Sei sulla pagina 1di 2

Em 28 de agosto de 1964, Bob Dylan se reuniu com os Beatles pela primeira vez e

apresentou a maconha à banda

Encontro que mudou o pop faz 40 anos


Divulgação
O cantor Bob Dylan, autor do clássico disco "Blonde on Blonde"

ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

"Olhando em retrospecto, eu ainda vejo aquela noite como um dos grandes momentos
da minha vida. Na verdade, eu tinha a consciência de que estava dando início ao
encontro mais frutífero na história da música pop, pelo menos até então. Meu objetivo
foi fazer acontecer o que aconteceu, que foi a melhor música de nossa época. Eu fico
feliz com a idéia de que eu fui o arquiteto, um participante e o cronista de um momento-
chave da história."
Assim o jornalista norte-americano Al Aronowitz se refere ao clássico encontro que,
exatamente há 40 anos, mudou a cara da música pop e da cultura popular, quando, no
dia 28 de agosto de 1964, os Beatles foram apresentados a Bob Dylan e este os
apresentou à maconha. O encontro, ocorrido no Delmonico Hotel, em Nova York, fez
com que ambos artistas começassem a se enxergar como partes de um mesmo universo,
cedendo atrativos musicais entre si -não havia mais consumismo infanto-juvenil de um
lado e cabecismo adulto do outro, tudo era a mesma coisa. Nascia a música pop
moderna.
O que a princípio parecia se tornar um breve alô entre jovens ícones se tornou um
acelerador para novas certezas que ambas as carreiras vinham desenvolvendo.
Fenômeno de mercado, os Beatles eram uma banda elétrica adolescente, cantando
baladas de amor e petardos dançantes com maestria inigualável. Já o acústico Dylan
nascera na mesma cena folk pacifista que habitava o bairro boêmio do Village e
glorificava autores beat e músicos do povo.
Mas logo a seguir as coisas mudariam de figura. Dylan abraçaria a guitarra como um
violão de maior alcance, ferindo seus próprios fãs puristas com decibéis de eletricidade
distorcida, ao mesmo tempo em que deformava a própria lírica das canções de protesto
para um panteão bíblico-pop que buscava a pureza da alma americana ao mesmo tempo
em que se perdia em seus próprios pecados. Já os Beatles deixariam de lado o iê-iê-iê
para mergulhar fundo em si mesmos, emergindo de seu experimentalismo intuitivo
-parte nostálgico, parte ingênuo- com o melhor legado que o formato canção conheceu.
Aronowitz havia entrevistado John Lennon e descobriu que ele considerava Bob Dylan
um "ego igual" e, amigo de Dylan, passou a pensar em como aproximar os dois artistas.
Até que, naquele 28 de agosto, Al recebe um telefonema -era Lennon, de passagem com
os Beatles por Nova York:
"Cadê ele?".
"Quem?"
"Dylan!"
"Ah, ele está em Woodstock, mas eu posso trazê-lo!"
"Do it!" (Faça!), mandou John do outro lado da linha, e o jornalista percebeu que podia
dar ignição na própria história. Aronowitz combinou com Dylan, que veio acompanhado
do roadie Victor Maimudes, ao volante. Com Al no carro, foram em direção a
Manhattan, chegando logo ao hotel na Park Avenue. Lá, os três alcançaram o andar em
que os Beatles estavam, sendo recebidos por um amontoado de artistas, radialistas,
policiais e jornalistas, bebendo cerveja e conversando, que esperavam a vez de entrar na
suíte para conversar com os Beatles, que estavam na capa da revista "Life" daquela
semana.
Dylan entrou rapidamente, e a recepção foi feita pelo empresário do grupo, Brian
Epstein, que, ao perguntar, entre champanhe e vinhos franceses, o que Dylan gostaria de
beber, ouviu o pedido por "vinho barato" -para despachar o roadie dos Beatles, Mal
Evans, em busca da tal garrafa. O encontro vinha frio, e os Beatles ofereceram pílulas
para Bob, que sugeriu que eles fumassem maconha. Os ingleses responderam que nunca
haviam fumado -consideravam a maconha uma droga pesada como a heroína, restrita a
músicos de jazz e escritores malditos.
Pasmo, Dylan perguntou sobre aquela música que eles compuseram sobre estar
chapado. Sem entender o que ele queria dizer, o cantor folk citou uma passagem em que
os Beatles cantavam "I get high! I get high! I get high!" ("Eu fico chapado"), e Lennon
esclareceu que era "I Want to Hold Your Hand", cuja letra, na verdade, dizia "I can't
hide! I can't hide! I can't hide!" ("Eu não posso esconder!"). Desfeito o mal-entendido,
Dylan sugeriu que todos fumassem um baseado.
Os Beatles, Dylan, Mal, Victor, Brian, Al e o assessor de imprensa Derek Taylor se
dirigiram ao fundo da suíte do hotel, onde se trancaram e fecharam as cortinas. Bob
Dylan começou a enrolar o cigarro, mas deixou o fumo cair por duas vezes, deixando
que seu roadie terminasse o serviço. Aceso, o cigarro foi passado para Lennon, que
passou a vez para o baterista Ringo Starr, que, por desconhecer os rituais canábicos,
fumou-o inteiro, sem passá-lo adiante. Isso fez com que Al incentivasse a produção de
mais cigarros -e logo cada um tinha o seu.
"Foi muito engraçado!", lembra Paul McCartney em suas memórias, "Many Years from
Now", "o negócio dos Beatles eram humor, tínhamos muito humor. Havia um lado do
humor que usávamos como proteção e, com aquilo ainda por cima, as coisas ficaram
mesmo hilárias".
"Virou uma espécie de festinha", continua Paul, "voltamos todos para a sala, bebemos e
coisa e tal, mas não acho que alguém precisasse de mais fumo depois daquilo. Passei a
noite toda correndo para lá e para cá, tentando achar papel e caneta porque, quando
voltei para o quarto, descobri o sentido da vida. Queria contar ao meu pessoal como era
aquilo. Eu era o grande descobridor, naquele mar de maconha, em Nova York".
"Até a vinda do rap, a música pop era largamente derivada daquela noite no Delmonico.
Aquele encontro não mudou apenas a música pop, mudou nosso tempo", lembra Al
Aronowitz, em sua coluna on-line "The Blacklisted Journalist". Logo depois, Dylan
lançaria, em seqüência, os discos "Bringing It All Back Home", "Highway 61 Revisited"
e "Blonde on Blonde", enquanto os Beatles trariam "Rubber Soul", "Revolver" e "Sgt.
Pepper's Lonely Hearts Club Band". Pura história.

Potrebbero piacerti anche