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16/01/2009
Central Destino de Produção Cap. 10
Inspirada no original de
Janete Clair
Colaboração de
Eduardo Secco
Direção
Claudio Boeckel e Marco Rodrigo
Direção Geral
Luiz Fernando Carvalho
Núcleo
Luiz Fernando Carvalho
Personagens deste capítulo
Atenção
“ Este texto é de propriedade intelectual exclusiva da TV DESTINO LTDA e por conter informações confidenciais, não
poderá ser copiado, cedido, vendido ou divulgado de qualquer forma e por qualquer meio, sem o prévio e expresso
consentimento da mesma.No caso de violação do sigilo, a parte infratora estará sujeita às penalidades previstas em
lei e/ou contrato.”
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 10 Pag.: 2
MADALENA — Nilo, pelo amor de Deus. Você tá bêbado. Não sabe o que tá fazendo.
NILO — Sei. Sei o que eu tô fazeno, Madalena. Ocê num sabe o quanto eu
esperei pra ficá assim sozinho com ocê. Só nós dois.
NILO — Espera!
MADALENA SE DEBATE.
NILO — Se ocê ficá quietinha e fizé tudo o que eu mando, eu não te machuco.
NILO — Ocê é cheirosa demais. Faz é tempo que eu queria tê ocê assim, nos
meus braço.
NILO — Só que ele não vai saber. Se ocê contá alguma coisa, eu acabo com a
sua raça.
CORTA PARA:
PEDRO — É que a gente teve uma conversa. Acho que ela foi embora e nem
lembrou de se despedir.
PEDRO — Não. A gente só teve uma conversa. Ela me disse umas coisa que tão
aqui revirando na minha cabeça.
NARA — Chica só lhe qué bem. Se falou é porque quer lhe ajudá.
PEDRO — Eu sei, Nara. Chica é a mulher da minha vida. Tudo o que ela me fala é
pensando na minha felicidade. (p) Só que dessa vez ela conseguiu dá um
nó na minha cabeça.
NARA — E têm arguma coisa que eu possa fazê pra lhe ajudá?
PEDRO SE LEVANTA.
PEDRO — Isso é coisa que eu tenho que resolvê aqui comigo mesmo. Preciso
colocá as minhas idéia no lugar. (p)Eu vô é me deitá. Tô precisando
descansar o corpo e a cabeça, Nara.
CORTA PARA:
PEDRO — Meu pai, eu não sei o que fazer. Queria tanto que o senhor tivesse por
aqui pra me aconselhá. (p) Se tudo aquilo não tivesse acontecido. Se
aquele avião...
PEDRO — Ocê tá ficando um moleirão, Pedro Azulão! (p) Não adianta nada ficar
aqui chorando as pitangas. Ocê precisa decidir que rumo vai dar na sua
vida.
CORTA PARA:
NILO — Mas se ocê pensa que isso vai me pará, tá muito enganada.
CORTA PARA:
CORTA PARA:
NILO — Eu não quero escutá nada. Fica quietinha, Madalena. Garanto que ocê
vai gostá de mim.
MADALENA — Nilo, se você fizer alguma coisa contra mim, o Heitor vai acabar
sabendo. Ela vai acabar com você! Será que você não pensa nisso?
NILO — Madalena, ocê não tá me entendendo. Depois que a gente ficá junto,
ocê num vai falá nada pra ele. Sabe por quê? Porquê ocê vai gostá. Ocê
vai querê repeti.
NILO — Sai daqui, Zulmira! Ocê não têm nada que ver com isso!
ZULMIRA FICA PUXANDO NILO. ELE A EMPURRA COM FORÇA, FAZENDO COM QUE A
CAFETINA BATA COM AS COSTAS NA PENTEADEIRA E CAIA NO CHÃO.
MADALENA — Madrinha!
NILO OLHA PARA ZULMIRA E PARECE FICAR UM POUCO SURPRESO AO VER QUE ELA
ESTÁ FERIDA. O RAPAZ SE APROXIMA DELA. NESSE ESPAÇO DE TEMPO, MADALENA
APANHA A ESTÁTUA DA SANTA QUE TÊM AO LADO DA CAMA E BATE COM ELA NA
CABEÇA DE NILO. O RAPAZ FICA ATORDOADO E ELA APROVEITA PARA JOGÁ-LO
CONTRA A PAREDE. NILO BATE COM A CABEÇA E DESMAIA. MADALENA SE AJOELHA
AO LADO DE ZULMIRA.
MADALENA — Madrinha caiu e se machucou. A gente precisa levar ela pro hospital.
MADALENA — Balbina, você fica aqui tomando conta da casa que eu vou pro hospital
com ela.
ZORAIDE — Nilo!
OS HOMENS LEVAM ZULMIRA PARA FORA. BALBINA E TIANA SAEM COM ELES.
MADALENA VAI APANHAR SUA BOLSA, MAS ZORAIDE, COM RAIVA, A SEGURA PELO
BRAÇO.
ZORAIDE — Até parece que Nilo ia lhe agarrar. Ocê deve de tê provocado ele! Se
ocê acha que me engana...
MADALENA — Chega Zoraide! Eu não vou ficar aqui batendo boca com você! Vou no
hospital ficar ao lado da Madrinha. Se você quiser cuidar desse traste aí,
fique à vontade.
MADALENA SAI.
CORTA PARA:
CORTA PARA
HEITOR — É.
HEITOR — Reticente. (p) Achei que ele fosse ficar empolgado, animado. Só que
não foi isso o que aconteceu.
CELESTE — Inundada?
HEITOR — É.
CELESTE — Você tá querendo me dizer que, quando essa barragem ficar pronta,
Divinéia vai ficar debaixo d’água?
HEITOR — Vai.
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 10 Pag.: 9
CELESTE — Ah! Então foi isso que aconteceu. O Diogo ficou contra o projeto
porque a cidade vai ser inundada.
HEITOR — Eu não disse que ele ficou contra. Disse que ficou reticente.
CELESTE — E você esperava o quê, Heitor? Que ele soltasse fogos? É a cidade
onde ele nasceu.
CELESTE — Mas é diferente. Vocês são diferentes. É muito compreensível que ele
fique assim. Não é todo mundo que aceita a destruição da sua cidade.
CELESTE — Tá bem. Eu posso até mudar a palavra, mas o resultado vai ser o
mesmo.
CELESTE — Pelo amor de Deus, Heitor. Até parece. Por mim aquela cidade pode
ser inundada quatrocentas vezes. Lugarzinho sem-graça. Fim de mundo.
Eu só tô falando que é aceitável a reação do Diogo. Você não se esqueça
de que aquele irmão dele ainda vive lá.
HEITOR — Eu confesso que não esperava essa reação dele. O Diogo sempre teve
a cabeça aberta. Um rapaz dinâmico, antenado. (p) Ele sabe que a
hidrelétrica é a chance que a região têm pra progredir, e mesmo assim...
HEITOR — É. É isso mesmo. (p) Eu estava contando com ele pra encabeçar essa
obra. É a única pessoa em quem eu tenho plena confiança de entregar um
projeto que é tão importante pra construtora. Agora... Eu não sei mais o
que pensar.
CELESTE — Mas Heitor, o que foi exatamente que ele lhe disse?
CELESTE — Então dá esse tempo pra ele. Como você mesmo disse, o Diogo é um
homem de cabeça aberta. Tenho certeza de que ele vai ponderar sobre
tudo o que você disse.
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 10 Pag.: 10
CELESTE — É melhor você dormir e tirar isso um pouco da cabeça. Você anda
muito tenso por causa dessa hidrelétrica.
CORTA PARA:
HEITOR — Não acredito que você está me fazendo uma pergunta dessas. Diogo,
vai ser ótimo pra toda aquela região.
DIOGO — Como, tio? A cidade vai ser destruída. Como pode ser bom?
DIOGO SE SENTA.
HEITOR — Esse meu amigo deputado garantiu que uma boa parte de terra vai ser
cedida pelo governo. Pra que o projeto fosse aprovado isso precisava
constar. É uma espécie de garantia. Nessa terra vai ser construída uma
nova cidade. Uma nova Divinéia. (p) A população não vai ser despejada,
Diogo! Você acha que, caso isso fosse acontecer, eu iria concordar com
uma coisa dessas? Eu sou filho de Divinéia! Me preocupo com o povo de
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 10 Pag.: 11
lá. (p) Diogo, a cidade não vai acabar. Ela vai apenas... Mudar de lugar. É
isso. Vai mudar de lugar.
HEITOR — Eu sei que, olhando assim de fora, numa primeira impressão, parece
que nós vamos destruir uma cidade, mas não é nada disso. (p) Diogo, a
construção dessa hidrelétrica é tudo o que Divinéia está precisando. (p)
Você sempre foi um menino de cabeça aberta. Alguém que sempre quis
estudar, progredir. (p) Diogo, é o progresso. É o progresso chegando à
Divinéia. Será que nós temos o direito de negar isso praquela gente? De
deixar que eles continuem vivendo como um bando de caboclos semi-
alfabetizados, naquelas condições tão precárias? Essa é a oportunidade
que aquele fim de mundo estava esperando pra ser alguma coisa, Diogo.
(p) É a oportunidade que eles têm de ter uma vida melhor.
CORTA PARA:
CORTA PARA:
BRISA — Eu vô mesmo dá uma passada lá. Mas num é por esse motivo que o
senhor tá ai pensano.
BRISA SAI. ZÉ MARTINS PERCEBE QUE CHICA QUASE NÃO TOCOU NO CAFÉ. ESTÁ
PENSATIVA E ALHEIA AO QUE ACONTECE À SUA VOLTA.
ZÉ MARTINS SORRI.
ZÉ MARTINS — Conheço ocê como a parma da minha mão, Chica. Sei que têm
arguma coisa lhe desacorçoando. Tá assim desde que chegou da casa do
seu noivo. O que aconteceu? Ocê e Pedro brigaram?
CHICA — Não. Não brigamo. (p) Eu falei umas coisa pra ele e... E eu acho que
ele pode de tê ficado magoado. Pode num tê intendido o que eu quis
dizê.
ZÉ MARTINS — Acho difícil. Pedro sabe que ocê gosta dele. Que só fala pensando na
felicidade dele.
CHICA — É. Ele sabe. Mas é que eu fui muito dura, pai. Disse que ele num
tinha construído nada nessa vida. Que tudo o que ele tinha foi o que o
pai deixou. E o que Heitor Gonzaga permitiu que ele tivesse.
ZÉ MARTINS — Essas coisa a gente num diz pra um hóme, filha. Ainda mais pra um
orgulhoso que nem Pedro Azulão.
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 10 Pag.: 13
ZÉ MARTINS — Mas por quê que ocê foi falá tudo isso?
CORTA PARA:
HILDA — Não. Me arrumei assim porque eu sou boba. É claro que eu vou sair,
estaferma! (P) Quero que você faça uma coisa pra mim.
HILDA — Você sabe onde estão as caixas com os bordados pra quermesse, não
sabe?
HILDA — Eu quero que você separe todos eles por cor e depois volte a embalar
tudo nas caixas. Não esqueça de escrever nelas quais são as cores.
HILDA — É claro que são todos eles. Mundica, hoje você está mais lenta do que
o normal. Eu vou à Igreja. Hoje nós vamos ter uma reunião pra acertar os
últimos detalhes da quermesse.
HILDA — Não participava. Agora eu vou participar. Imagina que eu vou deixar
aquela madre Teresa de Calcutá dos pobres tomar à frente de tudo. Não
na minha cidade!
MUNDICA — Num conheço essa dona Teresa, não. Ela é nova na cidade?
HILDA — Senhor, dai-me paciência pra agüentar essa criatura ignorante logo
pela manhã.
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 10 Pag.: 14
HILDA SAI.
MUNDICA — Que foi que eu falei de errado? Só porque eu não conheço essa dona
Teresa?
CORTA PARA:
BRENO — Eu não posso ficar esperando por ela. Tenho muita coisa pra fazer na
prefeitura. Tchau, minha filha.
LOURDES SE SENTA.
LOURDES — Leões não. Leão. É um só. (p) Tô falando do Padre Luís. Hoje vão
começar os preparativos pra quermesse. Eu queria que seu pai, na
condição de prefeito, fosse comigo até a Igreja. Pra impor respeito. Pra
dar um certo ar de autoridade.
CAMILA — Até parece que o Padre Luís vai fazer isso, mãe!
LOURDES — Eu não sei. Já pensou que situação mais desagradável eu, a primeira
dama, ser expulsa da Igreja?
CAMILA — Até parece que ele vai fazer isso. O Padre Luís é um amor de pessoa.
LOURDES — Um amor. Sei. Do jeito que você fala parece que ele é um santo.
LOURDES — É. Fica do lado do Padre. Eu já deveria saber que tanto você quanto o
seu pai iriam ficar contra mim.
CAMILA — Quer saber? Eu vou pra escola que ganho mais. Tchau mãe.
CAMILA SAI.
LOURDES — Vai embora. Larga a mãe à própria sorte. É Lourdes. Essa batalha você
vai ter que enfrentar sozinha!
LOURDES — Padre Luís, se o senhor acha que está livre de Lourdes Piragibe, pode
tirar o seu cavalinho da chuva! À guerra!
LOURDES SAI.
CORTA PARA:
arrumar as coisas dele e vir pra cá hoje mesmo. (p) Isso você deixa que eu
mesmo arranjo tudo. Vou ligar pro delegado daí e ter uma conversinha
com ele. (p) Tá certo. Mas manda ele vir hoje.
ARTHUR — É, mas pelo que falaram o falecido era um sem vergonha. Mereceu o
que teve. Acontece que Ramira tá com medo de que o filho seja preso.
ARTHUR — É. Ele mais a mulher. Depois você fale com Bicho Brabo que eu acho
que têm umas casas de colonos que tão desocupadas. Peça pra Ivone dar
um jeito numa delas. Deixar tudo direitinho pra receber esses dois.
ARTHUR SE LEVANTA.
ARTHUR — O Vinícius?
ARTHUR — Que estranho. Ele nunca me liga. (p) Será que aconteceu alguma
coisa?
ISABEL — Pelo telefone parecia estar tudo bem. Ele estava tranqüilo.
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 10 Pag.: 17
ARTHUR — Vou ligar pra ele. (p) Queria ter mais contato com esse menino, afinal
de contas, é meu único filho. Acontece que aquela mãe dele faz marcação
cerrada. Não deixa eu me aproximar dele de jeito nenhum.
ISABEL — Logo ele vai ficar maior de idade, Coronel. Ela não vai poder mais
manter o rapaz longe do senhor.
CORTA PARA:
CORTA PARA:
VINÍCIUS — Alô.
ARTHUR — Vinícius?
VINÍCIUS — Pai?
VINÍCIUS SORRI.
ARTHUR — A gente vai tocando. Fiquei preocupado quando a Isabel disse que
você tinha ligado. Aconteceu alguma coisa?
VINÍCIUS — Não. Não aconteceu nada, pai. Tá tudo bem por aqui.
ARTHUR — E o que é?
VINÍCIUS — Não queria que o senhor ficasse pensando que eu só ligo pra pedir
coisa.
ARTHUR — Deixa disso, Vinícius. Eu sei que a sua mãe não deixa você me
telefonar. Não se preocupa com isso.
VINÍCIUS — Pai, eu... Eu tô precisando de uns livros pra faculdade, mas... Mas eu
não tenho dinheiro pra comprar.
ARTHUR — Livro pra faculdade? Mas por que é que você não me ligou antes?
ARTHUR — A sua mãe precisa acabar com essa história de não deixar você chegar
perto de mim. Eu vou conversar com ela.
ARTHUR — Mata nada. Sua mãe fala, fala, mas no fundo não faz nada. Meu filho,
eu vou ter que dar um pulo na cidade agora. Aproveito pra passar no
banco e depositar um dinheiro na sua conta. Você ainda têm aquela
conta... Aquela conta pra menor de idade, não têm?
LEONOR ENTRA NA SALA E FICA OLHANDO PARA O FILHO ENQUANTO ELE FALA AO
TELEFONE. VINÍCIUS PERCEBE E COMEÇA DISFARÇAR.
ARTHUR — Eu quero ver se dou um pulo aí em Cuiabá no mês que vêm pra
resolver umas coisas e vou aproveitar pra falar com a sua mãe. Essa
história dela não deixar você me ver precisa acabar. Você é o meu único
filho.
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 10 Pag.: 19
VINÍCIUS — Isso.
VINÍCIUS — Olha, eu... Eu vou ter que desligar. Depois a gente se fala.
ARTHUR — Tá certo. Então depois você passa no banco pra pegar o dinheiro.
Tenha juízo aí, meu filho. Um abraço pra você.
VINÍCIUS — Outro.
LEONOR — É, Vinícius. Quem era no telefone? Ninguém liga pra cá tão cedo.
VINÍCIUS — Ah! Era... Era um amigo meu da faculdade. Ligou pra me lembrar de
levar o trabalho.
CORTA PARA:
CORTA PARA:
HEITOR — Não.
BRUNO — Ainda têm tempo, Heitor. O relatório de impacto ambiental ainda nem
saiu. Eu tenho certeza de que você vai conseguir convencer o Diogo a
assumir a obra.
HEITOR — Tomara que você esteja certo mesmo. (p) Falando no relatório, quero
que você ligue pro Lincoln e tente descobrir à quantas anda isso.
BRUNO — Agora?
HEITOR — Já.
BRUNO SE LEVANTA.
HEITOR — Bruno, quando você sair, por favor peça pra Vera chamar a Eduarda.
Eu quero falar com ela.
BRUNO — Eu peço.
BRUNO SAI.
CORTA PARA:
EDUARDA — Eu não acho nada. Prefiro não achar. Só que ele anda meio de pé atrás
comigo.
EDUARDA SE LEVANTA.
EDUARDA — Bom, só têm um jeito de saber. Enfrentando a fera. Vou lá ver o que
ele quer comigo.
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 10 Pag.: 21
CORTA PARA:
CELESTE — Bom dia. Mas sem o tia, pelo amor de Deus! Eu não sou tia de um
homem da sua idade.
DIOGO RI.
DIOGO SE SENTA.
DIOGO — Pra dizer a verdade, não. Não quero tomar nenhuma decisão
precipitada.
DIOGO — É que quando eu tomo alguma decisão, gosto de ter certeza de que é a
certa. De que é o melhor.
CELESTE — Eu entendo. Mas Diogo, nem tudo na vida é assim. Você nunca vai
poder ter certeza de que todas as coisas que você faz são completamente
certas. Algumas vezes é preciso arriscar. Nesse caso da hidrelétrica por
exemplo. Eu sei que a primeira impressão que a gente têm é de que a
cidade vai ser destruída, de que as pessoas vão perder as suas casas. Só
que, se a gente olhar mais adiante, vai ver que as coisas podem não ser
assim. (p) Diogo, às vezes, dependendo da forma como nós conduzimos
as coisas, elas mudam pra um lado ou pro outro. Eu sei que essa obra vai
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 10 Pag.: 22
criar transtornos, mas também pode resultar muita coisa boa daí. Não vou
ficar aqui enumerando o que é porque tenho certeza de que o seu tio já
fez isso. (p) Pensa bem. A hidrelétrica pode trazer tanta coisa boa pra
Divinéia, Diogo. E se isso acontecer, e eu tenho certeza de que vai, você,
um filho da terra é quem vai ter feito. Você saiu de lá pequeno, estudou,
virou um homem e agora volta pra lá pra ajudar aquele povo. Pra fazer
com que eles tenham uma vida melhor. (p) Você não acha que vale a
pena?
CORTA PARA:
HEITOR — Oi Eduarda.
OS DOIS SE SENTAM.
HEITOR — Vamos esquecer isso. Também não foi nada importante. Não chamei
você aqui pra nós falarmos disso. O assunto é muito mais importante. (p)
Eu sei que você anda muito interessada em participar do projeto da
hidrelétrica.
EDUARDA — Muito, doutor Heitor. A minha vida inteira eu esperei por uma
oportunidade dessas. O senhor pode ter certeza de que, caso me dê essa
chance, eu não vou decepcioná-lo. Vou me atirar de cabeça no trabalho.
HEITOR — Você diz isso agora, mas pra uma moça como você...
HEITOR — Eu queria que todos os meus funcionários tivessem essa sua garra. (p)
Eduarda, eu estou tendo um... Um probleminha. Eu havia escolhido uma
pessoa pra ser responsável pela construção da hidrelétrica, mas... Mas eu
não sei se ela vai poder assumir esse cargo. Eu preciso pensar em outro
nome pra essa função. Estou pensando em você.
HEITOR — Eu não estou dizendo que você é a escolhida. Seu nome é um dos que
eu estou pensando pra esse cargo. Têm o André também, o próprio
Bruno. Sem contar é claro, a pessoa que eu tinha em mente e que eu
estou esperando que me dê uma resposta.
HEITOR — Só queria saber se você está mesmo disposta a se enfiar num fim de
mundo como Divinéia pra trabalhar na construção da barragem.
EDUARDA — Doutor Heitor, mesmo que o senhor escolha outra pessoa, eu sei que
têm muita coisa que posso fazer pra ajudar. Eu quero muito estar nesse
projeto.
HEITOR — Você vai estar. Pode ficar tranqüila que você vai estar.
CORTA PARA:
EDUARDA — Era tudo o que eu queria. E você também tá. Vacilou um de nós fica de
chefão da obra.
ANDRÉ — Porque eu sempre achei que ele ia colocar o Diogo à frente do projeto.
ANDRÉ — Será?
EDUARDA — Ele me disse que tá esperando a resposta de uma pessoa, deve ser ele.
CORTA PARA:
CORTA PARA:
CORTA PARA:
LUCENA — E por acaso ocê acha que ele vai aceita isso como descurpa? Ocê tá é
perdido, Nilo. Ele vai acabá com a sua raça!
LUCENA — Num tô lhe rogando praga nenhuma. Tô só falando a verdade. (p) Ocê
já sabe o que vai fazê?
NILO — Não. Pensei em ir até lá e falá com Madalena. Me desculpá e pedi pra
ela num falá nada.
NILO — Acho que não. Ela deve de tá querendo que eu me estrepe. Ainda
acabei machucando Zulmira.
NILO — Eu agora preciso encontra uma forma de num deixá essa história chegá
nos ouvidos do seu Heitor.
CORTA PARA:
ZULMIRA — Isso tudo que aconteceu não pode ficar assim, sem nenhuma
conseqüência pro Nilo.
ZULMIRA SE SURPREENDE.
MADALENA — Madrinha, se isso cai no ouvido do Heitor, eu tenho até medo do que
ele possa fazer com o Nilo. É melhor a gente esquecer e...
ZULMIRA — De jeito nenhum, Madalena. Esse homem entrou na minha casa, tentou
violentar você e ainda por cima me agrediu. Ele não vai sair dessa com a
cara lavada. Se você não contar pro Heitor, eu conto!
FIM DO CAPÍTULO