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Não se evangeliza

sem conhecimento do Evangelho

N
o dia 17 de março, representantes de 29

Arquivo Catolicanet
paróquias de Santo Amaro e um represen-
tante da diocese de São Miguel Paulista,
da Arquidiocese de São Paulo, estiveram
reunidos para a primeira formação do
Curso para a Juventude Missionária, no
convento Santíssima Trindade.
O ambiente lembrando os povos dos cinco con-
tinentes a serem evangelizados foi especialmente
preparado pelas missionárias Servas do Espírito
Santo. A Bíblia, os cartazes, as velas, as cores
e o globo, tudo convidava à oração, fazendo os
presentes refletirem sobre o tema: “o que significa
ser missionário ou missionária?”, com a ajuda dos
padres Gianfranco e Natale, do PIME.
Os padres lembraram que na euforia de querer
servir, pensamos logo em sair para a Missão além-
fronteiras, devido às necessidades apresentadas
nos vários países dos cinco continentes. Segundo eles, essa Paróquia e assim, naturalmente, saímos de nossas fronteiras
disposição é louvável no jovem, mas é preciso lembrar que pessoais e geográficas. Entre dinâmicas, orações, conteúdos
primeiro ele deve se formar alicerçado na Palavra de Deus. “Nin- e confraternização, os participantes, animados, planejam iniciar
guém pode se tornar evangelizador sem conhecer o Evangelho, esta evangelização convidando outros jovens para o próximo
pois quem evangeliza é a Palavra Viva através de nós, e não Encontro de Formação Missionária. Divulgue o Curso Missionário
nossas palavras. Somos apenas instrumentos de proclamação, para jovens de sua Paróquia. Participe você também!
anunciadores da Boa Nova”.
Os formadores lembraram ainda que uma vez conhecida Informações: Catolicanet
a Palavra, esta deve ser proclamada e testemunhada em Fone: (11)5660.6800
nossa própria casa, na escola, no trabalho, na comunidade, na catolicanet@catolicanet.com.br

As crianças e a violência na TV
EDITORIAL
Livres da escravidão
SUMÁRIO
MAIO 2007/04

M
aio nos reserva acontecimentos importantes: mês
das mães, tempo forte de espiritualidade mariana e
período em que finalmente se realiza, em Aparecida,
a V Conferência do CELAM. Temos ainda datas como
o 1º de maio, Dia Internacional dos Trabalhadores e
o dia 13, Dia Nacional de Combate ao Racismo, já
que a assinatura da Lei Áurea em 1888 não garantiu a libertação 1 - Nossa Senhora de Guadalupe,
Padroeira da América Latina.
dos escravos como tanto nos ensinaram. Basta notar que no Brasil, - Santuário de Aparecida.
em pleno século XXI existe um Plano Nacional para a Erradicação Fotos: Arquivo
do Trabalho Escravo, documento de referência para o processo de
extermínio dessa prática no país. A existência do Plano nos leva a 2 - Papa Bento XVI.
Foto: Alberto Pizzoli
concluir que o próprio Estado reconhece o problema.
De acordo com dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT),
os estados do Pará e Bahia estão entre os principais utilizadores
de mão-de-obra escrava. O primeiro, recordista nacional em casos,  MURAL DO LEITOR--------------------------------------04
viu 7.985 pessoas serem libertadas em seu território entre 1995 e Cartas
setembro de 2006. O número representa 36,4% do total do país  OPINIÃO--------------------------------------------------05
nesse período (21.949). A Bahia, terceira colocada neste triste As crianças e os meios de comunicação social
Renato Papis
ranking, teve 2.112 libertados ou 9,6% do total. No Maranhão a
situação é duplamente preocupante. O estado está em quarto lugar  PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07
em libertações (1.986 ou 9%) e, ao mesmo tempo, é a principal ori- Quer ser vencedor? Seja perseverante
Rosa Clara Franzoi
gem dos resgatados da escravidão, seguido pelo Piauí, de acordo
com dados do Ministério do Trabalho e Emprego e da Organização  VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08
Internacional do Trabalho. Notícias do Mundo
CNBB / Fides / Notícias do Planalto
Andre Vieira

Com o lançamento da política


contra o tráfico de pessoas, ganha  ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10
Discipulado: arte de ouvir e pôr-se a caminho
força a “lista suja” do trabalho escra- Rogério Gomes
vo, onde figuram pessoas e empresas
que comprovadamente utilizaram  TESTEMUNHO-------------------------------------------12
Uma mãe que fez a diferença
esse tipo de mão-de-obra. A lista Sônia Lobo de Carvalho
conta atualmente com 178 nomes.
Com base nela, órgãos públicos e  FÉ E POLÍTICA -------------------------------------------14
O custo da fidelidade nos partidos políticos
privados vêm desenvolvendo ações Humberto Dantas
que contribuem no combate ao tra-
 FORMAÇÃO MISSIONÁRIA----------------------------15
balho escravo. O documento prevê V Conferência do CELAM
mais fiscalização aos relacionados Antonio Bonanomi e Ramón Cazallas Serrano
e reafirma a exclusão deles em lici-
 MISSÃO HOJE-------------------------------------------19
tações e no acesso ao crédito rural. Uma família missionária
Hoje, a lista é vista pelas entidades Servílio Conti
que lutam contra o problema como  DESTAQUE DO MÊS -----------------------------------20
um dos principais instrumentos no combate à escravidão. Além da Maria e os rostos da V Conferência
formação de agentes multiplicadores na erradicação do trabalho Alfredo J. Gonçalves
escravo, o documento prevê a fiscalização do deslocamento de  ATUALIDADE----------------------------------------------22
trabalhadores para localidades fora de seu município de origem. Santo Frei Galvão, rogai por nós!
Isso busca diminuir a vulnerabilidade do trabalhador e acelera o José Tolfo
processo de reforma agrária nessas regiões.  INFÂNCIA MISSIONÁRIA-------------------------------24
No centro da V Conferência, realizada no Santuário da Mãe Uma chama de amor
Aparecida cuja imagem - pescada no rio Paraíba do Sul por pobres Roseane de Araújo Silva
pescadores - é negra, encontra-se o tema “Discípulos e missionários  JUVENTUDE MISSIONÁRIA ----------------------------25
de Jesus Cristo para que nele nossos povos tenham vida”. Reunida Metodologia da Juventude Missionária
Vitor Menezes
com Maria, a Igreja da América Latina e do Caribe terá no seu co-
ração as esperanças e angústias dos povos deste continente com  ENTREVISTA DOM PEDRO LUIZ STRINGHINI-------26
todas as suas expressões e história. Fiel a Jesus de Nazaré que Bendito o que vem em nome do Senhor!
Jaime Carlos Patias
foi consagrado e enviado para “anunciar a Boa Notícia aos pobres,
proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da  AMAZÔNIA-----------------------------------------------28
vista; para libertar os oprimidos...” (Lc 4,18-19) a Igreja deve dar Universitários em Missão
Alexandre C.Selister, Édison Hüttner e Zita Bonai
continuidade à sua Missão como discípula e missionária. Em Jesus,
Caminho e Verdade, nossos povos têm Vida livre de toda escravidão  volta ao brasil---------------------------------------30
Notícias do Brasil
e discriminação.  Agência Ecclesia / CNBB / Notícias do Planalto

- Maio 2007 3
Mural do Leitor
Ano XXXIV - Nº 04 Maio 2007 Revista Missões Esta revista divulga mensagens a
respeito da Missão da Igreja. Sejamos mis-
Diretor: Jaime Carlos Patias Sempre que recebo um novo número sionários e missionárias indo ao encontro
de Missões fico muito contente, pois para das pessoas que se afastaram e também
Editor: Maria Emerenciana Raia mim ela é uma fonte de formação. A tenhamos a preocupação da Missão da
revista me ajuda a viver melhor a minha Igreja no mundo. “Ide pelo mundo inteiro
vocação cristã e missionária; vocação que e proclamai o Evangelho a toda criatura”,
Equipe de Redação: José Tolfo,
recebi no batismo. O seu rico conteúdo disse Jesus aos discípulos.
Ramón Cazallas, Patrick Gomes Silva e
ajuda a alargar os meus horizontes e
Rosa Clara Franzoi
perceber que, muitas realidades negati- Padre Vital Corbellini,
vas da atualidade também são de minha Caxias do Sul, RS (ORKUT)
Colaboradores: Vitor Hugo Gerhard,
responsabilidade.
Lírio Girardi, Luiz Balsan, Joaquim F.
As matérias-testemunho de missioná- É muito bom ter um veículo de comu-
Gonçalves, Roseane de Araújo Silva, rios e missionárias, leigos, padres, irmãos nicação como a revista Missões! Ainda
Humberto Dantas, Luiz Carlos Emer, e irmãs são fortes e chamam a atenção mais nesse novo amanhecer iluminado
Camilo Solano para a nossa participação em sua missão pela V Conferência Geral do Episcopado
e, ao mesmo tempo, lembra-nos, o dever Latino-Americano e do Caribe em Apa-
Agências: Adital, Adista, CIMI, que temos de apoiá-los. Há pouco tempo, recida que parece que irá nos despertar
CNBB, Dom Hélder, IPS, MISNA, tivemos a oportunidade de presenciar a ainda mais para a Missão. Missão longe,
Pulsar, Vaticano partida de dois sacerdotes que retornavam Missão perto, Missão jovem, Missão hoje,
para a Missão. O entusiasmo deles era Missão sempre. É tempo de despertar
Diagramação e Arte: Cleber P. Pires tão contagiante que motivou ainda mais para a Missão, descer às bases, se fazer
a nossa atuação nos trabalhos pastorais próximo ao povo. Comungar de suas dores
Jornalista responsável: da comunidade. Seguindo o exemplo do e alegrias. Celebrar as lutas, celebrar a
Maria Emerenciana Raia (MTB 17532) Bem-aventurado José Allamano, que sem Páscoa do cotidiano na Páscoa do Senhor
nunca ter pisado em terras de Missão, Ressuscitado. A Missão continua...
Administração: Eugênio Butti conseguiu inflamar o coração e a vida de
tantos missionários e missionárias para que Éder Massakasu Aono,
Sociedade responsável: deixassem tudo e partissem além-frontei- Sorocaba, SP (ORKUT)
Instituto Missões Consolata ras, a revista Missões se preocupa em criar
(CNPJ 60.915.477/0001-29) o mesmo ideal e amor pela Missão. Há dez anos sou leitora de Missões.
Agradeço aos que fazem este trabalho Aprecio muito a revista, pois, especialmen-
Impressão: Edições Loyola de comunicação, dando-nos uma oportu- te, nestes últimos anos, ela se apresenta
Fone: (11) 6914.1922 nidade de conhecer a Igreja Missionária. bem comprometida com as situações de
Parabéns! Continuem, pois o bem que Missão, tratando-as com coragem e ao
Colaboração anual: R$ 40,00 nos fazem é imenso. Sempre que leio mesmo tempo, com serena espontaneida-
BRADESCO - AG: 545-2 CC: 38163-2 a revista, guardo em meus arquivos a de. A formação e a informação missionárias
Instituto Missões Consolata síntese dos assuntos principais, o que que a revista proporciona aos leitores é
(a publicação anual de Missões é de 10 números) me tem ajudado muito nos trabalhos um convite a ir ao encontro do outro; daí a
da comunidade. Noto que nos últimos missão no plural, identificando a pluralidade
anos, a revista vem trazendo cada vez de ações na vida missionária. Quando
Missões é produzida pelos
mais a Missão para perto de nós, como divulgo a revista na Expo Católica - que
Missionários e Missionárias da Consolata
apelo a um conhecimento muito maior. acontece todos os anos - sinto uma alegria
Fone: (11) 6256.7599 - São Paulo/SP
Uso a oportunidade para convidar todos, muito grande porque vejo que as pessoas
(11) 6231.0500 - São Paulo/SP
jovens e adultos e também as crianças, demonstram interesse. Além dos demais
(95) 3224.4109 - Boa Vista/RR
pois elas têm uma página a elas dedica- artigos, estou seguindo com interesse as
da, a se tornarem assíduos leitores de matérias de reflexão sobre as Conferên-
Membro da PREMLA (Federação de Imprensa Missões. As informações de qualidade cias do CELAM. Como membro dos LMC
Missionária Latino-Americana) e da UCBC em assuntos políticos, sociais e religio- (Leigos Missionários da Consolata), sinto
(União Cristã Brasileira de Comunicação Social) sos, nos fazem crescer muito na fé e na que a revista complementa os estudos que
religião. Fui seminarista, e mesmo não fazemos sobre os ensinamentos de José
Redação tendo chegado ao sacerdócio, sempre me Allamano. Além disso, é, em nossos dias,
Rua Dom Domingos de Silos, 110 mantive próximo daqueles que o vivem um apelo para uma vivência mais voltada
02526-030 - São Paulo intensamente. à valorização do ser humano, material e
Fone/Fax: (11) 6256.8820 espiritualmente.
Site: www.revistamissoes.org.br José Perini, ministro da Eucaristia,
E-mail: redacao@revistamissoes.org.br Paróquia Nossa Senhora Consolata, Maria de Lourdes Néres
Jardim São Bento, São Paulo, SP. Comunidade Jardim Peri, SP.

4 Maio 2007 -
As crianças e os meios de

OPINIÃO
comunicação social
de Renato Papis
A educação recebe grande influência dos
meios de comunicação social.

A
Igreja celebra, no dia 20 de maio, a 41ª edição do
Dia Mundial das Comunicações Sociais com o tema:
As crianças e os meios de comunicação social: um Bento XVI cita também sua preocupação com os programas
desafio para a educação. A mensagem foi divulgada e produtos feitos visando o público infanto-juvenil: “Como é que
aos jornalistas, pelo papa Bento XVI, no dia 24 de se poderia explicar este ‘entretenimento’ aos numerosos jovens
janeiro, por ocasião da passagem do dia do padroeiro inocentes que realmente são vítimas da violência, da exploração
da profissão, São Francisco de Sales. Na Igreja do Brasil, por e do abuso?”
decisão dos bispos, o Dia Mundial das Comunicações é celebrado Gostemos ou não, sabemos que as crianças e os adolescentes
no dia da Ascensão do Senhor, pois antes de ir para junto de seu da atualidade nasceram na era dos videogames, com os quais se
Pai, Jesus enviou os discípulos em missão pelo mundo inteiro divertem e se formam. Também dominam os celulares, câmaras
para comunicar a mensagem do Reino de Deus. digitais, palms e tantas outras novas tecnologias da informação
Em sua mensagem, o papa convida à reflexão sobre dois como orkut, blogs e MSN. Entretanto, apesar dessas novas for-
temas importantes. O primeiro, a formação das crianças; o mas de comunicação serem instrumentos de entretenimento e de
segundo, a formação dos meios de comunicação social. E produção cultural, a maioria, infelizmente, apela para temáticas
acrescenta: “os complexos desafios que se apresentam para a nada humanas e cristãs: a violência, o terrorismo, a sociedade
educação nos dias de hoje estão freqüentemente vinculados à capitalista e de consumo. Para uma reflexão mais precisa des-
ampla influência dos meios de comunicação social”. se envolvimento da mídia com as crianças e adolescentes, a
Comissão para a Cultura, Educação e Comunicação Social da
CNBB elaborou um subsídio, que traz como tema o próprio Dia
Mundial das Comunicações, publicado pela Editora Paulinas: As
crianças e os meios de comunicação social: um desafio para a
educação. Na introdução, dom Orani João Tempesta, presidente
da Comissão, sugere que seja usado na Semana da Comuni-
cação, a ser celebrada em todas as dioceses como lembra o
documento 59 da CNBB “Igreja e comunicação rumo ao novo
milênio”, aprovado na 35ª. Assembléia dos Bispos.
O papa conclui a mensagem dando uma missão aos cris-
tãos: “A própria Igreja, à luz da mensagem de salvação que lhe
foi confiada, é também uma mestra de humanidade e valoriza
a oportunidade de oferecer assistência aos pais, educadores,
comunicadores e aos jovens”. E é por isso que é importante
participarmos ativamente desse processo, junto com a nova
geração high tech. Não só apertar botões, mas entender o
porquê de estar lá, criando assim, sujeitos que saibam usar e
ler criticamente essas mídias.
Enfim, são muitos os desafios. O importante é que essas
discussões vêm ganhando cada vez mais espaço dentro da
Igreja. 

Renato Papis é estudante de jornalismo e membro da Pastoral da Comunicação.

Os agentes da Pastoral da Comunicação e os interessados


podem comprar o livro pela internet, através da loja virtual:

www.paulinas.com.br
ou nas livrarias Paulinas de todo o país.

- Maio 2007 5
Bispos, religiosos e leigos
ameaçados de
morte
E
ntre os cinco religiosos marcados
para morrer no Pará estão um O Pará, onde a irmã Dorothy
bispo e quatro padres. Três bispos
integram a lista dos jurados de Stang foi assassinada em
morte na Amazônia, revelando
um aumento das ameaças contra 2005, é o estado com o
religiosos envolvidos em questões sociais
e ambientais, fato que vem preocupando maior número de ameaçados.
a Igreja.
Informações da Secretaria Nacional de
Direitos Humanos e de pastorais sociais dão
conta da existência de uma lista com dez
nomes de pessoas marcadas para morrer, Irmã Dorothy Stang
todos da Região Amazônica e todos envol- Dom Erwin Kräutler
vidos com questões sociais e ambientais.
Três deles são bispos. A situação preocupa, Dom Antônio Possamai
tendo em vista a proximidade da chegada
do papa Bento XVI ao Brasil.
O Pará, onde a irmã Dorothy Stang
foi assassinada em 2005, é o estado com de Rondônia localizada na fronteira do Brasil
maior número de ameaçados: cinco pessoas com a Bolívia e dom Antônio Possamai, de
da lista. Rondônia aparece em segundo Ji-Paraná, no mesmo Estado.
lugar, com três nomes e Mato Grosso em Orlanda Alves, secretária da CNBB,
terceiro, com dois. disse que a Conferência defende uma Igreja
Na prelazia pa­raense do Xingu, que cada vez mais engajada nas causas do
engloba o município de Anapu, onde irmã povo. “Não podemos abandonar a missão
Dorothy vivia, o bispo Erwin Kräutler está que Deus nos deu. Vamos lutar por uma
sendo obrigado a fazer as visitas pastorais Igreja mais justa e igualitária na Amazônia.
com um agente de segurança da Polícia Jesus morreu na cruz para nos salvar,
Militar ao seu lado. O mesmo ocorre com defendendo esses ideais. Não podemos
o frade dominicano e advogado Henri desistir”, afirma.
des Roziers, que trabalha no escritório Mary Cohen, presidente da Comissão
da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de de Direitos Humanos da OAB-PA, lembra
Xinguara, também no Pará. que os religiosos ameaçados são contra os
O padre Amaro, que trabalhava em latifúndios da soja na Amazônia, contra os
Anapu juntamente com irmã Dorothy, dis- grileiros e até contra a viabilização de projetos
pensou o esquema de segurança, em razão como a construção da hidrelétrica de Belo
de que as despesas com os dois policiais Monte. “Essa posição contraria grupos pode-
teriam que correr por sua conta. Os padres rosíssimos daqui e de fora do Brasil e gera
Edilberto Sena, José Boeing e José Blans, essas ameaças. Não queremos o confronto,
a Ir. Leonora Brunetto e um agente pastoral mas apenas o debate de idéias. Como esses
do CIMI completam a lista. grupos não possuem argumentos, partem
Além de dom Erwin, os bispos que para a violência”, ressalta. 
receberam ameaças foram dom Geraldo
Verdier, da diocese de Guajará-Mirim, região Fonte: Diário do Pará

6 Maio 2007 -
Quer ser vencedor?

pró-vocações
Seja perseverante

Divulgação
de Rosa Clara Franzoi O heroísmo está em persistir no
caminho começado, renovando o

A
ndando pelo caminho, certamente, você já deve ter propósito de avançar um pouco
visto alguma construção inacabada e abandonada.
Paredes pela metade, areia, tijolos amontoados e todos os dias.
expostos às intempéries, tudo se perdendo. Logo
vem espontânea a pergunta: quem será o dono dessa
obra? O que teria acontecido? Na verdade, as respos-
tas não nos interessam. O que realmente deve nos interessar
é que, esse fato é um belo exemplo do que pode acontecer e
realmente acontece na vida de muita gente. Vamos ao prático:
eu conheço e você também deve conhecer pessoas, que com o
entusiasmo a todo vapor iniciam, por exemplo, uma faculdade,
uma carreira, uma modalidade esportiva; e passado algum tempo,
desistem no meio do caminho. Simplesmente, jogam pela janela
aquela oportunidade, que certamente, não voltará nunca mais;
e que, poderia estar nela, a solução de um futuro acertado. É
muito comum perceber esse tipo de comportamento em muitos
adolescentes, jovens e em adultos também. São pessoas, que nho, seguem adiante. Iniciar algo, nunca foi sinal de heroísmo.
não foram educadas a enfrentar a vida, a serem persistentes e O heroísmo está em persistir no caminho começado, passo a
decididas naquilo que assumem. passo, renovando o propósito de avançar, todos os dias, todas
as horas, todos os minutos e todos os segundos.
Persistir é acreditar
A perseverança não é nada fácil; adquire-se com muito Continuar navegando sempre
sacrifício, renúncia e enérgica força de vontade. Começar as Temos muitos exemplos de pessoas persistentes que che-
coisas é muito fácil; porque todo começo tem sabor de novida- garam ao objetivo proposto. Todos nós conhecemos, só para
de. Ao passo que a continuidade é, muitas vezes, monótona e citar um caso, a história de Cristóvão Colombo, o descobridor
pesada. É por isso que, quando se lança algum concurso, há de novas terras. Ele sonhou, acreditou naquele sonho, o assu-
multidões que se inscrevem e que iniciam; mas são poucos que miu como ideal e lançou-se à tarefa. Foi fácil? Sabemos que
continuam e só alguns chegam ao término. Qual seria o segredo não. Durante a longa travessia, quantos perigos. As semanas
destes que se tornam vitoriosos? Assim que eles se propõem um passavam com pés de chumbo e a terra custava aparecer. Em
objetivo, fixam nele o olhar e depois, começam a empatar todas meio a tanta incerteza e cansaço, um dia, os marujos lhe per-
as suas energias e por mais difícil e cansativo que seja o cami- guntaram: “Chefe, que faremos quando tiverem morrido todas as
esperanças?” O experiente descobridor genovês respondeu: “Ao
raiar do dia, vocês dirão: continuamos navegando, navegando,
Quer ser um missionário/a? sempre navegando”. Magnífica resposta de fé, perseverança,
coragem e tenacidade com a causa assumida. Continuar na-
Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva Moratelli vegando, significava vencer o mar revolto que assustava, o sol
Av. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui que queimava, a chuva que molhava, o frio que enrijecia os
02611-001 - São Paulo - SP membros... Atitudes estas, de quem tem a certeza de vencer.
Tel. (11) 6231-0500 - E-mail: rebra@uol.com.br Problemas, tensões, conflitos; quem não os tem? Nada resolve
se os enfrentarmos com pessimismo e desânimo.
Centro Missionário “José Allamano” - Pe. José Tolfo Caro jovem! O seu futuro vai depender da seriedade com que
Rua Itá, 381 - Pedra Branca
02636-030 - São Paulo - SP você encara o hoje com seus acontecimentos. Coragem! Siga o
Tel. (11) 6232-2383 - E-mail: secretariamissao@imconsolata.org.br conselho do jornalista e comunicador gaúcho Renato Zanolla: “Se
cair, levante-se; se atrasar, não desanime; se outros forem à frente,
Missionários da Consolata - Pe. César Avellaneda siga-os; mas avance sempre, na direção do horizonte que você se
Rua da Igreja, 70-A - CXP 3253 propôs”. E se quiser continuar a reflexão, leia Cor 9, 24-27. 
69072-970 - Manaus - AM
Tel. (92) 624-3044 - E-mail: amimc@ibest.com.br
Rosa Clara Franzoi é missionária e animadora vocacional.

- Maio 2007 7
Além disso, foram traçadas as linhas de coopera-
ção em nível nacional e diocesano para promover
o CAM 3 em todo o Equador. Aprovada também
a preparação e a realização dos Pré-Congressos
Missionários Americanos em cada uma das Igrejas
particulares, e indicados os critérios para escolher os
congressistas que participarão do CAM 3. Também
foi apresentada a primeira redação do “Instrumento
de Trabalho”, para que possa ser examinada e para
que os interessados possam exprimir opiniões e
pontos de vista. Em março se realizou em Lima, no
Peru, a reunião dos Diretores Nacionais das POM
da América Latina: foi apresentado o Instrumento de
trabalho para que os diretores possam se expressar
a propósito. Este Instrumento é fruto de quase dois
anos de trabalho da Comissão Teológica, que recebeu
diversas contribuições. Atualmente, uma Comissão
se encarregará da nova redação para apresentá-la à
Comissão Central do CAM3, à Conferência Episcopal
VOLTA AO MUNDO

Angola Equatoriana e à Congregação para a Evangelização


Cinco anos da paz dos Povos. Prevê-se que a redação definitiva possa
“A viva participação dos fiéis no Domingo de Ramos ser apresentada no mês de agosto ao II Simpósio
e durante toda a Semana Santa foi um sinal de que a Internacional de Missiologia, para distribuí-la depois
população encontra refúgio e força na fé e na Igreja, a todo o continente, para que possa ser estudada. A
portadora de esperança”, afirmaram fontes da Igreja Secretaria Executiva do CAM 3 preparou dois opúscu-
local de Luanda, capital de Angola. “Os ritos da Semana los de caráter missionário para os jovens, que foram
Santa foram muito importantes para a população local, distribuídos em todos os países da América Latina,
apesar de coincidirem com a festa nacional pelos cinco para que eles se formem no aspecto missionário como
anos da assinatura dos acordos de paz, que colocaram preparação ao Congresso. Dada a importância que
fim a 27 anos de guerra civil”. A paz entre o governo a Conferência Episcopal Equatoriana está atribuindo
angolano e a União Nacional para a Independência à preparação e à celebração do CAM 3-COMLA 8, a
Total de Angola foi assinada em 4 de abril de 2002, CXVIII Assembléia Plenária dos Bispos do Equador
colocando fim à guerra civil iniciada em 1975, após terá por tema “A Dimensão Missionária da Igreja”.
a independência do país de Portugal. “A festa civil,
portanto, se inseriu no contexto da esperança cristã, Iraque
que deriva da Ressurreição”, continuaram as fontes. Quatro anos de ocupação
“Angola necessita desta esperança, porque as feridas Após completar quatro anos da invasão das tropas
da guerra são profundas e difíceis de sanar. A Igreja dos Estados Unidos no Iraque, no dia 20 de março,
continua levando sua contribuição à vida civil e social milhares de iraquianos foram às ruas no dia 9 de abril
também graças a obras como a Universidade Católica para protestar contra a guerra, na cidade de Najaf,
de Angola, que recentemente iniciou suas atividades. ao sul da capital, Bagdá. Para conter a mobilização,
As igrejas ficaram lotadas de fiéis que se aproximavam a polícia iraquiana instalou vários postos de controle
do sacramento da Reconciliação, e os sacerdotes nas estradas que ligam a cidade ao resto do país,
tiveram dificuldade de atender todos os pedidos. A mas isso não foi suficiente para impedir que Najaf
Igreja angolana, como em toda a África, conta com fosse ocupada pelos manifestantes. Bandeiras dos
os catequistas para o anúncio da Palavra, mas os Estados Unidos foram queimadas e frases como “que
sacramentos devem ser ministrados pelos sacerdotes a América caia” e “Bush é um cão” foram pintadas
que, apesar das vocações em crescimento, nunca pela cidade. O chamado para a manifestação partiu
são suficientes”. O fato das igrejas ficarem assim tão do líder xiita Moqtada al-Sadr, considerado um dos
lotadas é ainda mais significativo se pensarmos nas principais alvos das tropas por coordenar uma milícia
dificuldades que os fiéis encontram para chegar até de resistência à invasão do Iraque pelos Estados
os locais de culto, sobretudo nos “barrio”, os bairros Unidos. Com o pretexto de combater o terrorismo e
periféricos, por causa do tráfico, que se tornou caótico denunciar a existência de armas nucleares no Iraque, a
nos últimos anos. invasão já resultou em mais de 650 mil civis iraquianos
mortos, cerca de dois milhões de refugiados e mais
Equador de 3,5 mil mortes entre as tropas estadunidenses.
Rumo ao CAM 3-COMLA 8 E até hoje nenhuma arma de destruição em massa
Continua o caminho em direção ao Terceiro Con- foi encontrada em território iraquiano. Mesmo com a
gresso Missionário Americano (CAM 3), que terá lugar oposição da Organização das Nações Unidas (ONU) e
em Quito, de 12 a 17 de agosto de 2008, segundo das diversas manifestações em todo o mundo contra
Osvaldo Fierro Terán, secretário-executivo do CAM a guerra, o presidente dos EUA, George W. Bush
3. Em fevereiro, durante o encontro dos diretores insiste em pedir mais recursos ao Congresso para o
diocesanos das Pontifícias Obras Missionárias do envio de novas tropas. 
Equador, foi aprovada a programação nacional para
encorajar e apoiar a ação missionária em todo o país. Fontes: CNBB, Fides, Notícias do Planalto.
8 Maio 2007 -
INTENÇÃO MISSIONÁRIA
de Vitor Hugo Gerhard A fim de que nos territórios de missão não faltem
formadores bons e iluminados nos seminários

P
ara o tema sugerido neste mês, recordemos algumas
idéias expressas no Decreto Conciliar Ad Gentes, entre maiores e nos Institutos de Vida Consagrada.
os números 25 a 30.

Arquivo
Cheios de fé viva e esperança indefectível, os que
atuam em terras de missão sejam homens de oração;
ardam no espírito de fortaleza, de caridade e de temperança;
aprendam a bastar-se com o que têm; pelo espírito de sacrifício,
levem em si o estado de morte de Jesus, a fim de que a vida
de Jesus opere naqueles aos quais é enviado; com verdadeiro
zelo gastem tudo e desgastem-se a si mesmos pelo bem das
almas, de tal forma que “mediante o exercício diário do seu mi-
nistério, cresçam no amor de Deus e do próximo”. Desta sorte,
obedecendo com Cristo à vontade do Pai, continuarão a Sua
missão sob a autoridade hierárquica da Igreja, e cooperarão no
mistério da salvação.
Assim, todos os missionários — sacerdotes, irmãos, irmãs,
leigos e leigas — sejam preparados e formados, cada qual segundo
a sua condição, de maneira a estarem à altura das exigências Encontro de jovens formandos IMC e MC, São Paulo, 2006.
do trabalho futuro. Já desde o começo, de tal modo se processe mesma obra missionária, como prova a experiência, não pode
a sua formação doutrinal, que abranja tanto a universalidade ser realizada individualmente, a vocação comum reuniu-os em
da Igreja como a diversidade das nações. E isto vale tanto de Institutos, nos quais, pelo esforço comum, se formassem con-
todas as disciplinas, em que se formam para o desempenho do venientemente e executassem essa tarefa em nome da Igreja
ministério, como das disciplinas úteis para o conhecimento dos e segundo a vontade da autoridade hierárquica. Os Institutos,
povos, das culturas, das religiões, com vistas não só ao passado, desde há muitos séculos têm suportado o peso do dia e do calor,
mas, também ao tempo presente. consagrando-se inteiramente ou em parte à empresa apostólica.
Haja também pessoal preparado de modo mais profundo em Muitas vezes a Santa Sé confiou à sua evangelização vastos
Institutos Missiológicos ou em outras Faculdades ou Universidades, territórios, nos quais reuniram para Deus um novo povo, uma
que possa desempenhar cargos de maior responsabilidade, e, Igreja local à volta dos seus próprios pastores. A essas Igrejas,
com a sua ciência, auxiliar os outros missionários no exercício fundadas à custa do seu suor e até do seu sangue, prestarão
da obra evangelizadora, que, na hora atual, apresenta tantas serviço com zelo e experiência em fraterna cooperação, seja na
dificuldades e oportunidades. cura das almas, seja em cargos especiais em função do bem
Tudo isto, embora absolutamente necessário a cada um dos comum. 
enviados ao campo do apostolado, na realidade, dificilmente
pode ser conseguido pelos indivíduos isolados. Visto que a Vitor Hugo Gerhard é sacerdote e coordenador de pastoral da Diocese de Novo Hamburgo, RS.

Na China, a Páscoa foi ocasião para evangelizar

B
atismo dos catecúmenos e acolhimento dos novos mem- conciliação e puderam, portanto, receber também a comunhão
bros na comunidade cristã, retorno dos fiéis que tinham durante a solene Eucaristia, em que foram batizados cerca de
se afastado da Igreja, e evangelização por meio da 30 adultos. Na diocese de Zheng Zhou, capital da província de
difusão da alegria da Ressurreição: essas são algumas He Nan, 33 catecúmenos receberam o batismo na Catedral. A
características de como foi vivida a Santa Páscoa por diversas Santa Páscoa da diocese de Xi An, capital da província de Shaan
comunidades católicas chinesas. A diocese de Ba Meng, do interior Xi, foi centralizada em um objetivo preciso: “abrir as portas para
da Mongólia, publicou duas mil cópias do boletim “A Boa Nova divulgar a Igreja às pessoas”. As solenes celebrações da Vigília
da Santa Páscoa”, levando adiante a evangelização através dos Pascal e da Páscoa aconteceram na grande praça diante da
meios de comunicação de massa iniciada no Natal. Os boletins Catedral. Os sacerdotes da diocese de Gui Lin, na província de
foram distribuídos também aos não-católicos. Além disso, 43 Guang Xi, passaram a Páscoa visitando as diversas paróquias e
catecúmenos foram batizados. Logo depois, eles se colocaram comunidades rurais, para garantir a todos a celebração da Santa
na fila no “cortejo da evangelização”, que é um modo de levar Missa. Devido à escassez de clero, um sacerdote celebrou três
a alegria da Páscoa a todos. A paróquia de Qu Zhou da diocese vezes no mesmo dia o batismo dos catecúmenos e a solene
de Han Dang, na província de He Bei, se dedicou a reaproximar Eucaristia Pascal. Na diocese de Xian Yang, da província de
fiéis que tinham se afastado da Igreja. Graças ao cuidadoso Shaan Xi, a celebração pascal foi caracterizada pelo acolhimento
esforço dos sacerdotes, eles celebraram o sacramento da Re- dos não-cristãos. Fonte: Fides

- Maio 2007 9
Discipulado
espiritualidade

Às vésperas da
V Conferência do
Episcopado Latino-

arte de ouvir e
Americano e do Caribe,
uma reflexão sobre o que
é ser discípulo hoje.

pôr-se a caminho Outro termo é mimeonai – imitar, imi-


Arquivo

tador – o discípulo era então um imitador


das ações do mestre e não tinha autono-
mia. E por fim, opisô – ir atrás, depois,
detrás, vir depois. O discípulo era aquele
que andava atrás do mestre. Ir atrás era
participar da comunhão e da vida daquele
que era sábio, bem como estabelecer
vínculo total da personalidade em relação
àquele ensinamento.
O discípulo seguia um profeta, um
mestre ou um sábio e era ensinado por
ele e aderia a esse ensinamento (Is 8, 16;
Mt 10, 24; Mc 2, 18).
Os doze são denominados discípulos
(Mt 10, 1) e possuem encargos de fazer
discípulos todos os povos. Em At 21, 16
toda a pessoa que adere a Jesus é chamada
discípula, inclusive as mulheres.
Encontro de formação IMC e MC, São Paulo, 2006. Esclarecido o termo, algumas expe-
riências de discipulado destacam-se nas
de Rogério Gomes Origens do termo Escrituras.
A palavra discípulo, no seu conjunto,

U
traz uma gama de significados e uma O discipulado do Êxodo
m tema importante para a es- extensa explicação etimológica, mas que O Êxodo do povo de Israel foi uma
piritualidade e a vida espiritual é preciso compreender, pois está na raiz experiência de discipulado. Enquanto
é o discipulado, embora não do discipulado. não escutou a palavra de Javé, por meio
seja tão fácil compreendê-lo O hebraico traz duas palavras cor- de Moisés, e não se colocou a caminho,
e colocá-lo em prática. No relatas: lamad – aprender e ensinar, ser não se tornou livre. O Êxodo ensina que
mundo grego era uma prática instruído, versado e entendido; e o subs- o discipulado só é verdadeiro quando é
comum. Os filósofos tinham suas escolas. tantivo limmûd – discípulo, aluno, erudito, libertador.
Sócrates ensinava seus discípulos pelo alguém que pode ser ensinado, instruído, Javé foi o grande mestre de Israel e
método da interrogação, a maiêutica, treinado. Outro verbete é talmid – estu- todos aqueles que ouviram e colocaram
uma técnica de dar à luz idéias novas. dante, discípulo subordinado a um rabino. em prática sua palavra foram seus discí-
Existiam os filósofos peripatéticos que Em Israel os talmidim eram considerados pulos. Dentre os textos que mencionam a
ensinavam seus discípulos caminhando. aprendizes da Torá. Daí deriva-se a pa- experiência da libertação há dois blocos
No judaísmo o conceito de discípulo surge lavra Talmude. que comprovam a pedagogia de Deus,
na época do Segundo Templo (515 aC a No Novo Testamento aparece 250 como ensinamento, para que aquele povo
70 dC) e esta palavra é notada apenas vezes a palavra mathetes, relacionada a pudesse viver em plenitude. São o Decálogo
uma vez, em 1Cr 25, 8. É nos escritos aprendiz, aluno, discípulo aprendiz. Uma e a sua explicitação (Ex 20-24; Dt 5-6).
do Novo Testamento que o termo é mais pessoa era chamada mathetes quando Este último, o Deuteronômio, apresenta
aprofundado, especialmente a partir de vinculada a uma outra, um professor/mestre um dos credos do antigo Israel: “amanhã,
Jesus. No entanto, a partir das Escrituras possuidor de conhecimentos práticos e quando o teu filho te perguntar: que são
buscaremos ampliá-lo. teóricos ou um ensinamento doutrinário. estes testemunhos e estatutos e normas

10 Maio 2007 -
Alexandre Campos Selister
que Javé nosso Deus vos ordenou?, Cristo, sua vida, sua paixão, morte e
dirás ao teu filho: Nós éramos escravos ressurreição. É uma decorrência profunda
do Faraó no Egito, mas Javé nos fez sair da Páscoa. Jesus ressuscitado aparece
do Egito com mão forte. Aos nossos olhos à comunidade e diz: “Como o Pai me en-
Javé realizou sinais e prodígios grandes viou, também eu vos envio. Dizendo isso,
e terríveis contra o Egito...” (Dt 6, 20-23). soprou sobre eles e lhes disse: Recebei
Este memorial põe todo Israel como ouvinte o Espírito Santo” (Jo 20, 21s).
atento da Palavra de Javé, recordando a Os novos discípulos recebem o Espírito
salvação do povo. e são enviados ao mundo, em meio às
contradições, para mostrar o que Deus fez
O discipulado profético pelos seres humanos através de Jesus.
Um dos grandes profetas de Israel Desse modo, amplia-se o jeito de seguir
e muito mencionado na Bíblia é Elias, a Cristo.
responsável por consolidar o monoteísmo Nos Atos dos Apóstolos o nome dis-
em Israel (1Rs 17-22; 2Rs 2, 1-18), com- cípulo ganha novo significado. Todos os
batendo o deus Baal e toda a sua corte. batizados que aderem ao ensinamento
Certo dia encontra Eliseu e lança o manto de Jesus e sua doutrina são chamados
sobre ele (1Rs 19, 19-21), transmite-lhe de discípulos (At 6, 1).
a missão, o discipulado da Palavra e da Durante muito tempo pensava-se que
fidelidade a Javé. aderir a Jesus era ser mimeonai – isto
O profeta é um discípulo, porque tem é imitá-lo, ou ser imitador, tentando ser
que escutar profundamente a Palavra do uma cópia fiel do Mestre. Hoje, fala-se
Senhor. Em Isaías encontramos: “O Senhor em seguimento, pois isso contempla as
Javé me deu uma língua de discípulo, para ações de Jesus, todo o seu ministério, sua
que eu saiba encorajar os desanimados. entrega e obediência filial, levando em
Cada manhã me desperta, desperta meu consideração a autonomia e a criatividade
ouvido para que eu escute como discípulo” daqueles que O seguem.
(Is 50, 4). Constata-se que o profeta não é Outra característica do discipulado é
um discípulo passivo, mas é alguém que a fé. Não convivemos com Jesus, todavia,
anuncia, denuncia e condena os erros e, recebemos de nossos antepassados esta
ao mesmo tempo, tem os seus ouvintes, riqueza, portanto, somos portadores do ke-
um povo, que pode aderir ou não à sua rigma, a mensagem viva Dele neste mundo.
palavra. Assim, pelo nosso batismo testemunhamos
Os profetas foram discípulos da Palavra que ele está mais vivo do que nunca por
libertadora e fiel de Javé e exerceram seu Universitários da PUC-RS em Missão, Ji-Paraná, RO. meio de sua Palavra nesta realidade com
discipulado questionando a infidelidade de todas as contradições históricas.
Israel, sua cabeça dura, suas injustiças, ele (Lc 8, 38s); o jovem rico não suportou
as situações de anti-vida por causa da as exigências do discipulado, a pobreza Ser discípulo
dominação, dos exílios e das mortes e (Mc 10, 17-22); outros abandonaram-no, Resta perguntar como entendemos
sempre mostrando o amor, a Aliança e a voltaram atrás e não andaram mais com e vivenciamos o discipulado. Nós apren-
misericórdia de Deus. ele por discordarem do seu ensinamento demos do Mestre e ensinamos? Somos
(Jo 66). discípulos que possuem autonomia e criati-
O discipulado jesuânico E por fim, Jesus nos seus encontros vidade, sem nos desviar do seguimento do
O discipulado jesuânico tem caracte- diversos faz discípulos e discípulas. Mui- Mestre? Discípulo bom e fiel é aquele que
rísticas diferentes dos demais, dos que tas pessoas que foram curadas por Ele, não tem medo de contrapor-se à palavra
já mencionamos, de João Batista e do saíram proclamando as maravilhas que escravizadora, de imitação, sem vida, sem
rabinato de sua época. Jesus passa e experimentaram. De certo modo, tornaram- testemunho e que não põe as pessoas a
chama pessoas das mais diferentes ex- se seus discípulos, pois experimentaram caminho. O discípulo é itinerante e tem
tirpes e classes. Se analisarmos atenta- a salvação (Mc 5, 20; 7, 37). Um ícone coragem de continuar o ensinamento
mente, os discípulos dele não possuem bíblico chama atenção, a daquela mulher, do Mestre, porque o experimentou com
um perfil uniforme segundo as regras Maria, que senta aos pés de Jesus para intensidade, na comunhão de vida com
daquele tempo. ungir-lhes. Sentar-se aos pés é uma ati- o Senhor. 
Jesus chama e este chamado tem con- tude discipular (Lc 8, 35; 10, 39; Jo 12,
seqüências, “não olhar para trás” (Lc 9, 62), 3). Ela se põe a ouvir obedientemente a Rogério Gomes é sacerdote redentorista, autor de artigos em
isto é, aderir incondicional e radicalmente palavra do Mestre. jornais e revistas de Teologia e trabalha na formação dos
e não se preocupar com as coisas deste De todos os Evangelhos, João apre- estudantes de Teologia, no Alfonsianum, São Paulo, SP.
mundo, não levar bolsa, alforje, sandálias senta uma característica mais universal do
(Lc 10, 4) mas ter cuidado apenas com o discipulado. Todo aquele que reconhece
mal, com os filhos das trevas que são mais Jesus como Mestre, segue os seus en- Para reflexão
espertos do que os filhos da luz. sinamentos e se propõe a viver nos seus
O discipulado de Jesus não comportou caminhos, é discípulo. 1. Qual é o significado da palavra discípulo?
todas as pessoas. Certo homem que queria 2. Como ser discípulo hoje, na nossa Igreja e na sociedade
ser discípulo do Mestre não foi aceito e foi O discipulado cristão contemporânea?
aconselhado a voltar para casa e contar O discipulado cristão tem caracterís-
as maravilhas que Deus havia feito por ticas bem definidas. Testemunha Jesus 3. Quais as caracterísitcas do discipulado cristão?

- Maio 2007 11
Uma mãe
testemunho

“Uma mãe educadora vale por cem


excelentes mestres”. (George Herbert) que fez a
Arquivo MC

de Sônia Lobo de Carvalho

T
enho lindas recordações da mi-
nha infância. Posso dizer que
fui uma criança feliz. Com meus
pais, Alzira e Sebastião, morava
em meio a vastas plantações de
café, em Apucarana, no Paraná.
Em casa reinava um ambiente sadio e
muito religioso. Uma das práticas muito
apreciadas em família era a reza diária do
terço a Nossa Senhora. Lembro que em
maio, mês de Maria e em outubro, mês do
Rosário, mamãe costumava convidar toda
a vizinhança para rezar o terço conosco.
Ela nos dizia que uma vida sem religião
é como um barco sem leme. Na época,
quem tomava conta da paróquia a qual
pertencia a nossa comunidade eram os
padres josefinos. Sempre serei muito grata
porque boa parte da minha formação social
e religiosa, devo a eles.

Exemplo de mãe
Eu tinha muita admiração pelos meus
pais. Deles, mas especialmente de minha
mãe, bem cedo, meus irmãos e eu fomos
aprendendo o que significava ser cristão
de verdade. Tínhamos deveres a cumprir
e ela não abria mão de nenhum: o res-
peito e a educação para com as pessoas,
a fuga da mentira, a nossa ajuda em
casa, o amor ao estudo, a freqüência à
Igreja... Ela sabia nos educar na fé. Hoje,
olhando para trás, eu vejo o quanto minha
mãe era missionária, provavelmente sem
entender toda a amplitude do termo. Ela
se preocupava com as pessoas, seja no
campo religioso ou social, especialmente
quando eram pobres ou doentes. Ela
tinha um carinho todo especial para com
as crianças e jovens. Mulher de grande

12 Maio 2007 -
Numa das visitas a Palmitópolis, co-
nheci o padre Onorato Dompè, um padre
italiano, muito fervoroso e animado. Em
suas homilias, nunca deixava de falar das
Missões de Roraima, onde trabalhavam
os missionários e as missionárias da
Consolata. Aquelas fotos com os índios,
que nos mostrava, chamavam a atenção

a diferença
e sempre que ele vinha para celebrar,
aquele seu entusiasmo pela Missão me-
xia comigo. Foi ele que me disse que em
Cafelândia, moravam também as irmãs
e que eu poderia conversar com elas a
respeito. E eu fui. A primeira irmã que eu
conheci foi a Ir. Luciângela Possamai. Na
época, ela estava se preparando para
partir, pois havia sido destinada às Missões
da Argentina. Um dia ela veio conversar
com o grupo de jovens de Palmitópolis.
Ao término, fez ao grupo um convite todo
especial: participar do seu Envio Missio-
nário. Ficamos todos muito curiosos, pois
aquilo era uma novidade. A esta altura, eu
já tinha conhecimento das missionárias da
Consolata; e foi naquela celebração, que
eu decidi seguir esse caminho. Terminado o
Envio, as irmãs presentearam-me com um
livro. Era a biografia de Ir. Prisca Groppo,
médica missionária no Quênia. Mal sabia
eu, que anos mais tarde, estaria pisando
o mesmo chão.

Novo nome
Em 1975, com a idade de 20 anos,
deixei minha família rumo a São Paulo,
onde iniciei a minha formação religiosa no
Instituto das Missionárias da Consolata.
Em 1987, parti para o Quênia. O primeiro
impacto foi ter que enfrentar novas lín-
guas e conviver com culturas totalmente
diferentes. A saudade do verde-amarelo
da pátria e da família era forte, mas co-
mecei a criar coragem e confiança em
mim mesma e na graça de Deus e fui
vencendo um a um os obstáculos. E é
incrível! Quando a gente se entrega nas
mãos de Deus com profunda confiança,
os milagres acontecem.
Irmã Sônia com mulheres do povo Massai, Quênia. Em pouco tempo, conquistei e fui
conquistada pelas crianças, professores
caridade e zelo fazia o que estava ao seu Apucarana. Fomos morar num lugarejo e pais do Jardim de Infância que me foi
alcance, para que as pessoas chegassem chamado Palmitópolis, a oito quilôme- confiado. E também, como acontece com
ao conhecimento dos ensinamentos de tros da cidade de Cafelândia, sempre no quase todas as pessoas que chegam ao
Jesus apontados pelo Evangelho. Com Paraná. Foi uma mudança brusca para país, eu recebi um novo nome: makena =
toda a certeza, mesmo sem me dar conta, todos nós. aquela que está sempre sorrindo. Entendi
eu ia introjetando o seu exemplo e, aos As amizades ficaram para trás. Po- então, que o sorriso seria, a princípio, o
poucos, a vocação missionária foi desa- rém, aos poucos, fui me entrosando com meio que me colocaria em diálogo com
brochando em mim. Por isso, eu gosto de as jovens e os jovens do lugar e mais minhas irmãs e irmãos quenianos. Um
dizer a todos, que a maior responsável rápido do que eu pensava, eu tinha o velho provérbio chinês diz: “Se percebes
pela minha vocação missionária, depois meu grupo. Começamos a freqüentar a que alguém está tão cansado, a ponto de
de Deus, é minha mãe. nova comunidade-igreja, que pertencia não poder dar-te um sorriso, deixa-lhe o
à paróquia de Cafelândia, e quem dela teu; e terás tirado de seus ombros metade
Dos cafezais à Missão tomava conta eram os missionários da do cansaço que carrega.” 
Quando eu tinha 16 anos, tivemos Consolata, que além da paróquia, tinham
que deixar os maravilhosos cafezais de também o seminário. Sônia Lobo de Carvalho é missionária no Quênia.

- Maio 2007 13
O custo da fidelidade
fé e política

nos partidos políticos


O tema da fidelidade partidária motiva

Fabio Pozzebom
discussões no Congresso, e se não
foi aprovado até hoje é porque os
parlamentares não estão atentos aos
apelos sociais e à ética.
de Humberto Dantas

A
s eleições no Brasil podem ser divididas em dois gru-
pos: majoritárias e proporcionais. No primeiro estão
as escolhas dos prefeitos, governadores, senadores
e presidente. Nesse tipo de eleição, independente do
fato de existir ou não segundo turno, dizemos que o
“vencedor leva tudo”. Ou em caso de duas vagas, os O plenário da Câmara dos Deputados durante votação de medidas provisórias.
vencedores levam tudo. Aos demais concorrentes não resta nada,
aos mais votados a vitória. No segundo grupo temos as eleições proporcionais, inclusive aqueles que já mudaram desde outubro
que definem deputados federais, estaduais (distritais no caso do de 2006, estão proibidos.
Distrito Federal) e vereadores. Muitos candidatos se lançam, e Grande parcela da sociedade comemorou a decisão. Mas
além de diversos nomes temos a opção do voto de legenda. Cada devemos lembrar que o Poder Legislativo é que deve formular
partido (ou coligação) utiliza todos os votos – nominais ou na as leis de nosso país. O tema da fidelidade partidária motiva
legenda – para somar pontos na disputa. As vagas são divididas discussões há anos no Congresso, e se não foi aprovado até
de forma racionalmente complexa, e nem sempre os mais votados hoje é porque os parlamentares não estão atentos aos apelos
ficam com os postos. Como nesse cálculo entram os votos dos sociais e à ética. O Judiciário, autor da medida, se defende ar-
partidos e de todos os candidatos, é possível supor que as vagas gumentando que apenas respondeu uma consulta do PFL (que
sejam dos partidos ou das coligações. Mas não. Uma vez eleito, agora se chama “Democratas”). Mas argumentos desse tipo,
mesmo antes de tomar posse, é permitida a mudança de partido. por exemplo, já criaram a verticalização, derrubaram a cláusula
O movimento leva consigo a confiança de milhares de eleitores de barreira, diminuíram o número de vereadores etc. Devemos
e o voto de cidadãos que acreditaram no partido ou em colegas tomar muito cuidado com o preço das “boas” medidas trazidas
de legenda. Depois de tomar posse, ao longo dos quatro anos pelo Judiciário brasileiro. O pressuposto básico da divisão dos
de mandato, as trocas se mantêm em alta. Diminuem apenas 12 poderes é essencial à democracia, e nele está escrito que o Ju-
meses antes das eleições, pois a lei exige que um candidato tenha diciário julga, o Executivo executa e o Legislativo cria as regras.
um ano de filiação partidária na mesma organização. A decisão final ainda levará tempo para ser tomada, pois sempre
cabe recurso. Mas devemos ficar atentos, pois nossa democracia
Infidelidade partidária é muito maior que os desmandos de nossos juízes.
Esse fenômeno recebeu o nome de infidelidade partidária. Ato
de um representante, eleito por determinado partido, mudar de Introdução à Política Brasileira
legenda ao longo do mandato. A história recente do Brasil regis- A editora Paulus lançou o livro Introdução à Política Brasileira,
tra centenas de exemplos de infidelidade, sobretudo nos órgãos coletânea de 17 textos que tem como objetivo iniciar o cidadão
do Poder Legislativo, onde o jogo de interesses e o descaso da brasileiro nos conceitos fundamentais de nossa política. Organizado
sociedade parecem permitir qualquer atitude. Com o intuito de por Humberto Dantas e pelo cientista político José Paulo Martins Jr.,
acabar com esse intenso desrespeito ao eleitorado, buscando a obra é escrita por outros 15 autores. Leitura obrigatória para os
fortalecer os partidos e estabelecer um pouco de ética na políti- maiores de 18 anos e menores de 70 anos (eleitores compulsórios),
ca, a Justiça proibiu as trocas dos candidatos eleitos nos pleitos e facultativa para nossos jovens e idosos. 
proporcionais, sob a alegação de que os mandatos pertencem
aos partidos. Assim, os que conseguiram seu mandato por elei- Humberto Dantas é cientista político, professor do Centro Universitário São Camilo e coordenador
ções majoritárias ainda podem mudar, mas os escolhidos nas de Cursos de Formação Política na Região Episcopal Lapa e na Diocese de Osasco, SP.

14 Maio 2007 -
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

V Conferência do CELAM

Esperanças de
um missionário
A Missão Ad Gentes é ainda secundária na
consciência e na prática da Igreja latino-americana.
de uma Igreja autenticamente pobre,
Jaime C. Patias

missionária e pascal, desligada de todo


poder temporal e comprometida com a
libertação de todo o homem e de todos
os homens” (Medellín, 5, 15).
Este sonho comoveu o coração de
muitas pessoas na América Latina e
em outras partes do mundo levando-
as a mudar de vida, transformando-as
em profetas e mártires. Este sonho
transformado em opção e práxis fez
renascer a Igreja na América do Sul
como Igreja de Jesus de Nazaré que
foi consagrado e enviado pelo Espírito
para “anunciar a Boa Notícia aos po-
bres; para proclamar a libertação aos
presos e aos cegos a recuperação
da vista; para libertar os oprimidos, e
para proclamar um ano de graça do
Senhor” (Lc 4, 18-19). Graças a essa
opção, a Igreja Católica da América
Latina se transformou em uma Igreja
profética e mártir. De fato, no rosto dessa
Padre Antonio Bonanomi durante Capítulo Geral IMC, São Paulo, 2005.
Igreja animada pelo Espírito de Jesus
libertador, crucificado e ressuscitado,
de Antonio Bonanomi expressar minhas esperanças, acom- os pobres do continente descobriram,

D
panhadas de oração, em comunhão além do Deus da vida, a conquista, a
com toda a Igreja, para que o Espírito colonização e as estruturas de poder e
esde a convocação para Santo ilumine e fortaleça o coração do de injustiças que queriam lhes ocultar,
a V Conferência Geral do papa Bento XVI, dos bispos e demais recuperando dessa forma a esperança
CELAM, e especialmente participantes reunidos em Aparecida. de sua libertação.
quando apareceu o “docu- Espero que a V Conferência leve Se para os pobres esta opção foi
mento de participação”, em em consideração e seja: “Boa Notícia”, para os poderosos e ricos
todos os lugares da América foi “má notícia”, porque desmascarava
Latina e além das fronteiras continentais Boa Notícia aos pobres sua opressão e dominação e causava
escutaram-se vozes e publicaram-se Reconfirme o sonho que o Espíri- dano aos seus interesses. Por isso
documentos com aportes de consenso to fez nascer no coração dos bispos aliaram-se e trataram de destruir este
ou dissenso ao texto-base proposto. reunidos na II Assembléia em Medellín sonho e de eliminar os sonhadores. As
Nesse contexto, como missionário Ad (1968): “que se apresente cada vez políticas neoliberais globalizadas têm
Gentes no continente, eu também quero mais nítido na América Latina o rosto criado na realidade atual uma situação

- Maio 2007 15
pior do que aquela que os pobres viviam (Congressos Missionários Americanos) o Filho do Homem veio, não para ser
em 1968. Por isso é necessário que a por sua ampliação em todo o continente. servido. Ele veio para servir e para dar
Igreja, sendo fiel a Jesus, reafirme e Contudo, temos de reconhecer que a a sua vida em resgate e em favor de
fortaleça a opção que fez na II Confe- “Missão” é ainda periférica na consci- muitos” (Mc 10, 45).
rência em Medellín, como resposta ao ência e na prática eclesial. Além disso, Em seu manifesto sobre a Missão,
“surdo clamor que brota de milhões de muitos ainda entendem o compromis- Jesus nos disse que ela é a liberta-
homens, pedindo aos seus pastores so missionário não como a saída de ção dirigida aos pobres, aos tristes
uma libertação que não lhes chega de suas fronteiras, religiosas e culturais, de coração, aos cativos, aos cegos e
nenhuma parte” (Medellín, 14, 2). e a abertura ao “outro” para partilhar oprimidos, para que nasça um “novo
com ele a experiência de Deus, mas céu” e uma “nova terra”. Nós estamos
A Missão além-fronteiras como uma ação de proselitismo, ou sendo chamados a continuar a Missão
Reconfirme e fortaleça o outro so- pior, de reconquista e recomposição de Jesus com um coração católico, ou
nho que o Espírito fez brotar desde o da cristandade. seja, aberto às dimensões do mundo.
coração dos bispos reunidos na III Con- É necessário que a consciência Diante da globalização neoliberal que
ferência em Puebla (1979): “finalmente e a prática missionária se abram ao cria relações injustas e opressivas, e
chegou para a América Latina a hora diálogo inter-religioso e inter-cultural, e que contamina e destrói a Criação,
de intensificar os serviços recíprocos tenham como objetivo, não a defesa ou transformada em mercadoria, a Missão
entre as Igrejas particulares e de es- a ampliação do “território” da Igreja ou o deve ser um compromisso para construir
tas se projetarem para além de suas aumento estatístico do número dos ba- a globalização da justiça, da solidarie-
fronteiras, Ad Gentes. É certo que nós tizados, e sim o anúncio e a construção dade e do cuidado pela Criação.
próprios precisamos de missionários, do Reino de Deus no interior da Igreja
mas devemos dar de nossa pobreza” e além-fronteiras, com o testemunho As intuições do Vaticano II
(Puebla, 368). Depois da Conferência de vida pessoal e comunitária e em Que a V Conferência impulsione
de Puebla houve um despertar da comunhão com todos os que sonham uma verdadeira reforma na Igreja, à
consciência missionária na Igreja latino- “outro mundo possível e necessário”, luz da Palavra e na escuta do Espí-
americana. O sinal mais evidente desse antecipação do Reino de Deus na rito que nos fala através dos “sinais
despertar foram os COMLA(Congressos história da humanidade. A Igreja não dos tempos”, em resposta aos novos
Missionários Latino-Americanos), que existe para si, mas para servir o mundo, desafios. Trata-se de reafirmar as in-
se transformaram em COMLA-CAM seguindo o exemplo de Jesus: “porque tuições do Concílio Vaticano II e seus
desenvolvimentos na consciência e na
prática da Igreja:
Jaime C. Patias

- O primado absoluto da Palavra de


Deus, continuamente “recordada” pelo
Espírito Santo na realidade histórica, e
conseqüentemente a atitude contempla-
tiva e orante para um discernimento em
sintonia com o mesmo Espírito e para
a superação da rigidez da instituição
eclesiástica.
- O reconhecimento da Igreja como
Povo de Deus, onde todos somos iguais
pelos sacramentos da iniciação e partici-
pação na Eucaristia. Na Igreja Povo de
Deus os leigos adquirem seu verdadeiro
lugar, com amplo espaço de iniciativa,
liberdade, autonomia, participação e
gestão de espiritualidades próprias. É
neste contexto que se deve reconsiderar
o papel da mulher na Igreja.
- A afirmação da colegialidade da
Igreja, em todos os níveis, nos anima a
superar o modelo “hierárquico, piramidal
e centralizado”, para pensar e ensaiar
um modelo “democrático e participativo”,
porque “a Igreja não é uma democracia,
mas muito mais”. Trata-se de partir com
base nas CEBs, já que permitem ver
uma Igreja como rede de comunidades
e como um novo jeito de ser Igreja
no interior das paróquias e dioceses.
Celebração com ritual K'iche durante o CAM2-COMLA7, Guatemala, novembro, 2003. Assim a Igreja se converteria numa

16 Maio 2007 -
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

Aparecida,
comunidade de liberdade, de diálogo,
de acolhida e de igualdade.
- Uma nova relação com o mundo,
reconhecendo o pluralismo religioso

chegou a tua hora!


e cultural não como um obstáculo a
uma autêntica evangelização, mas
como um precioso espaço de diálogo
e de enriquecimento mútuo. Assumir
uma nova linguagem que torne com­
preensível a mensagem para as novas
gerações, valorizando a autonomia
Curiosidades
das realidades temporais e partilhando

Jaime C. Patias
com os homens e mulheres de hoje as
alegrias e as esperanças, as tristezas
e as angústias.

Boa Notícia
Muitas pessoas na Igreja e fora dela,
pensam e temem que a V Conferência
seja um retrocesso ou uma tentativa
de bloquear o caminho que a Igreja na
América Latina fez durante os últimos
40 anos, fechando as portas para a
profecia e o diálogo.
Como missionários, esperamos que
na V Conferência se repita a experiência Dia Mundial das Missões 2006, Catedral da Sé, SP.
espiritual do Pentecostes, e que a força
do Espírito rompa os muros do medo de Ramón Cazallas Serrano de Nossa Senhora. E no dia 27 será a
e empurre os bispos a abrir as portas Solenidade de Pentecostes. Digamos

A
para anunciar as maravilhas do amor que a Conferência se celebra na “casa
de Deus, visíveis em Jesus crucificado V Conferência do CELAM de Maria”, de fato, as Assembléias ple-
e ressuscitado. Esperamos uma pala- será celebrada em Apa- nárias e a Eucaristia diária se celebrarão
vra cheia de esperança que ilumine o recida, cidade do interior no Santuário. Os bispos, portanto, vão
caminho de tantos homens e mulheres paulista com apenas 36.000 ter presente todos os dias a ternura, a
desesperados, vítimas da injustiça e da habitantes. Aparecida é algo simplicidade, a pobreza, a disponibili-
violência que enchem de dor e morte mais que uma cidade, é dade e a “negritude” de Maria. Todas
este mundo. A V Conferência será ce- o coração religioso dos elas características no nosso povo
lebrada na casa de Maria Aparecida, católicos no Brasil. Aí se encontra a latino-americano e caribenho. Dia 13
padroeira do Brasil. Esperamos que venerada imagem de Nossa Senhora de maio é também o Dia Nacional de
os bispos e delegados participantes lá Aparecida e o seu majestoso Santuário, Luta contra o Racismo. Uma chamada
reunidos, sintam seu coração pulsar e que anualmente é visitado por nove para que a Igreja não esqueça desta
saibam anunciar aos povos do conti- milhões de pessoas. causa!
nente a profecia de Maria: “Dispersa os
soberbos de coração, derruba do trono Cenáculo com Maria A preparação
os poderosos e eleva os humildes; aos “Os apóstolos voltaram para Jeru- A preparação da Assembléia foi
famintos enche de bens, e despede os salém... entraram na cidade e subiram ampla: conferências nacionais de bis-
ricos de mãos vazias” (Lc 1, 51-53). para a sala de cima, onde costumavam pos, dioceses, universidades católicas,
Assim, a V Conferência será uma hospedar-se. Aí estavam Pedro e João... conferências de religiosos, movimentos
“Boa Notícia”, um momento de ver- junto com algumas mulheres, entre as eclesiais de todas as tendências, grupos
dadeira evangelização. Todos os que quais Maria, mãe de Jesus...” (Atos 1, individuais e diversos organismos da
sonham e trabalham para mudar a 12-14). “Quando chegou o dia de Pente- Cúria Romana participaram.
realidade e construir um novo mundo costes, todos eles estavam reunidos no Ao todo, chegaram mais de 2.400
fundado sobre a justiça, a solidariedade mesmo lugar... Todos ficaram repletos páginas com valiosas colaborações.
e a fraternidade, sintam-se alentados do Espírito Santo e começaram a falar Todos os textos foram estudados e
em seu sonho e seu compromisso em outras línguas” (Atos 2, 1-4). classificados em temas por uma co-
porque Deus está com eles: seu sonho Maria estará presente nesta Assem- missão especial, formada por bispos,
e seu compromisso é o mesmo sonho bléia, mais que em nenhuma outra. Ela teólogos e biblistas nomeados pela
e compromisso de Deus. se realiza no mês de maio, dedicado presidência do CELAM.
a Nossa Senhora, começa no dia 13, De todo este material nasceu uma
Antonio Bonanomi é missionário, diretor do “Centro Misión festa de Nossa Senhora de Fátima e Síntese que será o documento sobre
y Cultura” em Bogotá, Colômbia. termina no dia 31, festa da Visitação o qual a Assembléia trabalhará em

- Maio 2007 17
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

esperança”, e que conseguiu com a sua

Luigi Cason
Os participantes singular originalidade enriquecer grande-
A lista completa de participan- mente o caminho da Igreja universal.
tes inclui 266 pessoas, sendo 162 A primeira parte “expressa o amor
membros, 81 convidados, 8 obser- de Deus pelo povo latino-americano, um
vadores e 15 especialistas. amor que mesmo na sua imensidão foi
desvirtuado pelo pecado do homem”.
Participam como membros Esta realidade de pecado se reflete na
com direito a voz e voto: América Latina e Caribe nos recentes
- Os presidentes e o secretário- desafios e nos fenômenos como o im-
geral da Conferência pacto da globalização, a hegemonia
- 14 cardeais latino-americanos do fator econômico e tecno-científico,
- Os membros da presidência do na crise da família e da cultura. Este
CELAM capítulo aprofunda o papel da Igreja,
- Os 22 presidentes das Confe- uma Igreja que mesmo questionada
rências Episcopais e com deficiências para corrigir, tem
- 93 delegados das diferentes uma rica vitalidade. A segunda parte
Conferências Episcopais eleitos Monte Santo, BA.
ressalta Jesus na vida do ser humano
pelas mesmas e em particular, na vida do missionário,
- 15 membros nomeados pelo nidades eclesiais ou confissões aquele que ao se encontrar com Ele não
papa religiosas pode deixar de anunciá-lo em comunhão
- O secretário-geral do Sínodo - 15 especialistas com a Igreja universal, atualizando a
dos Bispos Sua Missão em constante diálogo
- Três núncios apostólicos Peritos com o mundo. A terceira parte fala das
- Os presidentes das Conferên- São sacerdotes, religiosos, re- diferentes espiritualidades presentes
cias Episcopais dos Estados ligiosas e leigos designados pela na América Latina e o trabalho delas
Unidos, Canadá, Espanha e Santa Sé. A função dos peritos é pela construção do Reino de Deus,
Portugal assessorar a presidência e a se- desde o âmbito pessoal, familiar, social
cretaria-geral da Conferência, nos e cultural. A conclusão trata da grande
Convidados assuntos da sua competência. missão no continente: formar comuni-
- 24 sacerdotes diocesanos das Do Brasil participarão 22 bispos dades vivas como “casa e escola” de
diversas conferências episco- eleitos, dom Geraldo Lyrio Rocha comunhão e sobre a formação dos
pais latino-americanas arcebispo nomeado de Mariana, MG, leigos em vista do seu protagonismo
- Quatro diáconos permanen- como segundo vice-presidente do na evangelização.
tes CELAM e os cardeais de São Sal-
- 16 membros de Institutos de vador da Bahia e do Rio de Janeiro. Oração do povo de Deus
Vida Religiosa (oito mulheres É o país com mais representantes Até agora tivemos a oportunida-
e oito homens). na Assembléia. de de participar da preparação da V
- 15 leigos Dois deles terão um protagonis- Conferência do CELAM através dos
- Cinco Superiores Maiores mo especial: dom Geraldo Majella organismos e documentos que circu-
- Três membros da presidência Agnelo, cardeal arcebispo de São laram pelas comunidades religiosas,
da CLAR (Conferência Latino- Salvador de Bahia, que será um dos paróquias, dioceses ou movimentos.
Americana de Religiosos) três presidentes da Assembléia e Neste momento, podemos rezar para
- O presidente da CISAL (Confe- dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo que o Espírito Santo se faça presente
deração dos Institutos Seculares de São Paulo, secretário-adjunto da com a sua luz e ilumine todos os par-
da América Latina) Conferência. ticipantes, para que saibam discernir
- Representantes de organismos No total, sem contar os peritos os sinais do continente, conheçam o
internacionais de ajuda à Amé- e os observadores de outras con- projeto atual e com coragem evangélica
rica Latina fissões religiosas, a Conferência sejam também discípulos e missionários
- Oito observadores represen- congregará aproximadamente 250 daquele que é maior que todos eles:
tantes de outras igrejas, comu- participantes. Jesus Cristo, o Senhor. O exemplo
dos três mosteiros das irmãs contem-
plativas que residem na arquidiocese
de Aparecida é eloqüente: durante
vista do documento final. A Síntese Temas abordados a celebração da Assembléia haverá
oferecida não é definitiva porque os A “Síntese” que se apresenta à As- adoração contínua para pedir luz e
participantes e, sem dúvida, o Espí- sembléia consta de uma introdução, três força para que seja a hora de Deus
rito Santo têm sempre a liberdade de capítulos e as conclusões. A introdução na nossa América Latina. 
apresentar novas sugestões e temas explica o grande caminho empreendido
para serem discutidos e posteriormente na América Latina desde a chegada da Ramón Cazallas Serrano é missionário e diretor do Centro
aprovados. fé que o converteu no “continente da Missionário José Allamano em São Paulo.

18 Maio 2007 -
Uma família

missão
Arquivo

Missão
história daHoje
Missionária de Servílio Conti

N
a história da Igreja temos vários exemplos de famílias
impregnadas de espírito missionário. Neste último
século emerge a família de Maria e Alberto Beretta,
que viveu em Magenta, perto de Milão, Itália, formada
por nove filhos. Naquela paróquia existia um convento
de capuchinhos que tinham recebido o encargo da
Santa Sé de evangelizar uma região imensa em Grajaú, no nas paróquias. Era membro da Conferência Vicentina, para
interior do Maranhão, Brasil. assistência aos pobres, mas, sobretudo, era muito dedicada à
Os freis, fervorosos apóstolos da animação missionária daquela animação missionária na paróquia de Magenta.
região, convidaram os fiéis à oração, ao sacrifício e às ofertas Ela ficou encantada com o exemplo do irmão Alberto, médi-
em favor da Missão, sobretudo, incentivando as vocações. co e missionário no Maranhão. Lia com interesse suas cartas,
A família Beretta se sentiu envolvida naquele apostolado. enviava-lhe medicamentos, ofertas e, sabendo das dificuldades
Os filhos, por ocasião do Natal, recebiam presentes dos pais que tinha em atender sozinho uma imensa região, teve a idéia
e parentes e entregavam tudo ao convento em favor das mis- de imitá-lo como médica voluntária no Brasil.
sões do Maranhão. A mãe, apesar dos serviços domésticos Começou a se habilitar nos estudos de medicina tropical,
encontrava tempo para costurar e bordar os paramentos para pegou a gramática da língua portuguesa e já estava pronta para
as capelas da Missão. partir, quando numa conversa como o bispo de Bergamo, ele
achou que ela não era chamada para missão numa região tão
Padre Alberto Beretta quente, pois sofria com muito calor.
Dos filhos daquela família, quatro se formaram médicos, dois Então, Gianna direcionou-se para uma outra missão, formar
engenheiros, dois padres e uma das filhas, médica, tornou-se uma família para gerar a Deus filhos que fossem missionários
irmã canossioana e missionária na Índia. em seu lugar. Continuou ajudando o irmão Alberto. Aconteceu
Alberto, o filho mais velho, médico em Milão, sentiu-se questio- que na quarta gestação, no sexto ano de casamento, apareceu
nado pelos missionários capuchinhos: “existe uma região de dez um fibroma no útero. Ela como médica sabia da gravidade da
mil quilômetros no Maranhão onde não há estrutura de assistên- situação. Os médicos sugeriram que fizesse uma operação para
cia médica e nem profissionais. Por que você, bom cristão, fica tirar o fibroma, mas isso comportava também a remoção do feto.
aqui exercendo medicina onde existem tantos médicos, quando Rezava muito e decidiu levar para frente sua difícil gravidez.
poderia fazer um imenso serviço de caridade no Brasil?” Aproximando-se o dia do parto, recomendou insistentemente:
Esta idéia tomou conta de Alberto, que decidiu tornar-se padre “se for necessário decidir entre a minha vida e a da criança,
e partir para o Maranhão. Ao chegar no Brasil, a desilusão: não desejo, e isso exijo, que seja salva a vida da criança”.
era permitido a um estrangeiro exercer medicina sem passar Na Sexta-feira Santa do ano de 1962, foi internada no hospital
antes numa universidade nacional. Ele aceitou o desafio e foi para o parto, que se tornou difícil e dolorido. Nasceu uma filha
estudar em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, conseguindo um sã que veio a chamar-se Emanuela Gianna, que ao crescer,
segundo título de medicina. Depois subiu logo para o Maranhão. quis seguir a missão da mãe, médica pediatra. Seis dias depois
Inicialmente visitava e socorria os doentes em suas casas. De- Gianna faleceu pronunciando: “Jesus eu te amo, eu te amo”.
pois convidou um irmão engenheiro na Itália a conseguir fundos Beirava os 40 anos de idade, mártir pela vida. Do céu ela
para construir um hospital em Grajaú. Dirigiu as obras e realizou privilegiou o Brasil, porque os dois milagres necessários para
seu sonho. O padre Alberto ficou a vida inteira no Maranhão sua beatificação e canonização se realizaram no país, um em
dedicando-se aos serviços dos doentes como voluntário. Por Grajaú onde trabalhou como médico o irmão Alberto e outro em
isso na praça principal da cidade de Grajaú foi elevado um Franca, São Paulo, salvando milagrosamente mãe e criança em
monumento em homenagem à heróica caridade do capuchinho situação desesperadora. 
médico. Outra filha da família Beretta, de médica tornou-se freira
missionária por mais de 40 anos na Índia. Outro filho engenheiro Servílio Conti, imc, é bispo emérito de Boa Vista, Roraima.
se fez padre e continua exercendo seu sacerdócio na diocese
de Bergamo, Itália.
Acaba de ser publicado o livro: “A Santa Moderna:
Santa Gianna Beretta Gianna Beretta Molla. Médica, esportista,
Mas, desta família temos ainda a grande figura de Santa esposa, mãe e mártir”. Autor: Hilário Cristofolini.
Gianna Beretta Molla, médica pediatra e cirurgiã. Desde jovem Pedidos: Revista Missões
era animadora das jovens e depois das mães da Ação Católica Tel.: (11) 6256.8820

- Maio 2007 19
Maria e os "rostos"
Destaque do mês

da V Conferência
Nossa Senhora e o mês de maio têm um encontro marcado em Aparecida.

de Alfredo J. Gonçalves

Jaime C. Patias
M
aria e o mês de maio man-
têm uma proximidade his-
tórica relevante. A partir do
dia 13 deste mês, em 1917,
quando Nossa Senhora
apareceu aos três pastor-
zinhos em Fátima, Portugal, a devoção
popular, especialmente nos países de
língua portuguesa, fez de maio um tem-
po forte de espiritualidade mariana. No
Brasil, neste ano de 2007, maio e Maria
têm um encontro marcado em Aparecida,
interior de São Paulo. De fato, nesse mês
e nessa cidade, realiza-se a V Conferência
Geral do Episcopado Latino-Americano
e Caribenho, com o tema “Discípulos e
missionários de Jesus Cristo para que
nele nossos povos tenham vida”.

Maria, mulher atenta Romeiros durante celebração, Santuário de Aparecida, SP.


Trata-se de um momento oportuno
para que os pastores da Igreja Católica, Maria guardava e meditava em seu no México, Nossa Senhora de Guadalupe
na América Latina e no Caribe, levem até coração. É o mesmo que dizer que ela aparece a um pobre indígena chamado
Maria “as alegrias e esperanças, tristezas e digeria e reinterpretava os acontecimentos Diego, também ele representante de
angústias” dos povos deste continente. Se cotidianos à luz da Palavra de Deus. O todo um povo historicamente saqueado;
lermos o Evangelho de Lucas, o evangelista coração de Maria, aberto à ação do Espírito, no Brasil, a imagem de Nossa Senhora
da infância de Jesus, nos daremos conta vai além do olhar. Contempla aquilo que a Aparecida, encontrada por três pescado-
que, por duas vezes, ele insiste no fato de vista não é capaz de alcançar. E por isso res pobres, é de cor negra, um silencioso
“Maria guardar e meditar no coração todas mesmo se abre também às novidades protesto contra a condição dos escravos
essas coisas” (Lc 2, 19; 2, 51). da história, particularmente à Boa Nova africanos.
Os dois verbos utilizados adquirem do Reino de Deus. Maria, mulher e mãe Nos três casos – e a lista poderia
neste caso um significado todo especial. – duplamente atenta! Atenta ao Filho de estender-se – Maria volta-se preferen-
Guardar e meditar significam “fazer memória Deus que vem armar sua tenda entre nós cialmente para aqueles que a sociedade
dos acontecimentos”. É dar-se conta que, e atenta à agitação febril da sociedade de despreza e exclui. É o coração da mãe,
por trás das aparências, às vezes banais, ontem e de hoje. que ama a todos os seus filhos e filhas,
os fatos carregam um sentido profundo e Uma rápida olhada às aparições de mas dedica especial atenção àqueles
quase sempre oculto. Mais do que o olhar Maria ao longo da tradição cristã bastará que têm sua vida mais ameaçada. Cabe
sociológico, é o olhar da fé que predomina. para mostrar sua sensibilidade maternal aqui uma outra observação sobre maio
Maria percebe no desenvolvimento daquele para com os filhos mais marginalizados e Maria. Aos 13 dias desse mês, data da
Menino, que “crescia em sabedoria, estatura e necessitados. Tomemos três exemplos assinatura da Lei Áurea, comemora-se
e graça”, o desígnio da vontade de Deus bem conhecidos: em Portugal, Nossa no Brasil o Dia Nacional de Luta contra
(Lc 2, 52). Saber ler a história humana Senhora de Fátima se revela a três pas- o Racismo. Apesar da lei, o estigma da
numa perspectiva de fé é distinguir nela torzinhos, filhos de pobres camponeses, escravidão continua abrindo feridas no
as digitais da ação divina. então vítimas de uma exploração secular; corpo e na alma do povo negro.

20 Maio 2007 -
Caminho, Verdade e Vida
Estas dores, ao lado de tantas outras,
devem bater às portas da V Conferência
dos Bispos da América Latina e Caribe. Aos
pés de Maria, no Santuário de Aparecida,
os pastores da Igreja se prostram para
refletir, rezar e celebrar. De um lado, os
bispos têm a tarefa de avaliar os passos
que vêm sendo dados pelo conjunto da
Igreja nos diversos países deste conti-
nente, países marcados pela pobreza, a
violência e o sofrimento, mas, ao mesmo
tempo, pela resistência, solidariedade e
esperança. De outro lado, a missão dos
bispos é atualizar uma leitura da realidade
latino-americana e caribenha, detectar
seus principais desafios e encontrar novas
Pe. Luís Ribeiro Gomes Tomás e Pe. Mário Silva.
luzes para a caminhada pastoral de toda
a Igreja. O grande farol a iluminar a V ano de 1992, predomina a preocupação A esse respeito, vale a pena recorrer
Conferência é a frase do próprio Jesus: por uma nova evangelização, “com novos uma vez mais ao testemunho de Maria.
“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida!” métodos e novos conteúdos” – como dizia De um ponto de vista vocacional, ela é
(Jo 14, 6). o papa João Paulo II, que leve em conta a a Maria do sim! Basta ter em mente sua
Convém a esta altura fazer memória cultura de nossos povos, bem como sua aceitação ao Plano de Deus, sua presença
das conferências anteriores, ainda que promoção humana. silenciosa ao pé da cruz de seu Filho e sua
em termos muito genéricos: no Rio de caminhada com as comunidades cristãs
Janeiro, Brasil, em 1955, tratava-se antes Expectativas da Igreja nascente. Mas ela é também a
de tudo de consolidar a própria unidade E agora? Quais as expectativas em Maria do não! No poema do Magnificat,
e colegialidade dos bispos de todo o torno da V Conferência, em Aparecida? ela se insurge energicamente contra todo
continente. Em Medellín, Colômbia, no Primeiro que a Igreja, a exemplo de Maria, tipo de exploração e de humilhação. O
ano de 1968, a Igreja se dispõe a ouvir saiba preservar seu coração materno, acento unicamente sobre a Maria do sim
“o grito que clama aos céus” e assume disposto a ouvir e solidarizar-se com os pode servir para justificar a submissão da
a “opção preferencial pelos pobres”, ao clamores dos povos deste continente, mulher em nossa sociedade fortemente
mesmo tempo em que abre novos espa- apoiando seus movimentos e lutas pela machista, e inclusive na Igreja. Daí a
ços para a atuação das Comunidades vida. Depois, que dê continuidade ao tom importância de resgatar a Maria do não,
Eclesiais de Base (CEBs). Na cidade de profético das conferências passadas, que mulher forte e destemida que não hesita
Puebla, México, em 1979, os pastores se foram verdadeiras caixas de ressonância em “derrubar os poderosos de seus tronos
ocupam da evangelização no presente das causas populares. Por fim, que possa e elevar os humildes” (Lc 1, 52).
e no futuro da América Latina e Caribe, abrir espaços cada vez mais amplos para Aí está uma luz para os bispos da
reconhecendo nos pobres da região os as mulheres e os jovens, os leigos em V Conferência. No espírito do Concílio
vários “rostos sofredores de Cristo que geral, num engajamento crescente na Ecumênico Vaticano II e na tradição de
nos questiona e interpela”. Finalmente em pastoral, na ação social e política e na Medellín, o sim ao projeto de Deus na
Santo Domingo, República Dominicana, no defesa dos direitos humanos. América Latina e Caribe inclui um corajoso
não ao modelo econômico neoliberal, cujos
efeitos vêm penalizando setores cada vez
mais amplos de nossas populações. As
ditaduras militares em nosso continente
foram substituídas pela ditadura do mer-
cado global. Esta última, tanto quanto as
outras, exige uma atitude evangelizadora
firme e vigorosa. O anúncio da Boa Nova
de Jesus Cristo não pode ser desvinculado
da denúncia de condições infra-humanas
em que hoje vivem milhões de povos in-
dígenas e negros desterrados, imigrantes
clandestinos, camponeses “desplazados”,
mulheres, jovens e crianças vítimas do
tráfico e da exploração sexual, desempre-
gados, subempregados ou submetidos a
trabalho escravo e degradante, sem-terra
e sem-teto, enfim, toda a multidão dos
“sem” que dos porões da América Latina
e Caribe clama aos céus. 

Alfredo J. Gonçalves é sacerdote carlista e pároco da Parroquia


Pintura no Santuário de Aparecida, SP. Personal de los Migrantes, Ciudad del Este, Paraguai.

- Maio 2007 21
Santo Frei Galvão
Atualidade

rogai por nós!


Primeiro brasileiro a ser
Cronologia declarado santo pelo
Fotos: Jaime C. Patias

1739: Antônio de Santana Galvão nasce


em Guaratinguetá (a 175 quilômetros de
São Paulo). Seus pais (Antônio Galvão
Vaticano.
de França e Isabel Leite de Barros) são
imigrantes portugueses e têm dez filhos. muito tempo na construção e ampliação
Antônio vive com seus irmãos numa casa do Recolhimento e na construção da
grande e rica, pois a família goza de pres- igreja (28 anos). Frei Galvão é arquiteto,
tígio social e influência política. mestre de obras e até mesmo pedreiro. A
1752: O pai, para dar uma boa formação obra, hoje o Mosteiro da Luz, foi declarada
humana e cultural, manda o filho com a “patrimônio cultural da humanidade” pela
idade de 13 anos para o Colégio de Belém, Unesco.
dos padres jesuítas (a 130 quilômetros de 1811: Ele também funda o Recolhimen-
Salvador), na Bahia, onde já se encontrava to de Santa Clara em Sorocaba (SP).
seu irmão José. Aí, Antônio permanece Voltando da fundação de Sorocaba, vive
de 1752 a 1756 e faz grandes progressos ainda dez anos, sempre no convento de
nos estudos e na prática cristã. São Francisco.
1760: Quer tornar-se jesuíta, mas, por cau- 1822: Quando as forças já não lhe permitem
sa da perseguição que esta congregação mais andar do convento ao Recolhimento,
sofre, seu pai o aconselha a entrar para passa a morar nas dependências da obra por
os franciscanos que têm um convento em ele fundada. Falece em 23 de dezembro de
Taubaté (SP), perto de Guaratinguetá. Aos 1822 e é sepultado na igreja do Recolhimento
21 anos entra para o Noviciado na Vila de
Macacu, no Rio de Janeiro.
1761: No dia 16 de abril faz seus votos
solenes na Ordem dos Frades Menores
e, um ano depois é admitido à ordenação
sacerdotal.
1762: Em 11 de junho é destinado ao
convento de São Francisco na cidade de
de José Tolfo São Paulo para estudar Filosofia e Teolo-
gia e ajudar seus confrades no trabalho

O
apostólico. Concebe as pílulas de oração
papa Bento XVI canonizará (com invocações a Nossa Senhora) para
o beato Frei Galvão em São doentes, procuradas ainda hoje.
Paulo, na missa que celebrará 1768: É nomeado confessor de leigos,
no Campo de Marte, no dia 11 pregador e porteiro do convento, cargo
de maio. O papa vem ao Brasil importante pelo contato com as pessoas,
para participar da abertura da ouvindo e aconselhando.
V Conferência do CELAM. A canonização 1770: É o confessor de um Recolhimento
é a inscrição no rol dos santos de pessoas de piedosas mulheres de Santa Teresa.
que se distinguiram na vida por seguir 1774: Frei Galvão, inspirado pela Irmã
de perto a Jesus Cristo e são colocados Helena Maria do Espírito Santo, funda o
como exemplo, como modelo, como luz novo convento: Recolhimento de Nossa
que ilumina nosso caminho em direção a Senhora da Conceição da Luz da Divina
Cristo Ressuscitado. A Comissão de Edu- Providência, conhecido como Mosteiro
cação (CE) do Senado aprovou a criação da Luz, que ainda hoje abriga as monjas
do feriado nacional, dia 11 de maio, em da congregação religiosa que fundou, na
comemoração ao Dia de Frei Galvão. cidade de São Paulo. Ele trabalha durante

22 Maio 2007 -
Cartazes agradecendo graças recebidas na Igreja de Frei Galvão, Mosteiro da Luz, São Paulo, SP.

da Luz, que ele mesmo construiu. A igreja Franciscanos, em 17 de abril de 1798). graças. Cerca de 60% dessas graças estão
ainda hoje guarda seu túmulo, no centro “Seu nome, em São Paulo, mais que relacionadas à cura de câncer; mas, um
histórico da capital paulista, e se tornou em qualquer outra localidade, é escutado grande número refere-se a problemas
referência para a devoção do povo. com grande confiança; muitas pessoas de cálculos renais, gravidez, parto ou,
1938: É aberto o processo de beatificação, de regiões longínquas vêm procurá-lo em casais que não conseguiam ter filhos e
que foi reaberto em 1986 e concluído suas necessidades, uma e mais vezes” foram atendidos.
em 1991. (Registro dos Religiosos Brasileiros, ao
1990: Após tomar as pílulas do Frei, uma fim do currículo da vida 1802-1806). O santo e o povo
criança de quatro anos internada com in- “Conselheiro, ouvido por leigos e Já em vida Frei Galvão era venerado
suficiência hepática e que sofrera parada religiosos, sabia dizer a palavra justa pelo povo por sua dedicação à oração,
cardiorespiratória é curada. ao pecador como também à alma de pregação, e caridade. Ele acolhia bem as
1997: No dia 8 de abril é beatificado pelo grande perfeição. Pacificador das almas pessoas, com especial atenção aos pobres,
papa João Paulo II. e das famílias, dispensador de caridade, doentes e pessoas aflitas. Os santos foram
1999: Uma mulher, Sandra Grossi, e o sobretudo aos pobres e aos doentes. Foi e continuam sendo pessoas de Deus e o
filho recém-nascido, Enzo, sobrevivem um frade de muita caridade, de muita vida povo percebe isso e recorre a eles para que
após parto de alto risco depois da mãe espiritual” (dom frei Henrique Golland o ajudem a compreender e viver melhor o
ter tomado as pílulas do Frei (o segundo Trindade, 1939). Outro historiador assim Evangelho e se aproximar mais de Deus.
milagre que foi reconhecido pelo papa Bento escreveu: “procurado para as confissões, Como dizia Santo Agostinho: “se este ou
XVI, em 16 de dezembro de 2006). para pacificar nas discórdias, para ajustar aquele santo conseguiu mudar de vida,
2000: É declarado pelo Vaticano padroeiro problemas temporais, além de ser zeloso, não conseguirei também eu?” Portanto,
dos profissionais da construção civil. era sábio e prudente”. ao canonizar um santo, a Igreja convida
2007: E agora, no dia 11 de maio, em São a dar graças a Deus pelas maravilhas
Paulo, ele será o primeiro brasileiro nato a As pílulas e os milagres que realizou em favor desses irmãos e
ser declarado santo pelo Vaticano. Madre Frei Galvão criou as “pílulas” (pedaços irmãs, nos convida também a olhar para
Paulina, canonizada por João Paulo II em de papel com orações à Virgem Maria) ele e seguir com coragem os caminhos de
2002, passou a maior parte da vida no e ensinou as irmãs do Recolhimento a Jesus Cristo e recorrer à intercessão do
Brasil, mas nasceu na Itália. confeccionar as mesmas e dar às pessoas mesmo em nossas necessidades.
necessitadas. Elas podem ser obtidas Santo Frei Galvão, rogai por nós povo
Alguns testemunhos gratuitamente em São Paulo no Mos- brasileiro e estimula-nos a seguir o teu
“Este homem, Frei Galvão, é preciosís- teiro da Luz. A postuladora da causa de exemplo, as tuas atitudes de serviço aos
simo a toda esta cidade e vilas da Capitania canonização de Frei Galvão (irmã Célia, pobres e assistência aos doentes. Que
de São Paulo, é homem religiosíssimo e Congregação das Irmãzinhas da Imaculada sejamos todos discípulos e missionários
prudente conselheiro ao qual todos vão ao Conceição, fundada por madre Paulina) de Jesus Cristo! 
encontro para ter luz e conforto; é homem trouxe para o processo de beatificação
da paz e da caridade”(Câmara do Senado 23.929 graças registradas e, depois da José Tolfo é missionário e animador vocacional no Centro
de São Paulo ao ministro Provincial dos beatificação até junho de 2004, mais 5.478 Missionário José Allamano, São Paulo.

- Maio 2007 23
Uma chama de amor “(...) que as crianças cantem livres sobre os muros e
Infância
Missionária
ensinem sonhos ao que não pode amar sem dor!” (Taiguara)

de Roseane de Araújo Silva Sangue de inocentes


Na Etiópia as meninas também são recrutadas e somam

N
cerca de 25 a 30% das forças de oposição armadas, sendo
este mês comemoramos a criação da Infância Mis- usadas sexualmente para diversão dos soldados e guerrilheiros.
sionária, ou Santa Infância, por dom Carlos Forbin Não é raro também, encontrarmos casos de jovens “voluntários”,
Janson, bispo de Nancy, França. Queremos reforçar buscando sobreviver à pobreza de suas famílias ou a uma vida
o papel desta Obra Missionária a partir do contexto abandonada: é o caso

Chris Hondros
histórico em que surgiu. A sensibilidade de dom da República Demo-
Carlos, diante da triste realidade das crianças chi- crática do Congo, onde
nesas, relatadas pelas notícias dos missionários distantes, nos cerca de 5.000 jovens
inspira hoje na defesa dos direitos das crianças e adolescentes. ingressaram no exér-
A cada dia que passa a situação vivida pelos pequeninos torna- cito nacional após a
se um desafio diário para todos nós. Quero trazer à esta página convocação através
a realidade das crianças-soldado; pouco divulgada nos meios do rádio. Na Ásia, num
de comunicação, porém, portadora de uma ação que prejudica conflito bastante dura-
e destrói o que nossas crianças e adolescentes possuem de douro entre o gover-
mais precioso: a capacidade de sonhar com um futuro melhor. no de Myanmar e as
Calcula-se que existam hoje no mundo pelo menos 250 mil minorias étnicas bir-
meninas e meninos-soldado em sangrentos conflitos armados, manesas, as crianças
na África, Ásia e Américas (no Haiti e nas guerrilhas e grupos são usadas como iscas
paramilitares colombianos). para detonar as minas
antipessoais. Nestes
países também ocor-
rem raptos de crianças.
Sugestão para o grupo Infelizmente esta práti-
ca é comum em outros
Acolhida países em conflito. De Criança-soldado na Monróvia, Libéria.
Motivação (objetivo): lembrar o aniversário de criação da país a país ocorre uma
Infância Missionária e a realidade dos pequenos soldados da
variação na faixa etária das crianças-soldado, a maioria tem entre
Ásia, África e do nosso continente americano.
Oração: Deus Pai Criador, olhai por todas as crianças e 15 e 18 anos, mas não faltam recrutas de 10 anos. No Brasil,
adolescentes vítimas das guerras, marcadas pelo ódio e pela vemos muitas crianças e adolescentes serem recrutados pelo
vingança. Fortalecei o nosso grupo para que novas crianças e submundo do tráfico, desenvolvendo uma afinidade maior com
adolescentes tornem-se missionários, anunciadores do Evange- o mundo violento das armas de fogo e das drogas.
lho e denunciadores de tudo o que nos afasta do Teu Reino. Em fevereiro deste ano, ocorreu a Conferência Free Children
Partilha dos compromissos semanais From War (Crianças Libertas da Guerra) com um documento final
Leitura da Palavra de Deus: Evangelho de Lucas 10, 1-5
assinado por 10 dos 12 países onde existem crianças-soldado,
Anunciadores do Reino.
Compromissos missionários: Jesus envia os discípulos comprometendo-se pela não utilização destes pequenos. A
dois a dois a evangelizar, deixando claro as dificuldades que Birmânia e as Filipinas não participaram da reunião.
eles teriam, porque a sociedade tem uma proposta contrária Jesus reservava sempre uma atenção especial às crianças
ao Reino de Deus. A vida dos missionários não é fácil, mas do seu tempo, as quais tinham pouco valor junto aos adultos. Ele
também é repleta de alegrias e sinais das graças do Deus traz a criança para o centro, valorizando-a e defendendo-a: “e
da Vida. Vamos organizar um mural com informações sobre se alguém escandalizar um destes pequeninos [...] seria melhor
as crianças-soldado? Pesquisar em revistas e jornais princi-
que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada
palmente a situação que leva estas crianças e adolescentes
a se tornarem soldados, a idade delas e o que conhecemos no pescoço” (Mc 9, 42). Inspirados pelo exemplo de Jesus e
destes países em guerra. Organizar em seguida para o mural pela ação concreta de dom Carlos tornemo-nos missionários
da comunidade ou da escola, estas informações (pedir auxílio defensores da vida de todas as crianças e adolescentes. Eu ouvi
aos professores de Geografia, História e aos missionários pró- certa vez que “o missionário [e a missionária] tem que ser um
ximos). Esse gesto contribuirá também para tornar o trabalho pouco poeta e um pouco profeta”. É o anúncio e a denúncia, os
dos missionários mais conhecido. clamores desta dura realidade que nos desafia. Não deixemos
Momento de agradecimento ao Deus da Vida pela atuação
que esta chama se apague! De todas as crianças do mundo
dos missionários e missionárias nestes continentes denunciando
estes abusos e acolhendo as vítimas. – sempre amigas! 
Canto e despedida
Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da Rede Pública do Paraná.

24 Maio 2007 -
A metodologia
da JM

Luigi Cason
Membros da Infância Missionária
crescem, tornam-se adolescentes e
jovens e anseiam por seguir na mesma
linha de formação e ação, agora em
grupos de Juventude Missionária (JM).
de Vitor Menezes

N
as duas últimas edições, apresentamos um pouco
Jovens da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, Monte Santo, BA.
do histórico, do perfil e da identidade da Juventude
Missionária. Para continuar o nosso papo apresen- da missão além-fronteiras. O carisma específico, principal, da
tamos agora a primeira parte da metodologia que, JM é a dimensão além-fronteiras da Missão.
sem dúvidas, é a alma de toda a Obra e a melhor
inspiração de seus fundadores. Sendo única, di- Quarta semana:
nâmica, includente e libertadora, a metodologia da Juventude testemunho missionário (celebrar e avaliar)
Missionária (JM), a mesma da Infância Missionária, é utilizada É a celebração e a avaliação da caminhada mensal do grupo
nas reuniões semanais dos grupos onde acontece o processo e, se possível, dos demais grupos. Todos se encontram para
principal de formação missionária dos jovens em um ciclo de colocar em comum tudo o que se viveu em cada grupo naquele
quatro semanas e quatro áreas integradas. mês e quais as propostas cujos objetivos foram alcançados.

Primeira semana: Ainda faz parte da metodologia da JM:


realidade missionária (ver) - A idade dos integrantes dos grupos de JM: entre 15 e 25
Neste encontro, os jovens colocam em comum as informa- anos.
ções que conseguiram recolher sobre determinado tema de - O número de participantes ideal por grupo é de 12, podendo
interesse do grupo e de jovens além-fronteiras. Estas informa- chegar a 20.
ções são organizadas de modo a se obter uma visão completa - A JM promove a participação nas ações missionárias (for-
da realidade. A partir disso, serão feitas orações espontâneas, mação) aquém e além-fronteiras.
reflexões e tarefas concretas. - Os jovens que não possuem caminhada missionária e que
queiram inserir-se no grupo da JM deverão passar por um
Segunda semana: processo de formação e integração que lhes esclareça o
espiritualidade missionária (iluminar) carisma do grupo do qual irão participar.
Desta vez, os jovens procuram e colocam em comum, textos - O grupo de JM se reúne semanalmente.
que pesquisaram na Bíblia e em outros livros religiosos, procu- - O grupo da JM deverá escolher entre seus membros um
rando saber o que Deus “pensa” sobre a realidade estudada coordenador, e deverá buscar o apoio de um assessor.
na semana anterior, a fim de “sentir como Jesus e com ele” os A metodologia da JM é uma maneira nova de evangelizar a
principais anseios da humanidade: esta é a espiritualidade do juventude hoje. Ela favorece ao jovem maior conhecimento e en-
jovem missionário. gajamento na Missão da Igreja, principalmente na dimensão além-
fronteiras. O jovem que vive a mística missionária da JM aprende a
Terceira semana: ver a realidade a partir de conceitos mais universais e includentes.
compromisso missionário (agir) Mais informações no livro para a Juventude Missionária, das
Os membros do grupo formulam um compromisso para dar POM. E-mail: material@pom.org.br 
a sua resposta às realidades estudadas nas primeiras semanas.
Apesar dos apelos locais, o grupo aponta para compromissos Vitor Menezes é sacerdote diocesano de Jequié, BA, e Secretário Nacional da Obra da Propagação
que possam alcançar as situações mais urgentes e precárias da Fé e Juventude Missionária.

- Maio 2007 25
Bendito o que vem em nome
Entrevista

do Senhor!
O Brasil se prepara para

Vincenzo Pinto
receber o papa Bento
XVI, que inaugura a V
Conferência do CELAM e
visita a Arquidiocese de
São Paulo.
de Jaime Carlos Patias

B
ento XVI é o segundo papa a
visitar o Brasil. João Paulo II es-
teve no país em três ocasiões:
1980, 1991 e 1997. No roteiro
da visita que acontece de 9 a
13 de maio, merece destaque
o encontro inter-religioso a realizar-se no
dia 10, no Mosteiro de São Bento, onde
o papa vai ficar hospedado durante sua
permanência na capital paulista. Apro-
ximadamente 10 representantes das
religiões judaica, muçulmana e cristã
estarão com Bento XVI. No mesmo dia,
às 18h00 acontece um encontro com
a juventude no Estádio do Pacaembu,
ocasião em que os jovens falarão sobre
os principais problemas enfrentados por
eles no Brasil. Dia 11, no Campo de Mar-
te, Zona Norte da capital paulista, numa
missa para os fiéis, o papa canonizará o
beato Frei Galvão, primeiro santo nascido
em solo brasileiro. Mais tarde, Bento XVI
fará um encontro com os bispos do Bra-
sil na Catedral da Sé. No final da tarde
segue para Aparecida, onde se hospeda
no Seminário Bom Jesus para, no dia
seguinte visitar a Fazenda da Esperança,
em Guaratinguetá. De volta a Aparecida,
o papa reza o Rosário no Santuário e
se encontra com padres, religiosas, re-
ligiosos, diáconos e seminaristas. No dia
13, na praça principal, o Pontífice reza a
missa de inauguração da V Conferência
Bento XVI durante cerimônia do Domingo de Ramos, 1º de abril, 2007, Praça São Pedro, Vaticano. Geral do Episcopado da América Latina

26 Maio 2007 -
falar ao Santo Padre dos desafios pelos uma vez que a Amazônia abrange um
quais passam hoje. pouco mais de 50% do território nacional.
Haja vista também a difícil situação social
De Aparecida devem sair diretrizes da Região.
para a ação da Igreja nos próximos
anos em nosso continente. O lugar é Diante do princípio de igualdade
simbólico para os desafios da missão e relação de gênero, como o senhor
da Igreja? vê a participação da mulher na V
A escolha do Brasil deveu-se à ur- Conferência?
gência da missão em nosso país, isto Haverá presença e participação de
é, ao apelo premente de evangelizar o mulheres na Conferência de Aparecida.
povo, de ir encontro e acolher os irmãos Isso é necessário. Quando se fala na
afastados, de apontar saídas aos graves relação de gênero, além do aspecto de
problemas do país. A opção pelos pobres igualdade quanto à dignidade e direitos, é
se faz atual a fim de ajudar o povo a ter importante ressaltar também as diferenças,
trabalho, moradia, educação. A defesa da que complementam e enriquecem, pois a
vida ameaçada, da família fragilizada, a mulher tem sensibilidade e modo peculiar
e do Caribe, evento que se estende até superação da violência, tudo isso certa- de enxergar a realidade, de modo que a
o dia 31 de maio. Às 16h00, já na sala mente iluminará a reflexão da V Confe- reflexão teológica e pastoral fica sempre
de Conferência do Santuário inaugura rência. A cidade de Aparecida, santuário mais completa com a participação de
os trabalhos da Conferência. No final de Maria, lugar de peregrinação do povo, ambos os gêneros.
do dia, um helicóptero levará Bento XVI é por si mesmo lugar teológico, ambiente
ao aeroporto de Guarulhos de onde a espiritual, terreno fértil para os frutos que Após reunir todas as contribuições
comitiva regressa a Roma. a Conferência espera produzir. vindas das conferências episcopais, como
Na reta final dos preparativos, entre- o senhor avalia o documento final?
vistamos dom Pedro Luiz Stringhini, 54, O documento final traz sempre um

Arquivo Pessoal
natural de Laranjal Paulista, SP, bispo esforço de síntese. Permanece como refe-
auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, da rência e orientação. Porém, a Conferência
Região Belém, e Coordenador da Secreta- é sempre mais que o documento; é um
ria Executiva da Visita do Papa. Ordenado momento em si que perdura como sinal de
sacerdote em 1980 e bispo em 2001, dom unidade e comunhão. Da mesma forma, a
Pedro Luiz é também encarregado das ação evangelizadora, missionária e pastoral
Pastorais Sociais, Pastoral Carcerária, e extrapola os limites da Conferência. É uma
representante dos bispos na Comissão ação que precisa acontecer a despeito
Central do Seminário da Caridade. mesmo de conclusões menos ou mais
incisivas da Conferência. É importante que
Dom Pedro, qual a importância da a contribuição provinda das comunidades
visita do papa ao Brasil por ocasião da seja levada em conta e ajude o documento
V Conferência? final a ter rosto latino-americano, isto é,
A visita do papa ao Brasil tem dupla o rosto dos pobres a partir dos quais se
importância. Em primeiro lugar, sendo ele reconheça o rosto de Cristo.
a dar abertura à Conferência de Apareci-
da, fica evidenciado o grande significado O fato criado com a visita do papa,
da mesma para os destinos da Igreja na com a atenção da mídia para porme-
América Latina e Caribe. Em segundo lugar, nores sem importância não estaria
o papa decidiu fazer dessa oportunidade desviando a atenção do tema central
um momento de visita pastoral, permane- da V Conferência?
cendo dois dias na maior cidade e maior Isso é normal, pois a mídia é destinada
Arquidiocese do país - São Paulo -, onde às massas, para as quais tais pormenores
celebrará a missa de canonização do beato Dom Pedro Luiz Stringhini. normalmente não são sem importância.
Frei Galvão. Será o momento do povo, do São pormenores que tocam em aspectos
rebanho que acolhe seu pastor. “É certo que nós próprios precisa- ligados a expressões religiosas, vida fa-
mos de missionários, mas devemos miliar, costumes, modos de se relacionar,
O que se espera da juventude no dar de nossa pobreza” foi um apelo de artesanato, questões ligadas ao mundo do
seu encontro com o papa? Puebla (n. 368). Que disposição tem hoje trabalho (confecção de objetos religiosos
Um grande comparecimento a esse a Igreja do continente para a missão etc). Nós falamos de pastoral e teologia; o
evento singular. Do encontro, espera-se Ad Gentes e além-fronteiras? povo fala mais de religião, dimensão esta que
que ajude os jovens a se sentirem acolhi- Temos que nos sensibilizar sempre a Conferência deveria também considerar.
dos e comprometidos com Jesus Cristo, mais em relação à missão Ad Gentes. Os A cobertura da imprensa à visita pastoral do
com a Igreja e com um futuro de paz e Regionais do Sul da Conferência Nacional Papa, que vai abrir a Conferência, ajudará a
justiça para a humanidade. O encontro dos Bispos do Brasil têm dado significativa o povo a voltar sua atenção à Conferência
permitirá à juventude saudar o papa e ajuda à Igreja da Amazônia, enviando após o retorno do papa a Roma. 
ouvir sua mensagem, que certamente recursos materiais e humanos (padres,
será de esperança. Através da fala de leigos e religiosas especialmente). Mas Jaime Carlos Patias é missionário, mestre em comunicação e
alguns representantes, os jovens vão ainda é pouco considerando a extensão, diretor da revista Missões.

- Maio 2007 27
Universitários
amazônia

em Missão
Projeto Missionário da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do
Sul integra estudantes, professores, funcionários e religiosos na Amazônia.

Universidade Missionária
Fotos: Alexandre Campos Selister

O Programa Universidade Missionária teve início em dezembro


de 2004, com a realização da Missão Butiá, no Rio Grande do
Sul, beneficiando seis mil pessoas de 700 famílias. Por meio de
oficinas, visitas domiciliares, cursos de capacitação e palestras,
os 55 universitários puderam colaborar no processo de trans-
formação da realidade do município. Após esta experiência,
foram realizadas mais quatro Missões solidárias, nos meses
de janeiro e julho de 2005; e janeiro e dezembro de 2006: no
Chile, novamente na cidade de Butiá, na Vila Nossa Senhora de
Fátima, em Porto Alegre e em Ji-Paraná, Rondônia.

Indígenas de Ji-Paraná
Em diálogo com a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) local
e com a Assessoria da Pastoral Indigenista da Diocese de Ji-
Paraná, os missionários visitaram três povos indígenas (Arara,
Avaliação de saúde bucal. Gavião e Zoró), que vivem próximos à cidade. Nessa oportuni-
dade puderam conhecer um pouco de sua cultura, artesanato,
estrutura das aldeias, meios de subsistência, cultivo de plantas
de Alexandre Campos Selister, Édison Hüttner e Zita Judith Bonai medicinais e práticas religiosas. Os participantes foram organi-
zados em três pequenos grupos que desenvolveram ações em

P
uma das aldeias. A equipe coordenada pelo Ir. Édison Hüttner e
rofessores, funcionários e acadêmicos da Pontifícia pela professora Raquel Dias visitou o povo Arara onde realizou
Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC-RS, oficinas com crianças e adultos e reuniões com lideranças. O
dos cursos de Nutrição, Relações Públicas, Serviço povo Arara, autodenominado Karo Rap, vive no Igarapé-Lourdes
Social, Fisioterapia, Odontologia, Psicopedagogia, com uma população aproximada de 200 pessoas. Mantém seus
Pedagogia, Pedagogia e Multimeios, Biologia, Direito, rituais tradicionais e manifesta profundamente sua mística com
Enfermagem e Teologia, realizaram no mês de janeiro práticas religiosas.
de 2007, no município de Ji-Paraná, em Rondônia, a Missão O segundo grupo sob a coordenação do acadêmico Alexan-
Amazônia II, que integra o projeto Universidade Missionária do dre Selister e uma integrante da Pastoral Indigienista visitou os
Centro de Pastoral e Solidariedade da Universidade. Por meio índios Gavião, onde tomou conhecimento da realidade através
de oficinas e palestras os participantes abordaram temas rela- de reuniões com lideranças, agentes de saúde e professores.
cionados ao meio ambiente, saúde, educação, espiritualidade e Tratou-se de temas relacionados à cultura, história do povo,
comunicação em comunidades da região. O grupo também pôde educação, saúde, espiritualidade, relações interpessoais e co-
conhecer a realidade da população indígena e as dificuldades municação, entre outros. A visita foi realizada na aldeia central
das comunidades ribeirinhas que durante este período do ano chamada Ikolen. O povo Gavião denominado Ikõlõ habita a terra
sofre com a cheia do Rio Machado. indígena Igarapé-Lourdes, com 185.534 hectares e homologada
Em 2006, uma Missão organizada pela PUC-RS também em 1983. O local fica fora de sua área tradicional, junto ao povo
em Ji-Paraná, como parte do projeto, permitiu a realização de Arara. Tem uma população de aproximadamente 700 pessoas,
um diagnóstico do local. A partir das constatações, a Missão que antes ocupava as margens do Rio Branco, mas foi expulsa
deste ano estimulou soluções para os problemas sociais de- pelos fazendeiros. Os Gavião mantêm suas práticas tradicionais
tectados e para as necessidades das comunidades indígenas como festas, rituais de pajelança, pintura corporal, artesanato e
do Igarapé-Lourdes. a construção de malocas de forma oval.

28 Maio 2007 -
Participantes
Depoimentos
Ir. Édison Hüttner Gesilaine Rodrigues Stachelski
Tabajara Krüger Moreira Guilherme Gomes de Souza
“A Missão permitiu diagnosticar e corroborar a impor- Zita Judith Bonai Rafael Gomes de Moura
tância da responsabilidade social e do comprometimento Alexandre Campos Selister Bruno Fagundes Ferreira
da extensão universitária com a melhoria da qualidade Raquel da Luz Dias Jamhur do Amaral Zogbi
Raquel Pelizzari Calixto Lidianna Scarrone
de vida da sociedade brasileira. E os profissionais ligados
Francisca Lima dos Santos Raquel Polo Ribeiro
à saúde, meio ambiente e educação são fundamentais Priscila Mattis Fabio Schiavo Ávila
na reestruturação necessária e urgente deste convívio Kelly Martini Ir. Vinícius Marostega da Veiga
social”. Gerson Farias de Souza Ir. Laurindo Viacilli
Guilherme Gomes de Souza, Ciências Biológicas. Renata Correa Macedo (convidado)

“A Missão é uma oportunidade para acadêmicos,

Arquivo Projeto Missionário, PUC-RS


professores e principalmente para as comunidades. A
troca que se estabelece durante as visitas e oficinas são
fundamentais, pois possibilitam o conhecimento de realida-
des e culturas diferentes, o que contribui para a formação
pessoal e espiritual de todos”.
Raquel da Luz Dias, professora de Nutrição.

“Mais uma Missão com espírito livre e compromissado


com a cidadania do Brasil: cabloco, cearense, mineiro,
gaúcho, capixaba, índio, enfim, todas as faces de nossa
terra promovendo a união de Norte a Sul, o encontro com
o horizonte. Queremos trazer presente a importância do
dever de cada cidadão com o seu futuro, e o direito que
todos têm de viver feliz, com saúde, educação, no seio de
sua cultura e tradição. Esta é a minha e a sua Missão”.
Ir. Édson Hüttner, Coordenador da Missão Amazônia.

“A realidade de Ji-Paraná é a mesma de tantas outras


cidades do Brasil. Tem seus aspectos positivos do ponto de
vista cultural, econômico e social, porém, as expressões
das questões sociais são visíveis nos âmbitos da saúde O que foi visto
“Vimos uma Amazônia degradada que dá lugar rapidamente
e educação. As perspectivas são de que haja parcerias
a grandes propriedades rurais com cultura de soja ou criação de
com as Instituições e projetos para uma melhor efetiva- gado. Também sentimos que falta preservação da identidade do
ção das intervenções junto às famílias, terceira idade e o amazonense”, relata o Ir. Édison Hüttner. Em Rondônia, como
adolescente”. em muitos outros lugares, os gaúchos procuram preservar suas
Ir. Francisca Maria L. dos Santos, Serviço Social. tradições, montando Centros de Tradição Gaúcha (GTGs) e
promovendo sua cultura. Ao contrário, a população local não
“A Missão Amazônia teve um grande significado para preserva a história do caboclo, do seringueiro, do ribeirinho que
minha vida e para a vida de cada um de nós. Percebi a união vive em contato com os índios e a floresta. Apenas os aspectos
e a motivação de cada um. Eu me sinto muito realizado econômicos da atividade seringueira são lembrados, mas poucos
que destaquem o modo de vida ancestral dos povos da Amazônia,
com este trabalho por poder levar uma palavra amiga e
sua identidade cultural, sua culinária, sua música, seu modo de
escutar estas famílias e ao mesmo tempo aprender muito
vida, observou Hüttner. Isso funcionaria até mesmo como um
com elas sobre a faculdade da vida”. fator de resistência aos elementos externos que chegam para
Ir. Vinicius Marostega da Veiga, Teologia e Pós-médio Magistério. destruir a floresta. A cultura local só aparece em alguns museus
climatizados, visitados por turistas. É assustador o avanço da
destruição da floresta e a ausência do poder público. Mesmo
O grupo que estava sob a coordenação de Zita Judith em comunidades indígenas, normalmente tidas como aliadas
Bonai visitou o povo Zoró localizado aproximadamente a 120 na preservação da natureza, já é necessário um trabalho de
quilômetros de Ji-Paraná. Os missionários também puderam conscientização ecológica, para reaver sua tradição, pois são
realizar um levantamento da situação em que vive esta comu- visíveis em certas aldeias os problemas com o lixo e agressões
nidade indígena. A pintura corporal feita no grupo foi uma das à floresta, por exemplo. 
formas encontradas por eles para agradecer a visita. Com uma
população de aproximadamente 420 pessoas, o povo Zoró, se Alexandre Campos Selister cursa Relações Públicas na PUC-RS.
autodenomina Pangyjej. Habita na região noroeste do Mato Édison Hüttner é irmão Marista, coordenador da Missão Amazônia, professor de Teologia e Diretor
Grosso, no município de Rondolândia. A terra indígena Zoró foi do Centro Pastoral e Solidariedade da PUC-RS.
homologada em 1991 e tem uma extensão de 355.789 ha. Zita Judith Bonai, pedagoga e pós-graduada em Psicologia Social Comunitária.

- Maio 2007 29
Eldorado dos Carajás - PA porção de padres no Brasil é a mais baixa do mundo
Impunidade para os mandantes entre os países católicos. Enquanto no Brasil há 18.685
No dia 17 de padres, uma média de um sacerdote para mais de 10

Jaime C. Patias
abril, completa- mil habitantes, na Itália existe um padre para cada mil
ram-se 11 anos habitantes. Assim sendo, nosso país precisaria de mais
do Massacre de 200 mil padres para atingir a média italiana. A proporção
Eldorado dos Ca- do Brasil fica atrás mesmo quando comparada com a
rajás, ocorrido ao de países que não são majoritariamente católicos como
sul do Pará, e que os EUA, onde existe um padre para cada 6.350 habi-
ganhou repercus- tantes, e a Alemanha, com um padre para cada 4.500
são internacional. habitantes. Na América Latina, o problema enfrentado
Na chacina, 19 pelo Brasil torna-se evidente ao analisar os números. A
trabalhadores Argentina tem um sacerdote para cada 6.800 habitantes,
rurais, ligados ao e a Colômbia, um para cada 5.600. A média do México,
Movimento dos o segundo maior país católico do mundo, é a que mais
Trabalhadores se aproxima do Brasil: um sacerdote para cada 9.700
Rurais Sem-Ter- habitantes. Numa tentativa de enfrentar a situação das
ra (MST), foram paróquias sem sacerdotes, impedidas de celebrar a
assassinados. Eucaristia, Bento XVI recomendou a renovação da pas-
VOLTA AO BRASIL

Sob as ordens do toral vocacional e uma melhor distribuição do clero no


então governador mundo. A idéia de ordenar homens casados foi rejeitada,
do estado, Almir reafirmando-se o valor do celibato sacerdotal.
Gabriel (PSDB), 155 policiais das cidades de Paraua-
pebas, e Marabá, comandados pelo major José Maria Brasília - DF
Pereira e pelo coronel Collares Pantoja, cercaram as Subsídio da CNBB
famílias sem-terra que participavam de uma manifes- As Edições CNBB lançaram o subsídio “Discípulos
tação na rodovia PA-150. Entre os 144 incriminados, e Missionários: roteiros de reflexão e oração” para o
os dois comandantes foram condenados, mas conse- mês de maio, dado que neste período três eventos
guiram recorrer à condenação em liberdade. Ambos os importantes acontecerão no Brasil: a 45ª Assembléia
processos estão paralisados nos tribunais superiores. Geral da CNBB (de 1 a 9 de maio); a visita do Papa
Segundo Marco Aurélio Nascimento, promotor público Bento XVI (de 9 a 13 de maio) e a V Conferência Geral
do caso, os recursos levam à impunidade. “A gente do Episcopado da América Latina e do Caribe (de 13 a
lamenta esta mentalidade dos juristas brasileiros, que 31 de maio). O subsídio é baseado na liturgia do tempo
acham que a pessoa deve recorrer eternamente e nunca pascal. Oferece reflexões e propostas de orações para
ir para a cadeia. Em outros países isso não acontece, cada dia do mês, para que o povo possa rezar, refletir
é só no Brasil, infelizmente. A mentalidade destes e acompanhar os debates sobre os vários temas que
juristas é que as pessoas têm este direito de recorrer, serão discutidos pelos bispos do Brasil e da América
a chamada presunção de inocência, mas traduzindo Latina durante a V Conferência. O subsídio destina-se
o que é? Impunidade total, absoluta”. Em 2002, por às paróquias e às comunidades, que poderão usá-lo
meio de um decreto do presidente Fernando Henrique na primeira parte da missa, ou nas celebrações da
Cardoso, o dia 17 de abril se tornou o Dia Nacional de Palavra. Poderá ser usado também nos conventos,
Luta pela Reforma Agrária. Ao lado do Massacre do mosteiros, seminários, grupos de reflexão, famílias ou
Carandiru (1992) e da Chacina da Candelária (1993), mesmo individualmente. Os pedidos podem ser feitos
o Massacre de Eldorado dos Carajás é considerado nas Edições CNBB, pelo telefone: (61) 2103-8383 ou
como uma das ações policiais mais brutais da história pelo e-mail: edicoescnbb@cnbb.org.br
recente do Brasil.
Concurso do cartaz da CF 2008
Frederico Westphalen - RS Em 2008 a Igreja Católica no Brasil celebra a
Beatificação dos mártires gaúchos Campanha da Fraternidade com o tema: “Fraternidade
No dia 21 de outubro, a Igreja do Rio Grande do Sul e defesa da vida” e o lema: “Escolhe, pois, a vida” (Dt
viverá um dos maiores acontecimentos de seus quatro 30, 19). Neste sentido a Comissão Episcopal Pastoral
séculos de presença no estado. Serão beatificados para a Cultura, Educação e Comunicação Social,
em Frederico Westphalen os mártires padre Manuel juntamente com a Secretaria Executiva da Campanha
Gonzáles e o coroinha Adílio Daronch. O ato solene da Fraternidade lançou o Concurso Nacional para a
contará com a presença do presidente da Congregação criação do cartaz que irá traduzir o lema da CF 2008.
para a Causa dos Santos, cardeal Saraiva Martins, que O concurso destina-se aos comunicadores, agentes
virá do Vaticano para presidir a cerimônia oficial. Para da Pastoral da Comunicação, designers, agentes da
divulgar a vida dos mártires para todo o país, a Rede Campanha da Fraternidade e a quem tem afinidade
Vida de Televisão apresenta todos os dias o programa com a comunicação social. O prazo para envio dos
minuto dos mártires. cartazes vai até 31 de maio de 2007. Informações:
comsocial@cnbb.org.br ou cf@cnbb.org.br 
Brasil
Menor proporção de padres no mundo
Dados de 2006, do Centro de Estatística Religiosa
e Investigações Sociais (Ceris), mostram que a pro- Fontes: Agência Ecclesia, CNBB, Notícias do Planalto.
30 Maio 2007 -
Centro Missionário
José Allamano ATENDEMOS:
Congregações e grupos
religiosos, movimentos,
Casa de Retiros e Encontros
paróquias, empresas,
Atividades do mês de Maio Atividades do mês de JUNHO associações e outros.
Dia 06: Retiro Mensal Dia 03: Retiro Mensal
Dia 19: Formação Missionária Dia 16: Formação Missionária
Dia 27: Encontro para jovens Dia 24: Encontro para jovens

PARA MAIS INFORMAÇÕES:


Rua Itá, 381 - Pedra Branca - 02636-030 - São Paulo - SP
Tel.: (11) 6232-2383 - E-mail: secretariamissao@imconsolata.org.br
www.centromissionario.org.br


Desejo receber MISSÕES
por BOLETO BANCÁRIO

Novo/a leitor/a Renovação
por CHEQUE NOMINAL E CRUZADO

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A SEMANA DE
ORAÇÃO NÃO É:

 Apenas um conjunto

A SEMANA DE
ORAÇÃO É:

 Orar pela unidade dos


cristãos,
 Educar as comunidades
cristãs no caminho
da reconciliação,
 Planejar a ação ecumênica
permanente da
comunidade e
 Agir para a transformação
das relações humanas
conforme o Evangelho.

Unidos em oração ouvimos


o apelo do apóstolo Paulo:

“Nós trabalhamos juntos na


obra de Deus e vós sois o
campo de Deus,
a construção de Deus”

Você, seu grupo e sua Igreja


podem nessa Semana:
estudar, orar, formar equipe
de animação ecumênica,
conhecer outros cristãos,
crescer na espiritualidade de
unidade.

O QUE FAZER:

 Pedir material com


antecedência.
Assim vocês terão tempo
de aproveitar melhor as
sugestões e fazer boa
divulgação.
 Criar uma equipe ou grupo
de animação ecumênica
local.
Ótimas idéias vão surgir
para melhorar muito a
educação ecumênica do
povo cristão.
 Elaborar um plano simples.
Isso ajuda no
envolvimento de pessoas
e na realização de
atividades
transformadoras.
 Enviar ao CONIC a
avaliação das atividades
realizadas.
Isso contribuirá para os
próximos planejamentos.

COMO CELEBRAR A
SEMANA DE ORAÇÃO

 Orar juntos!
 Celebrar juntos!
 Agir juntos!

A oração comum entre


cristãos de diferentes
igrejas tem a
primazia e deve ser
procurada com
perseverança.

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