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O Código de Defesa do Consumidor e o Envio de Cartão de Crédito não Solicitado

Thomas de Carvalho Silva*

O presente trabalho propõe-se a oferecer um estudo acerca do envio de cartão de crédito


não solicitado, esta prática tão comum que, inegavelmente, vem causando transtornos e
aborrecimentos ao consumidor.

Ab initio, vejamos o que diz a Constituição Federal de 1988, no que tange à Defesa dos
Direitos do Cidadão nas relações consumeristas.

A Carta Magna de 1988, em seu art. 5º, XXXII, dispõe que: “O Estado promoverá, na
forma da lei, a defesa do consumidor”. Ainda, no art. 170, V, diz que:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do


trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípios:
V – defesa do consumidor.

Por fim, o art. 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, segundo o qual: “O
Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará
código de defesa do consumidor”.

Assim, a Lei Maior reconhece a fragilidade do consumidor em face do outro sujeito da


relação de consumo: o fornecedor.

A esse respeito, a ministra do Superior Tribunal de Justiça, Fátima Nancy Andrighii[i]: “A


relação jurídica de consumo, como é sabido, caracteriza-se pela presença de uma parte
vulnerável de um lado (consumidor), e de um fornecedor, de outro. A essência do CDC é o
reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado, que pode ser definida pela
capacidade econômica, nível de informação/cultura, dependência do produto, natureza adesiva
do contrato imposto, pelo monopólio da produção do bem ou sua qualidade insuperável ou até
mesmo pela extremada necessidade do bem ou serviço”.

Nesse sentido, o Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 4º, I:

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por


objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o
respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de
seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de
vida, bem como a transparência e harmonia das relações de
consumo, atendidos os seguintes princípios:
I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no
mercado de consumo.

O aludido Codex dispõe acerca dos direitos básicos do consumidor, dentre os quais: “A
proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais,
bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e
serviços” (art. 6º, IV).

Nesse ponto, primeiramente cumpre-nos esclarecer o que vem a ser prática abusiva.
Conforme o ministro do Superior Tribunal de Justiça, Antônio Herman de Vasconcelos e
Benjaminii[ii], “prática abusiva (lato senso) é a desconformidade com os padrões
mercadológicos de boa conduta em relação ao consumidor”.

Tais condutas ilícitas estão elencadas no art. 39 da Lei nº. 8078/90. Trata-se de rol
meramente exemplificativo e não taxativo. E isso porque, de acordo com Benjamin: “Não
poderia o legislador, de fato, listar, à exaustão, as práticas abusivas. O mercado de consumo é
de extremada velocidade e as mutações ocorrem da noite para o dia. Por isso mesmo é que se
buscou deixar bem claro que a lista do art. 39 é meramente exemplificativa, uma simples
orientação ao intérprete”.

A respeito do tema ora sob comento, trazemos à baila a Súmula 297 do STJ: “O Código
de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras”.

Dito isto, voltemos agora ao Código de Defesa do Consumidor, especificamente ao seu


art. 39, III, que preceitua:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre


outras práticas abusivas:
III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia,
qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço.

Nesse diapasão, o Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta firmado entre o


Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor da Secretaria de Direito Econômico do
Ministério da Justiça e as Associadas da ABECS – Associação Brasileira das Empresas de
Cartões de Crédito e Serviços dispõe, em sua Cláusula Terceira, que “a COMPROMISSÁRIA
obriga-se a não encaminhar cartões de crédito sem a prévia e expressa solicitação dos
consumidores, ou sem prévia consulta da Administradora / Empresa e expressa e comprovada
concordância do consumidor”.

Como se depreende da dicção legal, o produto ou serviço só pode ser fornecido desde
que haja solicitação prévia. No entanto, nossa realidade fática revela situação bem diversa.

Ademais, como se não bastasse o envio de cartão de crédito não solicitado, as


instituições financeiras ainda têm o desplante de cobrar pelo serviço, em desrespeito ao
disposto no parágrafo único do supracitado artigo 39, segundo o qual: “Os serviços prestados e
os produtos remetidos ou entregues ao consumidor, na hipótese prevista no inciso III,
equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de pagamento”.

Além disso, caso o consumidor não pague pelo serviço não solicitado, corre o risco de ter
seu nome inscrito no cadastro do SPC/SERASA. Nesse contexto, cabe citar o parágrafo único
do art. 42: “O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por
valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais,
salvo hipótese de engano justificável”.
Destarte, cabe indenização por danos morais, nos moldes do art. 5º, incisos V e X, da
Constituição Federal de 1988:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além
da indenização por dano material, moral ou à imagem;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material
ou moral decorrente de sua violação.

Por fim, trazemos à lume a jurisprudência acerca do tema:

CARTÃO DE CRÉDITO. REMESSA PELA ADMINISTRADORA SEM


A PRÉVIA SOLICITAÇÃO DO CONSUMIDOR. PRÁTICA ABUSIVA.
DANO MORAL CONFIGURADO. NEXO CAUSAL. MONTANTE
INDENIZATÓRIO.
1 – Apresenta-se ilegal o procedimento do banco que envia cartão de
crédito ao consumidor sem a prévia solicitação. Dano que decorre do
próprio fato. Termo de Compromisso originado no Ministério da
Justiça. Prática abusiva. CDC, art. 39, III. Procedimento que colore a
figura do ilícito, ensejando reparação por danos morais. Nexo causal
configurado.
2 – A fixação do montante indenizatório segue critérios subjetivos do
juiz , e deve ser consentâneo à realidade dos fatos. Apelação
provida.
(Apelação Cível Nº. 70006474399, Décima Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Des. Paulo Antônio Kretzmann, Julgado em
06/11/2003).

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ENVIO DE CARTÃO DE
CRÉDITO SEM A SOLICITAÇÃO DO CONSUMIDOR. DANO
CONFIGURADO. ART. 39, III, DO CDC. QUANTUM. FIXAÇÃO. 1.
DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. A remessa de produto ou
fornecimento de serviço ao consumidor, sem sua prévia e expressa
solicitação, é vedada por lei, caracterizando ilícito civil. Hipótese em
que restou evidenciado o ilícito do demandado que,
independentemente de solicitação, enviou cartão de crédito à autora,
ato que, por si só, basta para caracterizar o dever de indenizar.
Inteligência do art. 39, III do CDC. Precedentes jurisprudenciais.
Conduta que causou transtornos e preocupação à autora e que deve
ser coibida, a fim de evitar a prática de novos ilícitos. Sentença de
improcedência reformada. ... APELAÇÃO PROVIDA. (Apelação Cível
Nº. 70012764783, Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Des. Paulo Roberto Lessa Franz, Julgado em 17/11/2005).

Em decisão recente, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconheceu


o direito à indenização por danos morais quando uma instituição financeira, na ausência de
contratação dos serviços, envia cartão de crédito e faturas de cobrança da respectiva anuidade
ao consumidor (REsp 1061500):

RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ENVIO DE CARTÃO DE
CRÉDITO NÃO SOLICITADO E DE FATURAS COBRANDO
ANUIDADE. DANO MORAL CONFIGURADO.
I - Para se presumir o dano moral pela simples comprovação do ato
ilícito, esse ato deve ser objetivamente capaz de acarretar a dor, o
sofrimento, a lesão aos sentimentos íntimos juridicamente protegidos.
II - O envio de cartão de crédito não solicitado, conduta considerada
pelo Código de Defesa do Consumidor como prática abusiva (art. 39,
III), adicionado aos incômodos decorrentes das providências
notoriamente dificultosas para o cancelamento cartão causam dano
moral ao consumidor, mormente em se tratando de pessoa de idade
avançada, próxima dos cem anos de idade à época dos fatos,
circunstância que agrava o sofrimento moral. Recurso Especial não
conhecido.

Vê-se, pois, que a lei, a doutrina e a jurisprudência são enfáticas em relação a esse
tema: o envio de cartão de crédito não solicitado é conduta considerada pelo CDC como prática
abusiva, dando ensejo à indenização por danos morais. Cabe ao consumidor exercer seus
direitos, uma vez que, conforme alerta o antigo brocardo latino, “dormientibus non succurrit jus”,
ou seja, “o Direito não socorre aos que dormem”.

* Advogado
i
ii

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