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Amazônia
do Regional Norte I foi
realizado em Manaus, AM.
E
sta edição destaca uma variedade de temas e desafios que
por si só revelam a riqueza da missão no plural. Para estudo
e formação, propomos o núcleo central do Documento de
Aparecida: o discipulado missionário. Um convite para voltar
às fontes. De fato, os Evangelhos nos apresentam Jesus
a caminho de Jerusalém, passando por aldeias, povoados, cidades 1 - Dom Gilio Felicio, bispo de Bagé,
e praias, encontrando-se com pessoas e provocando seguimento RS, celebração com as etnias,
ou rejeição. Para os que decidem segui-lo, o estar com Ele gera I Fórum da Igreja Católica no RS.
Foto: Jaime C. Patias
o discipulado que se prolonga no envio em missão. Os discípulos
missionários devem assumir a ação libertadora do Mestre no mun- 2 - Marçal de Souza.
do, para consolidar o Reino de Deus. Os que desejavam ver um Foto: Paulo Suess/CIMI
Jesus Rei deste mundo são surpreendidos por um Jesus que se
encontra com os pobres, os doentes, os possessos, os pecadores,
os excluídos... Para nos recordar disso, a pastoral carcerária--------------------------------04
Jaime C. Patias
- Novembro 2007 3
Descobr
Divulgação
em cada pe
Ano XXXIV - Nº 09 Novembro 2007
A
Carlos Emer, Dirceu Benincá, Ricardo
Castro cidade de Roma, entre 5 e mundo para as nove milhões de pessoas
12 de setembro, foi sede de presas” e enfrentar graves desafios como
Agências: Adital, Adista, CIMI, um importante encontro inter- “o recurso à pena de morte”, o "uso da
CNBB, Dom Hélder, IPS, MISNA, nacional da Igreja Católica. tortura” e as “condições desumanas de
Pulsar, Vaticano Sob o tema “Descobre o ros- grande número das instituições penais”.
to de Cristo em cada pessoa
Diagramação e Arte: Cleber P. Pires encarcerada”, cerca de 250 delegados Abolição da pena de morte
enviados pelas Conferências Episcopais Os congressistas denunciaram que
Jornalista responsável: de 62 países, entre bispos, presbíteros, “o sistema de justiça criminal vigente tem
Maria Emerenciana Raia (MTB 17532) religiosas, religiosos e leigos se reuniram fracassado em muitos países na satisfação
na Casa Lassale, para o XII Congresso das necessidades da infância em conflito
Administração: Eugênio Butti Mundial da Pastoral Carcerária. O cardeal com a lei, assim como em relação os grupos
Nasrallah Pierre Sfeir, do Líbano, patriarca de população especialmente vulneráveis
Sociedade responsável: de Antioquia, participou do evento e discur- como as pessoas com enfermidades men-
Instituto Missões Consolata sou sobre o tema. Durante o Congresso, tais, os tóxico-dependentes, imigrantes e
(CNPJ 60.915.477/0001-29) os participantes tiveram a oportunidade idosos”. A maioria dos presentes mencio-
de realizar uma visita a um presídio na nou as cadeias superlotadas e os abusos
Impressão: Edições Loyola cidade de Roma. praticados contra os encarcerados como
Fone: (11) 6914.1922 O grupo foi recebido pelo papa Bento um dos grandes problemas. “Exigimos a
XVI em audiência privada em Castelgan- abolição da pena de morte, de toda tortura
Colaboração anual: R$ 40,00 dolfo no dia 6. O papa condenou veemen- e a observância das regras e Normas das
BRADESCO - AG: 545-2 CC: 38163-2 temente o uso da tortura e afirmou que Nações Unidas na esfera da prevenção
Instituto Missões Consolata o ministério prisional requer “paciência e do delito e da justiça penal”, afirmou de
(a publicação anual de Missões é de 10 números) perseverança”; muitas vezes é acompa- forma categórica a declaração final do
nhado de “desilusão e frustração”, mas é Congresso. O cardeal Renato Martino,
uma missão vital. Os presos, disse ele, presidente do Conselho Pontifício "Justiça
Missões é produzida pelos
“podem ser tomados por sentimentos e Paz", falou sobre a “Pastoral Carcerária
Missionários e Missionárias da Consolata
de vergonha e rejeição que ameaçam a e a Missão da Igreja” na manhã do dia 7.
Fone: (11) 6256.7599 - São Paulo/SP
esperança e a aspiração de futuro”. “A Nesse mesmo dia, ele lançou um apelo
(11) 6231.0500 - São Paulo/SP
instituição judiciária e penal – sublinhou em favor de Joseph Lave, de 42 anos, um
(95) 3224.4109 - Boa Vista/RR
– deve ajudar quem errou o caminho condenado à morte no Texas, EUA.
a buscar sua reabilitação, e facilitar a
Membro da PREMLA (Federação de Imprensa transição do desespero à esperança”. O Dados da América Latina
Missionária Latino-Americana) e da UCBC papa salientou com força que “a prática da Na América Latina a problemática de
(União Cristã Brasileira de Comunicação Social) tortura não pode ser aceita em nenhuma exclusão social e a concentração de bens
circunstância”. nas mãos de poucos é a principal causa
Redação O austríaco Christian Kuhn, presidente
reeleito da Comissão Internacional da
dos delitos. Alguns dados apresentados
em relatório feito pela Argentina servem
Rua Dom Domingos de Silos, 110
02526-030 - São Paulo Pastoral Carcerária Católica, da qual são de parâmetro para o que acontece em
Fone/Fax: (11) 6256.8820 membros cerca de 100 países, fez uma outros países do continente. A Argentina,
Site: www.revistamissoes.org.br saudação ao papa em nome de todos. por exemplo, conta em suas cadeias
E-mail: redacao@revistamissoes.org.br Durante sua fala, salientou que os con- formais com 67.000 pessoas presas, das
gressistas desejam “chamar a atenção do quais 65% com sentença provisória. A
4 Novembro 2007 -
re o rosto de Cristo
essoa encarcerada
- Novembro 2007 5
Inculturação
OPINIÃO
A
É muito importante despojar-se dos prejuízos e dos precon-
inculturação é uma ferramenta básica e indispensável ceitos. Na minha terra existe um provérbio que diz: “ninguém
para a Missão. Consiste em um longo processo de cozinha melhor que minha mãe”. Se quisermos entrar no espaço
aproximação entre as culturas, em suas mais variadas dos outros (povos e culturas), nós temos que romper esses es-
formas de vida, costumes, crenças, práticas religiosas, quemas para aprender a partilhar, inclusive a cozinha dos povos
idiomas e culinária. Por meio da inculturação fazemos a quem somos enviados. Isso custa e causa dor, mas, é também
compreensível e visível o Evangelho para os povos muito enriquecedor. O missionário torna-se um pouco como uma
onde somos enviados. criança e vai aprendendo com os próprios erros. Por exemplo:
A dificuldade de todo esse processo está no fato de chegar na aprendizagem da língua, as pessoas, quando se sentem
à outra cultura carregados com nossa história, nosso mundo, livres e não são atemorizadas pela autoridade do missionário,
nossa forma de ver as coisas e encontrar outro mundo com corrigem com alegria os erros que fazemos, tornando-se uma
toda sua complexidade e sistema de vida, com aspectos tão grande ajuda para tudo.
variados e complicados como a economia, a política e as ine- A inculturação não se realiza em poucos dias; leva tempo
vitáveis ideologias. e depende também da metodologia, dos avanços e dos limites
Interpretando minha experiência como queniano na Venezuela, do próprio missionário, das condições históricas e sociais. Não
depois de oito anos de vida e trabalho no país, posso dizer que chegaremos nunca a uma inculturação total e completa, porque
a inculturação exige, como primeiro passo, um grande esforço cada um de nós leva sempre consigo sua herança cultural, a qual
para conhecer em profundidade a cultura do outro. A inserção não se pode deixar de lado. Simplesmente, trata-se de avançar
é o meio privilegiado para chegar a adquirir este conhecimento cada dia um pouco mais para nos aproximarmos, de forma me-
básico para a evangelização. É preciso inserir-se como hóspede, tódica das pessoas e das culturas às quais somos enviados. Não
importa o esforço que eu faça, como
queniano, nunca chegarei a ser um afro-
Jaime C. Patias
6 Novembro 2007 -
Criados para viver
pró-vocações
A vida é como uma ponte:
atravesse-a, sem nela fixar morada.
E
que um dia, alguém lhe disse que ali morava um sábio; e que cer-
m novembro comemoramos o “Dia de Finados”. A morte tamente, ele poderia ajudá-lo. Apresentando-se ao sábio, o jovem
é sempre uma realidade que nos entristece e faz sofrer. lhe expôs o motivo da visita. O sábio colocou em suas mãos uma
Por isso, resistimos a pensar nela. Quando as circuns- pequena colher com algumas gotas de óleo e lhe disse: “Dê umas
tâncias nos colocam frente a frente com a morte, ao levar voltas pela minha casa e pelo meu jardim; depois de duas horas
do nosso convívio entes queridos, ainda assim tentamos volte aqui. Só lhe peço uma coisa: cuide bem para não derramar
nos convencer que ela só bate à porta do vizinho. Bem o óleo”. Depois de duas horas o jovem estava de volta. O sábio
no fundo, porém, sabemos que, queiramos ou não, não poderemos perguntou: “Você apreciou os tapetes da minha sala de jantar?
escapar do primeiro e do último capítulo da existência, porque Gostou das flores do jardim?” O jovem, envergonhado, disse não
esta é uma lei da natureza humana. A rejeição que sentimos pela ter visto nada daquilo, pois sua única preocupação foi a de não
derramar o óleo. E o sábio: “Meu jovem! Volte agora, e observe o
mundo com tudo o que ele tem de maravilhoso; depois retorne”. E
Quer ser um missionário/a? o jovem assim fez. Ao voltar, contou minuciosamente tudo o que
vira. O sábio porém, não tirava os olhos da colher. No final disse
Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva Moratelli seriamente:“E as gotinhas de óleo que eu tanto lhe recomendei,
Av. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui onde estão?” O jovem ficou muito desapontado. O sábio continuou:
02611-001 - São Paulo - SP “Mas, já que você quer mesmo viver bem a sua vida, dou-lhe este
Tel. (11) 6231-0500 - E-mail: rebra@uol.com.br conselho: aceita com gratidão a vida que lhe foi dada, sem ficar
olhando a dos outros; e se esforce o máximo, para endireitar tudo
Centro Missionário “José Allamano” - Pe. José Tolfo o que nela estiver torto. Isto lhe causará algum sofrimento; mas
Rua Itá, 381 - Pedra Branca
02636-030 - São Paulo - SP nada comparável à serenidade e alegria que você experimentará
Tel. (11) 6232-2383 - E-mail: secretariamissao@imconsolata.org.br na hora em que lhe será pedida conta dela. A vida é como uma
ponte; atravesse-a sem nela fixar morada”.
Missionários da Consolata - Pe. César Avellaneda Você também está buscando o essencial? Leia a Carta de
Rua da Igreja, 70-A - CXP 3253 Paulo aos Filipenses 3, 8-16.
69072-970 - Manaus - AM
Tel. (92) 624-3044 - E-mail: amimc@ibest.com.br Rosa Clara Franzoi, MC, é animadora vocacional.
- Novembro 2007 7
e "Qual deve ser o perfil do Missionário Leigo hoje",
o grupo comprometeu-se a trabalhar pela promoção,
animação, formação e acompanhamento da vocação
missionária Fidei Donum para leigos e sacerdotes, em
âmbito nacional e de Cone Sul.
Estados Unidos
Nobel da Paz e Ecologia
O comitê do Nobel premiou o maior rival político
do presidente americano, George W. Bush, e o painel
de cientistas que ele achou que tinha sob seu controle
- Rajendra Pachauri, presidente do IPCC (Intergovern-
mental Panel on Climate Change). Em 2002, um ano
após rejeitar o protocolo de Kyoto, Bush lançou uma
grande ofensiva contra o IPCC. O painel era então
presidido por Robert Watson, conhecido por sua defesa
estridente do corte imediato e profundo das emissões
Roma de gases de efeito estufa. Watson era indicado político
Presidência da CNBB visita o Papa da administração Clinton-Gore e uma pedra no sapato
VOLTA AO MUNDO
O papa Bento XVI recebeu, em audiência, no dia dos republicanos e das empresas de petróleo que os
8 de outubro, a presidência da CNBB, dom Geraldo apoiavam. Naquele ano, quando o IPCC realizaria
Lyrio Rocha (presidente); dom Luiz Soares Vieira (vice- eleições, um memorando da Exxon à Casa Branca
presidente) e dom Dimas Lara Barbosa (secretário- perguntava: "Será que Watson pode ser substituído
geral). Dom Dimas avaliou o encontro como “muito agora, a pedido dos EUA?" Pedido atendido. E os EUA
bom”. Segundo disse, Bento XVI lembrou “com cari- passaram a fazer campanha para que Pachauri fosse
nho” sua visita ao Brasil. “O papa é muito acolhedor escolhido para a presidência do painel. O lobby tinha o
e nos deixou à vontade para falar-lhe sobre a Igreja claro objetivo de enfraquecer o órgão. Relativamente
no Brasil. Lembrou com carinho vários momentos de desconhecido, Pachauri trabalhava para a indústria
sua visita ao nosso país, particularmente o encontro do carvão mineral na Índia, o ramo da economia que
com os jovens no Pacaembu, a visita à Fazenda da mais polui. A expectativa de Washington era que o
Esperança e o encontro com os bispos na Catedral da economista indiano permanecesse fiel às suas origens
Sé”, conta dom Dimas. A presidência da CNBB, por e silenciasse o IPCC. Uma vez na liderança do painel,
sua vez, agradeceu ao Santo Padre sua viagem ao no entanto, Pachauri se viu cercado pelas evidências.
Brasil e sua participação na abertura da V Conferência E teve de se render a elas. Estudo após estudo, de-
do Episcopado Latino-Americano e Caribenho. “Ex- sastre natural após desastre natural, o quadro que se
pressamos nosso agradecimento por sua mensagem configurava era o de que o aquecimento global era
inspiradora, particularmente seu discurso de abertura à real e causado, sobretudo, pela queima de combus-
V Conferência, que foi fundamental para o andamento tíveis fósseis por seres humanos. Essas conclusões
dos trabalhos”, lembra o secretário-geral. teriam de ficar bem explícitas no Quarto Relatório de
Avaliação do Conhecimento sobre a Mudança Global
Argentina do Clima, cuja produção o indiano liderou com retidão
Encontro de Missionários Leigos e transparência. E ficaram.
Com vistas a tratar do "acompanhamento, formação
e envio de missionários leigos para servir à Missão Serra Leoa
universal", e como fruto de três Encontros Continentais Cristãos e muçulmanos
dos Leigos Missionários, realizou-se de 27 a 30 de se- “Cristãos e muçulmanos dividem uma história de
tembro, em Buenos Aires, o 2° Encontro de Missionários bem, mas também de dolorosas memórias. O diálogo
Leigos dos Países do Cone Sul, sob o tema Vocação, cristão-muçulmano é o único modo para recordar juntos
Formação e Envio dos Missionários Leigos Ad Gentes”. os períodos nos quais as comunidades viviam em paz,
Representando os cinco países da região – Brasil, Uru- mas oferece também espaços para ouvir histórias e
guai, Paraguai, Argentina e Chile –, estavam presentes experiências dolorosas, de controvérsias e dissidências
alguns leigos e os Diretores Nacionais das Pontifícias que condicionam o presente”, afirmaram os bispos da
Obras Missionárias. Os objetivos específicos do encontro Associação das Conferências Episcopais dos Países
foram: conhecer a realidade da promoção e formação Anglófonos da África Ocidental (AECAWA): Gana,
missionária Ad Gentes dos leigos; definir linhas para a Libéria, Serra Leoa, Gâmbia e Nigéria, em um comu-
promoção, acompanhamento e formação do missionário nicado divulgado no final da 11° Assembléia Plenária
Ad Gentes; preparar o envio de missionários leigos Ad da Associação, que se realizou em Freetown, em
Gentes latino-americanos durante o CAM 3–Comla 8. Serra Leoa entre os dias 8 e 13 de outubro de 2007,
Sentiu-se a necessidade de resgatar a vocação mis- com o tema "A Igreja e a colaboração entre cristãos e
sionária Fidei Donum para os leigos, à luz dos 50 anos islâmicos na África Ocidental". “Queremos aprofundar
da publicação da encíclica de Pio XII. Orientados pelas o nosso diálogo para que possamos ir ao coração da
reflexões "O que significa ser Discípulo e Missionário questão: a promoção da paz na nossa região da África
de Jesus Cristo para um Leigo Missionário Ad Gentes, ocidental", afirma o documento.
à luz da Sagrada Escritura, do Magistério Conciliar e
Pontifício e, especialmente, da Igreja Latino-Americana" Fontes: CNBB, Fides, Notícias do Planalto, POM.
8 Novembro 2007 -
INTENÇÃO MISSIONÁRIA
"A fim de que na Península Coreana aumente o passar dos anos, a dor da separação vai aumentando. Bastariam
poucas horas para percorrer os quilômetros que os separam,
espírito de reconciliação e de paz”. mas por enquanto isso é impossível. Porém, no ano 2000 surgiu
uma esperança: os governos das duas Coréias reuniram-se
pela primeira vez após a separação e um dos resultados foram
os encontros entre as famílias separadas. Desde então ocorre-
ram encontros esporádicos entre familiares, tendo sido dada a
prioridade aos de maior idade. Alguns encontros foram feitos no
Sul, outros no Norte e outros por videoconferência. O governo
da Coréia do Sul tem feito esforços para que estes encontros
sejam regulares devido a idade avançada de muitas pessoas.
Este é um autêntico drama!
A Coréia era originalmente um único país, mas após a guerra
entre os anos 1950-53, a relação entre as duas facções ficou
caracterizada por um armistício de paz. Isso significa que, tecnica-
mente, as duas nações permanecem em estado de guerra, dado
que ainda não assinaram nenhum acordo de paz. Os mais idosos
são os que rezam e anseiam pela reunificação dos dois países,
mas apesar dos esforços feitos a nível diplomático, a previsão
é de que isso vai custar muito a chegar. A esperança é de que
a reunificação um dia aconteça. Basta olhar para a Alemanha,
país que esteve também dividido em dois por muitos anos. E a
Igreja Católica na Coréia do Sul associa-se, naturalmente, a esta
Crianças sul-coreanas. esperança que o povo coreano carrega no coração, organizando
iniciativas de ajuda, sobretudo econômica, aos irmãos e irmãs do
Texto e foto de Álvaro Pacheco Norte, bem como participando em iniciativas várias de reflexão
e promoção da reunificação, entre outras.
I
Somos então convidados, durante este mês, a colocar esta
magine que você vive em São Paulo e que no Rio de nação dividida no centro da nossa oração, partilhando a angústia
Janeiro estão alguns parentes seus: um irmão, seu pai e a esperança do povo. Peçamos a Deus que abençoe esta
ou mãe, um tio ou sobrinho... Imagine também que está terra tão sofrida e lhe conceda o dom da paz, do perdão e da
morrendo de saudades deles, pois faz 50 anos que não reconciliação, para que as crianças de hoje possam construir,
os vê! Como assim? Mas vivem tão perto! Inacreditável, num futuro próximo, uma só Coréia.
não é? Isso acontece na Coréia do Sul e na do Norte. Lá vivem
ainda milhares de pessoas separadas pelas fronteiras. E com o Álvaro Pacheco é missionário, diretor da revista Consolata na Coréia do Sul.
A
ASETT, Associação Ecumênica de Teólogos do Terceiro seu país e seja também a ocasião para começar uma relação
Mundo, torna pública sua solidariedade e apoio ao povo estreita de cooperação entre vocês e a Eatwot, tanto no campo
da Birmânia em sua justa reclamação por liberdade diante da espiritualidade comprometida com as grandes causas da
da penosa ditadura que vem suportando há décadas e humanidade, como no da reflexão teológica e no da busca
expressa seu desejo de que sua espiritualidade budista o sustente inter-religiosa da paz, da justiça e da qualidade espiritual de
nesta luta até a consecução de seu objetivo. Nosso apoio dirige-se toda a humanidade.
também aos monges budistas pelo serviço que estão prestando Assinam a declaração: Rohan Silva, presidente, Sri Lanka.
a seu povo ao encabeçar seu protesto e avalizar com sua credi- Emmanuel Marthym, vice-presidente, Ghana. Luiza E. Tomita,
bilidade monástica a vivência espiritual desta resistência contra a secretária-executiva, Brasil. Murniati Nunuk, coordenadora da
ditadura, em favor da liberdade e da democracia. Nos sentimos região asiática, Indonésia. Ramathate Dolamo, coordenador regio-
unidos a vocês nesta luta e convocamos todos os cidadãos do nal da África, South Africa. Maricel Mena, coordenadora regional
mundo a secundar os esforços de vocês para que a Birmânia da América Latina, Colômbia. José-Maria Vigil, coordenador da
consiga a tão desejada democracia e, com ela, a liberdade, a comissão teológica internacional, Panamá. Anthoniraj Thumma,
justiça, a transparência e a superação da pobreza. Asian coordenador da comissão teológica da Ásia, Índia. Jung
Desejamos que esta valente ação de vocês, monges budis- Ha Kim, coordenadora da comissão teológica de US-Eatwot’s
tas da Birmânia, seja o início de uma nova etapa na história de Groups e Marcelo Barros, monje católico beneditino, Brasil.
- Novembro 2007 9
Afro
espiritualidade
Espiritualidade
O
s povos que estão na origem
Jaime C. Patias
da sociedade brasileira trazem
as ancestrais heranças de pro-
fundas espiritualidades. Assim
acontece com os indígenas
que constituem a população
originária no continente, os afros que para
cá foram trazidos e segmentos populacio-
nais de diversas partes da Europa que
aqui aportaram em busca das ambições
provocadas pelo novo mundo. Embora as
práticas religiosas e espirituais trazidas por
esses diferentes povos tenham sido trata-
das de modos muito diferentes, entretanto,
permanece em todo o continente uma aura
de espiritualidade como característica
fundamental de nossa gente. A maneira
pela qual as pessoas vêem e sentem a
realidade é, sobretudo, com sentimento
religioso e espiritual.
Este verdadeiro patrimônio espiritual
que está enraizado em todo o continente
Representantes da Pastoral Afro no I Fórum da Igreja Católica no Rio Grande do Sul, PUC/RS, Porto Alegre.
e de maneira muito marcante em nossa
realidade brasileira tem muito a ver com Colônia. Bantu e nagô, cada um destes temente a espiritualidade é a linguagem,
as tradições africanas. Na Bahia, uma povos e culturas são marcados por um ou seja, o elemento de compreensão da
das principais localidades das tradições tipo de espiritualidade. Aliás, todo o povo realidade. Deus no seu ato criador o fez
afro no Brasil, tudo expressa sentimentos africano é profundamente religioso. através de uma mediação espiritual infun-
religiosos e espirituais: no vestir-se, nos dindo nas coisas criadas a força do seu
alimentos, nas atitudes e, sobretudo no Os nagôs e a espiritualidade Axé. Por isso mesmo, tudo o que existe
falar. Diante das mais desafiadoras dificul- Assim como o povo da Bíblia tinha no mundo animal, vegetal e mineral está
dades, inclusive da árdua luta pela vida, vários nomes atribuídos a Deus (Adonai, carregado do Axé de Deus.
o povo baiano não se dá por vencido e Goel, Javé), os nagôs também utilizavam O Axé é fundamentalmente a energia
diz: “Deus é mais!” diversos nomes para se referir a Deus. vital, o sopro de Deus. Para senti-lo e
A espiritualidade afro-brasileira tem Um dos termos bastante freqüentes para enriquecer-se com sua energia é preciso
duas grandes influências: as heranças designar a divindade suprema é Olorum uma atitude eminentemente espiritual
africanas e as tradições do catolicismo po- que quer dizer “Senhor do céu e da terra”, colocando-se em sintonia com Deus,
pular. A primeira foi trazida pelos africanos portanto, Senhor de tudo. Para os nagôs mormente através dos Orixás. O Axé está
bantus e nagôs; enquanto que a segunda tudo o que existe é sagrado porque tudo presente em tudo: nas plantas, nas águas
foi vivenciada aqui entre nós desde a foi criado por Deus (Olorum). Conseqüen- e até nas pedras. Entretanto, como não
10 Novembro 2007 -
Ana Cristina
poderia ser diferente, onde o Axé está abun-
dantemente presente é no ser humano,
sobretudo na mulher. Ela é por excelência
o receptáculo do Axé de Deus.
A vivência espiritual de cada pessoa
passa pela mediação do seu Orixá, ou
dos Orixás. Toda pessoa tem um Orixá
que zela por ela. A vida espiritual mediada
pelos Orixás é um fator de equilíbrio para
as pessoas. Zelar pela vida espiritual,
portanto, é cuidar do próprio equilíbrio.
Não há equilíbrio sem espiritualidade. A
origem de todo o mal está no desequilíbrio.
A mediação espiritual dos Orixás possibilita
o re-equilíbrio das ações desordenadas.
Espiritualidade e vida para os nagôs
constituem uma unidade inseparável. Não
há qualquer possibilidade de um procedi-
Padre Toninho preside celebração Afro.
mento dualista que separe corpo e alma.
Por isso mesmo a espiritualidade é um dado gerações atuais percebam que a história indefesos e marginalizados”, e reafirma que
efetivo e afetivo. Ela mostra a afeição de lhes é anterior e será também posterior. “conhecer os valores culturais, a história e
Deus para com as suas criaturas e, por Cada geração não é começo nem fim é um as tradições dos afro-americanos, entrar
outro lado, comunica-lhes a sua energia elo, e isso se dá não de maneira isolada, em diálogo fraterno e respeitoso com
vital (Axé). A vida conduzida pela vivência mas comunitariamente. eles, é um passo importante na missão
espiritual possibilita o equilíbrio aqui nesta Na concepção espiritual bantu, vida e evangelizadora da Igreja” (DA, 532).
terra e, após a morte, o convívio eterno morte são igualmente importantes. Viver A espiritualidade afro vivida nos am-
junto a Olorum (Deus). com dignidade, morrer com dignidade. bientes populares ou em outras instâncias,
O que assegura o viver com dignidade é tem como referência não só os elementos
Espiritualidade bantu a vivência comunitária, que não suprime das tradições culturais, mas, inclusive a
A cultura bantu é bastante difusa, como o valor do indivíduo descambando em história de sofrimento e de luta da co-
também a sua religiosidade e espirituali- coletivismo, mas o qualifica como ser munidade negra que vai da escravidão
dade. Entretanto é importante assinalar de relações. A vivência comunitária é o à libertação e na incessante busca atual
algumas de suas características. O ponto salvo-conduto para a vida eterna e para por participação e igualdade. O centro da
de partida é sempre a compreensão de a condição de ancestro. Portanto, a morte espiritualidade afro é o Cristo ressuscita-
Deus. Assim como para os nagôs, também é vista com pesar, sem dúvida, porém, do. Não por acaso os grandes centros de
para os bantus, Deus é o Ser Supremo. com muito respeito porque ela é acima manifestação da religiosidade e espirituali-
Chamado de Zambi ou Zambe, Ele é o de tudo o grande trânsito espiritual. Por dade afro são dedicados a Cristo debaixo
criador e condutor de todas as coisas. isso, inclusive, o devido respeito e até de vários nomes, como por exemplo:
Zambi no seu ato criador, primeiro criou veneração para com o morto, depositando Bonfim, na Bahia; Matozinho, em Minas;
o coletivo: Mãe, Pai e Filhos, ou seja, cuidadosamente o seu corpo na terra, Senhor dos Milagres, em Lima, Peru, e
criou a família. Portanto, pelo ato criador porém, com a certeza de que pela sua outros. Portanto, é uma espiritualidade
de Deus o coletivo adquire a centralidade vivência comunitária ele está junto de eminentemente cristológica.
na função ética e conseqüentemente no Zambi, na sua glória eterna. A devoção mariana tem lugar es-
procedimento espiritual. A espiritualidade pecial na espiritualidade afro. O ícone
bantu passa pela vivência comunitária. Espiritualidade afro-brasileira maior desta espiritualidade é Aparecida,
Quem vive comunitariamente mantém-se Há uma espiritualidade cultivada por a negra Mariama. Ela representa a opção
em permanente união com Deus (Zambi) alguns seguimentos religiosos no Brasil de Deus para com os negros, os pobres
e dele recebe os benefícios. Ao contrário, que se mantém fiel às originárias tradições mais pobres nos tempos da escravidão,
quem não vive comunitariamente determina e religiões africanas, sobretudo dos povos quando ela apareceu toda negra. Ainda
a sua própria maldição. nagôs. Entretanto a maioria do nosso povo hoje ela continua solidária com aqueles que
Outra dimensão importante da espi- tem uma vivência religiosa caracterizada são os mais marginalizados e excluídos
ritualidade bantu é a ancestralidade. O pela prática do catolicismo popular amal- da sociedade, os negros, que ainda são
ancestro não é simplesmente o morto, gamada com tradições culturais africanas, maioria. Na V Conferência Geral do Epis-
mas o antepassado vivente. Exatamente sobretudo, com os elementos da religiosi- copado Latino-Americano e do Caribe em
porque viveu comunitariamente o ante- dade bantu (reizados, congados etc.). Hoje, Aparecida, os bispos concluíram que “o
passado tornou-se ancestro. E, como tal, sob o olhar da inculturação, ou seja, de uma seguimento de Jesus no continente passa
continua presente na vivência (história) da maneira legítima de entender a fé cristã a também pelo reconhecimento dos afro-
comunidade. O ancestro liga o passado ao partir do gênio próprio de cada cultura, a americanos como desafio que interpela
presente e projeta o futuro. A ancestralidade Igreja valoriza esses elementos culturais a viver o verdadeiro amor a Deus e ao
valoriza a história e, ao mesmo tempo a de origem que estejam em sintonia com os próximo” (DA, 532).
transcende. O ancestro é um mediador ensinamentos cristãos. A esse propósito,
espiritual. Antes das funções litúrgicas ou diz o documento da Assembléia do CE- Antônio Aparecido da Silva é sacerdote orionita, professor
dos atos religiosos evoca-se a memória LAM em Aparecida que “a Igreja defende de Teologia no Itesp-SP, Assessor da Pastoral Afro, Membro
dos ancestros. Tudo começa por ali. A os autênticos valores culturais de todos da Equipe Teológica da CRB-Nacional e Presidente do Centro
invocação dos ancestros faz com que as os povos, especialmente dos oprimidos, Atabaque de Cultura Negra e Teologia, SP.
- Novembro 2007 11
Uma carta a
testemunho
Ao escrever este artigo, padre Ramón Lázaro Esnaola, 40 anos, espanhol, usando uma
linguagem metafórica e poética, descreve sua progressiva paixão pela Missão, comparando-a
às etapas do namoro, noivado e casamento. O nome fictício Irene (em grego: paz) dado à
Missão é muito significativo para ele, pois a sua vocação nasceu quando ele se comprometeu
a trabalhar por Irene (paz).
Ariel Tosani
Primeiros passos
Tudo ia bem e eu estava muito feliz
com a opção feita. Porém, surgiu um grave
problema: eu ainda não havia falado aos
meus pais desta minha decisão. Eu tinha
toda a certeza, que tu não eras o que
eles haviam pensado para mim e o meu
Padre Ramón com paroquianos em Dianra, Costa do Marfim.
futuro. Não que eles não gostassem de
de Ramón Lázaro Esnaola inquietude, um forte desejo de conhecer-te ti... Ademais, eles estavam divorciados.
mais em profundidade. Amigos, leituras, Realmente, fiquei numa situação difícil.
Q
movimentos, ajudaram a me aproximar Porém, minha irmã e meu irmão menor
uerida Irene, quero-te muito! de Deus... Tudo ia me orientando para estavam dando apoio; de forma que a
Permita que te lembre um Ele e para um sério compromisso com os meus pais, não restava outra alternativa, a
pouco da minha história em irmãos. Na busca, tu te fizeste acessível não ser aceitar a minha decisão, embora
relação a ti, no fervor dos e me proporcionaste a oportunidade de eu percebesse que eles não estavam
meus 20 anos. Realmente, conhecer o Grupo dos Leigos Missioná- acreditando em mim. Tinham a certeza,
me seduziste com teu jeito rios da Consolata da minha cidade e de que depois de algum tempo, eu me can-
de ser e teu fascínio. No teu bom enten- tornar-me um de seus membros efetivos. saria de ti e voltaria para eles. É que eles
dimento com as pessoas, tornavas fácil o Desde então, passaste a ocupar um lugar não te conheciam! Afinal, eles acabaram
difícil; construías onde reinava sofrimento de destaque no meu coração. Progressi- abençoando a nossa união. Os primeiros
e desolação; perdoavas toda espécie de vamente, fui conhecendo-te mais e mais; anos foram de aprofundamento da nova
ofensa. Conseguias tornar tudo tão bonito já tu não saias da minha mente. A tua, vida. O tempo ia passando, já passara o
ao teu redor. A verdade é que acabei era uma presença forte e até as pessoas namoro e o noivado, e eu comecei a tomar
me apaixonando por ti. Lembras quando começaram a perceber o nosso namoro. conhecimento das minhas limitações (e
tudo começou? Eu vivia na minha cidade, Senti que me pedias um projeto de vida das tuas); das minhas fraquezas (e das
Zaragoza, perto de Madri, Espanha, e a dois; já não era uma amizade como as tuas); das minhas incoerências (e das
diante de certas situações de injustiça e demais: tu me querias todo e só para ti. tuas). Houve momentos de perplexida-
violência no mundo, comecei a sentir uma Ah! Irene! Confesso que foi muito difícil de; mas eu devia tomar consciência que
12 Novembro 2007 -
Irene
República da Costa do Marfim
Capital: Abijan
Superfície: 322.463 km2
População: 15.980.950
Nacionalidade: marfinenses
Idiomas: Francês (oficial), diula, baulê.
Religião: Islamismo 38,7%, cristianismo 26,1%
(católicos 20,8%, protestantes 5,3%),
animismo 17%, outras 18,2%
Expectativa de vida: 47 anos
Analfabetismo: 53,2%
Moeda: franco CFA
estava lidando com realidades humanas básicos. Lembras? Por algum tempo, ali
que não são perfeitas. Assim, apesar de acompanhamos jovens em busca de um
tudo, juntos, fomos seguindo o caminho. futuro melhor; e conseguimos ser para
Já não era mais aquele amor explosivo eles, apoio fraterno e esperança. Aqueles miséria e as mulheres, de vez em quando,
do início; porém, agora, o meu amor por ti três anos foram muito preciosos. Mas, recebem umas migalhas irrisórias. Os
era mais autêntico, mais sincero. Eu já não depois chegou Dianra (outra missão, Senufó, são os primeiros moradores da
estava preso apenas à tua beleza exterior; além-fronteiras). Dianra, está situada ao Costa do Marfim. Eles estão organizados
sentia-me atraído mais pela interior. norte da Costa do Marfim, África. Tenho ao redor do Poro, que tem a duração de
que confessar-te, Irene, que esta é a minha quase sete anos. É a iniciação tradicional
Os frutos da Missão preferida. Desde 2001 até o presente, que lhes proporciona um aprendizado
Desta vez foi pra valer. Decidimos estou partilhando a minha vida com os progressivo e que os torna incrivelmente
entrelaçar nossas vidas. Serei sempre Senufó. Dianra mostrou-me as savanas resistentes para a sobrevivência.
grato a Deus e a ti por tê-lo feito. Da arborizadas, as plantações de algodão, as
nossa união, nasceram dois filhos: um pequenas plantações de inhame, o milho Coragem de doar a vida
menino e uma menina: Tetuan e Dianra. e arroz que eu já conhecia na Espanha. As características desse povo são
Tetuan (minha primeira missão) era um Ela me ensinou a lidar com o harmatta, fortes: o respeito e a obediência aos mais
bairro ao norte de Madri, habitado por vento gélido que vem do deserto do Sul, de velhos; o sentido de pertença ao grupo;
trabalhadores, pessoas humildes que novembro a janeiro e que todos os dias ao a aliança com a família; a harmonia com
viviam em casas pequenas e que tinham desaparecer do sol deixa tudo congelado Deus, com os antepassados e com a
que lutar muito pela sobrevivência das até a manhã seguinte. Mas, sobretudo, natureza... Para eles, os funerais fazem
próprias famílias. Geralmente, eram pes- Dianra me apresentou aos Senufó, povo parte da vida; são preparados e muito bem
soas vindas do Equador para tentar na organizado em mais de 300 subgrupos, celebrados. Sem dúvida, devo dizer-te,
Espanha uma vida melhor. Imigrantes espalhados na região norte da Costa de Irene, que está sendo muito importante
que precisavam ser acompanhados, até Marfim. É um povo muito trabalhador, para mim esta experiência entre os Se-
conseguirem se adaptar à nova realidade, tanto as mulheres como os homens; com nufó. Eles me ajudaram a fazer inúmeras
se organizar, reivindicando seus direitos uma diferença: aos homens paga-se uma descobertas; porém, a mais importante é
a da reciprocidade de amor dado e cor-
respondido. Eles me querem muito e eu
Ramón Lázaro
- Novembro 2007 13
Encontro
Católicos se encontram com
fé e política
com políticos
de Humberto Dantas Reforma política e compra de votos
Em São Paulo, dia 29 de setembro, tive a oportunidade de
fechar o encontro falando sobre reforma política. Apontei que
E
todos os pontos da reforma guardam relação direta com o for-
ntre o final de setembro e o início de outubro tive a talecimento dos partidos e do Legislativo, mas que infelizmente
oportunidade de participar em dois encontros de verea essas instituições não gozam de significativa credibilidade junto à
dores católicos. O primeiro deles, na capital paulista, foi sociedade, muito pelo contrário. Assim, diante de tal questão, os
realizado na Câmara Municipal e destinado a todos os esforços para consolidar as mudanças como algo benéfico serão
parlamentares do estado. O segundo ocorreu em São significativos. E muito do que se pretende alterar não representará
José do Rio Preto, SP, e contou com a participação de uma guinada no sentido da honestidade, da moral e da ética, mas
legisladores locais de diversas cidades. Importante salientar apenas mudanças nas regras. Para alterar de maneira significativa
que o grande compromisso do encontro foi com o debate de o ambiente político nacional seriam necessárias ações de edu-
questões fundamentais. Pesa positivamente o fato de a Igreja cação e alteração no envolvimento do brasileiro com a política.
se mostrar absolutamente preocupada com aspectos gerais de Estamos muito distantes disso, sobretudo porque dependemos
de parlamentares que não enxergam na
Ariuce Schiavon
14 Novembro 2007 -
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA
A Conferência de Aparecida
Chaves
As surpresas do Espírito
Durante a V Conferência, o sopro
suave do Espírito, que faz novas todas
as coisas (cf. Ap 21,5), influenciou,
desconcertou e surpreendeu . Eventos
de leitura
acentuadamente eclesiais, não para-
lelos, conforme suspeita e acusação
de alguns, mas complementares, ex-
pressaram sintonia e comunhão com
a Assembléia, tornando-se momentos
fortes de oração, de contemplação, de
fé comprometida e espiritualidade liber-
Surge um dos projetos missionários mais bem
tadora. Entre eles estão: o Seminário
de Teologia, promovido pelo Conselho
articulados dos últimos tempos.
Nacional do Laicato do Brasil – CNLB;
Jaime C. Patias
o Fórum de Participação, mobilizando
pastorais, movimentos, organismos e
entidades; a Romaria das CEBs, jun-
tamente com a Pastoral da Juventude
e a Pastoral Operária; a Tenda dos
Mártires; a Tenda da Vida Consagrada,
organizada pela CRB; e a presença e
assessoria da Ameríndia, uma rede de
católicos das Américas com espírito
ecumênico e aberta ao diálogo e à
cooperação inter-religiosa.
Diferentemente do que esperavam
setores conservadores, o Discurso
Inaugural do papa foi marcado por
ingredientes que combinam conheci-
mento da realidade, leitura crítica da de Carlos C. Santos só, no mínimo, questiona, desinstala
conjuntura, denúncia dos sistemas e faz pensar. Dos 268 participantes da
A
de corrupção e de morte e orientação Assembléia, mais da metade não eram
para uma opção concreta e eficaz Conferência de Aparecida bispos. Mais de 50% da Assembléia,
pelos pobres e excluídos. Mesmo foi a primeira Assembléia do portanto, apesar de não terem tido
à postura equivocada segundo a CELAM em conexão aberta direito a voto, tiveram direito à voz,
qual “... o anúncio de Jesus e de seu e direta com a “aldeia glo- participando efetivamente de todo o
Evangelho não supôs, em nenhum bal”, através da tecnologia processo, falando e sendo ouvidos.
momento, uma alienação das culturas de ponta que disponibiliza
pré-colombianas, nem foi uma impo- hoje as mais diversificadas vias, quais A usurpação de poder
sição de uma cultura estranha”, (DA, sejam o celular, a internet, e todos O Documento de Aparecida (DA)
p. 268) correspondeu, a partir das os elos que, a partir daí, podem ser original, votado, aprovado e consagrado
reações de comunidades indígenas articulados. Com este estar permanen- pela Assembléia no dia 31 de maio, para
e afro, a correção de Bento XVI: “...a temente “plugado”, já não é possível além de todos os matizes relativos ao seu
memória de um passado glorioso não fazer nada às escondidas. Aconteceu contexto, constitui um todo harmônico
pode ignorar as sombras que acom- lá, e a notícia chegou online cá. Não há belíssimo que consolida a tradição teo-
panharam a obra da evangelização mais como conceber uma Assembléia lógica e eclesial da América Latina e do
do continente latino-americano... os privada ou secreta isenta deste tráfico Caribe, tendo encontrado respaldo até
sofrimentos e as injustiças que os de influências. mesmo da teologia mais crítica, como a
colonizadores infligiram à população O ambiente em que se realizou a representada, por exemplo, pelo padre
indígena, frequentemente pisoteada em Conferência também foi original: um José Comblin, em seu artigo sobre “o
seus direitos fundamentais... condena- santuário aberto ao povo, aos pobres, projeto de Aparecida”. Não obstante,
dos, já então, por missionários como às romarias, à religião e à cultura popu- como já adverte o ditado, “há algo de
Bartolomeu de las Casas e teólogos lar, em um cenário que mantém no ar podre no reino da Dinamarca”. E Oxalá
como Francisco de Vitória”. o “espetáculo” praticamente 24 horas fosse só no da Dinamarca...
O conjunto dessas influências re- por dia, favorecendo a aproximação, Enviado ao papa para aprovação
percutiu muito mais positiva do que encontros, contatos diretos e o diálogo. final, o texto retornou com diversas
negativamente no Documento Final Uma realidade, portanto, que, por si modificações entre cortes e acréscimos,
de Aparecida.
- Novembro 2007 15
junções e disjunções, comprometendo, de entregá-lo a Bento XVI, mais tarde se outros, lembrando que “o papa respei-
visivelmente, entre outros, os itens con- justificaram com declarações e cartas, taria o que os bispos decidissem” (O
cernentes às CEBs (DA, texto original: sem, porém, levar a bom termo a questão Estado de S. Paulo, 16/08/2007). Mais
193-196; cf. texto oficial: 178-180). que continua em aberto. A CNBB, de adiante, perante o impasse provocado
O presidente e o secretário-geral início, igualmente surpresa, condenou pela obscuridade das notícias, a CNBB
do CELAM na ocasião, respectivamen- a manipulação do texto original, na optou por uma posição de conciliação,
te, o cardeal chileno Francisco Javier palavra abalizada de bispos como o disponibilizando em seu site uma Co-
Errázuriz Ossa e seu colega, Andrés cardeal Geraldo Majella Agnelo, dom municação à Imprensa através da qual
Stanovnik, da Argentina que, em princí- Raymundo Damasceno Assis, atual dom Andrés Stanovnik transferiu toda
pio, direta ou indiretamente, admitiram presidente do CELAM, dom Luiz Soares a responsabilidade das modificações
ter mudado o documento original antes Vieira, dom Demétrio Valentini, entre para a Santa Sé.
16 Novembro 2007 -
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA
Visão de conjunto
Mantendo postura crítica em relação e profundidade pastoral e teológica,
aos modelos eclesiológicos e doutrinais parece ser um dos projetos missioná-
que destoam do espírito do Concílio (Cf. rios mais bem articulados dos últimos
DA 100b), o DA convoca os cristãos e as tempos. Nas palavras de frei Clodovis
cristãs para a inaudita tarefa de assumir Boff, “uma surpresa do Espírito” e “o
a cultura atual, como meio imprescindí- ponto mais alto do Magistério da Igreja
vel de conhecer, falar e compreender Latino-Americana”.
a linguagem contemporânea, (Cf. DA Não temos nenhuma pretensão de
480) e mergulhar sem medo na era da ser ou ter a última palavra em relação a
modernidade, respeitando a legítima um assunto que, por sua própria natureza,
autonomia do temporal e das ciências, é prioritariamente comunitário e deve
em nosso mundo marcadamente plu- ser amplamente socializado. Diante da
ralista. Neste contexto, centrar toda a densa e rica proposta expressa no DA, o
ação evangelizadora na convivência Espírito suscitará, como já vem suscitan-
dialogal e respeitosa com o diferente do, muitas outras reflexões. Daí, nossa
e consolidar a emancipação da tutela peregrina, (Cf. DA 384 e Lc 34, 13ss) e opção por lançar sobre o Documento de
da Igreja, enquanto sacramento do resgate a credibilidade histórica. Com Aparecida um olhar de conjunto, tentando
Reino, é condição indispensável para este pano de fundo, no conteúdo como realçar nele, os principais aportes que
que ela cumpra sua missão de caminhar na forma, o DA se apresenta atraente e encorajam e sustentam a missão das
solidariamente com toda a humanidade criativo e, conjugando harmonia, beleza cristãs e dos cristãos.
As linhas mestras do DA
Optamos por colocar em destaque perspectiva, sobressaem, entre outros, acolhe (Lc 7, 36ss; Jo 4, 7ss), convive
aqueles traços que, a nosso ver, pa- 10 grandes eixos que apresentamos (cf. Lc 10, 38-42), educa (cf. Mt 20, 17ss)
recem ser os mais característicos ou a seguir: e envia (cf. Mc 6, 6b-13; 16, 15) para o
fundamentais do DA, constituam eles discipulado missionário (cf. Jo 20, 21).
novidade em relação ao novo projeto 1. “Encontrei Jesus!” É o Crucificado-Ressuscitado que, por
de evangelização proposto para o con- A realidade de uma experiência fidelidade ao projeto do Pai, obsessão
tinente ou, simplesmente, reafirmação pessoal e comunitária, concreta, exis- incontida pelo Reino e amor aos pobres
de conquistas anteriores. Nas trilhas tencial, de encontro afetivo e efetivo e oprimidos, caminha decididamente
do método “ver-julgar-agir”, o DA rea- com Alguém, que está por trás desta para Jerusalém (cf. Lc 13, 33), onde
presenta a já conhecida proposta de expressão comumente usada por irmãs vai desmascarar e deslegitimar os
“partir da realidade que precisa e deve e irmãos evangélicos, é como que a poderes socioeconômico e político-
ser transformada, à luz do projeto de “força motora” do DA. religioso, para consumar seu Ofertório
Deus, pela ação libertadora dos(as) Cristo foi, é e será sempre (cf. Hb 13, de Vida para que todos tenham vida.
discípulos(as) missionários(as)”. Nesta 8) aquele que chama (cf. Mt 4, 18-22), Jesus não é, portanto, em primeira
- Novembro 2007 17
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA
18 Novembro 2007 -
Juventude
meio ambiente
Roteiro de Encontro
Tema do mês: “DNJ e Meio Ambiente”
a) Acolhida
O Dia Nacional da Juventude deste ano fez todos
b) Invocação do Espírito Santo
c) Dinâmica refletirem sobre a problemática ambiental.
d) Apresentação do tema,
questionamentos e debate
e) Pai Nosso Missionário
f ) Oração conclusiva
exatamente esta ganância que levou
à situação onde nos encontramos, com
um planeta que pede urgentemente ajuda.
É tempo de reverter a situação!
O
Diante desta realidade é preciso que sejamos profetas. Sig-
Dia Nacional da Juventude 2007, celebrado em 28 nifica falar desta realidade a todos. Muitas pessoas ainda não
de outubro, teve como tema "Juventude e meio am- estão convencidas da problemática. É importante conscientizá-
biente". O evento pretendeu motivar a juventude para las sobre o cuidado e preservação da vida e do meio ambiente.
comemorar o dia de uma forma jovem, descontraída É fundamental também o nosso testemunho. Não adianta dizer
e comprometida com a realidade social em que está uma coisa e fazer outra. Cremos na sensibilidade, capacidade
inserida, tendo como base e centro Jesus Cristo e e empenho dos jovens nesta missão essencial.
seu projeto de vida. Recentes estudos e notícias sobre o meio
ambiente têm sido alarmantes. Anos atrás, certas catástrofes Entre outras atitudes concretas, vale lembrar:
eram profetizadas, mas poucos acreditavam no que se dizia. ● Reduzir (o consumo), reutilizar e reciclar (materiais);
Hoje acordamos para esta situação. A alteração climática, por ● Não jogar óleo lubrificante no esgoto;
exemplo, é uma realidade que não nos pode deixar indiferentes, ● Evitar comprar produtos oriundos de recursos naturais não
pois afeta a todos. renováveis;
Se, no passado, olhávamos para a natureza como fonte ines- ● Não desmatar e sim contribuir com o reflorestamento (ár-
gotável de recursos, agora percebemos mais e mais que ela está vores nativas);
em perigo. Cuidar do meio ambiente é cuidar da vida como um ● Economizar os recursos naturais (água, energia, etc.);
todo. Não é simplesmente um modismo, mas uma questão muito ● Informar-se sobre o tema e participar de organizações e
séria. Estudo publicado há pouco mostra que os mais prejudicados movimentos que atuam nesta causa;
com as mudanças climáticas são os pobres, exatamente porque ● Promover iniciativas de conscientização na comunidade.
são os que mais dependem das condições do clima. Mahatma
Gandhi, libertador da Índia, afirmou: “A natureza pode suprir to- Patrick Gomes Silva é missionário, membro da equipe de formação do Centro de Animação
das as necessidades da humanidade, menos sua ganância”. Foi Missionário José Allamano, SP.
- Novembro 2007 19
Irmã Lindalva
Destaque do mês
Bem-aventurada do Brasil
Religiosa da Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo será beatificada em Salvador,
BA, em dezembro.
Divulgação
de Aidil Brites e Gigliola Sena
E
m 1993, irmã Lindalva Justo de
Oliveira, 39 anos, foi assassinada
por um dos internos do Abrigo
Dom Pedro II, em Salvador. No
dia 2 de dezembro será beatifi-
cada, durante missa celebrada
no Ginásio Manoel Barradas, situado na
cidade onde a missionária vivia a sua
vocação quando sofreu o martírio. Uma
oportunidade ímpar, já que milhares de fiéis
estarão reunidos com padres e religiosos
para renovar o compromisso missionário.
“Desejamos chamar atenção para o fato
de que a santidade é o testemunho que
a missão exige”, explica o bispo auxiliar
Dom Josafá Menezes.
O rito próprio da beatificação aconte-
cerá dentro da Celebração Eucarística.
Após o Ato Penitencial, será lida a história
da religiosa, além do decreto e da fórmula
própria de reconhecimento do estado de
bem-aventurança. As Filhas da Caridade,
como também são chamadas as religiosas
da congregação de irmã Lindalva esperam
pela beatificação “num clima de alegria
e expectativa, mas também de oração
e ação de graças”, como afirma a atual
superiora do Abrigo Dom Pedro II, irmã
Cristina da Silva.
Para a ocasião, a Província de Recife
confeccionou velas denominadas “Chama
da Caridade” com o objetivo de divulgar a
virtude exercitada pela irmã e o testemunho
cristão deixado por ela. As velas percor-
rem as paróquias onde a congregação
atua até o dia 23 de novembro. Nessa
data, as Filhas da Caridade de diversas
províncias reunidas em Salvador farão o
encerramento da peregrinação. “O exemplo
de vida que irmã Lindalva deixou anima a
nossa fidelidade a Deus e nos encoraja a
enfrentar os desafios cotidianos”, declara
irmã Cristina.
20 Novembro 2007 -
Caminho vocacional do seu hábito azul de irmã de caridade,
Lindalva nasceu no município de Açu,
localizado no Estado do Rio Grande do
"O coração é meu, pode sofrer, agora alvejado no Sangue do Cordeiro (Ap
7, 14) ao qual se misturou o seu sangue;
Norte. “Quero ter uma felicidade celestial.
Transbordar de alegria e ajudar o próximo.
mas o semblante é do outro e Linda alva é a límpida aurora da Páscoa
de Jesus, que raiou para ela três dias
Ser incansável em fazer o bem”. Estas deve estar sempre sorridente". depois de sua trágica Sexta-feira Santa.
palavras estão na carta de pedido de Límpida aurora-linda alva da sua própria
ingresso da então vocacionada. Em 1987, páscoa”. Dom Lucas ainda comentou
aos 33 anos, ela decidiu seguir a vida de que foram precisos poucos anos de vida
religiosa na Companhia das Filhas da O martírio religiosa para que ela recebesse a graça
Caridade. Seu pedido foi aceito. A iden- Na sexta-feira da Paixão do ano de do martírio. Augusto cumpriu os 10 anos
tificação com a nova forma de vida era 1993, dia 9 de abril, após participar de da pena em um manicômio judiciário.
tanta que chegou a escrever: “em todos uma via-sacra na paróquia da Boa Viagem, Hoje, ele se mostra arrependido e mora
os momentos das minhas orações, sinto irmã Lindalva vai realizar seus afazeres de em um centro de recuperação para de-
um desejo tão grande do amor de Deus rotina. Enquanto prepara o café da manhã pendentes químicos no município baiano
que um dia vou conseguir, nem que seja dos velhinhos, alguém toca os ombros de Simões Filho.
no último dia da minha vida”. dela, solicitando atenção. Ao virar-se,
Quem conviveu com a religiosa confir- é surpreendida pelo interno Augusto da A beatificação
ma a dedicação dela aos idosos e à oração. Silva Peixoto, então com 46 anos, que lhe Segundo dom Josafá Menezes, a
Desde o início da vida consagrada já se desfere um golpe de facão, atingindo a solicitação de abertura do processo partiu
podia perceber em Lindalva a busca pela veia aorta. Lindalva cai, ensangüentada. da cidade onde houve o assassinato. “Ao
santidade. “Era obediente e compreensiva. Mesmo assim, é imobilizada pelo agressor assumir a arquidiocese de Salvador em
Esforçava-se constantemente para corrigir- e ainda recebe mais 43 facadas. Alguns 1999, dom Geraldo Magella tomou conheci-
se dos defeitos e crescer no caminho idosos ainda tentam impedir o assassinato, mento das circunstâncias da morte de irmã
da perfeição”, descreve a irmã Ivanir de mas Augusto ameaça de morte quem se Lindalva e acreditou haver ali indícios de
Araújo que foi diretora do noviciado da aproxima. Quando chega o socorro mé- um martírio autêntico”, revela o bispo. Os
futura Bem-aventurada. dico, a irmã já está morta. Tudo porque documentos necessários para abertura do
O Abrigo Dom Pedro II, em Salvador, a religiosa recusou-se a corresponder processo de beatificação foram reunidos
foi sua primeira e única missão pastoral, à paixão alimentada por ele. Desde o e enviados ao Prefeito da Congregação
que iniciou em 26 de janeiro de 1991. Co- momento em que o interno a conheceu, para as causas dos santos, cardeal José
ordenava o pavilhão masculino, tendo sob Lindalva passou a ser alvo de constantes Saraiva de Martins, no Vaticano.
seus cuidados 40 idosos. “As pessoas que declarações amorosas e insinuações. Fato “Os mártires de ontem e os do nosso
conheceram irmã Lindalva sempre falam que foi comentado por ela com as freiras tempo dão a vida livre e conscientemente.
do zelo e delicadeza com que ela tratava mais próximas e com a própria superiora Num supremo ato de caridade, testemunham
da época. “Prefiro a sua fidelidade a Cristo, ao Evangelho, à
que meu sangue Igreja”, é o que ensina o papa Bento XVI,
Anderson Samuel
- Novembro 2007 21
I Fórum da Igreja C
Atualidade
E
explicou padre Tarcísio Rech, membro da laços de amizade e fraternidade, viver
ntre os dias 20 e 23 de setembro, equipe de organização, “procurou ser um a comunhão. Queremos ser Igreja dos
na Pontifícia Universidade Ca- espaço de diálogo interno na Igreja e com pobres, que luta pela justiça social. Pois,
tólica de Porto Alegre, realizou- a sociedade”. Era visível a participação e o se não há esperança para os pobres, não
se o I Fórum da Igreja Católica interesse de quem chegou para ver e sentir há para ninguém”, concluiu.
do Rio Grande do Sul. O evento o pulsar do coração desta Igreja. Foram
foi convocado pelos bispos do sete os momentos celebrativos, quatro As conferências
estado, em parceria com a Conferência Conferências, seis seminários transver- Sob o tema: “A Vida e a Missão da
dos Religiosos do Brasil e preparado ao Igreja na História do Rio Grande do Sul”,
longo de dois anos nas 17 dioceses da
região, paróquias e comunidades, com “A Vida se manifestou, nós a os conferencistas da primeira palestra
abordaram a presença da Igreja Católica
o envolvimento de padres, religiosos e
religiosas, institutos seculares, agentes de vimos e a testemunhamos” no estado, mostrando os acontecimentos
históricos desde o início da evangelização
pastoral e Institutos de Teologia. O tema (1Jo 1,1-2). dos povos indígenas até os dias atuais.
central do Fórum foi “A Vida e a Missão A segunda conferência proferida pelo
da Igreja no Rio Grande do Sul”, à luz do sais, 101 grupos de trabalho em oficinas padre Inácio Neutzlin, sj, teve como tema:
lema: “A Vida se manifestou, nós a vimos temáticas, 46 apresentações artísticas e “Mudança de época, época de mudanças?
e a testemunhamos” (1 Jo 1,1-2). Segundo 172 tendas, mostrando a vida e a missão Novos cenários para a vida e a missão da
os organizadores, cerca de 100 mil pes- das dioceses. A abertura do evento coube Igreja no estado”. “Estamos num mundo
soas participaram. Percebeu-se que era a dom José Mário Stroeher, bispo de Rio em transição de uma época para outra,
necessário fazer uma parada significativa Grande e presidente do Regional Sul 3 da onde novos desafios são colocados para
na caminhada para auscultar o coração CNBB. Suas palavras evocaram a memória a Igreja”, afirmou padre Inácio. “Teremos
das pessoas e os desejos do povo. Dar a de dom Ivo Loischeider, declarado Patrono que pensar também como ser Igreja numa
cara e mostrar quem é a Igreja, capaz de do Fórum: “Aqui viveremos dias nunca sociedade pós-social, que se rege pela in-
22 Novembro 2007 -
Católica
Cristo Morto e Crucificado, na de Nossa que já dura mais de dez anos. Um vídeo
Senhora da Glória, no Senhor do Bonfim, produzido pela Rede Vida mostrou os
e na imagem de um ícone mais brando, desafios da missão em Moçambique e a
como no “Coração Eucarístico de Jesus”, importância de continuar o projeto como
cujo refrão é um dos mais cantados pelo expressão missionária da Igreja.
povo: “Coração santo, tu reinarás, tu,
nosso encanto, sempre serás”. Porém, Momentos celebrativos
na vida real e concreta, o rosto do Servo No dia 20, uma celebração marcou
Inocente e Sofredor está na narrativa a abertura do dia e a “Missa Crioula”, de
do negro escravo onde aparece todo o tradição gaúcha encerrou o primeiro dia
absurdo da sua existência: o sofrimento, de trabalho. Compareceram à Celebração
a solidão e a escravidão. Ecumênica na manhã do dia 21, duas mil
Frei Luís Carlos Susin concluiu esta pessoas que tinham como objetivo cele-
conferência, trazendo à tona a narrativa brar a vida, independentemente da crença
heróica do índio Sepé Tiaraju, que lutou religiosa. Salientou-se o pedido de perdão
por seu povo, representada na imagem e o Dia da Árvore. No final do dia foi a vez
do Cristo Redentor que sobe aos céus das etnias celebrarem a pluralidade dos
bradando: “Alto lá! Esta terra tem dono!”. povos que formam o Rio Grande do Sul.
Falaram ainda o padre Érico Hammes e Destacaram-se os negros e os guaranis
a Irmã Lúcia Weiler. com seus cânticos, ritmos e danças.
Na quarta conferência, professores e O terceiro dia do Fórum começou com
pesquisadores do Instituto Missioneiro de uma oração pela paz conduzida pelo Grupo
Teologia de Santo Ângelo e do Instituto de Diálogo Inter-Religioso de Porto Alegre.
de Teologia e Pastoral de Passo Fundo Líderes do Islamismo, Budismo, Fé Baha'i,
apresentaram o resultado de uma pesquisa Umbanda, Igreja Evangélica de Confissão
realizada nas cidades de Santo Ângelo e Luterana e da Igreja Católica, com discur-
Passo Fundo, sobre a visão que a socie- sos em forma de oração, fizeram pedidos
dade civil tem da Igreja Católica, alguns de perdão pela intolerância, o fanatismo
desafios e perspectivas, e sua ação evange- e o fundamentalismo, que dificultam a
lizadora. “Eles olham para a Igreja e vêem paz. A transformação do mundo começa
as ações sociais e em outros momentos, dentro de cada pessoa desenvolvendo a
a relação com os pobres. A credibilidade ética da compaixão, da misericórdia e o
da Igreja na sociedade ainda é muito amor pela verdade. O Fórum teve ainda
forte. Ela é interpretada como atrasada, mais de 60 apresentações culturais, das
fora da realidade, mas ao mesmo tempo, mais diversas expressões que compõem o
marca a sociedade e é sempre confiável”, estado, envolvendo peças teatrais, shows,
concluíram os pesquisadores. declamações, canto coral, voz e violão,
Diversas etnias representadas no Fórum. num total de 853 participantes. "A Vida se
Oficinas e tendas manifestou, nós a vimos e a testemunha-
dividualização do sujeito. Como poderemos No meio do vai e vem das pessoas, mos", conduzidos pelo Hino do Fórum, mais
pensar numa ação evangelizadora nesse havia uma tenda dedicada à oração. No de três mil pessoas entraram no clima da
contexto? Eis aí o grande desafio da Igreja silêncio, olhos fechados, mãos postas, Solene Vigília, no sábado à noite.
Católica”, destacou o teólogo, que é diretor corações unidos ao Mestre, os participantes Domingo pela manhã foi lida a Carta
do Instituto Humanitas Unisinos. faziam suas súplicas e louvores. do Fórum na qual “a Igreja do Rio Grande
A terceira conferência fez pensar sobre As várias pastorais e movimentos do Sul assumiu o compromisso solidário e
os vários rostos de “Jesus Cristo na Vida e organizaram mais de 100 oficinas de inadiável com os excluídos e de denúncia
Missão da Igreja no Rio Grande do Sul”. Pa- debate e reflexão em torno de temas, das situações de violência que ameaçam
dre Ângelo Lôndero enfatizou que devemos tais como: a migração, economia soli- a vida”. A Carta reconheceu as falhas
ser discípulos missionários de Jesus, e qual dária, povos indígenas, a sociedade em cometidas no passado com os indíge-
bom samaritano, ver que o marginalizado diálogo com a Igreja, cultura, paz, educa- nas e negros e acentuou sua presença
que vive à beira do caminho é o próprio ção, juventude, direitos humanos, mulher humanizadora na sociedade. Priorizou a
rosto do Senhor desfigurado. etc. A contribuição dos açorianos para a formação qualificada do povo e de seus
Padre José Bonifácio Schmidt des- evangelização e a constituição da Igreja agentes de pastoral, ao mesmo tempo em
creveu que no tempo de Jesus, a religião no Rio Grande do Sul também foi tema que se propôs a reavaliar a presença da
privilegiava a lei e excluía os pobres, as de debate. A Pastoral Afro, fazendo uma Igreja nas pequenas e grandes cidades.
viúvas e os doentes. Neste contexto, Cristo leitura do povo negro na Bíblia apresentou A Carta abordou ainda, a questão das
surpreende a todos ao curar os leprosos cinco oficinas para ajudar a Igreja a fim mulheres, dos idosos e dos jovens e rea-
e instaura o Reino de Deus de uma forma de ser mais profética e acolhedora para firmou a esperança no engajamento dos
que ninguém esperava, colocando o ser com os negros. O Conselho Missionário leigos, para que as discussões do Fórum
humano no centro do seu agir. do Regional Sul 3 da CNBB estendeu sua sejam colocadas em prática. O Fórum
Na piedade popular e na simbologia tenda, mostrando a validade do Projeto foi encerrado no domingo dia 23, com a
barroca, o rosto do “Servo Inocente e Missionário “Igrejas Solidárias com a Celebração da Eucaristia reunindo três mil
Sofredor” de Jesus aparece nas imagens diocese de Nampula, em Moçambique”. fiéis, mais de 100 padres e 20 bispos.
sacras, absorvendo a dramaticidade do Coordenado pelo padre Camilo Pauletti,
sofrimento e da dor, como na imagem de a equipe relatou a experiência missionária Mário De Carli, imc, é animador missionário em Portugal.
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Me conta uma história?!
“O tempo passa mais lento pro negão (...) todo camburão tem
Infância
Missionária
um pouco de navio negreiro!” (Marcelo Yuka - Rappa)
de Roseane de Araújo Silva
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Por trás da violência
Entrevista
D
pin, nosso entrevistado. Ivo é sociólogo, série de fatores que contribuem para
e 6 de agosto a 28 de setem- professor da Universidade Federal do Rio o crescimento da violência. Um estudo
bro, o CESEP (Centro Ecumê- de Janeiro, coordenador de um núcleo de da ONU sobre a desigualdade social no
nico de Serviços à Evangeli- pesquisa sobre prefeituras democráticas- mundo, publicado em 2005, dá conta
zação e Educação Popular) populares e membro do Iser/Assessoria de que a desigualdade cresceu muito
realizou, em São Paulo, o – uma Organização Não-Governamental nos últimos 20 anos. O relatório afirma
Curso Latino-Americano de do Rio de Janeiro que presta assessoria à que isso se deve à adoção de políticas
Formação Pastoral para discutir o tema da pastoral popular e movimentos populares neoliberais, que priorizam o capital finan-
urbanização e o fenômeno da violência. em nível nacional. ceiro, em detrimento do bem-estar social.
Provenientes da Bolívia, Colômbia, El Segundo a ONU, existem dois fatores
Salvador, Moçambique, República Do- Ao longo da história, a violência associados que contribuem de forma
minicana e de quatro estados do Brasil, emerge como um sério problema para significativa para o aumento dos índices
os participantes também refletiram sobre os indivíduos e para as sociedades. de violência: a crescente desigualdade
os desafios culturais, sociais, políticos e Onde está a sua origem e por que ela social e a diminuição das perspectivas
pastorais emergentes desta realidade. se propaga tanto? de melhoria de vida. Os jovens percebem
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solidariedade entre uma pessoa e outra: lógica do “subir na vida a qualquer custo”.
não valorizam a solidariedade coletiva. O capitalismo só contribui para aumentar
Com isso, quebram-se valores morais e o esgarçamento do tecido social, fazendo
éticos. Essa concepção vai crescendo na as pessoas se voltarem umas contra as
sociedade em geral e vai aparecer também outras. O exemplo que o Estado está
em jovens da classe média – pessoas que dando é de irresponsabilidade diante
têm acesso a boas condições de vida – das mazelas sociais e isso influencia as
porque o enriquecimento vai se tornando pessoas a também serem irresponsáveis
o ideal a ser atingido de qualquer maneira. com as outras.
A presença da violência não é exclusiva
nos setores sociais empobrecidos, nem De que maneira o Estado e a socie-
é gerada pela pobreza. Ela aparece não dade civil organizada podem contribuir
quando existe pobreza, mas quando existe para uma cultura de paz?
acentuada desigualdade social e reduzidas Todas as vezes que acontece um surto
chances de melhora de vida. Há outros de violência ou um caso mais grave, como
fatores que contribuem para o aumento da foi o ataque do PCC a São Paulo, ou o
violência social, como é a "banda podre" episódio da criança arrastada por um carro
dentro dos próprios órgãos encarregados no Rio de Janeiro, a reação imediata dos
do controle social. Sabemos que setores da meios de comunicação é querer aumentar
polícia estão comprometidos com o tráfico a repressão. Se for menor de idade, logo
de drogas, com os jogos, a prostituição, se fala em redução da maioridade penal,
etc. Eu costumo dizer que no Brasil não aumento do efetivo policial e das armas
nas mãos da polícia, bem como a insti-
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A voz
amazônia
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um competente auxiliar de enfermagem. caiouás. Entre 7 e 9 de junho de 1980, do nosso povo. Eu deixo aqui o meu apelo
Sua inteligência, bom senso e sabedoria em Campo Grande, foi criada a União de 200 mil indígenas que habitam e lutam
inata fizeram com que, aos poucos, aquela das Nações Indígenas - UNI. De 26 a 30 pela sua sobrevivência neste país tão
alma de pregador fosse redescobrindo a de junho, daquele ano, foi realizada em grande e tão pequeno para nós”.
realidade indígena e a cultura de seu povo. Brasília uma Assembléia com 54 líderes, O Brasil estava sob a ditadura militar
Marçal passou muitas informações aos de 25 povos de 14 Estados brasileiros, sustentada pelos fazendeiros e industriais,
pesquisadores e antropólogos e eles o e um representante da nação shuar, do com ostensivo apoio do governo dos Esta-
ajudaram a retornar às suas raízes. Deu-se Equador. Essa Assembléia, além das dos Unidos. Pouca gente imaginava que
então o caminho da volta ao ser guarani. discussões da nova organização indígena, aquele franzino guarani, com um pouco
Em 1963, Marçal foi eleito (capitão) cacique preparou uma mensagem para ser lida mais de um metro e meio, banguela, pu-
da Reserva Indígena de Dourados. ao papa João Paulo II, na sua primeira desse, de improviso, sintetizar 500 anos
Dedicou-se, então, a conscientizar visita ao Brasil. de violência contra os povos indígenas.
seus parentes sobre as necessidades de Por várias vezes, seu discurso foi inter-
preservar a própria cultura, estimulando os O clamor chega ao papa rompido pelo público que gritava: “João,
indígenas que viviam dispersos nas cidades O encontro com o papa inicialmente João, João, o índio é nosso irmão”.
e fazendas, a retornar à área indígena. marcado para Brasília aconteceu em Em 1980 Marçal deixou na reserva
Essa nova postura começou a incomodar Manaus, Amazonas, no dia 10 de julho de de Dourados sua esposa mestiça, dona
os funcionários da Funai, órgão que com 1980. Na ocasião, além de Lino Cordeiro, Aristídia, com seus 10 filhos, dos quais
a ditadura militar, em 1964, passou do do povo marinha, falaram Terêncio Macuxi, três adotivos, indo viver à moda guarani
Ministério da Agricultura para o Ministério Mário Juruna e Marçal. A voz do trovão junto aos caiouás, numa pequena área,
do Interior. Naquela altura, foi criado um fez-se ouvir: “Eu sou representante da em Campestre, no município de Antônio
serviço de informação indígena para con- grande tribo guarani, quando, nos primór- João, próximo à fronteira do Paraguai.
trolar a presença de elementos estranhos dios, com o descobrimento desta pátria, No dia 25 de novembro de 1983,
nas áreas indígenas e autorizar a entrada nós éramos uma grande nação. E hoje, numa sexta-feira à noite, ao abrir a porta
de missionários. Devido à linha pastoral como representante desta nação, que vive a alguém que pedia remédio para o pai
da Igreja Católica, as igrejas evangélicas à margem da chamada civilização, Santo doente, dois indivíduos precipitaram-se
passaram a receber mais apoio por parte Padre, não poderíamos nos calar pela sobre Marçal, descarregando o revólver
do governo militar, pois tinham a mesma Taurus, calibre 38, matando-o com cinco
visão de integração rápida, tornando os tiros, à queima-roupa.
indígenas cristãos, com o abandono da Agora, após 24 anos de processo judi-
língua e das tradições. cial, a Justiça pode decretar sua segunda
Por sua prática conscientizadora, em morte, deixando impunes seus assassinos.
1972, Marçal foi afastado do cargo de Os acusados já foram inocentados em dois
capitão, passando a exercer apenas a julgamentos na Justiça de Mato Grosso
função de atendente de enfermagem. Era do Sul, agora o caso foi transferido para
uma maneira de diminuir sua influência. a Justiça Federal e o término do processo
Por sua vez, Marçal afastou-se da Igreja foi prorrogado para o próximo ano.
presbiteriana, deixando de ser membro da Se os homens públicos de nossa
Missão Evangélica Caiouá, a qual servira terra não forem capazes de fazer justiça
por 30 anos. e condenar seus assassinos, deverá o
Voltou a Tey’kuê, onde passara sua povo indígena não esquecer esta figura
primeira infância. Ali exerceu novamente que não teve medo de enfrentar a morte
suas funções de auxiliar de enfermagem. por um ideal. Um pouco mais de um mês
Em 1976, conheceu o CIMI, órgão empe- antes de morrer, declarou: “eu sou uma
nhado em ajudar a organização indígena, pessoa, marcada para morrer. Mas, por
apoiando assembléias de caciques e uma causa justa a gente morre! Tenho
lideranças. Em abril de 1977, Marçal teve Encontro com o papa João Paulo II. uma tristeza em minha vida: o fato de ser
uma experiência que marcaria a sua vida, sua visita ao país. (...) Somos uma nação bastante idoso. Eu queria ser um moço
ao participar da 8ª Assembléia de Chefes subjugada pelos potentes (poderosos), bem novo, com todas as forças que tive
Indígenas, nas ruínas de São Miguel das uma nação espoliada, uma nação que em minha juventude. Mas gostaria de ter
Missões, no RS. Ali, em 7 de fevereiro está morrendo aos poucos sem encontrar tido então essa consciência, esse amor
de 1756, o líder guarani Sepé Tiaraju e caminho, porque aqueles que nos tomaram que tenho em meu coração, agora, nessa
outros 1,2 mil guaranis foram mortos pelos este chão não têm dado condições para idade. Mas levantarão outros que terão
exércitos português e espanhol. Aquele a nossa sobrevivência. (...) Queremos o mesmo idealismo e que continuarão o
passado guerreiro deve ter dado muita ins- dizer a Vossa Santidade a nossa miséria, trabalho que hoje nós começamos. Isso
piração para Marçal. Nessa Assembléia foi a nossa tristeza pela morte dos nossos eu deixo para vocês!”
redigido um documento, apresentando os líderes assassinados friamente por aqueles Os povos guarani e caiouá tiveram e
problemas que as comunidades indígenas que tomam o nosso chão, aquilo que para ainda têm momentos difíceis. A voz e a
enfrentavam e propondo algumas suges- nós representa a nossa própria vida e a mensagem de Marçal não foram silenciadas
tões. Em 1978, foi criado, em Dourados, nossa sobrevivência neste grande Brasil, com sua morte.
o CIMI - Regional Mato Grosso do Sul, chamado um país cristão. (...) Dizem que
tendo Marçal como assessor de saúde. o Brasil foi descoberto. O Brasil não foi Benedito Prezia é assessor do CIMI, autor de vários livros, entre
Assim, o Conselho Indigenista Missionário descoberto, não, Santo Padre, o Brasil eles “Caminhando na luta e na esperança” (org.), Loyola,
torna-se o espaço que ele precisava para foi invadido e tomado dos indígenas (...). 2003; “Marçal Guarani: a voz que não pode ser esquecida”,
dar voz às reivindicações dos guaranis e Nunca foi contada essa verdadeira história Expressão Popular, 2006.
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São Paulo - SP tarias estaduais do meio ambiente de seis dos nove
Encontro de Organismos Missionários estados que fazem parte da Amazônia.
A Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Os números oficiais apontam que entre agosto de
Missionária e Cooperação Intereclesial e o Conse- 2006 e julho deste ano, a área autorizada de floresta
lho Missionário Nacional promoverão o VII Encontro para desmatamento nos seis estados foi de aproxi-
Nacional de Organismos e Instituições Missionários madamente 930 quilômetros quadrados, porém, as
(Enoim), de 15 a 17 de novembro, no Centro Educativo estatísticas do Ministério do Meio Ambiente mostram
de Assistência Social La Salle, na Vila Guilhermina, que o desmatamento real foi de quase 10 mil quilô-
São Paulo, SP. O encontro reunirá responsáveis por metros quadrados. No sudeste do Pará, os represen-
organismos e instituições missionárias ou relacionadas tantes do Greenpeace
à Dimensão Missionária da Igreja no Brasil. Entre os encontraram queimadas
temas a serem debatidos estão "Missão: paradigma criminosas na intenção
da V Conferência" e "Recepção Missionária do Do- de formar novas pasta-
cumento de Aparecida". gens. É o exemplo da
As assessorias serão do bispo da prelazia de Tefé Floresta Nacional do
e presidente da Comissão para a Ação Missionária Jamanxin, no município
e Cooperação Intereclesial da Conferência Nacional de Novo Progresso. Só
dos Bispos do Brasil, dom Sérgio Castriani; doutor neste ano, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
em Teologia e pós-graduado em missiologia, padre (Inpe) registrou mais de mil focos de incêndios nesta
VOLTA AO BRASIL
Desejo receber MISSÕES
por BOLETO BANCÁRIO
Novo/a leitor/a Renovação
por CHEQUE NOMINAL E CRUZADO
Colaboração anual R$ 40,00 Quantidade por DEPÓSITO BANCÁRIO pelo Banco Bradesco, agência 0545-2 c/c 38163-2
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01 assinatura R$ 40,00 A Revista Missões publica 10 edições no ano.
02 a 09 assinaturas R$ 35,00 cada assinatura Nos meses de Jan/Fev e Jul/Ago a edição é
10 ou mais assinaturas R$ 30,00 cada assinatura bimensal.
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