos
trechos do Livro dos Portais e do Livro
Conselho Editorial (Página 6)
dos Mortos, o cotidiano egípcio e grego,
Prof. Dr. Fábio de Souza Lessa mostrando assim como o universo
Face Mask, 19th–20th century Dogon peoples; Mali
UFRJ Wood, palm rib, hide, fiber, pigment. H. 65 in. (165.1 simbólico egípcio foi influenciado pela
cm) Gift of Lester Wunderman, 1977 (1977.394.39) presença greco-macedônica. (Página 7).
Prof. Dr. Alexandre Carneiro
Cerqueira Lima NEA vai à Argentina
UFF
Professores e Pesquisadores representam o Brasil no V Colóquio Internacional Mito y Performance: De
Profª. Drª. Ana Lívia Bomfim Vieira Grecia a La Modernidad em La Plata, entre os dias 16 e 19 de junho. (Página 2)
UEMA

Expediente Entrevista
Profª. Margareth
Coordenação e Direção Página 3
Profª. Drª. Maria Regina Candido Bakos revela o Egito
Antigo no Brasil e
Coordenação de Publicações
fala sobre seu
Prof. Ms. José Roberto Paiva
Gomes Projeto Africanidades,
Ideologia e Cotidiano.
Edição
Zeus e Ganimedes. (Páginas 4 e 5)
Pesq. Carlos Eduardo Costa
Museu de Olímpia. GR37344
Campos
Edição Visual
Profª Tricia Magalhães Carnevale
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A História Antiga na América Latina


Prof. Ms. José Roberto Paiva Gomes e Pesq. Carlos Eduardo Costa Campos

A partir das trocas de amizade (philía) realizadas através das trocas de conhecimentos, que nós crescemos como
pesquisadores. Essa é a idéia principal de nossa participação em colóquios internacionais, como os promovidos pela Universidade de
La Plata, Argentina no primeiro semestre de 2009. Passamos a conhecer as pesquisas portenãs através da participação de Ana
Tobias, coordenadora geral do evento e de Maria Cecília Colombani colaboradora de forma ativa do congresso divulgando os
resultados de suas pesquisas pela Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, um local na América Latina responsável por dizer ao
Mundo que nós, sul-americanos, estamos produzindo estudos de excelência voltados para a Antiguidade Clássica.
A iniciativa do colóquio internacional ratifica e corrobora a possibilidade das interações e trocas nas áreas de diferentes
saberes que dialogam com a Antiguidade. A partir do convívio com as pesquisadoras argentinas descobrimos que o mundo da
pesquisa de língua espanhola apresenta uma historiografia avançada ao se tratar de apreender e assimilar o novo em termos
científicos que vem da Europa ou das línguas anglo-saxãs. Os estudos transcendem o mundo ibérico e se pautam também na
cultura grega, com ênfase na mitologia e na filosofia.
Ficamos contentes com o convite das professoras em levar ao conhecimento dos alunos e maestros argentinos um pouco de
nossa prática de pesquisa em Antiguidade Clássica, expressados principalmente pelas conferências do Prof. Dr. Fábio Lessa de
História Antiga (UFRJ) e da Profª. Drª. Maria das Graças Augusto de Filosofia Antiga (UFRJ). Também estamos agradecidos pela
aceitação dos trabalhos livres e coordenados pelos integrantes do LHIA e PPGHC/UFRJ - Alexandre Morais, Renata Maia e Pedro
Vieira e a professora de História Antiga romana Regina Maria da Cunha Bustamante – e dos pesquisadores do Núcleo de Estudos da
Antiguidade representados por sua Coordenadora Geral Maria Regina Candido e pelos pesquisadores e colaboradores José Roberto
de Paiva Gomes, Carlos Eduardo Campos, Alair Figueiredo, Alinne Pereira Alessandra Viegas, Renata Renovato e Roger Ribeiro.
Estamos preparados para os nossos novos papéis de pesquisadores internacionais e de turistas
ávidos por conhecer e entender o outro que está tão perto na produção do saber longe de nós na
distancia geográfica. Trocamos bastantes experiências acadêmicas como também de vida,
afinal aprender a viver, mesmo que em um curto período de tempo e em outro
país seja bem difícil.
Deixamos neste editorial registrado a nossa gratidão pelas
professoras Ana Tobias e Maria Cecília Colombani em nos
receber e acolher em terras argentinas, assim nos
fazendo sentir um pouco em casa
por intermédio dos jantares, dos
passeios e de diversas trocas
acadêmicas realizadas.

Prof. Ms. José Roberto


Profª. Drª. Maria Regina
Prof. Roger
Pesq. Alinne
Profª. Renata
e à frente
Profª. Ms. Alessandra
e
Pesq. Carlos Eduardo

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A Homophilía na Educação Ateniense


Ricardo Almeida de Morais

Na busca para entender as relações esse amante, após este ter passado por
pelas quais um jovem grego passa até todas as modalidades do saber e do
chegar ao nível de reconhecimento civil conhecimento, ele se desliga da beleza e
perante a sociedade e toda Pólis, no que das relações concretas. A base inata
tange à cidadania grega, qual à desta pedagogia é a descoberta do
metodologia aplicada nesta formação e “homem dentro do homem”. Foi Platão
qual o objetivo final desta educação. quem criou e fez possível a existência do
Norteada pelo encontro dos belos na humanismo como uma concepção
obra o Banquete de Platão. filosófica consciente, e a obra que se
A compreensão da aceitação da expõe esse humanismo é o Banquete.
prática da homophilía [amizade entre Este não se limita apenas a dialética
homens] pelos gregos, que é repleta de lógicas.
apresentada através da historiografia.
Através de prática sexuais que podem ser Indicações para leitura
aceitas ou marginalizadas, mediante o ZÉFIRO E JACINTHO. 211738, New York (Ny),
comprimento das leis de conduta na Metropolitan Museum, 28.167 PLATÃO. O banquete In: Platão. São
formação do cidadão grego. Uma Paulo: Abril Cultural, 1972 [Coleção os
pedagogia que é baseada na pederastia. O documento que Platão nos Pensadores].
presenteia é o seu mais bem estruturado

 diálogo sobre o amor [Eros] ao que é


belo. A expressão homoerotismo /
DOVER, K.J. A homossexualidade na
Grécia antiga. São Paulo: Nova
Por fim, o amante (...) deve homophilía está sendo empregada Alexandria, 2007.
se libertar de todos os laços segundo a lógica do entendimento
quanto a uma relação entre iguais, neste MARROU, Henri-Irénée. História da
que o mantêm preso a esse
caso homens, aristocratas que buscam Educação na antiguidade. São Paulo:
amante (...)
uma virtude moral. A obra não é apenas Editora Pedagógica e Universitária, 1975.
um diálogo, mas, sobretudo um duelo de
 palavras, entre aristocratas de posição SARTERC, Maurice. A homossexualidade
reconhecida. O Banquete entre os na Grécia Antiga. Amor e sexualidade
Quando os primeiros pelos de um helenos é o maior evento onde é no Ocidente: Horácio Goulart e Suely
jovem ainda estão por vir [erómenos], aclamada a verdadeira tradição da Bastos. Porto Alegre: L&PM, 1992.
escolhe um homem adulto já barbado, autêntica arte masculina, com a
sábio e de cidadania reconhecida glorificação na poesia e no canto, onde o
[erastés], se juntam para estabelecer vinho e bebido em conjunto. Que deve
uma relação de homophilía, umas ser julgado por Dionísio o qual é evocado
espécies de pederastia/pedagógica como juiz da competição. Prof. Ricardo Almeida de
relacionadas com o rito de passagem da Por fim, o amante está livre da Morais
adolescência para a idade adulta. Essa servidão que o prendia à paixão, a um
Licenciado em História pela
conjuntura se relaciona ao banquete de ser humano mais velho, ao chegar em UNIGRANRIO
Platão onde ocorre o discurso do amor sua maturidade ele deve se libertar de
ao que é belo. todos os laços que o mantêm preso a

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Profª Margareth Bakos revela a recepção de


símbolos do Egito Antigo no Brasil
Entrevista concedida ao Pesquisador Carlos Eduardo da Costa Campos – NEA/UERJ

Philía: Como foi MBakos: Aprendi, em meu período de mim realizadas sobre Egito antigo
sua trajetória docência na UFRGS, com o exemplo da tiveram que disputar um espaço em
acadêmica? Profª Loiva Otero Felix, responsável relação a outras obrigações minhas, em
também pela minha aproximação com o relação aos programas de pós-
MBakos: O meu grupo liderado pela Profª Neyde Theml, graduação, nos quais sempre fui
mestrado foi reali- a criadora do Laboratório de História solicitada a dar aulas e orientações
zado, em 1982, Antiga (LHIA) da UFRJ, e organizadora sobre escravidão, abolição e questões
na Pontifícia de seus eventos, atualmente na XIX de política e urbanização. Somente
Universidade Ca- edição, que esse espaço da área agora, em 2009, encontrei um viés,
tólica do Rio deveria ser aberto com a promoção de muito rico, para problematizar e
Grande do Sul, que lançou o primeiro eventos porque, aqui, como em outros canalizar minhas experiências e
curso de mestrado no estado do Rio estados da Federação, o estudo de inquietações. Atualmente, desenvolvo
Grande do Sul. Para elaboração da História Antiga é pouco incentivado. Foi, um único projeto de pesquisa, intitulado
dissertação de mestrado pesquisei, a assim, com esse intuito e com vistas à Africanidades, Ideologia e Cotidiano
partir da abolição da escravatura, a criação de um espaço de trocas e de (AIC). Pela abrangência da proposta, o
história sul-riograndense ao longo do atualização, que lancei a Jornada de projeto abriga problemas discutidos em
século XIX. O doutorado foi realizado na Estudos de História Antiga. Em todas as minhas pesquisas anteriores, e
Universidade de São Paulo (USP), em princípio, a proposta era instituir um agrega os projetos de todos os meus
1986, com concentração em História fórum em que os estudantes de História orientandos atuais e ex-orientandos. O
Econômica. Para a elaboração da tese, da PUCRS pudessem ter contato direto AIC funciona como um grande guarda-
voltei aos arquivos do meu estado, com pesquisadores em História Antiga chuva que comporta desde as relações
centrando a atenção em um fato sui brasileiros, suas fontes bibliográficas e escravistas no Brasil colonial e o
generis, o continuísmo político ocorrido conhecimentos advindos de museus e cotidiano do poder político-
na primeira metade do século XX: a arquivos, visto que muitos deles administrativo da população gaúcha ao
permanência, ao longo de quarenta dificilmente teriam condições de ter último dos meus projetos pessoais: a
anos, de apenas três chefes municipais esse acesso individualmente. O tom egiptomania. A egiptomania é um ramo
no governo de Porto Alegre. Este inusitado dos eventos, conferido por da egiptologia, situado entre a ciência e
percurso de pesquisa articulou-se com sua intenção explícita de valorizar o a imaginação, pois trabalha com
meu ingresso no magistério superior: antigo Egito no seu entorno asiático e imagens e vocabulários inusitados no
em 1987, após a aprovação em um africano, suscitou o interesse de alunos Brasil, que remetem a valores e
concurso para História moderna e dos cursos de História do Rio Grande do simbologias do Egito antigo. Esse
contemporânea, fui admitida na Sul e de todo o pais, até mesmo de projeto descobriu, pontuou e mapeou a
Universidade Federal do Rio Grande do regiões distantes como o Nordeste. presença do Egito antigo neste país,
Sul (UFRGS), para lecionar História da Uma evidência disso foi o que ocorreu tema ora abrigado sob o termo
Antiguidade Oriental. Foi, então, que na décima edição da Jornada, que atualizado de africanidades (Lei
resolvi fazer um pós-doutorado em contou com o patrocínio da CAPES: a 10.639/03). Os primeiros resultados,
Londres (1988), como bolsista do Jornada trouxe da França o papa da alcançados graças ao apoio do CNPq e
Conselho Nacional de Pesquisas e egiptomania internacional, Jean Marcel da FAPERGS, foram publicados em 2004
Desenvolvimento (CNPq). No University Humbert, e lotou o auditório do Prédio no livro Egiptomania: o Egito no Brasil,
College London, aperfeiçoei minha 40 da PUCRS, com um público de mais pela ed. Paris, da Contexto. Esse livro
formação em história do Egito, então de quinhentas pessoas. traz o mote, que levou à formação do
enriquecida com o aprendizado da AIC: buscar, na cultura brasileira, como
escrita hieroglífica na City University. Philía: Qual a sua temática de pesquisa ensina Homi Bhabha, um espaço de
na atualidade? entendimento das diferenças sociais. O
Philía: Qual o espaço de fala sobre AIC foi fundado a partir de discussões
História Antiga no Rio Grande do Sul? MBakos: Pelas características da minha nascidas em reuniões com meus ex-
formação acadêmica, as pesquisas por orientandos, com destaque para Lucia

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Regina Brito Pereira e Arilson dos historiografia baseada nas fontes greco- entre o mundo mediterrânico oriental e
Santos Gomes que pesquisaram as romanas. Assim, tanto o AIC, como as ocidental, através de práticas mágicas.
relações de afro-brasileiros, via suas Jornadas promovem a idéia de que o Philía: Qual a sua visão sobre as
participações na educação e na política ensino-aprendizado da História Antiga pesquisas do NEA/UERJ através da Profª
gaúcha, respectivamente. Ainda são deve ser atualizado. Elas recomendam o Drª Maria Regina Candido?
membros ativos do grupo: Ana Paula de abandono da visão eurocêntrica,
Andrade Lima de Jesus que defendeu, tradicional, conferida ao processo MBakos: A Profª Drª Maria Regina veio
recentemente a dissertação de histórico nesse período, e a revisão do como convidada à Jornada, atendendo à
bacharelado, Pirâmides do Egito antigo: lugar que esse olhar tem destinado às sugestão de jovens alunos, que faziam
imagens do cotidiano brasileiro no séc. sociedades desenvolvidas no continente parte da Comissão Coordenadora. Os
XX e XXI, o mesmo feito de Karine dos africano, com ênfase no Egito faraônico. ecos da sua competência, como
Santos que defendeu a dissertação de pesquisadora, líder de pesquisa e
bacharelado sobre caricaturas com palestrante, já tinham chegado neste
esfinges. Fazem parte ainda do grupo, rincão. Ela proferiu duas conferências
Márcia Brito que pesquisa sobre, para A egiptomania é um ramo magistrais. A primeira, na abertura do
tese de doutorado, com obeliscos no da egiptologia, situado evento, intitulado Vestígios sobre a
Brasil, tema em que já obteve o título entre a ciência e a cultura material sobre magia: Museu de
de Mestre, no Programa de Pós- Kerameikos, e a segunda, Práticas
imaginação, pois trabalha
graduação em História da PUCRS e mágicas na Atenas Clássica e ao longo
Gregory Balthazar da Silva, bolsista com imagens e vocabulários do mar Mediterrâneo. A erudita
PIBIC, que desenvolve uma pesquisa inusitados no Brasil, pesquisadora encerrou com chave de
sobre Cleópatra VII nesta Universidade. ouro a proposta central da XV Jornada,
que remetem a valores e
O objetivo de Gregory é apontar o que, aliás, segue a mesma desde sua
contexto africano da faraona e o vazio simbologias do Egito antigo. primeira edição, em 1995: a
historiográfico sobre essa realidade. preocupação com a compreensão e
Este grupo de pesquisa está vinculado à mapeamento das tradições e
linha de pesquisa Sociedade, ensinamentos do antigo Egito,
Urbanização e Imigração, do Programa Philía: Como foi a XV Jornada de atualizados pelos gregos e romanos, e
de Pós-graduação de História da Estudos do Oriente Antigo, realizada chegados ao Brasil, também trazidos
Pontifícia Universidade Católica do Rio entre os dias 04 e 06 de junho de 2009? pelos africanos, ao longo da colonização
Grande do Sul (PUC/RS). portuguesa, visto que eles seguem
MBakos: Para comemorar os seus permanentes, fortes e ativos entre nós,
Philía: Qual a relação entre as quinze anos, a XV Jornada, com maior estimulando o estudo sobre os tempos
pesquisas que coordena e a atualidade? duração e sem interrupção de faraônicos no Brasil. As previsões
continuidade no país sobre o tema concretizaram-se, e a fala da ilustre
MBakos: Todos os temas do projeto Oriente Antigo, buscou este ano a pesquisadora, a qual vamos nos
AIC são atuais. Veja-se, por exemplo, o parceria com o Instituto Goethe, o que esforçar para registrar em Anais confere
caso de um que parece distante: os tornou possível a vinda da Diretora do visibilidade à excelência das pesquisas
hieróglifos egípcios. Ocorre que eles Museu Egípcio de Berlim: Sylvia Shoske. empreendidas pelo Núcleo de Estudos
estão de volta ao mundo imagético do Ela apresentou uma conferência sobre de Antiguidade da Universidade
cotidiano de nossos alunos, as Pedagogias das Coleções Egípcias. Estadual do Rio de Janeiro, por ela
acostumados a acessar a internet, na Outras esplêndidas e pontuais criado e coordenado em nível de
qual encontram os emoticons, ou apresentações sobre esse tema central excelência.
transitando em uma cidade, onde os foram as de Moacir Elias, diretor do
sinais de trânsito e de propaganda Museu Egípcio do Paraná, e de Klaus
incendeiam, a cada minuto, o imaginário Hilbert, do Curso de História e do Museu
com logotipos e siglas novas. Nesse de Ciência e Tecnologia da PUC/RS. As
Profª. Drª. Margareht
sentido, os hieróglifos são temas para falas dos convidados que atenderam ao Marchioi Bakos
egiptolologia, egiptomania e a convite da XV Jornada, contribuíram em
egiptofilia. muito para o alcance dos objetivos da Professora Adjunta na Pontifícia Universidade
A genial decifração dos hieróglifos Jornada e a promoção de inúmeros e Católica do Rio Grande do Sul onde exerce
por François Champollion ainda trouxe a interdisciplinares diálogos com mundo atividades ligadas ao Ensino e a Pesquisa,
junto ao Curso de História e ao Programa de
possibilidade de leitura e compreensão faraônico, em interfaces entre história,
Pós-graduação em História.
da vida dos antigos egípcios por eles museologia e antropologia. A principal
mesmos; a historiografia sobre o Egito convidada brasileira da XV Jornada foi Doutora em História Econômica pela
antigo, não obstante, ainda está lutando Profª Drª Maria Regina Candido, da Universidade de São Paulo
para encontrar as matrizes africanas de Universidade Estadual do Rio de Janeiro,
sua história, apagadas por uma que apontou, com maestria, as ligações PhD em História pela University of London

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Rituais Fúnebres africanos: um campo


de experimentação
Maria de Fátima do Rosário

Na mitologia africana os antepassados que contribuíram com a e não trazerem prejuízo aos vivo, como espalhar sua ira, semeando
formação do grupo social ou foram os responsáveis pelo processo de pragas, destruindo colheitas e deixando a família desprotegida. O ritual
migrações, algo constante na cultura dos grupos na África antiga. Através fúnebre dos gregos nos chamou a atenção devido à similitudes e
de contato com a natureza adquiriram conhecimento das ervas e frutos, diferenças existentes quando comparadas às comunidades africanas.
descobriram plantas que serviram de alimento plantas medicinais, os Nos sistema de pensamento dos povos da África o mundo se
africanos dominavam as técnicas de metalurgia, e agricultura, divide duas partes uma habitada pelos vivos e outra parte habitada por
conhecimentos que definiram o poder de reis dos e sacerdotes. Aqueles entidades sobrenatural: os mortos, os ancestrais, forças em que as
que detinham o saber obtiveram o poder logo, após a morte estes homens pessoas buscavam orientação para lidar com o problema do cotidiano
através de rituais foram preparados para chegarem ao mundo do (Mello e Souza, 2006). Nessa perspectiva caberia ressaltar que o
sobrenatural se tornando divindade e passavam a ser tratados com deuses. conceito integra o campo de experimentação entre gregos e africanos e
Segundo Janheinz Jahn (1963, p.238) nos reporta ao mundo da cultura clássica
esculturas e máscaras eram confeccionadas com o próprio mundo tradicional o formado
para receber os espíritos desses mortos em pela totalidade das sociedades “pré-história
momento de invocação. Eram nessas obras Nossos ancestrais quiseram que os africanas”.
esculpidas em madeiras que os ancestrais homens que deixaram esta vida O nosso interesse está nos rituais
vinham quando evocados no momento do fúnebres dos Dogon um grupo étnico que
fossem contados nos números dos
ritual. Os mortos através das esculturas e habitam as falésias de Bandiagarra no Mali,
deuses.
máscaras interagiam com a comunidade por África. O ritual é composto por danças com
meio de conselhos, proteção e esperança. As (Cícero apud Coulanges, 2002: p homens mascarados totalizando
comunidades africanas acreditavam que das 22) aproximadamente 70 (setenta) máscaras.
máscaras os mortos falavam ao ser humano Para os Dogon, a dança constrói uma ligação
cuja figura o sacerdote reconhecia. O espírito ... para o mundo sobrenatural composto de
do determinado defunto ancestral através da deuses e ancestrais, sem esta relação os
maneira peculiar que o dançante e possuído Porém esta veneração mortos não podem transitar em paz para o
executavam os movimentos. mundo da divindade e trazer benefícios para
jamais se destina a madeira e sim
O ritual aos mortos parece ter sido a os vivos. Estes também possuem santuário
ao muntu [alma] a que havia
prática religiosa mais antiga da terra. Os consagrado aos seus antepassados, neles
africanos assim como os homens gregos elegido como sede. (Janheinz Jahn, estão enterrados aqueles que deram origens
adoraram seus mortos. De formas diferentes 1963) às quatro tribos que compõe o grupo,
outros povos tiveram práticas e rituais sacrifícios de animais são oferecidos neste
fúnebres parecidos, fato que possibilita a santuário.
comparação. Os deuses eram seus pais, os Como nas demais comunidades antigas
chefes dos grupos heróis da comunidade. O homem na sua emoção diante do mediterrâneo como a grega, os Dogon tem como atributo principal o
da morte transcendeu, percebeu e sentiu a essência da alma. Ou talvez as culto aos ancestrais através da dança.
almas dos mortos fizeram-se percebidas, comunicaram-se... Daí o “A morte foi, pois o primeiro mistério”. A religião dos mortos
imaginário da comunidade criar os dogmas e as regras da organização parece ter sido a mais antiga entre os homens (COULANGES, p.22).
religiosa, porque o ser humano é um ser essencialmente religioso. Elevou o seu pensamento do visível para o invisível, do transitório para
O culto aos ancestrais presentes em diferentes culturas antigas e o eterno do humano para o divino.
modernas nos permite efetuar o campo de experimentação, ou seja, a
comparação com a sociedade Grega. Os ancestrais gregos tinham suas Bibliografia
representações através de túmulos que eram venerados como templo.
Fustel de Coulanges em seu livro “A Cidade Antiga” permeia a história da COULANGES, Fustel de. A cidade Antiga. São Paulo/Editora Martin
sociedade grega através de seus costumes mais marcando o culto aos Claret, 2002.
mortos. Embora tais crenças possam nos parecer muito remota ainda
podemos observar os resquícios desses costumes em nossos dias atuais, o JAHN, Janheinz. Muntu: Las Culturas Neo Africanas. México/Editora
nosso dia de finados. Fondo de Cultura Economia 1963.
Os mortos como nas demais comunidades do Mediterrâneo eram
considerados sagrados. De acordo com Fustel de Coulanges havia um altar MELLO e SOUZA, Marina de. África e
para o sacrifício (Coulanges, p. 22) os ancestrais recebiam dos vivos toda a Brasil Africano. São Paulo: Ática, 2006.
veneração que o ser humano podia ter para com uma divindade a quem
cultuavam e temiam. A devoção incluía a obrigação, de oferecer os
banquetes fúnebres na qual colocavam em interação os vivos com os
mortos. Os alimentos eram levados e colocados sobre os túmulos, os vinhos
eram derramados, e por vezes, havia o sacrifício de sangue na quais
Graduanda Maria de
animais eram degolados. Incisões eram abertas nos túmulos para que Fátimado Rosário
vinhos e sangue descessem até os mortos. No imaginário social do grego
eles necessitavam dos alimentos para manterem a relação culto benefício Graduanda em Pedagogia pela FEBF/UERJ

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O Túmulo de Petosíris: início de um estilo


grego-egípcio
Ronaldo G. Gurgel Pereira
Petosíris foi o sumo-sacerdote e
“lesonis” (administrador) do templo
dedicado a Thoth em Hermopolis Magna
(Tuna el-Gebel). Ele viveu durante o séc. IV
a.C., no período que comprendeu o fim da
Segunda Dominação Persa e o início do
Fig. 1. A) artesãos egípcios incrustam B) Detalhe
governo macedônio.
ouro e prata em leito funerário
Seu túmulo foi contruído na
necrópole de Tuna el-Gebel em um estilo
misto egípcio e grego. Nele foram
sepultados quatro gerações de sumo-
sacerdotes de sua família. Cabe aqui
observar que um túmulo egípcio possui em
linhas gerais quatro funções básicas (1):
serve de proteção para os corpos (o
monumento em si); local de transformação
Fig.2.A) camponeses gregos fazem a colheita B) Detalhe
para o próximo estágio da existência
(espaço para ritos funerários); local da pós-
vida (presença de divindades veiculadas às
práticas funerárias,“portas falsas”, etc. ); local de memória (espaço próprio para o culto aos mortos, estelas funerárias, etc.).
Além de inscrições com trechos do Livro dos Portais e do Livro dos Mortos, o túmulo também retrata cenas do quotidiano.
Nessas cenas (2) estão representados os afazeres de egípcios (fig. 1 A e B) e de gregos (fig.2 A e B). Através da análise dessas cenas
quotidianas é possível perceber a precocidade e a intensidade do grau de influência que a presença greco-macedônia exercera no
universo simbólico egípcio.
A inovação estilística do túmulo se faz notar quando comparamos o estilo adotado para representar os gregos. Enquanto as
cenas egípcias são retratadas segundo os cânones egípcios tradicionais, as cenas gregas buscam o estilo grego (vide trajes, cabelos e
barba). Foi uma inovação sem precedentes até então, mas que iria tornar-se característica da civilização greco-egípica durante os
próximos séculos.

Notas Menu, B. L’Élite Provinciale à L’arrivée d’Alexandre: Les


(1) Um estudo mais aprofundado sobre túmulos egípcios pode ser inscriptions du Tombeau de Pétosiris in : Égypte, Afrique &
encontrado em: S.Bickel, La Cosmogonie Égyptienne. Fribourg, 1994. Orient, n.6, septembre 1997, 28-30.
(2) Imagens extraídas de : N. Cherpion et al., Le Tombeau de Pétosiris
à Touna el-Gebel, Le Caire, 2007. Cherpion, N. et al., Le Tombeau de Pétosiris à Touna el-Gebel, Le
Caire, 2007.
Bibliografia

Bickel, S. La Cosmogonie Égyptienne : Avant le Nouveau Empire Prof. Drando Ronaldo G. G. Pereira
(Orbis Biblicus et Orientalis 134), Fribourg, 1994.

Doutorando em Egiptologia pela UNIBAS – Basiléia, Suíça


Mestre em História Comparada pela UFRJ

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Normas para Colaboradores Atividades do NEA


- 800 palavras ou 5000 caracteres
com espaço. A Universidade do Estado do Rio de Janeiro está preparando
- Resumo (100 palavras ou 800
caracteres com espaço) e a sua XVIII Semana de Iniciação Científica (Out.2009)
palavras-chave.
- 2 Imagens com referência. Os pesquisadores do NEA Carlos Eduardo da Costa Campos
- 1 Foto do autor de rosto.
- Fonte: Tahoma 9, espaçamento (PIBIC CNPq) e Alinne Pereira da Costa (PIBIC UERJ), que
entre linhas simples. fazem parte do projeto Cemitério do "Kerameikos: lugar
- Bibliografia.
- Notas no corpo do texto entre antropológico dos praticantes da magia dos katádesmoi na Atenas
parênteses indicados ao final do do V e IV a.C", desenvolvido pela Profª. Drª. Maria Regina Candido
texto. concorrerão pela premiação no evento.

PHILÍA - ISSN 1519-6917 www.nea.uerj.br nea.uerj@gmail.com Apoio e Impressão

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