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EDITORIAL

o tempo já se completou
SUMÁRIO
MARÇO 2006/02

T
odas as religiões têm períodos voltados à reflexão, eles fazem
parte da disciplina religiosa. Com início na quarta-feira de
Cinzas e término na quarta-feira da Semana Santa, o tempo
da Quaresma é uma dessas ofertas. Estamos falando de
um período de quarenta dias que antecede a Páscoa, festa
maior do cristianismo: a Ressurreição de Cristo. Pela reflexão
somos convidados a confrontar as nossas vidas com a mensagem
cristã contida nos Evangelhos, visando o crescimento em todos os Geraldo Thobias Sá Silva durante o
sentidos. Ao usufruir das riquezas que a Quaresma oferece, o cristão é 11º Intereclesial das CEBs.
conduzido à prática dos princípios essenciais de sua fé, com o objetivo Foto1: Jaime C. Patias
de melhorar a sua vida e o ambiente ao seu redor. Podemos dizer que Participante do VI FSM, Caracas.
simbolicamente o cristão está renascendo, como Cristo. Foto2: Paula Brenha

O que devemos fazer neste tempo de Quaresma? A Igreja propõe,


por meio do Evangelho proclamado na quarta-feira de Cinzas, três gran-
des linhas de ação: a oração, a penitência e a caridade. Não somente  MURAL DO LEITOR--------------------------------------04
durante a Quaresma, mas em todos os dias de sua vida, o cristão deve Cartas
buscar o Reino de Deus:  OPINIÃO--------------------------------------------------05
Jaime C. Patias

“O tempo já se completou Conquistas das mulheres e desafios


Maria Cícera Alves de Mesquita Jardim
e o Reino de Deus está
próximo...” (Mc 1, 15). Ele  PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07
se manifesta nos sinais Futuro bem ou mal resolvido, depende de nós
Rosa Clara Franzoi
de justiça, paz e amor
em toda a humanidade.  VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08
A prática do amor torna- Notícias do Mundo
Adital / Fides / Misna / POM
se expressão essencial
na vida da Igreja e dos  ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10
Quaresma: solidariedade e vida nova
cristãos, conforme nos Luiz Carlos Emer
diz o papa Bento XVI em
sua primeira encíclica,  TESTEMUNHO-------------------------------------------12
A terra dos meus sonhos
intitulada “Deus é Amor”. Maria Artura Valentini
Durante a Quaresma, a
Igreja propõe o jejum  FÉ E POLÍTICA--------------------------------------------14
Fé e política, uma questão de princípios
como uma maneira de Humberto Dantas
educar-se e perceber
 FORMAÇÃO MISSIONÁRIA----------------------------15
que, o que o ser huma- Espiritualidade laical
no mais necessita é de Deus. Numa sociedade de consumo, ante a Luiz Balsan
escandalosa desigualdade social, o jejum ganha maior significado.
 MISSÃO HOJE-------------------------------------------19
A busca do equilíbrio é um grande desafio num mundo de desejos O Ad Gentes no Brasil
ilimitados. É oportuno recordar que nenhuma prática de piedade tem Ivanildo dos Santos Costa
sua finalidade em si mesma, mas deve resultar em ações concretas  DESTAQUE DO MÊS------------------------------------20
para melhorar a vida ao nosso redor. Nesse sentido, torna-se indis- Fórum Social Mundial 2006
pensável a participação dos cristãos na caminhada dos movimentos Maria Emerenciana Raia, com informações
dos sites do FSM, Brasil Agora, Radiobrás e Rets
sociais, na política e no exercício da cidadania.
Desde 1964, a Quaresma, no Brasil, dispõe de um instrumento  ATUALIDADE----------------------------------------------22
que ajuda a viver o Evangelho e fortalece a solidariedade entre as Deus é Amor
Giovanni Crippa
pessoas: a Campanha da Fraternidade. É um modo criativo de con-
cretizar práticas de inclusão, visando a transformação das injustiças  INFÂNCIA MISSIONÁRIA-------------------------------24
sociais. Para a Igreja missionária, a CF é uma atividade ampla de Diferentes e amados pelo Deus da vida
Roseane de Araújo Silva
evangelização que ajuda os cristãos e as pessoas de boa vontade
a realizarem, na prática, a transformação da sociedade, a partir de  CONEXÃO JOVEM--------------------------------------25
A mística da vida
uma situação específica. Este ano o tema é: “Fraternidade e pessoas Luiz Balsan
com deficiência” e o lema, “Levanta-te, vem para o meio!” (Mc 3, 3).
Desta forma, a CF dá ao tempo quaresmal uma dimensão histórica,  ENTREVISTA ROSIANA PEREIRA QUEIROZ----------26
Direitos Humanos no Brasil
humana, encarnada e principalmente comprometida com as questões Joaquim Gonçalves
específicas de nosso povo, como atividade ligada à Páscoa de Je-
sus, que procurava incluir a todos. Participando da CF, renovamos a  AMAZÔNIA-----------------------------------------------28
Impressões sobre "um outro mundo possível"
consciência da responsabilidade que temos diante dos desafios que Ricardo Castro
nos afetam e somos ajudados a manter a fidelidade a Cristo e à sua
 Volta ao Brasil---------------------------------------30
Igreja: exigência central do Evangelho.  Notícias do Brasil
Adital / CEN / CNBB / POM

- Março 2006 3
Mural do Leitor
A n o XXXIII - no 02 M a r ç o 2006
Revista Missões
Diretor: Jaime Carlos Patias Os amigos daqui não param de pedir
informações de como assinar a revis- Antes de mais nada, quero parabenizar
Editor: Maria Emerenciana Raia ta. Sempre admirei a amizade e a com­ a equipe da revista. Em suas matérias
preensão dos missionários no desafio percebo grande informação e aporte mis-
de ir ao encontro do "outro". Estou em sionário para nossa Igreja, em especial
Equipe de Redação: Joaquim F. Gon-
Jandira, trabalhando na missão da dio- para os agentes pastorais. Eu sou leigo
çalves, José Tolfo e Rosa Clara Franzoi
cese de Osasco, e quero sempre ter por missionário em Cochabamba, Bolívia, e
perto esta grande amizade de vocês. Para tive a oportunidade de conhecer a revista
Colaboradores: Vitor Hugo Gerhard,
todos vai minha mensagem de paz, amor Missões no Brasil, pois fiz uma experiência
Lírio Girardi, Luiz Balsan, Roseane de
e muita leitura desta obra maravilhosa missionária Ad Gentes. Felicito-os, de
Araújo Silva, Júlio César, Manoel Apa-
que vocês produzem e que causa efeitos antemão, por todo o esforço e dedicação
recido Monteiro, Humberto Dantas, na prática da verdade, da justiça e do para despertar os valores evangélicos em
Ramón Cazallas, Luiz Carlos Emer, companheirismo. Parabéns, e muita luz nossas realidades culturais. Que o bom
Giovanni Crippa para continuar 2006 com muito ardor em Deus nos guarde e nos dê esperança
busca de novas metas. sempre.
Agências: Adital, Adista, CIMI,
CNBB, Dom Hélder, IPS, MISNA, Rosineide Maria de Paiva, Sérgio Ramirez,
Pulsar, Vaticano via e-mail via e-mail

Diagramação e Arte: Cleber P. Pires

Arquivo POM
Jornalista responsável:
Maria Emerenciana Raia (MTB 17532)

Administração: Cláudio Cobalchini

Sociedade responsável:
Instituto Missões Consolata
(CNPJ 60.915.477/0001-29)

Impressão: Edições Loyola


Fone: (11) 6914.1922

Colaboração anual: R$ 40,00


BRADESCO - AG: 545-2 CC: 38163-2
Instituto Missões Consolata 50 anos da Encíclica Fidei Donum (1957-2007)
(a publicação anual de Missões é de 10 números)
Fecunda memória com futuro promissor

R
Missões é produzida pelos
euniram-se em Salvador, Bahia, América Latina e Caribe. Nesse período,
Missionários e Missionárias
de 30 de janeiro a 3 de feve- multiplicou-se nos cinco continentes a pre-
da Consolata
reiro, mais de 200 missionários sença de sacerdotes de outros países; nos
Fone: (11) 6256.7599 - São Paulo/SP
diocesanos italianos, para ce- últimos anos, também de leigos e diáconos
(11) 6231.0500 - São Paulo/SP
lebrar os 50 anos da Encíclica permanentes. Estiveram presentes o padre
(95) 3224.4109 - Boa Vista/RR Fidei Donum, do papa Pio XII Victo Del Prete, Secretário Internacional da
(21/4/1957). Esta encíclica abriu a possi- Pontifícia União Missionária, monsenhor
Membro da PREMLA (Federação de bilidade de colaboração missionária de Giuseppe Andreozzi, diretor das Pontifícias
Imprensa Missionária Latino-Americana) padres diocesanos a serviço das novas Obras Missionárias da Itália e padre Daniel
Igrejas carentes de sacerdotes. O evento, Lagni, diretor nacional das Pontifícias
Redação sob o lema “Das Fecundas Memórias às Obras Missionárias do Brasil.
Rua Dom Domingos de Silos, 110 Corajosas Perspectivas”, foi promovido pela Padre Víctor Ruano, do Departamen-
02526-030 - São Paulo Conferência Episcopal Italiana (CEI). to Missionário do Conselho Episcopal
Fone/Fax: (11) 6256.8820 Em 50 anos, cerca de 1,9 mil fidei Latino-americano (Celam), falou sobre
Site: www.revistamissoes.org.br donum italianos partiram para a Missão “A caminhada da Igreja latino-america-
E-mail: redacao@revistamissoes.org.br em todo o mundo. Atualmente, os italia- na nos últimos 50 anos: aspectos mais
nos são cerca de 550, dos quais 380 na significativos”. 

4 Março 2006 -
Conquistas

OPINIÃO
das mulheres e desafios
No dia 8 de março comemoramos o Dia Internacional da Mulher. Foi preciso que
mais de uma centena de operárias morressem queimadas durante um protesto
contra a jornada excessiva de trabalho em 1857, para que a importância da mulher
fosse reconhecida pela sociedade.
de Maria Cícera Alves de Mesquita Jardim salário baixo ou inferior ao dos homens na mesma função, vio-
lência doméstica, jornada excessiva de trabalho e desvantagens

D
na carreira profissional.
esde o princípio da existência humana, sabemos No Brasil foi preciso instalar a Delegacia da Mulher, para
da importância e contribuição da mulher na cons- tentar minimizar a violência contra elas. Embora tenham obti-
trução das sociedades. Deus criou homem e mu- do espaço em muitos setores da sociedade, muito há que se
lher para serem livres e se amarem mutuamente. fazer para que as mulheres sejam respeitadas e tratadas com
O existencialismo das mulheres, demonstrado no dignidade, pois o machismo continua existindo, bem como os
Antigo Testamento testemunha que elas sempre preconceitos.
se destacaram e sempre contribuíram para o
progresso da humanidade, cada qual em sua

Jaime C. Patias
época. No Novo Testamento tivemos várias
mulheres que se sobressaíram, sendo que a
maior delas foi Maria de Nazaré. Seu jeito de ser
e seu modo de viver serviram de exemplo para
todos os cristãos. Mulher forte, decidida, esteve
presente no nascimento da Igreja, apoiando os
apóstolos de seu Filho, sempre acreditando e
se entregando aos desígnios divinos.
Também no decorrer da história da Igreja,
podemos observar mulheres que, seguindo o
exemplo de Maria, foram verdadeiras santas,
cooperaram para o crescimento interior e exterior
do ser humano. Podemos citar Teresa D’Ávila,
primeira teóloga da história, e Mônica, mãe de
Santo Agostinho, entre tantas outras. As mu-
lheres sempre foram brilhantes, batalhadoras e
destemidas, por isso é que muitas delas foram
em busca de seus direitos e ideais, visando
liberdade e dignidade para todos. Citamos
como exemplo Joana D’Arc na França e Maria
Quitéria no Brasil, entre outras. Marcha no Dia Internacional das Mulheres, SP.
As mulheres em nosso país, às custas de muito sofrimento e Com toda essa história de luta e conquista, no entanto, não
luta, começaram a ocupar um lugar de destaque na sociedade. podemos esquecer que o coração de uma mulher é o que faz o
No século XX conquistaram certa emancipação durante o gover- mundo continuar girando! São as mulheres que geram a vida,
no de Getúlio Vargas, obtendo o direito de votar. A partir desse elas são o sol que traz alegria e esperança. Têm compaixão e
episódio é que as mulheres foram sendo mais valorizadas. ideais. São autênticas evangelizadoras na família e na socie-
Na atualidade, vários países têm uma mulher no comando, dade. As mulheres são admiráveis, e se têm um defeito, é que
como Chile, Alemanha e Libéria, no continente africano. Inúmeras tendem a esquecer-se de si mesmas. A lágrima é sua forma de
são executivas de grandes empresas, tentando conciliar a vida expressar o desapontamento, a alegria, a dor, a tristeza, a solidão
profissional com a pessoal. e o amor. O que estará reservado para a mulher no futuro? 
Com todas estas vitórias obtidas, ainda em muitos países,
inclusive no Brasil, mulheres sofrem discriminações, tais como: Maria Cícera Alves de Mesquita Jardim é mestre em Direito pela PUC, SP.

- Março 2006 5
mISSIONaRIedade
e Profetismo do Presbítero

Texto e foto de Roberto Luiz Preczevski

F
oi realizado de 1 a 7 de fevereiro o 11º Encontro Na- o presbítero resplandece a luz de Deus numa história profun-
cional de Presbíteros do Brasil (ENP). Quatrocentos e damente marcada pela alternância das sombras, ajudando a
sessenta e dois participantes entre bispos, padres e humanidade a buscá-Lo sempre de novo, e aproximar-se Dele.
assessores, representando as Dioceses e Prelazias e Dom Cappio disse ainda que o presbítero profeta-missionário
os dezoito mil padres do país, se reuniram em Itaici, está sempre atento ao tempo em que vive. É sentinela dos si-
município de Indaiatuba, interior de São Paulo. O tema nais dos tempos. E além do tempo, está presente num espaço
do encontro foi “Missionariedade e Profetismo do Presbítero, na determinado, junto a um povo que possui uma história, tradições
Igreja e no Mundo, à Luz do Concílio Vaticano II”. O 11º ENP foi e costumes. Entende que a inculturação implica encarnação na
convocado e organizado pela Comissão Nacional dos Presbíteros vida daqueles a quem é chamado a evangelizar.
(CNP), organismo vinculado à Comissão Episcopal Pastoral para O estudo do tema “Missão” foi coordenado por dom Erwin
os Ministérios Ordenados e Vida Consagrada da Conferência Kräutler, bispo da Prelazia do Xingu, no Pará. Fundamentado em
Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB. textos bíblicos e principalmente no Decreto Conciliar Ad Gentes,
Durante sete dias os participantes, com ajuda de assessores o assessor mostrou que o Decreto relaciona a missionariedade
convidados, bispos e teólogos, estudaram temas como “Olhar da Igreja à sua catolicidade. Em outras palavras: a Igreja deixa
para o mundo e para a Igreja”, “Profetismo”, “Retiro”, “Missiona- de ser católica se não for missionária. O palestrante disse que
riedade”, “Elaboração dos desafios” e encaminhamentos. “há 500 anos o Brasil está acostumado a identificar o missionário
Dom Luciano Mendes de Almeida, arcebispo de Mariana, como alguém que chega e ‘vem’ de fora. Custa-nos compreender
Minas Gerais, apresentou o profetismo a partir de testemunhos, que o missionário também ‘vai’, parte das nossas dioceses, de
destacando dom Oscar Romero, dom Hélder Câmara, cardeal nosso país para outros lugares, países e continentes”. Dom
Van Thuan e tantos outros que articularam o profetismo à mis- Erwin falou muito sobre a Região Amazônica, tão necessitada
são. Ressaltou os ambientes que apelam para a missão, como de missionários corajosos que saibam enfrentar riscos, como
por exemplo, a Amazônia, as periferias das grandes cidades, os fez a irmã Dorothy Stang.
índios, os negros, os pobres e a juventude. “O profeta é sinal da Os momentos de estudos e trabalhos em grupo, divididos por
ligação com Deus, possuído do amor de Deus e aquele que se Regionais (17), foram alternados com a apresentação da realida-
dá pelo povo. Aquele que não sabe conviver com estas pessoas de pastoral e a comunhão presbiteral nos Regionais da CNBB.
está contaminado pelo ‘vírus da riqueza’. O profeta se apaixona Cada grupo de debate construiu propostas para os desafios na
e se deixa possuir por Deus”, declarou. ação evangelizadora e missionária a partir dos temas propostos.
O retiro espiritual do 11º ENP foi orientado por dom Frei Luís O documento final estará disponível em breve nas livrarias. 
Flávio Cappio, bispo de Barra, na Bahia. O pregador destacou,
percorrendo a narrativa bíblica da Criação, que Deus é luz e Roberto Luiz Preczevski é sacerdote e assessor de comunicação da CNBB.

6 Março 2006 -
pró-vocações
Futuro bem ou mal resolvido
depende de nós Quando os danos são mais
que as vantagens...
de Rosa Clara Franzoi to, menos maduro, menos experiente, pelo fato de ter deixado
de conhecer e de fazer certas experiências, de provar certas
emoções. Pode-se viver muito bem uma juventude plena sem

J
nunca ter roubado ou violentado alguém, bebido em excesso,
á ouvi muitas vezes alguns adultos dizerem aos jovens: ou se drogado, sem ter dirigido a 200 km por hora... emoções
“aproveitem o quanto puderem sua juventude, pois ela estas, que alguns acham serem “importantes” para se firmar
não voltará”. Se há uma parte de verdade nisso - pois como pessoa. Na verdade, o que se nota é que há alguns que
a juventude não deixa de ser a fase bonita dos sonhos, passam por tudo isso e continuam imaturos a vida toda; e o
dos ideais - há também um grande equívoco. No fundo, que é pior, com seu futuro mal resolvido. E, digo mais, certas
a frase citada passa a impressão que as outras etapas emoções não deveriam ser experienciadas nunca... Podem até
da vida não são tão boas quanto aquela. ter algo de educativo, mas pouco acrescentam à dimensão da
pessoa. Na maioria das vezes, os danos são bem maiores que
Viver o presente, eis o segredo as vantagens. Para que então, se expor tanto? Veja, a juventude
Pe. Zezinho, o grande amigo dos jovens, contraria os que é a mais curta das fases da vida; passa muito rápido. Jovem,
andam pondo na cabeça deles tal idéia. Ele diz: “sugiro que não a desperdice tão levianamente!
você, jovem, viva a sua juventude normalmente, sem se deixar

Jaime C. Patias
influenciar por aqueles colegas que estão sempre à cata de
novas sensações e experiências; isto para que não aconteça
de você chegar já saturado e cansado a ponto de não conseguir
valorizar e viver bem as sensações que a fase seguinte da vida
lhe oferece”. Isto confirma que todas as etapas da vida, desde a
infância até à senilidade, têm características interessantes, com
emoções e experiências específicas. O segredo está em viver
intensamente cada fase. É isso que leva a pessoa à maturidade,
a sentir-se feliz e realizada. Agora você é jovem. Daqui a dez,
quinze anos, tudo estará mudado em você mesmo e ao seu re-
dor: o modo de ser, as idéias, a cultura, a sociedade, a política,
a visão religiosa, sua própria vida afetiva, seus interesses, até
mesmo seus hábitos. Portanto, o que mais conta, amigo, é viver
bem o hoje, o presente, dando-lhe um sentido.

A “adrenalina” passa e a vida continua...


Com essa “mania” de querer devorar “toda uma vida” na Ir. Bernardete Pickler, MC, Daniela dos Reis, Hortência Brito e Rosana Jeremias.
fase da juventude, engolindo e experimentando tudo, muitos
se dão mal. Acredite, você não será menos gente, menos cul- Congestão de goiabada!!!
“Um garoto se preparava, ansioso, para ir passar as férias
no sítio dos tios. Um dia começou a ficar preocupado, quando
Quer ser um missionário/a? a mãe o advertiu que no campo, não teria todas as mordomias
da cidade. Logo ele pensou: Ih! Lá não vou ter goiabada. Ele
Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva Moratelli adorava o doce. O que fez? Começou a devorar goiabada o
Av. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui quanto pôde, antes da grande viagem. Resultado: passou suas
02611-011 - São Paulo - SP férias, não no sítio, mas no hospital, recuperando-se de uma
Tel. (11) 6231-0500 - E-mail: rebra@uol.com.br terrível congestão”.
Em se tratando de vocação, podemos dizer que a juventude
Centro Missionário “José Allamano” - Pe. Manoel A. Monteiro (Néo) é a etapa da vida mais propícia para perceber a voz de Deus.
Rua Itá, 381 - Pedra Branca
02636-030 - São Paulo - SP Este chamado pode acontecer a qualquer momento, mas nor-
Tel. (11) 6232-2383 - E-mail: secretariamissao@imconsolata.org.br malmente, acontece na juventude, quando as pessoas buscam
respostas para o seu futuro. Viva intensamente sua juventude
Missionários da Consolata - Pe. César Avellaneda e com equilíbrio. O trecho dos Atos dos Apóstolos 9, 1-5 pode
Rua da Igreja, 70-A - CXP 3253 ajudar a completar esta reflexão. 
69072-970 - Manaus - AM
Tel. (92) 624-3044 - E-mail: amimc@ibest.com.br
Rosa Clara Franzoi é irmã missionária e animadora vocacional.

- Março 2006 7
Estados Unidos
Guantánamo deve ser fechada
Cinco especialistas em direitos humanos da
Organização das Nações Unidas (ONU) exigiram do
governo dos Estados Unidos o fechamento da base
naval de Guantánamo, território ocupado em Cuba.
Além disso, exigiram que os prisioneiros sejam apre-
sentados a um tribunal competente ou libertados. Os
relatores de direitos humanos denunciaram que os
encarcerados são vítimas de torturas e maus-tratos.
O documento da ONU é o resultado de 18 meses
de estudos conjuntos a cargo de especialistas em
assuntos relacionados com a tortura, detenção arbi-
trária, liberdade de religião, direito à saúde e inde-
pendência de juízes e advogados. Os cinco relatores
da Comissão da ONU de Direitos Humanos assina-
El Salvador laram que as técnicas de interrogatório autorizadas
VOLTA AO MUNDO

Encontro Centro-americano das POM pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos
Realizou-se, de 13 a 16 de fevereiro, em San “significam tratamento degradante” aos prisioneiros.
Salvador, El Salvador, o 5º Encontro Centro-ameri- Atualmente, na base militar estadunidense ao leste
cano de diretores nacionais das POM e vigários de da ilha de Cuba se encontram desterrados cerca de
pastoral, dos seis países que fazem parte da América 500 indivíduos de 35 países.
Central: Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Honduras,
El Salvador e Guatemala. Cada comissão missionária Grécia
nacional apresentou relatórios sobre o estado atual Chefe da Igreja Ortodoxa no Vaticano
da animação e formação missionária no próprio país. O Patriarca Christodoulos anunciou que visitará
Padre Daniel Lagni, Diretor das POM do Brasil, con- neste ano o Vaticano, respondendo assim a um convite
tribuiu com a reflexão “Iluminação Teológico-Pastoral de Bento XVI. Esta viagem, que estava pendente há
dos Conselhos Missionários Nacionais”, lembrando vários anos, representa um grande passo no caminho
a finalidade e o dever deles, aprofundando questões ecumênico, mas enfrenta a tradicional oposição de
missiológicas e tratando da organização, dinamização vários setores ortodoxos, os mesmos que impediram
e criação do Conselho Missionário Nacional (Cona- um gesto semelhante durante o pontificado de João
mi - no Brasil chama-se Comina) de cada país. Na Paulo II, para retribuir à peregrinação jubilar do papa
ocasião, foi apresentado a todos o Projeto do Centro polaco a Atenas. Em novembro de 2005, Bento XVI
Missionário Ad Gentes da América Central, que terá convidou Christodoulos para uma visita. “As visitas
como sede a cidade de Tegucigalpa, Honduras. Este mútuas dos últimos anos, graças à abertura da Igreja
Centro Missionário visa formar missionários leigos, da Grécia para com a Igreja Católica Romana, con-
religiosos, religiosas e sacerdotes para a Missão Ad venceu-nos da existência de um desejo comum da
Gentes. Esta iniciativa é uma resposta perante os unidade entre os cristãos”, disse o Patriarca.
compromissos assumidos pelo Conselho Episcopal
da América Central no 2º Congresso Missionário Ame- Rússia
ricano (CAM 2–Comla 7), realizado na Guatemala, Crise nas vocações
em novembro de 2003. O Diretor do Centro, padre “Não nos seminários, mas na crise da família te-
Edgar Orozco, da Costa Rica, foi apresentado aos mos que situar a atual crise de vocações na Rússia”.
35 participantes do Encontro. É a constatação de monsenhor Andrzej Steckiewicz,
vigário geral da arquidiocese da Mãe de Deus, em
África Oriental Moscou. Monsenhor Andrzej afirmou “onde não há
Seca ameaça milhões família, não há vocação”. Confirmou que atualmente
Onze milhões de pessoas podem morrer de inanição “só há 200 sacerdotes católicos na Rússia e um
na África Oriental por causa da seca, agravada pelos número similar de religiosas”. Segundo Steckiewicz,
“efeitos dos conflitos passados e presentes”, conforme 50 jovens de todo o país estão se preparando para
afirmou Jean Ziegler, porta-voz da Comissão das Na- o sacerdócio no Seminário de São Petersburgo.
ções Unidas pelo direito à alimentação. Os países mais Explicou que a literatura religiosa e a construção
afetados pela falta de água e alimentos desde o final de de edifícios eclesiais são prioridades para a Igreja
2005 são Djibuti, Etiópia, Quênia, Somália e Tanzânia. A Católica russa. “Outro problema - advertiu - é que
isso acrescentam-se milhares de cabeça de gado que muitos de nossos crentes não têm a possibilidade
morreram por falta de água e pastos. Ziegler, sociólogo de rezar porque carecem de igrejas ou capelas”. Daí
suíço conhecido pelo seu trabalho com os palestinos, que muitos católicos sigam reunindo-se para rezar
lembrou que segundo a Organização Meteorológica “em casas de particulares, e por isso, com freqüência
Mundial, existem poucas possibilidades de precipitações são considerados uma seita. 
para antes de abril e pediu aos Estados membros da
ONU que ajam com rapidez, porque em suas mãos está
a vida de milhares de seres humanos. Fontes: Adital, Fides, Misna e POM.
8 Março 2006 -
INTENÇÃO MISSIONÁRIA
Para que em toda a Igreja cresça a colaboração e o intercâmbio dos agentes missionários.
de Vitor Hugo Gerhard e paz, não fundado nas armas e no terrorismo, mas construído
sobre os alicerces de uma fraternidade globalizada.

M
Há cerca de 200 anos, a Igreja viveu um tempo de fulgor no
uito se fala em globalização nestes tempos: na impulso missionário. A França se voltou para a África, mandando
economia, nas relações internacionais, na difusão um grande número de missionários corajosos e com vontade
das culturas, nos meios de comunicação... Alguns de expandir, também naquelas fronteiras humanas, a Boa Nova
consideram isso uma conquista do século XXI e de Jesus Cristo. Os fenômenos migratórios que se seguiram
entendem que a internacionalização é um processo nos tempos da unificação dos países europeus (século XVIII)
inevitável e irreversível, capaz de transformar o nosso mundo e as guerras do início do século XIX, com o deslocamento de
numa “aldeia global”. Para outros, a globalização é uma das grandes contingentes humanos, sobretudo para o “novo mun-
formas mais radicais e espúrias de apropriação dos bens da do” do continente americano, trouxeram consigo os clérigos e
humanidade, pois a cada dia um grupo menor de pessoas as Congregações religiosas, semeando obras de educação e
maneja e manipula as informações, o dinheiro - através dos saúde, de assistência social e promoção humana, que tanto bem
megainvestidores -, os padrões de comportamento e até mesmo fizeram e ainda fazem. Entretanto, parece que um certo espírito
as tecnologias de ponta. de isolamento acompanhou também esse processo, na medida
Numa espécie de contraponto, à luz da revelação cristã, em que cada Congregação religiosa e cada Diocese de origem
o papa João Paulo II, de saudosa memória, cunhou o verbete fazia “por si mesma” e “consigo mesma” a tarefa missionária.
“globalização da solidariedade”. Com ele, desejava ver não só o Nestes últimos 50 anos assistimos, também na Igreja, a um
crescimento das relações econômicas internacionais, mas também certo processo de globalização. A criação das Conferências Epis-
a erradicação da miséria infame e vergonhosa. Desejava ver a copais Nacionais (no caso brasileiro, a CNBB) e da Conferên­cia
difusão de valores culturais que elevassem a dignidade humana e dos Religiosos (CRB), o Conselho Missionário Nacional (CO-
que não a denegrissem. Sonhou o papa com um mundo de justiça MINA), o CENFI, o SCAI e vários outros ajudaram não só na
articulação das iniciativas missionárias, como também criaram
Néo Monteiro

e organizaram ações comuns no campo da missão. Basta ver a


participação sempre maior dos leigos e leigas, o surgimento das
comunidades de vida consagrada de caráter intercongregacional
e outros exemplos que poderíamos relacionar.
Uma parte do caminho neste campo da “globalização da ação
evangelizadora” já foi feita. É preciso agora desdobrar isso em
vias cada vez mais interativas, como numa grande teia de aranha
a cobrir os territórios de missão ainda por serem ocupados. Que
o bom Deus nos ajude nesta tarefa e nos faça viver na alegria
da missão a nós confiada. 

Envio de cinco missionários da Região Sul1 - CNBB para a Região Norte. Vitor Hugo Gerhard é sacerdote e coordenador de pastoral da Diocese de Novo Hamburgo, RS.

Encontro das POM do Cone Sul com Juventude Missionária

E
ncontraram-se de 3 a 5 de fevereiro, em Buenos Aires, Dando prosseguimen-
Arquivo POM

Argentina, os diretores nacionais das Pontifícias Obras to a este processo de


Missionárias do Cone Sul: Chile, Argentina, Paraguai, animação, formação e
Uruguai e Brasil. Do Brasil participaram o padre Daniel coordenação da JM do
Lagni, diretor nacional das POM, e Luiz Gustavo Fernan- Cone Sul, ficou marcado,
des, de Curitiba, Paraná, delegado da Juventude Missionária. de comum acordo com os
Os trabalhos serviram para troca de materiais, experiências diretores das POM, um
e definições de linhas comuns, critérios, propostas e metas para encontro de delegados
a Juventude Missionária (JM). Na ocasião foram eleitos, pelos da JM, que será realizado
próprios jovens, dois coordenadores e articuladores da Juventude de 26 a 30 de janeiro de
Missionária no Cone Sul: Victor González Mora, do Chile, e Luiz 2007, em Montevidéu,
Gustavo Fernandes, do Brasil. Uruguai. Na mesma data,
Os delegados jovens presentes eram ao todo nove: cinco os diretores das POM do Cone Sul estarão reunidos em Santiago
moças e quatro rapazes, todos já com bastante experiência na do Chile, para tratar deste assunto, bem como de outros relativos
caminhada da Juventude Missionária de seus respectivos países. à animação missionária na região. Fonte: POM

- Março 2006 9
Quaresma
espiritualidade

solidariedade e vida nova

Divulgação
O dom de si mesmo ao
outro é a verdadeira
caridade e a conversão
que mais agrada a Deus
de Luiz Carlos Emer

N
ão é difícil encontrar pessoas
que se referem à Quaresma
com um tom um tanto sombrio,
quase triste; pois mais do que
a preparação para a festa mais
importante da Igreja Católica,
a Páscoa, a Quaresma ainda é vista por
algumas pessoas como um tempo de
sofrimento, de morte e penitência.
Porém, estando a Páscoa mais do que
qualquer outra festa, diretamente ligada à
esperança e à alegria, como podemos viver
a Quaresma, senão movidos pela alegria
da esperança e pela esperança da vida
nova e plena? Embora seja um fato que
boa parte do nosso povo se identifique
mais com o Cristo da paixão e da cruz,
pois sofrimento e insegurança são o que
mais marcam o dia-a-dia, como seguidores
do ressuscitado somos chamados a ser e
a viver como o povo da esperança e da
alegria. Em Cristo sabemos que o bem
venceu o mal e temos a certeza que a
vida continuará vencendo a morte.

Solidariedade, simplicidade
e sacrifício
Algumas pessoas sugerem que ao
invés de usarmos “oração-jejum-esmola”,
que são os termos com os quais a nossa
tradição cristã expressa o caminho da esperança de resgatar sua dignidade de estão sobrevivendo. Simplicidade no estilo
conversão quaresmal, poderíamos usar seres humanos, filhos e filhas amados de vida, no comer e beber, no consumir.
os termos “solidariedade, simplicidade e por Deus. Nisto a oração tem um papel Simplicidade escolhida e assumida como
sacrifício”, para melhor direcionar nossa fundamental, pois ela nos coloca face a forma de solidariedade e partilha para
caminhada de conversão à vida nova. face com Deus e com seu projeto de amor com os pobres. O sacrifício surge como
Solidariedade como apoio a indiví­ e salvação de todos seus filhos e filhas; conseqüência natural das outras duas
duos, grupos e minorias que lutam para ao mesmo tempo a oração nos acorda de condições; se expressa pela renúncia a
se libertar de qualquer forma de opres- nossa sonolência diante da crua realidade alguma necessidade; mas também pela
são e marginalização na sociedade, na na qual muitas pessoas simplesmente doação generosa do próprio tempo, de

10 Março 2006 -
energia e da própria vida para que outras escravos, pôr em liberdade os oprimidos e
pessoas possam recuperar a esperança
e a dignidade.
despedaçar qualquer jugo, repartir a comida
com quem passa fome, hospedar em sua
casa os pobres sem abrigo, vestir aquele
Você sabia?
Olhar de Cristo que se encontra nu...” (Is 58, 6-7). O Ministério das Cidades revela: em
O papa Bento XVI em sua mensagem 2004, 71% dos municípios brasilei-
sobre a Quaresma deste ano nos recorda Quaresma e CF ros não tinham projeto específico de
que “também hoje o olhar compassivo de A Campanha da Fraternidade é justa-
Cristo pousa incessantemente sobre os mente este instrumento que nos orienta equipamentos urbanos para pessoas
homens e os povos”, e para que possa- e nos auxilia na realização da penitência com deficiência.
mos sonhar e construir a vida nova do que Deus quer e nos pede durante a Apenas 7,2% das pessoas com
Ressuscitado “é necessário que o nosso Quaresma. Ela nos ajuda a sermos reais deficiência são alfabetizadas, con-
olhar sobre o homem seja idêntico ao de e concretos em nossa caridade, sermos tra 84,3% da população. Somente
Cristo. De fato, não é possível de modo autênticos em nossa fé. Nos estimula a 13,02% das pessoas com defi­
algum separar a resposta às necessida- unir esforços para a transformação de
ciência freqüentaram creche ou
des materiais e sociais dos homens da situações de injustiça e pecado em so-
escola, em 2000, contra 31,44% da
satisfação das necessidades profundas do lidariedade, inclusão e fraternidade. Ela
seu coração”. O papa lembra ainda que o nos desafia e nos guia pelos caminhos de população.
dom de si mesmo ao outro, que brota da uma espiritualidade madura, comprome-
caridade, é melhor e mais importante do tida com pessoas e situações humanas
que qualquer outra forma de ajuda, pois específicas do nosso tempo. agressividade, mas pelo amor, pela solida-
quem vive esta doação vive a fé como A CF deste ano nos convida a ter o riedade e pelo acolhimento” (n.188).
amizade com Deus e, como Jesus atende olhar e, sobretudo as atitudes de Jesus. Tomar a iniciativa e empreender esta
as necessidades materiais e espirituais do Não esperar que as pessoas com defi­ caminhada de mãos dadas com nossos
próximo. E Bento XVI conclui lembrando ciência venham ao nosso encontro... “Ter a irmãos e irmãs com deficiência e partir
que Jesus veio trazer a salvação integral mesma atitude de Jesus significa ir atrás, o pão da amizade com elas nos abrirá
e que “é precisamente a esta salvação não passar adiante como o sacerdote e os olhos e o coração. Ajudará a nós e a
integral que a Quaresma nos quer guiar, o levita da parábola do bom samaritano” sociedade a refletir e a recuperar a nossa
tendo em vista a vitória de Cristo sobre (Lc 10, 29-37) (n.160). humanidade em toda sua simplicidade e
todo o mal que oprime o homem”. Ir ao encontro das pessoas com defi- beleza. Como Jesus convidou o homem
Portanto o chamado à verdadeira ciência... não se trata somente de sentir com a mão atrofiada “Levanta-te, vem para
conversão, necessariamente nasce da compaixão e fazer caridade, mas como o o meio” e este pôde, daquele momento
intimidade com Deus, com sua palavra e papa João Paulo II refletia e proclamava em diante, levantar-se e tomar sua vida
passa pelo próximo, fazendo-nos sair da “elas são ícones vivos do Filho crucificado. em suas mãos, há tantas pessoas hoje
nossa religiosidade individualista, cômoda Revelam a beleza misteriosa d’Aquele que que também esperam o mesmo convite
e estéril. Pois o nosso Deus é pai e é mãe, se despojou por nós e se fez obediente até e oportunidade para levantar-se e sair
e é de todos. E o que nosso Deus nos a morte... são testemunhas privilegiadas da sombra do esquecimento e vir para
pede é aquilo que os profetas do Antigo de humanidade. Podem ensinar a todos o meio, para conviver normalmente e
Testamento não cansaram de pregar: “O o que é o amor que salva e podem ser partilhar toda aquela riqueza adormecida
jejum que Deus quer é acabar com as anunciadoras daquele mundo novo, não num corpo com deficiência.
prisões injustas, desfazer as correntes dos dominado pela força, pela violência e pela Diante da beleza deste desafio que
a Campanha da Fraternidade nos coloca
este ano, se descruzarmos os braços e
Jaime C. Patias

sairmos de nossa passividade e do nosso


conformismo, a Quaresma deixará de
ser um tempo sombrio e de morte, para
se tornar aquilo que verdadeiramente é,
um tempo de graça, de conversão, e de
vida nova. 

Luiz Carlos Emer é missionário e mestre


em Filosofia ­Oriental.

Para reflexão
1. Com quais sentimentos estou me aproximando da
Quaresma e em que aspecto de minha vida estou me
sentindo desafiado?
2. Como posso viver esta Quaresma como um tempo de
esperança, de graça e de vida nova?
3. Sinto-me motivado a aceitar o desafio que a CF coloca
diante de mim para viver melhor esta Quaresma? O que
posso fazer individualmente e em minha comunidade?
Lançamento do texto-base da CF 2006 na APAE, Vila Mariana, SP.

- Março 2006 11
A terra dos meus sonhos
testemunho

“Quando começamos a amar Alguém e nos sentimos amados por Ele,


lançamo-nos numa aventura incrível” (L. Evely).
de Maria Artura Valentini

Jaime C. Patias
N
asci em Rio da Vargem, mu-
nicípio de Taió, no estado de
Santa Catarina, Brasil. Foi
lá, no seio de uma família de
agricultores que eu comecei
a conhecer e a amar Aquele
que deu e que ainda hoje dá sentido à
minha vida: Jesus Cristo, o missionário
do Pai. Foi ele que me amou primeiro,
me fez uma proposta e eu O segui, como
religiosa, missionária da Consolata. Des-
de então, eu sempre vou onde Ele me
mostra ser sua vontade. Após os anos
da minha formação missionária, trabalhei
em várias situações e lugares do Brasil.
Em 1981 fui enviada ao país da Libéria,
na África Ocidental. Foi uma experiência
inesquecível, rica apostolicamente, mas
muito dura, provada, por uma longa guerra
civil. Lá permaneci até 1992 quando, por Ir. Maria Artura, seminarista Robério Crisóstomo e padre Thomas Ishengoma.
problemas de saúde, tive que regressar ao
Brasil. Mas, a saudade da missão continuava descobrindo os grandes valores desse dia. Esta é uma das grandes preocupa-
em meu coração. povo e fui percebendo a força interior que ções dos missionários e missionárias. O
os impulsionava: era o sonho de poder que podemos fazer por eles em número
A África dos meus sonhos estudar, de aprender uma profissão, de tão reduzido como estamos? É a pulga
Em 2001, Deus me deu a graça de formar bases sólidas em suas vidas. É isto contra o elefante... O que tentamos fazer
retornar à África, desta vez na Tanzânia. que dá a eles também a força física para é não perder tempo. É pensar e agir com
Ao chegar, o primeiro passo foi aprender realizar toda espécie de trabalho, que faz rapidez, oferecendo ao menos a uma parte,
a língua nacional: o kiswahili. Uma língua parte do programa de formação. a chance de valorizar a própria vida para
bantu, com uma estrutura totalmente dife- poder dar continuidade à construção do
rente das línguas conhecidas. Terminado Quem são estes jovens? futuro do país.
o curso intensivo, de três meses, eu es- São rapazes e moças, todos acima
tava pronta para a ação. Fui trabalhar na dos 18 anos, que terminado o Ensino Uma alegre família
Missão de Ilamba, que estava no início, Fundamental, não conseguiram superar Os jovens não têm dinheiro e nós
nos arredores de Iringa, onde sempre é os exames do Estado para cursar o Ensino também não. Tudo o que podemos fazer
frio. Eu “adoro” o frio. Isto foi providencial Médio. São jovens que vivem em aldeias para a formação deles, vem da ajuda de
até para a minha saúde. Fui acolhida com isoladas, distantes umas das outras e onde corações que respondem aos apelos dos
muita alegria, no “Estrela da Manhã”, Cen- falta tudo: estradas, meios de transportes, missionários. O projeto do “Centro Estrela
tro de Formação para jovens. E é nesse eletricidade... Muitos são filhos de pais da Manhã”, está baseado no trabalho, no
ambiente rural, a cerca de 200 metros de vitimados pela AIDS, portanto, órfãos. estudo sério, na formação humana e cristã.
altitude, distante dos povoados, que eu Muitos jovens nesta situação, não Claro, também lazer. Todos sabem que
vivo e dedico minhas forças missionárias. encontrando alternativa, deixam o interior, ao chegar ao Centro, terão que assumir a
Quando cheguei ao Centro, tudo era muito aventurando-se na cidade grande. Mas, vida pra valer, seguindo as regras da boa
pobre e rudimentar. Logo formamos uma depois de dois ou três anos, voltam à aldeia convivência. Constituímos uma grande
comunidade, eu, uma irmã queniana, e os de origem, doentes, para esperar a morte. família. Uma vida disciplinada os ajuda
rapazes e moças. Imediatamente entrei no A AIDS está devastando a população em na formação de um caráter responsável
ritmo da vida e das atividades dos jovens. todos os países da África. O número de e de confiança em si próprios. Tudo no
Aos poucos e no convívio com eles, fui órfãos cresce assustadoramente a cada Centro é mantido por eles. Comemos o

12 Março 2006 -
Arquivo MC
que cultivamos; por isso, em turnos, todos
têm o seu trabalho específico, além dos
horários da escola e do estudo. Vamos à
roça juntos, e não pensem que tenhamos
trator. O arado é o cabo da enxada. Cada
um tem a sua e eu também tenho a minha.
Graças a Deus, tudo o que aprendi com
meus pais na agricultura, hoje eu posso
passar a eles, e assim, a produção de
milho, feijão, batata, verduras e frutas será
abundante para a alimentação de toda a
família do “Estrela da Manhã”. Constata-se
que a maioria deles faz o possível para
valorizar a oportunidade que lhe está
sendo oferecida e da qual irá depender o
seu futuro. No programa formativo damos
grande importância à formação religiosa
dos jovens. Não são todos católicos e nem
cristãos, mas todos aprendem a amar o Ser
que os criou e que os quer realizados. A
oração, o culto e a celebração da Palavra
de Deus constituem momentos fortes na
vida diária deles. Alunos do Centro de Formação Estrela da Manhã, Ilamba, Tanzânia.
no fundo do vale, um grande reservatório Promoção humana
Amigos das missões para a água, com bombas hidráulicas para No ano passado, uma senhora ita-
Com a ajuda dos amigos das missões, distribuir o precioso líquido. Até então, todas liana mandou-nos uma oferta razoável,
especialmente da Itália, conseguimos com- as manhãs, os jovens desciam até o vale herança do marido que falecera de câncer.
prar cinco vacas leiteiras para melhorar a e levavam morro acima a água necessária Ela desejava fazer algo em favor das
alimentação. Ensinei as jovens a fazerem para o consumo do dia. Também conse- crianças. Pois bem, reunimos o povo da
o pão, no início só com farinha de milho, guimos máquinas para uma marcenaria e aldeia mais próxima e decidiu-se pela
agora já se consegue encontrar também hoje alguns jovens já fabricam móveis de construção de uma escola infantil, com a
farinha de trigo. Criamos porcos, galinhas boa qualidade. Montamos uma malharia, participação de toda a comunidade. Dito
poedeiras, coelhos... Assim mesmo, só onde as moças se empenham com esforço e feito! Em três meses foi levantada uma
conseguimos servir carne aos domingos. O e dedicação; como também uma sala para bonita escola com três salas, secretaria,
prato de todo dia é polenta e feijão. Apenas o aprendizado de corte-costura. Já temos cozinha e outras dependências neces-
no ano passado completamos a construção jovens costurando, sob encomenda, unifor- sárias ao bom funcionamento. Abertas
do Centro em alvenaria. Pela generosidade mes para escolas. Um grupo destes jovens as matrículas, o número de pequenos
e bondade de grupos missionários italianos, freqüenta as aulas do Ensino Médio numa superou os 200. As professoras são
conseguimos os painéis solares, e assim escola secundária da região, e à tarde volta jovens do Centro que conseguiram se
pudemos eliminar os lampiões de quero- para o Centro. Outros, já estão na faculdade formar. A Tanzânia é um país que está
sene. Que festa! Foi construído também, ou em cursos profissionalizantes. entre os mais pobres do mundo. Com
apenas 35 milhões, tem uma economia
agrária, sem nada para exportar. Muitas
Arquivo MC

vezes nem consegue produzir o sufi-


ciente para o consumo interno, isto é,
as lavouras de milho e feijão. O povo é
trabalhador, esforçado e muito acolhe-
dor. Mas, faltam meios, empregos. Os
poucos que estão empregados ganham
um salário de miséria. Não há indústrias,
e pouca mão-de-obra qualificada. A
educação é precária. A cada ano, mais
de 100 professores formados morrem
de AIDS; e o governo não sabe mais a
quem apelar.
Um dos nossos jovens dizia-me. “O
Centro é para nós wyotu ya Asubuhi”, que
quer dizer: a Arca de Noé. Deus está nos
dando a oportunidade de estarmos aqui,
aprendermos muitas coisas, capacitando-
nos para, amanhã, salvarmos a sociedade
da Tanzânia. Daqui nós sairemos prepa-
rados e com um futuro”. 

Missionárias da Consolata em Ilamba, Tanzânia. Maria Artura Valentini é missionária na Tanzânia.

- Março 2006 13
Fé e política
fé e política

uma questão de princípios


“As sociedades democráticas atuais, onde todos participam na gestão da coisa pública num
clima de verdadeira liberdade, exigem novas e amplas formas de participação na vida pública
por parte dos cidadãos - cristãos e não-cristãos” (nota doutrinal)

de Humberto Dantas a política nos remete a um período ainda mais longínquo. Para
muitos estudiosos, Jesus Cristo foi o maior de todos os líderes

N
políticos. Seu legado continua vivo, seus ideais são amplamente
o Brasil costuma-se dizer que religião e política não difundidos e seu carisma se mantém aceso. Outros inúmeros
se discutem. Esse é um dos ditados que, infeliz- mártires da Igreja servem como exemplo: São Thomas Moore
mente, tornou-se um dos mais eficientes no país. é o santo dos governantes éticos, por ter entregado a vida, ao
Sem saber, quem o aceita estimula o autoritarismo. invés de corromper-se como parlamentar inglês.
A democracia necessita de debate, diálogo, conflito
e tolerância em nome do bem comum. Acreditar na Ética na política
democracia é crer na capacidade que cada cidadão possui de Sendo o homem um ser político por natureza, como separar
construir conjuntamente a sociedade em que convive. fé e política? A Igreja Católica aceita essa máxima e incentiva a
Após o golpe de 1964, a Igreja Católica dividiu-se em duas participação de seus fiéis na vida pública. Uma sociedade que
frentes políticas: uma apoiou os militares em nome da ordem, ignora os preceitos da democracia entrega seu destino àqueles
enquanto outra abrigou a oposição, promovendo ideais de es- que nem sempre se preocupam com a coletividade. A miséria, a
querda. O primeiro grupo fortaleceu a máxima de que “política pobreza e a exclusão existem porque poucos se apropriam das
não se discute”, e como isso era a “palavra da Igreja”, a religião desvantagens de muitos. É por isso que os grupos de discussão
também não deveria ser questionada. Esse radicalismo auxiliou sobre Fé e Política existem, para levantar a bandeira da ética e
na sustentação do regime autoritário. A união formal entre Igreja lutar pela atenuação das desigualdades.
e Estado terminou no século XIX em nosso país. Até então é Nesse sentido, a grande contribuição de Igreja reside na forma
interessante notar a realização conjunta de muitas ações polí- democrática como conduz seus fiéis. Quando a nota doutrinal
ticas. As eleições, por exemplo, ocorriam na maioria dos casos sobre questões relativas à participação dos católicos na vida
em paróquias. Mas, buscar as origens das relações entre a fé e política, assinada pelo papa Bento XVI, aponta que a “pluralida-
de de partidos, (permite) aos católicos escolher a sua
militância para exercer”, fica evidente a capacidade
Jaime C. Patias

da Igreja de entender a importância da participação


democrática na construção da sociedade. O principal
papel político da Igreja reside no incentivo à construção
conjunta da cidadania, por meio do engajamento de
seus seguidores. E como símbolo desse compromisso
destaca-se a mais importante de todas as ações: a
educação política. Se o Estado não é capaz de edu-
car-nos politicamente, a Igreja deve assumir e reforçar
esse compromisso. O símbolo maior dessa missão é o
Centro Nacional de Fé e Política Dom Hélder Câmara,
mas inúmeros grupos estão organizados e engajados
nesse desafio pelo país. Participe! Procure a Igreja
e associe-se a esse movimento por uma questão de
princípios e responsabilidades para com o próximo.
Informações: www.geocities.com/fepolitica 

Humberto Dantas é cientista político, professor do Centro Universitário São Camilo


e coordenador de cursos de Formação Política na Região Episcopal Lapa e na
Missa em memória da Ir. Dorothy Stang, fevereiro 2005, Catedral da Sé, SP. Diocese de Osasco, SP.

14 Março 2006 -
Formação Missionária

Espiritualidade laical
A espiritualidade não nos distancia dos outros e do mundo, mas nos
leva a viver de uma forma única nosso relacionamento com eles.
que as confirme na sua opção de vida
Jaime C. Patias

e nos seus ideais. Nos últimos anos,


percebe-se também um crescente inte-
resse sobre o tema da espiritualidade
em diversos ramos da ciência. Mui-
tas pesquisas buscam compreender
a sua importância na vida dos povos.

Marcas da história
a superar
Dizíamos anteriormente que um
dos motivos que levam, ainda hoje,
muitas pessoas a olhar para a espi-
ritualidade com certa desconfiança
é uma compreensão errada da es-
piritualidade cristã. Mas o que isto

Celebração de Corpus Christi, Catedral da Sé, São Paulo. A vocação dos fiéis leigos à santida-
de comporta que a vida segundo o
de Luiz Balsan menos por instantes, o vazio de sua Espírito se exprima de forma pecu-
existência. Estas pessoas, na verdade,

N
liar na sua inserção nas realidades
tendem a buscar não uma forma de
temporais e na sua participação nas
ota-se nos dias de hoje, uma espiritualidade que se torne central em
atividades terrenas. É ainda Paulo
atenção particular pela espi- sua vida e oriente todas as suas atitudes,
que adverte: “Tudo quanto fizerdes
ritualidade. Fala-se dela em decisões e comportamentos; buscam,
por palavras e obras, fazei tudo no
quase todos os âmbitos da sim, experiências espirituais, com forte
nome do Senhor Jesus, dando, por
sociedade: saúde, econo- carga afetiva, onde se misturam muitas
mia, psicologia, meios de coisas como: oração, apoio psicológico, meio d’Ele, graças a Deus Pai” (Col
comunicação social... Os motivos de cuidados com o próprio corpo; uma mis- 3, 17). Aplicando as palavras do
tanto interesse e de tantas opiniões são tura de coisas que as ajude a enfrentar apóstolo aos fiéis leigos, o Concí-
diversificados. Há quem a encare ainda o estresse do dia-a-dia e que ao menos lio afirma categoricamente: “Nem
com bastante desconfiança, identifican- por um momento, as ajude a restabelecer os cuidados familiares nem outras
do em sua essência um possível fator seu equilíbrio emocional. Neste sentido, ocupações profanas devem ser
de alienação que leva a distanciar-se a espiritualidade é entendida como algo alheias à vida espiritual”. Por sua
do mundo e das coisas que realmente que se pratica em momentos determi- vez, os padres sinodais afirmaram:
contam na história da humanidade. É nados, mas que acabam ocorrendo à “A unidade de vida dos fiéis leigos
um modo de pensar, de certa forma, parte, e de certa forma sem influência é de enorme importância, pois, eles
influenciado pela visão marxista que vê no cotidiano de sua vida. É uma espécie têm que se santificar na normal
a religião como uma espécie de droga de espiritualidade de “final de sema- vida profissional e social. Assim,
que impede as pessoas de participar na”, sem que tenha uma incidência para que possam responder à sua
de forma crítica e ativa no processo de ética na vida da pessoa como um todo. vocação, os fiéis leigos devem olhar
construção da sociedade; mas, acima de Outras pessoas, fortemente em- para as atividades da vida cotidiana
tudo, este modo de pensar é influenciado penhadas pelo bem da sociedade e como uma ocasião de união com
por uma compreensão redutiva e inade- pela construção de um mundo melhor, Deus e de cumprimento da Sua
quada da própria espiritualidade cristã. buscam na espiritualidade a força que as vontade, e também como serviço
Enquanto alguns olham com des- sustente na sua dedicação e serviço aos aos demais homens, levando-os
confiança, outros, por motivos diversos, outros em favor da Igreja e do mundo.
à comunhão com Deus em Cristo”
a buscam avidamente. Há quem veja Neste sentido, muitas pessoas sentem
(Christifideles Laici, 17).
nela a possibilidade de preencher, ao a necessidade de uma espiritualidade

- Março 2006 15
Formação Missionária

Jaime C. Patias
Grupo de cantores, Comunidade São João Maria Vianney, Pinhal Grande, RS.

quer dizer? Na verdade, tra- negativo e portanto todo o esforço de entre corpo e alma, material e espiritual
ta-se de uma compreensão que crescimento humano passaria pela ne- como relação de pólos contrapostos.
tem profundas raízes na história. gação ou superação do mesmo. Dentro Seria muito espiritual a pessoa que
Um dos primeiros confrontos do desta concepção a pessoa se tornaria menos se ocupasse de coisas materiais.
cristianismo, fora do ambiente judaico tanto mais espiritual quanto mais con- Pelo contrário, seria pouco espiritual
onde nasceu, foi com a cultura e a seguisse distanciar-se do seu corpo e a pessoa que se ocupasse muito das
filosofia grega. Parte desta filosofia, de tudo o que fosse material. Trata-se coisas materiais. Dentro deste modo
e mais propriamente o platonismo, de uma visão dualista que vê a relação de entender, tudo o que se referisse,
ensinava que o ser humano, do jeito
Corrado Dalmonego
que o conhecemos – composto de
alma e corpo – não corresponde à
sua situação natural. Com isto queria
dizer que o homem verdadeiro seria
representado pela alma. O corpo teria
sido acrescentado a ela, como uma
forma de punição por alguma culpa
cometida. O corpo seria, portanto, uma
espécie de acidente de percurso, algo
estranho à essência do ser humano;
um entrave, algo como um peso, uma
espécie de prisão. Como conseqüência
disto decorre a convicção que o homem
se torna tanto mais ele mesmo quanto
mais se distancia do seu corpo e das
suas influências, retornando assim às
suas verdadeiras origens. Em outras
palavras, o corpo era visto como algo Celebração na paróquia São João Batista, Cascavel.

16 Março 2006 -
Formação Missionária

por exemplo, ao mundo do trabalho, na sus fala do amor a Deus e ao próximo.


“A espiritualidade não é “uma
verdade se contraporia à espiritualidade. Esta forma desencarnada de pensar
parte da vida, mas a vida inteira
Esta concepção, que teve fortes a espiritualidade está presente em nossos
influências no cristianismo, trouxe sé- dias, talvez, mais do que pensamos. guiada pelo Espírito” de Jesus.
rias dificuldades para uma adequada Lembro-me de uma pessoa que me Entre os elementos de espiri­
compreensão da espiritualidade cristã, dizia de seu desapontamento diante tualidade que todo cristão deve
sobretudo da espiritualidade laical. Se das palavras da animadora espiritual assumir como próprios, destaca-
é espiritual aquele que se distancia das do seu grupo que, contrariada porque se a oração. A oração o levará,
coisas materiais, e portanto do mundo, ela não se dispunha a ir à igreja todos aos poucos, a ver a realidade
como pode ser espiritual alguém que vive os dias, disse-lhe que devia escolher se com um olhar contemplativo,
a maior parte de sua vida inserido nas queria servir a Deus ou à sua família. que lhe permitirá reconhecer a
coisas do mundo, nas coisas materiais, Na verdade, como pano de fundo desta Deus em cada instante e em
no trabalho...? Como conseqüência disto expressão está a idéia de que somen-
todas as coisas; de contemplá-
desenvolveu-se a idéia de que, para ser te servimos a Deus quando estamos
lo em cada pessoa; de procurar
cristão de verdade, isto é, para ser santo exercendo alguma atividade na igreja.
era preciso deixar o mundo. Transferindo cumprir sua vontade nos acon-
isto para a realidade dos leigos, pensou- Uma visão cristã tecimentos” (CNBB, Missão e
se por séculos, que para ser santo, o Em contraposição à compreensão ministérios dos cristãos leigos,
leigo precisava imitar os religiosos e mais da filosofia grega, Santo Irineu – nas- 62, no 179).
propriamente, os monges.Aespiritualida- cido no ano 130 –, colocando-se numa
de passou a ser confundida com oração perspectiva claramente cristã, define o
ou práticas espirituais que se vive e se
faz sobretudo na igreja. Como o leigo

Jaime C. Patias
passa a maior parte do seu tempo no
mundo do trabalho e nos cuidados da
sua própria família, a maior parte da sua
vida estaria longe das coisas espirituais.
Daí a dificuldade em ver o leigo como
alguém que pode ser tão espiritual,
ou tão santo, quanto o religioso ou o
sacerdote. Estes últimos seriam mais
espirituais porque se ocupariam mais das
coisas especificamente transcendentais.

Considerações
importantes
Sobre esta forma de compreender a
espiritualidade poderíamos fazer algu-
mas considerações. Do ponto de vista
antropológico, ela manifesta uma forma
dualista de entender a vida e o próprio
ser humano e torna-se desumanizante,
enquanto nega uma dimensão que lhe
é fundamental: o seu ser no mundo.
É neste mundo e relacionado com as
coisas do mundo, que a pessoa é cha- homem espiritual como aquele que é mais me aproximo de Deus”. A ação
mada a construir a sua vida e a sua composto pelo corpo, pela alma e pelo divina no ser humano o torna melhor, o
história. Concluindo a obra da Criação, Espírito Santo. Este último é como se torna mais humano. É esta compreensão
Deus confia sua obra ao ser humano, fosse a alma da nossa alma. Ele se une que levou o poeta Fernando Pessoa a
para que cuide dela e dela tire o seu ao nosso eu e dá força a tudo o que em usar uma expressão muito significativa
sustento. Esta relação com o mundo é nós é humano. Nesta posição, notamos em relação a Jesus Cristo: “tão humano
constitutiva do seu ser, pois o homem como o espiritual não se contrapõe assim só poderia ser Deus mesmo”.
e a mulher foram criados para viverem ao humano. Pelo contrário, a ação do Neste sentido, é espiritual, não a pessoa
no mundo. Algo que é constitutivo não Espírito leva a pessoa a desenvolver que se distancia das coisas materiais e
pode ser estranho à sua espiritualidade. cada vez mais o melhor de si mesmo. dos outros, mas aquela que permite que
Do ponto de vista cristão, manifesta a Esta compreensão está iluminada pela o Espírito Santo, presente nela, ilumine
perda de um princípio que é fundamental: convicção que o humano e o divino tam- toda a sua existência. A vida espiritual
a santidade não se baseia em práticas bém não se contrapõem. A proporção é, portanto, a vida no Espírito Santo e
espirituais, mas na caridade, entendida certa não é “quanto mais me distancio do com o Espírito Santo. E porque o Espírito
como a perfeição da lei. A quem quer humano, mais me aproximo de Deus”, e não traz uma mensagem própria, mas
saber qual é o maior mandamento, Je- sim “quanto mais me torno humano, tanto nos orienta para a pessoa de Cristo, é

- Março 2006 17
Formação Missionária

“O papa Paulo VI denuncia a gravidade da ruptura entre fé e vida, Espiritualidade no


entre Evangelho e cultura. João Paulo II convida os leigos e leigas a mundo
Os leigos, mais do que os sacer-
estabelecerem a unidade de vida sustentada pela espiritualidade. “Não
dotes e os religiosos, estão inseridos
pode haver na sua existência duas vidas paralelas: por um lado, a
no mundo: no mundo do trabalho, da
vida chamada ‘espiritual’, com seus valores e exigências; e, por outro, política, do lazer, dos meios de comuni-
a chamada vida ‘secular’, ou seja, a vida da família, do trabalho, das cação social, da educação, da família.
relações sociais, do empenho político e da cultura. [...] Toda atividade, Inseridos nestas realidades eles vivem
toda situação, todo compromisso - como, por exemplo, a competência a maior parte de suas vidas. Se, como
e a solidariedade no trabalho, o amor e a dedicação na família e na já afirmamos, a espiritualidade é algo
educação dos filhos, o serviço social e político, a proposta da verdade na que abarca toda a vida da pessoa, logo
esfera da cultura - são ocasiões providenciais de um contínuo exercício entendemos que este relacionamento
da fé, da esperança e da caridade”. Leigos e leigas fazem do fogão, com o mundo não é algo estranho à
do torno, da cátedra, da enxada, do bisturi... verdadeiro altar. Imersos espiritualidade dos leigos. Colocando-se
nesta linha de pensamento, o Concílio
no mundo do trabalho, encontram inspiração no testemunho de Jesus
Ecumênico Vaticano II afirma que o
de Nazaré, o filho do carpinteiro e em Maria servindo a prima Isabel”.
cristão leigo é chamado a tornar-se
(CNBB, Missão e ministérios dos cristãos leigos, 62, nº 179). santo, não apenas no seu estado de
vida, mas através dele (Lumen Gentium
41-42). Com isto, o Concílio quer nos
espiritual todo aquele que é capaz de não é sinônimo de oração. A oração é dizer que o leigo vive a sua espiritu-
viver o seu dia-a-dia e o conjunto de uma parte tão importante a ponto de alidade e se santifica, não apenas
suas relações – com os outros, com muitos autores afirmarem que, sem nos momentos de oração, mas, pelo
as coisas, com o mundo – iluminado vida de oração, não há espiritualidade. A contrário, se santifica e vive sua espi-
por Cristo e pelos seus ensinamentos. espiritualidade, porém, é algo bem mais ritualidade, sobretudo, através do seu
Assim, a espiritualidade não nos dis- amplo do que vida de oração ou práticas empenho concreto naquelas coisas que
tancia dos outros e do mundo, mas nos espirituais; é algo que envolve toda a são parte de sua vida e do seu traba-
leva a viver de uma forma única nosso vida da pessoa, transformando-se em lho. Quando o leigo vive a sua relação
relacionamento com eles, tornando-nos, um estilo de vida, e para nós cristãos, com o mundo, buscando impregná-lo
como diz Jesus, sal e luz do mundo. podemos dizer que ela se torna um dos valores do Evangelho, quando
A partir de quanto dissemos até jeito de se posicionar diante da vida, procura, a partir da sua vivência de fé,
agora, fica claro como espiritualidade iluminados pelos valores do Evangelho. ser sal e luz do mundo, ele manifesta
ser alguém autenticamente espiritual.
Não é distanciando-se dele, que o leigo
Jaime C. Patias

vive sua espiritualidade, mas através


dele. É através do seu empenho no
mundo, que ele caminha para Deus.
A espiritualidade do leigo é, portanto,
espiritualidade da encarnação: uma
espiritualidade a ser vivida no mundo.

Luiz Balsan é missionário, professor de


Espiritualidade e doutor em Teologia.

Para reflexão
1. O que você entende por espiritualidade?
2. A sua espiritualidade é determinante em
sua vida cotidiana? Como você se relaciona
no am­biente de trabalho com relação à espiri­
tualidade?
3. Em que sentido uma visão dualista de
espiri­tualidade dificulta a compreensão da
espiritualidade cristã?
4. A espiritualidade não é uma parte da vida, mas
a vida inteira guiada pelo Espírito de Jesus. Como
você entende essa afirmação em sua vida?
Equipe de trabalho, Capela Sagrada Família, Cascavel, PR.

18 Março 2006 -
missão
O AD GENTES no Brasil

Missão
história daHoje
O Regional Sul 1 da CNBB, através do Projeto Missionário destino certo: serem em período eleitoral, instrumento de cap-
Norte 1-Sul 1 e em parceria com a CRB – Conferência tação dos votos. A estes, com muito sacrifícios, a paróquia São
dos Religiosos do Brasil - Regional São Paulo, realizou no Francisco de Assis, com apoio de seu pároco padre Cícero de
dia 4 de fevereiro, no Santuário São Judas Tadeu, em São Brito, da vila São Sebastião, mobilizando toda comunidade e
Paulo, a celebração eucarística de envio de cinco missio- pessoas de boa vontade, pôde oferecer ao menos uma sopa
nários para a Região Norte. Para a diocese de Boa Vista, diária. Era algo paliativo, mas urgente, pois a vida desses irmãos
trabalhadores corria risco, já que viviam o drama do desemprego
RR, foram enviados os padres Domenico Cristófano, da
e foram abandonados pelo poder público na administração do
diocese de Bragança Paulista e Ivanildo dos Santos Costa,
prefeito Sérgio Salvani.
da diocese de Catanduva. Para a Prelazia de Tefé, AM,
Valdemar Aparecido dos Reis, da diocese de Assis. Para a Nova missão
Arquidiocese de Manaus, município de Manaquiri, AM, as Estas lutas fizeram parte da minha caminhada vocacional e
irmãs Inês Zanin, da Congregação das Irmãs Franciscanas continuam através desta nova Missão, que assumo como Igreja
de Nossa Senhora de Fátima e Célia Mendes Alves, da viva de Jesus Cristo. Fui enviado onde o clamor dos povos indí-
Congregação das Irmãs de Santa Madalena de Postel. genas, negros e milhares sem-terra excluídos clamam por um
Ivanildo dos Santos Costa nos fala sobre as motivações mundo melhor, o sonho da “terra sem males”. Colocando-me a
que o levaram a esta Missão. serviço do Reino de Deus, busco nesta Missão fazer presente a
solidariedade do meu pastor e pai dom Antônio Celso de Queirós
e nossa diocese de Catanduva, assim como a paróquia de São
de Ivanildo dos Santos Costa José de Itajobi, comunidade esta que carrego em meu coração.
Com os migrantes desta diocese, especificamente aqueles que

P
vivem em Palmares Paulista, aprendi o sentido da palavra irmão,
ara entender o caminho que me levou a ouvir o cla- lutando por seus direitos e dignidade.
mor do povo de Deus, em Roraima, é preciso reviver Estas são as minhas razões para seguir em frente, buscando
alguns momentos de lutas e sofrimentos comparti- atender o chamado de nosso Deus, que a todos nós convoca
lhados com nossos irmãos sem-casa no município para a Missão. Descobri com esta caminhada que a construção
de Limeira, São Paulo, no ano de 1994. Foi um mo- de um mundo novo, onde reina a paz e a justiça, é possível.
vimento violentamente reprimido a
Renato Papis/CNBB Sul1

mando do então prefeito, Jurandir


Paixão. Esta luta continua até hoje, com mais
força e organização. Entre estas centenas de
famílias, encontravam-se pessoas de todas
as idades, etnias e credos religiosos que
possuíam apenas uma coisa em comum: as
marcas da pobreza e exclusão social. Muitos
deles vindos de longe, na esperança de me-
lhores condições de vida e na sua maioria,
seduzidos pelos encantos e promessas dos
usineiros e latifundiários que anunciaram a
todo Brasil a sua “Califórnia brasileira”, lugar
de prosperidade e realização dos “bóias-frias”.
Alimentando-se da miséria dos mais fracos,
os patrões construíram seu patrimônio e sua
riqueza. Aos trabalhadores de suas lavouras
e canaviais restava apenas se sujeitar a re-
ceber migalhas insuficientes para alimentar
com dignidade suas famílias.

Em Taquaritinga, São Paulo


Após esta experiência, no ano de 1999
vivenciei no município de Taquaritinga, o drama Pe. Domenico, Ir. Inês, Ir. Célia, Pe. Valdemar e Pe. Ivanildo.
de centenas de cortadores de cana da região de Ribeirão Preto, Como Paulo Apóstolo, de quem emprestei a frase de ordenação
que pelo fato de não encontrar nenhum amparo na legislação presbiteral, este é um instrumento que eu escolhi para anunciar;
trabalhista no período da entressafra, foram deixados à própria sei que devo evangelizar e ai de mim senão o fizer. 
sorte, e submetidos à humilhações tais como: água e energia
cortadas, além de não possuírem sequer o alimento para sua Ivanildo dos Santos Costa é sacerdote missionário,
sobrevivência, pois, as chamadas cestas básicas, já possuíam formado em Filosofia e Teologia pela PUC de Campinas.

- Março 2006 19
Destaque do mês

Fórum Social M
A esquerda precisa se renovar, deixar de lado o protagonismo nacional e aceitar os novos
modelos de fazer política e articular blocos regionais para poder, efetivamente, fazer frente
ao jogo da economia globalizada.

de Maria Emerenciana Raia, com informa-

Foto: Hélvio Romero/Agência Estado


ções dos sites do Fórum Social Mundial,
Brasil Agora, Radiobrás e Rets.

O
Fórum Social Mundial 2006
Américas, realizado entre os
dias 24 e 29 de janeiro de 2006,
em Caracas, na Venezuela,
contou com a participação
de aproximadamente 80 mil
inscritos em 2 mil atividades. Vários fóruns
aconteceram depois do primeiro, em 2000:
mundiais, regionais, nacionais e mesmo
locais, em diferentes países pelo mundo
afora. Mas foram necessários 3 anos para
que se organizasse um Fórum de nível
mundial fora do Brasil. Foi o de janeiro de
2004, na Índia. Lá, foi tomada a decisão
de, depois de voltar ao Brasil em 2005,
realizar neste ano de 2006 um Fórum
Mundial em outro continente: a África.
As organizações africanas presentes em se realizaria em Caracas na Venezuela, em FSM Américas
reunião do Conselho Internacional do Bamako no Mali e em Karachi no Paquis- “Havia o temor de muitos companheiros
Fórum realizada na Índia se dispuseram tão, isto é, um Fórum em cada continente de que este Fórum se converteria em um
a enfrentar esse desafio, com o apoio do do Terceiro Mundo. Ao mesmo tempo a Fórum ‘chavista’. Creio que nossa resposta
Conselho, no qual mais de cem organi- porta ficou aberta para que outros Fóruns está demonstrada”. O desabafo foi do ve-
zações internacionais decidem sobre as pudessem ser considerados como fazendo nezuelano Jacobo Torres de León, membro
orientações a serem tomadas, dando forma parte do Fórum Social Mundial Policêntrico do Comitê Organizador do Fórum Social
ao que já se define como o processo do de 2006, mesmo que se ­realizassem em Mundial Américas, realizado em Caracas,
Fórum Social Mundial. outras datas, de acordo com a escolha Venezuela, durante o painel que discutiu
Mais tarde, no entanto, as organiza- de seus organizadores e com o apoio do as perspectivas futuras do FSM.
ções africanas dispostas a organizar o Conselho Internacional do Fórum Social León defendeu a tese de que está
Fórum de 2006 consideraram que era Mundial. havendo uma ofensiva política no mundo.
prematuro realizá-lo na África nesse ano. A simultaneidade, entretanto, se mos- Para ele, não existiriam políticos como
Para elas seria preferível fazê-lo em 2007. trou uma condição difícil. Surgiram proble- Lula, Chávez e Morales sem a força dos
Com isso se criou um vazio: o que fazer mas logísticos em Bamako, e aconteceu movimentos sociais. Que devem perma-
em 2006? Ora, a idéia de realizar vários o arrasador terremoto no Paquistão. Foi necer autônomos em relação ao Estado,
Fóruns simultâneos, na mesma data que preciso então antecipar em alguns dias afirma, mas sem perder o vínculo com os
o Fórum Econômico de Davos, já tinha o Fórum em Bamako e a data exata do movimentos que o planeta vive. “Creio
sido apresentada na Nota de Informação Fórum no Paquistão será decidida pelos que estamos sofrendo uma reflexão muito
do final do Fórum de 2001. Ela foi então paquistaneses, provavelmente em fim profunda do que está ocorrendo no mun-
retomada, decidindo-se organizar em 2006 de novembro de 2006. De todo modo, do. É a ofensiva dos povos. Não estamos
um Fórum Social Mundial Policêntrico. esses três Fóruns deverão constituir uma mais somente na resistência, ficamos na
experiência nova no processo do Fórum defensiva durante muitos anos. A mudança
Uma nova experiência Social Mundial, a ser ou não retomada iniciada pela Venezuela ao final do século
Chegaram propostas de diversos paí- depois do Fórum Social Mundial de 2007 XX e que hoje termina com a vitória de
ses na reunião do Conselho Internacional na África, que será realizado em Nairobi, Evo Morales (líder indígena e cocaleiro
de meados de 2005, decidindo-se que ele no Quênia. recém-empossado presidente da Bolívia)

20 Março 2006 -
Mundial 2006
é indicadora de que os povos estão em A questão central, para Boaventura, é
ofensiva”, analisa. “Portanto um cenário de que forma reconstruir a tensão política
como o Fórum está se abrindo a uma O FSM em números entre os movimentos sociais e os partidos
nova forma de participação e a um novo Participantes: cerca de 80.000 políticos. Ele citou o exemplo brasileiro
desafio de articulação. É um pouco como Delegados (vinculados a onde, em razão da ascensão de Lula,
reivindicou Cândido Grzybowski: que o organizações): 19.000 um aliado dos movimentos sociais, houve
Fórum não é apenas um cenário político Organizações: 2.500 um distensionamento, e o país viu que
de partidos ou de vanguardas, e nisso Voluntários: 3.000 retrocessos foram possíveis. Quando os
estamos totalmente de acordo, mas sim a Jornalistas: 4.900 movimentos sociais baixaram a guarda
possibilidade de que distintos movimentos Atividades: cerca de 2.000 - e Boaventura cita como exceção o Mo-
comecem a assumir uma conduta política vimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Atividades por eixo:
de mudança. Creio que este é o desafio Terra (MST) - perderam a capacidade de
Eixo 1 - Poder, política e lutas
que temos de assumir para o futuro, e incidência e controle social.
a melhor amostra foi este Fórum Social pela emancipação social: 493
Mundial”, concluiu León. Eixo 2 - Estratégias imperialistas Juventude e FSM
e resistências dos povos: 314 Boaventura afirmou ainda que “a
Integraçãolatino-americana Eixo 3 - Recursos e direitos para geração que iniciou esse debate está
O sociólogo português Boaventura a vida - alternativas ao modelo cansada. Como não admitem, dizem que
de Souza Santos, da Universidade de civilizatório depredador: 272 o formato se esgotou. Sugiro que gente
Coimbra, foi um dos destaques da mesa Eixo 4 - Diversidades, jovem tome seu lugar”, no debate sobre a
de diálogo e controvérsia: “Crise e limites identidades e cosmovisões organização e as disputas de poder dentro
da onda democrática na América Latina”. em movimento: 132 das estruturas do Fórum Social Mundial.
Para ele, uma grande riqueza de modelos Durante o encontro surgiu a proposta de
Eixo 5 - Trabalho, exploração e
progressistas de democracias está em que o Fórum talvez pudesse dar apoio
reprodução da vida: 183
marcha ou tendo início na região. Nunca a certos documentos e lutas, e também
houve uma quantidade tão grande de Eixo 6 - Comunicação, culturas ter alguma proximidade com governos -
governos nacionais que se posicionam e educação - dinâmicas e ações proibidas pela Carta de Princípios
como progressistas. Pouco a pouco vão se alternativas do FSM.
conformando como bloco, bloco este que democratizadoras: 389 “Não é possível pensar o Fórum com
teve capacidade de paralisar o processo Atividades culturais: 200 idéias velhas”, disse Boaventura, depois
de negociação da Área de Livre Comércio Delegações mais numerosas: de escutar sugestões de membros do
das Américas (Alca). Venezuela, Colômbia e Brasil Comitê Internacional do evento no sentido
Boaventura salientou também que nun- de modificar estruturas. “Em 2001 se dis-
ca houve tanta diferença entre práticas de cutia que o Fórum não poderia acontecer
esquerda e a teoria de esquerda na região. na Universidade Católica de Porto Alegre,
Isso seria perigoso. Para ele, é preciso em marcha, num espírito de colaboração porque lá seria um ambiente elitista. E
buscar uma nova congruência, baseada intraregional. E seria indispensável aprender agora terminamos no Caracas Hilton!”,
no respeito pela diversidade dos processos com a experiência das outras. Os nacio- observou. Esse, para ele, é um exemplo
nalismos de hoje na de que nem tudo o que se pleneja sai cor-
Paula Brenha

América Latina devem retamente. Ocorrem desvios no caminho,


ser pensados de uma mas é preciso corrigir os erros antes de
nova maneira, incorpo- mudar as regras.
rando a dimensão de Para Boaventura, o Fórum é vítima
integração regional. A de seu sucesso. “Agora não sabemos
esquerda precisa se o que fazer, nem sabemos analisar o
renovar, deixar de lado Fórum globalmente. Temos que analisar
os personalismos, o Mali, analisar o Paquistão, onde ocorrem
protagonismo nacional os outros Fóruns, este ano dividido em
e aceitar os novos mo- três países e chamado Policêntrico, e
delos de fazer política eles têm que nos analisar. Aqui estamos
e articular blocos regio- ­preocupados com o governo, mas o Fórum
nais para poder, efeti- é maior do que isso”. 
vamente, fazer frente
ao jogo da economia Maria Emerenciana Raia é jornalista,
Marcha de abertura do FSM 2006, Caracas, Venezuela.
globalizada. editora da revista Missões.

- Março 2006 21
atualidade
Arquivo CNBB

Deus é AMOR
O Amor de Deus
(...) Existe um único Deus, que é
o Criador do céu e da terra, e por
isso é também o Deus de todos
os homens. Dois fatos se singu-
larizam neste esclarecimento: que
A primeira encíclica do papa Bento XVI reafirma o verdadeiramente todos os outros
primado do amor cristão. deuses não são Deus e que toda
a realidade onde vivemos se deve
da “prática do amor”, da ação caritativa a Deus, é criada por Ele (9).
de Giovanni Crippa
da Igreja, considerada como uma parte (...) O amor apaixonado de Deus

A
essencial da sua natureza. pelo seu povo – pelo homem – é
primeira encíclica do papa Bento ao mesmo tempo um amor que
XVI, Deus Caritas est (Deus é A origem do amor perdoa. E é tão grande, que che-
Amor), procura apresentar “o Para compreender o amor precisamos ga a virar Deus contra Si próprio,
centro da fé cristã”. O cristia- devolver-lhe o seu esplendor original, o seu amor contra a sua justiça.
nismo não é uma idéia abstrata, regressar à fonte primordial do amor:
Nisto, o cristão vê já esboçar-
uma decisão ética, mas “o en- Deus. Confrontando-se com a linguagem
se veladamente o mistério da
contro com um acontecimento, com uma contemporânea, o papa apresenta o amor
Pessoa que dá à vida um novo horizonte como “uma única realidade, embora com Cruz: Deus ama tanto o homem
e, dessa forma, o rumo decisivo”. O texto distintas dimensões”: eros (o amor entre que, tendo-Se feito Ele próprio
é estruturado em duas partes: a primeira homem e mulher), philia (o amor de amiza- homem, segue-o até à morte e,
oferece uma reflexão filosófica e teoló- de) e agape (a caridade, o amor oblativo). deste modo, reconcilia justiça e
gica sobre a origem do amor e as suas Privilegiando a agape, a dimensão que amor (10).
diferentes manifestações; a segunda trata melhor exprime a visão cristã do amor, a

22 Março 2006 -
é chamado - passando por um caminho de a atender às necessidades mais urgentes,
Jesus Cristo “purificação” - a desembocar na agape, no de outro lado deverá procurar resolver as
(...) O olhar fixo no lado trespassa- amor que renuncia a si mesmo, em favor causas das pobrezas morais e materiais
do de Cristo, de que fala João (cf. do outro. Eros e agape não se excluem. a partir dos princípios da doutrina social
19, 37), compreende o que serviu “Eros procura Deus e agape transmite o católica. Por isso as atividades caritati-
de ponto de partida a esta Carta dom recebido”. Devolvendo aos termos sua vas deverão ser alicerçadas sobre “um
inocência semântica, Bento XVI chega a verdadeiro humanismo, que reconhece
Encíclica: “Deus é amor” (1 Jo 4,
afirmar: “O eros de Deus pelo homem é, no homem a imagem de Deus e quer
8). É lá que esta verdade pode ser
ao mesmo tempo, totalmente agape”. ajudá-lo a levar uma vida conforme esta
contemplada. E começando de lá, Cristo na cruz representa a forma mais dignidade”.
pretende-se agora definir em que radical deste amor. “Jesus deu a este ato “O amor - caritas - será sempre ne-
consiste o amor. A partir daquele de oferta uma presença duradoura através cessário, mesmo na sociedade mais justa”
olhar, o cristão encontra o caminho da instituição da Eucaristia”, chamada “porque o ser humano, além da justiça,
do seu viver e amar (12). também de agape. Participando da Eu- tem e terá sempre necessidade do amor”,
(...) No próprio “culto”, na comu- caristia estamos envolvidos na dinâmica sobretudo duma amorosa dedicação pes-
nhão eucarística, está contido da sua doação: comungando com Cristo
o ser amado e o amar, por sua tornamo-nos “um só corpo” com todos
vez, os outros. Uma Eucaristia aqueles aos quais Ele se doa. É possível amar a
que não se traduza em amor
Deus?
A prática do amor (...) Resta uma dupla pergunta a
concretamente vivido, é em si
A compreensão do amor, que carac- propósito do nosso comportamen-
mesma fragmentária. Por outro teriza a primeira parte da encíclica, tem to. A primeira: é realmente possível
lado o “mandamento” do amor só como objetivo a prática da caridade como amar a Deus, mesmo sem O ver?
se torna possível porque não é cotidiano e permanente testemunho para
E a outra: o amor pode ser man-
mera exigência: o amor pode ser a Igreja e para o cristão. “Para a Igreja, a
dado? Contra o duplo mandamento
“mandado”, porque antes nos é caridade não é uma espécie de atividade
de assistência social que se poderia mesmo do amor, existe uma dupla objeção
dado (14).
deixar a outros”, ao contrário, é “expressão que se faz sentir nestas pergun-
irrenunciável da sua própria essência”; a tas: ninguém jamais viu a Deus
Sagrada Escritura e a Igreja não conde- caridade é tão intrínseca à sua natureza – como poderemos amá-Lo? Mais:
nam o eros e a corporeidade, mas a sua como a própria celebração dos Sacramen- o amor não pode ser mandado; é,
redução a sexo e mercadoria. O amor tos ou o anúncio do Evangelho. em definitivo, um sentimento que
exige uma íntima união e um profundo A prática da caridade não pode dis- pode existir ou não, mas não pode
equilíbrio entre corpo e alma, eros e agape, pensar a Igreja do compromisso com a ser criado pela vontade (...) [Na 1ª
entre o humano e o divino. Por isso, eros justiça: se muitas vezes a Igreja é chamada Carta de João] se destaca o nexo
indivisível entre o amor a Deus e
Renato Papis/CNBB Sul1

o amor ao próximo: um exige tão


estreitamente o outro que a afirma-
ção do amor a Deus se torna uma
mentira, se o homem se fechar ao
próximo ou, inclusive, o odiar. (...)
O amor ao próximo é uma estrada
para encontrar também a Deus,
e que o fechar os olhos diante
do próximo torna cegos também
diante de Deus (16).

soal que atenda às suas aspirações mais


profundas. A verdadeira caridade não se
reduz à ajuda concreta, torna-se também
comunicação do amor de Deus, que nós
mesmos temos recebido. Para viver este
testemunho do amor, o cristão deve
confiar em Deus, viver numa comunhão
profunda com aquele que é a origem do
amor, com uma certeza: “quem caminha
para Deus não se afasta dos seres hu-
manos, antes, ao contrário, torna-se-lhes
verdadeiramente vizinho”. 

Giovanni Crippa é missionário, doutor e


“Na liturgia da Igreja, na sua oração, na comunidade viva dos crentes, nós experimentamos o amor de Deus”(17). professor em História da Igreja.

- Março 2006 23
Diferentes e Amados
pelo Deus da vida
“Vinde a mim os pequeninos, vou lhes dar agora e sempre,
Infância
Missionária o meu reino de presente!” Roberto Malvezzi
de Roseane de Araújo Silva
sejam mais solidárias umas com

Corporación de Educación y Salud Para Niños Con Síndrome de Down


as outras, por essa razão elas

N
vão ao encontro daquela criança
este mês em que refletimos mais ou adolescente com deficiência
fortemente sobre a Quaresma, o e a exemplo de Jesus, o ajudam
período de penitência, de reen- a levantar. Neste caso, levantar
contro com o mistério da paixão tem o sentido de recuperar sua
e ressurreição de Jesus, estamos dignidade, porque “a criança mis-
também analisando e conhecen- sionária é alegre e solidária no
do de perto como vivem as pessoas com serviço aos irmãos” (6º Manda-
deficiência. É uma realidade talvez pouco mento da Criança Missionária).
conhecida no universo da Infância Missio- Que a presença do Ressuscitado
nária, mas trata-se de um tema bastante favoreça em nosso meio, novos
relevante, acertadamente escolhido pela espaços que proporcionem à
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil criança ou adolescente com defi-
para a Campanha da Fraternidade 2006. ciência viver com dignidade, com
Quando não convivemos com pes­soas direitos reconhecidos, sorriso no
com deficiência, costumamos julgá-las como rosto, sendo respeitado pelo que
incapazes ou como pessoas que serão é e não excluído por causa de
eternamente dependentes de cuidados e uma deficiência. Na certeza de
atenções especiais. As pessoas com de- que o Deus da Vida, pai e mãe
ficiência (ou não) necessitam sentir que da gente, caminha conosco e nos
são capazes de realizar qualquer tarefa ou fez diferentes uns dos outros,
missão sob sua responsabilidade. O único para que por essa diversidade
empecilho será daqueles ou daquelas com possamos construir um mundo
as quais elas terão que conviver, provando melhor, sem preconceitos e sem
que são sujeitos da própria história. nenhuma espécie de barreiras.
Um feliz reencontro com o Res-
Levanta-te, vem suscitado! Das crianças do mundo
para o meio! – sempre amigas! 
Na realidade das pessoas com de-
ficiência, ainda encontramos muitos em Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e
situação de privação do convívio social pedagoga da Rede Pública do Paraná
como as relatadas no texto-base da CF
2006, impedidas de ter uma vida autônoma, muito embora com
a justificativa de proteção dos seus pais. Temos um número
significativo de crianças e adolescentes neste contingente. No
Juntando forças!
- Animadores: fazer um levantamento na comunidade
entanto, Jesus nos apresenta uma postura nova, como no epi-
para verificar onde moram crianças ou adolescentes
sódio do homem da mão seca (Mc 3, 1-3). Ele traz as pessoas
para o seu lado e para o convívio da sociedade, assegurando com deficiência;
o direito à diferença e à dignidade de pessoa humana. É esse - Verificar com antecedência o funcionamento das institui-
o desafio que temos nos dias de hoje no convívio com as ções que atuam com crianças com deficiência (deficien-
pessoas com deficiência: fazer o que Jesus faria em nosso tes visuais, surdos, APAE’s, etc.). Algumas instituições
lugar, indo ao encontro das pessoas e fazendo com que elas mantêm um cronograma de visitas e regras específicas
mesmas fiquem de pé, “peguem suas camas e andem”, ou durante as visitas (por exemplo, deficientes visuais);
seja, Ele – movido por um sentimento de compaixão – quer - Organizar com a criançada missionária visitas domi-
que as pessoas encontrem sua liberdade e decidam sozinhas ciliares, bem como às instituições que trabalham com
o caminho a seguir (Jo 5, 2-9a). crianças e adolescentes com deficiência. “Provocar” na
Eu vim para que todos tenham vida em abundância! (Jo
seqüência, um debate em grupo.
10,10). A Infância Missionária busca fazer com que as crianças

24 Março 2006 -
A MÍSTICA DA VIDA

conexão jovem
O cuidado e a ternura são as duas dimensões mais esquecidas pela modernidade, pois não
contam, não produzem. Ao mesmo tempo, são as que mais falta fazem na preservação da vida.
de Luiz Balsan vir ao encontro desta experiência desconcertante? Será que um
momento tão dramático tem algum sentido, alguma coisa para

A
dizer? Uma palavra se impunha à minha mente e à minha fala:
mística é a palavra mais usada hoje para falar de cuidado. A vida é um dom, mas ela é frágil; é preciso cuidar bem
espiritualidade. Quando se fala de mística, pensa- dela. Se a gente não cuida ela pode escapar de nossas mãos
mos em algo que motiva, que dá força, que brota como uma bolha de sabão que estoura no ar e não se recompõe
lá de dentro, do fundo do coração, e irrompe sem mais. Uma decisão errada ou uma imprudência podem marcar
violência, mas quase com a força de um vulcão. Ela para sempre a vida de alguém. A vida é um dom precioso, mas
está ligada à vida: é como uma fonte que jorra e traz o cuidado se torna tão precioso como ela mesma.
entusiasmo, vontade de crescer e de lutar por ideais nos quais
a gente acredita. O cuidado e a ternura
Mas, ao mesmo tempo que a vida é alimentada por esta O escritor Leonardo Boff diz que a vida humana é marcada
força, ela é também muito delicada. Ao mesmo tempo que tra- por um sem número de inter-relações e, se não houver cuidado, a
zemos um gosto pela vida e não queremos, de jeito nenhum, vida não sobrevive. Se um bebê é abandonado por algumas horas,
abrir mão dela, ela é também muito frágil. Há quem diga que é provável que a vida se apague. Nós dependemos do cuidado.
ela está entre dois fios que conduzem
forças diferentes: num deles está a

Jaime C. Patias
vontade de crescer, de amar e ser feliz;
no outro, a força da morte que ameaça
constantemente a vida.

A fragilidade da vida
Há um ano e meio atrás eu estava
tirando uns dias de férias com meus
familiares e no domingo participávamos
de uma festa na comunidade onde
nascemos e crescemos. O almoço foi
gostoso e a festa prometia muito! Esta
alegre e saborosa convivência foi inter-
rompida por um grupo de pessoas da
cidade vizinha que, sabendo que eu
estava lá, vieram me pedir um grande
favor: celebrar uma missa de corpo
presente de um jovem de 22 anos que
tinha morrido na madrugada. Ele fale-
cera em conseqüência de um acidente
a aproximadamente 160Km/h no choque
com o monumento de entrada da cidade.
A cena foi marcante: a igreja, que não
era nada pequena, estava lotada e,
na grande maioria, jovens. O silêncio Participantes do FSM 2005, Porto Alegre, RS.
falava profundamente. A comoção tomava conta de todos. As A ternura é a capacidade de inclinar-se sobre o que quer viver
pessoas se sentiam perdidas. O silêncio revelava a sabedoria para cuidá-lo, para aconchegá-lo e fortificá-lo. Ao mesmo tempo
de quem percebia não ter, no momento, palavras adequadas e se pode dizer que o cuidado e a ternura são as duas dimensões
muito menos respostas para as infinitas perguntas que passavam mais esquecidas pela modernidade: são consideradas coisas
pela cabeça de cada um. que não contam, afinal não produzem. Mas ao mesmo tempo
são as que mais falta fazem na preservação da vida, pois sem
Um dom para cuidar elas não existe vida. A mística da vida nos leva a internalizar
Se neste momento quase todos podem se conceder o di- estas dimensões e a viver guiados por ela. 
reito ao silêncio, do padre se espera uma palavra. E então, ele
também se pergunta o que dizer? Que palavra pode ao menos Luiz Balsan é missionário, professor de Espiritualidade e doutor em Teologia.

- Março 2006 25
Direitos Humanos
entrevista

no Brasil
Rosiana Pereira Queiroz, coordenadora do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH)
apresenta um quadro sobre a atuação do organismo no país.
de Joaquim Gonçalves explícita, mas também para a promoção Muitas pessoas confundem defesa
de todos os direitos da pessoa humana dos direitos humanos com proteção aos
e preservação da vida, mesmo quando delinqüentes. O que fazer para mudar

E
ela parece ter-se tornado um instrumento essa forma de pensar? Como é que o
stamos atravessando uma época arrasador de violência. Movimento encara essa mentalidade tão
histórica de grandes e rápidas O referendo sobre o desarmamen- enraizada em muita gente estudada?
mudanças em todas as dimen- to realizado no ano passado nos deu O MNDH e todas as entidades e de-
sões da vida humana. Estando a oportunidade para perceber como a fensores dos direitos humanos enfrentam
a vida humana radicalmente cultura da violência ainda está muito pre- esse estigma de proteção aos delinqüentes.
ligada à Criação, ela sofre as sente na sociedade. Combatê-la com Essa é uma realidade implantada em geral
conseqüências do agir humano preda- mais violência não é solução. Não só as pela grande mídia, mas é também uma
tório. As mudanças atingem não apenas pessoas individualmente, mas também idéia forte no meio da população, não só
tangencialmente nosso modo de viver e muitos atores da sociedade organizada de baixa renda, mas também da classe
de existir, mas descem ao mais profundo pensam mais no combate e menos na alta e bem informada. Na verdade, na so-
da concepção que temos de nós mesmos. promoção da vida. ciedade existe uma cultura perniciosa que
Portanto, atingem as relações humanas Neste ano acontecerá em Brasília um responde de forma arbitrária e vingativa
em todas as dimensões: política, social, Encontro Nacional de Direitos Humanos. àquelas pessoas que estão em situação
econômica e até religiosa. Apresentamos aos nossos leitores a en- de fragilidade total. Há uma vontade quase
O Movimento Nacional de Direitos trevista com Rosiana Pereira Queiroz, que explícita dos fortes colocarem sob jugo
Humanos (MNDH) vive intensamente este coordenadora do MDNH. Ela nos apresenta os mais fracos e, quando estes cometeram
ciclo de mudanças com os olhos voltados um quadro da conjuntura atual dos direitos algum ilícito ou ato violento, essa vontade
não apenas para as situações de violência humanos no Brasil. chega a ser reivindicada legítima. Esse é
um grande desafio pra nós, defensores
dos direitos humanos: construir uma cul-
Arquivo Pessoal

tura dos direitos humanos, do respeito


inegociável da vida, do combate a todo
ato violento e de responder à violência
com a não-violência.

Quais são os avanços que se têm


verificado no Brasil nos últimos anos
em termos de direitos humanos?
A educação em direitos humanos, a
busca de estratégias eficientes de co-
municação com a população em geral, a
inserção desde o ensino fundamental dos
princípios dos direitos humanos, evocando
que a pessoa seja como for ou como se
apresentar, deve ser respeitada e protegida.
A dignidade humana deve vir em primeiro
lugar. Neste sentido, a educação tem um
papel fundamental na formação de uma
nova consciência, de novos valores. Mas
também será necessário que se faça jus-
tiça e se reivindique reparação concreta
quando diante de uma violação de direitos
humanos, porque a certeza da impunidade,
a ausência de justiça parece permitir que

26 Março 2006 -
Arquivo MNDH
a vida humana seja agredida todos os
dias e isso vai se tornando normal, uma
banalidade. Casos como o da chacina de
Nova Iguaçu, onde foram assassinadas
30 pessoas, o extermínio dos moradores
de rua de São Paulo, o assassinato de
111 presos na Casa de Detenção de São
Paulo, o Carandiru, se ficam impunes,
caem no esquecimento, no silêncio e se
a lei condena estas violências e define
que são crimes, mas não há punição para
quem as causou, aumentam na sociedade
essa vontade quase explícita de destruir o
outro, o semelhante. Se não há combate,
se não há justiça, é como se houvesse
uma autorização para não se respeitar os
direitos humanos.

Quais as dificuldades que o Mo-


vimento tem atravessado e quais as
perspectivas para o futuro?
O MNDH aposta nas ações de base
de suas filiadas que estão presentes
em todo o país para ir construindo aos
poucos uma cultura de direitos humanos; grupos populares, há uma chama acesa de produzir resultados. Mas vale destacar
faz denúncias e incentiva que se divulgue que é invisível, só andando neste país, que mesmo diante de tantas dificuldades,
qualquer violação aos direitos humanos; ouvindo as pessoas se pode perceber há uma certeza: os movimentos sociais
monitora as ações da Justiça e dos órgãos este avanço. É claro que essa chama de são necessários e são eles que constróem,
de Segurança Pública; busca interferir junto luta, de pressão, sempre tem barreiras e ainda que com enormes limites, algumas
ao Poder Executivo para que se criem limites. O MNDH enfrentou, neste último mudanças no país e há uma necessidade
mecanismos e instrumentos de acesso ano, como todos os outros movimentos urgente de alterar o quadro de graves vio-
aos direitos humanos, como: ouvidorias, sociais, dificuldade de atuar frente à crise lações aos direitos humanos econômicos,
conselhos, proteção às testemunhas, política, viveu e presenciou impasses sociais e culturais. O Brasil precisa crescer
centros de apoio às vítimas de violência, e divergências, além de ter enfrentado economicamente, mas tem que produzir
entre tantas outras políticas públicas, problemas no campo da sociedade civil. distribuição de renda e rever a política
na proposição de leis que protejam os econômica, pois isso gera desigualdades
direitos humanos. E, ainda, através dos profundas e agride a pessoa humana. O
meios de comunicação emite opinião e
demarca posição. O Movimento acredita
Crimes que ficam impunes país tem que fazer uma profunda reforma
agrária, pois os trabalhadores não podem
que essas iniciativas têm que ser utilizadas
em sintonia, como parte de um plano em
aumentam na sociedade a viver sob o jugo do trabalho escravo,
infantil e crianças não podem morrer por
rede para trazer resultados. É por conta vontade de destruir o outro. falta de alimentos. A educação tem que
desta contracultura de direitos humanos ser prioridade absoluta e o foco, mais
que se tem a impressão, a princípio, de que Se não há justiça, é como que se preocupar com a vaga na escola,
para quem luta pelos direitos humanos só deve ser a atuação para desenvolver a
tem havido derrotas, porque é assim que se houvesse uma autorização qualidade no ensino público. A educa-
aparece na mídia. Contudo, num ligeiro ção em direitos humanos há que ser
exercício se pode levantar alguns avanços para não se respeitar os um tema transversal para que se inicie
para os direitos humanos no Brasil, ainda o processo de uma cultura de direitos
que não indiquem uma prevalência. Para direitos humanos. humanos. Por fim, o Movimento enten-
grupos socialmente vulneráveis, como os de que o acesso à Justiça é condição
quilombolas, foi possível obter aprovação primeira para se combater a violência
legal de seus territórios, para os homosse- Também teve problemas com o governo e a impunidade e que as organizações
xuais há um reconhecimento de que este que não soube formular uma política de populares, os movimentos sociais pre-
segmento é passível de política pública direitos humanos. Por outro lado, vivemos cisam se preparar e não “arredar o pé”
diferenciada, foi criado o Conselho Nacional com a árdua carga de sermos efetiva- do controle social das políticas públicas,
de Justiça, um órgão de monitoramento mente uma rede e como tal, produzirmos do orçamento, das contas públicas, dos
do Poder Judiciário e ainda abriu-se uma ações coletivas. Há uma centralização e órgãos de Justiça e Segurança, do Po-
nova possibilidade de garantir justiça indução de ações que impedem o fluxo der Legislativo, do Executivo e ir mais
com a federalização de casos graves de de rede. E aliado a tudo isso tem ainda e mais construindo e radicalizando a
violações de direitos humanos. Esses são uma frágil comunicação, a falta de sus- democracia pela participação popular
apenas alguns exemplos de avanços no tentabilidade financeira, que quando se e com direitos humanos. 
âmbito do Estado, mas há uma disposição somam demonstram o grande peso de ser
de luta, de pressão, de teimosia, presente movimento social com a obrigação de ter Joaquim Gonçalves é missionário e membro da Comissão
em vários lugares, junto a organizações e uma atuação de base e com capacidade Justiça e Paz.

- Março 2006 27
Impressões sob
amazônia

“um outro mundo poss

Fotos: Hélvio Romero/Agência Estado


de Ricardo Castro

E
ste artigo é fruto da experiência
vivida e depois partilhada por um
grupo de missionários que parti-
cipou do VI Fórum Social Mundial
em Caracas, Venezuela, entre os
dias 24 e 29 de janeiro. Sabemos
que é um grande desafio descrever na to-
talidade todos os temas e acontecimentos.
Um evento de tamanha grandeza com
uma multiplicidade de oficinas, palestras,
conferências e outros eventos, é difícil de
ser totalmente absorvido. O nosso olhar foi
marcado pela inserção na realidade das
lutas cotidianas de um povo que anseia
por dignidade. Foi um aprendizado da
experiência de tantos povos, movimentos
que buscam compreender a realidade em
que estamos inseridos e os obstáculos que
precisam ser superados, unidos, com tan-
tos outros companheiros e companheiras
pelo mundo inteiro.
Da Região de Roraima, Brasil, éramos
quatro missionários: eu, padre César e os
estudantes de Filosofia, Gilberto e Isaías.
Brasileiros participam do FSM, Caracas, Venezuela.
Do Brasil de modo geral, haviam delegados
de dezenas de entidades, participantes, lutas, experiências e esperança destes pode ser lido como um dos sinais do Reino
jovens, adultos, gente da melhor idade, povos por justiça. Foi um momento de de Deus na história.
intelectuais, líderes comunitários, artistas, intercâmbio cultural que culminou com a
enfim, um pouquinho do país em cada proposta de se organizar um Fórum dos A democracia participativa
metro quadrado do Fórum. Gilberto afirma Povos Indígenas das Américas. Os norte- Um dos grandes temas transversais
que o que mais lhe chamou a atenção foi a americanos também se fizeram presentes, ao longo do FSM foi o da democracia
caminhada de abertura. Foi um momento eram mais de mil socialistas anti-Bush. participativa. Este anseio e elaboração
de profunda comunhão de todos os partici- Sinal de que não devemos julgar com parecem fazer parte tanto do processo de
pantes. “Senti a sede do povo”, disse ele, severidade este povo, mas sim, os seus cidadania das pessoas mais pobres como
“e o grito pela justiça, paz e liberdade que governantes. também da crise das políticas neoliberais
cada movimento trazia. Esta experiência O governo venezuelano deu apoio total implantadas na América Latina pela força
me revelava a utopia de um mundo mais ao evento. Podemos citar a liberação do ideológica norte-americana. A democracia
humano, que não morreu no coração do metrô para os participantes, que circularam participativa está irrompendo bravamente
povo”. Gilberto participou também das de graça com muito conforto, a isenção da em nossos países. Esta parece uma te-
Conferências dos Povos Indígenas. Na taxa aeroportuária e o lanche, gentilmente mática importante a ser refletida em um
primeira, liderada pelo povo Macuxi, escu- servido pelos voluntários todas as tardes ano eleitoral no Brasil. Na América Latina e
tou a história de suas lutas por justiça, por nos locais de maior concentração. no mundo, a partir do processo do Fórum
terra, autonomia e paz. Todo este processo Para os missionários que participaram Social Mundial e de uma nova conjun-
teve seu ápice na homologação da área no FSM, este evento foi um sinal de Boa tura política em vários países, estamos
indígena Raposa Serra do Sol. A segunda Nova. Nossa missão hoje mais do que iniciando um momento totalmente novo.
foi organizada pelos povos indígenas da nunca é levar a Boa Nova aos pobres, é Nossa responsabilidade como cidadãos
Guatemala, e também trouxe relatos de alimentar a esperança do povo. O FSM e cristãos é imensa e precisamos saber

28 Março 2006 -
bre
Os missionários e missionárias são cada vez mais solicitados a
se unir aos movimentos sociais para contribuir com as mudanças
urgentes e necessárias na sociedade.

sível”
aproveitar bem este momento de graça.
Politicamente isto significa reivindicar para
que decisões importantes para o bem-estar
social sejam submetidas à consulta ou
referendo popular.
No contexto deste ano eleitoral, a tarefa
central parece exigir posições de poder
a nível político – vereadores, prefeitos,
deputados estaduais e federais, sena-
dores e governadores – apostando em
uma mudança no comportamento eleitoral
das classes populares, em eleger quem
de fato represente seus anseios e tenha
um passado histórico em suas lutas. Um
segundo aspecto deste processo é uma
pressão popular efetiva de seus repre- Presidente Hugo Chaves marca presença no FSM.
sentantes, acompanhada por um amplo
e permanente processo de educação Será lançada a “Campanha Global pela de Evo Morales na Bolívia e a de Michelle
política, visando o amadurecimento da Reforma Agrária Integral”, isto é, uma Bachelet no Chile e a que se podem juntar,
consciência para poder fazer frente ao reforma que mude a estrutura fundiária, em futuro próximo, a reeleição de Lula no
Estado quando este agir em detrimento desconcentrando-a, que seja feita de Brasil e a eleição de López Obrador no
dos interesses da população. forma rápida e massiva, que respeite o México. Esta “onda” suscita um conjunto
Essa é a principal garantia da revolução meio ambiente, a vida das comunidades novo de questões sobre as estratégias dos
em qualquer parte do mundo. Se a nossa tradicionais e que tenha os camponeses movimentos sociais e, em especial, sobre
percepção está correta, caberá à história como protagonistas. No FSM, quem es- as articulações destes com os governos
confirmar ou desmentir. O que trouxemos tava com um boné ou uma camiseta do e os partidos progressistas.
em nossa bagagem de volta foi a esperança MST era logo cumprimentado e elogiado. O processo de democracia socialista
de dias melhores para todos e a luta pela Foi animador observar como tanta gente que vai atravessando os nossos povos
afirmação de um povo soberano e solidário pelo mundo afora conhece, respeita e e os governos de Cuba, Venezuela e
com toda a América Latina. admira o MST e quer ser solidário com Bolívia, exigem de nós apoio e reflexão.
uma luta que conquistou o respeito pela Estes são povos que estão em processo
União dos povos europeus seriedade e compromisso. Aumenta o de libertação, lutam com destemor contra
e latino-americanos nosso compromisso com esse movimento o imperialismo e a opressão capitalista
Na diversidade de movimentos, grupos social que há tanto luta pela reforma neoliberal. Estes países com suas his-
e pessoas sente-se que cresce a união agrária integral, nos moldes propostos tórias são estrelas de uma nova prática
européia e latino-americana na luta contra a pela Constituição de 1988. socialista que precisa ser construída. Não
hegemonia dos EUA. Em 1976 iniciaram-se é possível olhar com indiferença para
as primeiras cooperações entre europeus Um outro mundo socialista esta oportunidade, este é um tempo de
e latino-americanos a partir de redes de Na experiência vivida ao longo dos dias resgatar e alimentar as utopias.
solidariedade internacional. Em 1991 foi de realização do Fórum Social Mundial O que foi possível sentir é que está em
criado o Mercosul. A União Européia tem conhecemos pessoas verdadeiramente curso uma integração política, econômica,
milhões de investimentos em cooperação lutadoras a favor da liberdade que, como social e cultural dos povos latino-ame-
com a América Latina, mas é uma coo- sementes do girassol, vão soltando ao ricanos, desde a base, com respeito à
peração ambígua. Os povos pobres do vento a esperança de “um outro mundo autodeterminação de cada povo. A cada
mundo inteiro devem estar atentos também possível”, necessário e urgente. Esse Fórum aumenta o número de pessoas
para que os recursos aplicados não sejam novo mundo, portanto, já está sendo e entidades participantes. Afirma-se a
apenas uma estratégia imperialista para construído. convicção de que “um outro mundo pos-
camuflar as mazelas sociais causadas O contexto atual dos países latino-ame- sível” terá de ser socialista. Capitalista e
pela exploração capitalista. ricanos levaram o FSM a múltiplos debates imperialista, jamais! 
Entre os dias 7 e 10 de março de 2006 sobre a “onda” de governos democráticos
vai acontecer em Porto Alegre, a II Con- de esquerda que perpassa o continente, as Ricardo Castro é sacerdote e professor
ferência da FAO sobre Reforma Agrária. manifestações mais recentes são a eleição doutor em Teologia Dogmática.

- Março 2006 29
Brasília naldesi. Mas, a partir deste ano, a equipe nacional
Curso de Educadores Populares será ampliada e remanejada. Padre Edson Assunção
O Centro Cultural de Brasília promove um curso Santos Ribeiro, do clero diocesano de Niterói, RJ,
de formação para lideranças. Trata-se do Curso está assumindo como secretário nacional da Infância
de Educadores Populares, que será realizado em e Adolescência Missionária e da Juventude Missio-
quatro módulos: de 24 a 26 de março; de 26 a 28 de nária (ramo juvenil da Obra da Propagação da Fé).
maio; de 4 a 6 de agosto e de 17 a 19 de novembro. Padre Vitor Agnaldo de Menezes, do clero diocesano
Os objetivos são: aprofundar a prática em vista da de Jequié, BA, assume como secretário nacional da
transformação de processos sociais e orientar para Obra da Propagação da Fé e da Obra de São Pedro
a sistematização e planejamento das práticas. Des- Apóstolo; padre Sávio Corinaldesi, missionário xave-
tina-se à lideranças das comunidades, pastorais e riano, como secretário nacional da Pontifícia União
movimentos sociais que tenham como prioridade a Missionária, continuando a assessorar, com o padre
discussão das questões políticas e sociais do país. As Elmo Heck, diocesano de Curitiba, PR, na produção
inscrições vão até 10 de março. Informações: www. de subsídios e na formação.
ccbnet.org.br E-mail: ibrades@ccbnet.org.br ou pelos
telefones: (61) 3426-0413/3426-0414. Porto Alegre
Tratamento a portadores de HIV nas
Prêmio Dom Hélder Câmara 2006 igrejas
O Prêmio Dom Hélder Câmara de Imprensa é ofe- A 9ª Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas reali-
VOLTA AO BRASIL

recido pela CNBB a pessoas ou instituições da área zada em Porto Alegre de 14 a 23 de fevereiro, debateu
de comunicação comprometidas com a promoção da o tema dos portadores do vírus HIV. O reverendo Jape
cidadania e da paz. Está vinculado ao tema do Dia Halth, secretário geral da ANERELA, uma rede integrada
Mundial das Comunicações, promovido pelo Pontifício por religiosos e pessoas que vivem e são afetadas por
Conselho para as Comunicações Sociais, que em essa epidemia na África do Sul, disse “estamos aqui
2006 é “os mídia: rede de comunicação, comunhão e para dizer ao Conselho Mundial de Igrejas que deve
cooperação”. A mensagem do papa para o Dia Mundial fazer mais pelas pessoas que vivem com o vírus da
das Comunicações foi publicada no dia 24 de janeiro, Imunodeficiência Humana (HIV) e para pedir a mudança
festividade de São Francisco de Sales, padroeiro dos de atitude das igrejas em relação às pessoas porta-
jornalistas. Encontra-se, na íntegra na página www. doras”. O religioso anglicano disse sofrer julgamentos
cnbb.org.br (Encarte CNBB, nº 806, 26/01/2006). negativos por ser portador do vírus do HIV, mesmo
Serão premiadas pessoas ou instituições que tenham vivendo em uma comunidade em que se diz que Deus
publicado texto de gênero jornalístico conforme este é o único que deve julgar. Quando descobriu o HIV,
tema, em duas categorias: grande imprensa e im- Halth imaginou que morreria em poucos meses, mas
prensa católica. A entrega dos troféus será feita no vive há seis anos com a doença. Segundo estatísticas
dia 11 de maio de 2006, durante a 44ª Assembléia das Nações Unidas, 42 milhões vivem com o HIV no
Geral da CNBB, em Itaici, Indaiatuba, SP. Na mesma mundo, 26 milhões só na África.
ocasião serão entregues os Prêmios Margarida de
Prata (cinema e vídeos), Microfone de Prata (rádio) Subsídios do 15º Congresso Eucarístico
e Clara de Assis (televisão). O prazo de entrega de A Comissão Central, através da Comissão Teoló-
matérias é dia 3 de abril de 2006. Mais informações gica, e as Edições Paulinas estão apresentando os
pelo telefone (61)2103-8313, fax: (61)2103-8338 ou Subsídios Teológicos do 15º Congresso Eucarístico
e-mail: imprensa@cnbb.org.br Nacional, a realizar-se em Florianópolis de 18 a 21
de maio de 2006. No primeiro subsídio, dom Murilo
Novos secretários das POM do Brasil Krieger, scj, arcebispo de Florianópolis, apresenta
As Pontifícias Obras Missionárias dedicam-se a o texto “O Coração de Jesus e a Eucaristia”. Padre
criar um espírito missionário universal e a fomentar a Vitor Galdino Feller, professor do Instituto Teológico
comunhão e a colaboração entre as de Santa Catarina, escreve sobre a “Eucaristia e a
Igrejas, em quatro ramos específi- Ministerialidade da Igreja”. Dom Vito Schlickmann,
cos: Pontifícia Obra da Propagação bispo emérito de Florianópolis, trabalha com o tema
da Fé, Pontifícia Obra da Infância “Eucaristia e Comunhão Eclesial” no segundo sub-
Missionária, Pontifícia Obra de São sídio teológico. O secretário-geral do evento, padre
Pedro Apóstolo e Pontifícia União Vilmar Adelino Vicente, também professor do Instituto
Missionária. Em âmbito universal, Teológico de Santa Catarina, aprofunda o tema “Ele
são dirigidas pelo presidente com seus secretá- está no meio de nós”. O terceiro subsídio apresenta
rios-gerais, dependentes da Congregação para a duas importantes dimensões: a catequese eucarística
Evangelização dos Povos (Roma), que tem à frente e a relação teológico-espiritual da Virgem Maria com
o prefeito cardeal Crescenzio Sepe. Em cada país, a a Eucaristia. Ir. Israel José Nery, fsc trabalha o tema
mesma estrutura se mantém, com o diretor nacional “Eucaristia e Catequese” onde aborda alguns aspec-
e, dentro do possível, um secretário nacional para tos e conseqüências, para os fiéis e para a Igreja, da
cada Obra. Padre Daniel Lagni é o renovada catequese sobre a Sagrada Eucaristia. Os
Diretor Nacional das POM do Brasil. subsídios podem ser adquiridos em diversas livrarias
Para as Obras só existia o secretário católicas ou diretamente nas Edições Paulinas. 
nacional da Infância e Adolescência
Missionária, desempenhado, até o
momento, pelo padre Sávio Cori- Fontes: Adital, CEN, CNBB e POM.
30 Março 2006 -
Campanha de Reconstrução
Missão Surumu, Roraima
A Diocese de Roraima continua com a Campanha de solidariedade e recons-
trução da Missão Surumu que foi invadida, saqueada e queimada na madrugada
de 17 de setembro de 2005.
O custo estimativo para a reconstrução da Missão Surumu é de R$ 708.700,00.
No mês de fevereiro de 2006, as obras mais urgentes começaram: alojamento
masculino, cozinha e refeitório. Para esta primeira fase serão necessários R$
240.000,00. Até o momento a Campanha arrecadou apenas 60% desse valor.
Agradecemos a colaboração de todos os que já contribuíram. A Missão de Surumu
continua precisando urgentemente da generosidade dos amigos e simpatizantes
da causa indígena.
Diante da destruição, as comunidades indígenas não ficaram só esperando a
ajuda de fora. Elas enviaram homens para acompanhar e dar segurança à escola
e aos alunos, enquanto ergueram construções tradicionais indígenas em volta da
Missão para abrigar algumas famílias e reforçar a segurança da área, entrada da
área indígena Raposa Serra do Sol. O ritmo das aulas nunca foi interrompido e o
novo curso começou no dia 1º de fevereiro com a Assembléia dos Tuxauas em
Maturuca. Para o primeiro ano as comunidades enviaram mais de 30 alunos (a
média por ano era de 15). O aumento no número de alunos indica a importância
que a escola tem na vida do povo, que este ano passa a ser gerenciada pelos
próprios indígenas e acompanhada pelos missionários.

“Queimaram as paredes,
mas não destruíram o sonho!”
ENTREGUE SUA DOAÇÃO:
No Estado de Roraima:
Catedral Cristo Redentor – praça do centro cívico
Igreja São João Batista – Av 16 – Bairro Caranã
Igreja São Francisco – na rotatória da Av. Capitão Julio Bezerra
Igreja Consolata – Av. Villy Roy, próxima a rodoviária
Na secretaria da Diaconia Missionária – Rua Arnaldo Nogueira

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02 a 09 assinaturas R$ 35,00 cada assinatura Nos meses de Jan/Fev e Jul/Ago a edição é
10 ou mais assinaturas R$ 30,00 cada assinatura bimensal.

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