Sei sulla pagina 1di 3

Crítica | A Alma Boa de Setsuan por Marco

Albuquerque
Os Trapalhões encontram Brecht

Foto: Divulgação
Não se assuste se, ao entrar no Teatro Renaissance pra assistir à Alma Boa de Setsuan, você der de
cara com a Denise Fraga, devidamente caracterizada como a personagem Chen Te, distribuindo os
programinhas da peça e agradecendo às pessoas por terem vindo. Este susto inicial vai se ampliar
quando você, procurando o seu lugar, trombar com outros atores passeando pela platéia. Logo que
eu me sento, dou de cara com um Ary França (caracterizado de uma forma absolutamente
indescritível) brincando com espectadores que estão a poucas fileiras do meu lugar. Ele simula um
aquecimento vocal (algo na linha lá-rá-lá-rá-láááááááááááááááá) e pede que alguns espectadores o
acompanhem. Logo depois ele se senta no lugar de um casal e se faz de rogado quando eles o
questionam se aquele é mesmo o lugar dele. É necessário que outro ator venha tirar Ary França
daquela cadeira.
Assim que o público termina de se acomodar, os atores sobem ao palco e se sentam, de costas para a
platéia, num camarim improvisado (camarim este que será efetivamente usado pelos atores na
caracterização das diferentes personagens durante a encenação). Os atores então se aproximam do
proscênio, cada um com uma vela na mão, gritam merda, apagam as velas que carregam e se
engajam rapidamente na montagem do cenário. O espetáculo, oficialmente, começa.
A primeira informação que recebemos é que a personagem malucona de Ary França é, ninguém
mais ninguém menos, que Deus! Ele mesmo, aquele que criou o céu, a terra e que ainda descansou
no sétimo dia. Não deixo de ficar um pouco confuso pois, no meu universo imaginário, eu já tinha
aceitado que Deus era a cara do Morgan Freeman. De qualquer forma, este Deus de Ary França
(que no original de Brecht era composto por três deuses diferentes), já entra pra galeria de
personagens difíceis de esquecer: ele aparece pedalando uma bicicleta com uma bexiga na frente,
carregando no ombro um passarinho – que mais parece um pintinho – completamente destroçado.
Na seqüência, ficamos sabendo que o pintinho é na verdade uma pomba (talvez seja mesmo uma
pomba e eu é que não entenda nada de aves), mais precisamente a pomba do Espírito Santo (ou
talvez eu não entenda nada de Espírito Santo).
Deus aparece na cidade de Setsuan com o firme propósito de encontrar uma boa alma, sob o risco
de, se falhar na procura, resolver acabar com o mundo. É aí que entra a prostituta Chen Te, uma
mulher que, de tão boa, não sabe dizer não (ops… ficou com um duplo sentido, não é mesmo?).
Vamos reformular então: Chen Te é tão bondosa que, sem se preocupar com os seus próprios
desejos, satisfaz as vontades de todos que a rodeiam (continuou com duplo sentido, não é mesmo?
Desisto!!). O fato é que Deus descobre que Chen Te é a boa alma que procura e resolve lhe dar de
presente 1000 moedas de ouro (só pede a ela que seja discreta, afinal de contas ia pegar meio mal se
descobrissem que Deus andou dando dinheiro para uma prostituta… Já pensou as implicações? Já
pensou na capa da Veja? Imagine o William Bonner lendo esta notícia…)
De posse das 1000 moedas de ouro, Chen Te é presa fácil para todos os vigaristas que a rodeiam.
Ela logo perde o dinheiro, se endivida, arranja um namorado explorador e se mete em outras
confusões. Pra tentar fugir deste círculo vicioso ela tem que inventar uma nova personalidade, um
primo, Chui Ta, que sabe fazer o que Chen Te nunca conseguiu: dizer não a todos que a rodeiam.
Após o estabelecimento deste conflito principal, o humor passa a ser a motriz da encenação, graças
ao time de comediantes reunidos na montagem. Impossível não pensar em Trapalhões, Três Patetas,
Monty Python, dentre outros. Somos bombardeados com todo tipo de humor pastelão, com direito a
muitas gozações com a cultura oriental, cenas à la Karate Kid, bombinhas sendo arremessadas
contra integrantes do elenco, brigas em slow motion, piadas de conotação sexual, e assim por
diante. O público se diverte muito e morre de rir com as gags e com as personagens criadas.
Ao final, uma atitude corajosa: a reprodução fiel do texto de Brecht: questionador, difícil e longe de
ser conclusivo. O público que ria muito até ali, e com certeza esperava um final convencional,
parece fechar a cara e sair sem querer pensar sobre o que foi dito. Na saída do teatro, ouço várias
pessoas reclamando da peça. Fico me questionando sobre que razões levam a maioria do público a
não querer pensar, a não querer ser confrontado com questões que possam tirá-lo, mesmo que por
alguns momentos, de uma zona de conforto. Os responsáveis pela montagem em cartaz no
Renaissance fizeram a sua parte e mantiveram as questões do texto de Brecht. Fica a critério de
cada um refletir (ou não) sobre o que foi apresentado.
1 platéia querendo fugir do teatro pra comer pizza
P.S. O pessoal aqui da Bacante é bastante eclético. Além de sermos dublês de críticos teatrais, nós
também mandamos bem como psicanalistas e psiquiatras. Se você quiser marcar uma horinha com a
gente, pode mandar o seu e-mail para tarde_no_divã_da_bacante@bacante.com.br. Também
sabemos ler tarô, jogar búzios e ver o futuro na borra do café. Com todo este nosso profundo
conhecimento, foi impossível não perceber que a personagem Chen Te sofre do que hoje é
conhecido como co-dependência (sabe como é né?, ela está sempre mais preocupada em resolver os
problemas dos outros do que os seus próprios problemas…). Se você quer saber se é co-dependente,
pode fazer um teste rápido aqui. Se você descobrir que é co-dependente e quiser resolver os
NOSSOS problemas, mande o seu e-mail para
quero_doar_1000_moedas_de_ouro_pra_bacante@bacante.com.br. A gente promete que te manda
um bottom da Bárbara Heliodora como agradecimento.
Publicado em 14, October, 2008

Sereníssima
Composição: Dado Villa-Lobos / Renato Russo / Marcelo Bonfá

Sou um animal sentimental Me apego facilmente ao que desperta meu desejo


Tente me obrigar a fazer o que não quero E você vai logo ver o que acontece.
Acho que entendo o que você quis me dizer Mas existem outras coisas. Consegui meu equilíbrio
cortejando a insanidade,
Tudo está perdido mas existem possibilidades. Tínhamos a idéia, mas você mudou os planos
Tínhamos um plano, você mudou de idéia Já passou, já passou - quem sabe outro dia.
Antes eu sonhava, agora já não durmo Quando foi que competimos pela primeira vez?
O que ninguém percebe é o que todo mundo sabe Não entendo terrorismo, falávamos de amizade.
Não estou mais interessado no que sinto Não acredito em nada além do que duvido
Você espera respostas que eu não tenho mas Não vou brigar por causa disso
Até penso duas vezes se você quiser ficar. Minha laranjeira verde, por que está tão prateada?
Foi da lua dessa noite, do sereno da madrugada Tenho um sorriso bobo, parecido com soluço
Enquanto o caos segue em frente Com toda a calma do mundo.

Potrebbero piacerti anche