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BORDIGUISMO, CONSELHISMO E NÓS

Nildo Viana *

O chamado esquerdismo 1 possuiu inúmeras concepções e correntes


políticas. Entre estas correntes se destacam duas: o bordiguismo, gestado por Bordiga e
a Esquerda Comunista Italiana e o comunismo conselhista, desenvolvido pelos
revolucionários holandeses e alemães. O objetivo do presente texto é ressaltar as
diferenças e semelhanças entre estas duas concepções e ver como elas nos ajudam a
constituir uma teoria da revolução proletária.

O Bordiguismo e o Movimento do Capital

Comecemos pelo bordiguismo. O bordiguismo


nasceu na Itália, através de Bordiga e suas obras. Bordiga e
seus continuadores desenvolveram uma ampla teoria do
capitalismo a partir da obra de Marx. Depois de Bordiga, a
grande obra do bordiguismo, a nosso ver, é a de Jean
Barrot, O Movimento Comunista2. É uma obra monumental
Amadeo Bordiga
e que fornece uma análise do capitalismo de forma
aprofundada e ao mesmo tempo sintética. Consideramos esta obra também como uma
síntese do bordiguismo (embora realize algumas rupturas com o próprio Bordiga,
principalmente no que se refere à questão do partido). A grande contribuição do
bordiguismo ao marxismo e ao mesmo tempo seu elemento central, é justamente a sua
análise da dinâmica do capitalismo, centrada na produção de mais-valor. O bordiguismo
analisa o processo de constituição, desenvolvimento, e auto-dissolução do capital. Aí
reside sua força e, ao mesmo tempo, sua fraqueza. Ao analisar o capitalismo, o
bordiguismo não sai de sua esfera, segue sua dinâmica, seu processo de constituição e
desenvolvimento, mas ao ficar restrito a esta dinâmica, acaba concebendo a constituição

- Nildo Viana é Militante do Movimento Autogestionário.


1
A expressão esquerdismo, atribuída aos marxistas revolucionários que discordavam do bolchevismo, é
vista pejorativamente pelo leninismo, que produziu a primeira obra de crítica ao esquerdismo (LÊNIN,
W. O Esquerdismo, A Doença Infantil do Comunismo. 6a edição, São Paulo, Global, 1989). No entanto,
o esquerdismo, enquanto termo, foi resgatado e para nós assume o significado equivalente ao de
marxismo revolucionário e, por conseguinte, antagônico tanto ao bolchevismo quanto à social-
democracia.
2
BARROT, Jean. O Movimento Comunista. Lisboa, Etc, 1975.
do comunismo como auto-dissolução do capital. O movimento do capital aponta para o
seu próprio fim, através, como colocou Barrot, da “caducidade do valor”.
O que temos aqui é, a nosso ver, o elemento central do bordiguismo, a
centralidade que oferece à “lei do valor”. Disto resulta uma concepção economicista e
determinista. A dinâmica do capital aponta para sua própria dissolução, ou seja, isto já
está determinado. Daí todas as demais questões e relações sociais são derivadas do
processo de produção capitalista. Assim, a concepção de história do bordiguismo se
revela “fechada”, onde a categoria da possibilidade inexiste. A constituição do
comunismo é derivada do movimento do capital e assim não há espaço para se pensar a
negação do capital como criação do proletariado. Disto resulta a concepção de Bordiga
da “crise final” e do partido-seita. O movimento automático do capital gera o
comunismo.
Entre os esquerdistas, curiosamente, o bordiguismo é a única corrente que
ainda concede um papel ao partido político. Mas isto não é nenhuma novidade e o
próprio Jean Barrot reconheceu isto. Segundo ele, no Prefácio à Edição Portuguesa, o
seu livro O Movimento Comunista, “tende a apresentar uma lógica mais mecânica do
que social – a palavra ‘mecanismo’ surge, de resto, com relativa freqüência. Tem-se,
por isso, por vezes, a impressão duma evolução automática, prevista, ‘programada’,
segundo ‘leis’ comparáveis às da física ou das matemáticas. A análise é exata; faz,
porém, abstração de outros aspectos do problema e da realidade. Tende a tudo explicar
em função de uma dinâmica econômica cujo impulso inelutável engendraria a
revolução comunista tal como engendrou o capitalismo. É verdade que a causa
profunda do movimento operário é a sua situação material; mas, quando Marx fala de
‘constrangimento histórico’ na Sagrada Família, este constrangimento não é
independente da ação humana e da capacidade (ou incapacidade) dos proletários para
agir”3.
Mas mesmo depois desta “autocrítica”, Barrot não supera sua visão do
processo de constituição do comunismo via auto-dissolução do capital. Tanto é verdade
que no mesmo prefácio contesta a organização sindical e partidária, os grupos políticos
e fala em grupos informais que nascem não se sabe de onde e nada mais além disso.
Com o bordiguismo corremos o risco de compreender o movimento do capital mas não
o engendramento do comunismo.

3
BARROT, Jean. Ob. cit., p. 9.
2
O Conselhismo e o Movimento Operário

O comunismo conselhista já parte de uma


perspectiva diferente. Através das obras de Pannekoek, Korsch,
Rühle, Mattick, Gorter, entre outros, se constitui como uma
corrente política marxista principalmente na Holanda e
Alemanha. Ao contrário do bordiguismo, que centra sua atenção
no movimento do capital, o conselhismo focaliza o movimento Otto Rühle
operário. O comunismo conselhista nasceu no interior do processo de formação dos
conselhos operários na Alemanha, Rússia, etc., em períodos revolucionários. Daí a obra
dos comunistas de conselhos se centrar na questão do movimento operário e da
problemática dos conselhos. Pannekoek, por exemplo, dedicou inúmeros escritos ao
tema dos conselhos operários. Derivado desta concepção conselhista e centrada no
movimento operário, o comunismo conselhista logo percebeu o papel contra-
revolucionário dos partidos, sindicatos, social-democracia, bolchevismo. A luta operária
engendra os conselhos operários e a autogestão social. Assim, a luta de classes assume
importância na análise da realidade realizada pelos representantes teóricos do
conselhismo.
O movimento do capital, por sua vez, foi relegado à segundo plano, o que
fez alguns pensarem, tal como Wright4, que os comunistas conselhistas centravam sua
análise na questão da autogestão enquanto administração. Ora, qualquer leitor de
Pannekoek5, por exemplo, percebe que o modo de produção comunista, para o
conselhismo, é a autogestão, e isto significa que ela não é mera forma de administração
e sim uma relação de produção. Tal posição se encontra, sem dúvida, no grupo
Socialismo ou Barbárie, tal como se vê nas obras de Castoriadis6, mas não na produção
dos comunistas conselhistas.

4
WRIGHT, Steven. As Tradições Revolucionárias: O Comunismo de Conselhos. Revista Ruptura. Ano 8,
n. 7, Agosto de 2001.
5
Cf. PANNEKOEK, Anton. A Luta Operária. Lisboa, Centelha, 1977.
6
“Chaulieu (Castoriadis) mostra bem no seu trabalho Les Rapports de Production en Russia que há ali
exploração dos operários, mas não mostra a natureza especificamente capitalista dessa exploração.
Há nisso, desde logo, incompreensão do movimento do capitalismo para o comunismo, ao qual se
substituem contradições reais mas perfeitamente secundárias, ao nível da gestão, por exemplo”
(BARROT, J. Ob. cit., p. 60). Aqui vemos novamente a força e a fraqueza do bordiguismo: identificou o
equívoco de Castoriadis mas não conseguiu perceber o aspecto revolucionário contido em sua
abordagem, justamente a questão da gestão (ou melhor, da autogestão). Se se fizer a leitura dos textos
comunistas conselhistas, irá se ver que a questão da produção de mais-valor é apresentada como a
forma de exploração na Rússia. A diferença entre a abordagem comunista conselhista e de Castoriadis
3
O movimento operário é o fio condutor da análise dos comunistas
conselhistas. Ora, o próprio Marx deixou bem claro que o comunismo é constituído por
esta classe social e que é a luta de classes que define quando e como isto ocorre. Daí,
sem dúvida, o comunismo conselhista ser a corrente política marxista que assumiu a
posição mais revolucionária entre todas as correntes esquerdistas.

Bordiguismo e Conselhismo

A concepção bordiguista tomou como referência fundamental O Capital, de


Karl Marx7, para desenvolver suas teses. Se retomarmos Barrot, veremos que para ele o
proletariado é revolucionário devido ao movimento do capital. Ao tomar O Capital
como referência fundamental, o bordiguismo realizou a leitura de todas as outras obras
de Marx através da sua mediação. Em O Capital, Marx analisa o processo de produção
de mais-valor, capitalista, e por isso centrou sua atenção principalmente no processo de
produção e distribuição. Assim, o que aparece são as duas classes sociais fundamentais
na luta em torno do mais-valor. Sem dúvida, não é possível separar o modo de produção
capitalista das demais relações sociais. Quais relações sociais? As formas de
regularização (ou “superestrutura”) e as demais formas de produção não-capitalistas.
Assim, para quem se limita à leitura de O Capital, é possível pensar que a sociedade
capitalista só possui duas classes sociais, o que é incompatível com outros textos de
Marx, nos quais apresenta o campesinato, a burocracia, etc., como outras classes sociais
existentes no capitalismo. Mas trata-se de uma obra inconclusa. O capítulo que ele
planejava escrever sobre o estado e o outro que começou a escrever sobre as classes
sociais, não foram desenvolvidos. Isto prova que é impossível isolar o modo de
produção das formas de regularização, bem como é um equívoco pensar que o
capitalismo só possui duas classes sociais, pois, mesmo em O Capital, Marx apresenta
passagens sobre a burocracia e os latifundiários, que não são nem burgueses nem
proletários. A partir de tal ponto de partida, o bordiguismo irá centralizar sua atenção no
movimento do capital e desconhecer a ação revolucionária do proletariado. Se limitar à
leitura de O Capital também significa observar o movimento do capital, do valor, a

já é visível no próprio nome atribuído para caracterizar a sociedade russa: capitalismo de estado, para
os comunistas conselhistas, capitalismo burocrático, para Socialismo ou Barbárie. Diferença não
desprezível se recordarmos que capitalismo de estado significa, tal como colocou Pannekoek (na obra
citada), que o estado monopoliza a apropriação do mais-valor produzido pela classe operária e
capitalismo burocrático, que a burocracia dirige o proletariado (cf. C ASTORIADIS, C. A Sociedade
Burocrática. Porto, Afrontamento, 1979).
7
MARX, Karl. O Capital. 5 vols. 3a edição, São Paulo, Nova Cultural, 1988.
4
tendência de dissolução e destruição do capitalismo, mas, dependendo da leitura, se
pode ver isto como a palavra final, o que significa a auto-dissolução do capital enquanto
conclusão da história. Ora, a auto-dissolução do capital não diz nada sobre a sociedade
pós-capitalista, apenas coloca que haverá transformação social mas não o seu sentido. A
percepção deste sentido só pode ocorrer fora do movimento do capital. É por isso que a
história não está pré-determinada, pois a auto-dissolução do capital pode tanto constituir
o modo de produção comunista quanto um modo de produção burocrático. Para
reconhecer esta ameaça (o modo de produção burocrático) e para saber como se pode
constituir o modo de produção comunista, é preciso ultrapassar a análise do movimento
do capital e perceber o desenvolvimento do movimento operário, o que realizou o
comunismo de conselhos.
O comunismo conselhista, diferentemente do bordiguismo, irá tomar como
referência fundamental, apesar disto não estar explícito, o texto de Marx sobre A
Comuna de Paris8. É em A Guerra Civil na França e ao analisar a ação dos
“comunardos” que Marx irá colocar que é nesta experiência histórica que se descobriu,
finalmente, a forma de emancipação dos trabalhadores. É na Comuna que nascerão os
primeiros esboços de conselhos operários e a primeira grande experiência histórica de
autogestão social. Na Comuna, o movimento operário autogeriu suas lutas, dispensando
representantes e qualquer forma de organização burocrática.
O texto de Marx sobre a Comuna de Paris assume, para os comunistas
conselhistas, também um significado metodológico: a teoria do comunismo só pode se
constituir com base na experiência histórica do movimento operário. Toda a
constituição histórica posterior do comunismo conselhista se fundamentará neste
princípio metodológico. Tanto que é que a grande obra de Karl Korsch, Marxismo e
Filosofia, se fundamentará justamente na idéia de relacionar marxismo e proletariado. O
marxismo é aí definido como expressão teórica do movimento operário. A crítica dos
comunistas conselhistas ao bolchevismo, por sua vez, tem como fundamento o caráter
não-proletário do leninismo, que ao invés de se fundamentar na experiência do
movimento operário se baseia no pressuposto cientificista do kautskismo. A crítica do
capitalismo estatal russo, por sua vez, tem sua razão de ser por não se fundamentar na
experiência do movimento operário mas, ao contrário, por combatê-lo, tal como foi feito
com os sovietes (conselhos operários).

8
MARX, Karl. A Guerra Civil na França. São Paulo, Global, 1986.
5
Assim, no bordiguismo a ênfase recai sobre O Capital enquanto obra teórica
e no movimento do capital enquanto objeto de análise; no conselhismo, a ênfase recai
no texto sobre A Comuna de Paris enquanto obra teórica e no movimento operário
enquanto objeto de análise. Sendo assim, não podemos de deixar de reconhecer que a
compreensão do movimento do capital e do movimento operário são fundamentais, mas
que a opção conselhista, por compreender o conteúdo do comunismo e o seu processo
de formação, foi muito mais longe do que o bordiguismo.

Nós...

Movimento do capital, movimento operário. A ênfase apresentada tanto pelo


bordiguismo quanto pelo conselhismo deixa de lado um terceiro elemento, o dos grupos
revolucionários. Ou, em outras palavras, tanto o bordiguismo quanto o conselhismo
negligenciaram a questão dos grupos revolucionários. O partido-seita de Bordiga ou os
“grupos informais” de Barrot são insuficientes, bem como as teses das organizações
conselhistas de publicação e agitação ou da dissolução dos coletivos revolucionários nas
organizações operárias.
Este terceiro elemento que foi excluído deve ser incluído. Qual é o motivo
da inclusão? O motivo reside no fato de que é necessário realizar uma síntese analítica
entre o movimento do capital e o movimento operário. A partir desta análise veremos,
entre outras coisas, que existe uma luta de classes entre capitalistas e proletários e que o
futuro não está definido. O capitalismo pode durar mais tempo do que se espera, pode
destruir a humanidade (se não houver uma transformação social, certamente a
destruição ambiental necessitada pelo capital levará ao fim do planeta e junto com ele a
humanidade...), pode se auto-destruir, abrindo a possibilidade da transformação social,
mas cujo sentido será definido pelas demais classes sociais, se destacando aqui o
proletariado e a burocracia. Ao colocar a questão da burocracia entramos numa outra
discussão, a das demais classes sociais, cuja existência complexifica a luta de classes.
As frações de classes e as demais classes sociais como o campesinato e a burocracia
colocam em evidência o problema da luta revolucionária pela autogestão e seus
obstáculos. As demais classes e frações de classes perdem a importância e não possuem
nenhum projeto político alternativo ao capitalismo, com exceção da burocracia.
Portanto, a luta do proletariado é contra a classe capitalista e ao mesmo tempo contra a
burocracia. A burocracia já tentou assumir o poder utilizando o proletariado, e o

6
bolchevismo foi seu produto mais genuíno. O que resultou foi em uma contra-revolução
burocrática ou revolução burguesa sem burguesia que gerou o capitalismo de estado.
Isto coloca a necessidade de se pensar nos obstáculos da revolução proletária. Além da
burguesia há o obstáculo representado pela burocracia.
A luta de classes irá definir, mas tal luta ocorre envolvendo todos os seres
humanos nesta sociedade. Todas as classes, frações de classes, movimentos sociais,
grupos políticos, organizações, comunidades, etc., estão envolvidos neste processo e
pesam na balança. Ora, justamente aqueles que possuem uma concepção revolucionária
não podem ficar de fora da luta de classes (se “omitir”, se isso fosse possível, pois na
verdade seria uma posição conservadora, já que fortaleceria o domínio da burguesia ou
a ação da burocracia) e devem, no final das contas, refletir sobre sua relação com o
proletariado, sem o qual não há revolução e nem autogestão.
A revolução proletária enfrenta inúmeros obstáculos. A transformação das
relações sociais entre os sexos, por exemplo, ocorrerá com o processo de constituição de
uma nova sociedade. Mas se isto é deixado de lado, se não há uma luta cultural contra o
sexismo, se o movimento das mulheres não busca questionar o processo de opressão da
mulher, isto poderá ser um obstáculo a mais para a realização da sociedade autogerida.
A transformação das relações raciais também ocorrerá, mas, durante o processo, se não
há desde hoje um questionamento radical do racismo, uma intensa luta cultural, uma
auto-organização daqueles submetidos ao racismo, então se observará mais um
obstáculo para a transformação social. A opressão das crianças, a questão da juventude,
dos idosos, a questão religiosa, entre inúmeros outros elementos são obstáculos para a
revolução proletária e para a constituição da autogestão social.
Um dos grandes problemas do marxismo foi ter descuidado da questão dos
valores e dos sentimentos, que são constituídos socialmente, sem dúvida, mas que
influenciam as relações sociais, geralmente no sentido conservador. A mentalidade
(alguns psicólogos diriam “personalidade”) dos indivíduos impedem muitos a aderir ao
processo revolucionário ou a fazê-lo de forma ambígua (um autoritário que quer ser
revolucionário certamente irá aderir a uma corrente leninista, seja stalinista ou
trotskista, que se caracteriza por reproduzir elementos da sociedade capitalista, tal como
o culto à autoridade, o burocratismo, etc.). Este é outro obstáculo ao processo
revolucionário. Mas nem todos os indivíduos que estão momentaneamente nesta
corrente possuem mentalidade autoritária, o que significa que podem superar tal

7
situação. Muitos entram em tais correntes por não conhecer nenhuma outra. Mas se os
grupos revolucionários se omitiram ou se esconderem, se não realizarem a crítica do
bolchevismo, se não se tornarem conhecidos, então isto vai se reproduzir
constantemente. Isto irá reforçar qual lado da luta de classes?
A partir destes questionamentos, que de forma alguma esgotam os
obstáculos ao processo revolucionário, devemos concluir que é preciso partir das
contribuições do bordiguismo e do conselhismo mas devemos ir além deles. Este além
significa, fundamentalmente, compreender a sociedade capitalista como uma totalidade,
ou seja, o movimento do capital, o movimento operário e tudo o mais que está
envolvido no processo de produção e reprodução do capitalismo. Sem dúvida, a
determinação fundamental continua sendo a luta entre burguesia e proletariado, mas ela
não pode ser isolada das demais lutas sociais, que apresentam novas determinações ao
processo social e que devem ser integrados em qualquer análise da realidade social.
O papel dos militantes e grupos revolucionários é buscar acelerar o processo
revolucionário e, ao mesmo tempo, criar as condições favoráveis para a vitória do
proletariado. A luta para criar uma situação revolucionária não é suficiente, se não
houver simultaneamente uma luta por uma nova correlação de forças favorável ao
proletariado. Assim, a formação de uma situação revolucionária significa a alteração da
correlação de forças em favor do proletariado, mas que precisa ser intensificada, ou seja,
isto pressupõe que antes mesmo da situação revolucionária é necessário buscar criar
uma nova correlação de forças, que pode, inclusive, colaborar com a criação desta
situação revolucionária. Isto não tem nada a ver com qualquer estratégia defensiva, pois
trata-se de fazer avançar centros de contra-poder na sociedade capitalista, de corroer a
hegemonia burguesa na sociedade civil e na esfera cultural, de reforçar a contestação ao
capitalismo por parte do proletariado e diversos outros segmentos sociais (juventude,
camponeses, mulheres, idosos, crianças, trabalhadores desempregados, entre inúmeros
outros) e sua auto-organização, de constituir coletivos revolucionários e contribuir com
sua articulação, o que significa colocar na ordem do dia, sem quaisquer ambigüidade, a
crítica da sociedade capitalista em sua totalidade e a proposta revolucionária de uma
nova sociedade, autogerida. Significa, também, não evitar o confronto com as forças
conservadoras, reformistas, e pseudo-revolucionárias. Significa, também, ultrapassar o
equívoco já apontado por Rosa Luxemburgo, em escolher entre o abandono do caráter
de massa ou do objetivo final: “a histórica marcha do proletariado até à sua vitória

8
final não é efetivamente uma tarefa simples. Toda a originalidade deste movimento
reside no fato, pela primeira vez na história, as massas populares deverem realizar as
suas idéias por si próprias e contra todas as classes dominantes, mas situando o seu
objetivo para além da sociedade atual, para além dessa sociedade. Precisamente essa
vontade consciente só pode ser formada pelas massas dentro de uma luta contínua
contra a ordem existente, aliar a luta diária à grande reforma do mundo, eis o grande
problema com que depara o movimento social-democrata. Por conseqüência, deve
progredir evitando dois obstáculos: o abandono do caráter de massa e abandono do
objetivo final, regresso ao estado de seita e transformação num movimento reformista
burguês (...)”9.
Tal escolha não tem sentido do ponto de vista revolucionário, pois de nada
adianta ser um movimento de massa se não é revolucionário, e para isso já temos muitos
partidos, organizações sindicais, etc.; assim como nada significa criar um círculo de
cinco pessoas que pensam revolucionariamente mas nada fazem e ninguém conhece. Na
época e contexto em que escreveu Rosa Luxemburgo, início do século e um partido
social-democrata de massas (o qual ela confundia com o movimento operário, pois para
ela, o movimento operário e o movimento socialista – ou social-democrata, na época
sinônimos – são a mesma coisa ) isto tinha sentido: buscar superar a dicotomia
movimento de massa X estado de seita. Hoje, a única dificuldade existente é em ter
objetivos revolucionários e meios adequados e se isto proporciona um estado de seita ou
movimento de massas não é o fundamental, e para isso é necessário um conjunto de
determinações (forma de atuação, estratégia, contexto social, etc.). Priorizar um
movimento de massas pode levar a fazer concessões de caráter não-revolucionário e
priorizar o objetivo sem analisar os meios, significa criar um mecanismo de auto-
isolamento das lutas sociais, o que significa em nada contribuir para o movimento
revolucionário.
Assim, a questão fundamental se torna a da estratégia revolucionária. Os
objetivos colocados (criar correlação de forças favoráveis ao proletariado e buscar
acelerar o processo revolucionário, objetivando a instauração da autogestão social)
precisam de meios correspondentes e este é o papel que cabe a nossa estratégia e ação.
Já colocamos aquilo que consideramos algumas ações que visam concretizar tal
processo (luta cultural, criação de centros de contra-poder, etc.). As formas para se

9
LUXEMBURGO, Rosa. Textos Escolhidos. Lisboa, Estampa, 1977, p. 103.
9
realizar isto ocorre em todas as instâncias da sociedade capitalista. A luta cultural,
teórica, artística, são elementos que devem compor a prática revolucionária. A formação
de uma expressão política do bloco revolucionário é outro elemento fundamental. Aqui
entramos em outro aspecto a ser discutido.
Um bloco revolucionário é constituído pelo conjunto de coletivos, setores
das classes exploradas, organizações, indivíduos, movimentos sociais, concepções...
revolucionárias em uma sociedade e que se contrapõe ao bloco reformista (social-
democracia, bolchevismo, classes auxiliares da burguesia, organizações, indivíduos,
concepções...) e ao bloco dominante (classe dominante, forças conservadoras...). Tal
bloco, a partir desta definição, existe em toda sociedade, de forma mais ou menos
organizada, com mais ou menos força, etc.
Ora, o que se nota nos últimos anos, a nível mundial e nacional, é um
crescimento e fortalecimento deste bloco revolucionário (no Brasil, por exemplo, se vê
o crescimento e expansão do anarquismo, autonomismo, marxismo autogestionário,
“inimigos da economia política”..., e muitos outros grupos e coletivos sem maior
definição teórica ou de concepção). Isto não significa que ele está articulado e que
possua uma expressão política correspondente ao seu potencial. Isto quer dizer que já
existe uma expressão política (forças revolucionárias) do bloco revolucionário mas ela
ainda não se encontra articulada. Se conseguir formar tal expressão política de forma
articulada, conseguirá ultrapassar as idiossincrasias, o grupismo, idiolatrias, a primazia
das identificações formais (As identificações formais são aquelas feitas tendo por base
uma determinada concepção política – seja o luxemburguismo, o anarquismo, o
autonomismo, o conselhismo, o bordiguismo, etc. – e significa uma identificação com
determinada concepção de mundo, o que provoca um raciocínio no seu interior, que na
maioria das vezes leva a negar as demais concepções. Este processo de identificação é
natural e todos, mesmo os que buscam criar sua própria identificação – criar sua própria
concepção – não escapam disso.
O problema reside quando a identificação formal (cultural) se sobrepõe à
identificação fundamental, que é aquela caracterizada pelo conjunto de valores,
objetivos, que possuímos, e assim, dois indivíduos, por partirem de identificações
formais distintas, se negam a agir coletivamente e se esquecem que possuem a mesma
identificação fundamental. A forma domina o conteúdo e quem perde com isso é o
movimento revolucionário, ou seja, a luta por uma sociedade radicalmente diferente), as

10
divergências de pormenores e linguagem, etc., e conseguir uma maior eficácia e, assim,
contribuir com o processo revolucionário, intervindo nos movimentos sociais, nas
instituições, etc., alterando a correlação de forças na sociedade capitalista, sendo o que
deveria ser e nem sempre é: um movimento revolucionário.
Artigo publicado originalmente na Revista Ruptura, ano 8, num. 7, Agosto de
2001.

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