“José Sócrates é apontado pelos portugueses como o pior primeiro-ministro
desde que Portugal entrou na União Europeia”, indica uma sondagem exclusiva da Exame/Gemeo-IPAM, referenciada pelo Expresso online, a publicar pela revista Exame no dia 24. Eu já desconfiava, eu que tenho andado sempre calado! Calculo eu que o resultado seja por isto e também por aquilo, certamente por tantas e tantas coisas, que os caracteres desta crónica de opinião, vezes quatro anos, não chegariam para enunciar. Mas este inquérito mostra, afinal, aquilo que já sabíamos. Aliás, que todos sabem, menos aqueles que, sabendo, fingem que não sabem por causa dos tachos, mordomias e outras sinecuras que este Poder lhes traz! Foram quatro anos de arrogância, transmitidos por via hierárquica, piramidalmente, logo depois transversalmente, como se a mordedura do mosquito do Poder trouxesse a loucura a homens e mulheres que, em outras alturas, considerei sempre politica e eticamente sãos (de esquerda, de direita e do centro), ponderados e capazes de dizer, sem que as vozes lhes doessem, que o rei ia sempre nu, apesar de vestido de Armani. Quem pensou que os professores eram um grupo amestrado, dócil, fácil de domesticar e de partir, se necessário fosse, bem que se enganou: teve pela frente um conjunto de cidadãos coesos, orgulhosos da sua profissionalidade e decididos a combater a mentira e a defender, como o fizeram, a sua dignidade. Nunca nesta luta, apesar de congelados na sua carreira e prejudicados no seu futuro profissional, nunca os professores pediram mais dinheiro, nem benesses. Foram para a rua e exigiram, isso sim, respeito, exactamente aquilo que os governantes não lhes sabiam dar. E lhes queriam, indignamente, tirar. Por isso, o foram reconquistar, pois o respeito era e é para ser exigido. E quem julga que os professores se deixaram instrumentalizar por este ou aquele sindicato, por este ou por aquele partido, não sabe verdadeiramente do que fala ou nem nunca percebeu, ou não quis perceber, o verdadeiro cerne desta luta. Bem basta termos tido uma ministra que nunca entendeu nada de nada, apenas que tinha de arranjar bodes expiatórios para o fracasso das políticas do eduquês que este Ministério há 30 anos vem debitando! Na verdade foram os movimentos independentes de professores que impuseram a continuação do combate quando muitos se prestavam a capitular; são ainda os movimentos independentes de professores que vêm para a rua dizer que têm memória e que não esquecem. O País vai a votos! Engalanado de propaganda, de jogatanas e partilhas de corredores e gabinetes, Portugal discute mais o passado do que o futuro, acena mais com o TGV do que com o interior deixado às sortes, apresta-se para deixar que um inquérito fundamental, mais uma vez, nunca venha a ter conclusão, faz as contas aos ganhos milionários dos gestores (só os da REN foram 123% a mais do que em ano anterior) enquanto meio milhão de desempregados não sabe como sobreviver. O País vai a votos e os cidadãos vão ter a sua voz. Neles, e na força indomável de que a mentira e a encenação não hão-de sempre vencer, reside a esperança de podermos vir a ter um lugar limpo onde viver enquanto nação, sem os tiques dos políticos sem escrúpulos. Sou Professor, com muita honra. Sou escritor, também! Durante anos quis escrever, aqui, neste jornal, sobre tantas outras coisas belas que a vida tem. Mas não me foi possível. E não me arrependo. Porque a dignidade e o sentido ético são essenciais para quem preza a liberdade e a seriedade duma vida inteira. Mesmo quando, atrás de palavras, nos querem correr à pedrada.