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TERCEIRA TURMA CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL Nº 01 1 037307-0/98


APELANTE: MARCOS DELDUQUE GOMES
APELADOS: NUTRA COMÉRCIO E INDÚSTRIA DE ALIMENTOS E
COSMÉTICOS LTDA
SUPERMERCADOS PLANALTO LTDA
RELATOR : DESEMBARGADOR CAMPOS AMARAL
REVISOR : DESEMBARGADOR NÍVIO GONÇALVES

EMENTA: Civil. Indenização. Alegação de aquisição de alimentos impróprios para


consumo. Danos morais e materiais. I - Preliminares: a) legitimidade de parte do
supermercado. Produtor dos alimentos identificado (art. 13, I, CDC), ausência de
responsabilidade do comerciante. Ausência de prova de conservação inadequada dos
alimentos pelo comerciante. Alimentos dentro do prazo de validade (inciso III).
Ilegitimidade de parte mantida. Preliminar argüida pelo apelante rejeitada.; b)
cerceamento de defesa. Prova laboratorial suficiente e adequada para o deslinde da
controvérsia. Desnecessárias outras provas. Preliminar afastada. II - Mérito. 1.
Consumidor que alega ter sofrido danos morais e materiais por haver adquirido
alimentos deteriorados de supermercado. Causa estranheza o fato de uma pessoa, ao
se deparar com um produto inadequado ao consumo, tenha preferido de dirigir a
laboratórios particular e público e despender razoável quantia para a realização de
exames periciais, do que retornar ao estabelecimento comercial e trocar o produto,
direito este assegurado pelo Código de Defesa do Consumidor. Se o autor veio a
desfalecer em razão de ter visto os carunchos nos alimentos, seu mal era
preexistente, não tendo nenhum nexo de causalidade com a atividade da ré. Alimentos
levados pelo autor a exame laboratorial fora das embalagens. Desqualificação dos
laudos por esse motivo. 2. Não constitui dano moral a notificação extrajudicial do autor
em seu local de trabalho. 3. Danos materiais não comprovados. 4. Honorários
advocatícios. Nos casos em que não houver condenação os honorários devem ser
fixados consoante apreciação equitativa do juiz (§ 4º, art. 20, CPC atendidas as
normas das alíneas “a”, “b” e “c” do § 3º). Apelação parcialmente provida.

ACÓRDÃO

Acordam os Desembargadores da TERCEIRA


TURMA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (WELLINGTON
MEDEIROS, Presidente, CAMPOS AMARAL, Relator e NÍVIO GONÇALVES,
Revisor) em CONHECER. DAR PARCIAL PROVIMENTO. UNÂNIME, de
acordo com a ata de julgamento e notas taquigráficas.

Brasília, 06 de setembro de 1999


Desembargador WELLINGTON MEDEIROS

Presidente

Desembargador CAMPOS AMARAL

Relator

RELATÓRIO
APELAÇÃO CÍVEL Nº 01 1 037307-0/98 3

Adoto, inicialmente, como Relatório, o da sentença

de fls. 129/137 que transcrevo ipisis litteris:

“MARCOS DELDUQUE GOMES ajuizou ação


indenizatória (danos morais e materiais) contra NUTRA
COMÉRCIO E INDÚSTRIA LTDA e SUPERMERCADOS
PLANALTO LTDA, alegando que é diabético e depende de
alimentação especial, razão pela qual, em 16.04.98, se dirigiu a
um dos estabelecimentos da segunda ré e adquiriu cinco
pacotes de “feijão azuki” e cinco pacotes de “arroz integral
cateto”; que chegando em casa, iniciou a preparação do pré-
cozimento dos alimentos, quando foi alertado que “ao colocar o
feijão dentro da água filtrada e fervendo, subiram muitos
bichinhos para a superfície da água, que ficaram pulando com
a fervura”; que levou um susto e ficou perplexo com a cena,
sendo amparado por familiares, porque teve uma abrupta
recaída, e consequentemente, enorme elevação da sua taxa
de glicose a nível quase insuportável, com tonturas, visões,
aquecimento do conteúdo das veias, queimação no estômago,
tremedeira e moleza em todo o corpo, que, no dia seguinte,
levou os alimentos para o Instituto de Saúde da Secretaria de
Saúde do Distrito Federal e para o Centro de atendimento
toxicológico “Dr. Brasil”, para análise que, ao final, em laudos
de exames, concluíram pela “presença de insetos vivos da
ordem Coleoptera e de larvas mortas – impróprios para
consumo pelo seu elevado estado de deteriorização”; que
levou os laudos ao conhecimento das rés, que jogaram a
culpa uma para outra, optando a primeira ré lhe ameaçar
verbalmente e posteriormente através de notificação notarial;
que está comprovado que foi a primeira ré quem beneficiou ,
empacotou e distribuiu os alimentos e foi a segunda ré quem
os manteve em suas prateleiras, à vista e disposição dos
consumidores, sem a necessária cautela e observação das
datas de validade nem de deterioração e impropriedade para o
consumo humano; ditou artigos de lei e jurisprudência,;
argumentou que trabalha em uma empresa de vendas de
consórcio e fatura mensalmente, em média R$ 3.800,00, afora
comissão e que, diante do ocorrido, teve uma recaída e ficou
traumatizado e psicologicamente abalado, elevando-se a taxa
de glicose que o levou a um princípio de convulsão e quase a
óbito, causando uma sensível diminuição em seu mister
profissional, além do que, teve de arcar com os custos dos
laudos periciais, no valor de R$ 1.800,00 (particular) e R$
260,00 ( público – sem recibo);quanto aos danos morais, citou
doutrina, argumentando que foi gravemente lesionado na sua
moral ao perceber a imprestabilidade dos alimentos adquiridos
e, ainda, foi ludibriado na sua boa – fé com o “empurra-
empurra” das rés sem dar lhe solução para o gravíssimo
problema apresentado e ainda se viu compelido e ameaçado
verbalmente pelo proprietário e depois pela sórdida notificação
extrajudicial emitida pela primeira ré e até mesmo quando o
Cartório chegou ao seu local de trabalho para notificá-lo se
sentiu ofendido pela forma como seus colegas de serviço se
entreolhavam e gesticularam em atitude de restrição à sua
pessoa. Requereu a condenação das rés, solidariamente, no
pagamento dos danos morais no valor de R$ 547.200,00 e
danos materiais no valor de R$ 547.200,00.

Instruiu com docs. de fls. 12/27.

A primeira ré contestou, alegando que se trata de


uma aventura jurídica, na mais clara, absurda e evidente
consubstanciação de tentativa de extorsão, continuou,
argumentando que o autor não comprovou ser portador da
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doença que mencionou e nem o local e data em que adquiriu


os alimentos, que juntou embalagens, sem a data de validade,
que se encontrava impressa no verso das mesmas; que o autor
menciona na inicial que o feijão teria apresentado bichos
quando do cozimento, o que é cabalmente desmentido pela
“laudo da análise de orientação” apresentado pelo Instituto de
Saúde do Distrito Federal e que tal “laudo de orientação”
sempre enseja um posterior “laudo de análise fiscal” por
iniciativa do próprio Instituto, que constatou a absoluta
“ausência de sujividade, larvas e parasitas”, isto em relação ao
arroz, pois, quanto ao feijão, já se constatara a regularidade
enfocada; quanto ao laudo de fls. 19, argumentou que o
produto se encontrava fora da embalagem, não havendo
nenhuma comprovação ou mesmo indício de se ter originada
da ora contestante, nem do local comprado e data de validade;
citou legislação sobre análise de alimentos e procedimentos
adequados ; quanto as ameaças alegadas pelo autor,
argumentou que ela sim foi ameaçada, sendo a notificação
exatamente para ressalvar direitos e prevenir
responsabilidades; que nunca houve reclamação junto aos
Órgãos de Defesa do Consumidor, ao passo que sua primeira
providência, após ciência do fato, foi requerer um laudo ao
Departamento de Polícia Federal e obter laudo do Laboratório
Microbiotec; discorreu sobre culpa e sua inexistência no
presente caso e sobre a legislação que rege a espécie (C.C e
CDC); impugnou os valores pretendidos a título de danos
morais e materiais. Requereu a improcedência do pedido, com
a condenação do autor nos ônus da sucumbência.

Instruiu com docs. de fls. 46/88.

Contestação da segunda ré às fls. 93/98, alegando,


preliminarmente, ilegitimidade passiva, primeiro, por não ter o
autor comprovado que adquiriu os produtos em seu
estabelecimento e, segundo, por estabelecer o CDC, em seus
arts. 12 e 13, a responsabilidade do comerciante apenas
quando o produtor não puder ser identificado ou não houver
adequada conservação do produto; no mérito, em linhas
gerais, apresentou os argumentos que a primeira ré, para, ao
final, requerer sua exclusão do polo passivo ou a
improcedência do pedido inicial, com a condenação do autor
nos ônus da sucumbência.

Instruiu com docs. de fls. 99/110.

Réplica às fls. 113/117.

Realizada audiência de conciliação, sem êxito.”

O MM. Juiz julgou improcedente a lide em relação à

primeira ré, Nutra Comércio e Indústria LTDA, condenando o autor ao

pagamento de custas processuais e honorários advocatícia fixados em 10%

sobre o valor atribuído à causa.

Quanto ao segundo réu, Supermercado Planalto

LTDA, julgou o douto magistrado extinto o processo, com fulcro no art. 267,

inciso VI do CPC, por considerá-lo parte passiva ilegítima, condenando o autor

ao pagamento de honorários advocatícios arbitrados em 10% sobre o valor

atribuído à causa.

Inconformado, o autor interpôs apelação (fls.


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139/144), reiterando as alegações expostas na inicial, afirmando ter os laudos

periciais concluído pela impropriedade dos alimentos para o consumo.

Alega não lhe ter sido dada oportunidade de ratificar

os fatos e documentos trazidos aos autos, caracterizando-se o cerceamento de

defesa.

Insurge-se, ainda, contra a extinção do processo,

sem julgamento do mérito, em relação ao segundo apelado.

Preparo regular (fl. 145).

Contra-razões da primeira apelada ás fls. 147/151.

É o Relatório.

VOTOS

O Senhor Desembargador CAMPOS AMARAL –

Relator - Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço da apelação.

Trata-se de Ação de Indenização ajuizada por Marcos Delduque Gomes contra

Nutra Comércio e Indústria Ltda. e Supermercados Planalto Ltda., na qual

alega ter sofrido danos de ordem patrimonial e moral ao comprar, no

estabelecimento comercial da segunda ré, alimentos impróprios para consumo,

fornecidos pela fábrica da primeira ré.

A MMª. Juíza considerou a segunda ré parte

ilegítima e extinguiu o feito em relação a ela. Julgou improcedente a lide contra

a primeira ré.
Preliminarmente, insurge-se o autor, em apelação de

fls. 139/144, contra a decisão na parte em que julgou a segunda ré parte

ilegítima no feito.

No que pertine aos fatos, o apelante adquiriu 5

(cinco) pacotes de “Feijão Azuki” e 5 (cinco) pacotes de “Arroz Integral Cateto”

no estabelecimento comercial da segunda apelada. A primeira apelada é a

responsável pelo beneficiamento, empacotamento e distribuição dos produtos

aos pontos de venda.

O art. 12 do Código de Defesa do Consumidor

estabelece a responsabilidade objetiva dos produtores por eventuais danos

causados aos consumidores, em virtude de projeto, fabricação, construção,

montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de

seus produtos.

Já em relação ao comerciante, dispõe o art. 13 do

mesmo diploma legal:

“Art. 13. O comerciante é igualmente responsável,


nos termos do artigo anterior, quando:

I - o fabricante, o construtor, o produtor ou


importador não puderem ser identificados;

II - o produto fornecido sem identificação clara do


seu fabricante, produtor, construtor ou importador;
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III - não conservar adequadamente os produtos


perecíveis.”

Desta forma, observa-se que o produtor dos

alimentos em questão foi identificado, não se enquadrando a questão nos

incisos I e II do referido artigo.

Quanto à hipótese de conservação inadequada dos

alimentos por parte da segunda apelada, não tratou o apelante de prová-la,

sequer trazendo aos autos o comprovante de ter adquirido os produtos em um

dos seus estabelecimentos comerciais.

Observo, entretanto, que os alimentos estavam

dentro do prazo de validade de acordo com os laudos de análise emitidos pela

Secretaria de Saúde do Distrito Federal. O arroz integral poderia ser consumido

até 8.10.98 e o feijão até 1.9.98, tendo a compra sido realizada em 16.4.98.

Não vislumbro, desta forma, como responsabilizar a

segunda apelada por deficiência na conservação dos alimentos, conforme

alegou o apelante.

Considero, destarte, a segunda apelada como parte

ilegítima no presente feito, mantenho a extinção do processo com fulcro no art.

267, inciso VI do CP Civil.

No que concerne à alegação de cerceamento defesa


em virtude do julgamento antecipado da lide, tenho a prova laboratorial como

suficiente e adequada na espécie. Não houve cerceamento de defesa.

Afasto a preliminar e passo à análise do mérito.

O apelante sustenta que de acordo com os laudos

periciais por ele trazidos aos autos, os alimentos fornecidos pela primeira

apelada e vendidos pela segunda apelada, encontravam-se “deteriorados,

apodrecidos e cheios de larvas e outros bichos nocivos ao consumo”.

O laudo de analise emitidos pela Secretaria de

Saúde Pública do Distrito Federal referente ao arroz integral concluiu pela

presença de insetos vivos da ordem Coleoptera e de larvas mortas (fl. 19) e o

relativo ao feijão atesta ausência de sujidade, larvas e parasitas, ambos os

alimentos in natura.

Já o laudo elaborado pelo Centro de Atendimento

Toxicológico Dr. Brasil é negativo quanto a tóxicos de origem orgânica e

inorgânica (fl. 21).

Entretanto, os alimentos levados a exame pelo

apelante encontravam-se fora das embalagens e os entregues pela apelada,

para o mesmo fim, estavam embalados.

O apelante afirma que ao ver os bichos saltitando,

quando do cozimento do feijão, teve sua taxa de glicose aumentada, sofreu


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princípio de convulsão e quase chegou ao óbito.

Contudo, os laudos acima mencionados não se

referem à existência de “bichinhos” nas amostras de feijão in natura.

Quanto ao feijão pré-cozido também analisado pelo

laboratório Dr. Brasil, o laudo concluiu que estava impróprio para o consumo,

devido ao seu elevado estado de deterioração (fl. 22), fato este que não pode

ser atribuído à primeira apelada, pois o alimento havia sido cozido um dia antes

e não se sabe em que estado de conservação fora mantido até a análise

laboratorial, nem tampouco se se tratava de produto de fornecimento da

apelada, posto que se encontrava fora da embalagem.

Ademais, como bem asseverado pela douta

magistrada, “se o autor desfaleceu por causa dos carunchos, seu mal era

preexistente, não tendo nenhum nexo de causalidade com a atividade da ré”.

Causa-me estranheza o fato de uma pessoa, ao se

deparar com um produto inadequado ao consumo, tenha preferido se dirigir a

laboratórios particular e público e despender ao todo R$ 2.060,00 para a

realização de exames periciais, do que retornar ao estabelecimento comercial e

trocar o produto, direito este assegurado pelo Código de Defesa do

Consumidor.

Alega, ainda, o apelante ter sofrido danos morais em


decorrência de receber notificação extrajudicial da apelada em seu local de

trabalho.

Não vislumbro danos morais pelo simples fato de o

apelante, ter sido procurado por um funcionário de Cartório, até mesmo porque

a primeira apelada estava exercitando o direito de preservar a imagem e a boa

reputação de sua empresa, conforme se infere da notificação juntada às fls.

26/27.

De resto, danos materiais não ficaram comprovados.

Em um ponto, porém, entendo que a r. sentença

merece reforma, isto é, na condenação em honorários advocatícios.

De início ressalto que no recurso o apelante pleiteou

a reversão do “resultado do equivocado comando monocrático” (fl. 140), o que

abrange todo o julgado.

Posto isto, verifico que os honorários foram fixados

na sentença em 10% sobre o valor da causa, que é de R$ 1.094.400,00,

resultando na elevada quantia de R$ 109.440,00, para cada ré, no total,

portanto, de R$ 218.880,00. Entretanto, não houve condenação, por isso

aplicável o § 4º do art. 20 do CP Civil, atendidas as normas das ‘alíneas’ “a” ,

“b” e “c” do § 3º.

Os fatos relatados na causa não geraram

conseqüências com reflexos jurídicos, conforme ficou reconhecido, parecendo-


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me fantasiosa a elevada quantia pleiteada a título de indenização.

Entendo que os honorários devem ser fixados na

quantia de R$ 2.000,00 para o advogado de cada ré.

Por estes fundamentos, dou provimento parcial à

apelação, para reformar, em parte, a sentença, e reduzir os honorários

advocatícios à quantia de R$ 4.000,00, ou seja, R$ 2.000,00 para cada ré.

É como voto.

O Senhor Desembargador NÍVIO GONÇALVES –

Revisor - Conheço da apelação porque presentes os pressupostos de sua

admissibilidade.

Trata-se de ação de indenização por danos materiais

e morais requerida por MARCOS DELDUQUE GOMES em desfavor de NUTRA

COMÉRCIO E INDÚSTRIA LTDA. E SUPERMERCADOS PLANALTO LTDA.

O autor diz haver sofrido danos em virtude da

compra de alimentos impróprios ao consumo no Supermercado Planalto Ltda.,

fornecidos pela Nutra Comércio e Indústria Ltda.

O decisório monocrático entendeu que a segunda ré

é parte ilegítima passiva, extinguindo o processo contra a mesma e julgou


improcedente a ação contra a primeira ré.

Extinção do processo.

O art. 13 do Código de Defesa do Consumidor está

inserido no Capítulo IV, Seção II, que trata da responsabilidade objetiva por

danos ocasionados pelo fato do produto e do serviço.

Melhor esclarecendo, o art. 12 regula a

responsabilidade em decorrência do produto e o art. 13 especifica um

fornecedor em particular, o comerciante, que, como regra, não é o responsável

pelo dano causado pelo fato do produto, posto que o Código do Consumidor,

na hipótese de dano, responsabiliza diretamente o “fabricante, o produtor, o

construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador” (caput do art. 12).

O comerciante torna-se igualmente responsável,

somente no caso de o “fabricante, o consumidor, o produtor ou o importador

não puderem ser identificados” (inciso I do art. 13), ou quando o “produto for

fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou

importador” (inciso II do art. 13), ou, ainda, quando “não conservar

adequadamente os produtos perecíveis” (inciso III do art. 13), hipótese esta em

que será o único responsável.

No caso dos autos nenhuma das hipóteses ocorreu.

O fornecer foi suficientemente identificado e não há a mais tênue prova no


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sentido de que os alimentos tenham sido comprados no Supermercado

Planalto.

Por estes fundamentos, entendo que a segunda

empresa-apelada, realmente não pode ocupar o pólo passivo da relação

processual e, em conseqüência, mantenho a extinção do processo, como feito

pelo ilustre juiz a quo.

Cerceamento de defesa.

A dilação probatória era desnecessária na espécie,

desde que a matéria em debate dispensava a produção de outras provas além

da pericial, suficiente para o deslinde da controvérsia.

Diante disso é de se entender que a produção das

provas pelas quais se insiste era desnecessária no caso, daí concluir-se pela

rejeição da preliminar de nulidade da sentença por cerceio de defesa.

Mérito.

A indenização é perseguida com o fundamento de

que os alimentos comprados estavam deteriorados, apodrecidos e com larvas

e outros bichos nocivos ao consumo.

O laudo pericial efetivado no arroz entregue pelo

autor para análise, disse da existência no mesmo de insetos vivos (coleoptera)


e larvas mortas e no feijão sujeiras, larvas e parasitas.

Mas, estes alimentos estavam fora das embalagens,

não servindo para comprovar com segurança que o fornecedor o tinha

entregue com problemas capazes de torná-los emprestáveis ao consumo.

Ressalte-se que o feijão que se encontrava em

poder do autor, havia sido cozido um dia antes, sem informação de como fora

conservado.

E mais, não se pode afirmar que ambos os

alimentos foram fornecidos pela ré, porque sem as respectivas embalagens.

Nos alimentos periciados nas respectivas

embalagens, nenhuma anormalidade foi constatada.

E mais, os bichinhos encontrados nas amostras

levadas a exame pelo autor, são carunchos, encontráveis com facilidade e

certa freqüência nos cereais em geral.

Constatado o vício de qualidade dos tão citados

alimentos, o autor deveria ter socorrido a uma das alternativas postas ao seu

dispor pelo § 1º do art. 18 do Código do Consumidor pedir a substituição dos

produtos por outros da mesma espécie, em perfeitas condições de uso, propor

a restituição da quantia paga, devidamente corrigida monetariamente, sem


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prejuízo de eventuais perdas e danos ou obter o abatimento proporcional do

preço, e não procurar, particularmente, laboratório, para com o resultado obtido

ajuizar ação de indenização por danos materiais e morais. Pelo menos, este

último caminho não é usado pela maioria gritante dos consumidores,

principalmente com o intento de obter indenização tão alta como a pedida nos

autos (mais de um milhão de reais).

A alteração da sistemática da responsabilidade,

prescindindo do elemento da culpa e aditando a teoria objetiva, não desobriga

o pretenso lesado da prova do dano e do nexo de causalidade entre o produto

e o dano. Isto não ocorreu nos autos.

Com espiritualidade e consistência, a ilustre juíza à

fl. 136, fundamenta a sua correta decisão:

“Poderá argumentar que é diabético, debilitado...


Mesmo assim, não vejo motivo para tanto descontrole. Ainda
mais que a ocorrência de coleoptera em cereais é comum, não
causando nenhum malefício maior à saúde, muito menos
levanto à morte, como dramatiza o autor em sua inicial.

Se o autor desfaleceu por causa dos carunchos, seu


mal era preexistente, não tendo nenhum nexo de causalidade
com a atividade da ré.

Mesmo que uns meros carunchos dessem causa à


indenização, o que terminantemente entendo que não dão, os
danos teria que ser provados.”
O recebimento de notificação extrajudicial em seu

local de serviço, por si só, não provoca qualquer dano, mesmo na pessoa muito

sensível, principalmente em se tratando de discórdia surgida por alegação de

fornecimento de alimentos impróprios ao consumo.

Não diviso qualquer motivo de sofrimento, dor

psicológica, preocupação com a saúde, situação degradante, etc., por parte do

autor; a justificar a condenação da ré em indenização por dano moral.

Quanto ao dano moral, pelo expendido, não restou

provado. Sequer consta dos autos prova documental referente a pagamento de

despesas médicas e hospitalares decorrentes do atendimento do autor.

A quantia gasta em exame dos documentos deve ser

debitada à imprudência do autor. Tampouco há sequer indícios de que o este

sofreu dano físico.

Não é o caso, aqui, de inverter-se o ônus da prova,

pois não é das “regras ordinárias de experiência” que ver bichinhos, etc, em

alimentos, até mesmo ingeri-los, cause intoxicação com danos irreversíveis à

saúde do consumidor (art. 6º, VIII, do CDC).

Verbas honorárias fixadas na extinção do

processo e na improcedência da ação.


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A ilustre juíza monocrática condenou o autor a pagar

a cada uma das rés, a título de honorários advocatícios, 10% sobre o valor

atribuído à causa.

O art. 20, caput, do Código de Processo Civil,

adotou o princípio que os romanos resumiram no victus victori expensas

condenatur. O § 3º deste artigo fixou critério para se calcularem os honorários

advocatícios nas causas em que houver condenação. E o § 4º do mesmo artigo

dispõe a respeito de como se fixam os honorários advocatícios nas causas em

que não existe condenação, como na espécie em análise.

Assim, neste particular, a r. sentença merece

reparos.

Conforme estatui o § 4º do art. 20 da Lei Adjetiva

Civil, nas causas em que não houver condenação, os honorários devem ser

fixados consoante apreciação eqüitativa do juiz, atendido o grau de zelo do

profissional, o lugar da prestação do serviço, a natureza e importância da

causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o serviço.

Caso a presente ação fosse julgada procedente

contra as duas rés, ambas sofreriam danos vultosos, inclusive perante os

consumidores do Distrito Federal. Logo, a causa é importante para as mesmas.

O cuidado dos advogados, nota-se ao ler a


contestação de fls. 34 usque 45, acompanhada da farta documentação de fls.

46 e 90/98, instruída com os documentos de fls. 100/111.

E mais, não se pode fixar verba honorária

insignificante em ação desta natureza sob pena de incentivar os seus

ajuizamentos, mesmo a título de aventura e ferir a nobre profissão do

advogado, figura indispensável à administração da justiça, conforme o art. 133

da Constituição da República.

Não se pode e nem se deve aviltar o trabalho desse

profissional.

Diante do exposto, dou provimento parcial à

apelação interposta, unicamente para fixar a verba honorária com apoio no §4º

do art. 20 do Código de Processo Civil, em R$ 2.000,00 (dois mil reais) para

cada ação, num total, portanto, de R$ 4.000,00 (quatro mil reais). Esta quantia

deverá ser corrigida a partir do julgamento do recurso.

É o voto.

O Senhor Desembargador WELLINGTON

MEDEIROS - De acordo.

DECISÃO
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Conhecido. Deu-se parcial provimento. Unânime.

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