Sei sulla pagina 1di 17

Queria que o estudo da mídia se destacasse destas

páginas como uma tarefa humanista, mas também huma-


na. Devia ser humanista em sua preocupação com o indi-
víduo e com o grupo. Era para ser humana no sentido de
estabelecer uma lógica distinta, sensível a especificidades
históricas e sociais e que recusasse as tiranias do determi-
nismo tecnológico e social. Ele tentaria navegar na fron-
teira entre as ciências sociais e as ciências humanas.
Acima de tudo, o livro foi talvez concebido como
um manifesto. Eu queria definir um espaço. Engajar-me Talk show vespertino de Jerry Springer, 22 de de-
com os que estão fora de meu próprio discurso, em algum zembro de 1998. Reprisado pela enésima vez no canal via
lugar na academia ou no mundo além dela. Era a hora, satélite UK Living, Ele fala com homens que trabalham
pensava, de levar a mídia a sério. como mulheres. Duas fileiras de travestis e transexuais
O estudo da mídia precisa ser crítico, relevante. Deve discutem suas vídas, suas relações e seu trabalho. São
criar e manter certa distância entre si e seu objeto. Pre- atormentados pela audiência televisiva. Ouvem perguntas
cisa mostrar que é pensante. Espero que as páginas se- sobre ter filhos. Um casal troca alianças: "Afinal, nunca
guintes satisfaçam, pelo menos em algum grau, a esses
exigentes requisitos.
Mas, se o projeto tiver êxito, mesmo parcial, em
cumprir seus objetivos, então, como qualquer outra coisa,
fizemos isso antes e é uma transmissão em rede nacional".
Jerry conclui com uma homilia sobre a normalidade e a
falta de seriedade desse tipo de comportamento, fazendo
;j
sua audiência lembrar-se de Milton Berle e de Some like -
será porque inúmeras pessoas, colegas e alunos, contri-
it hot (Quanto mais quente melhor), de performances de
buíram de maneira direta e indireta para ele. Deixem-me
uma época mais inocente, em que se vestir com roupas do
citá-los, com gratidão: Caroline Bassett, Alan Cawson,
sexo oposto não era visto como algum tipo de perversão.
Stan Cohen, Andy Darley, Daniel Dayan, Simon Frith,
Anthony Giddens, Leslie Haddon, Julia Hall, Matthew Hills, Um momento de televisão. Explorador mas também
Kate Lacey, Sonia Livingstone, Robin Mansell, Andy cxplorável. Momento facilmente esquecido, uma partícula
Medhurst, Mandy Merck, Harvey Molotch, Maggie ubatômica, uma cabeça de alfinete no espaço midiático,
Scammell, Ingrid Schenk, Ellen Seiter, Richard Sennett, mas agora mencionado, notado, sentido, fixado, nem que
Bruce Williams, Janice Winship e Nancy Wood. Nenhum seja apenas aqui nesta página. Um momento de televisão
deles, é claro, 'tem responsabilidade pelos erros e infelici- que foi local (todos os personagens trabalhavam nurr.
dades que podem ter restado. r staurante temático de Los Angelesl, nacional [origi-

1Dl Por que estudar a mídia? A textura da experiência ~


e
)

j nalmente transmitido nos Estados Unidos) e global (che- 1,111:\vez mais, surfando na Internet. Posso notar também
~ gou até aqui). Um momento de televisão arranhando a 1111110.ssas figuras variam globalmente de Norte a Sul e
J
1
superfície da sensibilidade suburbana, tocando as mar- dl'llll'o dos países, de acordo com os recursos materiais e
.) gens, a base. .lmhólicos. Posso notar quantidades: vendas globais de
o No entanto, um momento de televisão que servirá ~(//fl/)are, variações na freqüência de salas de cinema e no
.(f t::. perfeit~~ente. ~le representa o o~dinário e o cóntínuo. Em 11lIl4uelde fitas de vídeo, propriedade pessoal de compu-
c sua unicidade, e absolutamente típico - um elemento na I ulorcs de mesa. Posso refletir sobre padrões de mudança /
~ constante mastigação da cultura cotidiana pela mídia; seus \', talvez de maneira bastante precipitada, sobre arriscadas
C) significados dependem de saber se realmente o notamos, se jll'oj ções de futuras tendências de consumo. Mas ao fazer
ele nos toca, choca, repugna ou atrai, enquanto entramos, Ilido isso, ou algumas dessas coisas, estou apenas pati-
atravessamos e saímos do ambiente midiático cada vez uando na superfície da cultura da mídia, superfície mui-
mais insistente e intenso. Ele se oferece ao espectador de I ns vezes suficiente para os que se preocupam em vender,
passagem e aos anunciantes que solicitam sua atenção, ruas claramente insuficiente para quem se interessa pelo
-r talvez com desespero cada vez maior. E também se oferece qu a mídia faz, como também pelo que fazemos com ela.
-r a mim como o ponto de partida de uma tentativa de res- Il é insuficiente se queremos compreender a intensidade
~ ponder à pergunta: por que estudar a mídia? E o faz con- l' a insistência de nossas vidas com nossa mídia. Por esse
'".0 trariando as expectativas, é claro, mas também de modo motivo, temos de transformar quantidade em qualidade.
I~ muito natural, pois levanta inúmeras questões que não Quero mostrar que é por ser tão fundamental para

17 podem ser ignoradas, questões que emergem do simples


reconhecimento de que nossa mídia é onipresente, diária,
uma ~imensão essencial de nossa experiência contemporâ-
nossa vida cotidiana que devemos estudar a mídia. Estudá-ti L
III como dimensão social e cultural, mas também política 'L/
c econômica, do mundo moderno. Estudar sua onipresença
f r-r nea. E impossível escapar à presença, à representação da c sua complexidade, Estudá-Ia como algo que contribui
~ mídia. Passamos a depender da mídia, tanto impressa como para nossa variável capacidade de compreender o mundo,
'1 eletrônica, para fins de entretenimento e informação, de I de produzir e partilhar seus significados. Quero mostrar
conforto e segurança, para ver algum sentido nas continui- que deveríamos estudar a mídia, nos termos de Isaiah
dades da experiência e também, de quando em quando, Berlin, como parte da "textura geral da experiência,!, !h
para as intensidades da experiência. O funeral de Diana, expressão que toca a natureza estabelecida da vida n !:2
Princesa de Gales, é um exemplo caracteristico. mundo, aqueles aspectos da experiência que tratamos com ~
Posso notar as horas que o cidadão global passa em corriqueiros e que devem subsistir para vivermos e no ~
frente da televisão, ao lado do rádio, folheando jornais e, comunicarmos uns com os outros. Há muito, os sociólo

1 'l I Por que estudar a midia?


o CP ~
A textura
'l \ ••••
~ \te:>
da experiência
-c.) Si.
~
••.•
\ t-
gos se preocupam com a natureza e a qualidade dessa lIerlin também fala do tipo apropriado de explicação
dimensão da vida social, em sua possibilidade e em sua II luclonado à análise moral e estética:
continuidade. Os historiadores também, ao menos na vi-
na medidaem que ela pressupõeconceberos seres humanos
são de Berlin, não podem deixar de depender dela, pois
uão apenas como organismosno espaçocujo comportamen-
seu trabalho - como todos das ciências humanas
10 apresenta regularidadesque podem ser descritas e encer-
'/ -.; depende, por sua vez, da capacidade que· eles têm de
'R'í'k. refletir sobre o outro e de compreendê-Io. radas em fórmulas que poupam trabalho, mas como seres
ativos,que perseguemfins, moldamsua vida e a dos outros, ~ ~
~ A mídia agora é parte da textura geral da experiên-
.:~ cia. Se incluíssemos a linguagem como uma mídia, isso entem, refletem,imaginam, criam, em constante interação t-
e intercomunicaçãocom outros seres humanos; em suma, ~
não mudaria e teríamos de tomar as continuidades da
fala, da escrita, da representação impressa e audiovisual envolvidosem todas as formas de experiência que compre- fo'
endemos porque as compartilhamose não as vemos pura v-
f
como indicadores do tipo de respostas que procuro para
minha pergunta, pois sem atenção às formas e aos con- mente como observadoresexternos. (Berlin, 1997, p. 48)
teúdos, às possibilidades da comunicação, tanto dentro Sua confiança numa noção de nossa humanidade /.
do tido-por-certo de nossas vidas cotidianas como con- compartílhada é tocante e está, talvez, em desacordo com I
tra ele, não conseguiremos compreender essas vidas. :1 sabedoria contemporânea que recebemos; mas sem ela
Ponto. estamos perdidos e o estudo da mídia se torna uma im-
A caracterização de Berlin é, claro, principalmente possibilidade. Isso também vai inspirar minha análise.
metodológica. O "por quê?" necessariamente implica o Mais tarde voltarei a esse tópico.
"como". A história deve ser um empreendimento huma- Há outras metáforas nas tentativas de compreender
nista, não científico em sua busca por leis, generalizações o papel da mídia na cultura contemporânea. Já pensamos
ou fechamento teórico, mas uma atividade baseada no nela como condutos, que oferecem rotas mais ou menos
reconhecimento da diferença e da especificidade e numa imperturbadas da mensagem à mente; podemos pensar
percepção de que os afazeres dos homens (como a ima- nela como linguagens, que fornecem textos e representa-
ginação liberal é tragicamente baseada em gênero \ se- ções para interpretação; ou podemos abordá-Ia como
xuall) requerem uma espécie de compreensão e explica- ambientes, que nos abraçam na intensidade de uma cul-
ção algo afastadas dos preceitos kantianos e cartesianos tura midiática, saciando, contendo e desafiando sucessi-
de racionalidade e razão puras. Minha reivindicação para vamente. Marshall McLuhan vê a mídia como extensões
o estudo da mídia seguirá esse caminho, e também oca- do homem, como próteses, que aumentam o poder e a
sionalmente retomarei a seus métodos. influência, mas que talvez (e é provável que ele tenha

MI Por que estudar a midia? A textura da experiência l1s


A{ cÁ)<-.. <:.9-e- + l ,h SC-",l ~ )
~r\----------------------~--------------------

pensado assim) tanto nos incapacitam como nos capaci- '11I'KIl'/~uem no espaço real ou virtual, onde se comu-
(\ tam, enquanto nós, objetos e sujeitos da mídia, nos en- 111, 'li', onde procuram persuadir, informar, entreter, edu-
redamos mais e mais no profilaticamente social. , 111, onde procuram, de múltiplas maneiras e com graus
De fato, podemos pensar na mídia como profila-
ticamente social na medida em que ela se tornou sucedâ-
neo das incertezas usuais da interação cotidiana, gerando
di '1l'('SSO variáveis, se conectar umas com as outras.
hlllcnder a mídia corno um processo -- e reconhecer
'1"1' I) processo é fundamental e eternamen~e social-:.é
I
(Çr<'
infinita e insidiosamente os como se da vida cotidiana e \11 ~\ ir na mídia como historicamente específica. A mídia '(
criando cada vez mais defesas contra as intrusões do I LI mudando, já mudou, radicalmente. O século XX viu L
indesejável e do íngovemável, Grande parte de nossa " 1,'1.Ione, o cinema, o rádio, a televisão se tornarem -
f
preocupação pública com os efeitos da mídia concentra-
se nesse aspecto do que vemos e tememos, especialmente,
,,111\'tosde consumo de massa, mas também instrumentos
I cn iais para a vida cotidiana. Enfrentamos agora o -O
I.II,la ma de mais uma intensificação da cultura midiática
~
r
tr
na nova mídia: que ela substituirá a sociabilidade ordiná-

1r
ria e que estamos criando, sobretudo por meio de nossos 1H'lo crescimento global da Internet e pela promessa (al- 1;\~
filhos homens, e muito especialmente por meio da classe fl,II\lS diriam ameaça) de um mundo interativo em que
operária masculina e dos meninos negros (que continuam Ilido e todos podem ser acessados, instantaneamente.
a ser o locus da maior parte de nosso pânico moral), uma Entender a mídia como processo também implica
raça de viciados na telinha. Apesar de sua ambivalência, \I m reconhecimento de que ele é fundamentalmente po-
Marshall McLuhan (1964) não vai tão longe. Pelo contrá- Ifi ico ou talvez, mais estritamente, politicamente econô-
rio. Mas sua visão da cultura cíborgue precede a de Donna ini o. Os significados oferecidos e pr~duzido.s ?elas V~rias)
Haraway (1985) em cerca de vinte anos. comunkações que inundam nossa VIda cotidiana Salram
Essas metáforas são úteis. Sem elas estamos conde- de instituições cada vez mais globais em seu alcance e em
nados a uma visão obscura da mídia, como através de um suas sensibilidades e insensibilidades. Pouco oprimidas
vidro. Mas, a exemplo de todas as metáforas, a luz que -: p 10 peso histórico de dois séculos de avanço do capita-
lançam é parcial e efêmera; precisamos ir além dela. Meu Ii mo e desconsiderando cada vez mais o poder tradicio-
propósito é justamente esse. Para responder à minha nal dos Estados nacionais, elas estabeleceram uma plata-
pergunta teremos de investigar as maneiras como a mídia forma, é forçoso admitir, para a comunicação de massa.'
participa de nossa vida social e cultural contemporânea. Esta ainda é, apesar de sua diversidade e de sua flexibi-
Precisaremos examinar a mídia como um processo, como Iidade progressivas, a forma dominante dessa comunica-
uma coisa em curso e uma coisa feita, e uma coisa em ção. Ela constrange e invade culturas locais, mesmo que
curso e feita em todos os níveis, onde quer que as pessoas não as subjugue.

Por que estudar a mídía?


A textura da experiência 117
('A{ .IJ. o-: Cs>--o )?f ~ c-e »~ 'C.I"'-- CJ\I ') cJ
Os movimentos nas instituições dominantes da mí- visivelmente ideológica? Como avaliar os modos pelos
dia global são de escala tectônica: erosão cultural gradual quais se travam as batalhas pela mídia e dentro dela:
e, de repente, deslocamentos sísmicos quando multinacío- batalhas pela posse e pelo controle tanto de instituições
nais emergem do mar, feito novas cordilheiras, enquanto como de significados; por acesso e participação; por re-
outras afundam e, como a Atlântida, são apenas mitica- presentação; batalhas que impregnam e afetam nosso senso
mente lembradas como, outrora, talvez relativamente bene- uns dos outros, nosso senso de nós mesmos?
volentes. O poder dessas instituições, o poder de controlar Estudamos a mídia porque queremos respostas a
as dimensões produtivas e distributivas da mídia contem- essas questões, respostas que sabemos que não podem
porânea e a debilitação correlativa e progressiva de go- ser conclusivas e que, de fato, não devem sê-lo, Por ~
vernos nacionais em controlar o fluxo de palavras, ima- mais atraente que seja e muitas vezes superficialmente ~
gens e dados dentro de suas fronteiras nacionais são convincente, não se pode obter uma única teoria da ~
profundamente significantes e indiscutíveis. É um traço mídia. De fato, seria um tremendo erro tentar encontrar f
fundamental da cultura da mídia contemporânea. uma. Um erro político, intelectual e moral. Mas ao mesmo) 1-r
Grande parte do debate atual baseia-se numa noção tempo nossa preocupação com a mídia é sempre igual- f
da velocidade dessas diversas mudanças e desenvolvi- mente uma preocupação pela mídia. Queremos aplicar o
mentos, mas confunde a velocidade da mudança tecnoló- que passamos a compreender, envolver-nos com os que =s-
gíca ou, realmente, da mudança da mercadoria com a
velocidade da mudança social e cultural. Há uma tensão
poderiam estar em posição de responder, queremos en-
.orajar a reflexibilidade e a responsabilidade. O estudo -s
1
constante entre o tecnológíco, o industrial e o social, da mídia dever ser uma ciência relevante e também {

\\I tensão que deve ser levada em conta se queremos reco-


nhecer a mídia como, de fato, um processo de mediação.
Pois há poucas linhas diretas de causa e efeito no estudo
\\ da mídia. As instituições não produzem significados. Elas
os oferecem. As instituições não apresentam uma mudán-
humanista.
Minhas respostas, portanto, à minha própria pergun- f
IH vão se basear numa noção dessas complexidades, ao
m smo tempo substantivas, metodológicas e, no mais
amplo sentido, morais. Estou lidando, afinal, com seres
~

ça uniforme. Elas têm ciclos de vida diversos e histórias humanos e suas comunicações, com linguagem e fala,
I diferentes. com o dizer e o dito, com reconhecimento e mal-reconhe-
Mas então nos confrontamos com outra questão, cimento e com a mídia vista como intervenções téCllicas1<Ç
depois com outra e mais outra. O que medeia a mídia? E (' políticas nos processos de compreensão. '
como? E com quais conseqüências? Como entender a mídia Daí o ponto de partida. A experiência. A minha e a
como conteúdo e forma, visivelmente caleidoscópíca, in- sua. E sua ordinariedade.

1Bl Por que estudar a midia? A textura da experiência 119


A pesquisa na mídia muitas vezes preferiu O signi- nas quais o melhor a fazer é simplesmente "arranjar-se". A
ficante, o evento, a crise, como fundamento de sua inves- mídia nos deu palavras para dizer, as idéias para exprimir,
tigação. Já olhamos as perturbadoras imagens de violên- não como uma força desencarnada operando contra nós
cia e de exploração sexual e tentamos avaliar seus efei- enquanto nos ocupamos com nossos afazeres diários, mas
tos. Focamos os eventos-chave da mídia, como a Guerra omo parte de uma realidade de que participamos, que
do Golfo, ou os desastres, tanto os naturais como os dividimos e que sustentamos diariamente por meio de nossa
causados pelo homem, a fim de explicar o papel da mídia fala diária, de nossas interações diárias.
no controle da realidade ou no exercício do poder. Tam- O senso comum, obviamente nem singular nem in-
~ bém focamos os grandes cerimonais públicos de nossa era conteste, é por onde devemos começar. O senso comum, '
para explorar seu papel na criação da comunidade nacio- tanto expressão como precondição da experiência. O sen-
nal. Isso tudo é relevante, pois sabemos, desde Freud, o o comum, compartilhado ou ao menos compartilhável e
quanto a investigação do patológico, ou mesmo do exa- medida, muitas vezes invisível, de quase todas as coisas. ~
gerado, revela sobre o normal. Mas uma atenção contínua A mídia depende do senso comum. EI~ o reproduz, rec?r-j\l ..-\
ao excepcional provoca interpretações errôneas inevítá- re a ele, mas também o explora e distorce. Com efeito] ~
~ /veiS. Pois a mídia é, se nada mais, cotidiana, uma presen- ua falta de singularidade fornece o material para as )
-{ ça constante em nossa vida diária, enquanto ligamos e controvérsias e os assombros diários, quando somos for-
.!{ desligamos, indo de um espaço, de uma conexão midiá- çados - em grande medida pela mídia e, cada vez mais,
rf tica, para outro. Do rádio para o jornal, para o telefone. talvez apenas pela mídia - a ver, a encarar os sensos
J Da televisão para o aparelho de som, para a Internet. Em omuns e as culturas comuns dos outros. O medo da
público e privadamente, sozinhos e com os outros. diferença. O horror da classe média às páginas da im-
É no mundo mundano que a mídia opera de maneira prensa marrom e dos tablóides. A rejeição precipitada e,
..P mais significativa. Ela filtra e molda realidades cotidianas, orno se pode argumentar, filistina do estético ou do
intelectual. Os preconceitos de nações e gêneros. Os va-
l
<:
0/ ~ por meio de .s~~s repres:nt~ções singulares e múltiplas,

J6 \ f~~ecendo cntenos, :-eferenoas para a condução da vida -, lores, atitudes, gostos, as culturas de classes, as etnicidades J
diária, para a produçao e a manutenção do senso comum. etc., reflexões e constituições da experiência e, como tais,
E é aqui, no que passa por senso comum, que devemos terrenos-chave para a definição de identidades, para nos-
fundamentar o estudo da mídia. Para poder pensar que a a capacidade de nos situar no mundo moderno. Além
vida que levamos é uma realização contínua, que requer disso, é pelo senso comum que nos tornamos aptos, se é
nossa participação ativa, embora muitas vezes em circuns- que de fato nos tornamos, a partilhar nossas vidas uns
tâncias que nos permitem pouca ou nenhuma escolha e com os outros e distingui-Ias umas das outras.

wl Por que estudar a mídia? A textura da experiência [21


Essa capacidade para a reflexão - de fato, sua fun- prematuro; sabendo que a vida é vivida no tempo e finita;
damental importância - tem sido notada com freqüência sabendo também que a seqüência é ainda fundamental,
~ suficiente por aqueles que procuram definir as caracterís- que o tempo não é reversível (exceto, claro, na tela) e que
cç ticas da modernidade e da pós-modernidade, mas suas histórias ainda podem ser contadas. Sabemos que leva-
4 próprias reflexões tendem a ver a virada reflexiva mais mos nossas vidas através de dias, semanas e anos; vidas
ou menos exclusivamente nos textos de especialistas da marcadas pelas reiterações de trabalho e lazer, pelas re-
filosofia ou da ciência social. Quero reivindicá-Ia também petições do calendário e pelas Zangues durées da história
para o senso comum e, de tempos em tempos, até mesmo, mal notada e talvez progressivamente esquecível. No
ou talvez especialmente, para a mídia. A mídia é essencial ntanto, a mídia tem de responder por muita coisa, espe-
a esse projeto reflexivo não só nas narrativas socialmente cialmente a última geração da mídia computadorizada,
conscientes da novela, no taZk shaw vespertino ou no pois enquanto a radiodifusão foi sempre baseada no tem-
programa de rádio com participação do ouvinte, mas po, mesmo que o conteúdo dos programas não o fosse, o
também nos programas de notícias e atualidades, e na jogo de computador é infinito e a Internet, imediata. Como
publicidade; como que através das lentes múltiplas dos Lewis Carrol poderia ter indagado: pode o tempo sobre-
textos escritos, dos audiotextos e dos textos audiovisuais, viver a semelhante surra?
o mundo é apresentado e representado: repetida e inter- Então é do espaço que devemos tratar, pelo menos
minavelmente. por enquanto. E espaço em múltiplas dimensões, admitin-~
Que outras qualidades poderíamos atribuir à expe- do talvez que o espaço é, ele mesmo, como sugere Ma-
riência no mundo contemporâneo e ao papel da mídia nuel Castells (1996), nada mais que tempo simultâneo.
nela? Deixem-me ·propor (e esta não é uma idéia original) que
Perdoem-me se recorro a metáforas espaciais para pensemos em nós mesmos em nossa vida cotidiana e em
tentar começar uma resposta, mas me parece que o espa- nossa vida com a mídia como viajantes, movendo-nos de
ço fornece a estrutura mais satisfatória para abordar a um lugar para o outro, de um ambiente midiático para
questão. O tempo também, é claro; mas o tempo -, e isso "- outro, estando às vezes em mais de um lugar ao mesmo
agora é um lugar-comum na teoria pós-moderna - já tempo, como podemos imaginar estar quando assistimos
não é o que era. Não mais uma série de pontos, não mais à televisão ou surfamos na World Wide Web, por exem-
claramente demarcado por distinções de passado, presen- plo. Que tipos de distinções podemos fazer aqui? Que
te e futuro, não mais singular, compartilhado, resistente. tipos de movimentos se tornam possíveis?
Podemos dizer tudo isso, sabendo contudo que o dispen- Nós nos movemos entre espaços privados e públicos.
sar dessa maneira não é totalmente certo, ou é no mínimo Entre espaços locais e globais. Passamos de lugares sagra-

nl Por que estudar a midia?


A textura da experiência 123
,---------------------------------------------
J dos a seculares; de reais a ficcionais e virtuais, e více-
-/. 1 versa. Pas~amos do .que é seguro para o que é ameaçador
I ril;I(,;~O da mídia são interrompidos por nossa participa-
11 .les.Fragmentados pela atenção e pela desatenção.
1t e do que e compartIlhado para o que é solitário. Estamos
• li
NII,>SíI entrada no espaço midiático é, ao mesmo tempo,
..>-' -+ em casa ou fora. Atravessamos soleiras e vislumbramos ho-
11111:1 transição do cotidiano para o liminar e uma apropria-
1- ~rizontes. Todos nós fazemos essas coisas constantemente li do liminar pelo cotidiano. A mídia é do cotidiano e ao
J e ,e~ absolutamente nenhuma delas estamos sem nossa 11\1''11110 tempo uma alternativa a ele.
-{ ~ mídia, como objetos físicos ou simbólicos, como guias ou O que estou dizendo difere um pouco do que Manuel
1. pegad~s, como e~~eriências. ou a~d('s-mémoir('s. (.t'il Ils (1996, pp. 376ss.) identifica como o "espaço de
Ligar a televisão ou abnr um Jornal na privacidade de lluxos" Para Castells, o espaço de fluxos sinaliza as redes <9
nossa sala é envolver-se num ato de transcendência espa- 1'11'1 rônicas, mas também as físicas, que fornecem a dinâ-
cial: um local físico identificável -- o lar -- defronta e mlca grade de comunicação ao longo da qual a informa-
abarca o globo. Mas tal ação, ler ou ver, possui outros I o, os bens e as pessoas se movem incessantemente em
referentes espaciais. Ela nos liga aos outros, a nossos vi- nos a era da informação emergente. A nova sociedade é
zinhos, conhecidos e desconhecidos, que estão simultanea- rnnstruída em seu movimento, em seu eterno fluxo. O
mente fazendo a mesma coisa. A tela bruxuleante, a pá- rspaço fica instável, deslocado das vidas que são levadas
gina vibrante nos unem momentaneamente -- mas com t'm espaços reais, embora em alguns sentidos ainda delas.
enorme sígnífícâncía pelo menos no século XX -- numa Meu ponto de partida, ao reconhecer essa abstração, pre- ~
comunidade nacional. No entanto, compartilhar um espaço I"l'r contudo fundamentar um senso de fluxo do que '"
não é necessariamente possuí-lo: ocupá-lo não nos dá Castells chama "a era da informação" nos traslados den- v~
necessariamente direitos. Nossas experiências dos espaços 11"0 e através da experiência, pois é aí que eles ocorrem: -<
midiáticos são particulares e amiúde fugidias. Raramente corno sentidos, conhecidos e, às vezes, temidos. Nós tam- ,
deixamos um rastro, mal-e-mal urna sombra, quando nos h m nos movemos em espaços midiáticos, tanto na rea- ("
envolvemos com essas pessoas, os outros, que vemos, dos lidade como na imaginação, tanto material como simbo- {
quais ouvimos falar ou a respeito de quem lemos. Ii amente. Estudar a mídia é estudar esses movimentos no i:,
Nossa jornada diária implica movimento pelos dife- , paço e no tempo e suas inter-relações e talvez .também, ~:
rentes espaços midiáticos e para dentro e fora do espaço da .omo conseqüência, descobrir-se pouco convencido pelos ~
mídia. A mídia nos oferece estruturas para o dia, pontos de profetas de uma nova era e por sua uniformidade e seus
referência, pontos de parada, pontos para o olhar de relan- benefícios.
ce e para a contemplação, pontos de engqjamento e opor- Se estudar a mídia é estudá-Ia em sua contribuição
I tunidades de desengajamento. Os infinitos fluxos da repre- para a textura geral da experiência, então algumas coisas
24 I Por que estudar a mídia?
A textura da experiência l2s
se seguem. A primeira é a necessidade de reconhecer a
_ ~\ realidade da experiência: que as experiências são reais que nossas respostas à mídia, tanto em particular c~rr:o
- até mesmo as experiências midiáticas. Isso, em cert; m geral, variam por indivíduo e segundo. os grupos S?ClaIS,
medida, pÕ,e-nos em desacordo com grande parte do pen- de acordo com sexo, idade, classe, etnia, naclOnahd.ade, r.
same~to pos-moderno que diz que o mundo que habita- assim como ao longo do tempo. Sabemos de tudo ~s~o. 1:
mo.s e um mundo sedutora e exclusivamente de imagens Isso é senso comum. E se nós, que estudamos a mIdIa,~.) r
e slmul~cros. Nessa visão, o mundo é um mundo em que
as realIdades, empíricas são progressivamente negadas,
tanto para nos como por nós, no senso comum e na
tivéssemos contudo de contestar esse sens.o comurr: (e o
fazemos devída e continuamente), ele nao podena ser
eliminado sem que caíssemos na mesma ar~~dilha que·1
~
I
t~ori~.. Nessa visão, vivemos nossas vidas em espaços identificamos para os outros: não levar a seno a expe- (>'
slmbohcos e auto-referenciais que nos oferecem nada mais riência e não testar nossas próprias teorias à luz da e.x- c}-
que ge~eralidades do sucedâneo e do hiper-real, que nos
propo:clOnam apenas a reprodução e nunca o original e,
ao faze-l o, negam-nos nossa subjetividade e, de fato, nossa
periência, isto é, não as testar empíricamente ..Nossas teonas ~ '"
também jamais escaparão ao auto-r~ferenClal: Elas :am-
bém se tornarão infinitamente, reflexivamente irreflexívas.
i
g-
r
capacidade de agir significativamente. Nessa visão, somos Abordar a experiência da mídia, assim como sua
des~fiados com nosso fracasso coletivo a distinguir a contribuição para a experiência, e insisti,r .que i,:'so é ""
realIdade da fantasia e a responder pelo empobrecimento, empreendimento tão empírico como teonc~ s~o COIsas
embora forçado, de nossas capacidades imaginativas. Nessa mais fáceis de dizer do que fazer, pois, em primeiro lu~~r,
visão, a mídia se torna a medida de todas as coisas. nossa pergunta exige de nós inves~igar o papel da mídia
Mas sabemos que ela não o é. Sabemos, talvez ao na formação da experiência e, vice-versa, o papel da
menos em r~l~ção .a nós mesmos, que podemos distinguir, experiência na formação da mídia. Em segundo, porque
e de fato dIstmgUlmos, fantasia de realidade, que pode- xige de nós entrar mais fundo ~o. exame do que cons-
mos preservar, e de fato preservamos, alguma distância litui a experiência e sua composlçao. .• . , e.
crítica entre nós e a mídia, que nossas vulnerabilidades à Vamos admitir, portanto, que a expenenCl~ e, de f~to'l
in.fluênci~ ,ou.à força de persuasão da mídiasão desiguais formada. Atos e eventos, palavras e imagens, lillpresso.es, \e
e l~preVlsIve~s, que há diferenças entre ver, compreender, alegrias e dores, até mesmo confusões, só .se tornam. SIg-
aceitar, acreditar e agir por influência ou converter idéias nificativas na medida em que podem se mter-relaclO~ar
em ato; sabemos que examinamos o que vemos ou ouvi- dentro de alguma estrutura, tanto individual como social:
mos com base no que conhecemos e acreditamos, que de uma estrutura que, embora tautologica~ente, lhes c.onfe~e y
qualquer modo ignoramos ou esquecemos muita coisa, e significado. A experiênci,a é uma questao tanto de .ld~n~l-
dade como de diferença. E tão única quanto compartilhável.
26 I Por que estudar a mídía?

A textura da experiência ~
L::I \' ~.-v\--401...
l:..~\''-'G.. •...~ oÀ/ \-e~.
É física e psicológica, Isso tudo é claro e, de fato, banal e para perder de vista as fronteiras entre o humano e o
óbvio, Mas como a experiência é formada e como a mídia técnico, entre o corpo e a máquina. Pense digitalmente.
~ desempenha um papel em sua formação? Ainda falaremos mais sobre mídia e corpos.
-7, A experiência é moldada, ordenada e interrompida. E os corpos vão além do físico. A experiência não se
E moldada por atividades e experiências prévias. É orde- r sume nem ao senso comum, nem à performance corpo-
nada de acordo com normas e classificações que resistem ral. Tampouco se encerra na simples reflexão sobre sua
à prova do tempo e do social. É interrompida pelo ines- rapacidade de ordenar e ser ordenada. Pois, borbulhando
perado, pelo não preparado, pelo incidente, pela catástro- sob a superfície da experiência, perturbando a tranqüilida-
fe, por sua própria vulnerabilidade, por sua inevitável e de e fraturando a subjetividade, está o inconsciente. Ne-
trágica falta de coerência. Expressamos a experiência em nhuma análise da mídia pode ignorá-lo, tampouco as teo-
ações e agimos sobre ela. Nesse sentido, ela é física, rias que o abordam. Passemos então à psicanálise.
baseada no corpo e seus sentidos. De fato, é. o caráter Sim, mas a psicanálise é um grande problema.
comum da experiência corporal em diferentes culturas A psicanálise é um grande problema de várias ma-
que os antropólogos, em particular, afirmaram ser a 11 iras. Ela oferece, talvez bastante à força, uma maneira
precondição de nossa habilidade de compreensão mútua. d abordar o perturbador e o não-racional. Ela nos força
"A imaginação deriva do corpo como também da mente", 11 encarar a fantasia, o misterioso, o desejo, a perversão,
diz Kirsten Hastrup (1995, p, 83), apesar de isso ser ra- n obsessão: os chamados problemas do cotidiano, que
ramente notado. O corpo na vida, sua encarnação, é a I anto são representados como reprimidos em textos
base material para a experiência. Ele nos dá um lugar. É midíáticos de um tipo ou de outro e esgarçam o delicado
o lugar, não cartesiano, da ação e, também, das habilida- I t' 'ido do que normalmente se considera racional e nor-
des e competências sem as quais ficamos inválidos. Isso mal na sociedade moderna. A psicanálise é como uma
tem implicações importantes para a maneira como abor- linguagem. É como cinema. E vice-versa. A passagem da
damos a mídia e para a maneira como a mídia se intro- teoria e da prática clínicas à critica cultural é carregada
duz na experiência corporal, porque ela o faz, continua- dl ofuscamento e da fusão bastante fácil do particular e
mente, tecnologicamente, A noção de techne de Martin do geral, como também é repleta de arbitrariedade (mas-
Heídegger captura o sentido de tecnología como habilida- varada como teoria) de interpretação e análise. No entan-
de. Nossa capacidade de nos envolver com a mídia é ln, como o próprio inconsciente, a psicanálise não irá
precondicionada por nossa capacidade de manejar a embora. Ela oferece uma via para pensar sobre os senti-
máquina. Mas, como já salientei, podemos pensar na mídia mentes: os medos e desesperos, as alegrias e confusões
como extensões do corpo, como próteses; daí falta pouco que arranham o cotidiano e deixam nele uma cicatriz.
~I Por que estudar a mídia?
A textura da experiência 129
A psicanálise é também um grande problema na
}---
u-mpo, e sobretudo de nos fixar em nossas inter-relações,
medida em que perturba a fácil racionalidade de grande
parte da teoria da mídia contemporânea, de orientação
cognitiva e propósito behaviorista. Ela questiona a redu-
ção sociológica, embora na maioria das vezes deixe de
reconhecer o social. Ela é, ou certamente deveria ser, uma
\'onectando e separando, compartilhando e negando, in-
dividual e coletivamente, na amizade e na inimizade, na
pnz e na guerra. Já se opinou (Silverstone, 1981) quer
uuuo a estrutura como o conteúdo das narrativas da mídia
" elas narrativas de ?OSSOS discursos cotidi~nos são ínter-
ª
V'
à-
abordagem para reforçar um senso das complexidades da dependentes, que, Juntos, eles nos permitem moldar e, ~
mídia e da cultura sem as cancelar. Se formos estudar a rvaliar a experiência. O público e o privado se entrel a- ~
mídia, teremos de encarar o papel do inconsciente na \':tm, narrativamente. Deve ser este o caso. Na novela e C
constituição, como também no questionamento, da expe- 110 talk show, os significados privados são propagados t'
riência. Do mesmo modo, se formos responder à pergunta publicamente e os públicos são oferecidos para consumo ~
sobre por que estudar a mídia, parte de nossa resposta privado. As vidas privadas de figuras públicas tornam-se v-
será porque o inconsciente oferece uma via, se não uma II matéria da novela diária; os atores que representam v{
via privilegiada, para dentro dos territórios ocultos da personagens de novela tornam-se figuras públicas solici- ~
r
mente e do significado.
A experiência, tanto a mediada como a da mídia,
surge na interface do corpo e da psique. Ela, claro, se
(ndas a construir uma vida privada para consumo públi-
ro. Caras! Contigo!
O que se passa aqui? No cerne dos discursos sociais
1-
i-:
exprime no social e nos discursos, na fala e nas histórias que se incrustam em torno da experiência e a encarnam, t
da vida cotidiana, em que o social está sendo constante- t' para os quais nossa mídia se tornou indispensável, estão
mente reproduzido. Para citar Hastrup mais uma vez: "Não 11mprocessoe uma prática de classificação: a realização
apenas a experiência está sempre ancorada numa coletivi- de distinçõe,s e juízos. A classificação, portanto, não é
dade, mas a verdadeira ação humana é também inconce- npenas uma questão intelectual, nem mesmo apenas prá- e-:
bível fora da conversação contínua de uma comunidade, 1 i a, mas é, nos termos de Berlin, uma questão estética e
de onde surgem as distinções e avaliações de fundo neces- 1"1 ica. Nossas vidas são administráveis na medida em que
sárias para fazer escolhas de ações" (1995, p. 84). existe um mínimo de ordem, suficiente para fornecer o
Nossas histórias, nossas conversas estão presentes 1 ipo de seguridades que nos permitem atravessar o dia. c.'>
tanto nas narrativas formais da mídia, na reportagem No entanto, essa ordem que somos capazes de obter não
factual e na representação ficcional como em nossos contos l' neutra nem em suas condições nem em suas conseqüên-
I do dia-a-dia: a fofoca, os boatos e interações casuais em elas, pois nossa ordem exerce forte efeito sobre a ordem
que encontramos maneiras de nos fixar no espaço e no dos outros e dependerá da ordem, ou até mesmo da de-

30l Por que estudar a midia? A textura da experiência l3J


sordem, dos outros. Aqui também nos confrontamos com
uma estética e uma ética - uma política essencialmente
- da vida cotidiana, para as quais a mídia nos fornece,
2
.,"
em importante grau, tanto os instrumentos como os pro- Mediação -:; \\:"'-SC~~\:"" ~
blemas: os conceitos, categorias e tecnologias para cons- W
truir e defender distâncias; para construir e manter cone- ~ ~~k ~V~\.....

r
xões. Esses instrumentos estão talvez em mais evidência
~ ...•...••.
~~ o...~~
e são portanto mais controversos quando uma nação está
ou se sente em guerra. Mas não deixemos essa visibilida- Q.. \,./...........-- ~Soe-..
de momentânea nos ofuscar o trabalho diário em que Comecei a dizer que devemos pensar na mídia como f
nós, individual e coletivamente, e nossa mídia estamos um processo, um processo de mediação. Para tanto, é' ,
constante e intensamente envolvidos, minuto a minuto, necessário perceber que a mídia se estende para além do ~r
hora a hora. ponto de contato ~ntre os textos midiáticos e seus leitores
Por conseguinte, na medida em que a mídia é, como ou espectadores. E necessário considerar que ela envolve i
argumentei, essencial a esse processo de fazer distinções os produtores e consumidores de mídia numa atividade til X I
, e juízos; na medida em que ela, precisamente, medeia a mais ou menos contínua de engajamento e desengajamento (1)\ fr
~ dialétic~Aen~re a cla~sifica~ão ~ue forma a experiência e .om significados que têm sua fonte ou seu foco nos r: ~
j a expenencia que da colondo a classificação, precisamos t xtos mediados, mas que dilatam a experiência e são ';t) ,
investigar as conseqüências de tal mediação. Temos de avaliados à sua luz numa infinidade de maneiras. ~ ~
estudar a mídia. A mediação implica o movimento de significado de «
II m texto para outro, de um discurso para outro, de um (\
evento para ~tro. Implica a constante transformação de é:-
significados, em grande e pequena escala, importante 9 - ~
11 simportante, à medida que textos da mídia e texto , 6-
sobre a mídia circulam em forma escrita, oral e audiovi /.
sual, e à medida que nós, individual e coletivamente é/
direta e indiretamente, colaboramos para sua produção .
. ~ãcui '.g~~~ medi~o, é mais
do que u fluxo em dOISestágios ~ do programa trans-
mitido vi íderes de opinião para as pessoas na rua -,
32l Por que estudar a midia? Mediação
1
33
como Katz e Lazarsfeld (1955) defenderam em seu estudo processo de mediação. Estudar a mídia é um risco, em
seminal, embora ela apresente estágios e realmente flua. Os ambos os casos. Isso implica, inevitável e necessariamen-
-1 " signi~~ados me~iado~ circulam em textos primários e se- I , um processo de desfamiliarização. Questionar o dado-
? ~ c~~danos, atra~es de mtertextualidades infindáveis, na pa- por-certo. Mergulhar abaixo da superfície do significado.
~ i. ródia e no pastiche, no constante replay e nos interminá- Recusar o óbvio, o literal, o singular. Em nosso trabalho,
• veis discursos, na tela e fora dela, em que nós, como muitas vezes e com razão, o simples se torna complexo,
produtores e consumidores, agimos e interagimos, urgen-
~j
.9 o óbvio opaco. Luzes brilhantes fazem desaparecer as
te~~nte procurando compreender o mundo, o mundo da sombras. Está tudo nos cantos.
- '5 mídia, o mundo mediado, o mundo da mediação. Mas A mediação é como a tradução segundo a visão de
cJjambém, e ao mesmo tempo, usamos os significados da eorge Steiner. Nunca é completa, sempre transformativa,
{ mídia para evit~r o mundo, para nos distanciar dele, dos , nunca, talvez, inteiramente satisfatória. E sempre con-
~ desafios talvez .Impostos pela .responsabilidade e pelo cui- I estada. É um ato de amor. Steiner descreve a tradução
dado, para fugir do reconhecImento da diferença. em termos de movimento hermenêutico, um processo
Essa inclusividade na mídia, nossa forçada partici- quádruplo de confiança, agressão, apropriação e restitui-
pação com ela, é duplamente problemática. É difícil des- ção. Confiança porque, ao desencadear o processo de tra-
vendar, encontrar uma origem, construir uma explicação dução, identificamos valor no texto de que estam os tra-
do poder da mídia, por exemplo. É difícil, provavelmente (ando, valor que queremos compreender, alegar e comu-
impossível, para nós, analistas, sair da cultura da mídia nicar para os outros, para os nossos. Nesse at,o inici~l ~ef
da cultura de nossa mídia. Com efeito, nossos próprios confiança declaramos nossa crença de que ha um sigm-
textos, como analistas, são parte do processo de media- li ado a ser apreendido no texto que estamos abordando]
ção. Aqui, somos como lingüistas tentando analisar sua (' de que esse significado sobreviverá a nossa tradução·l
própria língua. De dentro, mas também de fora. Podemos, é claro, estar errados. Agressão porque todos os
"Um lingüista não sai do tecido móvel da língua atos de compreensão são "inerentemente apropriadores e,
verdadeira - sua própria língua, as línguas que ele co-. portanto, violentos" (Steiner, 1975, p. 297). Na tradução,
nhece - mais do que sai um homem do alcance de sua entramos num texto ~ alegamos ter a posse de seu sig-

I
sombra"(Steiner, 1975, p. 111). A meu ver, isso também 11 ificado (Steiner é incorrigivelmente sexista em suas metá-
se aplica à mídia. Daí a dificuldade. É uma dificuldade foras), mas a violência que fazemos aos significados alheios,
epistemológica, relacionada às maneilas como alegamos 111(' mo nas mais suaves tentativas de compreender, é
nossas compreensões da mediação. E é ética, pois exige lia tante familiar: nossos próprios discursos são salpica-
que elaboremos juízos sobre o exercício do poder no dos de alegações de que a representação .da mídia é ten-
34 1 Por que estudar a mídía?
Mediação í35
denciosa, ideológica e, amiúde, simplesmente falsa. Apro- I 111 ~l-ntre textos certamente, e através do tempo. Mas
priação significa levar os significados para casa: a perso- I 1llIl)I'ome movem através do espaço, e de espaços. Eles
nificação, a consumação, a domesticação (esses termos I IIIOVm do público para o privado, do institucional
são todos de Steiner) mais ou menos bem-sucedidas, mais I' 11 01 o individual, do globalizador para o local e o pes-
ou menos completas do significado. Esse é um processo u.tl, c více-versa. Eles são fixos, por assim dizer, nos
que, no entanto, permanece incompleto e insatisfatório Ii los fluidos nas conversas. São visíveis em quadros
sem o quarto e último movimento: a restituição. Restitui- ti •. nvlso e sites da Internet e enterrados nas mentes e nas
ção sinaliza uma reavaliação: a reciprocidade no âmbito Ii iuhranças. Mas a mediação é menos que a tradução
da qual o tradutor devolve significado e, talvez, faça-lhe jlllIVHVelmenteporque às vezes não tem nada de amoro-
acréscimos neste processo. A glória primitiva do original " O mediador não está necessariamente ligado a seu
pode ter desaparecido, mas o que vemos em seu lugar é Ii 10,nem a seu objeto, por amor, embora possa estar em
algo novo, certamente; algo melhor, possivelmente; algo I ,I os particulares. A fidelidade à imagem ou ao evento
diferente, obviamente. Nenhuma tradução, como diz Jor- 11. li é de modo algum tão forte quanto é, ou foi um dia,

!tr ~f
ge Luis Borges em Piem' Menard, pode ser perfeita, nem II palavra.
mesmo em sua perfeição. Nenhuma tradução. E nenhuma Uma tradução é reconhecida e respeitada como um
mediação. IllIh.al~o_de autoria. A mediaç~o envolv~ o trabalho
Não obstante as suscetibilidades de Steiner e da tra- lnslituições, grupos e tecnologías. Ela nao começa ne i
dução, ele se refere a ela como um processo diádico, um trunina com um texto singular. Suas pretensões de fecha
movimento de um texto para outro e, principalmente, nu-nto, o produto das ideologias e narrativas de notícias, c 6
um movimento através do tempo. Ele implica a transição Por exemplo, são comprometi~a.s, no pont~ da _transmi~- 1 r
entre textos passados e presentes. É um movimento que • o, pela certeza de que a proxima comumcaçao, o pro- -r' I I
inclui tanto significado como valor. A tradução é uma I Imo boletim, a próxima história, o comentário ou a ~
atividade ao mesmo tempo estética e ética. Interrogação por vir levarão as coisas e os significados h
ti r
A mediação parece ser mais e menos do que a tra- .ullante e para outro lugar. A visão que .Steiner tem da 4).~
dução, tal como analisada por Steiner. Mais porque a I rndução não ultrapassa o texto, a despeito do reconhe-
mediação rompe os limites do textual e oferece descrições I'lmento do próprio lugar dele, Steiner, na linguagem. Em f
da realidade, assim como da textualidade. É tanto vertical euntrapartida, a mediação é infinita, produto do desenre- ~
como horizontal, dependente dos constantes deslocamen- rlamento textual nas palavras, nos atos e nas experiências
tos de significados através do espaço tridimensional e até da vida cotidiana, tanto quanto pelas continuidades da
mesmo quadridimensional. Os significados mediados mo- mídia de massa e da mídia segmentada.

36l Por que estudar a mídia?


Mediação 1-----:37
Desse modo, a mediação é menos do que a tradução • 111lusütuíções totais. Uma série que investigará as ma-
precisamente na medida em que é o produto do trabalho li' 'dS pelas quais tais instituições, nesse caso um mostei-
institucional e técnico com palavras e imagens, e o pro- 'li, ~o .ializam novos membros em um novo modo de
duto também de um engajamento com os significados Idol, um novo regime, uma nova ordem. Uma idéia íní-
informes de eventos ou fantasias. Os significados que, de I 1,11 (' a bem-sucedida persuasão do produtor executivo de
fato, surgem, ou que são alegados, tanto provisória como 1101 viabilidade resultaram num almoço com o abade num
definitivamente (de ambos os modos, é claro, e de uma só ,,' 1:lurante no Soho. Ele deixaria uma equipe de produ-
vez, em quase todo ato de comunicação), surgem sem a , () entrar no mosteiro para seguir um grupo de noviços
intensidade da atenção específica e precisa à linguagem , 111sua preparação para se integrar à nova comunidade?
ou sem a necessidade de recriar, em algum grau, um texto ( uuccdería ao meio televisivo os direitos de representa-
original. Nesse sentido, a mediação é menos determinada, I o? O abade consideraria isso. Um programa anterior em
mais aberta, mais singular, mais compartilhada e mais 11111 ra parte na rede tinha sido visto como um fracasso,
vulnerável, talvez, a abusos. IIIi1Sesta era uma idéia interessante, e parecia haver entre
No entanto, a discussão continua pertinente, sobre- tiS dois homens uma concordância suficiente para 51 su-
tudo porque o que se tem aqui não é a distinção entre ~',l'stão de que o pesquisador visitasse o mosteiro para
diferentes tipos de tradução: literalismo, paráfrase e livre discuti-Ia mais.
imitação, que o próprio Steiner acha estéreis e arbitrárias. Poucas semanas depois, o pesquisador está numa
É pertinente porque temos aqui o reconhecimento de que sala com toda a comunidade de monges. Ele apresenta
a importância da tradução reside no investimento, tanto siIa idéia do programa e é interrogado. Talvez por inocên-
ético como estético, que se faz nela e nas reivindicações ria, mais provavelmente por orgulho profissional, ele
que são feitas para ela e por ela. A tradução é um pro- d .lineia o que espera alcançar no programa, argumentan-
cesso em que os significados são produzidos, significados do que será fiel ao modo de vida deles e tentará não ser
que cruzam fronteiras, tanto espaciais como temporais. dcturpador nem sensacionalista. Ele viverá algum tempo
Investigar esse processo é investigar as instabilidades e 0 1
na comunidade. O filme se baseará numa pesquisa meti-
fluxo de significados e suas transformações, mas também .ulosa e rigorosa. As vozes dos próprios monges serão
a política de sua fixação. Tal investigação fornece o modelo ouvidas. Podem confiar em que o pesquisador passará a
para algumas coisas que pretendo dizer agora sobre a verdade (sim, ele disse isso]. Ele é convincente. Chega-se
mediação. a um acordo. O pesquisador se une aos monges por duas
Consideremos o exemplo de um jovem pesquisador emanas e segue sua rotina. Fala com eles, come com eles
de televisão trabalhando num documentário sobre a vida e freqüenta seus cultos. Passa a respeitá-los intensamente,

~I Por que estudar a mídia? Mediação 139


)
mas não compreende sua fé. Ele escolhe dois noviços e O programa é transmitido e, de fato, reprisado. Al-
discute o que estará envolvido com eles. O plano é fazer gum tempo depois, o pesquisador se encontra socialmente
o filme durante o período de um ano para monitorar o rorn um membro da comunidade. O que ele achou, o que
progresso do noviciado. el s acharam? Timidamente, e um pouco dolorosamente,
O pesquisador retoma a Londres e passa as informa- li resposta era bastante clara. Decepção. Pesar. Outro fra-
ções para o diretor e o produtor. A filmagem começa e, casso. Uma oportunidade perdida. Pode ter sido um
no devido tempo, termina. Uma infinidade de imagens, documentário, que entretanto não documentou, não refle-
palavras e sons para ser editadas num texto coerente. O Ii u ou representou com precisão a vida ou a instituição
pesquisador, apesar de ter feito grande parte das entrevis- d leso O pesquisador não ficou inteiramente surpreso, nem
tas filmadas, agora já não está muito envolvido no pro- chocado. Mas o reconhecimento do fracasso o derrubou.
cesso de produção e assiste de braços cruzados, enquanto 1\ falha foi dele? Era inevitável? Seria possível outro
o mundo que ele observou, o mundo que, embora imper- resultado?
feita e incompletamente, passou a compreender é recons- Nesse meio tempo, milhões de pessoas terão visto o
truído quadro a quadro. Cada vez mais impotente, ele programa; muitas terão gostado; e muitas terão incorpo-
assiste à produção institucional do significado: a constru- rado algo de seu significado em suas próprias compreen-
ção de uma narrativa; a criação de um texto que atende sões do mundo. A análise da tradução feita por Steiner
às expectativas do programa, um texto que se encaixa no não inclui o leitor ou a leitura. Minha análise da media-
horário reservado, que solicitará uma audiência e alegará ~'~o deve incluí-los, pois sem privilegiá-los, a todos nós
um significado. Ele vê uma nova realidade surgindo sobre que nos engajamos contínua e infinitamente com os sig-
a antiga, reconhecível, justa, pelo menos para ele, mas 11 ificados .midiáticos, sem uma preocupação com a eficá-
cada vez mais distante do que, segundo acredita, os pró- cia desse· engajamento, corremos o risco de uma má in-
prios monges conheceriam e compreenderiam. \
I .rpretação. Todos participamos do processo de mediação
Essa é uma tradução feita de boa-fé. Contudo, no Ou não, conforme o caso.
momento em que os significados emergentes cruzam a Essa história do envolvimento de um documentário
soleira entre o mundo das vidas mediadas e o da mídia tclevísívo com um mundo privado é, talvez, bastante fami- ~
viva, no momento em que as agendas mudam e em que llar e cada vez mais compreendida tanto pelas pessoas 1
a televisão, neste caso, impõe suas próprias formas de abordadas para participar como sujeitos na mediação como &
trabalho, uma nova realidade, mediada, ergue-se do mar, pios espectadores e leitores que passaram a entender al- ~
rompendo a superfície de um conjunto de experiências e Muns dos limites nas alegações de autenticidade por parte
oferecendo, afirmando, outras. da mídia. Mas em seu cerne, como Steiner reconhece, re-

wl Por que estudar a mídía?


)
Mediação 141
-----------------------~~
d f ar no) ~';jfiJ
"'c.

[dia: a necessidade e oc E
side a questão da confiança. E confiança em diversos pontos devemos estudar. a.m d~s através dos limiares da re-
do processo. Os sujeitos do filme devem confiar naqueles movimento dos slgmfi~~ . D estabelecer os lugares e
- da expenencla. e .
que se apresentam como mediadores. Os espectadores de- presentaçao e nder a relação entre sig-
di 'b' De compree
vem confiar nos mediadores profissionais. E os mediadores fontes de ~st~r 10. . ado entre textos e tecnologias. E
profissionais devem confiar em suas próprias habilidades e nificados publ1co e prrv , _ Além disso, devemos
capacidades de fornecer um texto honesto. de identificar os pontos de pressao. ortagem factual, com
- o apenas com a rep .
Embora possamos ser perdoados por considerar se- nos preocupar na . ão A mídia é entretem- f /
melhante confiança tão passível de traição, cinicamente a mídia como .fonte d~ mf~:;~ricados são produzidos e U
ou não ela é uma precondição da mediação, uma pre- mento. E aqui, tamb~m, de anhar a atenção, de cum- ri
condição necessária em todos os esforços da mídia por transformados: tent~tlV:s d ~os' prazeres oferecidos ou 01
representação, e especialmente por representação factual. primento e frustraça\, e ~s ec~ recursos para conversa, IV
Claro, esse tópico da confiança não molda todas as for- negados. Mas ela tam .em o _er 'ncorporação à medida
mas de mediação, embora também seja uma precondição, reconhecimento, identlficaçl~o e 1 nossas imagens e nos-
· ou não ava íamos, 1
como afirmou Jürgen Habermas (1970), para qualquer que ava 1íamos, l/ s que vemos na te a.
ração com aque a
comunicação eficaz. Uma questão que sempre reaparecerá sas vidas em cornpa d se processo de mediação,
neste livro é saber o que está ocorrendo com a confiança Precisamos compreen er es. nificados onde e com
no cerne do processo da mediação e com a percepção de compreender como surg~m os síg capazes' de identificar
.., ias PreClsamos ser , ,
como é importante encontrar meios de preservá-Ia ou que consequenc . parece falhar em que e )
t em que o processo '
protegê-Ia. os momen os . d propósito. Precisamos
Todos nós somos mediadores, e os significados que distorcido pela tecn~l?gl~ s~~ V:lnerabilidade ao exerci-
criamos são, eles próprios, nômades. Além de poderosos. compreender sua POhtlC~: . do trabalho de instituições
Fronteiras são transpostas, e, tão logo programas são trans- cio do poder; sua depen e~Cl~ poder de persuadir e dei
mitidos, uieb-sites construídos ou e-maus enviados, elas e de indivíduos; e seu propno
continuarão a ser transpostas até que as palavras e ima- reclamar atenção e resposta. L
,M.,.: cA;. o-..
gens que foram geradas ou simuladas desapareçam da visão
ou da memória. Toda transposição é também uma transfor- "çe-\-.c c e,
mação. E toda transformação é, ela mesma, uma reivindi-
cação de significado, de sua relevância e de seu valor.
\~~\:~,u ~J
Nossa preocupação com a mediação como um pro- o- c."'~~
rJ-.. ""':J-
cesso é, portanto, essencial à questão de saber por que
Mediação \ 43
42l Por que estudar a midia?

Potrebbero piacerti anche