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Uma segunda mudança que merece destaque é o caráter universal dos direitos
conferidos. Reside no reconhecimento legal do direito de todas as crianças e
adolescentes à cidadania independentemente da classe social (Pino, 1990).
Enquanto o antigo CM destinava-se somente àqueles em "situação irregular"
ou inadaptados, a nova Lei diz que TODAS as crianças e adolescentes são
sujeitos de direitos. Eis, no meu ponto de vista, uma mudança de paradigma.
conviver em sociedade. Natural que fossem condenados à segregação. Os
meninos que pertenciam a esse segmento da população, considerados
"carentes, infratores ou abandonados" eram, na verdade, vítimas da falta de
proteção. Mas, a norma lhes impunha vigilância.
Isso não significa negar a relação de dependência das crianças aos adultos e
nem a responsabilidade que os últimos têm quanto ao desenvolvimento dos
primeiros. Contudo, significa impedir a ocorrência daquilo que, nesta relação,
traz a marca do autoritarismo, da violência e do sofrimento (Teixeira, 1991). Ao
assumir que a criança e o adolescente são "pessoas em desenvolvimento", a
nova Lei deixa de responsabilizar algumas crianças pela irresponsabilidade dos
adultos. Agora, são TODOS os adultos que devem assumir a responsabilidade
pelos seus atos em relação às TODAS as crianças e aos adolescentes.
Insisto na idéia da SINGULARIDADE vivida pelas crianças e adolescentes. São
seres sócio-históricos que não apenas reagem às determinações sociais, mas
são também SUJEITOS de ações. Participam de um momento histórico em que
criam e transformam sua existência, a partir de suas experiências cotidianas,
que são vividas de forma singular.
Neste sentido, o que define a adolescência não é uma crise inerente à uma
idade. Nem uma essência biológica universal. É um conjunto de características,
que inscreve uma qualidade de pensamento que é diferente na infância e na
idade considerada adulta. Uma qualidade de pensamento que possibilita a
reflexão sobre os significados e sentidos de seus interesses.
Ressalto com isso, que a adolescência não pode ser considerada como uma
fase propícia à transgressão. A atuação do adolescente depende das relações
que ele vive e das que ele conhece no meio social. Ele atribui SENTIDOS a
estas vivências e estes vão servir como parâmetros para suas futuras
relações. Sabemos que quanto mais amplo e diversificado for o universo
cultural do indivíduo, maior a possibilidade de seu desenvolvimento,
conhecimento do mundo, de seus próprios interesses e de sua capacidade de
criação.
Neste campo, o Estatuto introduz um elemento novo que é a constituição de
Conselhos de direitos e dos tutelares. Elementos fundamentais para as novas
políticas de atendimento, os conselhos também são espaços de participação
da sociedade organizada. Governo e sociedade, juntos, assumem
responsabilidade pela formulação e controle das ações relativas aos direitos da
Criança e do Adolescente.
ECA serve apenas para encobrir atos delituosos de adolescentes, protegê-los,
retirando-lhes a responsabilidade. Aqui temos também um outro problema , o
da mudança de mentalidade, tarefa esta que depende também de um processo
histórico e da vontade política de educadores e profissionais na discussão do
ECA.
"Se nascemos numa sociedade que nos ensina certos valores morais -justiça,
igualdade, veracidade, generosidade, coragem, amizade, direito à felicidade -
e, no entanto, impede a concretização deles porque está organizada e
estruturada de modo a impedi-los, o reconhecimento da contradição entre o
ideal e a realidade é o primeiro momento da liberdade e da vida ética como
recusa da violência. O segundo momento é a busca de brechas pelas quais
possa passar o possível, isto é, uma outra sociedade, que concretize no real
aquilo que a nossa propõe no ideal...O terceiro momento é o da nossa decisão
de agir e da escolha dos meios para a ação. O último momento da liberdade é
a realização da ação para transformar um possível num real, uma possibilidade
numa realidade"(Chauí, p.365).
E essas últimas tarefas, se fazem, para nós, muito urgentes... não temos mais
tempo a perder.
Referências bibliográficas
TEIXIEIRA, M.L.T. Adolescência - violência: uma ferida de nosso tempo. São Paulo, 2002. .
Tese (Doutorado). Serviço Social, PUC/SP.
VOLPI, M.(UNICEF) I Encontro Estadual de Educação Social na rua. São Paulo, jul,2000
(Palestra).
VYGOTSKY,L.S. Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 5ªed., 1998.