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6 a 9 de novembro de 2006
Universidade Federal de Uberlândia
RESUMO
A emergência de um cenário de reestruturações a partir da segunda metade do século
passado, imprimiu novas demandas e exigiu do capital um enorme esforço para
enfrentar uma situação de crise e reverter à tendência de queda das economias
nacionais e regionais. Conforme destacou Castells (1999, p.177) “desde a década de
1970, a maioria das economias da OCDE estavam em declínio (...)”. Neste cenário,
empreendeu-se um processo amplo de reestruturação nas dinâmicas produtivas com
um forte impacto nas relações espaciais. O movimento de produção desigual do espaço
pareceu acentuar-se, nas diversas escalas geográficas (da intra-urbana à regional),
como um mecanismo privilegiado de reprodução do capital na contemporaneidade.
Pretendemos, neste trabalho, refletir sobre o movimento de expansão do capital para as
cidades médias, e da constituição/fortalecimento de mecanismos espacializados de
controle e reprodução sociais.
Palavras-chaves: cidades médias, produção desigual do espaço, reestruturação
produtiva.
RESUMEN
La emergencia de un paisaje de las reestructuraciones en el segundo tiempo del último
siglo imprimió las nuevas demandas y exigió un esfuerzo enorme del capital para
enfrentar una situación de crisis y para volver a la tendencia del otoño de los ahorros
nacionales y regionales. Castells (1999, p.177) dije "Desde la década de 1970, la mayor
parte de los ahorros de OCDE eran en decadencia (....)". En este paisaje, un amplio
proceso de la reestructuración fue emprendido en la dinámica productiva con un
impacto de fuerte en las relaciones de espacio. El movimiento de la producción desigual
del espacio seem acentuar, en las varias escalas geográficas (del - de intra urbano al
regional), Como un mecanismo privilegiado de la reproducción de la capital en el
contemporaneidade. Nosotros quereremos, con este trabajo, analizar el movimiento de
la expansión de la capital em las ciudades medias, y de la constitución / tonificación de
mecanismos controle espacializados y reproducción sociales.
Palabras-clave: ciudades medianas la producción desigual del espacio la
reestructuración productiva.
Introdução
De acordo com Ernest Mandel, “(...) o desenvolvimento desigual entre as regiões e as nações
é a própria essência do capitalismo, no mesmo plano da exploração da mão-de-obra pelo capital”
(MANDEL, 1976, p.43 apud SOJA, 1993, p.103). Para Henri Lefebvre, segundo apreciação de Soja,
“a luta social no mundo contemporâneo, fosse ela urbana ou não, era, intrinsecamente, uma luta pela
produção social do espaço” (SOJA, 1993, p.88).
Com o processo de redemocratização nos anos 90, as novas coalizões de forças políticas e
econômicas que assumem o comando do país adotam medidas estruturais para rever a inserção do
Brasil na economia emergente. Buscando atrair investimentos internacionais a qualquer preço, as
estratégias adotadas em grande parte do território nacional foram, via de regra, precipitadas e com
grandes repercussões espaciais. Ignorando as particularidades e potencialidades locais, adotaram-se
modelos importados, externos às realidades, bastante plurais, existentes no Brasil. A título de
exemplificação, podemos destacar os elevados gastos públicos com a contratação de serviços de
consultoria para o projeto de reforma da área portuária do Rio de Janeiro, visando reproduzir o
famoso projeto de Barcelona. Outro exemplo, mais amplo, remete as novas formas urbanas
caracterizadas pela segregação sócio-espacial e por modelos urbanísticos estadunidenses. A
expansão do capital (nacional e internacional) em território brasileiro parece reforçar os traços de um
projeto de desenvolvimento geograficamente desigual proposto pelo capital e que obtêm forte
respaldo das autoridades públicas no Brasil, manifestadas sob a forma do Estado. Um modelo de
planejamento territorial (urbano, regional, local etc.) fortemente hierarquizado e autoritário, de cima
para baixo, parece ditar a tônica do “desenvolvimento” brasileiro neste início de século XXI,
reproduzindo as velhas práticas políticas e econômicas de meados do século passado.
Um olhar caleidoscópico: De fora para dentro e de dentro para fora, um passeio multi-escalar.
Na área ambiental, os anos de 1980 foram decisivos para a introdução – nas principais
agendas políticas mundiais – de questões relativas ao “uso” insustentável dos recursos naturais. Um
número vertiginoso de organizações passou a atuar/militar neste campo. Os interesses envolvidos
são múltiplos e divergem em inúmeros pontos, produzindo um campo bastante conflituoso.
Entretanto, o conceito de desenvolvimento sustentável , cunhado nos anos 70 e difundido desde
então, apesar de sofrer fortes críticas5, parece ainda hoje ocupar lugar de destaque nos debates
sobre a questão ambiental6.
De certo que outras questões de extrema relevância e destaque poderiam, aqui, ser citadas,
complementando as já destacadas. No entanto, nosso propósito não é fragmentar – seguindo as
regras da moderna divisão acadêmica do trabalho – mas, ao contrário, desenvolver uma análise
integrada que contemple uma ampla gama de variáveis nas suas diferentes manifestações espaciais
a fim de buscar uma maior aproximação da complexidade dos fenômenos sócio-espaciais. Posto que
apresenta-se como imperativo, para cada tempo e lugar, a elaboração de movimentos e estratégias
políticas de resistência que atuem “em diversas escalas espaciais, como resposta às estratégias
geográficas e geopolíticas do capital” (HARVEY, 2005, p. 218).
Neste sentido, nossas avaliações confluirão para o ponto em que todas estas questões
parecem convergir: para uma interpretação da espacialidade concreta das manifestações
fenomênicas da sociedade capitalista contemporânea; ou para parafrasear Soja (1993), para a
interpretação de uma geografia histórica do capitalismo.
Segundo Gregory,
Todas estas questões, até então apresentadas, possuem um forte apelo interpretativo de sua
espacialidade, caso contrário, corre-se um enorme risco da produção de análises míopes e
insuficientes para o entendimento dos movimentos (estratégias de reprodução) do capital.
Nosso esforço analítico pautar-se-á em explorações investigativas que rumem para um maior
esclarecimento sobre processo de produção desigual do espaço como estratégia de acumulação e
reprodução do capital nos espaços urbanos. Neste trabalho, em particular, nossos olhares estarão
voltados para o papel desempenhado pelas cidades médias brasileiras no conjunto da estrutura
sócio-econômica nacional e internacional. Entendemos que tal esforço demandará necessariamente
interpretações que contemplem as diversas escalas de ação do capital e de seus principais atores,
num mecanismo de interação constante que vai do local ao global num movimento simbiótico de
retro-alimentação. A título de exemplificação, podemos remeter ao papel desempenhado pelo capital
financeiro tanto no controle da organização do espaço urbano (escala local/regional) visando à
produção de uma estrutura que viabilize sua reprodução, quanto em sua participação nas dinâmicas
macroeconômicas dos países e regiões do mundo capitalista (escala global/regional), promovendo,
por diversas vezes, uma situação esquizofrênica de instabilidade econômica – principalmente nos
países ditos “emergentes” – como mecanismo de acumulação de capital. Para o entendimento
dessas relações de vias múltiplas será preciso realizar um trabalho de “mergulhador”: emergir e
submergir (aproximar-se e distanciar-se) inúmeras vezes procurando interpretar suas conexões, por
vezes difusas e nebulosas.
Parece-nos evidente que o desenvolvimento das forças produtivas em fins do século XX,
principalmente no que remete ao progresso tecnológico nos setores informacionais e de transportes,
contribuiu para transformações significativas nas dinâmicas temporais e espaciais da vida cotidiana,
seja nas esferas econômica, política e cultural.
espacializados, por isso, a produção (induzida) desigual do espaço aparece como um poderoso
instrumento dos grupos dominantes.
O domínio do conhecimento relativo aos territórios fornece – aos grupos que deste saber
tomam partido – vantagens estratégicas preciosas, sejam elas econômicas (na tomada de decisões
para instalação de empresas etc.) ou políticas (na constituição de currais eleitorais etc.). Neste
sentido, a máxima, conhecimento é poder, torna-se cada vez mais pertinente, numa era em que “o
dogma da competitividade não se impõe apenas à economia, mas, também, à geografia” (SANTOS,
2004, p.249).
local), mas que figuram como entraves ao progresso. “À produção de espaços competitivos se
contrapõe o abandono de espaços não competitivos” (GRAND JUNIOR, 2006, p. 19).
Acreditamos que a emergência das cidades médias brasileiras, nos anos 1970, como novos
espaços dinâmicos e, por conseguinte, de interesse para o capital, deve ser interpretada como uma
manifestação da participação do Brasil no amplo processo de reestruturação empreendido na
economia-mundo capitalista na segunda metade do século XX. Na medida em que o capital começa
a encontrar obstáculos a sua expansão e as taxas de lucro começam a declinar, novos caminhos
precisam ser buscados para garantir sua reprodução no tempo e no espaço.
(...) O capital é visto como uma coreografia bifacial da crônica interação entre tempo
e espaço, história e geografia, primeiro tentando aniquilar, com a eficiência temporal,
a intransigente física social do espaço, apenas para dar meia-volta outra vez e
comprar, da própria espacialidade que ele procurar transcender, o tempo para
sobreviver. (SOJA, 1993, p. 192)
necessária, visto que nem sempre é lucrativo e viável adotar a tradicional estratégia de destruir e
reconstruir espacialidades (espaço físico e social).
(...) Depois que se forma a paisagem física e social da urbanização de acordo com
critérios caracteristicamente capitalistas, certos limites se interpõem nas vias futuras
do desenvolvimento capitalista. Isso implica que, embora o processo urbano sob o
capitalismo seja moldado pela lógica da circulação e da acumulação do capital,
aqueles critérios modelam as condições e as circunstâncias da acumulação do
capital em pontos posteriores do tempo e do espaço. Em outras palavras, os
capitalistas, como todos os demais, talvez lutem para promover sua própria
geografia histórica, mas, também como todos os demais, não fazem isso sob
circunstâncias históricas e geográficas de sua própria escolha individual, mesmo
quando desempenham um papel coletivo importante e mesmo determinante ao
moldar aquelas circunstâncias. (HARVEY, 2005, p.165)
Neste sentido, podemos, razoavelmente, admitir que as cidades médias, no caso brasileiro,
emergem como válvulas de escape para o capital que procura novos caminhos (espaços) para sua
expansão.
Com isso, o capital produtivo obteve uma maior flexibilidade de escolha. O imperativo da
proximidade (geográfica) das bases que formam as cadeias produtivas foram relativizados pelo
progresso alcançado nos sistemas de transporte e comunicação (compressão do tempo-espaço, ver
Harvey, 2003). Isto posto, temos que novos espaços – neste caso as cidades médias brasileiras –
foram convocadas, pelo capital (local e internacional), a participarem do processo produtivo que se
realiza cada vez mais globalmente.
Por outro lado, “(...) O capital (...) nunca está sozinho na moldagem da geografia histórica da
paisagem, e decerto não é o único autor ou autoridade” (SOJA, 1993, p. 192), o Estado assume um
papel de destaque na correlação de forças entre os diferentes atores sociais no processo de
modelagem da paisagem geograficamente desigual do capitalismo nas diferentes escalas geográficas
e nos diferentes períodos. Para Harvey,
(...) A idéia é que, uma vez que o capital produtivo é volátil, torna-se imprescindível
às coalizões locais mostrarem a atratividade da sua malha urbana em termos de
redução de custos (...) e de implementação de investimentos (públicos) que
garantam a conectividade com a economia mundial dos fluxos (WIGMANS, 1999
apud KLINK, 2001, p.8).
Em busca de alternativas para se manterem ativos (como possíveis nós das redes produtivas
globais) nesse processo, novas formas de governança urbana pautadas no empreendedorismo
ganham força no mundo contemporâneo acirrando as disputas interurbanas por investimentos
governamentais. Como manifestação espacial destas disputas verificamos a acentuação da
fragmentação do território nacional, da escala intra-urbana à regional. As políticas públicas pautadas
nas lógicas empresariais parecem voltar-se, quase que exclusivamente, para o aspecto estético, para
o visual, para a imagem da cidade que será comercializada no exterior, enquanto que os problemas
estruturais, latentes nas cidades brasileiras, são tratados com paliativos.
conflitos apresentam contornos nítidos e nos chamam maior atenção, tanto do ponto de vista teórico
quanto político/prático. São eles, envolvendo:
Entendemos que o resultado da correlação de forças entre estes diferentes atores vai implicar
no modelo de inserção na divisão social e espacial do trabalho que certas áreas irão assumir.
Este modelo pode ser meramente a reprodução do que já vem sendo realizado em grande
parte do território nacional sob o comando do capital, ou seja, o desenvolvimento geograficamente
desigual com ganhos reais limitados a um seleto grupo de pessoas; ou avançar para o delineamento
de um projeto mais progressista de desenvolvimento urbano/territorial que contemple um maior
número de atores não só do ponto de vista econômico, a partir da geração de empregos e renda etc.,
mas enquanto cidadãos plenos que participam da vida política da cidade/território. Ou seja, como
atores que possuem as condições reais de se oporem ao movimento de produção (injusta) desigual
do espaço geográfico, intercedendo direta e livremente nas decisões sobre a alocação dos
investimentos públicos na produção do espaço. Um exemplo que parece crescer no Brasil e que
apenas faremos menção neste momento, é a ferramenta do Orçamento participativo. Sabemos que
as realidades dos municípios que se utilizam deste instrumento são bastante plurais e que o
instrumento em si apresenta inúmeras limitações. No entanto, parece-nos que é uma ferramenta que,
se utilizada democraticamente, pode proporcionar avanços significativos à sociedade. Não apenas no
aspecto material em si (a partir da alocação de investimentos públicos na produção do espaço), mas,
principalmente, modificando a mentalidade política da população brasileira a partir de uma maior
participação nas decisões políticas.
Considerações Finais
Para não concluir, e longe de esgotar o assunto, apenas retomarei algumas questões.
Em primeiro lugar, gostaria de reiterar que acreditamos haver uma estreita relação entre a
emergência das cidades médias brasileiras, as mudanças de paradigma produtivo e as estratégias do
capital em avançar sobre áreas de reserva de valor. Neste sentido, o entendimento das correlações
de forças entre os diferentes atores sociais que atuam nesses espaços torna-se fundamental para a
interpretação dos tipos de inserção adotados por cada área na divisão social e espacial do trabalho,
para, a partir daí, desenvolver estratégias de resistência e/ou cooperação. No presente trabalho
apenas mencionamos alguns dos conflitos que nos parecem fundamentais de serem desvendados,
levando-se em consideração, sempre, as particularidades dos locais. Como nossa proposta não
contemplava estudos de caso, não aprofundamos este debate, apenas o expusemos, visto que cada
realidade deve ser analisada em suas particularidades.
Uma outra observação remete às dinâmicas das cidades médias. Complementando o acima
exposto, nos parece que a dinâmica (demográfica e econômica) das cidades médias faz parte de um
projeto planejado e sincronizado do capital com apoio do Estado para a expansão da atuação
daquele em território nacional. Um avanço apoiado em dois eixos principais: um primeiro servindo de
base para os grandes centros metropolitanos. No trabalho de Andrade et all. (1998), pode-se
averiguar um forte crescimento demográfico das cidades médias metropolitanas, acima da média
nacional, a partir dos anos 1970. Um outro eixo, também destacado por Andrade et all., refere-se ao
crescimento das cidades médias próximas às áreas de expansão do agronegócio. Este eixo, vincula-
se às necessidades em se constituir áreas (cidades) que ofereçam serviços para atender as
demandas das novas atividades agrícolas.
Posto isto, acreditamos não estar havendo uma reversão de polaridade, mas um crescimento
das cidades médias urbanas segundo eixos bem definidos pelo capital. Haja vista, a maior
concentração destas cidades na região centro-sul, tradicional região concentradora das riquezas
nacionais e que oferece as melhores bases técnicas para a produção.
Bibliografia
LACOSTE, Yves (2002). A geografia – isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. 6ª edição,
São Paulo: Ed. Papirus.
LÊNIN, V. (1982). Imperialismo: fase superior do capitalismo. 2ª edição, São Paulo: Global Editora.
SACHS, Wolfgang (1997). Anatomia política do desenvolvimento sustentável. Democracia Viva, Rio
de Janeiro, n.1, p.12-23, nov. 1997.
SANTOS, Milton (2004). A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. 4ª edição, 1ª
reedição, São Paulo: EDUSP.
SOJA, Edward W. (1993). Geografias pós-modernas: a reafirmação do espaço na teoria social. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Ed.
WALLERSTEIN, Immanuel (2003). Mundialização ou era de transição? Uma visão de longo prazo da
trajetória do sistema-mundo. In: CHESNAIS, François et all. (Orgs.). Uma nova fase do capitalismo?
São Paulo: Xamã. p.71-92.
1
Expressão utilizada por SOJA, E. (1993). Ver referência completa na bibliografia.
2
A forma da exposição dissociada (como se uma “questão” fosse independente das demais) de algumas das importantes
questões que figuram nas agendas políticas internacionais não confere com a realidade, visto que todas elas pertencem a
totalidades complexas e interdependentes. Ou seja, as questões ambientais não estão dissociadas das questões econômicas,
tampouco esta e aquela das questões geoestratégicas e da esfera produtiva. A disposição adotada foi exclusivamente um
recurso para uma exposição mais didática.
3
As indústrias pautadas num modelo de operação fordista não foram extintas. A substituição de um “modelo” (produtivo/de
acumulação) por outro não elimina seu antecessor por completo.
4
Harvey, David (2003). Ver referência completa na bibliografia.
5
Sachs, Wolfgang (1997). Ver referência completa na bibliografia.
6
Basta averiguar o número de publicações, Seminários, Simpósios etc. cujo título faz referência ao “Desenvolvimento
Sustentável”.
7
Alguns analistas entendem que no período atual de desenvolvimento do capitalismo o Estado-Nação vem perdendo força
como centro de autoridade. Alguns chegam mesmo a falar sobre o possível “fim” do Estado. Prefiro a explicação de que o
processo de reestruturação empreendido na contemporaneidade demandou novas atribuições ao Estado que passa por
reajustes, dentro desse período de incertezas que caracterizam as transições.