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AUTORES:
Maria Aparecida Barbosa Lima
Doutoranda em Administração (NITEC/PPGA/UFRGS)
Janaína Passuello Ruffoni
Mestre em Administração (NITEC/PPGA/UFRGS)
Professora e Pesquisadora da UNISINOS
Paulo Antônio Zawislak
Doutor em Ciências Econômicas (Universidade de Paris VII)
Professor e Pesquisador do NITEC/PPGA/UFRGS
INSTITUIÇÃO:
Núcleo de Gestão da Inovação Tecnológica - NITEC
Programa de Pós-Graduação em Administração - PPGA
Rua Washington Luiz, 855, Centro, Porto Alegre/RS
Telefone: 51-316 3536 Fax: 51-316 3991
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
A rápida mudança no ambiente competitivo em que as empresas atuam faz com que estas
tenham que ter uma capacidade de adaptação e inovação para permanecerem competindo. No
caso da indústria automotiva, caracterizada por ser um oligopólio mundial, muitas são as
exigências de empresas transnacionais nos diversos mercados locais. Para as empresas
permanecerem fornecedoras para as montadoras é necessário o atendimento de diversos critérios,
como, por exemplo, certificação em normas criadas pelas montadoras e capacidade de
fornecimento global em muitos casos, que refletem a acirrada competição existente no setor.
Neste cenário, é importante a realização de uma análise das possibilidades das empresas
fornecedoras atuais permanecerem como fornecedoras no futuro. O objetivo deste trabalho é,
portanto, descrever quais são as tendências tecnológicas observadas na indústria automotiva e as
possibilidades existentes para que as empresas do setor metal-mecânico gaúcho, que são
fornecedoras para esta indústria, respondam a tais tendências. Esta análise será realizada por
meio do cruzamento entre as demandas que tais empresas têm em relação às tecnologias e as
ofertas tecnológicas das instituições de ensino e pesquisa do Estado.
A escolha do setor metal-mecânico, dentre outros que formam a cadeia de fornecimento
para a indústria automotiva gaúcha, justifica-se pelo fato das empresas que pertencem a tal setor,
representarem 64% desta cadeia do Estado.
Para a realização deste trabalho, primeiramente serão descritas as tendências tecnológicas
da indústria automotiva. Posteriormente, serão descritas e analisadas as demandas tecnológicas
das empresas do setor metal-mecânico gaúcho - fornecedor para a indústria automotiva - e as
possibilidades de soluções existentes nas instituições de apoio científico e tecnológico do Estado.
1
Para maiores detalhes sobre a divisão dos segmentos no estudo sobre a cadeia automotiva do RS, ver Zawislak
(2000).
MONTADORAS
(6 empresas / 3%)
DIREÇÃO, MOTOR E
SUSPENSÃO E TRANSMISSÃO
FREIOS (18 empresas / 9%)
(21 empresas / 10%)
ELETROELETRÔNICO
(18 empresas / 9%)
QUÍMICOS, FUNDIDOS
CONFORMADOS E PLÁSTICOS E (25 empresas /
USINADOS BORRACHAS
(68 empresas / 12%)
(51 empresas / 25%)
32%)
N = 207
Figura 2: Distribuição
3.2 Identificação das Demandas Tecnológicas dos Segmentos na CARS
Fonte: Ruffoni e Zawislak, 2000.
DEMANDA
TECNOLÓGICA
Fora da Rotina
PROBLEMA
Rotina
TECNOLOGIA
Portanto, é necessário identificar quais são as necessidades para buscar os caminhos para
supri-las. As soluções podem estar dentro da própria empresa ou em outras instituições que
desenvolvem tecnologia, como as universidades e os centros de pesquisa.
O levantamento das demandas tecnológicas da cadeia automotiva gaúcha foi realizado
através do método de grupo focal, que compreendeu a reunião de pequeno número de
empresários (de oito a doze) de cada segmento para discutirem sobre as demandas daquele
segmento. Este método foi escolhido por proporcionar uma visão ampla e rápida das
necessidades do setor, o que é de extrema importância para a tomada de decisão quanto ao
encaminhamento das soluções das demandas identificadas. Para cada um dos segmentos da
CARS foi realizado um seminário 2 .
Nos seminários os empresários expuseram as demandas tecnológicas de suas empresas.
Inicialmente foi gerada uma lista com todas as demandas levantadas e, posteriormente, estas
demandas foram agrupadas por assunto. Para cada um dos grupos de demandas foi dado um
título, o qual passou a representar as demandas contidas em seu grupo. Estas principais
demandas foram identificadas para cada um dos seis segmentos da cadeia automotiva e também
por tipo de tecnologia. Em cada segmento as demandas foram classificadas de acordo com cinco
diferentes tipos de tecnologia: gestão, desenvolvimento e projetos, produtos e materiais,
qualificação de funcionários e processos.
Os quadros que listam as principais demandas apresentam um ranking por tipo de
tecnologia (gestão, qualificação de funcionários, etc.) e outro por demanda. Os empresários
classificaram os tipos de tecnologia por importância, sendo 1 o mais importante, ou seja, as
soluções para este tipo de tecnologia são as de maior urgência, e 5 o menos importante, porém,
também preocupante. Além desta classificação, os participantes ainda identificaram os
problemas mais importantes dentro de cada tipo de tecnologia (estão em ordem decrescente de
importância, ou seja, o 1 é mais importante).
As informações obtidas nos seminários estão descritas a seguir por segmento.
3.2.1 Segmento de Sistemas de Direção, Suspensão e Freios
O segmento de sistemas de direção, suspensão e freios reúne 21 empresas de autopeças,
que compõem a primeira camada da cadeia de fornecimento, ou seja, são aquelas mais próximas
às montadoras de veículos por fornecerem produtos de maior valor agregado. As empresas deste
segmento representam 10% da CARS. As suas principais demandas encontram-se relacionadas
no quadro 1.
Quadro 1: Principais Demandas Tecnológicas do Segmento de Direção, Suspensão e Freios 3
Gestão Qualificação de Desenvolvimento de Desenvolvimento de Materiais e
Funcionários Processos Produtos
1 2 3 4
Processos de Formação técnica Centro de Pesquisa e Centro de Pesquisa de Materiais
Informação e atualizada e com Validação (questão externa que exige capital e
Comunicação qualidade total, pode ser utilizado por diversas
1 valorizando aspectos empresas)
de relacionamento;
foco em resultado.
2 Avaliação de ----- Centro de Pesquisa em Marketing e Pesquisa
quadro funcional Processos Produtivos
ideal fora das áreas
de transformação
3 Administração de ----- ----- Prototipagem (tecnologia cara)
estoques
2
Para maiores detalhes sobre a realização dos seminários ver Ruffoni et al, 1999.
3
Não foram levantadas as demandas tecnológicas referentes à tecnologia de desenvolvimento e projetos, pois este
foi o primeiro seminário realizado e, a partir desta experiência, identificou-se a necessidade de incluir mais uma
categoria nos tipos de tecnologia para melhor especificar os dados coletados.
3.2.2 Segmento de Conformados e Usinados
O segmento de produtos conformados e usinados é composto por 68 empresas que
fornecem, em geral, produtos básicos. Normalmente, as empresas deste segmento estão situadas
nas últimas camadas de fornecimento (distante das montadoras), pois não produzem
componentes ou sistemas completos. As empresas deste segmento representam 32% do conjunto
dos fornecedores da indústria automotiva do Estado. O quadro 2 apresenta as principais
demandas deste segmento.
Quadro 2: Principais Demandas Tecnológicas do Segmento de Conformados e Usinados.
Gestão Desenvolvimento e Qualificação de Processos Produtos e Materiais
Projetos Funcionários
1 2 3 4 5
Gestão Relacionamento Formação e Canais de acesso a Qualidade de
eficiente e cliente-fornecedor treinamento para novas tecnologias materiais nacionais
1 rentável da atualização e
qualidade especialização de
“QS” mão de obra
Acesso a Padronização de Reciclagem e Formação de Disponibilidade de
2 novas normas (de produtos) motivação profissionais para materiais no mercado
demandas do desenvolvimento de nacional
mercado processos
Gestão de ----- ------ Estruturar a cadeia -----
Projetos de de fornecedores para
3 tecnologia desenvolvimento de
processos e
ferramentas
Após breve análise do quadro 9 é possível afirmar que existe uma base instalada com
potencial de apoio para suprir, principalmente, as demandas por tecnologias de gestão,
qualificação e materiais e produtos. Em praticamente todas as instituições observou-se que há
capacitação e disponibilidade para oferecer cursos de capacitação de pessoal, seja em nível
operacional, como, por exemplo, o SENAI/RS, CEFET/RS, CIENTEC, FETLSVC, e em nível
de gestão, como, por exemplo, as Universidades, SEBRAE/RS, FUNDATEC, CENEX. Quanto
às tecnologias para desenvolvimento de materiais e produtos, elas são para desenvolvimento de
novos materiais e principalmente para testes e ensaios.
Ressalta-se que desenvolvimento e projetos e processos foram as tecnologias com menos
oferta. Este fato torna-se preocupante porque estas tecnologias são a base do modelo de produção
enxuta, que é um dos vetores do desenvolvimento dos fornecedores.
Entre os setores, observou-se que o que possui maior número de ofertas é o de motor e
transmissão, o que reflete um pouco da especialização do Estado na indústria automotiva, ainda
que na fabricação de máquinas e equipamentos. Isto pode ser apurado em alguns laboratórios,
principalmente no interior do Estado, que têm tradição na prestação de serviços para empresas
com esta especialização.
Embora haja suficiente capacidade instalada, esta não é a única condição necessária para
que ocorra uma interação entre a oferta e demanda. Observou-se, ao longo do Projeto CARS, que
não há uma freqüência, por parte das empresas, de utilização das ofertas tecnológicas existentes
no Estado. Pode-se afirmar que, em geral, não há uma cultura de cooperação entre empresas e
instituições de pesquisa e ensino nesta cadeia produtiva.
Alguns empresários comentaram as dificuldades existentes no estabelecimento de prazos
e de contratos com instituições que têm outros objetivos prioritários, que não os ganhos
financeiros. Também, por outro lado, não se pode exigir que as universidades empreendam, por
exemplo, a qualificação dos seus estudantes e os objetivos das suas pesquisas, a partir
unicamente das exigências dos setores produtivos.
As demandas tecnológicas analisadas refletem as exigências da indústria automotiva, tais
demandas têm soluções desenvolvidas, ou poderiam ter através da adaptação de projetos, nas
instituições de pesquisa e ensino do Estado. Entretanto, são observadas poucas relações de
interação entre as instituições e as empresas. Esta questão pode prejudicar as empresas locais nas
suas tentativas de tornarem-se competitivas frente às tendências que deverão vigorar na indústria
automotiva, por exemplo, até 2020.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A conclusão deste trabalho está baseada nos seguintes informações: as demandas
tecnológicas das empresas analisadas refletem, em geral, as exigências da indústria automotiva
para com seus fornecedores, ou seja, as empresas têm preocupações pertinentes quanto às
tendências de desenvolvimento tecnológico da indústria para a qual fornecem; estas demandas
tecnológicas podem ser supridas pelas ofertas tecnológicas existentes nas instituições locais de
apoio científico e tecnológico, por meio de um projeto já existente ou de adaptação do
conhecimento existente; e, por último, há uma percepção de que não existe uma cultura de
interação entre empresas e instituições de apoio científico e tecnológico. Esta última questão se
caracteriza como um impedimento na busca pela competitividade através dos mecanismos de
cruzamento entre demandas e ofertas tecnológicas.
É possível afirmar, ainda, que caso não exista um esforço para que as demandas
tecnológicas das empresas sejam supridas de forma adequada, será difícil para as empresas locais
se tornarem mais competitivas, considerando as perspectivas tecnológicas observadas.
É importante mencionar que essas conclusões refletem as informações obtidas e as
percepções dos pesquisadores envolvidos na pesquisa. Para pesquisas mais específicas nesta
área, sugere-se um estudo exploratório para identificar características da interação entre o setor
produtivo e as instituições de ensino e pesquisa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS